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EA D Aproximação à Dimensão Simbólica da Liturgia 3 1. OBJETIVOS • Reconhecer e analisar a simbologia e a ritualidade litúr- gicas. • Discriminar as diferenças e semelhanças das várias for- mas de manifestação simbólica. • Interpretar o papel fundamental do símbolo como consti- tutivo principal da ação litúrgica. • Identificar as várias formas de ritualidade: humano-social e litúrgica. • Discriminar as diversas características do rito litúrgico e como elas se manifestam na celebração. 2. CONTEÚDOS • Símbolo e símbolo litúrgico. • Distinções entre sinal, símbolo, alegoria, metáfora. © Introdução à Liturgia64 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO • Ritualidade na vida humana: características e funções. • Ritualidade litúrgica: características e funções. 3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Para enriquecer seus estudos, é importante saber como os símbolos nascem, vivem e morrem, portanto vale a pena conferir a obra de Nasser (2003) referenciada ao término desta unidade. 2) Também será interessante atentar-se para uma visão ge- ral dos vários símbolos que estão presentes na liturgia, para isso leia a obra de autoria de BUYST, I. Sinais e sím- bolos. In: ALDAZÁBAL, J. Gestos e símbolos. São Paulo: Edições Loyola, 2005. p. 233-274. 3) Para aprofundar seus conhecimentos sobre os assuntos desta unidade, consulte as obras: • PEIRANO, M. Rituais. Ontem e hoje. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. • RIVIÈRE, C. Os ritos profanos. Petrópolis: Vozes, 1997. • SEGALEN, M. Ritos e rituais contemporâneos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. • VILHENA, M. A. Ritos. Expressões e propriedades. São Paulo: Paulinas, 2005. • COSTA, V. S. Viver a ritualidade litúrgica como mo- mento histórico da salvação – participação litúrgica segundo a Sacrosanctum Concilium. São Paulo: Pau- linas, 2005. • FISCHER, B. Sinais, palavras e gestos na liturgia – da aparência ao coração. São Paulo: Paulinas, 2003. 4) Para que seu estudo seja mais produtivo e aprofundado, leia sobre os ritos litúrgicos. Para tanto, acesse o site re- ferenciado a seguir e, na opção busca, insira as palavras- 65© Aproximação à Dimensão Simbólica da Liturgia -chave: "rito litúrgico". VATICAN. Home page. Disponível em: <http://www.vatican.va/phome_po.htm>. Acesso em: 13 ago. 2012. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Com o estudo proposto na Unidade 2, você teve a oportuni- dade de conhecer os elementos antropológicos que estão na base da liturgia cristã, bem como refletir sobre os elementos teológicos próprios de sua natureza. Além disso, foi-nos possível identificar, por meio de uma aproximação fenomenológica, as estruturas e elementos constitutivos de uma celebração litúrgica. Agora, chamamos sua atenção para a dimensão simbólica da liturgia: 1) Quais são as características da simbologia e da ritualida- de litúrgicas? 2) Que diferenças e semelhanças podem ser observadas nas várias formas de manifestação simbólica? 3) Qual é o papel fundamental do símbolo como constituti- vo principal da ação litúrgica? 4) Que formas de ritualidade estão relacionadas a uma ce- lebração litúrgica? 5) Quais são as características do rito litúrgico, e como elas se manifestam na celebração? Lembre-se de que responder a essas questões, assim como a cada desafio que nos é proposto, representa uma oportunidade de ampliar e amadurecer nossos conhecimentos e ideias sobre a liturgia. Bons estudos! © Introdução à Liturgia66 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 5. COMO SE CELEBRA? Ao responder a esta questão, verificamos que a liturgia pos- sui estruturas e leis próprias, segundo sua natureza. Essas estru- turas são preenchidas por uma série de elementos e dinamismos que assumem características particulares de acordo com as varia- das formas celebrativas. As estruturas e leis próprias da natureza da liturgia foram estuda- das na Unidade 2. Sugerimos, portanto, que releia os conteúdos estudados e as anotações relacionadas àquela unidade para apro- fundar seus conhecimentos. Já estudamos a estrutura verbo-simbólica, cujos elementos predominantes na dimensão verbal são leituras, homilias, orações e cantos. Agora, vamos considerar os elementos predominantes na dimensão simbólica da liturgia: • sinais; • gestos; • ritos. Vale salientar que a compreensão desses elementos nos aju- dará a responder à questão "como se celebra?" Assim, nos tópicos a seguir, convidamos você para estudá-los detalhadamente! 6. SÍMBOLO E SIMBÓLICO Quando nos referimos ao símbolo ou simbólico, tocamos em aspectos comuns da vida. Normalmente, as pessoas fazem uma ideia do que é o símbolo com base no senso comum. Entretanto, cabe a nós analisar este tema a fim de que compreendamos a na- tureza do símbolo e do simbólico. Para começar, é preciso considerar a dimensão antropológi- ca do símbolo, que se refere aos elementos sensíveis constitutivos 67© Aproximação à Dimensão Simbólica da Liturgia da festa, do encontro entre as pessoas. Sempre que há festa ou encontro, existe algo que vai além do verbal, da lógica racional, daquilo que pode ser captado e compreendido pelo pensamento e pelo raciocínio lógico. Este algo "transcendente" é o sensível que nos permite "sentir", experimentar uma dimensão de nossa vida que não pode ser traduzida em palavras. Desse modo, quando nos deixamos levar pela dimensão do sensível , podemos experimentar a realidade com maior plenitu- de. A dimensão do sensível chega até nós por meio dos cinco senti- dos: por uma imagem, por um aroma, por um som, por uma tex- tura, por um sabor... Ela pode, ainda, se mostrar em mais de um sentido, como, por exemplo, ao tomar um cafezinho fresco, ela se manifesta em nós pelo aroma e pelo sabor. Vejamos um exemplo: quando o namorado diz "eu te amo" à sua namorada, ele não quer somente lhe dar uma informação, uma notícia. Por essa razão, suas palavras são acompanhadas por sinais sensíveis, ou seja, por gestos que manifestam plenamente a realidade de seu amor para com ela. Podemos afirmar que os gestos do namorado simbolizam o amor que ele tem por sua namorada. Este elemento, que é da or- dem do sensível, recebe o nome de símbolo. Observe que os símbolos são importantes em nossas vidas e, em consequência, são importantes na liturgia. No entanto, é im- portante saber que nem tudo é símbolo: há realidades que não possuem nada de simbólico, enquanto outras possuem essa di- mensão. Símbolos: do nascimento à morte Os símbolos nascem, vivem e podem morrer. Você pode se perguntar: como nascem os símbolos? © Introdução à Liturgia68 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO A princípio, é preciso considerar que se referir ao nascimen- to do símbolo é tratar de uma experiência do sensível, logo, de uma ação. A liturgia é da ordem da ação, do fazer, por isso o símbolo tem um papel fundamental nas celebrações, pois ele é que está no centro deste fazer litúrgico. Veja que o símbolo não é uma coisa, mas um fazer. Confira este tema na Unidade 1. Veja como poderia ser descrito o processo de simbolização: O texto, a seguir, representa uma transcrição das ideias de Ione Buyst. Para ampliar seus conhecimentos, é imprescindível que confira: Buyst (2001, p. 41). Temos um sinal sensível com seu significado imediato atin- gindo nossos impulsos, nossa imaginação, nosso desejo. Ao fazer isso, ele evoca, manifesta, faz aparecer, traz presente, re-presenta, vela/revela um referente, uma realidade não-sensível, um segun- do significado, indireto, figurado, escondido, latente, gerando uma identificação, suscitando uma energia transformadora, estabele- cendo uma comunhão. Permanece, no entanto, uma distância, uma ruptura: o sinal sensível não é a realidade significada. Por exemplo, um bolo por si só é apenas um bolo que pode ser comido rapidamente por alguém antes de ir para o trabalho ouna hora do lanche. Um bolo que é servido durante uma festa de aniversário não é apenas um bolo. Ele re-presenta, significa uma dimensão que transcende a rotina da vida humana, ele revela que a vida é um dom que compartilhamos com as pessoas que ama- mos e que nos amam e com todas as pessoas do mundo. Ele se tornou um símbolo, pois de um sinal sensível tornou-se referente a uma realidade não-sensível, que só pode ser compreendida por meio do simbólico. 69© Aproximação à Dimensão Simbólica da Liturgia O símbolo é, antes de tudo, uma realidade sensível que remete; remete a algo diferente de si, mas com o qual está unido mediante uma relação objetiva que eu não projeto nem crio, mas com o qual me encontro (ao contrário do que ocorre com o sinal, sempre con- vencional). Esse algo distinto é, quanto ao mais, um tipo de realida- de a que não temos acesso senão através da mediação simbólica. /.../ Essa realidade a que a ação simbólica remete não é, evidente- mente, o mundo das idéias, das formas e das essências. Pois esse mundo não é real, vivo, mas abstrato; e podemos chegar a ele por meio do discurso, do raciocínio, da atividade do pensamento. À ex- periência simbólica só chegamos por meio do conhecimento uni- tário, global, isto é, sensível. Imaginativo, intuitivo, não irracional, mas supra-racional. A realidade a que o processo simbólico nos leva é, em última análise, a do mistério (MALDONADO apud BORO- BIO, 1990, p. 218-219). Há aqui mais uma relação direta com a liturgia, que é a celebração do “mistério" de Cristo, é uma celebração mistérica, ou seja, uma celebração simbólica. Alguns dos símbolos que surgiram ao longo da história da humanidade passaram por um processo de historicização, ou seja, o seu significado simbólico foi se transformando ao longo da histó- ria e representando novas realidades. Note que é dessa maneira que os símbolos litúrgicos ainda vivem e manifestam em cada celebração a realidade do mistério celebrado. Um exemplo disso pode ser visto na celebração pascal. Os símbolos pascais evocam a vida que renasce. Desse modo, a vida nova tem sua origem na páscoa dos povos cananeus, que a celebravam na primeira lua cheia da primavera como festa da vida que vence a morte. No hemisfério norte, o inverno é muito rigoroso: muito frio, os dias são curtos, pouca luz do sol, as árvores perdem as folhas, os ani- mais hibernam... É como se a morte vencesse a vida, que renas- cerá vigorosa na primavera. © Introdução à Liturgia70 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Os hebreus passaram a usar esses símbolos para celebrar a vida que vence a morte na libertação da escravidão do Egito e na passagem do Mar Vermelho, que os conduziu para a terra prometi- da. Os cristãos fizeram deles os símbolos da vitória de Cristo sobre a morte em sua ressurreição, que nos deu a salvação, a qual se faz presente quando celebramos os sacramentos, sobretudo o batis- mo e a eucaristia. O símbolo, no entanto, pode morrer. A morte do símbolo acontece quando a sua capacidade de evocar, de re-presentar, de manifestar a realidade não-sensível for limitada por meio da lin- guagem unidimensional, por meio de um conceito, uma definição. Neste contexto, o significado do termo definição é exatamente: definir = de-finir, colocar os “fins", os limites. Quando se define uma coisa, ela é limitada àquele conceito. É preciso compreender o símbolo a partir da sua polissemia, ou seja, a sua capacidade de manifestar diversos sentidos conforme o contexto simbólico, por exemplo: fogo pode significar purificação, mas também destruição ou iluminação nas trevas. Com a redução do conceito a um único sentido, não há possibilida- de de outros significados e de outras direções para o signo, o que impede a construção de pontes, isto é, de símbolos. A linguagem unidimensional trabalha com o signo em única direção, bloquean- do a existência do símbolo. Com este bloqueio, aos poucos, vai-se matando a transcendência no homem, isto é, sua capacidade de ir além do que aí está delimitado e normatizado. Com a asfixia da transcendência, com o tempo, o homem vai perdendo a memória, deixando de duvidar, de criticar e passa a aceitar o que está aí como sendo verdadeiro, bom e único (NASSER, 2003, p. 47). Em cada celebração litúrgica, fazemos a “memória" (anámnesis) do mistério pascal e isso se faz de maneira simbólica. Sem o simbólico não há memorial nem liturgia. Para aprofundar, confira: BUYST, I. Em minha memória. In: BUYST, I.; SILVA, J. A. O mis- tério celebrado: Memória e compromisso I. Valencia: Siquem Edi- ciones, 2002, p.75 – 89. (Coleção Livros Básicos de Teologia 9). 71© Aproximação à Dimensão Simbólica da Liturgia É por isso que o símbolo não se explica (no sentido de defini- ção), mas se faz a experiência do mistério que ele manifesta. Para uma "noção" de símbolo Vimos que o símbolo não se define e, por isso, não há uma noção uniforme de símbolo. Há uma diversidade de explicações de acordo com cada ciência. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Primeiramente, temos a definição etimológica: símbolo vem do grego sym-ballo (do verbo sym- ballein), que significa “colocar junto, pôr junto". Tal significado deriva do costume grego de fazer um contrato partindo em duas partes uma espécie de medalha. Cada um dos contratantes ficava com uma das partes, e a união delas certificava a veracidade do contrato e suas implicações. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Cada uma das partes sozinha não tinha valor, mas a ação de colocá-las junto re-presentava uma realidade não-visível (o con- trato). Por isso é que se pode dizer que o símbolo mora na ponte: E, o mais importante, o símbolo é uma ponte (metáfora) e a ponte é um símbolo que aproxima dois pólos, dois pontos, duas experiên- cias, dois mundos, duas vidas, duas metades. A ausência provoca a saudade. O símbolo representa a possibilidade de amenizar esta saudade, trazendo para perto o que nos falta. A ausência da pessoa amada traz a saudade que pode ser suavizada por um símbolo que represente esta pessoa: um objeto, música, perfume, caixa, foto que servirão de companhia a quem se encontra solitário (NASSER, 2003, p. 40). O símbolo tem grande importância e é estudado pela filoso- fia, pela psicologia, pela semiótica, pela antropologia e pela teo- logia, que consideram que todo discurso sobre Deus é simbólico. No contexto simbólico presente nas diversas ciências, en- contram-se diferenças e semelhanças entre signo (sinal) e símbolo, bem como entre estes, a alegoria e a metáfora. © Introdução à Liturgia72 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Saiba mais sobre os conteúdos estudados, leia: Nasser (2003), p. 33-36. O signo (sinal) é um meio arbitrariamente escolhido para indicar outra realidade, representável com facilidade. Quando são apenas uma forma de economizar explicações, eles se transformam em "si- nais", por exemplo, o semáforo. A alegoria (sinal alegórico) é o que remete a uma realidade dificilmente representável e, portanto, ca- rente de uma tradução concreta que representa uma parte da reali- dade significada, pela qual esta se torne acessível e compreensível; por exemplo, a justiça representada por um personagem: Salomão. O símbolo é o que remete a uma realidade ou conteúdo que não é absolutamente representável, a não ser a partir do seu sentido. "O símbolo envia a um significado invisível ou indizível, que deve encarnar concretamente numa adequação que o supere, seja pelo jogo de redundâncias místicas, rituais ou iconográficas" (BOROBIO APUD BOROBIO, 1990, p. 326-327). São exemplos de alegoria a parábola do semeador (Mt 13, 4-9.18- 23), a alegoria da videira e os ramos (Jo 15, 1-17). Vejamos o quadro a seguir: Quadro 1 Sinopse dos elementos "simbólicos". ELEMENTOS SIMBÓLICOS SIGNIFICANTE RELAÇÃO COM SIGNIFICADO Signo a) É arbitrário.b) É adequado. Equivalência indicativa a) Pode ser apreendido por outro. b) Procedimentopensado. c) É dado “antes" do significante. Alegoria a) Não-arbitrário. b) Ilustração convencional do significado. c) Pode ser parte do significado. d) Parcialmente adequado. Tradução “econômica" a) Dificilmente apreendido por meio direto. b) Conceito complexo. c) Ideia abstrata. d) Dado “antes" do significante. 73© Aproximação à Dimensão Simbólica da Liturgia Símbolo a) Não-arbitrário. b) Não-convencional. c) Sempre acompanhado de significação. d) Suficiente, mas inadequado. Epifania a) Nunca pode ser captado pelo pensamento direto. b) Nunca é dado fora do processo simbólico. Fonte: Borobio (1990, p. 327). Em cada celebração litúrgica, o simbólico está presente e manifesta o mistério de Cristo unindo o divino e o humano, o ima- nente e o transcendente, o céu e a terra, o pecado e graça etc. É preciso somente estar aberto para a sua revelação. 7. RITO: O FAZER SIMBÓLICO Como vimos, o simbólico está ligado ao fazer e o fazer simbó- lico recebe o nome de rito. O rito é um gesto simbólico e tem o seu sentido exatamente na união que mantém com o símbolo. Entretanto, quando o rito perde essa união com o símbolo (do qual ele é o fazer, o gesto), ele se esvazia e se transforma em uma repetição de gestos mecânicos, habituais, formais, que rece- be o nome de ritualismo. A ritualidade não faz parte somente da liturgia, mas é uma dimensão do humano e faz parte do ritmo e da expressão da vida social, na qual possui funções específicas que se realizam no tem- po e no espaço do agir humano. O rito, portanto, faz parte da comunicação humana e social. Por essa razão, temos na sociedade uma série de ritos que se trans- mitem culturalmente, como, por exemplo, os ritos de passagem. No entanto, há características próprias do rito que estão pre- sentes tanto na ritualidade humano-social quanto na ritualidade que tem conotação religiosa. Dentre essas características, pode ser destacada a ligação do rito com o mito, ou seja, por trás de um gesto ritual existe um con- © Introdução à Liturgia74 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO junto de ideias e de crenças que lhe dão sentido e que se tornam presentes quando ele é realizado. Desse modo, um simples apertar de mãos durante um cum- primento manifesta a ideia de civilidade, de educação, de cordiali- dade, de hospitalidade de acordo com cultura. Outra característica que merece destaque é a sua repetição. Sem ela, não há ritualidade, há um comportamento feito uma úni- ca vez. O rito é feito segundo padrões estabelecidos culturalmente e tem sentido com base na sua repetição em tempos e espaços já de- terminados. Seguindo o exemplo apresentado: os modos de cum- primentar variam conforme o tempo, o espaço (lugar), pessoas. Contudo, eles sempre se repetem em contextos semelhantes. Rito litúrgico Qual é a importância do rito na celebração litúrgica? O rito litúrgico, por ter suas raízes no humano, apresenta as mesmas características anteriormente citadas, ainda que essas, no caso da liturgia, sejam específicas e completadas por outras di- mensões. Na liturgia, o rito também está ligado a um mito (ideias, crenças) que, nesse caso, é chamado de mistério. Celebramos o mistério de Cristo por intermédio de gestos simbólicos (ritos). Assim, o rito litúrgico repete-se conforme padrões culturais próprios, os quais nos permitem, por exemplo, diferenciar a cele- bração do batismo e a da eucaristia, pois cada um desses sacra- mentos tem uma maneira específica de ser celebrado. O rito litúrgico possui características particulares, dentre as quais podemos citar (MALDONADO apud BOROBIO, 1990): Ele imita e torna presente: o rito litúrgico torna presente o misté- rio celebrado por meio de imitação (mímese) dos grandes eventos salvíficos. Por exemplo: o batismo torna presente a vida nova da 75© Aproximação à Dimensão Simbólica da Liturgia filiação divina, por meio do banho que recorda a água presente na criação do mundo, na passagem do Mar Vermelho, no batismo de Jesus etc. Ele se repete, mas é sempre novo: ainda que se repita, cada vez que celebramos a eucaristia, por exemplo, é uma nova realidade que se faz presente, já que, por sua ligação com o símbolo, o rito apresenta-se também polissêmico. Ele expressa a criatividade: exatamente por trazer em si a novidade é que a criatividade se faz presente na ritualidade litúrgica. Ele é como uma linguagem: como numa frase temos vários elemen- tos que se harmonizam sintaticamente para que a mensagem seja expressa Assim, na celebração litúrgica cada gesto ritual se enca- deia com o seguinte, formando uma "grande frase". Por exemplo, na missa temos os Ritos de Entrada, que têm a finalidade de prepa- rar a comunidade para a eucaristia e são um encadeamento ritual da procissão de entrada, saudação, ato penitencial, glória e oração. Ele toca a sensibilidade (estética, sentidos): por meio dos ritos nos- sos sentidos são ativados e podem perceber as várias dimensões da realidade até chegar à beleza do mistério celebrado. Nossos senti- dos são tocados pela luz (velas – visão), pelo aroma (óleo perfuma- do, incenso – olfato), pelo sabor (vinho – paladar), pelo som (sino, cantos – audição), pela textura (unção, gesto da paz – tato). Envolve o ser humano total (corpo, gestos, movimento): os ritos litúrgicos nos levam a participar do mistério celebrado com nosso corpo, expressando em gestos e movimentos a nossa união com o divino (ação simbólica que une o humano e o divino) – ficar em pé, de joelhos, caminhar, erguer os braços etc. Para finalizar, observe que a ritualidade litúrgica é muito rica e que precisa ser bem compreendida para que toda a sua poten- cialidade seja posta em ação, a fim de proporcionar a toda comu- nidade celebrante uma "plena, consciente e ativa participação no mistério celebrado" (SC 14). 8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Quais são as distinções entre sinal, símbolo, alegoria e metáfora? © Introdução à Liturgia76 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 2) Qual a diferença entre símbolo e símbolo litúrgico? 3) O que você entendeu por ritualidade na vida humana? Quais suas caracte- rísticas e funções? 4) Ainda tenho dúvidas em relação aos conteúdos estudados? Que procedi- mentos posso utilizar para eliminá-las? 5) O que posso fazer para ampliar meus conhecimentos sobre as diferenças e semelhanças das várias formas de manifestação simbólica? 9. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, você estudou os símbolos e os rituais litúrgi- cos, além de observar as diferenças e semelhanças das várias for- mas de manifestação simbólica. Estudou, também, o papel fundamental do símbolo como constitutivo principal da ação litúrgica, as várias formas de rituali- dade, bem como as peculiaridades do rito litúrgico e como elas se manifestam na celebração. Na Unidade 4, você será convidado a ampliar seus conheci- mentos sobre a teologia litúrgica propriamente dita. Até lá! 10. E-REFERÊNCIA VATICAN. Home page. Disponível em: <http://www.vatican.va/phome_po.htm>. Acesso em: 13 ago. 2012. 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOROBIO, D. Da celebração à teologia: que é um sacramento? In: BOROBIO, D. (Org.) A celebração na Igreja – 1. Liturgia e sacramentologia fundamental. São Paulo: Edições Loyola, 1990. BUYST, I. Celebrar com símbolos. São Paulo: Paulinas, 2001. ______; SILVA, J. A. O mistério celebrado: memória e compromisso – Teologia litúrgica 1. Valencia (Espanha): Siquem Ediciones, 2002. 77© Aproximação à Dimensão Simbólica da Liturgia NASSER, M. C. Q. C. O que dizem os símbolos? São Paulo: Paulus, 2003. (Coleção Questões fundamentais do ser humano 3) MALDONADO, L. A celebração litúrgica: fenomenologia e teologia da celebração. In: BOROBIO, D. (Org.) A celebração na Igreja – 1 – Liturgia e sacramentologia fundamental. São Paulo: Edições Loyola, 1990. Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
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