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Evangelhos Sinoticos 2

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EA
D
2
O Problema Sinótico e as 
Origens Cristãs
1. ObjetivOs
•	 Formular	de	maneira	breve	as	principais	hipóteses	de	for-
mação	dos	Sinóticos.	
•	 Indicar	a	 interdependência	dos	Sinóticos	em	 relação	ao	
Evangelho	de	Marcos.
•	 Demonstrar	a	relevância	dos	Sinóticos	para	a	compreen-
são	das	origens	cristãs.
2. COnteúdOs
•	 Problema	sinótico	e	crítica	das	fontes.
•	 Hipóteses	quanto	à	formação	dos	Evangelhos.
•	 Inventário	da	tradição	de	Jesus	a	partir	das	fontes	escri-
tas.
•	 Aspectos	dos	quais	decorrem	as	diferenças	entre	os	Evan-
gelhos.
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
76
3. Orientações para O estudO da unidade
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Tenha	à	disposição	para	consulta	uma	Bíblia.	Se	possível	
tenha	mais	de	uma	versão,	a	fim	de	conferir	as	diferen-
ças	na	tradução.
2)	 Leia	atentamente	a	unidade	e	conceda	atenção	às	refe-
rências	bibliográficas	indicadas.	Algumas	dessas	referên-
cias	podem	ser	obtidas	pela	Web.	A	leitura	de	tais	indica-
ções	tem	por	 finalidade	complementar	as	 informações	
apresentadas	nessa	unidade	e	oferecer	oportunidade	de	
ampliar	seus	conhecimentos	por	meio	de	 instrumental	
teórico	sofisticado.
3)	 Faça	a	leitura	desta	unidade	quantas	vezes	forem	possí-
veis.	Esse	conteúdo	é	pré-requisito	para	a	compreensão	
das	unidades	posteriores	e	lhe	oferecerá	condições	teó-
ricas	para	assimilar	as	características	dos	evangelhos	de	
Marcos,	Mateus	e	Lucas.
4)	 Sugerimos	a	leitura	da	referência	a	seguir,	como	impor-
tante	subsídio	para	a	compreensão	do	problema	sinóti-
co:	KÜMMEL,	Werner	Georg.	Introdução ao Novo Testa-
mento.	São	Paulo:	Paulinas,	1982,	p.	33-93.
5)	 Para	saber	mais	a	respeito	do	Evangelho	de	João,	consul-
te:	KONINGS,	Johan.	Evangelho segundo João. Amor e fi-
delidade.	Petrópolis/São	Leopoldo:	Vozes/Sinodal,	2000,	
425p.	 (Comentário	Bíblico);	MATEOS,	 Juan	e	BARRETO,	
Juan.	O evangelho de São João. Análise	lingüística	e	co-
mentário	exegético.	São	Paulo:	Edições	Paulinas,	1989.	
923p.
6)	 Para	saber	mais	a	respeito	da	literatura	apocalíptica	e	da	
relação	desse	conjunto	 literário	com	as	origens	cristãs,	
recorra	 à	 revista	 eletrônica	Oracula,	 no	 site	 disponível	
em:	<www.oracula.com.br>.	Acesso	em:	13	nov.	 2011.		
Veja	 ainda:	 NOGUEIRA,	 Paulo	 Augusto	 de	 Souza;	 OT-
TERMAN,	 Monika;	 ADRIANO	 FILHO,	 José.	 Apocalíptica	
cristã-primitiva.	Uma	leitura	para	dentro	da	experiência	
religiosa	e	para	além	do	cânon.	In:	Revista de Interpreta-
77© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
ção Bíblica Latino-Amerciana	42/43(2002):	162-190;	RO-
DRIGUES,	Elisa.	O Anúncio do Reino de Deus em Q9.57-
62. Expectativas Apocalípticas e Sabedoria Cotidiana no 
discurso do Filho do Homem	 (Dissertação	de	Mestrado	
do	Curso	de	Pós-Graduação	em	Ciências	da	Religião.	São	
Bernardo	do	Campo:	Umesp,	2003).	
4. intrOduçãO à unidade
Vimos	na	unidade	anterior	que	o	tema	da	redação	dos	livros	
que	compõem	o	cânon	da	Bíblia	judaico-cristã	é	amplo	e	marcador	
de	uma	longa	trajetória	de	pesquisas	e	estudos	sobre	as	tradições	
da	Bíblia	hebraica	e	do	Novo	Testamento.	Como	 já	vimos,	esses	
estudos	 focalizam	 as	 recorrências	 e	 as	 interseções	 entre	 judaís-
mo	e	cristianismo,	a	partir	do	 Império	Romano,	do	helenismo	e	
da	difusão	e	trocas	simbólicas	entre	culturas	do	povo	de	Israel	e	
das	civilizações	vizinhas.	Contudo,	apesar	do	volume	de	informa-
ções	que	essa	história	envolve,	esta	unidade	se	centrará	no	deba-
te	acerca	dos	Sinóticos,	como	fontes	do	período	e	da	Crítica	das	
Fontes	como	metodologia	que	visa	compreender	as	motivações	e	
contextos	próprios	de	redação	de	cada	Evangelho.
A	breve	exposição	a	seguir	se	concentrará,	de	um	lado,	nas	
hipóteses	de	formação	dos	Sinóticos,	considerando,	em	especial,	a	
interdependência	dos	Sinóticos	em	relação	ao	Evangelho	de	Mar-
cos	e,	de	outro,	no	debate	da	relevância	dos	Sinóticos	para	a	com-
preensão	das	origens	cristãs.
5. O prOblema sinótiCO e a CrítiCa das fOntes
O	problema	sinótico	consiste	na	constatação	de	que	existem	
diferenças	e	semelhanças	na	redação	dos	evangelhos.	Essa	consta-
tação	explica-se	pelo	entendimento	de	que	os	autores	de	tais	tex-
tos,	no	processo	de	elaboração	de	cada	Evangelho,	acrescentaram	
à	tradição	escrita	narrativas	acerca	da	vida	e	dos	ensinamentos	de	
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
78
Jesus,	conhecidas	pela	tradição	oral.	Isso	significa	que	cada	autor,	
ao	descrever	a	história	de	Jesus,	utilizou	 livremente	memórias	e	
fontes	que	estavam	à	disposição.	
A	 escola	 que	 investiga	 essas	 particularidades	 do	 texto	 bí-
blico	é	chamada	"Crítica das fontes".	Ela	se	dedica	à	análise	dos	
estágios	 que	 conformaram	 a	 produção	 dos	 Evangelhos.	 "Ela	 faz	
e	procura	responder	a	seguinte	pergunta:	Que	fontes	escritas	(	)	
os	evangelistas	empregaram	na	compilação	de	seus	evangelhos?"	
(CARSON,	1992,	p.	31-38).
Tal	 questão	 interessa	 tanto	 ao	 historiador	 do	 cristianismo	
primitivo,	quanto	ao	exegeta	ou	ao	indivíduo	que	tem	relação	de	
fé	com	os	textos	bíblicos.	Para	respondê-la,	a	academia	de	estudos	
bíblicos	da	Alemanha,	representada	pela	escola	da	Crítica	das	For-
mas	elaborou	o	conceito	de	comunidade	"por	trás"	do	Evangelho	
e	 formulou	o	entendimento	de	que	se	o	Sitz im Leben	 (situação	
vivencial)	 de	uma	 comunidade	pudesse	 ser	bem	compreendido,	
o	texto	(evangelho	que	a	comunidade	produziu)	seria	lido	corre-
tamente.	
Martin	 Dibelius,	 um	 dos	 primeiros	 dos	 mais	 importantes	
críticos	da	forma,	em	1934	definiu	Sitz im Leben	"como	o	estrato	
histórico	e	social	em	que	precisamente	aquelas	 formas	 literárias	
foram	desenvolvidas"	(s.	d).	Já	em	1969,	W.	Marxsen	foi	o	primeiro	
a	introduzir	três	Sitze im Leben:	
•	 O	Jesus	Histórico	(a	situação	de	atividades	de	Jesus).
•	 A	Crítica	das	Formas	(a	situação	da	Igreja	primitiva).	
•	 A	Crítica	da	Redação	(a	situação	do	evangelista	na	criação	
do	Evangelho).
Consequentemente,	as	décadas	de	1960	e	1970	 	 testemu-
nharam	uma	onda	de	estudos	nos	Evangelhos	que	se	preocupou	
com	a	situação	das	comunidades	subjacentes	a	cada	texto.	
Eventualmente,	 eram	 usados	 alguns	métodos	 da	 área	 das	
ciências	 sociais	 para	 a	 reconstrução	das	 comunidades	 subjacen-
79© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
tes	aos	Evangelhos.	Uma	das	obras	que	utilizou	a	sociologia	para	
compreender	e	reconstruir	o	painel	cultural	das	origens	cristãs	foi	
Sociologia do movimento de Jesus, de	Gerd	 Theissen,	 publicado	
pela	primeira	vez	no	Brasil	em	1977,	que	estudamos	na	unidade	
anterior.	Obviamente,	 existem	muitos	 outros	 trabalhos	 que	 em-
pregaram	essa	metodologia.	De	tais	estudos	explodiram	uma	série	
de	conclusões	e	resultados	diferentes.
Em	1979,	 Luke	 Timothy	 Johnson	 criticou	 um	 trabalho	 que	
reconstruía	a	comunidade	de	Lucas.	Para	Johnson,	descrições	ge-
rais	dos	leitores	fazem	injustiça	ao	texto	e	destroem	o	sentido	e	a	
intenção	literária.	Em	outras	palavras,	Timothy	considerou	simpló-
ria	essa	reconstrução,	pois	reduzia	o	texto	a	apenas	uma	projeção,	
reflexo	da	comunidade,	desprezando	os	aspectos	literários	da	nar-
rativa,	a	construção	da	redação	e	os	interesses	vinculados	a	essa	
produção.
Em	 1988,	 Dale	 Allison	 –	 um	 importante	 comentarista	 do	
Evangelho	 de	Mateus	 –	 argumentou	 que	 o	 termo	 "comunidade	
lucana",	por	exemplo,	não	deveria	ser	usado	para	o	Evangelho	de	
Lucas,	visto	que	o	evangelho	pode	ter	tido	a	interferência	de	reda-
tores	especializados.
No	volume	que	trata	das	apropriações	para	reconstrução	da	
comunidade	mateana	(BALCH,	1991),	 Jack	Dean	Kinsbury	conce-
deu	uma	surpreendente	advertência	sobre	a	prática	metodológica	
de	atribuir	os	Evangelhos	às	comunidades.
Em	1992,	Graham	Stanton,	no	livro	A Gospel	for a new peo-
ple	(Um	evangelho	para	um	novo	povo),	discutiu	a	possibilidade	de	
se	descobrir	a	comunidade	mateana,	a	partir	do	próprio	texto	de	
Mateus.	Ele	admitiu	que	a	reconstrução	sobre	essas	linhas	podem	
exigir	muito	da	imaginação	disciplinadado	historiador.	
Posteriormente,	 Stanton	mostrou	 que	 alguns	 dos	mais	 re-
centes	trabalhos	sobre	outros	primeiros	escritos	cristãos	podiam	
ser	 considerados	 "lembranças"	 (pistas)	do	ambiente	de	Mateus,	
traçando	possíveis	contextos	de	dentro	do	judaísmo	e	dos	primei-
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
80
ros	cristianismos.	Para	Stanton,	a	chave	metodológica	"é	notar	que	
o	 Evangelho	 não	 é	 uma	 carta,	 visto	 que	 uma	 carta	 não	 fornece	
janelas	claras	sobre	a	situação	social	dos	receptores"	(s.	d.).
Ainda	em	1992,	Frederik	Wisse	argumentou	em	um	artigo	in-
titulado	Historical method and the Johannine community	(Método 
histórico e a comunidade joanina)	que	a	hipótese	usada	para	de-
terminar	as	circunstâncias	históricas	da	composição	do	Evangelho	
de	João	por	meio	de	dados	indiretos	é	altamente	problemática.
Wisse	 denominou	 impressionante	 que	 os	 estudiosos	 dos	
Evangelhos	 classificassem	 essa	 literatura	 como	 única	 e	 transpa-
rente	quanto	à	situação	histórica	das	comunidades.	Para	ele,	esse	
tipo	de	abordagem	e	prática	metodológica	revela	que	os	estudio-
sos	 têm	 dificuldade	 de	 enfrentar	 o	 desapontamento	 diante	 das	
conclusões	justificadas	por	evidências	muito	limitadas	e	interesses	
próprios.
Bengt	Holmberg	(1990)	comentou	que	o	postulado	de	uma	
correlação	completa	e	positiva	entre	um	texto	e	o	grupo	social	que	
transmitiu	 e	 recebeu	 esse	 texto	 é	 implausível.	 Ler	 as	 narrativas	
do	Evangelho	como	se	fossem	alegorias	da	forma	de	vida	de	cada	
igreja	é	um	tanto	sem	imaginação.	
Assim,	 Stephen	 Barton	 chama	 de	 "explosão	 de	 interesse"	
a	essa	corrente	de	estudo	do	Novo	Testamento.	Tais	abordagens	
que	desenvolvem	ênfases	teológicas	sobre	a	igreja	e	as	comunida-
des	subjacentes	aos	Evangelhos	podem	ser	inapropriadas	(KLINK,	
2004).
Kinsbury	concordou	com	essa	crítica	e	admitiu	que	"o	texto	
em	 si	mesmo	não	 é	 observado	 como	o	 interesse	 primário,	mas	
como	um	veículo	para	 recepção	de	outra	coisa;	em	outras	pala-
vras,	a	situação	social	da	comunidade"	(KLINK,	2004,	p.	64).
De	acordo	com	essa	análise,	a	exegese	dos	Evangelhos,	que	
busca	apenas	reconstruir	as	comunidades	"por	trás"	do	texto,	co-
loca	à	margem	cultura,	valores	próprios	do	período	antigo	e	outras	
81© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
informações	que	poderiam	ser	importantes	para	entender	as	ori-
gens	cristãs,	o	surgimento	do	cristianismo	e	os	processos	sociocul-
turais	que	motivaram	a	escrita	dos	Evangelhos.	
A	crítica,	portanto,	recai	sobre	um	tipo	de	exegese	que	tem	
"obsessão"	pelas	reconstruções	de	comunidades	sem	considerar	
que	 tais	 reconstruções	podem	ser	 idealizadas,	 conforme	a	pers-
pectiva	 de	 cada	 comentarista	 e,	 nesse	 sentido,	materializam	 as	
projeções	dos	próprios	exegetas	fincadas	no	seu	próprio	tempo	e	
ideologias.
Tais	 reflexões	 críticas	 sobre	 a	 noção	 de	 "comunidade	 por	
trás	do	texto"	não	invalidam	essa	possibilidade	de	chave	metodo-
lógica,	mas	evidenciam	que	a	exegese	deve	atentar	para	outros	
âmbitos	que	subjazem	à	produção	do	texto.	Ou	seja,	entender	o	
período	histórico,	os	códigos	de	comportamento	da	época,	como	
tais	códigos	determinavam	as	sociabilidades	e,	ainda,	subsidiavam	
a	produção	cultural.	Essas	 "comunidades	por	 trás	do	 texto"	não	
estavam	à	parte	desses	processos.
6. O "Olhar" para dentrO das fOntes
Sabemos	que	a	Crítica	das	Fontes,	em	parte,	foi	responsável	
pela	criação	do	conceito	comunidade	mateana,	 lucana,	marcana	
e	joanina.	Embora	reconheçamos	os	limites	metodológicos	dessa	
abordagem,	devemos	entender	que	a	Crítica	das	Fontes	ofereceu-
-nos	um	importante	legado	teórico	para	compreensão	do	conjunto	
sinótico.	Legado	esse	que	contribuiu	para	o	desenvolvimento	de	
outras	abordagens	como	a	Crítica	Literária.
A	Crítica	Literária	verificou	que	as	semelhanças	na	estrutura	
dos	Evangelhos,	no	uso	das	palavras	e	na	sequência	das	narrativas,	
sugerem	que	entre	os	Evangelhos	existiu	alguma	dependência	e,	
talvez,	o	compartilhamento	de	fontes.	
Obviamente,	tais	recorrências	no	uso	das	palavras	necessi-
tam	ser	verificadas,	inicialmente	na	língua	original,	que	é	a	língua	
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
82
grega	koinê	(o	termo	grego	que	se	refere	à	língua	usada	pelos	au-
tores	neotestamentários.	Diz	respeito	à	língua	falada	nos	tempos	
de	Jesus,	espécie	de	grego	popular	que	reunia	expressões	do	gre-
go	clássico	e	do	aramaico).
Assim,	como	nas	traduções	se	podem	verificar	semelhanças,	
a	comparação	das	narrativas	bíblicas	também	evidencia	certas	in-
terrupções	abruptas,	construções	não	comuns	e	omissões	que	cor-
respondem	às	diferenças.
Vejamos	o	Quadro	1	a	seguir:
Quadro 1	Sinótico
mc 2,10-11 lc 5,24 mt 9,6
10	Ora,	para	que	saibais	
que	o	Filho	do	Homem	
tem	sobre	a	terra	
autoridade	para	perdoar	
pecados	–	disse	ao	
paralítico:	11	eu te mando:	
Levanta-te,	toma	o	teu	
leito	e	vai	para	tua	casa.
24	Mas,	para	que	saibais	
que	o	Filho	do	Homem	
tem	sobre	a	terra	
autoridade	para	perdoar	
pecados	–	disse	ao	
paralítico:	eu te ordeno:	
Levanta-te,	toma	o	teu	
leito	e	vai	para	tua	casa.
06	Ora,	para	que	saibais	que	
o	Filho	do	Homem	tem	
sobre	a	terra	autoridade	
para	perdoar	pecados	–	
disse,	então,	ao	paralítico:	
Levanta-te,	toma	o	teu	
leito,	e	vai	para	tua	casa.
Conforme	verificamos	no	exemplo	anterior,	no	texto	de	Ma-
teus	não	aparece	a	expressão	"Eu	te	mando"	ou	"Eu	te	ordeno",	
conforme	Marcos	e	Lucas.	Além	disso,	o	texto	de	Mateus	não	dis-
corre	sobre	o	buraco	no	teto	que	foi	aberto	pelos	amigos	do	paralí-
tico.	Tais	omissões,	embora	não	comprometam	o	conteúdo	central	
da	narrativa,	 indicam	que	havia	diferenças	entre	os	evangelistas,	
seja	na	forma	de	descrever	as	narrativas	–	quanto	ao	estilo	e	uso	
do	grego	–	seja	no	que	julgavam	ser	indispensável	à	narrativa.	Des-
se	modo,	como	destacam	alguns	estudiosos:	"Essa	combinação	de	
correspondência	e	discordância	também	alcança	a	estrutura	geral	
dos	evangelhos"	(CARSON,	1992,	p.	29).
Portanto,	é	possível	perceber	que	os	três	Evangelhos:		
1)	 seguem	praticamente	a	mesma	ordem	de	acontecimen-
tos;
83© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
2)	 omitem	 informações	 que	 podem	 ser	 encontradas	 nos	
outros	dois	Evangelhos;
3)	 apresentam	incidentes	que	os	demais	não	relatam;
4)	 possuem	 algumas	 diferenças	 quanto	 à	 ordem	 de	 um	
evento,	em	pelo	menos	um	dos	dois	Evangelhos.
Na	busca	por	uma	hipótese	que	explicasse	correspondências	
e	disparidades	entre	os	Sinóticos,	emergiram	diversas	possibilida-
des;	relacionamos	brevemente	algumas	delas	a	seguir:	
Dependência	comum	de	um	Evangelho	original	(proto-evangelho)	
–	proposta	de	G.	E.	Lesing	(1771),	escritor	e	crítico	alemão.	Susten-
tou	que	a	relação	entre	os	Sinóticos	poderia	ter-se	dado	a	partir	do	
uso	(independente)	de	uma	fonte	original	escrita	em	hebraico	ou	
aramaico.	Esta	hipótese	foi	duramente	criticada,	principalmente,	a	
partir	do	século	20.
Dependência	comum	de	fontes	orais	–	proposta	por	J.	G.	Herder	e	
posteriormente,	J.	K.	L.	Gieseler	(1818).	Eles	sustentaram	a	depen-
dência	dos	Sinóticos	em	função	de	certo	sumário	oral	relativamen-
te	fixo	sobre	a	vida	de	Cristo.	Esta	hipótese	foi	mais	aceita	durante	
o	século	19.	
Dependência	comum	de	um	número	cada	vez	maior	de	fragmentos	
escritos	–	F.	Schleiermacher	foi	responsável	por	propor	que	entre	a	
igreja	primitiva	circulavam	diversos	fragmentos	de	tradição	sobre	
Jesus,	escritos	pelos	apóstolos.	Tais	fragmentos	cresceram	gradual-
mente	e	foram	incorporados	aos	Evangelhos	Sinóticos.	
Teoria	da	 interdependência –	sustenta	que	dois	dos	autores	usa-
ram	uma	ou	mais	fontes	para	a	elaboração	do	seu	evangelho.	Esta	
teoria	é	geralmente	mais	aceita	pelos	estudiosos	(CARSON,	1992,	
p.	31-32).	
Essa	última	proposta	de	interdependência,	com	a	qual	con-
cordamos,	suger,e a	partir	da	análise	de	paralelismos	sequenciais	
entre	os	Evangelhos	Sinóticos,	que	podemos	observar	Mateus	e	
Marcos	juntos	em	oposição	a	Lucas,	e	Lucas	e	Marcos	juntos	em	
oposição	a	Mateus,	porém,	Mateus	e	Lucas	nãose	opõem	a	Mar-
cos.	
Assim,	 surge	 o	 "argumento	 da	 sequência"	 que	 apresenta	
Marcos como o termo médio no relacionamento entre os Sinóticos.	
Isso	significa	que	o	Evangelho	de	Marcos	seria	a	fonte	usada	por	
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
84
Mateus	e	Lucas	na	composição	de	seus	evangelhos.	Essa	hipótese	
explica	as	correspondências	entre	os	três	primeiros	evangelhos.	
As	diferenças,	portanto,	estariam	relacionadas	ao	estilo	e	às	
particularidades	de	Mateus	e	de	Lucas,	vinculadas	principalmente	
às	expectativas	do	grupo	com	o	qual	se	importavam	e	procuravam	
promover	a	fé	em	Jesus.
Todos	esses	estudos	e	hipóteses	acerca	da	redação	dos	Evan-
gelhos	desencadearam,	ainda,	outras	questões	relacionadas	prin-
cipalmente	à	veracidade	das	narrativas	e	dos	acontecimentos	so-
bre	a	vida,	os	ensinamentos	e	os	milagres	realizados	por	Jesus	de	
Nazaré.	Embora	esse	tenha	sido	um	período	difícil	para	a	pesqui-
sa	sobre	Jesus	e	para	a	teologia,	é	importante	destacar	que	desta	
época	 surgiram	novas	possibilidades	de	 compreensão	acerca	do	
significado	do	movimento	cristão	e	da	sua	abrangência.
A	despeito	dos	séculos	e	das	tendências	de	interpretação,	os	
Sinóticos	continuam	a	representar	 importantes	fontes	de	estudo	
e	de	investigação	para	aqueles	que	desejam	conhecer	o	período	
antigo	e	como	as	sociedades	viveram,	produziram	cultura,	religião,	
cultura	e	política.
7. fOntes sinótiCas
Podemos	 entender	 por	 "canônicos"	 os	 primeiros	 quatro	
evangelhos:	Mateus,	Marcos,	Lucas	e	João.	Dos	quatro	elencados,	
apenas	os	primeiros	três	são	considerados	Sinóticos.	Essa	disposi-
ção,	no	entanto,	não	reflete	a	ordem	cronológica	de	composição	
dessas	fontes	e	tampouco	indica	que	são	os	únicos	escritos	judai-
co-cristãos	desse	gênero.
Apesar	das	diferentes	hipóteses	quanto	à	origem	do	cânon	
assim	como	o	conhecemos	hoje,	é	quase	consenso	entre	os	biblis-
tas	que	Marcos	teria	sido	o	primeiro	evangelho	redigido	–	o	termo	
médio	–	e	que	os	outros	(Mateus	e	Lucas)	teriam	se	inspirado	em	
seu	material	para	compor	suas	versões.	Ainda,	outro	material	cha-
85© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
mado	Fonte dos Ditos	ou	Fonte Q,	sobre	a	qual	discorreremos	mais	
atentamente	na	sequência,	teria	sido	usada	livremente	por	cada	
um	dos	redatores	dos	Evangelhos.	O	esquema	a	seguir	ilustra	essa	
hipótese	(THEISSEN,	2002,	p.	45).	
Algo	 importante	 a	 se	 acrescentar	 é	 que,	 seguindo	 nessa	
perspectiva,	Mateus	e	Lucas	poderiam	ter	materiais	próprios	que	
empregaram	para	a	redação	de	seus	evangelhos,	eles	foram	cha-
mados	"M"	de	Mateus	e	"L"	de	Lucas.	
Por	 essa	 razão,	 os	 Evangelhos	 de	Marcos,	 Lucas	 e	Mateus	
são	chamados	"Sinóticos",	que	significa	"espelhos"	e,	nesse	caso,	
o	 termo	"sinótico"	 indica	a	qualidade	de	 terem	 informações	em	
comum.
"Há	muito	tempo	já	se	percebeu	que	esses	três	evangelhos	apre-
sentam	materiais	paralelos	numa	estrutura	semelhante	e	com	fre-
qüência	na	mesma	seqüência	de	perícopes	individuais	(...)	a	reda-
ção	das	respectivas	passagens	paralelas	em	quaisquer	dois	ou	três	
desses	evangelhos	é	muitas	vezes	quase	a	mesma,	ou	tão	próxima,	
que	certamente	se	deve	concluir	pela	existência	de	algum	tipo	de	
relação	literária"	(KÖESTER,	2005,	p.	48).	
O	Evangelho	de	João,	embora	tenha	sido	reconhecido	como	
canônico,	distingue-se	dos	outros	três	por	causa	do	uso	do	grego,	
da	linguagem	e	da	teologia,	especialmente,	em	função	dos	longos	
discursos	atribuídos	a	 Jesus.	Por	essa	razão,	não	foi	considerado	
sinótico.	Outro	aspecto	 interessante	é	que	o	Evangelho	de	 João	
apresenta	alta	complexidade	no	uso	do	grego,	em	muitos	casos,	
muito	próxima	da	forma	filosófica	da	retórica	grega.	
A	palavra	"cânon"	é	o	empréstimo	semítico	de	certo	termo	
que,	etimologicamente,	significa	(1)	"junco",	passou	a	designar	(2)	
"vara	de	medir"	e,	posteriormente,	(3)	"regra",	"padrão"	ou	"nor-
ma".	Mas,	somente	em	um	momento	posterior	passou	a	 indicar	
"lista"	ou	"tabela".	Durante	os	séculos	1º	e	3º	EC,	o	vocábulo	refe-
riu-se	especificamente	ao	conteúdo	normativo	doutrinário	e	ético	
da	fé	cristã.	Já	por	volta	do	século	4º,	passou	a	designar	a	lista	de	
livros	que	constituem	o	Antigo	e	o	Novo	Testamento.	Atualmente	
© Evangelhos Sinóticos
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86
esse	sentido	é	o	mais	comum:	"coleção	encerrada	de	documentos	
que	constituem	Escritura	autorizada"	(BITTENCOURT,	1993,	p.	24).
Os	cristãos	do	século	1º	não	dispunham	de	um	cânon	para	
o	Novo	Testamento.	Inicialmente	dependiam	da	(1)	pregação	dos	
apóstolos	e	 (2)	dos	 livros	 (rolos,	pergaminhos),	que	hoje	conhe-
cemos	como	o	cânon	do	Antigo	Testamento	ou	Bíblia	hebraica,	a	
Tanak,	cujo	Quadro	2,	a	seguir,	mostra	como	ela	se	dividia.
Quadro 2	Divisão	da	Tanak
torá (A	Lei) Gn,	Ex,	Lv,	Nm	e	Dt
nebiim	(Os	Profetas) Os	Anteriores:	Js,	Jz,	Sm	(1	e	2	considerados	em	
conjunto),	Rs	(1	e	2	em	conjunto);
Os	Posteriores:	Is,	Jr,	Ez	e	o	Rolo	dos	Doze:	Os,	Jl,	Am,	
Ab,	Jn,	Mq,	Na,	Hab,	Sf,	Ag,	Zc	e	Ml.
Ketubim (Os	Escritos) Poesia	e	Sabedoria:	Sl,	Pr,	Jó.
Com	a	atuação	dos	discípulos	de	Jesus	e	o	crescimento	das	
comunidades	 cristãs,	 foi	 necessário	 que,	 de	 algum	modo,	 a	 tra-
dição	fosse	normatizada	a	fim	de	que	as	informações	sobre	vida,	
ensinamentos	e	feitos	de	Jesus	não	se	perdessem.		
Como	se	sabe,	após	os	eventos	morte,	ressurreição	e	ascen-
são	de	Jesus	aos	céus,	o	grupo	de	seguidores	e	de	discípulos	do	Na-
zareno,	durante	muito	tempo,	transmitiu	as	histórias,	as	memórias	
e	os	ensinamentos	de	Jesus	por	meio	da	oralidade.	 Isso	 implica,	
como	dizem	os	mais	velhos,	que	"quem	conta	um	conto,	aumenta	
um	ponto".	Um	ditado	popular	levado	a	sério	pelos	estudiosos	da	
Bíblia	que	entenderam	que,	em	parte,	as	diferenças	no	material	de	
cada	Evangelho	pode	ser	explicada	pelo	acesso	a	diferentes	fon-
tes	orais	que	cada	um	dos	redatores	pode	ter	tido	no	processo	de	
compilação	das	tradições	sobre	vida	e	ministério	de	Jesus.
Desse	modo,	deu-se	a	passagem	da	tradição	oral	para	a	tra-
dição	escrita	que	não	eram	excludentes,	mas	dialógicas.	Isso	quer	
dizer	que	a	tradição	oral	alimentava	os	escritos	e	o	contrário	tam-
bém	ocorria.	 Tal	 relação	entre	oralidade	 e	 escrita	 implica	 que	 a	
87© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
compilação	dos	Evangelhos,	ao	modo	de	cada	redator,	foi	seletiva.	
A	seleção,	entretanto,	deve	ser	entendida	à	luz	do	conjunto	de	ex-
pectativas	e	das	questões	que	cada	grupo	de	seguidores	e	preten-
dentes	à	conversão	faziam	às	lideranças	cristãs	do	período.
Sabemos	que	os	anos	que	se	seguiram	após	a	morte	de	Je-
sus,	o	líder	que	tantos	judeus	aguardavam	e	que	não	correspon-
deu	às	esperanças	de	muitos	deles,	foram	difíceis.	As	expectativas	
de	muitos	não	se	concretizaram:	os	judeus	permaneceram	sob	do-
mínio	romano,	a	cultura	e	a	 religião	 judaica	não	retomaram	seu	
lugar	de	centralidade	na	vida	do	povo	judeu	e	o	helenismo	avan-
çava,	"descaracterizando"	a	tradição	dos	patriarcas	de	Israel.	Para	
muitos	judeus,	as	promessas	messiânicas	não	se	concretizaram	em	
Jesus	e	isso	significava	o	fracasso	de	mais	um	profeta.	
Em	contrapartida,	amparado	pelas	visões	e	relatos	a	respei-
to	da	ressurreição	e	ascensão	de	Jesus	aos	céus,	alguns	dos	discí-
pulos	de	Jesus	começaram	a	profetizar	o	seu	retorno	sob	a	forma	
de	rei.	Era	a	tradição	profética	e	apocalíptica	conhecida	desde	a	
Bíblia	Hebraica,	que	se	apresentava	sob	nova	forma,	apropriada	e	
re-significada	pelos	discípulos	de	Jesus.	Para	justificar	a	promessa	
de	seu	retorno	futuro,	recorreram	à	autoridade	da	profecia	judai-
ca.	Assim,	Jesus	foi	aclamado	o	Filho do Homem:
Naqueles	dias,	porém,	depois	daquela	tribulação,	o	sol	escurecerá,	
a	lua	não	dará	a	sua	claridade,	as	estrelas	estarão	caindo	do	céu,	e	
os	poderes	que	estão	nos	céus	serão	abalados.	E	verão	o	Filho	do	
Homem	vindo	entre	as	nuvens	com	grande	poder	e	glória.	Então	
ele	enviará	os	anjos	e	reunirá	seus	eleitos,	dos	quatro	ventos,	da	
extremidade	da	terra	à	extremidade	do	céu	(Mc	13,24-27).	
O	Filho do Homem,	um	título	conhecido	da	tradição	judaica	eque	já	havia	sido	usado	para	descrever	aquele	que	viria	para	livrar	
os	filhos	de	Iahweh	do	jugo	da	Babilônia,	em	(Dn	7,13-14),	foi	re-
tomado	pelos	redatores	dos	Evangelhos	e	atribuído	ao	Nazareno.
O	mesmo	epíteto	pode	ser	encontrado	em	Daniel	8,17	como	
referência	ao	próprio	profeta	Daniel.	Filho do Homem	(bem	‘Adam),	
que	pode	 ser	 traduzido,	 também,	por	 Filho	da	Humanidade,	 ou	
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88
simplesmente	 ser	humano,	 foi	o	nome	pelo	qual	o	anjo	Gabriel	
chamou	Daniel	para	ajudar-lhe	a	desvendar	as	visões	que	teve.	Em	
geral,	esse	título	é	bastante	usado	pela	literatura	apocalíptica	e	foi	
atribuído,	também,	a	outros	profetas	como	Elias,	Ezequiel,	Melqui-
sedec	e	João	Batista.	A	imagem	do	Filho	do	Homem	correspondia	a	
de	um	ser	celestial	com	feições	humanas,	seria	uma	representação	
do	próprio	Iahweh	e	não	somente	um	anjo.	
(...) o que significa a expressão "huis tou anthrōpou" do ponto de 
vista puramente filológico? Teremos de remontar ao aramaico: 
"huis tou anthrōpou" corresponde ao aramaico "barnascha". "Bar", 
como se sabe, é o equivalente aramaico do hebraico "ben", filho. 
Encontramos esse termo em diversos nomes próprios tais como 
Barnabé, Barjonas, Bartolomeu etc. "Nascha", derivado da mesma 
raiz que o hebraico "isch", plural, "anaschin", significa "homem". 
(...) "Barnascha" é, portanto, em aramaico, aquele que pertence 
à espécie humana e significa "homem" (cf. CULMANN, 2001, p. 
183).
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
"Do meio de seus irmãos lhes suscitarei um profeta semelhante a ti; e porei as 
minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar" (Dt 
18,18). Palavras como essas compõem a tradição judaica desde os tempos de 
Moisés. Elas marcaram o modelo do líder, profeta e salvador que libertaria Is-
rael da opressão e castigaria os inimigos com a destruição. Figuras marcantes 
representadas pelos profetas, porta-vozes de Deus, situaram-se na trajetória de 
Israel ganhando destaque pelo anúncio da mensagem de Iahweh. Em seus dis-
cursos ficavam evidenciadas as palavras fortes de arrependimento e retomada 
dos princípios estabelecidos pelo único Deus por meio das leis mosaicas. A cons-
ciência criada pelo arrependimento e retomada da vida piedosa são temas que 
permeiam o Antigo Testamento principalmente nos escritos proféticos. Assim, 
profecia e apocalíptica estavam enraizadas no seio das primeiras comunidades 
cristãs de herança judaica como elementos fundantes do ethos desses grupos. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para	alguns	judeus,	o	Filho do Homem	era	comparável	a	João	
Batista	ou	Elias:
Enquanto	ele	estava	orando	à	parte	achavam-se	com	ele	somente	
seus	discípulos;	e	perguntou-lhes:	Quem	dizem	as	multidões	que	eu	
sou?	Responderam	eles:	Uns	dizem:	João,	o	Batista;	outros:	Elias;	e	
ainda	outros,	que	um	dos	antigos	profetas	se	levantou.	Então	lhes	
perguntou:	Mas	vós,	quem	dizeis	que	eu	sou?	Respondendo	Pedro,	
disse:	O	Cristo	de	Deus	(Lc	9,18-20;	cf.	também	At	3,17-22).
89© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
As	palavras	de	Jesus	elencadas	nos	Evangelhos	apontam	para	
a	caracterização	do	Nazareno	como	Filho do Homem,	profeta	e	fi-
lho	de	Deus	(Lc	13,34;	20,9-18;	Mt	23,27).	Todavia,	esse	ponto	da	
pesquisa	não	encontra	consenso,	pois,	segundo	alguns	estudiosos,	
Jesus	não	tinha	autoconsciência	messiânica	e	nunca	se	intitulara	o	
Messias	(BULTMANN,	1951,	p.	30).	Algo	que	estaria	explicitado	no	
uso	de	terceira	pessoa	para	se	referir	ao	Filho	do	Homem.	
A	 identificação	dessa	expressão	 tipicamente	 judaica	na	 re-
dação	dos	Evangelhos,	que	chamamos	"campo	semântico",	ajuda-
-nos	a	perceber	a	dependência	que	essa	 literatura,	bem	como	o	
movimento	de	Jesus	e	os	primeiros	discípulos	tinham	da	história	
de	Israel	e	de	toda	a	cultura	desse	povo,	que	de	certo	modo	condi-
cionava	as	origens	cristãs.	
Além	de	encontrarmos	a	expressão	Filho	do	Homem	em	tex-
tos	do	Antigo	e	do	Novo	Testamento,	a	mesma	expressão	pode	ser	
identificada	em	trechos	da	literatura	pseudoepígrafa,	como	1Eno-
que e 4Esdras, importantes	documentos	do	período.	
Assim,	história,	tradição,	profecias,	a	vida	de	Jesus	e	os	seus	
ensinamentos	precisavam	ser	conciliados.	Todas	essas	informações	
necessitavam	 ser	 condensadas,	 harmonizadas	 e	 coerentemente	
organizadas	num	relato	que	correspondesse	às	expectativas	dos	
judeus	convertidos	ao	movimento	de	 Jesus,	que	respondesse	às	
questões	dos	gentios	e	dos	judeus	helenizados	que	se	convertiam	
ao	Nazareno	e,	 finalmente,	que	atendesse	às	 reivindicações	dos	
judeus	zelosos	da	Lei.
Isso	justifica,	de	certo	modo,	as	diferenças	entre	os	Evange-
lhos,	já	que	cada	sinótico	teria	dedicado	sua	escrita	a	audiências	
específicas,	 umas	 com	mais	 presença	 judaica,	 outras	 com	mais	
presença	gentílica	e	outras	audiências	mistas.
De	acordo	com	o	inventário	que	John	Dominic	Crossan	(1994,	
p.	465-472)	elaborou	sobre	a	tradição	de	Jesus	em	diferentes	fon-
tes	escritas,	com	exceção	da	Fonte	Q,	os	primeiros	escritos	cristãos	
são	do	apóstolo	Paulo	e	não	dos	redatores	dos	Evangelhos.	
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90
Para	desenvolver	esse	inventário,	Crossan	(1994)	utilizou	em	
parte	a	pesquisa	de	Helmut	Köester	(2005)	em	sua	obra	Introdu-
ção ao Novo Testamento.		Desse	modo,	num	primeiro	estrato	situ-
ado	entre	os	decênios	30	e	60	EC,	poderíamos	relacionar:
1)	 A	Primeira	Epístola	de	Paulo	aos	Tessalonicenses	–	escri-
ta	em	Corinto,	no	final	da	década	de	50	EC.
2)	 A	Epístola	de	Paulo	aos	Gálatas	–	escrita	em	Éfeso,	entre	
52-53	EC.	
3)	 A	Primeira	Epístola	de	Paulo	aos	Corintos	–	escrita	em	
Éfeso,	entre	54-55	EC.	
4)	 A	Fonte	Q	ou	Fonte	dos	Ditos	–	composta	por	volta	de	50	
EC,	provavelmente,	em	Tiberíades,	Galileia.
O	segundo	estrato	entre	os	anos	de	60	e	80	EC,	seria	consti-
tuído	por:
1)	 O evangelho "secreto" de marcos	–	composto	talvez	no	
início	da	década	de	70	EC,	espécie	de	material	próprio	
do	evangelista.	
2)	 O evangelho de marcos	 –	 segunda	versão	em	que	 te-
ria	deixado	narrativas	anteriores	de	lado	em	função	da	
interpretação	indevida	de	gnósticos.	Escrita	ao	final	da	
década	de	70	EC.	
3)	 O evangelho de mateus	–	escrita	em	torno	de	90	EC,	em	
Antioquia	da	Síria.	Baseado	em	Marcos	e	em	Q.	
4)	 O evangelho de lucas	–	talvez	tenha	sido	escrito	antes	
da	década	de	90	EC,	mas	certamente	antes	de	João	1-20.	
Também	baseou-se	em	Marcos	e	em	Q,	principalmente	
para	compor	sua	narrativa	anterior	à	paixão.	
5)	 O evangelho de joão	–	primeira	versão	escrita	no	início	
do	 século	 2o,	 sob	 a	 pressão	 causada	 pela	 ascendência	
sinótica.
O	terceiro	estágio	de	composição	da	tradição	de	Jesus,	so-
mente	a	partir	 dos	 livros	 canônicos	 e	dos	 Evangelhos,	 portanto,	
teria	sido	entre	120	e	150	EC,	ou	seja,	já	no	século	2º.	Ocasião	em	
que	o	Evangelho	de	João	é	acrescido	pelo	capítulo	21.
91© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
Esse	quadro	cronológico	nos	oferece	uma	imagem	de	como	
se	formou	a	tradição	cristã	e,	de	certo	modo,	explicita	a	importân-
cia	dos	escritos	paulinos	para	a	sistematização	da	fé	dos	primeiros	
cristãos.
	No	entanto,	há	de	se	reconhecer	que	não	tendo	sido	Paulo,	
uma	testemunha	ocular	da	vida,	do	ministério	e	dos	ensinamentos	
de	Jesus,	a	 legitimidade	de	seus	escritos	e	de	seus	depoimentos	
sobre	Jesus	tenha	sido	contestada	inicialmente.
É	preciso	reconhecer,	ainda,	que	Paulo	falava	não	do	Jesus	
Histórico,	mas	do	Cristo	da	fé,	aquele	que	conhecera	no	caminho	
para	Damasco.	 Tratava-se,	 portanto,	 do	 Cristo	 com	o	 qual	 tinha	
tido	experiência	por	intermédio	de	uma	visão.	
O	Jesus	da	história,	esse	ele	conheceu	por	meio	dos	relatos	
de	 terceiros.	 Eram	esses	 relatos,	 era	 essa	oralidade	que,	 a	 cada	
dia,	se	movimentava	sendo	acrescida,	diminuída,	transformada	e	
reinventada,	em	função	de	tantas	perguntas	que	se	faziam	sobre	a	
concretização	das	promessas	de	Jesus.	
8. a COmpOsiçãO dOs evangelhOs
Ao	perceber	que	os	Sinóticos	têm	versões	diferentespara	a	
vida	e	ministério	público	de	Jesus	de	Nazaré,	surge	a	pergunta:	o	
que	motivou	cada	autor	a	compor	seu	próprio	evangelho?
Embora	essa	questão	seja	relevante,	objeto	de	longa	discus-
são	entre	biblistas,	as	razões	que	motivaram	cada	evangelista	na	
escrita	de	seu	texto	não	são	completamente	conhecidas,	visto	que	
existe	uma	imensa	lacuna	temporal,	espacial	e	geográfica	entre	os	
redatores	e	os	intérpretes	modernos.	Esse	hiato	abre	a	possibili-
dade	de	se	tecer	conjecturas,	mas	essas	hipóteses	não	são	com-
pletamente	 amparadas,	 de	modo	que	 vários	pesquisadores	 têm	
sugerido	algumas	probabilidades	para	explicar	as	diferenças	entre	
os	textos.	Entre	elas,	destacamos:	
© Evangelhos Sinóticos
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92
1)	 O	crescimento	de	grupos	que	se	denominavam	cristãos	
nos	domínios	do	Império,	na	segunda	metade	do	século	
1º	EC.
2)	 O	aumento	da	circulação	de	escritos	contendo	histórias,	
ensinamentos	e	tradições	de	Jesus.
3)	 A	diversificação	das	tradições	a	respeito	da	mensagem	
de	Jesus	em	função	da	experiência	e	da	interpretação	de	
cada	grupo	de	seguidores	de	Jesus.
4)	 A	 necessidade	 de	 responder	 questões	 específicas	 que	
esses	grupos	propunham	aos	discípulos	próximos	de	Je-
sus.
5)	 A	expectativa	quanto	ao	movimento	cristão,	se	judaico,	
intrajudaico	ou	de	negação	do	judaísmo.
6)	 A	necessidade	de	se	explicar	a	relação	dos	ensinamentos	
de	Jesus	de	Nazaré	com	o	judaísmo	e	as	recomendações	
quanto	à	religião	de	Israel,	quanto	a	leis	e	rituais	de	pu-
reza,	quanto	aos	tributos	e	quanto	à	obediência	às	auto-
ridades	romanas	e	judaicas.
Evidentemente,	 essas	 possibilidades	 não	 encerram	 todo	 o	
quadro	de	expectativas	das	primeiras	comunidades	cristãs	em	re-
lação	ao	que	Jesus	de	Nazaré	havia	pregado.	Por	isso,	com	o	estu-
do	das	fontes,	das	formas	e	dos	gêneros	literários	que	compõem	
os	livros	sagrados	da	Bíblia	judaico-cristã,	a	academia	de	exegese	
abriu-se	para	perceber	que	as	 literaturas	 canônicas	 e	não-canô-
nicas	eram	expressões	da	cultura	oral	que	se	tornaram	fonte	es-
crita	e	origem	da	Tradição.	Nas	palavras	de	Jean	Batany:	"O	oral	
escreve-se,	o	escrito	quer-se	imagem	do	oral,	de	qualquer	modo	é	
feita	referência	à	autoridade	de	uma	voz"	(LE	GOFF,	2002,	p.	383).	
De acordo com o historiador marxista britânico Eric Hobsbawm, a 
ideia de Tradição como entendida hoje deve sua origem ao surgi-
mento da escrita que em certa medida materializou a cultura oral ( 
HOBSBAWM, E.; RANGER, T., 1983).
Assim,	os	Evangelhos	constituem	testemunhos	–	posterior-
mente	autorizados	pelos	concílios	da	Igreja	–	acerca	da	experiên-
93© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
cia	 religiosa	e	de	 fé	dos	primeiros	 cristãos	que	 são	documentos	
históricos	disponíveis	para	a	pesquisa	sobre	(1a)	as	origens	cristãs	
e	o	(2b) Jesus	Histórico.
A	possível	descontinuidade	do	estilo	de	alguns	desses	mate-
riais	 indica,	provavelmente,	maior	proximidade	entre	o	texto	e	a	
realidade	de	quem	o	produziu.	Consequentemente,	maior	 inser-
ção	no	processo	sociocultural	com	o	qual	estava	em	relação.	Re-
conhecendo	a	amplitude	desse	debate,	entendemos	que	mesmo	
em	fontes	não-canônicas	existem	vozes	do	passado	judaico-cristão	
que	necessitam	ser	ouvidas	a	fim	de	que	a	história	desses	movi-
mentos	religiosos	não	seja	contada	apenas	"de	cima	para	baixo".
O	estudo	das	fontes	valoriza	essas	vozes	e	experiências	re-
ligiosas	que	se	materializaram	por	meio	da	narrativa,	da	história,	
da	profecia,	da	poesia,	dos	hinos,	das	cartas	e	outros	gêneros	lite-
rários.	Paul	Thompson,	precursor	da	escola	da	história	oral,	que	
escreveu	The voice of the past. Oral history,	 de	1983,	 (A voz do 
passado. História oral)	 defendeu	 o	 valor	 das	 fontes	 orais	 como	
predecessores	à	escrita.	
No	caso	da	tradição	judaico-cristã,	jamais	teremos	acesso	a	
esse	tipo	de	fontes.	Mas,	eventualmente,	os	textos	não-canônicos	
como	os	pseudoepígrafos	e	chamados	"apócrifos"	podem	sinali-
zar	para	esses	"ecos"	do	passado,	por	meio	da	linguagem	que	em-
pregam,	dos	símbolos	e	 imagens	que	emprestam	do	 judaísmo	e	
do	cristianismo	e	que	frequentemente	recriam	e	atribuem	novos	
significados	às	histórias	que	estão	disponíveis	na	Bíblia	hebraica.	
Esses	usos	podem	lançar	luz	sobre	a	compreensão	do	movimento	
de	Jesus,	das	primeiras	comunidades	cristãs	e	da	redação	da	Bíblia	
judaico-cristã.
Por	causa	da	pluralidade	de	tradições	em	torno	de	Jesus,	mui-
tos	estudiosos	entendem	que	não	havia	apenas	"um"	cristianismo,	
mas	certamente	o	século	1º	conheceu	vários	"cristianismos"	pro-
piciados	pelo	espalhamento	da	tradição	dos	ensinamentos	de	Je-
sus	na	Palestina	e	regiões	próximas.	Nessa	ocasião,	houve	grande	
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efervescência	religiosa	que	originou	comunidades	com	tendências	
ortodoxas,	místicas,	 sapienciais	 e	 proféticas.	 Como	 foi	 dito,	 nos	
primeiros	anos	que	se	seguiram	à	morte-ressurreição-ascenção	de	
Jesus	não	havia	cânon	bíblico	fechado	que	norteasse	a	experiência	
dos	primeiros	cristãos.	
Para	Pablo	Richard	(1995,	n.	p.	)	existe:	
(...)	uma	falsa	imagem	da	origem	do	cristianismo	como	movimento	
único,	com	uma	só	estrutura	institucional	e	corpo	doutrinal,	onde	
a	diversidade	teria	vindo	depois.	Existiria	uma	unidade	e	ortodoxia	
primitiva	e	uma	dispersão	posterior	com	múltiplas	heresias.	Identi-
fica-se	unidade	com	ortodoxia	e	diversidade	com	heresia.	Tudo	isso	
é	contrário	à	realidade	histórica.	Desde	seus	inícios,	o	cristianismo	
apresenta	as	mais	variadas	tendências	e	surgem	os	mais	diversos	
modelos	de	Igreja	(...).	
Essa	 possibilidade	 de	 compreensão	 dos	 Evangelhos,	 assim	
como	de	outros	escritos	do	período,	tem	despertado	os	biblistas	
para	certo	fenômeno	que	se	acreditava	ser	típico	da	modernida-
de:	a	diversidade	de	interpretações.	Isso	implica	que	a	despeito	da	
noção	de	tradição	unívoca	que	a	Igreja	tem	buscado	sustentar	ao	
longo	dos	últimos	dois	mil	anos,	a	experiência	e	a	fé	cristã	dos	que	
crêem	em	Jesus	 têm	se	 revelado	mais	 fluidas	e	criativas	do	que	
objetivam	alguns	de	seus	líderes.
Isso	nos	leva	a	concluir	que	a	diversidade	de	grupos	cristãos	
em	torno	das	tradições	de	Jesus	é	algo	que	sempre	caracterizou	
a	projeção	do	cristianismo	na	história	da	humanidade.	Destarte,	
identificar	 diversidade	 na	 composição	 dos	 Evangelhos	 não	 com-
promete	a	 importância	desses	registros	como	fontes	do	período	
para	os	estudiosos,	tampouco	como	registros	de	fé	para	os	fiéis.
Texto complementar: Mitologia e estudo da Bíblia: o século 
19 e os começos –––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O estudo crítico dos mitos e a aplicação dos frutos deste estudo aos materiais 
da Bíblia Hebraica e do Novo Testamento (NT) começou muito antes do período 
moderno. Nos primeiros séculos, os Pais da Igreja começaram a deformar mitos 
religiosos como resultado da deificação de heróis de antigas culturas e alegorizar 
o que poderia ser visto como mito na Bíblia. Entretanto, a pesquisa se interessou 
pela mitologia que re-surgiu dramaticamente durante o curso do século XIX na 
95© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
Alemanha, na Inglaterra e em outros lugares. Assim, quanto ao estudo científico 
dos mitos, incluindo a possível presença de materiais míticos na Bíblia, é normal-
mente aceito que começou no século XIX.
Há diversas razões para o notável aumento na atenção dispensada à mitolo-
gia no século XIX, entre pesquisadores genericamente e entre pesquisadores 
bíblicos em particular. Primeiramente, os movimentos românticos deram ênfa-
se sobre um tipo de imaginação primeva com interesse ressurgido em função 
de antigas fontes de expressões poéticas da humanidade, incluindo, como dito 
acima, todos os antigos mitos. Segundo, alguns resultados iniciais tornaram-se 
avaliáveis a partir de uma intensa investigação histórica da Bíblia, que teve início 
no século anterior e que então dominaria o século seguinte atribuindo aos últimos 
cem anos o título de "século histórico". 
Estes resultados sugerem que muitas das histórias que encontramosna Bíblia 
Hebraica e no NT resultam não de um testemunho visual ou qualquer coisa pare-
cida, antes são resultado de um longo processo de tradições comunitárias. Este 
mesmo processo que é o responsável pela criação e preservação dos mitos, uma 
conclusão óbvia foi que mitos e tradições bíblicas poderiam ser estudadas frutife-
ramente juntas. Finalmente, este século presenciou a descoberta de um grande 
número de mitos extrabíblicos os quais eram muito similares a muitos incidentes 
bíblicos. Por exemplo, no final da terceira parte do século XIX, os pesquisadores 
puderam ler um escrito mesopotâmico sobre o dilúvio (agora se sabe que se trata 
de uma composição épica do Gilgamesh) que foi identificado em grande parte 
com o relato do Gênesis 6-9. Essas descobertas eventualmente forçaram os 
pesquisadores a reconsiderar o relacionamento entre mitologia e tradição bíblica.
Extraído de: Anchor Bible Dictionary, p. 945-947.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
9. Questões autOavaliativas
Confira,	na	sequência,	as	questões	propostas	para	verificar	
seu	desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 De	que	maneira	os	evangelhos	de	Mateus	e	Lucas	apresentam	interdepen-
dência	em	relação	ao	evangelho	de	Marcos,	considerado	como	termo	inter-
mediário?
2)	 De	que	modo	podemos	o	estudo	e	a	compreensão	da	formação	dos	sinóti-
cos	pode	contribuir	para	o	clareamento	das	origens	cristãs?
10. COnsiderações 
Compreendemos	 nesta	 unidade	 que	 o	 problema	 sinótico	
identificado	pela	crítica	literária	consiste	na	verificação	de	que	os	
Sinóticos	espelham	um	período	histórico	 importante	para	a	cris-
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tandade,	o	tempo	das	origens.	Todavia,	essa	projeção	não	foi	feita	
segundo	os	mesmos	padrões	de	escrita	e	as	mesmas	prioridades.
A	formação	dos	Evangelhos	deu-se	no	decorrer	de	um	longo	
período	e	envolveu	a	reunião	de	memórias,	de	tradições	orais	so-
bre	Jesus	e	seus	ensinamentos	e,	fragmentos	escritos.	Um	ponto	
comum	entre	pesquisadores	é	que	alguns	desses	materiais	foram	
compartilhados	e	que	Marcos	teria	sido	usado	tanto	por	Mateus	
quanto	por	Lucas.	Decorre	dessa	afirmação	que	Marcos	foi	ponto	
de	concordância	entre	os	demais	evangelistas	e	que	isso	ocorreu	
em	função	de	sua	proximidade	dos	anos	30	EC.
Lucas	e	Mateus,	portanto,	tiveram	mais	tempo	para	seleção,	
compilação	e	redação	de	seus	materiais.	Por	essa	razão,	a	escrita	
de	seus	textos	é,	às	vezes,	mais	detalhada,	com	descrições	porme-
norizadas	e	possíveis	acréscimos	típicos	do	trabalho	editorial,	cuja	
intencionalidade	primeira	é	enriquecer	o	material.
Conhecemos	o	inventário	de	fontes	escritas	apresentado	por	
Crossan	que	evidencia	não	apenas	a	cronologia	dos	escritos.	 In-
formação	importante	para	quem	estuda	o	Novo	Testamento.	Ten-
do	como	ponto	de	partida	 tal	 relação,	 intuímos	que	a	produção	
paulina,	a	circulação	de	suas	cartas,	a	recepção	desses	relatos	e	a	
impressão	que	tais	escritos	causaram	nas	comunidades	cristãs,	no	
mínimo,	despertaram	as	recentes	lideranças	cristãs	em	Jerusalém	
para	a	necessidade	de	fixar	espécie	de	tradição,	de	memória,	de	
biografia	de	Jesus,	de	modo	que	ele	 fosse	caracterizado	como	o	
Filho	de	Deus,	Salvador	e	Mestre.
Portanto,	 os	 Sinóticos	 são	 fontes	 do	 período	 que	 se	 pres-
taram	a	essa	 função:	materializar	por	meio	do	 registro	escrito	a	
história	de	 Jesus	e	de	 seus	 feitos.	 Tratava-se	de	uma	atitude	de	
documentação	das	origens	da	cristandade,	que,	mais	de	dois	mil	
anos	depois,	serviria,	também,	como	testemunho	da	experiência	
religiosa	e	da	fé	desses	cristãos.
97© O Problema Sinótico e as Origens Cristãs
11. E-REFERÊNCIAS
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Acesso	em:	13	nov.	2011.
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