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A Nova Aliança e a Igreja


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A vontade do nosso Senhor Jesus Cristo é que o seu povo seja um (João 17). Isso faz parte
do “ainda não” que tão ansiosamente antecipamos. No entanto, isso também deve ser um
elemento distinto do nosso esforço “agora”. As divisões dentro da comunidade evangélica não
podem ser simplesmente aceitas por nós sem que façamos uma tentativa humilde de buscar a
unidade de formas significativas. Esse livro pode parecer inútil para a busca desse objetivo
devido ao seu título. Porém, na verdade, essa é uma grande contribuição no sentido de promover
a unidade do povo de Cristo em nossa geração! O Dr. Waldron aborda talvez as principais
perspectivas no que diz respeito à interpretação bíblica entre os evangélicos modernos. O
objetivo não é ganhar pessoas para os batistas reformados, mas promover a nossa (dos batistas
reformados) compreensão das Escrituras na área vital da teologia pactual. Como pastor batista
reformado, tenho o prazer de recomendar este livro para a leitura e estudo da igreja universal.
Gary W. Hendrix
Um dos pastores da Grace Reformed Baptist Church
Mebane, NC
É com grande prazer que recomendo que esta obra seja lida por todos os estudantes de
teologia. A Nova Aliança, tal como profetizada no Antigo Testamento, frequentemente é tratada
de modo superficial e em termos do seu cumprimento no Novo Testamento. Sam Waldron nos
fez um favor ao explicar claramente o significado da profecia original em seu devido contexto e
ao estabelecer o seu cumprimento de acordo com a declaração do Novo Testamento. A sua
exposição gentil dos erros cometidos por outros nos mostra que eles basicamente interpretam
mal o significado da Nova Aliança e o seu presente cumprimento na igreja de Jesus Cristo. A sua
explicação das implicações da Nova Aliança, corretamente entendida, provê um guia e um
projeto para o estabelecimento de igrejas bíblicas nos dias de hoje. E isso nos provê um
Manifesto, enraizado no próprio significado da Nova Aliança.
Fred A. Malone, Ph.D.
Pastor, First Baptist Church, Clinton, LA
Autor do livro The Baptism of Disciples Alone: A Covenantal Argument for Credobaptism
Versus Paedobaptism
Dentre as muitas áreas da teologia, uma das mais fascinantes é a relação da Nova Aliança
com a Antiga. Que aspectos da Antiga Aliança eram característicos apenas daquela dispensação,
ou seja, aplicavam-se apenas aos judeus de Israel durante o tempo em que eles, como nação,
viviam naquela terra e tinham uma relação pactual singular com Deus? Que verdades do Antigo
Testamento têm uma autoridade vinculativa permanente em relação ao povo de Deus do Novo
Testamento? Esses estudos são um passo modesto para um pensamento mais claro sobre a
verdade revelada. Que seja o primeiro de muitos. Todos nós precisamos da luz e da direção que
se encontram nessas páginas.
Geoffrey Thomas
Pastor, Alfred Place Baptist Church, Aberystwyth, Wales
Editor associado da revista Banner of Truth
Autor de Ernest C. Reisinger: A Biography
A disputa que perdura há séculos sobre a natureza da igreja e todas as questões importantes
relacionadas a isso podem parecer tão complexas a ponto de desafiar uma solução. A discussão
perspicaz de Waldron vence a linguagem confusa empregada na discussão a ponto de permitir ao
leitor ver claramente os elementos-chave das diferentes posições à luz do ensino da Palavra de
Deus a respeito da Nova Aliança. Muitos serão abençoados por esta nova abordagem.
James R. White, Th.D.
Phoenix Reformed Baptist Church, Phoenix, AZ
Ministério Alfa e Omega
Título Original
A Reformed Baptist Manifesto:
The New Covenant Constitution of the Church
Por Samuel E. Waldron
■
Copyright © 2004 Samuel E. Waldron. Todos os direitos reservados.
■
Copyright © 2021 Editora O Estandarte de Cristo
Francisco Morato, SP, Brasil
■
Publicado por Reformed Baptist Academic Press
37104 Bridgeport Ct. Palmdale, CA 93550
rbap@sbcglobal.net | www.rbap.net
■
1ª edição em português: 2021
■
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora O Estandarte de Cristo. Proibida a reprodução por quaisquer
meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
■
Salvo indicação em contrário e leves modificações, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida Corrigida
Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.
■
Tradução e Capa: William Teixeira
Revisão: Camila Rebeca Teixeira
■
Visite: OEstandarteDeCristo.com
■
O Estandarte de Cristo
Editora
Conselho editorial: Pr. Fernando Angelim
Pr. Jorge Rodríguez
Pr. Josué Meninel
Pr. Marcus Paixão
Editor: William Teixeira
■
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Sumário
Prefácio
Introdução
Capítulo 1: A Nova Aliança como Constituição da Igreja e o Dispensacionalismo
Capítulo 2: A Nova Aliança como Constituição da Igreja e o Antinomianismo
Capítulo 3: A Nova Aliança como Constituição da Igreja e o Arminianismo
Capítulo 4: A Nova Aliança como Constituição da Igreja e o Pedobatismo
Conclusão: Um Manifesto Batista Reformado
Apêndice 1: Uma Breve Resposta a Richard L. Pratt’s “O Batismo Infantil na Nova Aliança”
Apêndice 2: Resenha do Livro: Teologia da Nova Aliança, de Tom Wells E Fred Zaspel - Por Richard C. Barcellos
Bibliografia
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PREFÁCIO
O título deste livro pode, à primeira vista, parecer prometer mais do que ele realmente o faz. Ele
não pretende ser um manifesto que trata de todos os distintivos dos batistas reformados
confessionais. Isso está contido, substancialmente, na nossa confissão de fé, a Segunda Confissão
de Fé de Londres de 1677/1689. Contudo, este livro apresenta um manifesto que se concentra em
um elemento (o principal deles) da teologia dos batistas reformados, o qual, em alguns casos, se
opõe aos pontos de vista de outros. O nosso foco será, como descrito em nosso subtítulo, a Nova
Aliança como constituição da igreja.
Este livro se originou de uma série de sermões pregados há muitos anos. Muito tem sido
produzido desde então em várias frentes teológicas desde que esses sermões foram pregados.
Devido a isso, foi feita uma tentativa de atualizar os argumentos sempre que se fez necessário e
acrescentar comentários contemporâneos sobre vários movimentos teológicos dentro do
cristianismo evangélico americano.
Espera-se que esse humilde esforço ajude os batistas reformados confessionais a
articularem os seus distintivos e auxilie outros a compreenderem por que cremos no que cremos
a respeito da Nova Aliança.
Algumas palavras são necessárias para esclarecer a autoria deste livro. A autoria do livro é
atribuída a “Samuel Waldron com Richard Barcellos”. Eu preguei as quatro mensagens originais
nas quais este livro se baseia. Mas a ajuda editorial dada por Richard foi tão extensa que senti
que era completamente apropriado incluir o seu nome como coautor. Sou grato pela gentileza
maravilhosa e pelo apreço surpreendente que ele demonstrou por esses sermões, tanto pelo
pedido original de publicação como pelos grandes labores que dedicou a eles, a fim de os
preparar para publicação.
Samuel Waldron
Julho de 2004
INTRODUÇÃO
Este autor está convicto de que as igrejas batistas reformadas confessionais[1] refletem os
principais distintivos da Nova Aliança. Para dizer isso em outras palavras, estou convicto que os
batistas reformados confessionais se esforçam para afirmar claramente os termos da Nova
Aliança. O objetivo deste estudo, portanto, é lhes apresentar um manifesto batista reformado pormeio de um exame da Nova Aliança como a constituição da igreja. Sei que essa afirmação pode
parecer arrogante, contudo, espero que o leitor simplesmente permita que a Nova Aliança fale
por si mesma e veja a validade e propriedade de tal afirmação.
Embora as diferenças com outros cristãos venham a ser discutidas, que seja afirmado de
forma clara e enfática desde o início que os batistas reformados confessionais estão do lado de
muitos irmãos reformados e dispensacionalistas a respeito das questões essenciais da fé cristã.
De bom grado, estamos ao lado de todos aqueles que se apegam à inspiração, inerrância,
autoridade e suficiência plenárias das Escrituras. Ficamos muito felizes por muitos de nossos
irmãos reformados e dispensacionalistas permanecerem firmes em sua defesa da justificação
somente pela fé em Cristo. Ficamos felizes em afirmar a nossa unidade com todos aqueles que se
mantêm firmes contra as investidas do teísmo aberto. Embora discordemos quanto aos detalhes
da Nova Aliança, temos concordância quanto a essas outras questões e sobre muitos outros
pontos essenciais para a fé cristã.
A expressão “Nova Aliança” é usada explicitamente cinco vezes no Novo Testamento. Há
pelo menos mais cinco vezes em que ocorrem alusões claras a ela. Isso, contudo, não revela
adequadamente toda a importância que a Bíblia atribui à Nova Aliança. Os últimos 27 livros das
nossas Bíblias são chamados o “Novo Testamento”. Essa expressão é uma tradução alternativa
para “Nova Aliança”. Em certo sentido, o Novo Testamento é a Nova Aliança. Ou seja, as
Escrituras da Nova Aliança são as Escrituras do Novo Testamento, tal como as Escrituras do
Antigo Testamento são as Escrituras da Antiga Aliança. Isso de forma alguma tira o Antigo
Testamento das mãos dos cristãos. Assim como o Antigo Testamento está relacionado com o
estabelecimento e as implicações da Antiga Aliança, assim também o Novo Testamento está
relacionado com o estabelecimento e as implicações da Nova Aliança.
Essa forma de falar sobre as duas partes das nossas Bíblias não é meramente fruto de
tradição. Em 2 Coríntios 3:14, o apóstolo Paulo, fala sobre a Nova Aliança (2 Coríntios 3:6) e
então, no mesmo contexto, passar a falar sobre a “leitura da Antiga Aliança”. Com essa frase, ele
se refere à leitura contínua e pública das Escrituras do Antigo Testamento nas sinagogas
judaicas. Não só o Novo Testamento se refere frequente e explicitamente à Nova Aliança, como
também as Escrituras do Novo Testamento são, num certo sentido, a Nova Aliança. Obviamente,
o tema da Nova Aliança é de importância vital para todos os cristãos.
É surpreendente perceber que apesar de toda a atenção que é dada à Nova Aliança no nosso
Novo Testamento, existe apenas uma passagem em todo o Antigo Testamento onde essa frase
ocorre. Essa passagem crucial será o foco deste estudo: Jeremias 31:31-34.
A premissa deste estudo está declarada no seu subtítulo: a Nova Aliança como constituição
da igreja. Para afirmar essa premissa de forma clara, a Nova Aliança é a constituição da igreja de
Cristo. Em outras palavras, o que a Constituição dos Estados Unidos da América é para o nosso
país e o que a Carta Magna é para a República Britânica, a Nova Aliança é para a igreja de
Cristo.
O termo aliança, sem dúvida, é uma das palavras mais importantes da Bíblia, ela é usada
mais de 280 vezes no Antigo Testamento e mais de 30 vezes no Novo Testamento. Com razão,
essa palavra tem estado no centro de muita discussão entre os eruditos. Uma questão importante
para esse estudo que é estabelecida por essa discussão é esta: Uma aliança na Bíblia, entre outras
coisas, é a base formal ou legal de alguma relação. Por exemplo, Malaquias 2:14 (“sendo ela a
tua companheira, e a mulher da tua aliança”) fala da relação pactual do matrimônio como a base
formal, vinculativa e legal do casamento. Da mesma forma, a Antiga Aliança ou pacto mosaico
foi a base formal, legal, para a existência nacional de Israel. Ela declarava os termos em que
Yahwéh tinha formalmente tomado a nação de Israel como sua noiva. Por exemplo, Ezequiel
16:8 diz: “E, passando eu junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; e estendi
sobre ti a aba do meu manto, e cobri a tua nudez; e dei-te juramento, e entrei em aliança contigo,
diz o Senhor DEUS, e tu ficaste sendo minha”. Essa Antiga Aliança é explicitamente comparada
e contrastada com a Nova Aliança em Jeremias 31.
É por isso que a Nova Aliança é a constituição da igreja. Embora seja lícito que as igrejas
escrevam constituições para si por razões administrativas, a premissa deste estudo é que a Nova
Aliança é, em si mesma, a base final, formal e a regra legal da igreja. Portanto, este estudo
buscará estabelecer e expor essa premissa encontrada em Jeremias 31.
Devido a todas as questões que estão envolvidas em se tratando de apresentar um
Manifesto Batista Reformado, este estudo será, de certa forma, polêmico. À medida que o estudo
avança, discutiremos os pontos de vista de outros com os quais divergimos. À medida que
demonstrarmos as distinções confessionais dos batistas reformados fundamentadas na Nova
Aliança, serão expostas algumas diferenças com outros cristãos evangélicos. Buscaremos nos
conduzir na busca pela verdade, sem intenções ímpias.
Eis o esboço que será seguido:
• A Nova Aliança como Constituição da Igreja
e o Dispensacionalismo
• A Nova Aliança como Constituição da Igreja
e o Antinomianismo
• A Nova Aliança como Constituição da Igreja
e o Arminianismo
• A Nova Aliança como Constituição da Igreja
e o Pedobatismo
Abordaremos essas questões da seguinte maneira: Durante o nosso exame da Nova
Aliança, a doutrina batista reformada confessional será estabelecida e depois comparada e
contrastada com o dispensacionalismo, o antinomianismo, o arminianismo e o pedobatismo. O
resultado será um manifesto batista reformado baseado na Nova Aliança como a constituição da
igreja.
1
A NOVA ALIANÇA COMO
CONSTITUIÇÃO DA IGREJA
E O DISPENSACIONALISMO
Em primeiro lugar, precisamos estabelecer que a Nova Aliança é, de fato, a constituição da
igreja, especialmente porque alguns têm lhe negado tal relevância. Neste capítulo, lançaremos
muito dos fundamentos sobre os quais se baseia o restante deste estudo.
Em Jeremias 31:31-34, lemos:
31 Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e
com a casa de Judá. 32 Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os
tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança
apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. 33 Mas esta é a aliança que farei com a
casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a
escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 34 E não
ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao
Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor;
porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.
A pergunta que temos de responder neste momento é: Essa passagem tem, de fato, algo a
ver com a igreja? Será que a Nova Aliança realmente é a constituição da igreja? Essa pergunta é
especialmente importante por que, como sugerido acima, isso é negado por um segmento
significativo do cristianismo evangélico. A nossa abordagem quanto a esse ponto consistirá em
demonstrar a validade dessa premissa (a saber, a Nova Aliança é a constituição da igreja) sob três
tópicos: a sua negação; a sua defesa; e a sua dificuldade.
A sua negação: A promessa da Nova Aliança não se aplica à igreja
A negação de que a Nova Aliança seja precisamente relevante para a igreja vem de um
movimento que domina grande parte do cristianismo americano. Esse movimento ou sistema de
interpretação é comumente conhecido como dispensacionalismo. Ele é, talvez, mais conhecido
como aquele sistema de interpretação popularizado pela Bíblia de Estudo de Scofield.
Esse sistema, em sua afirmação clássica, nega que a NovaAliança é cumprida na (ou é a
constituição da) igreja. Antes que essa afirmação seja provada, ela precisa ser esclarecida
brevemente. Isso deve ser feito por que alguns podem se queixar de que, ao alegar que o
dispensacionalismo nega que a Nova Aliança é cumprida na igreja, ele está sendo deturpado.
Nos últimos anos, foram apresentadas diferentes versões daquele que é chamado de
dispensacionalismo progressivo. Não poucos estudiosos evangélicos estão bem conscientes das
inadequações bíblicas do dispensacionalismo clássico. Esses estudiosos, em vez de admitirem a
inadequação do dispensacionalismo em si, tentaram redefini-lo. Após redefini-lo, eles podem
continuar a reivindicar fidelidade ao seu venerado sistema.
Entretanto, há um problema com aqueles que objetam que o dispensacionalismo está sendo
deturpado. Se for permitido aos estudiosos definir o dispensacionalismo da forma que quiserem,
então o dispensacionalismo pode se tornar o que eles quiserem. Alguns dispensacionalistas
modernos redefinem o seu sistema para que aqueles que não são dispensacionalistas possam ser
categorizados como tais. Percebemos que há algo de errado com a sua definição quando vemos
que ela pode transformar o anti-dispensacionalismo em dispensacionalismo. Quando a definição
de uma maçã é tão ampla que, segundo essa definição, os tomates são maçãs, há algo de
inadequado nela. Chego a me questionar se o que constitui o dispensacionalismo hoje será o
mesmo que constituirá o dispensacionalismo amanhã.
Esses estudiosos podem ser comparados a alguém que ama carros antigos e possui um
carro com o chassi enferrujado de um Modelo T, equipado com um motor Mitsubishi de quatro
cilindros, uma transmissão Mercedes, rodas Porsche e pneus Michelin. Ele customizou o carro de
tal forma que o único componente produzido antes de 1990 naquele automóvel é a estrutura e
parte da carroceria. Então ele chega até você e afirma ser proprietário de um Ford Modelo T.
Qual é o problema? Ele possui um Ford Modelo T apenas em um sentido muito específico do
termo. De certo modo, o mesmo se aplica a muito do dispensacionalismo contemporâneo, ele é
dispensacionalismo apenas em um sentido muito específico do termo.
Uma segunda resposta aos que se queixam de que o dispensacionalismo está sendo
deturpado é que, embora eles definam o dispensacionalismo numa esfera acadêmica, esse não é o
tipo de dispensacionalismo que é crido nos bancos das igrejas dos Estados Unidos e do mundo.
O tipo de dispensacionalismo mais comentado é o dispensacionalismo clássico, o mais
comumente crido nos Estado Unidos.[2]
Pode ser provado que o dispensacionalismo clássico nega que a Nova Aliança é cumprida
na igreja através de citações de alguns dos mestres mais conhecidos desse sistema de
pensamento. J. Dwight Pentecost, no seu tratado clássico sobre escatologia dispensacionalista
intitulado Things to Come [Coisas por vir], diz o seguinte: “...a nova aliança de Jeremias 31:31-
34 deve e pode ser cumprido apenas pela nação Israel e não pela igreja... A aliança ainda não foi
cumprida e aguarda um cumprimento futuro e literal”.[3] Outro ex-professor do Seminário
Teológico de Dallas, Charles C. Ryrie, afirma sucintamente o seu ponto de vista da seguinte
maneira: “A Nova Aliança não é apenas futura, mas milenista”.[4] Um terceiro grande expoente e
conhecido professor do dispensacionalismo clássico reitera esse ponto. John Walvoord afirma:
“...a posição pré-milenista afirma que a Nova Aliança é feita com Israel e que seu cumprimento
se dará no reino milenar que acontecerá após a segunda vinda de Cristo”.[5]
Essa negação não é incidental e nem desprovida de importância para o pré-milenismo
dispensacionalista clássico. Ryrie afirma que o dispensacionalismo tem três aspectos essenciais.
De acordo com Ryrie, um desses aspectos essenciais é: “Um dispensacionalista mantém Israel e
a igreja distintos... alguém que não distingue Israel e a igreja inevitavelmente não manterá as
distinções dispensacionais”. [6]Noutro lugar, ele diz: “Se a igreja está cumprindo as promessas
feitas a Israel, tal como contidas na Nova Aliança ou em qualquer parte das Escrituras, então o
pré-milenarismo é refutado”.[7] Assumindo um contexto em que a igreja cumpre a Nova Aliança,
Pentecost reconhece: “Se a igreja cumpre essa Aliança, então ela também pode cumprir as outras
alianças feitas com Israel e, assim, não há necessidade de um milênio terrestre”.[8]
Não apenas o pré-milenismo dispensacionalista clássico nega que a igreja cumpre a Nova
Aliança, mas ele precisa negar isso ou então colapsará por completo. Essa conclusão é óbvia até
mesmo para aqueles que aderem a esse sistema. O dispensacionalismo clássico não pode admitir
que a igreja cumpra a Nova Aliança feita com Israel. Isso constituiria em falhar em manter Israel
e a igreja distintos e separados. Seria admitir que Israel e a igreja são, em certo sentido, uma e a
mesma coisa. De acordo com Ryrie e Pentecost, isso destruiria o pré-milenismo (e todas as
formas de dispensacionalismo). Evidentemente que, nisso, eles estão absolutamente corretos.
A sua defesa: a promessa da Nova Aliança se aplica efetivamente à igreja
A defesa da nossa premissa de que a Nova Aliança é cumprida na igreja e por ela não é
difícil nem complicada. Vamos simplesmente analisar o uso que o Novo Testamento faz de
Jeremias 31:31-34 e buscar responder à seguinte pergunta: O que o Novo Testamento ensina
sobre o cumprimento da Nova Aliança? Examinaremos sete passagens bíblicas para obter essa
resposta.
Lucas 22:20
Em Lucas 22:20, Jesus disse: “Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado
em favor de vós” (ARA). Essa é a última ceia realizada por Jesus e pelos apóstolos na qual a ceia
do Senhor foi instituída. Os apóstolos foram, de acordo com Efésios 2:20, o fundamento da
igreja. Jesus falou do cálice que compartilhou com os seus apóstolos como “o cálice da nova
aliança no meu sangue”. Ou seja, o cálice era o símbolo exterior da Nova Aliança. O fato de
beberem do cálice simboliza claramente que eles tinham uma participação no sangue de Cristo e
nas bênçãos obtidas por ele.
1 Coríntios 11:25
Em 1 Coríntios 11:25, Paulo diz: “Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou
também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes
que o beberdes, em memória de mim” (ARA). Essa é a passagem definitiva sobre o tema da ceia
do Senhor no Novo Testamento. Ela demonstra que os acontecimentos de Lucas 22:20 se
destinavam a instituir uma ordenança contínua para a igreja (cf. 1 Coríntios 11:17-22; 1:1-2).
Portanto, cada vez que um cristão toma o cálice que o próprio Cristo identificou como “a nova
aliança no meu sangue”, é como se ele estivesse dizendo: “Eu tenho participação na Nova
Aliança, nas bênçãos e ordenanças dela, e nela como a constituição da igreja de Cristo”.
2 Coríntios 3:5-6
Paulo diz: “Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se
partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos
ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito
vivifica” (2 Coríntios 3:5-6).
A referência dessa passagem a Jeremias 31:31-34 não pode ser evitada. Em Jeremias 31:33
lemos sobre Deus escrevendo a sua lei nos corações do seu povo, como pode ser visto nesse
contexto. Em 2 Coríntios 3:3, lemos: “Estando já manifestos como carta de Cristo, produzida
pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas
de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações”. Assim, vemos que os gentios coríntios,
os quais eram crentes e membros da igreja, possuíam as bênçãos prometidas na Nova Aliança
encontradas em Jeremias 31.
Mas o versículo 6 é ainda mais significativo: Paulo, o apóstolo dos gentios, o apóstolo da
igreja, se identifica como um ministro de “uma nova aliança”. Diante disso, a pergunta que
precisa ser respondida é: como o apóstolo dos gentios poderia ser um ministro ou servoda Nova
Aliança, se essa aliança não é cumprida na igreja, mas ela deve receber apenas um cumprimento
“futuro e milenar”?
Hebreus
A Epístola aos Hebreus apresenta a melhor exposição sobre a Nova Aliança e Jeremias 31
encontrada em todo o Novo Testamento. Tem sido argumentado que essa epístola e as suas
referências à Nova Aliança são irrelevantes para as igrejas dos gentios. Os dispensacionalistas
questionam: “A Epístola aos Hebreus não foi escrita para os judeus?”.
É possível que a maioria daqueles para quem Hebreus foi originalmente dirigida fossem,
quanto à sua origem nacional, judeus. Porém, isso não diminui a importância dessa epístola para
a igreja cristã e para os problemas que enfrentamos hoje. Isso é verdade por pelo menos três
razões: Em primeiro lugar, como Hebreus faz parte do Novo Testamento e foi escrita após o
encerramento da dispensação do Antigo Testamento, os privilégios que ela concede e os deveres
que impõe aos judeus cristãos não podem ser limitados aos judeus. Isso seria reerguer o muro de
separação que havia entre judeus e gentios, o qual Cristo derrubou, pela sua cruz. Esse ponto se
tornará mais evidente à medida que analisarmos algumas passagens de Hebreus. Em segundo
lugar, isso é evidenciado pelo fato de que a Epístola aos Hebreus foi escrita principalmente a
judeus cristãos. Esses judeus cristãos foram exortados a não apostatarem e voltarem ao judaísmo.
Em terceiro lugar, os destinatários dessa epístola eram membros de igrejas cristãs. Eles são, por
exemplo, advertidos a não abandonarem a sua congregação (Hebreus 10:25) e exortados:
“Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas” (Hebreus
13:17). Claramente isso é uma referência aos pastores das igrejas cristãs das quais, presume-se,
eles eram membros.
Hebreus 8:1, 6-13
“Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos
céus à destra do trono da majestade” (Hebreus 8:1).
Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor
aliança que está confirmada em melhores promessas. Porque, se aquela primeira fora
irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda. Porque, repreendendo-os, lhes diz:
Eis que virão dias, diz o Senhor,
Em que com a casa de Israel e com a casa de Judá
estabelecerei uma nova aliança,
Não segundo a aliança que fiz com seus pais
No dia em que os tomei pela mão,
para os tirar da terra do Egito;
Como não permaneceram naquela minha aliança,
Eu para eles não atentei, diz o Senhor.
Porque esta é a aliança que depois daqueles dias
Farei com a casa de Israel, diz o Senhor;
Porei as minhas leis no seu entendimento,
E em seu coração as escreverei;
E eu lhes serei por Deus,
E eles me serão por povo;
E não ensinará cada um a seu próximo,
Nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor;
Porque todos me conhecerão,
Desde o menor deles até ao maior.
Porque serei misericordioso para com suas iniquidades,
E de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais.
Dizendo Nova Aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se
envelhece, perto está de acabar (Hebreus 8:6-13).
Aqui o escritor cita Jeremias 31:31-34 como se referindo àquela melhor aliança da qual o
nosso Sumo Sacerdote é o Ministro e Mediador. Isso implica certamente que a Nova Aliança
prometida em Jeremias foi inaugurada por Cristo e está sendo cumprida atualmente.[9]
Hebreus 9:14-15
“...Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo
imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus
vivo? E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão
das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa
da herança eterna” (Hebreus 9:14-15).
Aqui Jesus é apresentado como o Mediador da Nova Aliança que transmite aos seus
destinatários a purificação e a redenção do pecado. Esses destinatários são descritos como
“aqueles que foram chamados” (v. 15). O Novo Testamento ensina que Deus está a chamar tanto
judeus como gentios à promessa da herança eterna (Romanos 9:24). Se você foi chamado, então
Jesus é o Mediador da Nova Aliança para você, e você é um participante a Nova Aliança e das
bênçãos dela.
Hebreus 10:10-19
Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma
vez. E assim, todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os
mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; mas este, havendo oferecido para sempre
um único sacrifício pelos pecados, ESTÁ ASSENTADO À DESTRA DE DEUS, daqui em
diante esperando ATÉ QUE OS SEUS INIMIGOS SEJAM POSTOS POR ESCABELO DE
SEUS PÉS. Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados. E
também o Espírito Santo no-lo testifica, porque depois de haver dito:
Esta é a aliança que farei com eles
Depois daqueles dias, diz o Senhor:
Porei as minhas leis em seus corações,
E as escreverei em seus entendimentos; acrescenta:
E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades.
Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado.
Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus (Hebreus
10:10-19).
A promessa da Nova Aliança de que Deus não se lembrará mais dos nossos pecados e
iniquidades (Jeremias 31:34) é apresentada aqui como uma promessa que foi cumprida através
do sacrifício de Cristo. Devido a essa promessa, nós, como cristãos, temos “ousadia para entrar
no santuário” (v. 19). Assim, todo o cristão, judeu ou gentio, que entra no santuário em oração
privada ou em adoração pública pelo sangue de Cristo, só pode fazê-lo porque foi feito
participante da Nova Aliança e das bênçãos dela.
Hebreus 12:22-24
“Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos
milhares de anjos; à universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus,
e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o Mediador de uma
nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel” (Hebreus 12:22-24).
Ao nos achegarmos ao Monte Sião, nos achegamos também à “igreja dos primogênitos” (v.
23). No entanto, essas bênçãos são comunicadas a nós por meio das coisas que são nomeadas no
versículo 24, as quais representam o clímax da passagem, pois é através delas que todas as outras
bênçãos são comunicadas. Em outras palavras, é através de Jesus, o Mediador da Nova Aliança e
do sangue da aspersão, que pessoas como nós podemos nos achegar ao Monte Sião e à igreja dos
primogênitos. Portanto, um lugar na igreja é assegurado em virtude de uma relação com o
Mediador da Nova Aliança.
Conclusão
Cada uso que o Novo Testamento faz de Jeremias 31:31-34 relaciona essa passagem com
um cumprimento presente na igreja. Por outro lado, não encontramos qualquer justificativa em
todo o Novo Testamento para ver o cumprimento da Nova Aliança como algo futuro e milenar
(seja no todo ou em parte). Ao contrário, há todos os motivos para vê-la como cumprida e como
a constituição da igreja no tempo presente. Apenas lembrem-se do que vimos. O Salvador da
igreja é o Mediador da Nova Aliança. O Apóstolo da igreja é um Servo da Nova Aliança. A
origem da igreja é devida às bênçãos da Nova Aliança. As próprias ordenanças da igreja são
sinais da Nova Aliança. Assim, somos levados a concluir, a Nova Aliança é a constituição da
igreja.
A sua dificuldade: A dificuldade de aplicar a Nova Aliança à igreja
Apesar da clareza do testemunho do Novo Testamento sobre esse assunto, um problema
pode permanecer na mente do leitor. Apesar de todas essas provas ainda pode haver uma
pergunta incômoda na mente de alguns: Jeremias 31 não diz que a Nova Aliança deveria ser feita
com a casa de Israel e a casa de Judá? Então, como é possível que a Nova Aliança seja cumprida
na igreja, que é formada principalmente por gentios?
A resposta simples a essa pergunta é que a igreja é Israel.Ou, para dizer com mais
precisão, se a Nova Aliança está sendo cumprida atualmente, ela deve ser feita com um Novo
Israel e é a sua constituição. Bem, ao contrário do dispensacionalismo clássico que separa a
igreja e Israel, a Bíblia ensina que a igreja é a continuação de Israel em uma nova forma e em
uma nova era. Existem muitas provas para essa afirmação, mas vamos examinar apenas as três
passagens mais importantes do Novo Testamento que provam que a igreja é o Novo Israel. Como
veremos, isso é contrário a todas as formas de dispensacionalismo.[10]
Gálatas 3:29
Paulo diz: “E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a
promessa”. O clímax do argumento de Paulo em Gálatas é o capítulo 3, quando ele afirma que a
descendência de Abraão, o verdadeiro Filho de Deus, é Jesus o Cristo (Gálatas 3:16). Mas não é
só isso, ele segue dizendo que aqueles que estão em Cristo, unidos a ele pela fé, também são a
descendência de Abraão e, portanto, os judeus espirituais e os verdadeiros israelitas.
Tudo isso pode parecer “espiritualizante” para alguns. Por isso, deve ser ressaltado que a
igreja é a descendência de Abraão e o Israel de Deus apenas porque ela está, como é dito
claramente em Gálatas 3:29, em união com aquele que verdadeiramente é a descendência física
de Abraão.
Romanos 11:16-24
E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o
são. E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar
deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se
contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás, pois: Os ramos foram
quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu
estás em pé pela fé. Então não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos
naturais, teme que não te poupe a ti também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus:
para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua
benignidade; de outra maneira também tu serás cortado. E também eles, se não permanecerem na
incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar. Porque, se tu
foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais
esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira! (Romanos 11:16-24).
Aqui Paulo compara o povo de Deus a uma oliveira. A raiz da oliveira é a promessa pactual
feita aos patriarcas judeus. Os ramos naturais são os judeus. Mas o que aconteceu quando Cristo
veio? Será que Deus desarraiga a oliveira velha? Ele planta uma figueira nova ao lado da oliveira
velha? Será que ele planta uma segunda oliveira? A resposta a todas essas perguntas é um
retumbante não. Essa passagem ensina claramente que a mesma oliveira velha permaneceu, mas
alguns dos seus ramos, judeus incrédulos, foram quebrados e ramos novos, gentios crentes,
foram enxertados. Qual é ponto de Paulo aqui? O dispensacionalismo clássico ensina que a igreja
e Israel são distintos, separados, dois povos de Deus diferentes. O ponto de vista bíblico
claramente contraria essa posição. A Bíblia ensina que a igreja não é uma nova oliveira. É a
oliveira velha, mas com ramos novos e crentes. A igreja é Israel, o Novo Israel. Nessa passagem,
Paulo parece desconhecer completamente as “distinções dispensacionais”.
Efésios 2:11-13
“Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados
incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; que naquele
tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da
promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que
antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto” (Efésios 2:11-13).
Há uma questão crucial levantada pelo versículo 13: Ao que é que os gentios se
achegaram? A resposta a essa pergunta óbvia é igualmente óbvia. Duas considerações colocam a
resposta para além de qualquer dúvida.
Em primeiro lugar, eles se achegaram claramente às coisas da quais o versículo 12 diz que
anteriormente eles estiveram excluídos. Quais são essas coisas? Dentre outras coisas, é “a
comunidade de Israel”.
Em segundo lugar, a transição de ser excluído para ser incluído é repetida na conclusão de
Paulo para essa passagem no versículo 19. Observe o “assim que” no início do versículo 19.
“Assim que já não sois estrangeiros” (Efésios 2:19). É dito agora que os gentios crentes são
“concidadãos dos santos” (Efésios 2:19). Claramente os “santos” mencionados são os santos
judeus. Ainda mais significativo é o fato de a palavra traduzida por “concidadãos” ser derivada
da mesma raiz da palavra traduzida por “comunidade” no versículo 12. O ensino de Paulo é
muito claro: Os gentios crentes são agora, pela obra de Cristo, cidadãos plenos da nação de
Israel.
Conclusão
A Nova Aliança pode ser cumprida na igreja porque é ela o Novo Israel de Deus. E, deve
ser enfatizado, isso não é algo espiritualizante. O cabeça da igreja, a raiz da igreja, o fundamento
apostólico da igreja e até mesmo todos os membros originais da igreja eram judeus.
Certa vez, um pregador afirmou no rádio que um determinado capítulo do livro de Atos era
“judeu”. Há, contudo, muito mais capítulos “judeus” no livro de Atos do que somente um. Com
efeito, todo o Novo Testamento é “judeu”, porque a própria igreja é, no que diz respeito à sua
origem, “judaica”.
Implicações Práticas
Estabelecemos a validade da nossa premissa de que a Nova Aliança é cumprida na igreja e
que é a constituição dela. No processo, o sistema do dispensacionalismo clássico de interpretação
bíblica foi pesado na balança e achado em falta. Como vocês podem lembrar, citamos um porta-
voz e representante desse sistema, que disse: “Alguém que não distingue Israel e a igreja
inevitavelmente não manterá as distinções dispensacionais... Se a igreja está cumprindo as
promessas feitas a Israel, tal como contidas na Nova Aliança ou em qualquer parte das
Escrituras, então o pré-milenarismo é refutado”.
Mas a própria Bíblia se recusa a manter Israel e a igreja distintos como o fazem todas as
formas de dispensacionalismo. Já vimos a posição do dispensacionalismo clássico sobre essa
questão. Agora ouçam o que Robert L. Saucy apresenta como sendo a visão do
dispensacionalismo progressivo:
O ensino bíblico sobre os papéis de Israel e da igreja na história revela que embora
tenham muito em comum, continuam a ser distintamente diferentes. O Israel crente e
os membros da igreja são um só quanto à sua participação na salvação escatológica da
Nova Aliança. Devido à relação com Deus que isso implica, eles são igual e
juntamente, “o povo de Deus”. ...Em ambos os Testamentos, a identidade de “Israel” é
sempre o povo histórico descendente de Abraão através de Jacó, e que se tornou uma
nação. Israel foi chamado a testemunhar a salvação de Deus para as outras nações
como uma nação entre nações. A igreja, pelo contrário, é identificada no Novo
Testamento como um povo chamado de entre todas as nações. Em distinção a Israel
quanto ao seu ser e testemunho enquanto “nação”, a igreja é chamada a proclamar a
salvação do reino como indivíduos e como uma comunidade que vive no meio das
nações, contudo não na totalidade de uma “nação”.[11]
Porém, Jesus disse aos fariseus: “Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado,
e será dado a uma nação que dê os seus frutos” (Mateus 21:43). Pedro chama os cristãos a que se
dirigiu de “nação santa” (1 Pedro 2:9). A partir da perspectiva da Bíblia, portanto, a igreja é a
nação escatológica de Israel, reconstituída de acordo com os termos da Nova Aliança. Assim, a
própria Bíblia exige que rejeitemos todas as formas de dispensacionalismo quanto a esse ponto.
Vemos afirmações do dispensacionalismo como erros grosseiros. Não falamos isso com a
intenção de ofender. Não estamos negando que muitoscristãos sinceros e piedosos sustentaram e
continuam a sustentar esse sistema. Não estamos dizendo que esses cristãos não tenham ensinado
muitas verdades bíblicas importantes. Estamos simplesmente afirmando que o sistema
dispensacionalista com os seus pontos de vista peculiares sobre a igreja e Israel e sobre as
profecias está errado.
Será que existe alguém que nunca tenha sequer ouvido falar sobre o dispensacionalismo,
ou para quem isso é irrelevante. O que tudo isso tem a nos ensinar? Você poderá ser
profundamente influenciado por um erro sem se aperceber ou até mesmo sem saber o seu nome.
Há uma advertência que é apropriada para ser feita agora contra um erro que a nossa discussão
expôs e que, de modo algum, se restringe aos dispensacionalistas: Cuidado para não minimizar a
importância da igreja de Jesus Cristo.
Muitas coisas no dispensacionalismo conspiram para minimizar ou depreciar a importância
da igreja no plano de Deus. O simples fato de a igreja ser, segundo o dispensacionalismo antigo,
um dos dois povos distintos de Deus deprecia a sua importância. O fato de os acontecimentos
proféticos realmente emocionantes terem a ver com Israel aprofunda o problema. De acordo com
o dispensacionalismo, as grandes profecias do Antigo Testamento não são para a igreja, mas para
Israel.[12] Nós, que vivemos no tempo da igreja, vivemos em um grande parêntesis da história,
quando o relógio profético deixou de funcionar. A dispensação da igreja está condenada, como
todas as outras, a terminar em um fracasso desprezível. A igreja visível é corrupta, apóstata, e
está condenada a piorar, e seguramente a falhar. A conclusão de um mestre do
dispensacionalismo clássico certamente está correta, se um ensino como esse for verdadeiro. Ele
disse: “Não adianta polir um navio que está afundando”! Não admira que muitos cristãos
professos considerem a igreja e os membros da igreja local como uma parte opcional ou
secundária das suas vidas cristãs. Afinal, não é suficiente ser membro da igreja espiritual e
invisível?
Temos de nos opor a todas essas atitudes laçando mão do ensino da Bíblia. A igreja é o
Novo Israel. Ela é o cumprimento da profecia do Antigo Testamento. Deus não tem outra era,
nem qualquer outro plano e nenhuma outra organização através da qual o seu reino deva ser
povoado com as nações da terra. A igreja, diz Paulo, é aquele povo “para quem já são chegados
os fins dos séculos” (1 Coríntios 10:11). A igreja é a fruição do “eterno propósito que fez em
Cristo Jesus nosso Senhor” (Efésios 3:11). Portanto, Paulo exclama: “A esse glória na igreja, por
Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre. Amém” (Efésios 3:21).
Portanto, seja solenemente admoestado a não minimizar a importância da igreja. Estas são
algumas formas de menosprezar a igreja:
(1) Por pensar nela como uma mera instituição humana. A igreja possui uma origem divina
e é divinamente regulada pela Nova Aliança. Cristo não estabeleceu nenhuma outra instituição
para levar a cabo a sua obra no mundo. Não há outras manifestações visíveis dessa instituição no
mundo que possuam fundamento bíblico, além das igrejas locais.
(2) Por negligenciar pecaminosamente a membresia nela. Jesus fundou a igreja para ser o
seu Novo Israel. Ele espera que o seu povo busque ser um cidadão formal dele. Será que a
atitude costumeira de alguns sobre a membresia da igreja não está enraizada numa depreciação
da igreja de Cristo?
(3) Por nutrir ressentimento contra a autoridade dela. Tal ressentimento contra a
responsabilidade bíblica perante uma igreja local e dos representantes oficiais dela é uma forma
de transgredir a lei de Deus, se, de fato, a igreja estiver no centro do plano de Deus para todos os
tempos.
(4) Por deixar que as esperanças com relação à igreja fiquem estagnadas. É a igreja que
deve evangelizar os perdidos. É a igreja que deve plantar outras igrejas. É a igreja que deve se
engajar em missões estrangeiras. É a igreja que deve anunciar a Palavra através da literatura, de
publicações e de livrarias. É a igreja que deve preparar os homens para o ministério do
evangelho. Há grandes coisas a serem feitas, e é a igreja que deve fazê-las.
(5) Pela falta pessimista de oração pela prosperidade dela. A igreja é a manifestação
divinamente designada do povo de Deus, a herança de Deus, o Israel de Deus. Ela é a menina
dos olhos de Deus. É o foco da obra do nosso Senhor após ascender aos céus. Recordem as
palavras de Cristo: Eu “edificarei a minha igreja” (Mateus 16:18). As igrejas devem orar,
trabalhar e esperar como o triunfante Israel de Deus.
2
A NOVA ALIANÇA COMO
CONSTITUIÇÃO DA IGREJA
E O ANTINOMIANISMO
Neste capítulo, vamos analisar a constituição da igreja sob a Nova Aliança e o antinomianismo.
A palavra antinomianismo significa simplesmente contrário à lei. Existem vários tipos de
antinomianos, mas de uma forma ou de outra, todos os antinomianos negam que os Dez
Mandamentos como uma unidade são uma regra de vida para o cristão. Historicamente falando,
os antinomianos têm sido rotulados de formas diferentes, a depender do tipo de antinomianismo
a que aderem. Os antinomianos práticos não apenas ensinam contra a validade da lei para a vida
cristã, como também, muitas vezes, advogam uma vida sem lei. Antinomianos doutrinários ou
moderados, contudo, não defendem uma vida sem lei, mas negam o terceiro uso da lei (ou seja,
os Dez Mandamentos como regra para a vida cristã) ou, na melhor das hipóteses, defendem-no,
mas redefinem o significado da lei.[13] O movimento dentro dos círculos batistas calvinistas que
foi chamado de teologia da nova aliança (TNA), por exemplo, enquadra-se na categoria de
antinomianismo doutrinário ou moderado.[14] A TNA nega a perpetuidade do Decálogo como
uma unidade sob a Nova Aliança e a sua função como o epítome da lei moral ao longo da
história da redenção. A TNA enquanto movimento, contudo, abomina o antinomianismo prático,
e com razão. Os Dez Mandamentos funcionam como o epítome da lei moral na Bíblia, como
veremos. Atualmente, muitos negam esse fato crucial. Portanto, muitos cristãos em nossos dias
são, de certa forma, antinomianos.
Este capítulo se concentrará em uma exposição e aplicação de Jeremias 31:33. As palavras,
“porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração”, serão o foco da nossa atenção.
Aprenderemos o lugar dos Dez Mandamentos e, portanto, da lei moral sob a Nova Aliança.
Exporemos também o erro do antinomianismo em suas várias formas. Além disso, os termos da
constituição da igreja, a Nova Aliança, são suficientes tanto para nos confirmar na verdade como
para nos expor o erro. Faremos e responderemos três perguntas: Sobre que lei o versículo 33
fala; o que significa escrever essa lei no coração? Qual é a razão pela qual a lei é escrita no
coração?
Sobre que lei o versículo 33 fala?[15]
A pista para responder essa pergunta se encontra no contraste e paralelo entre a Antiga e a
Nova Aliança afirmado nesses versículos (cf. vv. 32-33a: “Não conforme a aliança que fiz com
seus pais... Mas esta é a aliança que farei...”). Esses versículos claramente apresentam um
contraste entre a Antiga e a Nova Aliança. Mas esse mesmo contraste pressupõe e implica um
paralelo. Permitam que eu afirme esse contraste de modo claro: a Antiga Aliança foi quebrada
porque Deus escreveu a sua lei na pedra e não em todos os corações do seu povo. A Nova
Aliança não será quebrada porque Deus escreverá a sua lei nos corações de todo o seu povo
pactual.
O contraste claro aqui é o lugar onde a lei é escrita. Na Antiga Aliança, o lugar era sobre as
tábuas de pedra. Na Nova Aliança, a lei é escrita nas tábuas de carne do coração. Entretanto, esse
contraste também traz consigo um paralelo: Em ambas as alianças, Deus escreve a sua lei. O
contraste assume e implica claramente o paralelismo. O contraste consiste em que a lei é escrita,
contudo, pressupõe que a lei em discussão ainda tem um lugar e função vital a desempenhar na
Nova Aliança de Deus.
À luz desse paralelo claro, podemos voltar à nossa perguntacom uma compreensão melhor
da sua resposta. O versículo 33 fala sobre que lei? Duas coisas identificam claramente essa lei.
Em primeiro lugar, ela é a lei escrita pelo próprio Deus e por seu próprio dedo. Isso fica
evidente a partir do versículo 33: “Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu
coração...”. Mas a única lei que foi escrita dessa maneira foi a lei moral de Deus, como resumida
nos Dez Mandamentos. São os Dez Mandamentos, e somente aqueles Dez Mandamentos, que
foram escritos pelo próprio Deus e com seu próprio dedo.
“Então disse o Senhor a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tábuas
de pedra e a lei, e os mandamentos que tenho escrito, para os ensinar” (Êxodo 24:12).
“E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas do
testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus” (Êxodo 31:18).
“E aquelas tábuas eram obra de Deus; também a escritura era a mesma escritura de
Deus, esculpida nas tábuas” (Êxodo 32:16).
“Então disse o SENHOR a Moisés: Lavra duas tábuas de pedra, como as primeiras; e
eu escreverei nas tábuas as mesmas palavras que estavam nas primeiras tábuas, que tu
quebraste” (Êxodo 34:1).
“Naquele mesmo tempo me disse o SENHOR: Alisa duas tábuas de pedra, como as
primeiras, e sobe a mim ao monte, e faze-te uma arca de madeira; e naquelas tábuas
escreverei as palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste, e as porás na
arca” (Deuteronômio 10:1-2).
“Então escreveu nas tábuas, conforme à primeira escritura, os dez mandamentos, que o
Senhor vos falara no dia da assembleia, no monte, do meio do fogo; e o Senhor mas
deu a mim” (Deuteronômio 10:4).
Outros aspectos da lei da Antiga Aliança, tanto o aspecto judicial quanto o cerimonial,
foram escritos, não pelo próprio Deus, mas por Moisés: “Moisés escreveu todas as palavras do
Senhor” (Êxodo 24:4; cf. 34:10-27).
Em segundo lugar, é a lei que foi escrita em pedra que é reescrita na Nova Aliança no
coração de todos os participantes pactuais.[16] A ênfase no lugar onde a lei de Deus é escrita em
Jeremias 31:33 evidentemente sugere esse pensamento. Isso é confirmado pelas referências que o
apóstolo Paulo faz a esse versículo em 2 Coríntios 3:1-8. Ali Paulo usa as próprias palavras para
falar das tábuas de pedra na Septuaginta (a tradução grega das Escrituras hebraicas [LXX]) de
Êxodo 31:18 e 34:4. A lei judicial de Israel não foi escrita em pedra, mas em um livro (Êxodo
24:3, 4, 7; contraste esses versículos com o v. 12). A lei cerimonial de Israel não foi escrita no
coração. Apenas a lei moral, como resumidamente contida nos Dez Mandamentos, é que foi
escrita em pedra.
Conclusão
A lei de que se fala em Jeremias 31:33 é óbvia e claramente a lei moral tal como resumida
nos Dez Mandamentos, e não a lei judicial, nem a lei cerimonial. Mas a lei moral que foi escrita
em pedra. Portanto, é a mesma lei que está escrita nos corações de todos os crentes da Nova
Aliança. É exatamente essa lei que foi escrita pelo próprio dedo de Deus sobre as tábuas de
pedra. Assim, essa é a única lei que deve ser escrita nos corações dos crentes sob a Nova
Aliança. Outro pensamento que confirma ainda mais a identidade dessa lei é encontrado em
Romanos 2:14-15. Ali, há uma alusão a Êxodo 20 e Jeremias 31 na frase, “a obra da lei escrita
em seus corações” (v. 15). De acordo com essa passagem, a lei que no princípio, pela criação, foi
escrita no coração e na consciência de Adão é substancialmente a mesma lei escrita na pedra na
Antiga Aliança e reescrita no coração na Nova Aliança.[17] Onde essa lei não é pervertida e
suprimida, ela ainda se expressa na consciência de cada filho de Adão.
Antes de avançarmos, há uma questão que não podemos deixar de abordar. A chave para
compreender a afirmação de Jeremias 31:33 e, de fato, uma das chaves para compreender toda a
doutrina bíblica da lei de Deus é a distinção afirmada na Confissão de Fé Batista de 1689
(CFB1689). Essa distinção se encontra em linguagem quase idêntica tanto na versão
presbiteriana (Confissão de Fé de Westminster) como na versão batista dessa Confissão. Os
parágrafos 2–5 do capítulo 19 afirmam essa distinção importante da seguinte forma:
2. A mesma lei que primeiramente foi escrita no coração do homem continuou a ser
uma regra perfeita de justiça após a queda; e foi entregue por Deus no monte Sinai em Dez
Mandamentos e escrita em duas tábuas; os quatro primeiros mandamentos contêm o nosso
dever para com Deus, e os outros seis, nosso dever para com o homem.
3. Além dessa lei, comumente chamada de moral, Deus se agradou em dar ao povo
de Israel leis cerimoniais, contendo diversas ordenanças típicas, em parte, de adoração,
prefigurando Cristo, suas graças, ações, sofrimentos e benefícios; e, em parte, mantendo
várias instruções de deveres morais. Todas as leis cerimoniais, sendo impostas apenas até o
tempo da reformação, são por Jesus Cristo, o verdadeiro Messias e único legislador, que foi
dotado com o poder da parte do Pai para esse fim, cumpridas e revogadas.
4. Para eles, ele também deu várias leis civis, que expiraram com a nação daquele
povo, não obrigando a ninguém em virtude daquela instituição, somente sua equidade geral
possui um valor moral.
5. A lei moral obriga para sempre a todos, tanto pessoas justificadas como as demais,
à obediência a ela; e isso não apenas no que concerne à matéria nela contida, mas também
no que diz respeito à autoridade de Deus, o Criador, que a deu. Nem Cristo no evangelho de
forma alguma a ab-roga, mas antes reforça muito essa obrigação.
Muitos nos nossos dias negam essa distinção. Tanto o dispensacionalismo como alguns
teólogos que professam ser reformados querem que pensemos que nenhum israelita poderia ter
visto a diferença entre as leis morais, por um lado, e as leis cerimoniais e judiciais, por outro.
Ora, é verdade que a lei de Moisés não foi escrita em cores diferentes na sua edição original: com
azul para as leis morais, amarelo para as leis cerimoniais, e verde para as leis judiciais. No
entanto, como vimos, Deus usou outras maneiras para deixar claro que havia uma grande
diferença entre a lei moral, tal como resumida nos Dez Mandamentos, e o restante da lei de
Israel. Passagens como as citadas acima, e muitas outras, deixam claro que os israelitas piedosos
foram capazes de distinguir o aspecto moral do aspecto cerimonial na lei de Israel. Uma grande
salvaguarda contra as visões extremistas e desequilibradas acerca da lei de Deus, que abundam
por todos os lados nos nossos dias, é uma compreensão sólida da distinção bíblica e confessional
entre leis morais, judiciais e cerimoniais. É somente quando nós, ao compreendermos a
constituição da igreja de Cristo, percebermos que também devemos ser guiados pelo que era
moral na lei de Moisés, especialmente os Dez Mandamentos, é que teremos um guia completo, e
não mutilado, para a vida e para a igreja cristãs.
O que significa escrever essa lei no coração?
A chave para compreender esse conceito é o significado bíblico do coração. Esse é um
assunto importante e amplo. Dois pontos importantes a respeito da definição bíblica acerca do
que é o coração servirão aos nossos propósitos neste momento.
Em primeiro lugar, o coração é a sede e o centro das nossas convicções e afeições.
Provérbios 4:23 diz: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele
procedem as fontes da vida” (cf. Deuteronômio 6:4-7; Provérbios 27:19; Mateus 15:18-19;
Romanos 5:5, 9:2, 10:9-10).
Em segundo lugar, como tal, o coração é a fonte das nossas palavras e ações (Provérbios
4:21-23; Mateus 15:18-19; Lucas 6:44-45). O coração controla e inevitavelmente é manifestado
pelas nossas palavras e ações.
Conclusão
Então, o que é ter a lei escrita em nossos corações? É ter a lei de Deus implantada em nós
como o poder governante das nossas convicções, afeições, palavras e ações. Isso, portanto, deve
nos convencer da santidade e autoridade da lei de Deus, nos deixar maravilhados pela sua justiça
e bondade dela, e nos controlar pela sua sabedoria einstrução. Isso, e nada menos do que isso, é
ter a lei de Deus escrita em nossos corações.
Tomemos, por exemplo, o pai que está encarregado de montar uma bicicleta. Se ele estiver
verdadeiramente convencido da necessidade que ele possui das palavras, diagramas e imagens do
manual de instruções, o que ele fará? Ele não tentará montar a bicicleta sem o consultar. Ele
estará convicto de que precisa dele. Ficará grato quando encontrar o manual de instruções na
embalagem e pelo modo como as suas instruções o guiarão na montagem da bicicleta. Seguirá
cuidadosamente as suas instruções enquanto se dedica à tarefa de montagem. O mesmo é
verdadeiro com relação ao homem em cujo coração está escrita a lei de Deus: “E dar-vos-ei um
coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra,
e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos
meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” (Ezequiel 36:26-27).[18]
Qual é a razão pela qual a lei é escrita no coração?
Por que essa escrita da lei no coração é o primeiro ato de Deus mencionado no registo da
Nova Aliança? A resposta a essa pergunta está contida no próprio versículo 33: “Mas esta é a
aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no
seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”
(Jeremias 31:33).
Observe, em primeiro lugar, a frase anterior. Depois de falar da Antiga Aliança quebrada
(v. 32, “invalidaram a minha aliança”), Yahwéh volta a falar sobre a Nova Aliança. Ele diz:
“Mas esta é a aliança... escreverei...”. Não há aliança com Deus onde a sua lei não esteja escrita
no coração. A aliança é, antes de mais nada, a escrita da lei no coração. Não há participação na
Nova Aliança sem a escrita da lei no coração. Não há conhecimento de Deus, não há perdão dos
pecados, onde não há a lei escrita no coração (v. 34).
Veja também, em segundo lugar, a seguinte frase: “e eu serei o seu Deus” (v. 33). Preste
muita atenção à conjunção, “e”. A promessa, “eu serei o seu Deus”, é a promessa essencial de
todos os desenvolvimentos pactuais de Deus na Bíblia. É a promessa feita a Abraão (Gênesis
17:8). É a promessa que dará frutos de bem-aventurança no estado eterno. Ao filho de Deus, é
dito: “Eu serei o seu Deus” (Apocalipse 21:7). O ponto crucial é que a lei de Deus deve ser
escrita no coração para que essa promessa fundamental e compreensiva seja nossa. Sem que a lei
divina seja escrita em nosso coração, Deus não é o nosso Deus, e nós não somos o povo dele.
Implicações práticas
A primeira e principal implicação prática a ser extraída de tudo o que foi dito é esta:
Aprendemos a ilusão e o perigo de divorciar a lei da graça. A lei e a graça devem ser
distinguidas, mas nunca devem ser divorciadas.
A história mostra que muitas pessoas têm sido culpadas de divorciar a lei e a graça e de as
colocar em desacordo uma com a outra. Mas no último século e meio na Grã-Bretanha e na
América a maior culpa por esse problema deve ser atribuída ao dispensacionalismo clássico.
Essa é uma implicação lógica e muito necessária para esse sistema. Como notamos no capítulo 1,
esse sistema divide Israel e a igreja, bem como divide o Antigo e o Novo Testamento. Assim,
não é surpresa que muitos dispensacionalistas clássicos divorciem a lei e a graça.
Essa é uma acusação séria. Deixem-me fundamentar isso: Mateus 6:12 contém a seguinte
petição do Pai Nosso: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos
devedores”. Aqui está o comentário da antiga Bíblia de Estudo Scofield sobre essa passagem:
“Isso possui um fundamento legal (Cf. Efésios 4:32, que é graça). Sob a lei, o perdão está
condicionado a um espírito semelhante em nós; sob a graça, somos perdoados por amor de
Cristo, e exortados a perdoar porque fomos perdoados”.[19] Tal divórcio entre a lei e a graça é um
ataque frontal à própria constituição da igreja de Cristo. Como vimos, os próprios termos da
Nova Aliança exigem a implantação da lei divina em nossos corações. A primeira e crucial
operação de graça mencionada no relato da Nova Aliança em Jeremias 31 é a escrita da lei de
Deus no nosso coração. Sem isso, não há e não pode haver graça. Em 1 Coríntios 7:19, Paulo
fala dessa mesma verdade: “A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a
observância dos mandamentos de Deus”.
O divórcio entre a lei e a graça é um ataque frontal aos próprios termos da Nova Aliança. À
luz disso, várias advertências práticas são apropriadas para nossa consideração.
Cuidado para não divorciar a graça e a lei no que diz respeito à conversão.
A graça é pervertida quando é colocada em oposição ou conflito com os mandamentos de
Deus. A fé tanto repousa em Cristo quando opera pelo amor. Embora a fé não justifique através
da obediência à lei de Deus, ela é um tipo de obediência e conduz à obediência (Romanos 1:5;
Gálatas 5:6). Quando se ensina que os homens podem ser salvos sem confessarem seus pecados e
sem se submeterem a Jesus Cristo como Senhor, isso consiste em um divórcio perigoso entre a
lei e a graça no que diz respeito à conversão. Infelizmente, esse ensino é comum entre muitos
evangélicos. Comentando sobre a conversa de Jesus com a mulher no poço de Jacó, um desses
evangélicos disse:
Deve ser enfatizado que não há aqui nenhum apelo à rendição, submissão,
reconhecimento do senhorio de Cristo ou qualquer outra coisa desse tipo. Um presente
está sendo oferecido a uma pessoa totalmente indigna do favor de Deus. E para obtê-lo,
não é exigido que a mulher faça qualquer compromisso espiritual. Ela simplesmente é
convidada a pedir.[20]
Diante da disseminação ampla de tal ensino, não é de admirar que ouçamos repetidamente
testemunhos como este em reuniões evangélicas: “Eu recebi Jesus como meu Salvador primeiro,
e depois, vários anos mais tarde, o recebi como meu Senhor”. Aqueles que pensam dessa forma
divorciaram a graça e a fé de qualquer coisa que tenha a ver com uma submissão prática às leis
de Cristo, o Senhor. Eles chegaram até mesmo a afirmar que insistir nessa submissão para a
salvação é legalismo e até heresia. Tal ensino consiste em uma distorção das Escrituras e
transformar a graça de Deus em licença para o pecado. Trata-se claramente de antinomianismo.
Cuidado para não divorciar a graça e a lei no que diz respeito aos regulamentos da
sua vida.
Isso acontece quando os homens se recusam a reger as suas vidas por qualquer coisa
contida na lei do Antigo Testamento. Essa recusa, muitas vezes, é justificada por uma
compreensão errada da afirmação de Paulo de que não estamos debaixo da lei, mas debaixo da
graça (Romanos 6:14). Tal divórcio entre a lei a graça manifesta a ignorância de duas distinções
vitais e básicas do evangelho. Em primeiro lugar, não estamos debaixo da lei como um meio de
justificação, mas como regra de vida (Romanos 10:4). Em segundo lugar, não estamos debaixo
da lei cerimonial e judicial como regra de vida, mas apenas sob a lei moral (Jeremias 31:33;
Romanos 13:8-10; Efésios 6:1-4; Tiago 2:8-11).
O fato trágico sobre a negligência da lei moral como revelada no Antigo Testamento e nos
Evangelhos é que a maior parte dos ensinamentos bíblicos sobre a conduta correta se encontra
nessas partes da Bíblia. Não é de admirar que as vidas de tantos cristãos manifestem tanta
loucura, pecado e miséria quando vemos que os mestres modernos mutilaram tanto o manual de
instruções de Deus para a vida cristã.
Cuidado para não divorciar a graça e a lei no que diz respeito a motivação da vida
cristã.
As pessoas dizem frequentemente: “Quero ser motivado pela graça e não pela lei”. Isso
revela que pensam no dever e na observância dos mandamentos como coisas carnais e legalistas.
Eles acreditam que a única razão digna para se fazer a vontade de Deus é por que querem ou
sentem vontade de fazê-la. Eles querem ser motivados pelo amor, e não pela lei.
Há tanto erro em tal pensamento que é difícil saber por onde começar.Mas certamente uma
coisa que está errada com tal pensamento é que ele divorcia a lei e a graça, o dever e o amor, e o
dever e o desejo. Essas coisas são amigas, não inimigas. Embora a lei de Deus esteja escrita nos
nossos corações, continua a ser a lei, a torá (ou seja, a instrução autorizada). As palavras da
sabedoria de Deus almejam produzir este efeito: “O sábio de coração aceita os mandamentos”.
“O que guardar o mandamento guardará a sua alma” (Provérbios 10:8, 19:16).
Alguns pensam que é algo ímpio, carnal e legalista obedecer a Deus somente porque ele diz
para fazermos e que isso é nosso dever. O oposto é a verdade. Romanos 8:7 diz que é a
mentalidade carnal que não se submete à lei de Deus. O fato é que aquele que obedece apenas
porque quer, pode não estar obedecendo verdadeiramente a Deus, mas sim aos seus próprios
desejos. Da próxima vez que Satanás vier e lhe disser: “Você só está fazendo isso porque é seu
dever”, diga a ele: “É isso mesmo! E eu amo a Deus e ao meu próximo o suficiente para fazer o
que sei que devia, embora, por vezes, não esteja desejoso de fazê-lo”.
Cuidado para não divorciar a graça e a lei ao lidar com a realidade do pecado.
Essa mentalidade pode ser representada pelo seguinte pensamento: “Eu não quero viver de
acordo com a lei, mas de acordo com a graça. Por isso, quando a lei revelar o meu pecado,
pensarei apenas na graça de Deus e a ignorarei. Dar espaço à convicção de pecado é algo
legalista”. Mesmo que não falemos ou pensemos nisso, é assim que, por vezes, reagimos à
operação da lei. Mas isso é errado. O coração no qual a lei de Deus é escrita deve estremecer
diante de sua transgressão e não descansar até que seu pecado seja confessado. Desse modo, a
experiência da confissão contínua do pecado exigida em 1 João 1:9 torna-se a experiência de
cada crente. Se essa não é a sua experiência, então você tem razões para questionar se a lei de
Deus alguma vez foi escrita no seu coração.
Uma segunda implicação prática a ser extraída de tudo o que foi dito vem até nós sob a
forma de outra advertência. Cuidado para não exaltar a lei acima da graça. A lei e a graça, como
foi dito anteriormente, devem ser distinguidas, mas a lei nunca deve ser colocada acima da graça.
Elas devem permanecer juntas. Elas se complementam mutuamente na vida cristã. A lei dirige,
mas a graça capacita e impulsiona a alma a guardar a lei. Existem algumas tendências que,
frequentemente, acompanham aqueles que exaltam a lei à custa da graça, as quais devemos
observar e evitar.
Evite contentar-se com uma obediência que não envolva o coração.
Uma tendência prejudicial entre alguns cristãos reformados é a de se contentarem apenas
com a conformidade externa. Essa distorção da santificação bíblica normalmente se acomoda
com uma forma fria, que não envolve o coração ao viver a vida cristã. O exterior é promovido à
custa do estado interno da alma. Evite a todo custa contentar-se com uma obediência que não
envolva o coração. Isso não adorna o evangelho. Passa uma mensagem errada aos perdidos. Não
agrada a Deus. Geralmente isso procede de uma situação em que o conhecimento não é
devidamente assimilado na alma e nem implementado na vida. E também acontece quando a
alma perde o senso de sua necessidade constante da graça de Jesus Cristo para a vida diária. Não
é somente as almas perdidas que precisam de Jesus, as almas salvas também precisam! Lembre-
se das palavras de Paulo em 2 Coríntios 3:18. “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo
como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma
imagem, como pelo Espírito do Senhor”. Mantenha Cristo no centro da sua vida diária e a alma
não cairá em uma obediência que não envolve o coração.
Evite impor a si mesmo ou aos outros algo que vá além do que a lei de Deus impõe.
Essa é outra tendência prejudicial naqueles que têm exaltado a lei acima da graça.
Devemos defender e aprovar toda a lei que Deus proveu para seus filhos. Não devemos, contudo,
cair na armadilha de impor aos outros ou a nós próprios algo que vá além da lei que Deus nos
deu. Essa tendência, muitas vezes proveniente de boas intenções, na verdade, produz mal em vez
de bem. Ela obriga as consciências quando Deus não o faz. Frequentemente produz orgulho e um
espírito complacente para com os outros, produz pseudoculpa. Geralmente aqueles que caem
nessa forma de pensar confundem a lei de Deus com coisas indiferentes. Por vezes, isso é feito
devido às pressões de normas e expectativas culturais, preferências pessoais, argumentações
escusas ou longas cadeias de inferências lógicas de textos que não falam da questão que está
sendo aplicada. Seja como for, isso é uma receita para o desastre, não honra a Deus e nos deixa
orgulhosos — e Deus resiste aos orgulhosos.
Evite confundir lei e evangelho.
Aqueles que caem na armadilha de exaltar a lei sobre a graça via de regra também caem em
um erro muito grave: confundir a lei e o evangelho. Isso acontece quando o cristão começa a
viver como se a sua obediência à lei de Deus fosse o fundamento da sua aceitação diante de
Deus. Com efeito, isso transforma a lei noutro evangelho e é uma rejeição prática da obra de
Cristo. Isso desonra Cristo, é uma negação prática da justificação apenas pela fé nele, paralisa a
alma e destrói a segurança. Em nosso zelo por defender a lei de Deus, nunca devemos permitir
que a obediência a ela se torne a base para nossa aceitação inicial ou posterior diante de Deus. O
Senhor nos aceita no seu Filho amado com base no que ele fez por nós e não no que nós fazemos
por ele.
Se a lei de Deus tiver sido escrita no nosso coração, seremos humildes. Andaremos de uma
forma que equilibre devidamente a lei e a graça. E quando não o fizermos, buscaremos ao Deus
da lei e ao Deus de toda a graça para obter perdão e ajuda no tempo de nossa necessidade.
3
A NOVA ALIANÇA COMO
CONSTITUIÇÃO DA IGREJA
E O ARMINIANISMO
Comparamos as alianças divinas com as constituições das nações. No entanto, pelo menos em
um aspecto, elas são muito diferentes. No que diz respeito às constituições humanas, a nação já
existe e, por sua iniciativa, cria sua própria constituição. Por exemplo, 1987 foi o 200º
aniversário de como as Treze Colônias originais criaram a Constituição dos Estados Unidos da
América. Mesmo com relação a uma constituição humana, há um sentido em que as Treze
Colônias criaram uma nova nação através da sua ação.
Já com relação à Nova Aliança, o fato é que ela cria a nação que regula. É evidente pelos
próprios termos dessa aliança, tais como afirmados em Jeremias 31:31-34, que é Deus que, ao
fazer essa aliança, traz à existência o Novo Israel de Deus.
O ponto abordado ao falar da origem, edificação ou fonte da igreja é que Deus é, através do
instrumento da Nova Aliança, o único e soberano edificador, originador e autor da Igreja como
um todo, e dos seus membros individuais. Isso se torna claro através de três assuntos claramente
ensinados na Bíblia e sugeridos na passagem em consideração (Jeremias 31:31-34). Esses três
pontos constituirão o esboço para este capítulo. São eles: A determinação soberana por detrás da
Nova Aliança; o caráter inquebrável da Nova Aliança; e a garantia mediadora da Nova Aliança.
A Determinação Soberana por detrás da Nova Aliança
A simples leitura dos versículos 31-34 de Jeremias 31 causa uma tremenda impressão na
determinação soberana de Yahwéh em fazer a Nova Aliança. Mas esse elemento do propósito
soberano e da determinação inalterável será ainda mais apreciado se chegarmos a ele por meio do
próprio contraste sugerido na nossa passagem, o contraste entre a Antiga e a Nova Aliança. Em
Êxodo 19:4-6, os termos da Antiga Aliança são afirmados:
Vós tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos
trouxe a mim; agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha
aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra
é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas sãoas palavras que
falarás aos filhos de Israel (Êxodo 19:4-6).
Com essas palavras ressoando em nossas mentes, observemos o contraste em Jeremias 31.
Em impressionante contraste com Êxodo 19:4-6, não há “se” ou “talvez” nesses quatro
versículos. Em vez disso, Yahwéh por dez vezes diz: “Eu farei” ou “eles serão”.
Esses versículos ressoam com o tom da certeza divina e determinação soberana. Esse tom
só é reforçado pelos versículos que se seguem imediatamente.
Assim diz o Senhor,
que dá o sol para luz do dia,
e as ordenanças da lua e das estrelas para luz da noite,
que agita o mar, bramando as suas ondas;
o Senhor dos Exércitos é o seu nome.
Se falharem estas ordenanças de diante de mim,
diz o Senhor,
deixará também a descendência de Israel de ser uma nação diante de mim para
sempre.
Assim disse o Senhor:
Se puderem ser medidos os céus lá em cima,
e sondados os fundamentos da terra cá em baixo,
também eu rejeitarei toda a descendência de Israel,
por tudo quanto fizeram, diz o Senhor (Jeremias 31:35-37).
Yahwéh fez essa aliança segundo uma determinação soberana apoiada em todos os
recursos onipotentes e infinitos do seu próprio ser. Ele está absoluta e incondicionalmente
determinado que isso resulte na salvação do seu povo. Isso ainda é reforçado por Jeremias 32:40-
41. Voltaremos novamente a essa passagem porque ela complementa as previsões de Jeremias 31
no que diz respeito à Nova Aliança. Mas agora, observem como esses versículos concluem essas
previsões adicionais no que se refere à Nova Aliança. Diz Yahwéh:
E farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o
meu temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim. E alegrar-me-ei deles,
fazendo-lhes bem; e plantá-los-ei nesta terra firmemente, com todo o meu coração e com
toda a minha alma (Jeremias 32:40-41).[21]
O caráter inquebrável da Nova Aliança
Claramente, a Nova Aliança não é como a Antiga Aliança, e o ponto em que a diferença se
manifesta mais claramente é que a Antiga Aliança podia ser e foi quebrada (Deuteronômio
29:25-28; Salmos 78:10-11; Jeremias 11:9-10; 22:6-9; 34:1-14; Ezequiel 44:6-8). Veja os
versículos 31 e 32 de Jeremias 31:
Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e
com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei
pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de
eu os haver desposado, diz o Senhor (Jeremias 31:31-32).
A Antiga Aliança não assegurava que aqueles com quem ela foi feita finalmente obteriam a
bênção que ela prometia. A lei escrita em pedra podia ser e foi quebrada. A Antiga Aliança foi
quebrada primeiramente por ocasião do pecado envolvendo o bezerro de ouro. Ela foi quebrada
pela primeira geração com quem foi feita em Cades Barneia. Toda a primeira geração de Israel
com quem essa aliança foi feita não conseguiu alcançar as suas bênçãos, com a pequena exceção
de Josué e Calebe.
Mas em contraste flagrante com uma lei escrita em pedra, a escrita da lei no coração
assegura a guarda da aliança e o cumprimento certo das bênçãos dela.
Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o
Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu
Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a
seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até
ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me
lembrarei dos seus pecados (Jeremias 31:33-34).
Veja como essa verdade é ecoada repetidamente em passagens paralelas:
E farei com eles uma aliança eterna de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu
temor nos seus corações, para que nunca se apartem de mim (Jeremias 32:40).
Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de uma melhor
aliança que está confirmada em melhores promessas.
Porque, se aquela primeira fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda.
Porque, repreendendo-os, lhes diz:
EIS QUE VIRÃO DIAS, DIZ O SENHOR,
EM QUE COM A CASA DE ISRAEL E COM A CASA DE JUDÁ
ESTABELECEREI UMA NOVA ALIANÇA (Hebreus 8:6-8).
Observe a dica em Hebreus 8:8 de que o problema com a Antiga Aliança foi realmente e
em última análise um problema com as pessoas com quem ela foi feita. A Antiga Aliança não
garantiu a manutenção pactual para aqueles com quem ela foi feita. Isso foi algo repreensível
nela. O que houve de repreensível nela consistiu simplesmente no fato de não ter capacitado
aqueles com quem ela foi feita a cumprirem as condições dela.
O propósito de Yahwéh expresso na Nova Aliança não pode ser frustrado. Isso é uma
determinação soberana. A Nova Aliança não pode ser quebrada. Ela possui um caráter
inquebrável. Entretanto, isso significa que ela é incondicional? Talvez sim, segundo o que
algumas pessoas definem como incondicional. Há um “se” em Êxodo 19, mas nenhum em
Jeremias 31. Mas se descrevermos a Nova Aliança como incondicional, temos de ser muito
cuidadosos. A Nova Aliança não é incondicional, no sentido de que Yahwéh decidiu não insistir
que o seu povo o temesse e amasse a lei dele. Isso claramente é tão necessário sob a Nova
Aliança como o era sob a Antiga Aliança. Talvez seja melhor dizer que a Nova Aliança ainda é
condicional, mas com uma diferença: Nela, Deus determinou de tal forma colocar a sua força
onipotente nos corações do seu povo pactual que eles cumprem as condições da sua aliança e são
o tipo de pessoas que não a quebram. Tudo o que a Nova Aliança exige, ela própria provê.
Mas uma questão ainda permanece: Como Deus pode simplesmente pôr de lado as
exigências da sua própria justiça e fazer uma Nova Aliança como essa com a casa de Israel
depois dos seus pecados terem trazido sobre eles a ira ardente e transbordante de Deus?
Precisamente no tempo de Jeremias, a ira de Deus estava sendo derramada sobre eles. Como as
exigências da santidade e justiça de Deus podem permitir que ele conceda bênçãos como as
prometidas na Nova Aliança? E quanto aos pecados e iniquidades dos homens? E o que dizer de
sua justiça e retidão? Essa é a grande barreira que se interpõe entre os homens e a salvação. Essas
perguntas serão respondidas em nosso terceiro ponto.
A garantia mediadora da Nova Aliança
Jeremias 31:34 promete claramente que Deus esquecerá os pecados do seu povo e perdoará
a sua iniquidade, mas não nos diz como um Deus santo pode fazer isso. Contudo, encontramos
uma dica para resolver esse problema apenas dois capítulos depois adiante:
Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que cumprirei a boa palavra que falei à casa de
Israel e à casa de Judá; naqueles dias e naquele tempo farei brotar a Davi um Renovo de
justiça, e ele fará juízo e justiça na terra. Naqueles dias Judá será salvo e Jerusalém habitará
seguramente; e este é o nome com o qual Deus a chamará: O Senhor é a nossa justiça
(Jeremias 33:14-16).
O livro de Hebreus apresenta o desenvolvimento da resposta revelada em Jeremias.
Demonstra a forma como Jesus Cristo na qualidade de sacerdote e sacrifício da Nova Aliança
assegura o estabelecimento da Nova Aliança e a transmissão das bênçãos dela ao Israel de Deus.
Observe especialmente Hebreus 7:22, que diz, “De tanto melhor aliança Jesus foi feito fiador”.
Na qualidade de sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, Jesus é a garantia ou a fiança de
uma melhor aliança. Esse é o único lugar no Novo Testamento onde a palavra traduzida por
“fiador” ocorre. De acordo com Moulton e Milligan: “Isso é comum em documentos legais e
outros”.[22] Essa palavra significa uma segurança, ou uma caução. Ela também foi usada com o
sentido de pagar uma fiança para que alguém seja liberto da prisão. Em um documento,
encontramos a seguinte afirmação: “O pai assiste ao casamento e é fiador do pagamento do dote
supracitado”. Temos ainda outra declaração desse tipo: “Reterei a sua caução, até que você
pague o que me deve”. O uso dessa palavra

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