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D
Israel Pré-Monárquico
4
1. OBJETIVOS
•	 Reconhecer	as	razões	que	conduziram	o	Israel	ordenado	
em	tribos	à	organização	monárquica.
•	 Apontar	e	interpretar	as	diferenças	entre	o	sistema	tribal	
e	o	sistema	centralizado	da	monarquia.
2. CONTEÚDOS
•	 Israel	pré-estatal	(pré-monárquico).
•	 Passagem	do	sistema	tribalista	ao	estatal.
•	 Crise	nas	origens	da	monarquia.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
© Introdução Geral à Bíblia e História de Israel128
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
1)	 Para	fixar	os	conteúdos	desta	unidade,	recomendamos	a	
releitura	dos	textos	deste	material.	Sugerimos,	também,	
que	você	realize	apontamentos,	com	o	objetivo	de	com-
parar	e	aprofundar	os	pontos	de	destaque,	utilizando-se	
das	fontes	aqui	listadas	e	indicadas	como	indispensáveis	
para	o	estudo	deste	tema.
2)	 Referência	 sugerida	 para	 acompanhar	 o	 estudo	 desta	
unidade:	BRIGHT,	J.	História de Israel. 7.	ed.	São	Paulo:	
Paulus,	2003.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE 
Na	unidade	anterior,	você	estudou	a	configuração	social	das	
tribos	em	linhagens,	famílias	e	clãs,	a	divisão	e	a	hierarquia	social	
das	famílias,	bem	como	os	aspectos	culturais	e	as	trocas	simbólicas	
que	marcaram	a	religião	e	a	cultura	das	tribos	de	Israel	e	o	proces-
so	de	independência.
Nesta	 unidade,	 você	 terá	 a	 oportunidade	 de	 estudar	 um	
pouco	mais	a	respeito	do	quadro	social	e	histórico	que	conduziu	a	
passagem	das	tribos	ao	estado	monárquico.	Além	disso,	compre-
enderá	as	razões	que	conduziram	a	formação	de	um	governo	cen-
tralizado	na	figura	de	um	rei	(ou	de	reis),	que,	em	muitas	ocasiões,	
exerceu	o	poder	de	forma	arbitrária.
É	importante	observar	que	consideraremos	o	movimento	da	
história	e	das	civilizações	do	Antigo	Oriente	Próximo	na	transfor-
mação	política	de	Israel,	que	não	aconteceu	ao	largo	dos	aconte-
cimentos	do	período.	Antes,	deu-se,	também,	como	uma	conse-
quência	das	alianças	e	do	poderio	dos	 filisteus	na	 formação	das	
cidades-estados	Gaza,	Ascalom,	Asdode,	Ecrom	e	Gate.
Nesse	 sentido,	 o	 Israel	 pré-estatal	 surge	 da	 percepção	 de	
que,	sem	um	governo	central,	os	israelitas	poderiam	ser	subjuga-
dos	pelos	povos	mediterrâneos	vizinhos.
129© Israel Pré-Monárquico
5. UM ISRAEL PRÉ-ESTATAL
Tradição das doze tribos: ficção ou história?
Segundo	o	testemunho	da	Bíblia	hebraica,	Israel	teve	início	
com	doze	tribos.	Frequentemente,	Jacó,	pai	de	doze	filhos,	é	iden-
tificado	com	Israel.	Vinculados	às	 tribos,	os	nomes	dos	 filhos	de	
Jacó,	juntamente	com	ele,	foram	chamados	patriarcas.	
Contudo,	 na	 segunda	 unidade	 desta	 disciplina,	 indicamos	
que	não	existem	povos	que	tenham	descendido	de	um	único	ho-
mem.	Portanto,	essa	tradição	de	Israel	poderia	ser	uma	construção	
genealógica	fictícia.	O	que	nos	leva	a	perguntar:	qual	seria	a	fun-
ção	dessa	ficção?
A	tradição	das	doze	tribos	permeia	toda	a	Bíblia,	do	Antigo	
ao	Novo	Testamento.	Nesse	último,	as	doze	tribos	foram	substitu-
ídas	pelos	doze	discípulos,	chamados	de	o	"novo	Israel	espiritual".	
Portanto,	se	esse	sistema	fosse	uma	ficção	sem	propósito,	o	núme-
ro	doze	não	precisaria	ser	preservado	nas	narrativas	de	Gênesis	49	
e	Números	1s;	26.	
Decorre	dessa	compreensão	que	deve	haver	alguma	realida-
de	histórica	por	trás	da	história	das	doze	tribos.	Uma	possibilidade	
de	entender	essa	questão	é	a	compreensão	de	Israel	como	uma	
confederação	 de	 doze	 tribos.	 Assim,	 ele	 estaria	 fundamentado	
numa	pré-história	comum	e	numa	fé	em	Deus	igualmente	comum,	
fundados	na	pessoa	e	na	obra	de	Moisés.
Em	1930,	Martin	Noth	desenvolveu	um	pouco	mais	essa	hi-
pótese,	uma	vez	que	ele	comparou	o	sistema	das	doze	tribos	com	
as	anfictionias	da	Grécia	e	da	 Itália.	Originalmente,	anfictionia	é	
uma	aliança	estabelecida	entre	seis	ou	doze	tribos,	com	vistas	ao	
estabelecimento	de	um	culto	a	certa	divindade.	
A	manutenção	do	 santuário	 ficava	 a	 cargo	das	 tribos,	 que	
se	alternavam	no	cuidado	do	espaço.	As	referências	aos	filhos	de	
Naor	(Gn	22,20-24)	e	de	Ismael	(Gn	25,13-16),	às	doze	tribos	dos	
© Introdução Geral à Bíblia e História de Israel130
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
edomitas	(Gn	36,1-14)	e	aos	seis	filhos	de	Quetura	(Gn	25,2)	po-
dem	ser	parâmetros	de	comparação.	"Israel	compreendia	seus	vi-
zinhos	em	analogia	a	si	mesmo!"	(GUNNEWEG,	2005,	p.	85).	
Se	entendermos	que	havia	certa	organização	entre	as	tribos	
(ainda	não	no	modelo	de	estado	instituído	e	com	governo	centra-
lizado),	podemos	subentender	que	havia	"legislação"	–	escrita	ou	
não.	Decorre	dessa	compreensão	o	período	chamado	"época	dos	
Juízes".	O	livro	dos	Juízes	sistematizou	a	história	das	tribos	entre	
seu	estabelecimento	e	a	fundação	da	monarquia,	graças	à	noção	
de	"juiz":	"shophet".	
Os	filhos	de	Israel	fizeram	o	que	era	mau	aos	olhos	de	Iahweh	
e	serviram	aos	Baals.	Deixaram	Iahweh,	o	Deus	de	seus	pais,	que	
os	tinha	feito	sair	da	terra	do	Egito,	e	serviram	aos	deuses	dos	po-
vos	a	seu	redor.
Então	a	ira	de	Iahweh	se	acendeu	contra	Israel.	Então	Iahweh	susci-
tou	juízes	que	os	livrassem	das	mãos	dos	que	os	pilhavam.	Mas	não	
escutavam	nem	mesmo	aos	seus	juízes,	e	se	prostituíram	a	outros	
deuses,	e	se	prostraram	diante	deles.	Depressa	se	afastaram	do	ca-
minho	que	seus	pais	haviam	seguido,	obedientes	aos	mandamen-
tos	de	Iahweh,	e	não	os	imitaram.	Quando	Iahweh	lhes	suscitava	
juízes,	 Iahweh	estava	com	o	 juiz	e	os	salvava	das	mãos	dos	seus	
inimigos	enquanto	vivia	o	juiz,	porquanto	Iahweh	se	comovia	por	
causa	dos	seus	gemidos	perante	os	seus	perseguidores	e	opresso-
res	(Jz	2,11-12;	14a;	16-18	–	BÍBLIA	DE	JERUSALÉM).
A figura do juiz
O	título	de	juiz	era	atribuído	a	alguns	chefes,	antes	da	mo-
narquia.	Era	uma	instituição	oeste-semítica	que	conferia	poder	de	
decisão	política,	 paralela	 à	 autoridade	monárquica,	mas	 sem	os	
elementos	da	"dinastia"	e	da	"sacralidade	 religiosa".	Essa	noção	
pode	indicar	uma	história	pré-monárquica	da	salvação	da	nação.	
[...]	as	figuras	históricas	que	serviram	a	este	quadro	não	correspon-
dem	a	uma	 instituição	única.	Gedeão	e	 Jefté	são	monarcas,	Aod	
e	Otoniel	eram	chefes,	Barac	foi	um	oficial;	os	juízes	menores	são	
apenas	conhecidos	por	suas	sepulturas,	tal	como	os	welis	do	mun-
do	árabe.	Enfim,	Sansão	não	tem	nenhuma	atividade	propriamente	
política.	É	digno	de	nota	que	o	redator	conseguiu	ligar	mais	ou	me-
131© Israel Pré-Monárquico
nos	cada	juiz	com	uma	tribo	diferente:	Otoniel	com	Judá,	Aod	com	
Benjamim,	 Barac	 com	Neftali,	 Gedeão	 com	Manasses,	 Tola	 com	
Issacar,	Jair	com	Galaad	(Maquir),	Jefté	com	Galaad	(Gad),	Abesã	
com	Aser	(de	fato	Belém	em	Zabulon,	Js	19,15),	Elon	com	Zabulon,	
Abdon,	filho	de	Ilel,	com	Efraim,	e	Sansão	com	Dã.	Faltam	Rúben	e	
Simeão,	que	logo	desapareceram	e	que	eram	bastante	excêntricos	
(CAZELLES,	1997,	p.	109-110).
O	 juiz,	portanto,	era	responsável	pela	administração	do	di-
reito	da	aliança.	Isso	foi	salientado	por	Albrecht	Alt	em	sua	obra	
intitulada	As origens do direito israelita	(Die Ursprünge des israeli-
tischen Rechts),	de	1934.	Alguns	pesquisadores	entendem	que	os	
relatos	de	Josué	24,25,	em	conjunto	com	Levítico	26	e	Deuteronô-
mio	27	e	seguintes,	podem	ser	interpretados	como	memórias	da	
antiga	festa	da	renovação	da	aliança	da	anfictionia.
A	hipótese	da	anfictionia	serve	à	explicação	das	listas	de	doze	
e	à	descrição	de	um	Israel	pré-estatal,	com	um	determinado	modo	
de	vida	mesmo	antes	da	formação	do	Estado.	Considerá-la	à	 luz	
das	anfictionias	de	sociedades	vizinhas	não	é	o	mesmo	que	afir-
mar	dependência	mútua	ou	unilateral,	mas	compreendê-las como	
estruturas	sociais	típicas	daquele	período.	Os	laços	de	parentesco	
"fictícios"	são,	muitas	vezes,	mais	reais	do	que	as	relações	de	pa-
rentesco	consanguíneas.	
Desse	modo,	as	doze	tribos	de	Israel	são	uma	grandeza	simbólica,	
mas	justamente	como	tal	e	por	isso	mesmo	uma	realidade	à	qual	
se	adapta	a	"realidade"	pela	qual	se	medem,	nomeiam,	ordenam	e	
realizam	as	coisas	existentes	[...]	aparentemente,	os	doze	filhos	deIsrael	representam	tal	realidade	real-simbólica	(GUNNEWEG,	2005,	
p.	88).	
Com	frequência,	"medir",	"nomear"	e	"ordenar"	são	termos	
usados	a	fim	de	explicar	como	os	grupos	de	indivíduos,	por	meio	
de	regras	e	códigos	de	comportamento,	escritos	ou	não,	estabele-
cem	sua	forma	de	organização	e	critérios	para	o	comportamento	
social.	Com	base	nessa	perspectiva,	a	anfictionia	ou	a	liga	das	tri-
bos	de	Israel	seria	uma	forma	de	organização	social	e	política	que	
permitia	às	tribos	certa	autonomia	na	condução	de	seus	cotidia-
nos.	
© Introdução Geral à Bíblia e História de Israel132
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Certamente,	essa	forma	de	organização	deve	ter	favorecido	
à	pluralidade	de	tradições	religiosas	entre	as	tribos.	Prova	disso	é	
que,	mesmo	literariamente,	as	tribos	são	descritas	no	texto	bíblico	
conforme	características	próprias	(Gn	49).
Mesmo	diante	do	avanço	dos	filisteus	de	um	lado	e	dos	edo-
mitas,	moabitas,	midianitas	e	amonitas	do	outro,	a	confederação	
das	tribos	demonstrava-se	suscetível	e	instável.
6. DE PRÉ-ESTATAL A SISTEMA MONÁRQUICO
A	pré-monarquia	e	a	posterior	monarquia	com	o	estado	de	
Saul	apresentam	características	comuns,	que	se	desenvolveram	de	
modo	gradativo.	Inicialmente,	essa	formação	de	estado	consistia	
apenas	na	 subordinação	de	algumas	 tribos	 israelitas	 à	 figura	do	
líder	 carismático	 Saul.	 Este,	 no	 entanto,	 diferentemente	 dos	 ca-
rismáticos	antigos,	 começou,	então,	a	 reivindicar,	para	além	das	
distintas	ações	militares,	uma	posição	de	 liderança	que	deve	ser	
chamada	real;	dentre	elas,	a	presença	do	rei.
Ainda	de	modo	rudimentar,	o	reino	possuía	capital,	exército	
e	administração.	Além	disso,	tinha	ideologia,	segundo	a	qual	o	rei	
representava	a	figura	de	"pai	de	seu	povo"	e	era	responsável	pela	
segurança,	pelo	suprimento	e	pela	organização	estatal.
Segundo	 o	 testemunho	 bíblico	 (1Sm	 8,6-20),	 a	monarquia	
foi	implantada	em	Israel	para	imitar	os	povos	vizinhos.	Embora	as	
monarquias	orientais	 (hititas,	 fenícios,	 cananeus	e	 sírios)	não	 se	
pautassem	apenas	por	um	modelo,	Israel	guardou	uma	constante:	
a	monarquia	israelita	foi	mais	semítica	com	Saul	e	mais	faraônica	
com	Salomão,	mas	 ambos	 os	 reinos	 tiveram	 caráter	 sacro	 (2Sm	
14,17	e	20).	
A	administração	real	convocou	o	povo	às	armas	e	organizou	
um	exército	com	funções	e	armamentos	específicos.	Decorreu	da	
criação	do	exército	a	necessidade	de	se	criar	escolas	de	escribas	
nas	 quais	 se	 pudesse	 capacitar	 pessoas	 para	 o	 recenseamento,	
para	as	contas	nas	cidades	e	para	a	administração	na	capital.	
133© Israel Pré-Monárquico
Trocas culturais
A	formação	dos	escribas	era	uma	difícil	arte,	e	os	cursos	ba-
seavam-se	na	experiência	das	 tradições	do	Egito	e	da	Babilônia.	
Além	dessa	marca	egípcia	na	organização	de	Israel,	outros	indícios	
atestam	as	trocas	culturais	e	simbólicas	entre	Israel	e	nações	vizi-
nhas.	Nas	liturgias,	o	rei	era	o	sumo	sacerdote,	eleito	e	investido	
de	poder	por	Deus	para	governar	o	povo.	
Ele	 presidia	 as	 festividades	 religiosas,	 intervinha	 nas	 litur-
gias,	construía	e	mantinha	o	culto.	A	entronização	real	era	cons-
tituída	de	simbologia,	que	se	dividia	em	entronização,	coroação,	
unção	e	aspersão	de	água.	O	rito	mais	importante	era	o	da	unção,	
também	praticado	na	Fenícia,	na	Babilônia	Antiga,	entre	os	hititas	
e,	provavelmente,	na	Assíria	e	no	Egito.
Assim	 como	os	 reis	 semitas	 de	Acad	eram	os	 "ungidos	de	
Anu"	 –	 deus	 egípcio	 supremo,	 o	 rei	 de	 Israel	 era	 o	 "ungido	 de	
Iahweh"	(1Sm	24,11;	26,9;	Sl	2,2).	
De	um	lado,	o	faraó,	quando	entronizado,	recebia	uma	força	
especial	denominada	ka.	Do	outro,	ao	rei	de	Israel,	era	conferido	
o	espírito	vivo	que	pertencia	a	Deus,	chamado	ruah	(Gn	6:3).	Essa	
"realidade	vital"	era	recebida	pelo	governante	no	momento	da	un-
ção	(1Sm	16,13,	cf.	10,6;	11,6).	
Desse	modo,	 podemos	 conjecturar	 que,	 tanto	 no	 período	
das	tribos	quanto	no	período	de	estabelecimento	do	modelo	esta-
tal,	Israel	se	portou	conforme	era	típico	naquele	momento	históri-
co	e	cultural.	Isso	foi	feito	segundo	as	demandas	políticas	da	época	
e	as	necessidades	especiais	das	próprias	comunidades.	
Se,	por	um	lado,	as	tribos	reunidas	em	confederação,	segun-
do	os	relatos	do	livro	dos	Juízes,	apresentam	uma	coligação	sem	
aparato	de	governo	unificado	e	centralizado,	heterogênea	no	que	
se	refere	ao	território	e	sem	eficácia	política,	mas	unida	pela	ado-
ração	ao	Deus	Javé,	por	outro,	a	monarquia	pretendia	dar	conta	de	
novas	expectativas	que	despontavam	no	cenário	do	Oriente	Próxi-
© Introdução Geral à Bíblia e História de Israel134
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
mo	Antigo;	uma	dessas	expectativas	pode	ser	identificada	como	a	
necessidade	de	Israel	passar	de	"povo"	a	"nação",	com	sentimento	
de	pertença	e	símbolos	próprios.	Essa	demanda	resultou	numa	cri-
se	tribal.
7. CRISE TRIBAL E AS ORIGENS ESTATAIS DE ISRAEL
Época da confederação
Na	época	da	confederação,	a	história	bíblica	nada	nos	conta	
de	nenhum	grande	líder,	tal	como	foram	Moisés	e	Josué.	Os	gru-
pos	coligados	formavam	um	mesmo	povo,	constituíam	um	mesmo	
culto	a	um	mesmo	Deus,	mas	não	possuíam	um	líder	comum	que	
os	conjugasse.	
As	figuras	de	liderança	surgiram	e	diziam	respeito	apenas	a	
uma	tribo	ou	clã.	Mesmo	aquelas	figuras	em	que	a	ação	excepcio-
nalmente	se	estendeu	a	um	grupo	de	tribos	não	tiveram	continui-
dade	de	projeto	político,	como	é	o	caso	de	Gideão,	que	recusou	a	
autoridade	permanente,	conforme	o	relato	de	Juízes	8,22-23.
Claramente,	o	sistema	confederativo	opunha-se	ao	sistema	
de	tributos	(impostos)	praticado	nas	cidades-estado.	Mas	manter	
essa	oposição	era	um	desafio	cotidiano,	porque	as	cidades-estado	
frequentemente	buscavam	arruinar	as	tribos,	por	meio	da	vigilân-
cia	das	estradas,	do	comércio	e	pela	manutenção	do	exército	com	
carros	de	guerra.	Por	essa	razão,	o	livro	de	Juízes,	em	seus	capítu-
los	4	e	5,	conta	como	um	grande	feito	a	vitória	de	Débora	e	Barac	
sobre	Sísera,	o	governante	de	uma	cidade-estado	chamada	Hasor.
Mas	as	estratégias	das	cidades-estado	não	eram	os	únicos	
problemas	enfrentados	pela	confederação	das	tribos.	Na	mesma	
época	em	que	os	hebreus	chegaram	do	Egito,	um	povo	que	veio	
pelo	mar,	com	armas	de	ferro	e	carros	de	combate,	se	estabeleceu	
na	costa	de	Canaã;	eram	os	filisteus.	
135© Israel Pré-Monárquico
Dessa	forma,	buscando	estender	seu	domínio	para	o	interior,	
passaram	a	viver	em	conflitos	cada	vez	mais	intensos	com	as	tribos	
de	Israel,	que	eram	um	"alvo	fácil",	já	que	não	possuíam	um	exér-
cito	organizado	que	as	defendesse	ou	mesmo	um	líder	comum	que	
direcionasse	uma	defesa	efetiva.	
Contudo,	essa	também	não	era	a	única	ameaça	externa.	Se,	
do	litoral	para	a	planície,	a	preocupação	era	com	os	filisteus,	pelo	
deserto,	a	preocupação	era	conter	o	avanço	dos	edomitas,	moabi-
tas,	midianitas,	amonitas	etc.,	que	também	vinham	fazendo	incur-
sões	para	conquistar	territórios	das	tribos.
Além	dos	 inúmeros	problemas	externos	 sérios,	 a	 confede-
ração	passava	a	contar	com	questões	internas	bastante	delicadas,	
dentre	as	quais	podemos	citar,	de	imediato,	pelo	menos,	três:
•	 Nem	todas	as	tribos	estavam	interessadas	em	lutar	contra	
os	 invasores.	Aquelas	 cujos	 territórios	não	estavam	sob	
ameaça	se	mantinham	fora	dos	projetos	de	defesa	daque-
las	na	iminência	de	serem	invadidas.	
•	 A	corrupção	da	 justiça	começava	a	ser	 revelada	no	seio	
da	confederação.	Para	esse	ponto,	o	exemplo	dos	filhos	
corruptos	do	sumo	sacerdote	Eli	permanece	um	clássico	
que	pressupõe	a	decadência	do	sacerdócio	dedicado	ao	
cuidado	da	Arca	da	Aliança	(1Sm	2,12-25).	
•	 A	vivência	religiosa	monoteísta	era	o	elo	que	dava	coesão	
aos	clãs,	ou	seja,	a	aceitação	de	Javé	como	único	Deus,	
o	Deus	Libertador,	 conferia	 identidade	e	unidade	às	 tri-
bos.	Contudo,	Javé	era	um	Deus	ligado	à	libertação,	e	não	
tanto	à	preservação	do	ciclo	da	natureza,	do	qual	depen-
diam	 os	 camponeses	 israelitas.	 Já	 os	 deuses	 cananeus	
(especialmente	Baal)	eram	conhecidos	como	aqueles	que	
traziam	a	 fertilidade	à	 terra.Sendo	a	agricultura	a	base	
da	sobrevivência	e	o	ciclo	da	chuva	essencial	à	produção,	
os	 israelitas,	 por	 vezes,	 incorporaram	a	 adoração	 às	 di-
vindades	cananitas	em	sua	própria	religião,	como	modo	
© Introdução Geral à Bíblia e História de Israel136
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
de	garantir	condições	naturais	favoráveis	à	sua	atividade	
campesina.	Nas	palavras	de	Balancin	(1990),	"a	desagre-
gação	religiosa	caminhou	para	a	desagregação	política	e	
ideológica".	
Talvez	essa	afirmação	seja	um	tanto	simplista	e	fosse	melhor	
que	considerássemos	a	mentalidade	pouco	politizada	dos	israeli-
tas	antes	da	questão	religiosa	em	si;	mas	esse	é,	sem	dúvida,	um	
elemento	fundamental	a	ser	considerado	no	bojo	das	razões	que	
levaram	o	sistema	das	tribos	à	convulsão.
Enquanto	 as	 tribos	 sofriam	 suas	 crises	 internas	 e	 se	
uniam	quando	era	conveniente,	os	 filisteus	 formaram	cinco	
cidades-estado	 (Gaza,	 Ascalom,	 Asdode,	 Ecrom	 e	 Gate),	 unidas	
mediante	uma	aliança	política,	atuando	sempre	em	conjunto.	Ape-
nas	pela	descrição	de	Golias	em	1	Samuel	17,5-7,	já	podemos	per-
ceber	que	 seu	exército	era	 formado	por	 guerreiros	profissionais	
e	bem	armados.	Havia,	também,	mercenários,	uma	"força	extra"	
para	muitos	exércitos	daquela	época	e	de	depois.	
Presença dos filisteus e a formação da monarquia israelita
Conforme	alguns	historiadores,	os	israelitas	recusavam-se	a	
fundar	 um	estado	monárquico	 porque,	 para	 eles,	 o	 reinado	 era	
tido	como	algo	pagão,	e	sua	relação	especial	com	Javé	estabelecia	
que	ele	era	o	seu	governante.	
Dessa	forma,	a	edificação	de	um	reinado	nos	moldes	vizinhos	
era	uma	oposição	à	reivindicação	da	soberania	de	Javé	sobre	Israel	
(METZGER,	1978).	Entretanto,	apesar	do	ideal	de	governo	divino,	
o	esforço	dos	filisteus	para	dominar	toda	a	Palestina	foi	o	impulso	
emergencial	gerador	da	união	política	das	tribos	sob	o	governo	de	
um	chefe	de	Estado,	isto	é,	para	o	estabelecimento	da	monarquia	
(que	significa	"governo	de	uma	só	pessoa".	Assim,	essa	pessoa	(o	
monarca,	chefe	de	Estado	ou	rei)	tem	autoridade	para	criar	e	fazer	
cumprir	as	leis,	bem	como	para	julgar	e	decidir	questões	jurídicas).	
137© Israel Pré-Monárquico
No	regime	monárquico,	quando	um	rei	morre,	ele	é	substi-
tuído	no	trono	por	um	de	seus	filhos,	geralmente,	o	mais	velho.	
A	essa	sucessão	se	dá	o	nome	de	dinastia, por	meio	da	qual	uma	
família	pode	se	perpetuar	no	poder.	É	claro	que	existem	algumas	
exceções;	por	exemplo:	o	Vaticano,	já	na	Era	Comum,	foi	uma	mo-
narquia	em	que	o	 chefe	de	Estado	é	eleito,	 e	não	 sucedido	por	
herdeiro	consanguíneo.	
Na	próxima	unidade,	vamos	estudar	mais	detidamente	o	Is-
rael	monárquico.
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	na	sequência,	as	questões	propostas	para	verificar	
seu	desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 Quais	foram	as	razões	que	conduziram	o	Israel	ordenado	em	tribos	à	orga-
nização	monárquica?
2)	 Quais	são	as	diferenças	entre	o	sistema	tribal	e	o	sistema	centralizado	da	
monarquia?
9. CONSIDERAÇÕES 
O	Israel	pré-monárquico	surgiu	de	uma	demanda	política	e	
social	específica,	ou	seja,	da	expectativa	dos	grupos	judaicos	em	
se	defenderem	dos	povos	vizinhos	que	se	organizavam	em	fortes	
cidades-estado.
Diante	desse	quadro	de	mudança,	Israel	−	cujo	sistema	con-
federativo	das	tribos	não	se	sustentava	ante	os	frequentes	ataques	
de	filisteus,	de	um	lado,	e	de	edomitas,	moabitas,	midianitas,	amo-
nitas,	de	outro	−	requereu	à	monarquia	na	expectativa	de	que	a	
figura	de	um	chefe	pudesse	 conter	o	avanço	desses	 vizinhos	de	
unificar	as	tribos.
Na	próxima	unidade,	vamos	compreender	um	pouco	mais	as	
situações	emergenciais	que	corroboraram	para	a	passagem	do	sis-
© Introdução Geral à Bíblia e História de Israel138
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
tema	tribal	ao	estatal	e	conhecer	os	principais	problemas	políticos	
que	assolaram	a	constituição	dos	reinos	e	conduziram	à	degrada-
ção	do	império	israelita.
10. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
UNIVERSITÄT	BONN.	Martin Noth.	Disponível	em:	<http://www.uni-bonn.de/Aktuelles/
Pressemitteilungen/351_02.html>.	Acesso	em:	8	fev.	2012.
UNIVERSITÄT	 LEIPZIG.	 Albrecht Alt.	 Disponível	 em:	 <http://www.uni-leipzig.de/
campus2009/2001/c2001_18.html>.	Acesso	em:	8	fev.	2012.
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BALANCIN,	E.	M.	História do povo de Deus. 4.	ed.	São	Paulo:	Paulus,	1990.
BRIGHT,	J.	História de Israel. 7.	ed.	São	Paulo:	Paulus,	2003.
CAZELLES,	H.	História política de Israel:	desde	as	origens	até	Alexandre	Magno.	Tradução	
de	Cácio	Gomes.	2.	ed.	São	Paulo:	Paulus,	1997.	
DONNER,	H.	História de Israel e dos povos vizinhos:	dos	primórdios	até	a	formação	do	
estado.	3.	ed.	São	Leopoldo,	RS:	Sinodal,	2004.	v.	1.	
GUNNEWEG,	A.	H.	J.	História de Israel:	dos	primórdios	até	Bar	Kochba	e	de	Theodor	Herzl	
até	os	nossos	dias.	Tradução	de	Monika	Ottermann.	São	Paulo:	Teológica/Loyola,	2005.	
(Série	Biblioteca	de	Estudos	do	Antigo	Testamento).
KOESTER,	 H.	 Introdução ao novo testamento: história,	 cultura	 e	 religião	 do	 período	
helenístico.	São	Paulo:	Paulus,	2005.	v.	1.
METZGER,	M.	História de Israel. 2.	ed.	São	Leopoldo,	RS:	Sinodal,	1978.

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