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2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 8 FISIOLOGIA II AULA 3 – SISTEMA DIGESTÓRIO Fisiologia Gástrica INTRODUÇÃO A câmara gástrica é um segmento do sistema digestório, que tem a função de armazenar, misturar e regular a liberação do alimento para o duodeno. O estômago é dividido em fundo, corpo e região antral. Além disso, temos a presença de dois esfíncteres, o cárdia, na região esofagogástrica, e o piloro, na região gastroduodenal. FUNÇÃO MOTORA ARMAZENAMENTO O armazenamento do alimento ingerido é feito na região do fundo e na parte proximal do corpo do estômago. Quando o alimento chega até a câmara gástrica, temos o que chamamos de relaxamento receptivo do estômago. Basicamente, ocorre uma distensão da parede, pela redução do tônus muscular, através do reflexo vagovagal (aferência e eferência vagal), aumentando a capacidade de armazenamento do estômago. O reflexo vagovagal se dá através da chegada do alimento ao esôfago, pois nessa região existem ramos vagais, que promovem essa resposta do estômago. Graças a esse reflexo, o estômago tem a capacidade de armazenar o alimento sem aumento significativo da pressão intragástrica. MISTURA A partir da distensão da parede, na região situada na porção proximal do estômago, se iniciam as ondas peristálticas fracas, denominadas de contrações de mistura. Elas propiciam a mistura do alimento com as secreções gástricas, otimizando a digestão. As ondas peristálticas fracas aumentam de intensidade e de velocidade na região do antro, gerando potencial de ação peristáltico. Com isso, temos a formação de anéis constritivos que forçam o conteúdo em direção ao piloro. O piloro contrai-se rápida e abruptamente, formando ondas peristálticas antrais, chamadas de bomba pilórica, as quais ocorrem por estímulo do plexo de Auerbach e Meissner. A bomba pilórica, propele o quimo fazendo com que parte dele volte para a região do corpo do estômago e seja novamente misturada com o suco gástrico e triturada em porções menores. A esse mecanismo de mistura dá-se o nome de retropulsão. A contração peristáltica na região antral com o piloro fechado e a retropulsão do conteúdo gástrico, se repetem e propiciam a mistura e formação do quimo. O tempo que o quimo permanece no estômago, depende da composição química do alimento ingerido. As gorduras são as últimas a serem esvaziadas, seguidas pelas proteínas. CONTRAÇÕES DE FOME São contrações peristálticas rítmicas, que ocorrem no corpo do estômago quando ele fica vazio por várias horas. 2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 9 ESVAZIAMENTO A regulação da velocidade de esvaziamento gástrico é exercida pela região antropilórica e pelo duodeno. A gastrina é liberada pela mucosa antral do estômago e estimula as funções motoras e intensifica a atividade da bomba pilórica. O alimento com uma textura pastosa, passa pelo esfíncter pilórico em direção ao duodeno, com auxílio das contrações antrais. A mucosa do duodeno recebe sinais químicos, mecânicos e osmóticos, pela da chegada do quimo gástrico, os quais interrompem o esvaziamento do estômago, caso o volume de quimo seja excessivo, por exemplo. Os fatores gástricos e intestinais regulam o tempo de esvaziamento da câmara gástrica e do duodeno. Através do mecanismo de feedback: • Feedback negativo por reflexos nervosos enterogástricos: Os receptores do duodeno são sensíveis ao quimo ácido e com frequência bloqueiam a transferência adicional de conteúdo gástrico até que o quimo duodenal seja neutralizado. Além disso, produtos da digestão de proteínas também provocam reflexos inibitórios, garantindo tempo suficiente para a digestão adequada no duodeno. • Feedback negativo hormonal do duodeno: Hormônios, como a colecistocinina (CCK), podem inibir o esvaziamento gástrico, quando grande quantidade de quimo ácido ou gorduroso chegam ao duodeno. Resumindo, os mecanismos de feedback inibitório retardam o esvaziamento gástrico quando: • O volume do quimo no duodeno é grande. • O quimo é ácido demais. • Quando há muitas proteínas e gorduras não processadas. • Hipertônico ou hipotônico. • Conteúdo irritativo. FUNÇÃO SECRETORA O estômago possui glândulas gástricas (oxínticas) localizadas majoritariamente na parte mais proximal. São compostas por diferentes células responsáveis pelas secreções gástricas. Essas glândulas secretam ácido clorídrico (HCl), pepsinogênio, fator intrínseco e muco, os quais compõem o suco gástrico. Há também, glândulas no piloro chamadas de glândulas pilóricas, que secretam principalmente muco, gastrina e pouco pepsinogênio. SECREÇÃO DE ÁCIDO CLORÍDRICO Na membrana basolateral temos a bomba de Na+/K+ ATPase, responsável por fornecer energia para os transportes ativos. O metabolismo produz CO2, que forma H2CO3 instável, por ação da enzima anidrase carbônica, que se dissocia em HCO3 + H+. Quando a célula parietal é estimulada, a bomba de H+/K+ ATPase, secreta H+ para o lúmen em troca de potássio para a célula. Em seguida, o Cl- é absorvido pela célula na região basolateral, através do transporte ativo HCO3- /Cl- ATPase, que elimina o HCO3- para o plasma. O Cl- atravessa a célula e é liberado no lúmen passivamente, podendo reagir com o H+ e formar HCl. O HCl é importante para a transformação do pepsinogênio em sua forma ativa, a pepsina. Esse zimógeno, necessita de um pH muito ácido para se tornar funcional. REGULAÇÃO • Gastrina: É liberada na circulação sanguínea, pela célula G, e se liga aos receptores da célula parietal e estimula a liberação de HCL, ativando a bomba de prótons (Na+/K+ ATPase), a qual fornece energia para todas as outras proteínas de membrana. • Histamina: Também estimula a secreção de HCl, mas é liberada por outro tipo celular. • Acetilcolina: É um neurotransmissor secretado por neurônios vagais parassimpáticos, o qual estimula a células parietais, as células G e as células que liberam histamina. Age de forma direta ou indireta. 2 0 2 0 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 10 PROTEÇÃO DA MUCOSA GÁSTRICA A proteção da mucosa contra a extrema acidez do suco gástrico se dá pela ação do muco, bicarbonato e prostaglandinas (PGE2). O muco recobre toda a parede e protege contra a ação ácida, enquanto o bicarbonato faz controle do pH ácido estomacal. Já a PGE2 age na produção de muco, tornando-o mais gelatinoso. FASES DA SECREÇÃO GÁSTRICA • Fase Cefálica: Ocorre antes mesmo da chegada do alimento no estômago. É dada pela ação do estímulo antes da ingesta do alimento, como olfato, visão e a chegada do horário comum de alimentação. Eles agem no córtex cerebral e nos centros de apetite, depois são transmitidos via vagal até o estômago e contribui com a secreção gástrica. • Fase Gástrica: O alimento que está presente no estômago excita os reflexos vasovagais do estômago para o cérebro e de volta para o estômago, os reflexo entéricos locais e o mecanismo da gastrina, através do estimulo mecânico e pela composição química do alimento. • Fase Intestinal: A presença do alimento no intestino estimula a secreção, por parte do intestino, de inibidores ou estimuladores da secreção gástrica. SECREÇÃO DE ÁCIDO CLORÍDRICO As prostaglandinas inibem a liberação de ácido clorídrico. O uso de anti-inflamatórios afeta a produção de prostaglandinas, aumentando a acidez estomacal pela falta de ação inibitória dos hormônios na célula parietal. Adieta influencia diretamente na liberação desses hormônios com ação regulatória. Por exemplo, proteínas estimulam a ação da célula parietal. Além disso, a distensão do estômago estimula reflexos do sistema nervoso entérico local, liberando acetilcolina, e os reflexos vagais, liberando acetilcolina e GRP. Ambas estimulam as células G.
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