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EA D Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica 2 1. OBJETIVOS • Identificar os elementos antropológicos que estão na base da liturgia cristã. • Distinguir os elementos teológicos próprios da natureza da liturgia. • Reconhecer, por meio de uma aproximação fenomenoló- gica, as estruturas e elementos constitutivos da celebra- ção litúrgica. 2. CONTEÚDOS • Quem celebra – a assembleia celebrante: epifania da Igre- ja. • Celebração litúrgica como celebração festiva e eclesial. • Características eclesiais da assembleia litúrgica. • Tensões presentes na assembleia celebrante. © Introdução à Liturgia34 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO • Onde se celebra – espaço sagrado. • Quando se celebra – tempo litúrgico. • Como se celebra. • Estruturas da liturgia. • Elementos constitutivos da celebração litúrgica: leituras, homilia, orações e cantos. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Para enriquecer o seu estudo sobre os outros ministé- rios (diferentes do ministério da presidência). Leia: VAL- LE, S. Autores da celebração litúrgica. São Paulo: Edições Loyola, 1999. Este texto apresenta uma visão prática dos ministérios litúrgicos, partindo do cotidiano de nossas celebrações. 2) É importante aprofundar seus conhecimentos sobre o tema: Preparando passo a passo a celebração. Um mé- todo para as equipes de celebração das comunidades, de autoria BARONTO, L; E. P. São Paulo: Paulus, 1997; BUYST, I. – Equipe de liturgia. São Paulo: Paulinas, 2006. 3) Também será importante saber mais sobre o Rito de De- dicação da Igreja e do Altar com o qual se consagram as igrejas? Confira as obras a seguir: • JOHNSON, C.; JOHNSON, S. O espaço litúrgico da celebra- ção. Guia litúrgico prático para a reforma das Igrejas no espírito do Concílio Vaticano II. São Paulo: Edições Loyola, 2006. • PASTRO, C. Guia do espaço sagrado. São Paulo: Edições Loyola, 1999. 4) Para ampliar seus conhecimentos sobre o tema tratado nas citações referenciadas no texto principal consultan- do as seguintes referências: 35© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica • FARNÉS SCHERER, P. Construir e adaptar as igrejas. Barce- lona: Editorial Regina, 1989. In: CELAM. Manual de litur- gia. A celebração do mistério pascal. Fundamentos teoló- gicos e elementos constitutivos. São Paulo: Paulus, 2005. v. 2. p. 346. • FINK, P. E. (Org.) The New Dictionary of Sacramental Wor- ship - The Liturgical Press. Collegeville, 1990. In: CELAM. Manual de Liturgia. A celebração do mistério pascal. Fun- damentos teológicos e elementos constitutivos. São Pau- lo: Paulus, 2005. v. 2. p. 343. 5) Interessante também ler a obra, Cristo e o tempo. Tempo e história no cristianismo primitivo, de autoria de CULL- MANN, O. São Paulo: Editora Custom, 2003. 6) Outro assunto importante, que merece atenção espe- cial, é a temática sobre o ano litúrgico poderá ser apro- fundada na leitura da obra, Cristo, festa da Igreja. Histó- ria, teologia, espiritualidade e pastoral do ano litúrgico, de autoria de, BERGAMINI, A. São Paulo: Paulinas, 1994. 7) Também será interessante ler a obra, O domingo. Festa primordial dos cristãos, de autoria de AUGÉ, M. São Pau- lo: Editora Ave Maria, 2000. 8) Outro assunto importante é o tempo pascal e o tempo de manifestação, para isso leia as obras a seguir: • BUYST, I. Preparando a Páscoa. Quaresma, Tríduo Pascal. São Paulo: Paulinas, 2002. • BUYST, I. Preparando Advento e Natal. São Paulo: Pauli- nas, 2002. 9) Para aprofundar seu conhecimento sobre a Liturgia da Palavra, leia as obras: • DEISS, L. A Palavra de Deus celebrada. Teologia da cele- bração da Palavra de Deus. Petrópolis: Vozes, 1998. • QUIRINO, A. T. Palavra, pão da vida. Teologia e história da mesa da palavra. Uberlândia: Editora A Partilha, 2007. 10) Interessante também saber mais sobre o tema: Oração cristã e litúrgica poderá ser aprofundado com a seguinte © Introdução à Liturgia36 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO leitura: AUGÉ, M. A oração: um mistério a revelar. São Paulo: Ave Maria, 1995. 11) Também aprofunde seus estudos com o tema dos cantos e a liturgia, lendo: • CNBB. Canto e música na liturgia. Princípios teológicos, litúrgicos, pastorais e estéticos. 2. ed. Brasília: Edições CNBB, 2006. • ALCALDE, A. Canto e música litúrgica. Reflexões e suges- tões. São Paulo: Paulinas, 1995. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Nesta unidade, você será convidado a estudar os recursos antropológicos que representam a base da liturgia cristã. Além dis- so, vamos refletir sobre os subsídios teológicos próprios da natu- reza da liturgia e sobre as estruturas e elementos que constituem uma celebração litúrgica. Isso quer dizer que procuraremos res- ponder a indagações como: 1) Em uma celebração litúrgica, quem é o celebrante? 2) A celebração litúrgica pode ser um momento festivo e eclesial? 3) Quais são as características eclesiais da assembleia litúr- gica? 4) Qual é o espaço, a forma e o momento adequados para a realização da celebração litúrgica? 5) Quais são as estruturas da liturgia? 6) Que elementos constituem a celebração litúrgica? Como você pôde notar, são inúmeras as dúvidas que nos rodeiam sobre a fenomenologia da celebração litúrgica. Todavia, construir esses conhecimentos será uma tarefa indispensável para continuação de seus estudos e para sua formação como bacharel em Teologia. Desejamos êxito nesta caminhada! 37© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica 5. QUEM CELEBRA? ASSEMBLEIA CELEBRANTE – EPI- FANIA DA IGREJA Celebração litúrgica – celebração festiva e eclesial Sempre que se fala em celebrar (tornar célebre), há uma referência a uma ação festiva e comunitária com a finalidade de solenizar, de romper com o cotidiano, de destacar pessoas ou acontecimentos significativos para uma determinada comunidade (BUYST; SILVA, 2002). Toda celebração começa e consiste numa reunião. Isto acon- tece porque a festa que rompe com o cotidiano e expressa um mo- tivo de celebração não pode acontecer senão quando um grupo de pessoas está reunido. As pessoas que participam dessa reunião sentem-se unidas pelos vínculos de conhecimento, afeto e amizade. Há casos em que elas chegam até a fazer uma viagem para se reunirem e, as- sim, poder exprimir, de maneira sensível, a sua unidade e alegria ao festejar aquele evento, seja ele um aniversário, um casamento, uma formatura, o nascimento de uma criança etc. Mas e a celebração cristã? Ela, também, precisa das referi- das características das celebrações em geral? Para compreendermos a celebração cristã, precisamos partir desta base antropológica, ou seja, a celebração cristã (a celebra- ção litúrgica) não é diferente daquilo que as pessoas fazem quan- do se reúnem para festejar. Os cristãos vivem separados em suas casas e trabalhos, mas se reúnem para celebrar a sua fé a cada semana. Por isso, desde os primórdios da vida da Igreja, surgiram termos para expressar esta realidade, ou seja, esta assembleia celebrante: © Introdução à Liturgia38 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 1) sinagoga; 2) convocação; 3) congregação; 4) sinaxe etc. Um termo, no entanto, permanecerá como central para de- signar essa assembleia dos cristãos: é termo grego ekklesia, que depois passou para o latim como ecclesia e chegou até nós como Igreja. No início, a palavra “Igreja" significava a comunidade dos cristãos reunida para a celebração. Com o passar do tempo, passou a de- signar a comunidade eclesial na sua totalidade, pois esta comuni- dade é “con-vocada" pela Palavra para formarem uma com-união ou re-união. Dessa forma, o sujeito da celebração litúrgica é um sujeito coletivo – a assembleia celebrante, que é epifania da Igreja. Isto quer dizer que, cada vez que a assembleia dos cristãos está reunidapara celebrar, é a Igreja que está se manifestando em sua totalidade e na melhor forma de se expressar no mundo. É por isso que a festa litúrgica não pode ser celebrada por uma ou duas pessoas (o padre, os ministros...) e nem, tampouco, por uma parte da comunidade (a equipe de liturgia, os catequistas etc.). A Constituição sobre a Liturgia do Vaticano 2º, denominada Sacrosanctum Concilium (SC), menciona que: As ações litúrgicas não são ações privadas, mas celebrações da Igre- ja, que é o 'sacramento da unidade', isto é, o povo santo, unido e ordenado sob a direção dos bispos. Por isso, estas celebrações pertencem a todo o Corpo da Igreja, e o manifestam e afetam, mas atingem a cada um dos membros de modo diferente, conforme a diversidade de ordens, ofícios e da participação atual (SC 26). Assim, podemos observar que: [...] a ação litúrgica é uma celebração da ecclesia, da assembléia reunida. Todos os seus membros estão e devem estar comprometi- dos, implicados na ação celebrativa. Esta tem como objeto-sujeito, 39© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica como protagonista, todo o corpo eclesial, quer dizer, aqueles que se reúnem enquanto conjunto de indivíduos (MALDONADO apud BOROBIO, 1990, p. 165). A celebração é a ação de todo o povo santo de Deus reunido em assembleia. Esta foi a grande virada eclesiológica do Concílio Vaticano 2º para a liturgia. Dizemos que é uma virada eclesiológica porque envolve um determinado "modelo" de Igreja. Figura 1 Celebração Há vários “modelos" de Igreja e em cada um a liturgia é vista de uma forma. Por exemplo, quando o modelo de Igreja era clerical, a liturgia também era clerical e nela o padre celebrava para o povo; ele era o celebrante. A Igreja, com o Concílio Vaticano 2º, passa a ser vista como mistério (sacramento) (LG 7-8), como povo de Deus, como povo sacerdotal, profético e régio (1 Pd 2, 45, 9-10) nascido das águas do batismo. O sacerdócio do batismo é reconhecido como fundamental para o povo de Deus que, por meio dele, participa no único sacerdócio de Jesus Cristo. Esse sacerdócio é, portanto, a base para a participa- ção na liturgia (BUYST, 2002, p. 92-93). © Introdução à Liturgia40 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Desse modo, a Igreja como "povo reunido na unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (LG 4) é com Cristo o sujeito da ação litúrgica. Vejamos, agora, as características da assembleia litúrgica. Características da assembleia litúrgica Quais são as características de uma assembleia litúrgica? Como a assembleia litúrgica (ou celebrante) é sinal da Igreja, ela se diferencia das demais pelas notas características da Igreja (MALDONADO apud BOROBIO, 1990). Isso significa que ela precisa se apresentar como uma assembleia: É importante lembrar-se de que as assembleias podem ser: • crente (apostólica); • aberta (católica); • reconciliada (una); • ativa ou dinâmica (santa). Crente: o motivo central que leva a comunidade cristã a se reunir é a fé que recebeu dos apóstolos. Toda celebração litúrgica é uma profissão de fé em Jesus Cristo que a Igreja faz publicamente. Sem a fé, a reunião da comunidade poderia acontecer por motivos sociológicos ou ideológicos? Há celebrações que parecem ter mais uma finalidade social que eclesial (celebrar a fé da comunidade reunida). • Aberta: o único requisito para participar da assembleia celebrante é a fé. Por essa razão, ela precisa ser aberta, ou seja, heterogênea, plural, expressão da universalidade do amor do Pai. Não deveriam ocorrer discriminações que excluem pessoas da comunidade, seja por causa da idade, seja pela classe social etc. A assembleia litúrgica fechada em pequenos círculos, como por exemplo, a missa da catequese, a missa do movimento X etc. anuncia profeticamente a unidade como característica fundamental da Igreja? Por quê? 41© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica • Reconciliada: é a assembleia que congrega na unidade todos os que têm fé. Tal assembleia reconhece em cada pessoa um irmão ao qual se deve amar. Por isso, durante a celebração, todos participam unidos e manifestam-se reconciliados nos gestos, nos cantos, nas orações e, parti- cularmente, no abraço da paz e na comunhão. • Ativa: é uma assembleia eclesial, isto é, con-vocada pela Palavra, pelo Espírito que nela manifesta seu dinamismo. Tal dinamismo pode ser percebido mais claramente nos carismas, por meio dos quais cada um intervém durante a celebração: presidindo, proclamando as leituras, cantan- do etc. Além disso, é a presença do Espírito que une, na profissão de fé, todos os membros da assembleia litúrgi- ca. Ao reconhecer as características da assembleia litúrgica, você pode se perguntar: há tensões nessas assembleias? Quais? Vamos descobrir com o estudo proposto a seguir! Tensões presentes na assembleia litúrgica Como a assembleia litúrgica é composta por pessoas, nume- rosas e diferentes, que têm muita coisa em comum, sem, no entan- to, perderem suas características individuais, pode-se perceber, às vezes, tensões que dificultam o desenvolvimento da comunidade celebrante. Dentre elas, podemos citar (AUGÉ, 1996, p. 76-77 ou LEBON, 1993, p. 48-49): 1) Uma assembleia que reúne pessoas que tem fé no Deus de Jesus Cristo, mas, ao mesmo tempo, precisam se con- verter novamente e procurar novos rumos. As assem- bleias litúrgicas se apresentam heterogêneas não só no que se refere a estratificação social, mas também em relação à participação na vida eclesial. 2) Uma outra tensão pode ser observada partindo da rea- lidade teológica da santidade do Corpo de Cristo. Nes- se sentido, a assembleia é santa, assim como a Igreja, © Introdução à Liturgia42 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Corpo de Cristo, é santa. No entanto, a assembleia não é uma elite de puros e perfeitos, mas um povo de peca- dores que precisa se penitenciar e se converter. 3) A tensão dialética entre a unidade e a pluralidade na as- sembleia. De um lado, ela é acolhedora de todos, sem exceção. Por outro, permanecem simultaneamente as diferenças pessoais, de idade, de classe social etc., assim como, o modo diverso de participação na assembleia enquanto catecúmenos, catequizandos, crismandos etc. Contudo, apesar das diferenças pessoais, a comunidade celebrante é chamada a formar um só corpo em Cristo. 4) A assembleia é carismática e hierárquica e, ao mesmo tempo, não é uma massa de indivíduos anônimos e im- pessoais, pois nela se fazem presentes carismas e dons que a estruturam numa hierarquia de serviços e de ca- ridade (1Cor 12, 4-11; Ef 4, 11-16). Encontramos, tam- bém, na assembleia celebrante os mais variados minis- térios litúrgicos e de caridade. 5) A assembleia busca superar as tensões entre o indivíduo e o grupo, entre o subjetivo e o objetivo, entre o particu- lar e o que é patrimônio comum, entre o que é local e o que é universal etc. Na assembleia litúrgica não se anula, mas se integra aquilo que é pessoal e comunitário. Além disso, ela busca integrar o que é histórico e contingente com aquilo que é transcendente e eterno. 6) A assembleia polariza e proporciona modalidades para que todas as pessoas presentes possam expressar e co- municar seus sentimentos, por mais contrastantes que possam ser. Nela, cada um manifesta seus sentimentos de alegria e, na ação de graças ou na súplica, apresen- tam sua dor ou tristeza. 7) A assembleia é sempre uma realidade local, circunscrita e particular. Além disso, é definida em limites geográfi- cos e temporais e compõe-se de um número limitado de pessoas. No entanto, nela se torna presente e se mani- festa a Igreja de Jesus Cristo na sua universalidade (ca- tolicidade) e abertura a todas as pessoas em todos os tempos. 43© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica O rito da missa apresenta a ideia de universalidade da Igreja de Jesus Cristo quando situa a assembleia celebrante no aqui e agora(como por exemplo: missa das dez horas, domingo, Igreja do Bom Jesus), mas, ao mesmo tempo, por meio de suas orações (feitas no plural e trazendo para a celebração as intenções de todos os cristãos e não-cristãos), permite a união com a Igreja universal. 8) A última tensão apresenta-se entre assembleia e mis- são. Todo o trabalho missionário e pastoral da Igreja está direcionado à liturgia e sua celebração. Entretanto, é da participação litúrgica que brota o impulso missionário e pastoral da Igreja. Sobre esta questão a SC (10) mencio- na que a "liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte de onde emana toda a sua força". Assim, por exemplo, a catequese, as pastorais sociais e a evangelização estão endereçadas à celebração litúrgica, da qual brotará, pela celebração do mistério de Cristo na fé, a força para catequizar, evange- lizar etc. Ministérios na assembleia celebrante Como você pôde observar, a assembleia litúrgica é uma ma- nifestação (epifania) da Igreja e, por essa razão, é convocada pela Palavra e pelo Espírito Santo. Além disso, constitui-se como um povo sacerdotal, profético e real, no qual os dons e carismas desse mesmo Espírito se fazem presentes. São esses carismas que estão na base dos ministérios ecle- siais que nós encontramos de maneira tão diversificada na assem- bleia litúrgica. Isso evidencia que a ação litúrgica é ação do Espírito, e, por esse motivo, Ele é invocado várias vezes durante a celebração, so- bretudo quando se fazem as epícleses durante a Oração Eucarís- tica. © Introdução à Liturgia44 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Vale lembrar que estamos nos referindo a uma Igreja ministerial carismática, que é impulsionada pelo Espírito Santo. No entanto, percebemos que na liturgia nem tudo pode ser realizado por todos ou por qualquer um indistintamente. Nem to- dos terão as mesmas tarefas, pois não receberam os mesmos dons do Espírito Santo. Dessa forma, vemos que algumas ações cabem aos ministros ordenados; outras aos ministros não ordenados e outras pertencem a toda a assembleia. Quanto a isso, a SC (28) afirma: "Nas celebrações litúrgicas, cada qual, ministro ou fiel, ao desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete". Não cabe ao presidente da celebração coordenar os can- tos, nem fazer leitura; o leitor não dever substituir o acólito,assim como não cabe ao comentarista, como leigo, assumir funções que são próprias do ministério ordenado. Diversidade de ministérios Ministério da presidência Por ser um grupo estruturado, a assembleia litúrgica articu- la-se em torno de diversas atividades específicas distribuídas entre seus diversos membros. Tal articulação supõe uma coordenação para alcançar sua finalidade, que é a participação de todos no mi- nistério celebrado. Mas, quem deve ser esse coordenador? Essa coordenação cabe ao presidente da celebração, cujo ministério já aparece nos escritos mais antigos, como em Justino (APOLOGIA I, 65-67) que descreve algumas das suas funções. 45© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica A SC 33 assim apresenta as duas dimensões do ministério da presidência: • 1ª Dimensão: o sacerdote preside in persona Christi (na pessoa de Cristo) indicando que ele não é apenas um de- legado da assembleia. Contudo, ele o faz em função de sua ordenação, que lhe permite realizar os gestos presi- denciais, recitar as orações presidenciais, dirigir o conjun- to da ação celebrativa, sendo responsável por todo seu dinamismo. Por essa razão, sua função é, ao mesmo tem- po, funcional e mística. A função do sacerdote é funcional, pois cabe a ele conduzir a assembleia para uma celebração litúrgica mais plena e é mística, por tornar Cristo visível como cabeça da Igreja, presente e atuante no meio da comunidade celebrante. • 2ª Dimensão: o sacerdote também preside in nomine ec- clesia (em nome da Igreja) enquanto representa a assem- bleia da qual ele também é membro e em cujo nome a anima para participar ativamente da ação celebrativa. Além do ministério da presidência, encontramos em cada celebração litúrgica uma série de outros ministérios que colabo- ram para o bom êxito da celebração. Vamos estudá-los a seguir! Outros ministérios Os outros ministérios, diferentes do ministério da presidên- cia, possuem uma característica institucional, como é o caso do diácono, que recebeu o sacramento da ordem e que exerce o ser- viço em íntima consonância com o presidente da celebração: cabe a ele suscitar, motivar a oração da comunidade, por meio de exor- tações, indicações e intenções. Além disso, ele é responsável por proclamar o Evangelho durante a celebração litúrgica. Além do diácono, são instituídos os ministérios do leitor e do acólito. © Introdução à Liturgia46 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Quais são as funções do leitor e do acólito? Compete ao leitor proclamar as leituras do Antigo e do Novo Testamento durante as celebrações e ao acólito servir ao altar du- rante a apresentação das oferendas de modo particular. Apesar dos ministérios do leitor e do acólito serem instituídos, eles são, na maioria dos casos, desempenhados por pessoas, homens e mulheres, que não receberam tal instituição. Encontramos, ainda, outros ministérios litúrgicos que não exigem a ordenação. São eles: 1) salmistas; 2) cantores; 3) instrumentistas; 4) dirigentes do canto; 5) libríferos; 6) turiferários; 7) crucíferos; 8) equipes de acolhida; 9) presidentes das celebrações dominicais da Palavra; 10) comentaristas; 11) padrinhos do batismo e da crisma; 12) testemunhas do matrimônio; 13) ministros extraordinários da comunhão eucarística etc. Considerando a diversidade de ministérios litúrgicos, é pre- ciso enfatizar a importância que tem a equipe de pastoral litúrgica e a equipe de celebração: • À pastoral litúrgica compete organizar a vida litúrgica na comunidade, isto é, preparar as celebrações segundo cada tempo litúrgico ou festa, escolhendo as modalida- des celebrativas, redigindo os comentários e orações dos fiéis. 47© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica • A equipe de celebração é responsável por executar em cada celebração específica a programação litúrgica, como, por exemplo, a missa das dez horas contará com o presi- dente X, os leitores Y e Z, comentarista fulano etc. Observe que essa organização permitirá que a celebração aconteça de maneira festiva e com a participação ativa de todas as pessoas da assembleia celebrante que tornam presente, naquele momento, a Igreja celebrante. 6. ONDE E QUANDO SE CELEBRA – O TEMPO E O ES- PAÇO NA LITURGIA Templo, a casa da Igreja Como você observou, a assembleia celebrante é o sujeito da celebração. No entanto, ela é também o espaço humano no qual a celebração acontece. Isso ocorre porque a celebração litúrgica é uma festa da comunidade reunida e, portanto, onde essa comuni- dade está reunida, ali é o espaço celebrativo, o lugar litúrgico. Desse modo, podemos afirmar que a comunidade celebrante pre- valece sobre a realidade local físico-geográfica, arquitetônica. Para os cristãos o templo em si não é o lugar da presença de Deus (Jo 4,23), mas sim o lugar no qual a assembleia se reú- ne e Deus se faz presente no meio de seu povo reunido. Assim, a assembleia eclesial, que é uma comunidade de fiéis reunidos ao redor de Cristo, é que representa o novo templo (Ef 2,19-22; 1Pd 2,5). Entretanto, o local onde a comunidade se reúne precisa ser analisado em sua função litúrgica. Vamos entender melhor? Em primeiro lugar, é preciso recordar que, nos primórdios do cristianismo, o templo recebeu o nome de “domus ecclesiae". Com © Introdução à Liturgia48 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO o passar do tempo, este lugar passou a ser chamado de Igreja, en- quanto expressava a ideia de que ali é que a assembleiase reúne para celebrar. O templo, no entanto, não pode ser visto somente em sua funcio- nalidade de fornecer um abrigo para a comunidade eclesial duran- te as celebrações e, fora delas ser usado para outras finalidades, tais como reuniões, aulas etc. Ele tem uma dimensão simbólica, que é exprimir o mistério profundo da presença de Deus no meio de seu povo, sobretudo, quando está reunido para celebrar sua fé em Jesus Cristo. Por essa razão, o templo precisa ser construído partindo de seu sentido simbólico, bem como ser ornamentado artisticamen- te, a fim de que se expresse mais plenamente a realidade mística da Igreja que nele se reúne. Assim, a divisão do espaço litúrgico possui três pólos ao re- dor dos quais a assembleia se congrega. Representam sinais da presença de Cristo no alimento consagrado, no sacerdote e na Pa- lavra. São eles: • o altar; • a sede; • o ambão. Você sabia que, após a reforma litúrgica no Vaticano 2º, o templo recuperou o lugar onde a assembleia celebrante se reúne e, por isso, a sua estrutura arquitetônica precisa favorecer a par- ticipação de todos na liturgia. Por essa razão, hoje muitas Igrejas são construídas em novos formatos arquitetônicos visando tal par- ticipação. O atual Rito de Dedicação da Igreja e do Altar, com o qual se consagram as Igrejas, é muito rico em suas orações, leituras e sím- bolos, para expressar a realidade da assembleia celebrante como lugar da presença de Deus e o templo como realidade simbólica desta Igreja-povo. 49© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica Para completar essa ideia, vejamos duas citações: Primordialmente, o lugar da celebração não é, pois, nem um mo- numento artístico, nem um templo em que Deus habita, nem um lugar onde se veneram imagens ou se custodiam com respeito diversos elementos sagrados, nem um espaço dedicado à oração pessoal e ao contato íntimo com Deus. É inegável que o lugar da celebração pode servir também a essas finalidades; mas, de todo modo, é necessário reconhecer que se tratará apenas de aspectos secundários. A assembléia litúrgica, ao ocupar um lugar e situar os móveis nes- te espaço, estabelece um padrão de percepção acústica, visual e cinestésica. Os lugares formam ambientes que acolhem a ação da liturgia. Pode-se dizer que cada espaço – e sua organização interior – contêm propriedades estéticas específicas, fomentando certos ti- pos de ação específicos e desencorajando outros (P. FARNÉS 1989, p. 14). Celebrar no tempo Quando a celebração litúrgica acontece? Quando o tempo une-se ao "onde" (o espaço) chega-se ao ponto convergente da plenitude da celebração. Toda celebração tem o seu lugar e o seu dia, como, por exemplo, a missa dominical das dez horas na Igreja Bom Jesus. É importante perceber que o "quando" também tem a ver com o momento no qual a assembleia se reúne. Esse momento festivo é a hora em que todos celebram, na alegria, a presença de Cristo, que nos salvou em sua páscoa. De forma análoga ao espaço, a comunidade cristã não sacra- liza dias, nem datas, pois isso poderia limitar a ação salvadora de Deus. O que ela faz é reconhecer, no transcorrer dos dias e horas, momentos nos quais Deus continua se manifestando ao seu povo, o que fica evidente quando se faz a memória dos eventos salvíficos em cada celebração litúrgica. Esses momentos no tempo recebem o nome de kairós, pois são, segundo a origem grega desta palavra, um tempo favorável, um momento temporal no qual convergem as ações salvíficas de Deus que se revela na história da salvação. © Introdução à Liturgia50 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO É a festa celebrada nesses momentos que permite ao ho- mem recuperar, de maneira mais plena e profunda, a dimensão de mistério que sua existência temporal possui. Isso nem sempre é percebido quando ele está imerso nas atividades rotineiras de seu cotidiano. Desse modo, a festa possibilita ao homem dar sentido àquilo que lhe é digno. Isso porque, por meio dela, entra em contado com o Transcendente, que nem sempre é percebido no devir da temporalidade. Note que, desde suas origens, o homem tem buscado com- preender ou dar um sentido ao tempo. É dessa forma que deve- mos compreender as várias categorias temporais que, desde a an- tiguidade, tem marcado o sentido do tempo para a humanidade. Dentre essas categorias temporais, aparece, em primeiro lu- gar, o tempo cíclico (tempo cósmico) – ligado ao devir da natureza com os ciclos solar, lunar, as estações do ano etc. Contudo, há, também, o tempo histórico ligado à reflexão que o homem faz com base na sucessão dos acontecimentos que transcorrem no seu dia- -a-dia, caracterizando-se, portanto, como um tempo linear. Os cristãos buscam o sentido do tempo exatamente nesse tempo histórico, que é o tempo que predomina na Bíblia, pois a revelação de Deus se dá por meio dos acontecimentos de salvação que marcam a história da humanidade e que, por isso, se torna a história da salvação. Nessa história da salvação, o evento Cristo – sua encarnação, morte e ressurreição - ocupa o lugar de plenitude da revelação de Deus e da salvação que Ele realiza na história dos homens. É por isso que a liturgia celebra no tempo a memória dos eventos salvíficos que têm sua centralidade e plenitude no misté- rio da páscoa de Cristo, o qual é responsável por organizar o seu calendário litúrgico (SC 102). 51© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica Domingo – festa semanal da páscoa A organização da celebração do mistério pascal pelos cris- tãos começa com a reunião festiva num dia fixo, determinado como "primeiro dia da semana" (Mt 28,1), o qual recebeu, poste- riormente, o nome de dies dominicus, que pode ser traduzido por “dia senhorial" ou domingo (Ap 1,10). Neste dia, os cristãos celebram o dia memorial da ressurrei- ção de Jesus, de sua exaltação e constituição como Senhor, que está vinculado ao grande mistério da ressurreição dos mortos. To- davia, está ligado ao encontro que os discípulos tiveram com Jesus ressuscitado (Mt 28,1; Mc 16, 1-2.9; Lc 24,1-13; Jo 19,31; 20,1-19). Assim, o domingo é o dia de festa primordial dos cristãos e tem um sentido simbólico como o dia que, por meio da eucaristia, celebra-se a ressurreição de Jesus e, mais ainda, a sua presença viva no meio dos seus. É por isso que o domingo é o fundamento e o núcleo do ano litúrgico (SC 106). Festa da páscoa anual A celebração anual da páscoa – mistério da morte e ressur- reição de Jesus será para os cristãos, juntamente com a páscoa se- manal (o domingo), um momento de exaltar a salvação que Deus realizou em seu Filho. Essa festa encontra no cristianismo uma síntese entre tempo histórico (celebra-se a história da salvação) e o tempo cósmico (no equinócio da primavera – festa da lua cheia), momento em que a natureza e a vida renascem após o inverno e o Cristo é ressuscita- do dos mortos. A festa da páscoa tem sua origem nos povos cananeus, depois no povo hebreu e no judaísmo. © Introdução à Liturgia52 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO É por isso que a celebração anual do Tríduo Pascal assinala a centralidade desse mistério durante o ano litúrgico. Os demais tempos irão se ordenando segundo a data dessa festa, ou seja, segundo a quaresma, como tempo penitencial de preparação para a páscoa, e segundo o tempo pascal, que prolonga por cinquenta dias a alegria pascal. Ciclo solar Além da festa anual da páscoa e das demais festas que a se- guem segundo o ciclo lunar, a liturgia considera, também, o ciclo solar na organização do ano litúrgico. O centro das celebrações relacionadas ao ciclo solar é ocupado pela festa do Natal do Senhor, a qual formará, junto com o Advento e as demais festas desse período, o tempo da manifestação do Senhor. Nesse ciclo, as festas são celebradas num dia fixo do calen- dário gregoriano e, por isso, não são móveis, como acontece com o ciclo lunar,no qual se seguem as fases da lua. Agora que já sabemos onde e quando são realizadas as cele- brações litúrgicas, eu lhe pergunto: quais são as estruturas e as leis da celebração litúrgica? Vamos descobrir! 7. COMO SE CELEBRA – ESTRUTURAS E LEIS DA CELE- BRAÇÃO LITÚRGICA As celebrações litúrgicas acontecem em diversas formas: • celebrações sacramentais; • celebrações não-sacramentais; • em tempos e lugares diversos. 53© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica Essa variedade celebrativa, por sua vez, é marcada por algo que identifica as múltiplas formas celebrativas como ações litúrgi- cas. A que estamos nos referindo? Aquilo que dá a especificidade litúrgica a tais celebrações são as estruturas e leis que são próprias da liturgia, de sua natureza. Os exemplos a seguir, podem nos ajudar a compreender melhor esse tema das estruturas e leis da celebração: as casas ou edifícios têm ampla variedade de formas, para tanto, em todos eles há estruturas que dão sustentação; o mesmo acontece com a língua escrita e falada – as frases obedecem a leis e à estrutura sintática da língua, sem a qual a mensagem, composta por vários elementos linguísticos, não pode se compreendida plenamente. Da mesma forma, em cada celebração litúrgica há um enca- deamento de elementos com base em suas estruturas e leis ine- rentes à natureza da liturgia. Estrutura verbal-simbólica Uma primeira forma de estrutura litúrgica pode ser vista na bipolaridade presente em cada celebração: a palavra e o símbolo. O pólo verbal (palavra) é responsável por tudo o que se re- fere: 1) às leituras bíblicas; 2) às orações; 3) aos salmos; 4) aos cânticos; 5) à homilia. Já o pólo simbólico refere-se aos gestos e aos movimentos corporais. Com ele, os elementos materiais assumem um sentido simbólico. Podemos perceber essa estrutura nas duas partes da missa: © Introdução à Liturgia54 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO • Liturgia da Palavra. • Liturgia Eucarística. É importante saber que isso não acontece somente na missa, mas também em cada celebração litúrgica. A missa é uma celebração litúrgica, mas que esta não se resume à missa. Estrutura dialógica Outra forma de ver a estrutura litúrgica é por meio do diá- logo que se realiza entre Deus e o seu povo em cada celebração, como nos diz a SC 7 e 84. Essa estrutura dialogal nos apresenta elementos teológicos específicos da natureza profunda da liturgia cristã, pois, em cada celebração, é retomado de maneira memorial o diálogo que Deus mantém com seu povo durante toda a história da Salvação até chegar o momento em que nos falou por meio de seu Filho, o Ver- bo (a Palavra) encarnado. Essa estrutura pode ser percebida na Liturgia da Palavra da missa: 1) Deus fala: primeira leitura. 2) Povo responde: salmo responsorial. 3) Deus fala novamente: segunda leitura. 4) Resposta do povo: aclamação ao Evangelho. 5) Cristo fala: Evangelho. 6) Resposta da comunidade: profissão de fé e preces. Observe que esse diálogo não se reduz a essa parte da cele- bração, mas toda ela é um alternar de orações, cânticos e gestos que mantêm a comunicação da assembleia com Deus, que está presente em seu meio. 55© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica Descobrindo os elementos dinâmicos da celebração litúrgica Serão analisados, nesta parte, os elementos que estão pre- sentes de maneira particular no pólo verbal da celebração. Leituras A palavra de Deus ocupa um lugar fundamental em cada ce- lebração litúrgica, pois, possibilita, por meio das Sagradas Escritu- ras, tornar presente, em memória, os grandes acontecimentos da História da Salvação. Esta palavra possui características que merecem ser analisa- das. Em primeiro lugar, a assembleia celebrante é uma comunida- de convocada pela Palavra, visto que, desde o Antigo Testamento, o povo de Deus tem consciência de ser um povo convocado pela sua Palavra que salva. Ainda na liturgia, a comunidade descobre que esta Palavra é eficaz, pois atua e realiza aquilo que anuncia, ou seja, ela faz acontecer "aqui e agora" a salvação: Cristo "presente está pela sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja. (SC 7 e 23). “Como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam, sem terem regado a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, dando semente ao semeador e pão ao que come, tal ocorre com a palavra que sai da minha boca: ela não torna a mim sem fruto; antes, ela cumpre a minha vontade e assegura o êxito da missão para a qual a enviei" (Is 55,10-11). Em cada celebração litúrgica, a Palavra de Deus é proclama- da e celebrada segundo uma ordem que evidencia o modo como Deus foi se revelando na História da Salvação até que nos falou pelo seu Filho, Jesus Cristo. Lêem-se textos do Antigo Testamento (o profeta) que anun- ciam e prefiguram; o salmo que responde de maneira poética a mensagem proclamada. Lemos, também, o Novo Testamento (o © Introdução à Liturgia56 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO apóstolo) que manifesta a vivência da Palavra pela comunidade dos fiéis (a Igreja) e, por fim, o Evangelho que é o ponto alto, por trazer diretamente as palavras e ações de Jesus. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Você pode pensar: porque a leitura dos textos é organizada dessa maneira? O modo como esses textos da Sagrada Escritura estão organizados seguem uma tradição que vem do judaísmo: a leitura sequencial e a leitura temática da Palavra de Deus. A leitura sequencial é leitura semi-contínua ou seguida de um livro bíblico – toma-se, por exemplo, o Evangelho de Marcos no Ano A e a sua leitura se faz capítulo após capítulo. A leitura temática (ou própria) é aquela que escolhe os textos bíblicos de acordo com o tempo litúrgico, por exemplo – Ad- vento, Quaresma ou segundo a festa litúrgica - uma celebração mariana ou um dos sacramentos. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A reforma litúrgica do Vaticano 2º recuperou a importância da Palavra de Deus na liturgia e, por isso, os lecionários foram re- novados segundo uma nova organização que permitisse ler mais abundantemente a Sagrada Escritura nas celebrações. O resultado disso é organização dos Anos A (Mc), B (Mt) e C (Lc) das leituras bíblicas para os domingos e dos Anos Pares e Ímpares para as leituras durante a semana. Há, também, os lecio- nários próprios para as celebrações dos santos e de cada um dos sacramentos. Homilia A homilia é feita logo após a proclamação da Palavra de Deus. Ela tem uma relação íntima com as leituras e provém da tra- dição judaica, da sinagoga (Lc 4,16-21). Existem na Igreja várias formas de pregação da Palavra de Deus, como, por exemplo, o querigma (anúncio missionário), que tem a finalidade de despertar a fé e motivar para a conversão e o seguimento de Jesus Cristo; ou a catequese que, por meio de um caminho pedagógico, traduz em detalhes o conteúdo central da fé cristã. 57© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica A homilia também é uma forma de pregação, mas é uma pregação litúrgica, pois só acontece durante a celebração. Não há homilia em outros contextos, é por isso que ela é um acontecimen- to celebrativo. Por ser elemento próprio da liturgia, cabe à homilia manifes- tar o mistério pascal do qual se faz a memória pela Palavra e pelos sinais sacramentais. Por isso, a homilia não é um sermão, nem uma aula de teo- logia, nem catequese, nem pregação de uma doutrina moral. Ela anuncia no "hoje" celebrativo a realização da salvação de Jesus Cristo – "Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ou- vir" (Lc 4, 21). A homilia possui várias dimensões: 1) Querigmática. 2) Catequética. 3) Profética. 4) Mistagógica. Note que a homilia não se reduz a nenhuma dessas dimen- sões. Ela faz a ponte entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia Euca- rística (ou sacramental) –aquilo que foi proclamado durante as leituras se faz sacramento de salvação. O texto de Lc 24, que traz a cena dos discípulos de Emaús, ajuda a compreender bem essa realidade: ali há uma proclamação da Palavra enquanto caminham e depois eles reconhecem a Jesus ao partir o pão e percebem que seu coração ardia enquanto eles escutavam as Escrituras – é isso o que acontece em cada celebra- ção litúrgica, e a homilia é que indica esta realidade. Orações Algo que pode surpreender no estudo da liturgia é que a co- munidade celebrante reza durante a celebração. A oração litúrgica está intimamente unida à Palavra de Deus, proclamada durante a © Introdução à Liturgia58 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO celebração à qual se responde com a oração. Essa oração situa-se na dimensão dialogal da liturgia. A oração litúrgica tem algumas características particulares que fazem dela uma escola de oração cristã: • É eficaz: porque é feita em nome de Jesus. Ele é quem reza conosco ao Pai. Por isso é que a oração litúrgica (e a oração cristã) é dirigida "ao Pai, por Cristo, no Espíri- to Santo". Por meio da memória da páscoa de Jesus, seu mistério de salvação, é que rezamos ao Pai inspirados pelo Espírito de Jesus, seu Filho que nos faz clamar Abba! Pai! (Rm 8,14-15.26-26). • É teológica: a oração cristã fala a Deus, a quem pode cha- mar de Pai em Jesus Cristo, mas fala de Deus, recordando tudo o que fez em favor de seu povo na História da Salva- ção e continua a fazer, hoje, para seus filhos e filhas. Configuração da oração litúrgica As orações litúrgicas que estão contidas nos livros litúrgicos atuais provêm de uma longa tradição da vida de oração da Igreja e que, aos poucos, foi sendo fixada nos formulários litúrgicos. O conjunto dessas orações recebe o nome de eucologia. Po- de-se dizer, por isso: a eucologia das missas do Natal, a eucologia das celebrações marianas etc. A eucologia pode ser dividida em orações: • presidenciais: referindo-se às orações que são feitas pelo presidente da celebração - como a oração da coleta, a oração eucarística etc. • não-presidenciais: aquelas que são feitas por toda a as- sembleia, como é o caso da Oração dos fiéis (oração uni- versal). Veja que as orações litúrgicas, apesar dos elementos co- muns, podem se diferenciar, ainda, pela simplicidade ou complexi- dade em sua estrutura e no seu conteúdo, em: 59© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica • Eucologia maior: envolve as orações que são mais simples quanto à sua estrutura e conteúdo como são, por exem- plo, as seguintes orações da missa: coleta (oração do dia), oração sobre as oferendas, oração depois da comunhão. • Eucologia menor: refere-se às chamadas orações conse- cratórias que possuem estrutura e conteúdo mais amplos e complexos. Em todas as orações litúrgicas encontra-se, na estrutura ge- ral, as seguintes partes: • Anamnética: que faz memória e recorda as maravilhas que Deus realizou em favor de seu povo. • Epiclética (de epíclesis – invocação): invoca-se a força do Espírito Santo, a força de Deus ou a sua presença para que Ele atue novamente em favor de seu povo reunido e disperso por todo o mundo. Como exemplo, veja a oração da coleta na Missa da Noite de Natal: Ó Deus, que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz, concedei que, tendo vislumbrado na terra este mistério, possamos gozar no céu de sua plenitude. Por nosso Se- nhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém. Vamos entender melhor esta oração: 1) Invocação: Ó Deus. 2) Parte anamnética (memória): que fizestes resplandecer esta noite santa com a claridade da verdadeira luz, 3) Parte epiclética (súplica, invocação): concedei que, ten- do vislumbrado na terra este mistério, possamos gozar no céu de sua plenitude. 4) Conclusão trinitária: Por Nosso Senhor Jesus Cristo... (ao Pai, por Cristo, no Espírito). 5) Homologação (adesão da assembleia): Amém. Vejamos, agora, os cantos e sua importância na celebração litúrgica. © Introdução à Liturgia60 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Cantos Os cantos marcam a celebração litúrgica em seu aspecto fes- tivo e alegre, motivando a assembleia a participar plenamente do mistério celebrado. No entanto, para que isso aconteça, é preciso analisar alguns aspectos da relação entre a música e a liturgia. Em primeiro lugar, é preciso saber que não é qualquer mú- sica ou qualquer canto que pode ser usado durante a celebração litúrgica. A música ou o canto tem uma função ministerial, ou seja, estão à serviço daquilo que a liturgia está celebrando (SC 112). Por isso, é preciso distinguir entre a música religiosa (ou sa- cra) e música ritual (ou litúrgica). Há músicas e cantos que são re- ligiosos porque expressam a relação da pessoa ou de sua comuni- dade com Deus. Dentre tais músicas, podemos citar obras clássicas como Cantatas de Bach ou cantos religiosos que animam os en- contros, reuniões etc. No entanto, apesar de religiosas, não foram compostas para serem usadas na celebração litúrgica e, por isso, não servem para expressar o mistério celebrado. A música própria para a celebração litúrgica é a música ritu- al, ou seja, aquela que foi composta para o momento celebrativo e com uma função ritual. Por exemplo: o canto de entrada na missa, que tem como finalidade motivar a comunidade para celebrar um determinado mistério litúrgico na comunhão e na alegria; assim como o canto, a apresentação das oferendas enfocará o tema do pão e do vinho e da oferta que a assembleia apresenta a Deus ao mesmo tempo em que invoca sua bênção. Reflita sobre a seguinte frase de Beethoven e relacione-a com os conteúdos estudados sobre o canto litúrgico: “A música é a revela- ção superior a toda sabedoria e filosofia". Além desses cânticos, a liturgia serve-se dos salmos, hinos e cânticos bíblicos, como é o caso do salmo responsorial na missa, o cântico de Maria (magnificat) na oração da tarde, na liturgia das horas, e outros. 61© Aproximação Fenomenológica da Celebração Litúrgica Desse modo, é importante enfatizar a importante função do ministério dos cantores na celebração litúrgica (a equipe de can- to), enquanto encarregados de animar toda a assembleia para can- tar as maravilhas de Deus, das quais se faz a memória em cada celebração. 8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Consegui atingir os objetivos propostos para este estudo? 2) Busquei informações em outras fontes, como livros, sites, revistas etc.? Tais informações contribuíram para ampliar meus conhecimentos em relação à liturgia? 3) Vou poder utilizar os conhecimentos adquiridos neste estudo em minha atuação profissional? Como? 9. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, você pôde construir conhecimentos sobre questões como: • Quais são os elementos antropológicos que estão na base da liturgia cristã? • Quais são os elementos teológicos próprios da natureza da liturgia? • Quais são as estruturas e os elementos constitutivos da celebração litúrgica? Com tais conhecimentos, você está apto a estudar, na tercei- ra unidade, a dimensão simbólica da liturgia. Até lá! © Introdução à Liturgia62 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 10. E-REFERÊNCIA CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Índice analítico. Disponível em: <http://catecismo. catequista.net/conteudo/a-z/a/a.html#ambao>. Acesso em: 10 ago. 2012. 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AUGÉ, M. Liturgia - História, celebração, teologia, espiritualidade. São Paulo: AM Edições, 1986. BOROBIO, D. (Org.) A celebração na Igreja – 1. Liturgia e sacramentologia fundamental. São Paulo: Edições Loyola, 1990. BUYST, I.; SILVA, J. A. O mistério celebrado: Memória e compromisso I. Valencia: Siquem Ediciones, 2002 (Coleção Livros Básicos de Teologia 9). CELAM. Manual de Liturgia - A celebração do mistériopascal: Os sacramentos, sinais do mistério pascal. São Paulo: Paulus, 2005. FARNÉS SCHERER. Construir e adaptar as igrejas. Barcelona: Editorial Regina, 1989. LEBON, J. Para viver a liturgia. São Paulo: Edições Loyola, 1993. VATICANO II. Constituição "Sacrosanctum Concilium" sobre a Sagrada Liturgia. In: VATICANO II. Compêndio do Vaticano II. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1977.
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