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Tesão volume 1

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A presa estremece enquanto é devorada, 
às pressas. 
Contudo, não consegue mais ficar calada, 
e confessa: 
“Quero seus dentes nos ossos. Ou nada!” 
 
 
 
 
 
RICARDO COIRO 
4 
QUARENTENA 
Medo da morte? Tenho, admito. Mas, ainda 
jovem, muito antes destes tempos plásticos 
infestados por coaches que espirram autoajuda e 
vendem a alma por likes, descobri que meu 
maior pavor é não viver até o talo, custe-me o 
que me custar. Desperdício, a meu ver, significa: 
perder chances de gozar das possibilidades deste 
fugaz agora. Bonito, né? Então tatue na bunda! 
Tenho me entregado às mãos do hedonismo 
desde os meus quatorze, quando, após uma 
festinha de aniversário regada a brigadeiros, 
empadas e Fanta, fui levado à parte mais 
fervorosa da Lapa por um primo mais velho, 
carioca da gema e sambista de carteirinha, 
daqueles que, cagando à moda, por causa de 
uma paixão incompreensível à maioria, vestem-
se de branco e usam chapéu bege pendendo a 
TESÃO – VOL. 1 
 
5 
um dos lados, escapando da cabeça, sempre 
ameaçando ir à lona. Pura malandragem. 
O cantor do boteco abafado e sua trupe 
sorridente mandavam Cartola, Melodia, Beth 
Carvalho, Bezerra, pedidos bregas de casais 
recém-picados pelo bichinho da paixão... Nunca 
vou me esquecer. A Lua parecia mais próxima da 
Terra, acobreada, aumentando de maneira 
proporcional à nossa euforia. Não havia brisa 
além da etílica; meu primo mamava uísque 
nacional, cowboy, e, vez ou outra, quando o 
garçom se afastava carregando dúzias e mais 
dúzias de pedidos na memória, deslizava o copo 
em minha direção para que eu desse umas 
bicadinhas. “Bebe que tu não é mais moleque, 
porra!”, ordenava; fazia o mesmo com o cinzeiro 
plástico sobre o qual repousava sempre um 
cigarro de filtro vermelho, e ria dos meus tragos 
curtos seguidos por acessos de tosse. Risada 
RICARDO COIRO 
6 
maquiavélica que é só dele, ainda é, e talvez do 
Satanás. Se é que podemos separar um do 
outro... Mas o foco desta confissão não é o 
Gustavo nem o Lúcifer: citei-os, apenas, para que 
entenda por que sou assim, um esganado por 
todas as chances de me lambuzar, eterno 
magnetizado por tudo quanto é tipo de prazer 
imediato, em especial aqueles que, a longo 
prazo, quem sabe ainda neste ano sinistro ― ou 
amanhã! ―, certamente me cobrarão um preço 
alto que não poderei quitar. Frituras, açúcar, 
industrializados, sedentarismo, erva, mulheres... 
É disso que eu falo. 
Só sei que eu já aceitei meus instintos, a 
torrente crônica de impulsos, e que após muitas 
falhas, cabeçadas na parede, murros em pontas 
de faca e sessões de terapia nas quais fui 
perfumado na esperança de comer a terapeuta, 
fartei-me de tentar domar a parte de mim que 
não pode ser contida por rédea alguma, muito 
TESÃO – VOL. 1 
 
7 
menos pelas tramadas com o couro da razão. Por 
essas e outras que, em meio ao pico da maior 
pandemia já vista pela humanidade desde a gripe 
espanhola, num período em que todos os 
cidadãos brasileiros ― exceto trabalhadores da 
saúde e segurança e outros classificados pelo 
governo como essenciais ― estão proibidos de 
sair de casa sem justificativa e autorização, num 
momento nebuloso em que voos nacionais e 
internacionais estão suspensos, bolei um plano 
para chegar à Florianópolis. Mesmo sabendo 
que, se for parado, estarei sujeito a multas 
altíssimas e, até, acredite se quiser, a ser preso; 
caso o oficial da polícia ou do exército ― tanques 
tomaram as ruas faz três semanas ― não vá com 
a minha fuça, o que é bem provável por causa da 
minha tendência à insubordinação, dos meus 
braços tatuados e da cabeleira que só 
abandonarei em caso de calvície irreversível, 
RICARDO COIRO 
8 
hipótese que me parece cada dia mais distante, 
já que tenho trinta e sete, e meu pai, que morreu 
com sessenta e nove, nem sequer tinha entradas. 
De volta ao presente, antes de lhe contar 
detalhes sobre o plano cuja execução eu 
pretendo iniciar ainda nesta hora, eu preciso 
falar um pouco a respeito da Larinha, minha 
prima de segundo grau e razão ― se é que tal 
palavra e a moça podem coexistir na mesma 
frase ― para que eu queira cruzar três estados 
em meio à segunda onda do coronavírus, que até 
pouco tempo era hipótese já descartada por 
especialistas de todo o globo. “O vírus não 
sofrerá mutações tão rápidas. Não a ponto de 
contaminar os sobreviventes da doença e os 
vacinados”, cientistas e infectologistas nos 
garantiram. Mas o vírus não deu ouvidos às 
previsões da ciência e voltou ainda mais 
devastador. Sacou? Eu também. No entanto, 
mesmo sabendo que a patologia agora tem 
TESÃO – VOL. 1 
 
9 
potencial de letalidade ainda maior, chegando a 
sessenta por cento em diabéticos e fumantes 
convictos como eu, não vejo nada mais 
importante do que ceder às provocações da 
Larinha que tiveram início tímido ― embora 
irreversível ― no casamento do meu irmão, no 
começo de 2020, um pouco antes de o país ser 
invadido pela primeira marola da desgraça 
invisível, quando sequer podíamos imaginar 
pessoas andando com máscaras pelas ruas, 
psicopatas por higiene manual com a pele dos 
dedos em carne viva. 
Só soube quem seria meu par, minha 
madrinha, minutos após chegar à igreja, ainda 
ofegante. E antes que você me pergunte: não, 
não me juntaram com a Larinha. Talvez, já 
prevendo faíscas: meu irmão sabe da minha 
queda por exemplares sardentos. Ele e todos que 
comigo conviveram mais de meia hora e alguns 
RICARDO COIRO 
10 
chopes. Sendo assim, acabei de braços dados 
com os brações de uma moça de costas largas e 
voz anabolizada, o exato tipo que não me 
endurece por nada. 
Já próximo ao altar, liguei meu radar, que 
após sondar um bando de mulheres sem sal 
ostentando penteados em forma de capacete e 
faces rebocadas por demãos de maquiagem, 
pousou numa das madrinhas que estavam do 
lado oposto à fila em que a cerimonialista me 
colocou. Eu já a tinha visto em fotos, e topado 
com ela num dos poucos natais em que 
conseguimos reunir toda a família Mattos. Mas, 
apesar das sardinhas salpicadas na medida em 
todo o rosto e do charmoso nariz de Uma 
Thurman já guardados em alguma gavetinha da 
minha memória faixa preta em fisionomia, não 
parecia se tratar da mesma pessoa: tinha deixado 
o casulo da inocência, estava imponente, 
confiante, ofensiva, coxuda... Parecia carregada 
TESÃO – VOL. 1 
 
11 
do poder que farejo de longe, a capacidade 
estritamente feminina à qual sempre acabo me 
curvando, mesmo quando finjo dominar e 
possuir absoluto comando na dança. Ela também 
me notou, vale dizer, e não fez questão de 
dissimular: apesar de estar ao lado do namorado, 
uma subcelebridade do Instagram, por vários 
minutos, quase ininterruptos, fez questão de me 
fitar. Nos olhos e também no corpo. Em alguns 
momentos, até, suspeitei que mirava o volume 
da minha calça social cinza. Mas eu ainda não a 
conhecia o bastante para ter certeza de que não 
se tratava de coisa da minha mente tarada e 
egocêntrica ― não esperava sinceridade? Pois 
acostume-se! 
Após nossa primeira centelha pecaminosa, 
porém, já no buffet, eu não a vi mais. Procurei-a 
por quase uma hora, perdi a maior parte dos 
canapés e a valsa dos noivos, até que, pelo meu 
RICARDO COIRO 
12 
irmão de voz já amolecida, fui informado que ela 
havia saído cedo, nem vinte minutos depois de 
chegar, quando eu ainda estava na igreja à 
espera de um Uber-tartaruga ― um senhor 
quase cego que só tinha feito doze viagens antes 
daquela. Ainda segundo meu irmão, a Larinha 
deixou o buffet discutindo com o namorado, 
puxada pelo braço, uma ceninha daquelas. 
“Será que ele percebeu a atitude dela e teve 
um ataque de ciúme?”, era a pergunta que 
ricocheteava em minha cabeça enquanto eu 
intercalava idas ao bar com visitas sorrateiras à 
mesa de doces, ainda não liberada oficialmente a 
ninguém, muito menos a diabéticos comoeu. 
“Será que ele percebeu a atitude dela e teve um 
ataque de ciúme?”, eu ruminava em looping, e 
soava como presunção, importunava feito farpa, 
massageava o ego, colocava pilha numa sucessão 
vertiginosa de projeções apetitosas das quais 
transbordavam línguas, uivos, mamilos eriçados, 
TESÃO – VOL. 1 
 
13 
tapas que marcam bem além da pele e fluídos 
corporais ácidos. 
“O mundo não gira ao seu redor, Rodrigo”, 
eu cheguei a repetir algumas vezes, com meu 
narigão de Adrien Brody ― vivem falando que eu 
me pareço com ele ― apontando a um reflexo já 
em desmanche e um pouco suado, tomado pela 
sensação de que eu não demoraria a ser atingido 
por um velho e embriagante conhecido: o tesão. 
E fui... 
Dois dias após o casamento, dando cara de 
sexta a uma segunda-feira infinita, veio a 
resposta ao direct que eu tinha enviado à Larinha 
já na prorrogação da festa, quando, no espaço 
com capacidade para mais de quinhentas 
pessoas, só havia eu, garçons bufando e um 
punhado de velhos bêbados implorando por mais 
uísque, mais Gloria Gaynor. 
RICARDO COIRO 
14 
“Eu quase não fiquei na festa. Entrei e saí. 
Meu namorado cismou contigo, acredita?”, ela 
respondeu. Punheta de primeira ao meu egão. 
“Acredito, claro. Um homão desses!”, enviei 
sem muito pensar. 
“Pior que é”, “hahahahahahaha” e carinhas 
amarelas de bochechas rubras. 
Não demoramos a mergulhar num mar de 
piadinhas de duplo sentido, gatilhos verbais que 
me incitaram a evocar a imagem dela na igreja, 
de vestido turquesa com fenda na coxa, baixando 
o olhar decidida, fazendo um raio X do recheio da 
minha única calça social, nem aí ao namorado 
que deve levar horas para arrumar o cabelo e ter 
nojo de chupar um cuzinho. 
“Homão em todos os sentidos?”, ela soltou 
após o papo dar muitas voltas. 
TESÃO – VOL. 1 
 
15 
E antes que eu achasse o tom, uma maneira 
de responder sem correr riscos de assustá-la ou 
ofendê-la, ela disse que precisava sair e me 
deixou apenas uma carinha amarela disparando 
uma piscadinha. De repente, voltei aos meus 
catorze: baixei a calça jeans e a cueca até os 
tornozelos, e, analisando as fotos praianas dela 
do Instagram, materializei-a em meu escritório, 
de quatro e empinadinha para mim, pedindo 
para fodê-la, lamber-lhe fundo na fenda, e 
também os seios, e para mordê-los, sugá-los, 
contorná-los em todos os sentidos e direções... 
Esporrei mesmo sem querer esporrar, querendo 
preservar um pouco do estímulo atômico que 
beirava a dor quando a imaginava ajoelhada para 
mim, dada aos meus caprichos e anseios mais 
primitivos, recorrendo à minha rigidez sincera 
para saciar-se e envaidecer-se, entregue ao pau 
RICARDO COIRO 
16 
até onde pudesse engoli-lo, suportá-lo, sustentá-
lo no estado mais animal. 
No dia seguinte, minutos após o ministro da 
Saúde anunciar o primeiro infectado pelo novo 
coronavírus no país e enfatizar a possibilidade de 
uma pandemia de proporções catastróficas até 
mesmo à economia, ela puxou papo, deu nova 
trela; ainda mais decidida e excitada, deixou de 
lado as frases dúbias e foi direto ao ponto: 
“Aposto que já bateu uma pensando em 
mim.” 
Fiquei sem respostas. Logo eu, sempre bem 
afiado, não esperava ler algo tão animador na 
sequência de uma notícia tão preocupante. O 
mundo prestes a desabar e o cacete inchando, 
virando um baita de um cacetão, cortando os 
circuitos do cérebro e pedindo por mais sangue, 
orifícios estreitos, quentes e úmidos. Um belo 
ato de otimismo, não acha? 
TESÃO – VOL. 1 
 
17 
“Como sabe?”, respondi. 
“E foi gostoso?”, ela emendou num tiro, 
como se já estivesse com a tréplica engatilhada, 
mostrando a verdadeira face. “O que imaginou?” 
“Prima!”, mandei. Fazendo papel de homem 
comportado tentando lutar contra uma tentação 
inaceitável, fingindo disposição a dar as costas às 
delícias inerentes ao proibido e imoral, a tudo 
que vivem nos dizendo para resistir, não fazer, 
deixar para lá, onde quer que lá seja. Exclamei 
certo de que cuspia gasolina em direção à brasa 
que, àquela altura, já me parecia incapaz de ser 
apagada por ações não terminadas em porra 
escorrendo e pernas fracas, em leveza passageira 
da alma e caixa torácica retumbante. 
“O que foi, primo? Me imaginou sentando 
em você?” 
RICARDO COIRO 
18 
“Prima!”, repeti. Como ela também já vinha 
fazendo, enfatizei nossos laços de sangue para 
tornar o enredo ainda mais excitante; insisti no 
teatrinho por ambos manjado para deixá-la em 
posse da garantia de que estava no caminho 
certo, atiçando-me, dando-me sinal verde para 
liberar aquilo que preciso enjaular quando estou 
na redação, no shopping ou em outro ambiente 
público. 
“Não só isso...” Já agarrado ao relevo em 
crescimento. 
“Ah é? Que mais?” 
“Imaginei-a de quatro num sofá de couro de 
sala de tevê, daqueles muito macios, sabe? 
Baixando sua calcinha bem devagar para fazê-la 
sentir o tecido atritando na pele, escorrendo 
pernas abaixo; daí, com você já escancarada para 
mim, vi-me beijando a parte de trás de suas 
coxas, mordiscando em várias intensidades, 
TESÃO – VOL. 1 
 
19 
lambendo da dobrinha da perna até a polpinha 
da bunda, fazendo movimentos circulares com o 
indicador e o dedo do meio...” 
“Onde?” 
“Você sabe.” 
“Fala!” 
“Na bucetinha.” Escrevi com “u” mesmo, 
coloquial, pois, apesar de o correto ser “boceta”, 
e de eu ser o chatão da língua portuguesa, acho 
anticlimático e me permito algumas licenças 
poéticas em prol de causas nobres. Também me 
recuso a usar “pepeca” e “piroca”, por exemplo; 
são engraçadinhas demais, infantilizadas. 
“Isso, assim que eu gosto, primo. Agora 
continua que eu tô passando a mão nela. Bem 
gostoso.” 
RICARDO COIRO 
20 
Então prossegui, e, segurando o pau que já 
latejava, subindo e descendo muito devagar, fiz 
com que ela se imaginasse ― com riqueza de 
detalhes e um quê de lirismo ― sendo bebida de 
quatro, arrebitada, com a barra do vestido da 
festa jogada sobre as costas; para que em vez de 
os próprios dedos sentisse minha língua em sua 
greta, que escorria de acordo com as breves 
autodescrições que ela fazia; breves porque 
estava ocupada demais se friccionando rumo ao 
merecido deleite, não por desinteresse. 
“Assim eu gozo, primo. Pega leve comigo.” 
Mas não peguei, fiz exatamente o contrário. 
Não é assim que teimamos em nos comportar 
desde sempre? Nada atiça tanto o tesão quanto 
o bom e velho joguinho de contrariedades e 
desobediências, especialmente se não podemos 
prever os limites da rebeldia, quando sentimos 
TESÃO – VOL. 1 
 
21 
que estamos sendo empurrados, à força, contra 
o delicado vidro de nossas morais. 
Contei como pretendia ― pretendo! ― usar 
os dedos para prepará-la ao falo, falange por 
falange, atento ao ritmo ditado pelas ofegadas; 
primeiro a pontinha não tão “inha” do indicador, 
brincando de provocar até o dedo todo acabar 
enterrado, daí o maior, o do meio. Então os dois, 
aliados, penetrando, entrando e saindo, saindo e 
entrando, entrando e saindo, estocando rápido e 
a deixando pouco a pouco, em slow motion; 
escorregadios, atritando só o necessário para 
estimular os gatilhos do complexo sistema do 
prazer; abrindo caminho, os grandes e fartos 
lábios, esquentando-a às minhas vontades e, 
claro, também às dela; afinal, os alicerces do 
meu prazer egocêntrico pedem demonstrações 
― teatrais não servem ― de que sou capaz de 
prover espasmos e arfadas, de garantir minha 
RICARDO COIRO 
22 
dose de êxtase as livrando dos questionáveis 
mandamentos que as impedem de realizar as 
fantasias que, mesmo no momento mais íntimo, 
quando se encontram trancadas no quarto sob o 
edredom, sentem-se culpadas por portar. 
“Se continuar assim eu não vou aguentar. 
Juro!” 
“Mas já? Eu nem lhe disse o que vou fazer 
depois.” 
“Ai... Fala logo... Não tô me aguentando 
mais. Não tem ideia do que tá fazendo comigo.” 
“Tenhocerteza de que vai gostar. Imagine 
só: os dois dedos fodendo fundo, e você, sem 
qualquer aviso prévio, é surpreendida pela língua 
pousando na bunda, só a pontinha; daí, já 
arrepiada, percebe que ela, como um pincel de 
passo lento e calculado, sem descolar do seu 
corpo que arqueia e se contorce, segue em 
TESÃO – VOL. 1 
 
23 
direção ao cuzinho, ao seu tabu. Os dedos 
entrando e saindo, aquele barulho de carne 
melada, de humanos nadando em felicidade, e a 
língua-pincel, decidida que só, chegando perto 
do cuzinho, quase nele. Então, já à beira de tocá-
lo, ela para. A meio centímetro. Nem isso. À 
margem do seu proibido. Tenho certeza de que 
você me puxaria pelos cabelos para continuar, só 
mais um pouco.” 
“Primo, não posso nem encostar em mim. 
Não tô zoando”, ela afirmou. 
Eu também estava muito sensível, com o 
pau pulsando, literalmente babando por ela, uma 
materialização do desejo mais lancinante do 
momento ― e de agora. Meia lambida bastaria 
para iniciar minha erupção branca. Até mesmo 
um sopro, acredito, seria suficiente para que 
qualquer um de nós explodisse no mais potente 
RICARDO COIRO 
24 
tremor de satisfação. Mas respirei bem fundo, 
larguei o pau que mirava o teto, e, decidido a dar 
o golpe que me colocaria para sempre como 
titular nas masturbações dela, escrevi: 
“Você não pode, mas eu posso, ué! E vou 
maltratá-la, tocá-la mesmo quando implorar por 
um tempinho, um segundinho para não gozar. 
‘Para um pouquinho... Ai... Só um tempinho, por 
favor!’, você me pedirá. Mas eu farei exatamente 
o oposto: vou esfregá-la, passar o pau na buceta, 
meter e tirar; porque a quero se debatendo, 
incapaz de conter gritos e pedidos sinceros. 
Quero sua boca, seus buracos e contornos, a pele 
marcada por tapas, dentadas, por tudo que eu 
quiser fazer para que, mesmo na minha ausência, 
morra de vontade de ser fodida. Não por 
qualquer um: por mim, seu primo. Quero meter 
gostoso, encaixar com jeitinho no cuzinho, 
arrombar até virar pedido de clemência e gana 
que a fará, numa reunião qualquer, perder o fio 
TESÃO – VOL. 1 
 
25 
da meada, cruzar as pernas, espremendo-as, 
querendo meu toque, a sonora colisão de minhas 
coxas contra sua bunda enquanto, por um rabo 
de cavalo, transformo-a na putinha que ama ser. 
Transformo-a, não: liberto-a para que seja quem 
deveras é. Sua própria putinha; minha putinha, 
de joelhos na calçada suja de uma rua pouco 
movimentada se eu quiser, com a boca aberta, 
pronta, salivando amedrontada, temendo ser 
flagrada em sua essência mais pura, e ansiosa 
pelos meus urros, pelo meu calor líquido e 
melado, pela certeza de que também me deixa 
extenuado, quase à beira da desidratação e, 
mesmo assim, querendo mais, mais pequenas 
mortes, as únicas coisas que batem de frente 
com o incômodo causado pela certeza da nossa 
finitude.” 
Ela gozou. Contou-me e depois me mandou 
uma foto dos dedos ligados por um fio da seiva 
RICARDO COIRO 
26 
que, se tudo der certo, logo provarei. E não 
parou por aí: enviou-me uma foto dela só de 
calcinha, entretida com um tablet, deitada de 
bruços numa cama redonda. De motel, acredito. 
Parte de um ensaio amador, talvez. É, talvez... E 
talvez tirada pelo influencer que, ao que tudo 
indica, em vez de preocupado em satisfazê-la, 
está focado em manter o baixo percentual de 
gordura e o ângulo do topete. 
Peguei pesado, eu sei. Não precisa me dizer. 
Mas, àquela altura, mesmo tomado por impulsos 
primais, pelo meu lado mais afoito e arredio, 
parte de mim agia pensando no depois, em 
prepará-lo com capricho, na real possibilidade de 
nossas peles se encontrarem e tudo que tinha 
sido escrito e imaginado acabar, também, no 
terreno da realização, onde o coice do prazer 
costuma ser mais perigoso e, justamente por 
isso, mais memorável. O que rala sempre é mais 
valioso. O virtual ainda precisa remar muito para 
TESÃO – VOL. 1 
 
27 
chegar aos pés daquilo que só é possível com 
conexão real, engate com calibre para terminar 
em divórcio ou, até, em crime passional, desses 
que só parecem absurdos a quem não está 
envolvido e assiste a tudo de fora, num dos 
muitos programas sensacionalistas voltados à 
audiência-urubu cuja felicidade se nutre da 
carniça alheia. 
De volta ao presente, agora que já sabe da 
Larinha e de tudo que ela me causa, vamos ao 
plano: terminarei o café e o cigarro e pegarei a 
estrada rumo a Floripa. Em oito horas, se tudo 
der certo, estarei lá. Não contei a ela que vou e, 
devido à situação atual, à ordem repetida à 
exaustão para ninguém sair de casa, sei que a 
surpresa terá maior impacto. 
Como sei onde ela mora? 
RICARDO COIRO 
28 
A real é que eu só sei o bairro: Campeche. 
Como descobri? Ainda não percebeu quanto as 
pessoas se expõe nas redes sociais? Pois comece 
a observar. Melhor ainda: preocupe-se, exponha-
se menos, nunca subestime a maldade existente 
fora das cercas embandeiradas que separam seu 
quintal do resto. 
Eu até estava cogitando pedir o endereço 
dela, dizer que mandaria um presente ou algo do 
tipo, mas, mas, mas... Muito manjado, não acha? 
Eu tenho certeza. E mesmo sabendo que, sem 
dar avisos, correrei riscos além dos ligados à 
pandemia e às autoridades, resolvi que será 
assim, com dose tripla de emoção, do jeito que 
eu gosto. E já que mencionei as autoridades, eis a 
carta na manga que bolei para lidar com elas 
caso eu seja parado em alguma blitz: criei um 
documento em nome do jornal em que trabalho, 
uma carta em papel timbrado e tudo com a 
assinatura ― falsa, lógico! ― do Rubão, meu 
TESÃO – VOL. 1 
 
29 
diretor, na qual “ele” explica minha designação 
para cobrir um estudo pioneiro que está sendo 
feito na ilha, numa área lotada de startups, com 
o intuito de testar um aplicativo capaz, entre 
outras coisas, de mapear os contaminados em 
tempo real e, com isso, evitar novos contágios. 
Se vai funcionar, eu não sei. Mas me pareceu o 
melhor dos planos. Então vambora! 
Bolo seis finos ouvindo, no repeat, The 
Harder They Come no timbre nicotinoso do Keith 
Richards. Aperto bem a erva dentro da seda me 
sentindo num filme, uma versão mais amassada, 
nariguda, magrela e maconheira do 007; feliz por 
não ter as travas inúteis da maioria, que costuma 
bater as botas portando vontades não realizadas 
por covardia, por falta de coragem para dar o 
primeiro passo. Pensando bem, agora com os 
baseados já dentro do maço de Marlboro, o que 
me falta, de fato, talvez seja o interruptor da 
RICARDO COIRO 
30 
autopreservação, o que deve ser reflexo da 
minha descrença em vida após a morte. Não 
entendeu? Para mim, morrer é como ser sedado 
numa endoscopia, com a diferença de que, 
depois da endoscopia, você acorda. Ponto. Ponto 
final. 
Acho o Time Out of Mind, do Dylan, num 
pen drive povoado por discos geniais; pulo direto 
para Not Dark Yet, acendo o primeiro cigarrinho 
da Jamaica e deixo a garagem atento às ordens 
do Waze. Segundo ele, estarei no Campeche em 
sete horas e cinquenta e cinco minutos. 
Oito horas, alguns minutos e muitos tragos 
depois... 
Cruzo a ponte que dá acesso à ilha. Não há 
muitos carros na estrada. Apenas caminhões, 
mascarados com o cotovelo saindo da janela, 
prestadores de serviços considerados essenciais, 
gente que transporta nossa comida, a sujeira que 
TESÃO – VOL. 1 
 
31 
fazemos, remédios e o tanto que insistimos em 
achar que precisamos por causa de comerciais de 
TV e influenciadores de redes sociais. Ainda está 
escuro, mas, à minha direita, saindo de um mar 
sem ondas nem faixa de areia, vejo os primeiros 
sinais do Sol que, de acordo com o aplicativo de 
previsão climática, acordará em vinte minutos. 
Uma bola de luz arroxeada ganhando espaço no 
breu. 
De SP até SC, por várias vezes cruzei com 
barreiras policiais, e também com uma muralha 
militar que mais parecia estar lá para capturar 
terroristas envolvidosno atentado de onze de 
setembro. Mas não fui parado nem preso nem 
torturado, como já deve imaginar. Fitei os oficiais 
nos olhos, convicto da minha inocência, certo do 
valor desta missão. Se não fosse ateu, atribuiria 
meu sucesso a Deus, a uma mão invisível abrindo 
rotas à realização dos meus pecados. Foi apenas 
RICARDO COIRO 
32 
sorte, porém. Como sempre. Sorte nesta imensa 
roleta chamada vida. Sorte minha e, claro, do 
meu pau. Afinal, se eu sou protagonista desta 
história que você acompanha em tempo real, por 
mais estranho que possa lhe parecer, não posso 
deixar de dizer: ele é protagonista da minha. 
Agora, quem segue comigo é o Neil Young. 
Não consigo ouvi-lo e não pensar em cavalos; 
soltos, em planícies e cânions do tipo que pouco 
temos em nossa terra. Penso neles, musculosos e 
brilhosos, nos poucos que ainda não perderam o 
que têm de mais valioso, bichos que não foram 
domesticados, que não conhecem as toneladas 
da sela e do arreio; e sinto inveja, pois, mesmo 
ciente de que sou mais livre do que a maioria, 
não me considero ingênuo o bastante para crer 
que sou totalmente, como os cavalos que ainda 
não se encontraram com os homens. Ou melhor: 
que por eles ainda não foram achados, e apenas 
vivem, dia após dia, para estancar necessidades 
TESÃO – VOL. 1 
 
33 
primárias: cagar, mijar, esporrar, comer, dormir... 
Cavalos que não perdem o sono à procura de 
propósito ou respostas ao que simplesmente não 
tem, que não passam vidas desejando carreiras 
em multinacionais nem corpos diferentes, que 
não tentam entender por que alguns têm câncer 
e outros acabam atirados a abutres e vermes, 
incapazes de erguerem o peso do próprio corpo 
por causa de um simples escorregão numa fenda 
escondida no pasto. Ambulance Blues, minha 
crina esvoaçante devido ao vento que entra pelas 
quatro janelas, ar puro de litoral apesar do vírus 
que parece decidido a ficar. 
Paro num posto para matar a larica, atrás de 
uma coxinha bem gordurosa, mas a conveniência 
está fechada. Peço um pacote de salgadinho ao 
frentista de máscara e luvas e encho o tanque. 
Sigo até o Campeche e estaciono em frente a 
uma casa que tem uma ovelha no quintal. Quem 
RICARDO COIRO 
34 
é o doido que tem uma ovelha de estimação? 
Devoro a batata sabor barbecue, fumo a metade 
restante do fino que acendi para comemorar 
minha passagem pela barreira antiterrorismo e, 
na companhia da tesônica PJ Harvey (Rid Of Me), 
aguardando um horário decente para mandar a 
primeira mensagem à Larinha, penso na última 
vez em que fodi na praia e no quão gostoso é 
trepar ao ar livre, com o sol esquentando a pele, 
o suor escorrendo dos poros, tudo escorregadio, 
grudento, viscoso. Foi com uma das minhas ex-
namoradas, na remota época em que eu ainda 
possuía sonhos padrões, como casar, ter filhos e 
labradores babões. Estávamos na Barra do Sahy, 
numa ilha que fica a poucos quilômetros da 
costa. Era nossa segunda viagem e ainda havia o 
fogo que tende a acabar em relações longas, 
quando a coisa se torna paternal, maternal, 
previsível, quando a entonação dos gemidos já 
foi muito escutada e o ineditismo que move o 
TESÃO – VOL. 1 
 
35 
tesão já não pode mais ser resgatado nem por 
fantasias, nem por pintos de borracha, nem por 
personagens extras topando participar das fodas. 
Estávamos sozinhos na ilha, captando os últimos 
suspiros do astro-rei. Ela tirou a parte de cima do 
biquíni. Despiu-se e sorriu. Não resisti àqueles 
seios simétricos e pontiagudos, à marquinha 
recém-adquirida naquelas férias movidas por 
muito haxixe, trepadas e lula à dorê. Comecei a 
chupá-los com medo de sermos flagrados, tenso, 
fingindo estar apenas repousando no ombro 
dela, recuperando-me de alguma mazela. Depois, 
porém, já com o paladar salgado e amargo por 
causa do potente bloqueador que ela passava à 
toa, apesar da cor de Camila Pitanga, passei a me 
lixar à chance de nos pegarem sendo felizes num 
fim de tarde de verão. Menos de meia hora para 
a chegada do barqueiro incumbido de nos levar 
de volta à cidade e eu estava de bunda colada a 
RICARDO COIRO 
36 
uma pedra porosa, mais de dois terços submersa, 
segurando a moreninha pela cintura, impondo o 
ritmo das quicadas dela; ambos de frente à praia 
pequena em formato de ferradura salpicada de 
pontinhos coloridos. Foi a primeira vez em que a 
chamei de piranha, e a cara que ela fez bastou 
para eu chamá-la de cadela, vadia, puta... Para 
não hesitar em aumentar a força dos tapas 
enquanto ela me chamava de filho da puta e 
pedia mais. Usei a parte de cima do biquíni de 
mordaça, cravado bem no fundo da boca, e 
mandando-a ficar quietinha, abrindo a bunda 
para socar tudo que dava, finalmente entendi o 
que Philip Roth quis dizer com “Pois no sexo não 
há um ponto de equilíbrio absoluto” ― procure o 
parágrafo todo no Google. Gozei com o pau 
enterrado no cu dela, mandando-a calar a 
boquinha e rebolar, de olho no barquinho que 
crescia em nossa direção. Poucos minutos depois 
ele ancorou e eu pisei num ouriço. Mas isso fica 
TESÃO – VOL. 1 
 
37 
para outro capítulo, né? Afinal, essa lembrança 
me deixou com um puta tesão e já está na hora 
de mandar mensagem à Larinha. 
“E aí, o que anda fazendo?”, envio. 
“O mesmo de ontem e anteontem e antes... 
Comendo sem parar, treinando em casa para não 
virar uma baleia, fazendo vídeochamada com o 
namorado, torcendo por vacina, remédio, fim da 
quarentena.” 
 “Tédio, né?” 
“Muito.” 
“Então tire a roupa e deite na cama.” 
“Já tá querendo me tentar.” 
“Já deitou?” 
“Calma, seu tarado.” 
RICARDO COIRO 
38 
“Deitou?” 
“Aham... Peladinha. E agora, primo, o que 
quer que eu faça?” 
 Então mando um áudio pedindo para ela se 
imaginar chupando meu pau enquanto outro 
homem a chupa. “Consegue sentir a boca dele 
em você, a barba dele raspando na parte interna 
de suas coxas, o clitóris sendo pressionado pela 
pontinha da língua em todos os ângulos e 
intensidades?”, pergunto. “E o gosto do meu pau 
grosso, consegue sentir? Então escolha uma mão 
e chupe os cinco dedos dela de uma vez. Coloca 
tudo na boca pensando que sou eu, seu primo, 
duro por você.” 
“Delícia”, ela responde. Por áudio. 
“Se estivesse com cinco dedos na boca não 
conseguiria falar, não acha? Então chupe como 
vai fazer com meu pau, encha a boca. Chupe, sua 
TESÃO – VOL. 1 
 
39 
putinha! Bem direitinho, deixando bastante baba 
escorrer”, ordeno. 
“Afim?”, ela pergunta. Está chupando como 
eu mandei, falando de boca cheia. Por isso o efe 
em vez de dois esses. 
“Isso... Agora eu quero que você coloque 
um vestido. Bem curtinho. Sem nada por baixo.” 
 “Ai... Mas tá tão bom assim, sem nada, 
enfiando o dedo na bucetinha bem molhadinha, 
me imaginando com seu pau na boca. Tudinho!” 
“Coloque o vestido e me dê seu endereço.” 
“O quê?” 
“Já colocou?” 
“Mas por que quer meu endereço?” 
“Faça o que eu tô mandando.“ 
RICARDO COIRO 
40 
“Ai meu Deus... Por que tá falando isso?” 
“Mande seu endereço e coloque o vestido 
mais curto do seu armário.” 
Por segundos, temo que ela não responda, 
que tenha ficado assustada, travado, que não 
seja a mulher corajosa que aparenta ser. Mas 
logo recebo uma rua seguida de um número. 
Nem cinco minutos daqui. 
“É prédio?” 
“É.” 
“Então pode descer.” 
“Ficasse louco?” 
“Não. Mas tô aqui.” 
“Tá zoando, né?” 
“Prédio de tijolinho, portão verde.” 
TESÃO – VOL. 1 
 
41 
Ela caminha em direção ao carro ainda sem 
conseguir digerir o que está acontecendo, não 
consegue disfarçar que foi pega desprevenida. 
Está deliciosa num vestido mínimo, florido e bem 
soltinho. Puxa-o para baixo logo após sentar, 
demonstra um decoro que logo sumirá. 
“Ficasse louco, não acha?”, ela me pergunta 
depois de um beijo na bochecha. Ainda parece 
desnorteada. 
Por alguns segundos, num breve lapso de 
sanidade, penso em tudo que estou fazendo, nas 
regras rompidas,nos múltiplos riscos, nas minhas 
prioridades neste momento tão delicado... Mas o 
princípio de preocupação com culpa se desfaz 
quando direciono a visão às coxas dela, cruzadas, 
lindas, naturais, muito diferentes das toras que 
tenho visto em saídas de academias. 
RICARDO COIRO 
42 
Ela me pergunta meu plano e eu respondo 
com um beijo. You Want It Darker é a trilha. 
“Aqui não”, ela diz se desvencilhando. Pede 
que eu ligue o carro. 
Rodo algumas quadras à frente e ela me 
pede para encostar. 
“Aqui tá bom.” 
Nem bem encosto o carro sob uma árvore, 
em frente a um terreno baldio, e ela já se joga 
em mim. Agora sim a moça do casamento e das 
mensagens, a fêmea decidida que tem sido 
protagonista de todas as minhas esporradas 
solitárias. As línguas começam a se explorar 
devagar, intercalando trançadas com chupadas 
nos beiços. Mordidinhas aparecem. A principio, 
indolores. Inofensivas. Até gentis. Mas a sede 
não demora a aumentar e os dentes e línguas se 
tornam mais afoitos, quase raivosos. E as mãos... 
TESÃO – VOL. 1 
 
43 
Bom... Elas também se libertam: toco os seios, 
livres da prisão dos sutiãs, por cima do vestido; 
as unhas rosadas dela arranham minha coxa, 
bem perto do pau que já implora para deixar a 
calça jeans gasta que um dia foi preta. 
Pulo ao pescoço, como o mamífero alado 
culpado por ter começado a transmissão do vírus 
que atordoa o planeta. Sugo um pouco abaixo da 
orelha, esbarrando com o narigão no pendente 
turquesa de um brinco dourado; desço um 
pouco, milímetros, repito a sucção, baixo mais 
um tanto, sem separar os lábios da pele fina e 
quase transparente, e sugo de novo, agora um 
pouco mais forte embora ainda incapaz de deixar 
marcas. “Ai”, ela sussurra, tão baixo que não sei 
se é só coisa da minha cabeça. A Thousand 
Kisses Deep. 
RICARDO COIRO 
44 
Os mamilos marcam o tecido fino do vestido 
estampado ― flores e costelas-de-adão ―, dois 
botões aos quais é impossível resistir: aperto-os, 
os dois de uma vez, forte o bastante para que ela 
perceba minha inclinação à quebra abrupta de 
limites. Agarro os seios, que somem em minhas 
mãos; junto-os desejando meu pau abraçado por 
eles. Puxo uma das alças do vestido para fora do 
ombro enquanto travo meu olhar no dela e 
sorrio de canto de boca. Faço o mesmo com a 
outra alcinha, com a fita de tecido que impede o 
vestido de cair. Mas puxo bem devagar, ainda a 
encarando e sorrindo à la Elvis. “Continua...”, ela 
diz quase sem emitir som, sopra as palavras. 
Reduzo ainda mais a marcha do dedo, arrastando 
lentamente a alça à beira do ombro, até o 
vestido escorregar e o busto sardento e áspero 
de arrepio aparecer. O busto e os mamilos que, à 
mostra, parecem ainda mais perfurantes. Passo a 
língua num deles, circulando-o como se quisesse, 
TESÃO – VOL. 1 
 
45 
com saliva, repintar a aréola rósea; aí toco o 
mamilo de baixo para cima e vice-versa; vou ao 
outro, chego chupando, mamando, engolindo-o 
e, também, o seio; e deixo uma dose de saliva 
escorrer sobre ele, um pequeno riacho que corre 
em direção ao mamilo, agora ameaçando pingar. 
Mas não permito, recapturo meus líquidos com 
uma grande lambida que começa no Chuí do 
peito e sobe, varando o pescoço, até encontrar, 
de novo, com os lábios dela, e neles fico só o 
tempo suficiente para fazê-la precisar de mais, 
então escapo de repente, deixando-a, apenas, 
com meu indicador fugidio tateando os quase 
imperceptíveis sulcos dos beiços, acariciando o 
queixo, provocando-a, incitando-a a abocanhá-lo. 
Ela me segura pelo pulso e coloca o dedo na 
boca. Chupa o indicador comprido ao passo que, 
com os dedos pequenos, tenta envolver o pau 
RICARDO COIRO 
46 
por cima da calça. Sinto o botão e zíper abrindo, 
e, em seguida, a mão dela sacando o pau. 
Dou partida e arranco com tudo. Seguro o 
volante com a esquerda e, com a direita, usando 
o dedo em que ela mamou, encontro-me pela 
primeira vez com a bucetinha dela. Macia. Lisa. 
Carnuda. Quente. Melada. Muito melada. Está 
assim por mim, para mim, e nada parece capaz 
de me endurecer mais. 
Ela me pergunta aonde estamos indo, por 
que saí. Punhetando. 
“Vou te comer na praia.” 
“Pirasse?” 
Não respondo. Apenas continuo a dedilhá-
la, acelerando em direção a um emaranhado de 
arbustos que, se minha capacidade de raciocínio 
ainda estiver com alguma funcionalidade, abriga 
uma das entradas à praia. 
TESÃO – VOL. 1 
 
47 
Meto o carro nos arbustos, mais da metade. 
“Maluco”, ela afirma. 
Há uma trilha que leva à areia. Um caminho 
onde os raios solares quase não entram devido à 
vegetação densa. Fico apenas de cueca e saio do 
carro. 
“Você não vem?”, pergunto. 
Ela parece não acreditar na cena, mas repõe 
o vestido, suspira fundo e desce. Descalça. Vira o 
pescoço para todas as direções. Não há ninguém, 
porém. Muito menos nesta trilha úmida onde, 
mais uma vez, começamos a nos beijar. Beijo que 
começa normal, um de frente ao outro, mas que 
acaba comigo por trás, segurando-a, com apenas 
uma mão, pelos pulsos; ela agarrada ao galho 
tortuoso de uma arvorezinha e eu a beijando na 
última e proeminente vértebra da coluna. Roço o 
RICARDO COIRO 
48 
pau na bundinha que reage empinando, dando ré 
para me sentir mais, pedindo-me dentro. 
“Quer que eu te coma, putinha?”, pergunto 
dentro do ouvido, agachando alguns centímetros 
para esfregar o cacete na buceta. 
“Quero... Come...” 
“Aqui?” 
“Aqui”, responde tentando se desvencilhar 
das mãos que a prendem. Mas eu não permito, 
e, enfiando um dedo nela, provoco: 
“Mas eu sou seu primo, não posso colocar 
meu pau aqui.” 
Ela solta todo o ar pela boca e arrebita ainda 
mais o rabo. Projeta o corpo para trás, descola os 
calcanhares do chão. 
Tiro o pau da cueca e começo a bater na 
fenda dela, de baixo para cima, forte. Um dos 
TESÃO – VOL. 1 
 
49 
ruídos que mais amo. Depois do som dos riffs 
nada ortodoxos do Johnny Marr, claro. 
“Isso que você quer, não é, putinha? Não é 
priminha?” 
“É.” Quase sem força. 
Coloco só a cabeça. Entra fácil. Tiro. 
“Deixa”, ela pede. 
A cabeça e mais um pouco. Tiro. 
“Põe tudo, caralho!”, ela manda, solta-se 
das minhas mãos com um puxão e, pela cueca, 
com a mão que não mantém apoiada à árvore, 
puxa-me contra ela. Metade do pau dentro e ela 
fazendo toda força do mundo para eu não tirá-lo. 
Não dá mais para seguir com o jogo que inventei: 
segurando-a pela cintura, deixo tudo entrar. 
RICARDO COIRO 
50 
“Assim”, ela afirma aliviada, com a lacuna 
finalmente preenchida. “Continua...” 
Continuo... Com uma mão agarrada ao seio, 
aumento um pouco o ritmo, deixo o pau entrar 
inteiro, o saco bater na bunda, aí eu recuo quase 
tudo, sem deixar o caralhão escapar. Estou me 
segurando para não encher a bucetinha de porra, 
estapeando a bunda. 
“Mais forte, caralho!”, ela pede. 
Não sei se fala dos tapas ou se quer ser 
comida com mais vigor. Na via das dúvidas, bato 
mais, meto mais, tudo mais intenso. 
“Quer um pouquinho no cuzinho, quer?”, 
pergunto. 
Mas ela não aguenta esperar e estrebucha 
testando a elasticidade de minha boxer branca e 
espremendo o galho da árvore que transformou 
em apoio. Começa em tom contido, mas acaba se 
TESÃO – VOL. 1 
 
51 
permitindo, ecoando nesta ilha deserta. Depois 
fica um tempo em silêncio, retomando o fôlego. 
Vejo a caixa torácica inflar e murchar repetidas 
vezes. Então ela ajoelha no chão de terra fria e 
escura e coloca o pau entre os lábios. Aviso que 
vou gozar e ela não para de me abocanhar. 
Limpa a única gota que escapou em minha cueca. 
Seguimos a trilha até a praia, nem dois 
minutos de caminhada. Ela também parece se 
sentir imbatível agora. 
“Não quer voltar ao carro para pegar suas 
roupas?”, ela pergunta. 
“E qual a diferença entre sunga e cueca?” 
Sentamos na parte fofa da areia, com as 
costas apoiadas num banco de areia que parece 
ter sido esculpido sobmedida às nossas costas. 
RICARDO COIRO 
52 
Além de nós, apenas algumas aves e um cachorro 
vira-lata. “Bucica”, segundo ela. 
Dou um pique ao carro para pegar meu 
cigarro. Volto com o coração na boca. Fumo um 
Marboro e, na sequência, aproveitando a brasa 
da bituca, acendo um beckão. Ela me pede um 
peguinha, diz que não fuma muito, que às vezes 
bate errado. 
“Nada vai bater errado hoje”, afirmo como 
se pudesse controlar tudo. 
“Só mais unzinho”, ela diz, e puxa fundo. 
Solta a fumaça que se mistura à brisa fresca que 
vem do mar. 
Nem eu acredito que estou aqui, realizando 
o sonho de muitos tarados e “quarenteners” ― é 
assim que os prisioneiros domiciliares têm sido 
intitulados nas redes sociais. A cabeça de cima 
voltou a funcionar, a transa me tirou do transe... 
TESÃO – VOL. 1 
 
53 
Estou em Florianópolis, acabei de comer minha 
prima. O país sendo engolido pela porra de um 
vírus e eu de cueca na praia queimando um 
verdinho e tentando entender por que alguém 
chama vira-lata de bucica. Sem saber se volto 
hoje, se fico até tudo ruir de vez, se abro uma 
cerveja e saio para procurar um lar sem mofo por 
aqui. 
“No que tá pensando?”, ela pergunta para 
me resgatar de um longo devaneio. 
“No depois.” 
“Depois do quê? Do corona?” 
“Não... Depois daqui.” 
“Depois daqui a gente pode ir pra minha 
casa, tomar um banho, pedir um xis.” 
“O que é isso? 
RICARDO COIRO 
54 
“É um lanche. Parece um hambúrguer, mas 
bem maior e prensado. Tem vários recheios, até 
coração de galinha. Acho que é coisa de gaúcho, 
não sei direto.” 
“Hum... Parece uma boa.” 
Pensando num espeto repleto de corações, 
em tudo que como sem contar ao cardiologista, 
ignorando o fato de que meu pai também passou 
a vida ignorando e acabou como acabou, às 
vésperas de completar setenta. 
“Mas você vai ter que entrar escondido, os 
porteiros conhecem o Jonas”, ela diz, resgata-me 
da sessão de autoanálise. 
“Tudo bem, eu deito no banco de trás.” 
Ela acha arriscado, diz que os porteiros são 
fuxiqueiros e me coloca no porta-malas. Sorte a 
minha que tenho um Sedan. Ela também me 
pede para subir pela escada de incêndio, onde, 
TESÃO – VOL. 1 
 
55 
segundo ela, não há câmeras. Volto a me sentir 
um 007 junkie e safadão. 
Uma buzina. Tudo ainda mais escuro neste 
caixão móvel onde testo minha flexibilidade. 
Freio de mão puxado. “Como destravo o porta-
malas?” Sou libertado e, por trás de uns carros, 
conduzido até a porta de ferro da escada. Ela 
sobe primeiro e vou atrás pensando em tudo que 
ainda posso fazer com aquela bunda redondinha. 
O apartamento é pequeno, mas bem arrumado. 
Tudo no devido lugar, não tem livros e canecas 
vazias por toda parte como no meu. Cozinha 
americana, balcão e banquinhos amarelos de 
madeira, facas e panelas coloridas penduradas 
sobre a pia. Na varanda gourmet, uma adega 
com seis vinhos e uma hortinha vertical com 
algumas plantinhas que não dão barato algum. 
Porta-retratos. Ela e o cornudo. Ela criança e o 
RICARDO COIRO 
56 
tio-avô que nunca conheci. Ela adolescente numa 
pose cafona de book. 
Pergunto onde é o banheiro, não sei há 
quanto tempo não esvazio a bexiga. Nossa, que 
alívio! 
O sabonete líquido tem cheiro de alguma 
fruta exótica ― lichia? ―, dessas que custam um 
rim no Pão de Açúcar, do tipo que a gente só leva 
até o caixa. Da vontade de passar no corpo todo. 
Encaro-me no espelho de borda iluminada, 
daqueles de camarins, e fico com a sensação de 
não combinar com tudo isso, de ser o objeto fora 
do lugar neste universo limpo, claro e ordenado. 
“Gosta de espaguete com frutos do mar?”, 
ela me pergunta assim que eu saio do banheiro 
enxugando as mãos na calça. 
“E quem não gosta?” 
“Então farei para nós, pode ser?” 
TESÃO – VOL. 1 
 
57 
“Claro”, respondo. Feliz e triste ao mesmo 
tempo. Confuso. Feliz porque carboidratos e 
frutos do mar nunca são demais; triste por ter 
acabado dentro de um quase namoro relâmpago, 
algo que me lembra dos domingos padrões com 
minhas ex. Saca? Só falta ela me sugerir um filme 
e depois começar a fazer planos para o Réveillon. 
Temo que a próxima frase seja: 
“O que acha de Noronha?” 
Por sorte, ela apenas me oferece um vinho 
branco e abre uma garrafa de Pinot Grigio. 
“A nós”, fala depois de bater a taça contra a 
minha. 
Volto ao modo preocupado. Talvez seja a 
hora de inventar algum esquecimento, qualquer 
treco para pegar no carro. Mas ela acabou de 
tirar camarões, lulas e mariscos do congelador. 
RICARDO COIRO 
58 
Parece até que estava me esperando. Afinal, se 
fosse o contrário, minha pergunta a ela seria: 
“Prefere Miojo de galinha caipira, legumes 
ou uma mistura dos dois com requeijão?” 
Então decido ficar. Pelo menos até depois 
do almoço. 
“De sobremesa teremos sorvete de doce de 
leite, o que acha?” 
“Acho perfeito”, digo. E sou subitamente 
tomado pela imagem dela chupando meu pau 
todo lambuzado com essa bomba de açúcar e 
gordura. Deve ser gostoso enfiá-lo no pote e 
depois deixá-la limpar. No pote e na boca dela, 
no pote e na boquinha, no ― 
 “Ei... Tá viajando?”, ela me interrompe. 
Resolvo dizer a verdade: 
TESÃO – VOL. 1 
 
59 
“Imaginei-a me chupando, sorvete de doce 
de leite no pau.” 
Ela deixa a taça sobre o balcão e ajoelha à 
minha frente. 
“Pode ser sem doce de leite?”, pergunta 
olhando para cima, tirando meu pau semipronto. 
Aí todo o medo de criar vínculos, de ela 
estar confundindo as coisas e querer mais do que 
posso dar, liquefaz-se, funde-se à saliva dela. 
“Não existe nada melhor do que um boquete”, 
concluo apoiado ao balcão. Sei que é raso, que 
não vai salvar o mundo. Mas é o que eu penso, 
oras. 
Por enquanto, ao menos, minha vontade é 
ficar, morar na boca dela, convencê-la a me 
deixar meter o pau no pote e no cu. E isso me 
bastará até, em retinas dilatadas ou perguntas 
RICARDO COIRO 
60 
inesperadas, de novo trombar com expectativas 
que nunca se realizarão. Porque é o que é, sou o 
que sou. Depois de alguns anos por aí você 
aprende que certas coisas são imutáveis, no 
máximo disfarçáveis, e para de sofrer e fazer 
sofrer por elas. Para de se controlar, de pensar 
no depois, no tal do futuro. Para de buscar pelas 
receitas da longevidade no Google, para de 
pensar em parar fumar, de tentar controlar todas 
as variáveis capazes de entupir suas artérias mais 
imprescindíveis. Para, simplesmente. E aí, só aí, 
mesmo sem saber até quando, você goza desta 
existência. Goza rios, sem pensar na pandemia 
seguinte, nas pessoas que continuarão a comer 
morcegos, pangolins, cachorros, tatus, cobras... 
Goza, simplesmente. Goza, goza e goza. Como 
um cavalo de comercial antigo de cigarro, sem a 
ciência devastadora de que um ser invisível pode 
inutilizar seus pulmões. Goza como se a trilha da 
vida fosse Always With Me, Always With You. 
TESÃO – VOL. 1 
 
61 
A SURPRESA 
Naquela terça, diferentemente das cento e 
trinta anteriores a ela, fui a primeira a pisar na 
agência. Arrisco dizer que foi a única vez na longa 
história da City of Ideias em que um membro da 
criação apareceu antes do Marcos, diretor de 
atendimento, workaholic assumido, puxador de 
tapetes e sacos e cidadão que possui meia 
garrafa de uísque em cada inferninho de São 
Paulo. Nem a mocinha do café, a Jô, estava lá 
para salvar meu cérebro do modo walking dead. 
Cheguei bem cedo porque eu realmente 
precisava sair mais cedo, simples assim. Devido 
às violentas turbulências que meu namoro estava 
atravessando, eu sabia que não podia correr o 
risco de deixar o Paulo me esperando por horas 
em um bistrô, como já havia feito em nosso 
RICARDO COIRO 
62 
último aniversário de namoro. E no penúltimo, se 
não me engano. Ou foi no antepenúltimo? 
Eu precisava sair antes das 19h00 e estava 
mais do que ciente da dificuldade das minhas 
pendências daquele dia: eu tinha que criar um 
“slogan irrecusável”― palavras do meu chefe ― 
e terminar um roteiro imenso, para um cliente 
que, por motivos óbvios, chama o veneno que 
vende a preço de ouro de “defensivo agrícola”. 
Apesar da escassez de cafeína no sangue, o 
slogan brotou fácil, antes mesmo de o relógio 
marcar onze da matina. E, para me inundar de 
alívio, meu blábláblá publicitário não custou 
muito a ser aprovado pelo cliente mais pentelho 
da agência, um babaca roliço e de testa oleosa 
que passa reuniões inteiras vidrado em meus 
seios e tentando me cativar com conhecimento 
inútil e enfadonho. O roteiro, por outro lado, 
pouquíssimo evoluiu; só andou até o instante em 
TESÃO – VOL. 1 
 
63 
que a menina da recepção colocou uma caixa 
preta e aveludada sobre minha mesa. 
A princípio, assim que vi o pacote pousar 
sobre a pequena área de madeira ainda não 
coberta por briefings, amostras de macarrões 
instantâneos e papéis repletos de ideias ruins 
pela metade, presumi que estava diante de um 
presente de aniversário de namoro. Você não 
pensaria o mesmo? Contudo, logo notei que a 
letra do envelope era bem arredondada e legível, 
o oposto do garrancho desafiador do Paulo. 
“Abra somente quando estiver só”, estava 
escrito sobre um papel grosso com textura de 
arrepio. 
“Só pode ser uma pegadinha do pessoal da 
agência”, pensei alto, segundos antes de enfiar o 
cubo de papelão na bolsa e tentar voltar ao 
roteiro. Entretanto, minha mente curiosa não 
RICARDO COIRO 
64 
sossegou, ficava me dizendo para abrir a porra 
do pacote. Então, decidida a desvendar o que 
havia dentro dele, fui até o banheiro. 
Tranquei a porta, retirei a caixinha da bolsa 
e, quando eu estava pronta para abri-la, meu 
celular vibrou para informar que um número 
desconhecido tinha me enviado uma mensagem 
de texto: 
“Banheiro? Ótima escolha!” 
“Quem é?”, respondi. 
“Alguém prestes a descobrir o que há sob 
seu vestido. Aliás, aposto que sua calcinha de 
hoje é bem fininha. Acertei?” 
Minha primeira reação? Fiquei puta com o 
tamanho daquela ousadia. Você não ficaria? 
Tudo me levava a crer que as mensagens 
haviam sido enviadas por alguém que estava 
dentro da agência. Afinal, como é que uma 
TESÃO – VOL. 1 
 
65 
pessoa de fora seria capaz de descobrir a cor do 
meu vestido e o exato instante em que entrei no 
banheiro? Um informante? Não, não me pareceu 
uma hipótese provável. Também não estava com 
cara de se tratar de uma atitude do Paulo, pois 
depois de quatro anos de namoro, nas raríssimas 
vezes em que ainda transávamos, ele nem me 
lambia. Metia, gozava, dormia. 
“Quem é?”, insisti. 
“Alguém que a fará gozar. Hoje mesmo. 
Agora abra a caixa e aguarde a chegada das 
minhas próximas instruções.” 
Senti raiva, muita raiva mesmo. Raiva da 
audácia daquela incógnita e, principalmente, 
daquilo que ele estava começando a provocar 
em mim. Por alguns segundos, pensei em jogar a 
caixinha fora e voltar à minha vidinha previsível, 
à minha rotina de merda. Porém, dominada pelo 
RICARDO COIRO 
66 
impostergável desejo de descobrir o conteúdo da 
surpresa, segui a primeira ordem do mensageiro 
anônimo. 
O que tinha dentro da caixa? 
 Uma calcinha. Não qualquer uma, preciso 
enfatizar. Dentro da caixa havia uma calcinha 
vermelha com um vibrador embutido. 
“Vista.” 
“Vai tomar no seu cu”, respondi. 
“Coloque a calcinha!” 
“Você acha que é quem para ficar me dando 
ordens?” 
“Vista a calcinha e para de retrucar!”, a 
incógnita enviou, e conseguiu converter parte da 
minha desconfiança em tesão, preciso confessar. 
Não o suficiente para que eu vestisse aquela 
bosta de imediato, mas foi impossível não 
TESÃO – VOL. 1 
 
67 
levantar aquela hipótese, no mínimo, exótica. 
Você não cogitaria? Não só isso: senti-me, de 
alguma forma, presa àquele objeto; eu precisava 
voltar à minha mesa, ao roteiro longe do fim e à 
vida mais ou menos de redatora, mas um pedaço 
dominante de mim, que há tempos hibernava 
por falta de estímulo, mostrava-se muito a fim de 
pagar pra ver e correr os riscos inerentes àquela 
experiência diferente de tudo que eu já tinha 
vivido até o momento. 
“Já vestiu? Vista logo ou demorará a gozar.” 
 E meu tesão cresceu, abocanhou o pavor, 
eclipsou parte da raiva ― deixando o necessário 
para nutrir o tesão ― e se tornou bem maior do 
que a razão, que sempre foi apontada pelos 
meus colegas e gestores como meu ponto forte. 
A excitação tomou minhas entranhas, sabotou os 
circuitos da racionalidade, tirou o superego da 
RICARDO COIRO 
68 
tomada, convenceu-me a aceitar o convite nada 
convencional àquela maluquice. Senti-me uma 
pirada, uma completa irresponsável, mas troquei 
minha calcinha sem graça pela recém-recebida, e 
de imediato percebi que em contato com minha 
xana existia um plástico côncavo, frio e liso. Um 
capô contra o meu. 
“Está usando a calcinha?” 
“Sim”, respondi. 
“Ótimo. Agora volte à sua mesa.” 
“Que caralho eu tô fazendo?”, pensei com 
meus botões, com um transatlântico navegando 
a consciência. Procurava forças para expulsar o 
demônio que já tinha se apossado do meu 
interior. Não consegui, contudo. Ponto pra ele. 
Eu estava vulnerável às ordens da parte de mim 
que não sossegaria até saber o fim da história. 
TESÃO – VOL. 1 
 
69 
Apesar do roteiro inacabado, passei as horas 
seguintes tentando identificar o responsável por 
aquela engenhosa maluquice e à espera de novas 
mensagens de texto. Mas nenhum dos trinta e 
sete homens do meu andar apresentou atitudes 
suspeitas, e, para o fim das minhas unhas, feitas 
no dia anterior, o celular só vibrou novamente às 
16h00. 
“Imagine meus dedos longos afastando os 
grandes lábios de sua bucetinha para deixá-la à 
mercê da valsa da minha língua, ao sopro que 
virá depois de muitas lambidas, à vontade que 
estou de fazer com que algo dentro do seu peito 
comece a batucar de maneira carnavalesca, sem 
ritmo ou dono. Imaginou?” 
“Que mais?”, perguntei. Se é que estava no 
controle de mim. 
RICARDO COIRO 
70 
“Minha língua bem úmida desvendando, 
com calma, muita calma, cada milímetro de pele 
do único lugar que agora me importa; dando 
atenção aos seus pontos mais sensíveis, àqueles 
que nem você imagina ter, e aumentando sua 
vontade de ser ferrada até que suas palavras, 
sempre tão claras, objetivas e elogiadas, sejam 
reduzidas a ruídos abafados de contentamento”, 
ele continuou, pouco antes de a minha calcinha 
começar a vibrar, forçando-me agarrar firme à 
borda da mesa, de olhos fechados, como se 
estivesse no topo de uma montanha-russa, na 
primeira fileira, prestes a desabar. 
Quase berrei quando aquela coisa começou 
a tremer ainda mais forte, mas respirei fundo, 
controlei-me como deu, e, finalmente, rendi-me 
por completo à apetência que, naquele instante, 
parecia inadiável. Pedi mais ― “Que mais” ―, 
pois estava ficando foda, no melhor sentido da 
palavra. E recebi um textão delicioso: 
TESÃO – VOL. 1 
 
71 
“Depois de bebê-la com a sede de alguém 
que encara o líquido que sai do seu corpo como a 
cura à monotonia do mundo, vou lhe dar meu 
pau, para nele se acabar. Quando estiver em 
meu colo, de costas, rebolando como mandarão 
as mãos que estarão pregadas à sua cintura, vou 
chamá-la de ‘puta’, ‘vadia’, ‘piranha’, ‘cachorra’, 
daquilo que eu quiser. Morderei as suas costas, e 
você, em vez de temer as enrascadas em que as 
fundas impressões dos meus caninos poderão 
colocá-la, desejará mais, mais, mais. ‘Mais forte’, 
dirá. ‘Mais fundo’, implorará. Pedirá, apenas com 
os tremores de suas pernas, bambas, para ser 
arregaçada, humilhada, invadida e, depois de 
tudo, refeita.” 
A coisa começou a vibrar mais forte ainda. 
“Cadê você, seu filho da puta?” 
RICARDO COIRO 
72 
“Agora? Não importa. Mas não falta muito 
para estarmos juntos, para que suplique por mais 
palmadas na bunda e no rosto, para que eu 
esfregue meu pau em tudo. Não é isso que quer?Não é disso que gosta, piranha? Sei que é. E sei, 
também, que precisará controlar o volume dos 
gemidos para que a agência toda não perceba a 
vadia deliciosa que você é.” 
O tremor intensificou. Não só isso: era uma 
vibração itinerante que ia da parte inferior à 
parte superior do negócio, uma espécie de ola. 
Senti uma puta vontade de gozar. Tive que 
afastar a calcinha da pele por alguns segundos. 
Àquela altura, usava o indicador como mordaça e 
já havia me tornado uma profissional cem por 
cento inútil, incapaz de adicionar meia vírgula a 
uma frase. E as mensagens não paravam de 
chegar: 
TESÃO – VOL. 1 
 
73 
“Quanto estiver prestes a gozar, com as 
palmas das mãos e os joelhos apoiados no piso 
frio e sujo do banheiro da agência, taparei sua 
boca e, em seu cuzinho, cravarei meu dedão para 
fundir prazer e tortura nas exatas proporções.” 
Corri para o banheiro na hora, eu precisava 
tirar aquele terremoto de perto de mim. Eu já 
estava ofegante, tendo contrações involuntárias 
no abdômen, respirando sem ritmo e fazendo 
um esforço brutal para não gozar. Minha buceta 
salivava, pedia para engolir um pau ou, na pior 
das hipóteses, dedos. 
Enquanto eu cogitava arrancar a calcinha, o 
celular vibrou mais uma vez: 
“Não goza ainda! Ouviu?” 
RICARDO COIRO 
74 
“Não sei se consigo”, mandei. Minhas mãos 
estavam muito trêmulas, erravam as teclas. Tive 
que recorrer ao revisor para acertar as palavras. 
“Quando seu relógio marcar 17h30 você 
destrancará a porta para mim.” 
“O quê?” 
Ele não respondeu mais. E eu tinha apenas 
quatro minutos para decidir se ficaria lá, à espera 
de sei lá quem, ou se meteria logo o dedo em 
mim para me livrar daquele desejo atômico e 
displicente, da vontade que eu estava sentindo 
de ser consumida. 
Se o negócio não tivesse sido tão bem 
arquitetado e eu precisasse esperar só um pouco 
mais, eu teria acabado com tudo sozinha. Fim de 
papo. Mas o desgraçado me deixou somente o 
tempo para ficar sem reação, apenas o querendo 
TESÃO – VOL. 1 
 
75 
mais, incapaz de terminar sozinha o que tinha 
sido atiçado por ele. Eles, melhor dizendo. 
Toc-toc sucinto na porta e meus batimentos 
chegaram ao limite. A descarga de adrenalina foi 
tão violenta que me lembrei dos ataques de 
pânico que eu tive por volta dos quinze. Mais 
uma batida e o celular vibrando. Abri a porta 
quase sem conseguir parar de pé e tive a maior 
surpresa do dia: eu não estava diante de um 
desconhecido. Nada disso. Era o Lucca, o cara 
com quem eu tive um breve e memorável lance 
um pouco antes de conhecer o Paulo. Mas o que 
ele estava fazendo ali, na agência? Não obtive 
respostas. Ele já entrou calando minha boca e 
sorrindo cheio de si. Empurrou-me em direção à 
privada até que nela eu acabasse sentada. 
Com o indicador perpendicular aos lábios, 
ele me pediu silêncio. Trancou a porta e tirou 
RICARDO COIRO 
76 
minha blusa e meu sutiã fazendo movimentos 
suaves e silenciosos. Colocou o pau para fora, já 
pronto ou quase lá, e, atento à minha expressão 
de surpresa, à mistura de incredibilidade com 
excitação que eu exalava, passou-o em meus 
seios, dando batidinhas para que eu sentisse o 
peso e a rigidez; depois circundou meus mamilos 
sem demonstrar qualquer sinal de ansiedade; 
então colocou o pezão entre minhas pernas, um 
sapato oxford impecável, e deslizou o caralho por 
minhas bochechas, queixo, boca... Estava quente. 
Febril. Parecia maior do que em nossa primeira e 
única transa, que rolou poucos dias antes de eu, 
baseada em critérios racionais como segurança e 
futuro, optar pelo Paulo e apagá-lo de vez da 
agenda. 
 Daí, segurando-me pelo rabo de cavalo, 
como se retocasse meu batom, percorreu meus 
lábios com o pau. Caminhou pela parte externa 
TESÃO – VOL. 1 
 
77 
da minha boca até que eu não aguentei e a abri 
para ele. 
“Gosta de mamar, né, cachorra?”, ele disse 
bem baixinho, tão sem volume que pode até ter 
sido uma voz da minha cabeça. Mas não foi: ele 
murmurou. E na sequência, enquanto eu me 
servia daquele pau reto e bonito, banquete perto 
do regime de Spa oferecido por Paulo, religou o 
vibrador. O desgraçado só precisava apertar um 
botão no celular para controlá-lo. Reativou-o na 
menor das potências, apenas alguns graus na 
Escala Richter, só o bastante para me incentivar a 
embocá-lo com mais voracidade. 
A intensidade do tremor aumentou, deixou-
me inquieta, sem conseguir permanecer sentada 
sobre a tampa do vaso. Pedi alguns minutos de 
clemência, mas ele negou. Com a sola do sapato 
de brilho perfeito me fez colar de novo a bunda 
RICARDO COIRO 
78 
na privada e, mais uma vez no mínimo volume, 
falou para eu não sair de lá, continuar mamando, 
engolindo o pau todo, sendo a vadiazinha dele. 
Aqui faço um adendo: o Paulo nunca me chamou 
de vadiazinha. Nem de cachorra. Nem de puta. 
Piranha então... Eu até já cheguei a tentar 
incentivá-lo indiretamente: por e-mail, enviei um 
conto erótico com doses e mais doses do tipo de 
humilhação consentida que me molha inteira, 
mas ele me falou que acha estranho, que sou a 
futura mãe dos filhos dele. Ficou por isso mesmo. 
Faz uns três anos. Uma vida! 
Mas voltando ao Lucca... Ele continuou me 
chamando de todos os nomes possíveis, elevou 
um pouco a potência das vibrações e me deu 
alguns tabefes no rosto e nos seios. Apertou 
meus mamilos. Quando mais ele batia, mais eu 
chupava, e perdia a noção de onde estávamos, já 
não me importava mais como no começo. 
TESÃO – VOL. 1 
 
79 
Foi aí que ouvi mais uma batidinha na porta. 
Gelei. De novo, taquicardia. E para minha quase 
parada cardíaca, o Lucca se desvencilhou da 
minha mão que tentou impedi-lo e foi em 
direção à porta. Destravou. O coração subiu para 
a garganta e a boca secou. Uma mulher entrou. 
Não qualquer uma: uma morena alta e magrela 
com ar de metaleira, uma mexa de cabelo roxo, 
calça skinny preta, maquiagem carregada, muita 
sombra, tudo dark. Se aquilo fosse um casting, 
seria a figura perfeita para uma campanha da 
coleção de inverno da Ellus, daquelas em PB nas 
quais todos os modelos parecem drogados e de 
ressaca. Mas não era uma seleção, ela já estava 
lá, e a forma como trocou olhares com o Lucca 
não me deixou dúvidas: fazia parte do plano. E 
sabe o mais doido? Fiquei ainda mais excitada. 
Aqui vai mais um apêndice: eu às vezes penso em 
mulheres quando me masturbo, gosto de assistir 
RICARDO COIRO 
80 
a vídeos lésbicos, eu já tive até um tesãozinho 
platônico por uma professora da Smart Fit. 
Ah, e mais um detalhe que deixou tudo 
ainda mais maluco: quando ela entrou, apesar do 
inevitável susto, continuei com os seios expostos, 
em momento algum pensei em me cobrir, e ao 
vê-la trancar a porta e se aproximar, em vez de 
agir como uma pessoa normal, e simplesmente 
me vestir e sair correndo dali, eu esperei a 
reaproximação do Lucca e recoloquei o pau na 
boca. Exibi minhas habilidades linguais à garota, 
que não hesitou em ajoelhar ao meu lado, aos 
pés do Lucca, e a começar a explorar meu corpo, 
iniciando pela costela, tocando-a com as pontas 
das unhas grandes e roxas. Foi me arranhando 
até a barriga, entrou com a ponta dos dedos pelo 
espaço entre minha calça social e a pele, fez o 
mesmo com a calcinha, chegou até o comecinho 
da xana vibrante e voltou, deixando-me maluca. 
Daí acariciou os meus seios, suave, beijou as 
TESÃO – VOL. 1 
 
81 
aréolas, o espaço entre eles, beijou-os como nem 
sabia ser possível, beijos molhados, carinhosos, 
nos lugares exatos. Vez ou outra, deixava-me um 
pouco de lado para chupar o pau do Lucca. 
Tirava-o da minha boca e colocava na dela, ainda 
de olho em mim, mostrando-se muito versátil 
nas habilidades eróticas. Mas não demorava a 
voltar as energias todas a mim, decidida a me 
explorar mais. Tirou meus sapatos, beijou meus 
pés, desfez-me da calça, criou uma pilha de 
roupas e nela, sem dizeruma palavra nem usar 
força bruta, colocou-me de joelhos. No meio do 
banheiro. O Lucca, que parecia estar lá apenas 
como coadjuvante, a mando dela, foi à minha 
frente para que eu continuasse a chupá-lo 
enquanto ela fazia o mesmo em mim. O mesmo, 
não: algo muito mais gostoso. Pois ao passo que 
ela me lambia eu ia perdendo a capacidade de 
lamber o pau do Lucca, que ajudava a privar o 
RICARDO COIRO 
82 
resto da agência dos meus gemidos. Aliás, nesse 
momento eu estava tão entretida, tão extasiada 
e envolvida, que já não me importava mais com o 
que havia da porta para fora, não queria saber se 
outras pessoas já tinham tentado entrar, se os 
meus sussurros, os nossos barulhos, mesmo que 
abafados, já tinham sido percebidos pelo resto. 
Não me importava, e apesar de agora ser motivo 
de aflição, na hora era como se tudo tivesse sido 
congelado para nós, como se aquele banheiro 
estivesse fora da Terra, acima da estratosfera. 
Não havia mais Paulo, aniversário de namoro, 
presente, roteiro. O que havia, e me bastava, era 
uma língua em minha buceta e um pau em minha 
boca. Aquela era minha realidade, e nada parecia 
tão urgente, tão agradável, tão verdadeiro. Foi aí 
que fui escorraçada pelas mãos frouxas do Paulo 
Em meu ombro. 
TESÃO – VOL. 1 
 
83 
“Amorzinho, hoje é nosso dia, e está lindo!”, 
ele disse. Insuportavelmente empolgado como 
em todas as manhãs antes daquela. 
Tentei dormir mais, voltar aos caprichos do 
Lucca, a ser objeto da magrelona. Não consegui. 
Espremi as pálpebras, tentei relaxar, mas não 
deu. Bateu um vazio sem fim. Estava molhada, 
escorrendo, mas eu possuía um rombo que só 
alargou quando o Paulo saiu do banho com a 
toalha enrolada até o peito, peludo, manso, 
infantil, imutável; tão imutável que, mesmo 
sendo minha vontade, meu desejo, ele nunca 
mudaria a forma de me tratar durante o sexo. 
Iria me deixar para sempre com aquelas fantasias 
incríveis intocadas em algum dos meus guarda-
roupas interiores, e um sonho maravilhoso como 
aquele, apesar de o inconsciente carregado de 
material para reconstruí-lo, não aconteceria de 
novo, não daquela forma, tão vívido. Além do 
RICARDO COIRO 
84 
mais, eu não queria apenas sonhar, não podia 
virar a mãe desgostosa de tudo intercalando 
aniversários de criança com idas ao parque. 
Ainda tinha muito a realizar, uma tempestade de 
fetiches incompatíveis com o Paulo. Por isso que 
o deixei. Não pelo Lucca nem pela drogadinha 
que sabia me pegar de jeito. Mas por mim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TESÃO – VOL. 1 
 
85 
CAM GIRL 
Já a conheci de pau para fora, acariciando-o 
apenas o suficiente para mantê-lo duro. E não 
era o único que esfregava o caralho para ela, 
com certeza. A “sala” estava cheia de gente a fim 
de alguns segundos de anestesia, olhos virados e 
fluídos liberados, suponho. 
Usava calcinha e sutiã de renda. Nem fio 
dental nem ceroula. Tudo negro. De quatro sobre 
uma cama coberta por um edredom xadrez com 
um quê de kilt, não demorou a rebolar solta, em 
todas as direções e velocidades, movendo-se 
como se fosse invertebrada com a bundona 
virada para mim. Ou melhor... Para a câmera que 
tornava possível nosso encontro de interesses. 
Até aquele domingo, eu não tinha recorrido 
a cam girls para incrementar minhas punhetas. 
Possuía até certo preconceito com a modalidade, 
RICARDO COIRO 
86 
confesso. Achava coisa de nerd que não come 
ninguém, sabe? 
Acontece que os filmes do xvídeos.com, 
todos eles, pareciam insuficientes para o prazer 
que buscava. Tudo muito teatral, dos gemidos às 
lambidas às metidas “britadeirianas”. Ações para 
lá de fakes com as quais eu não conseguia me 
envolver por completo. Eu até fiz força para me 
sentir protagonista daquelas cenas, acredite; mas 
eu estava muito mais exigente, impossível de ser 
tapeado naquela noite. Eu pulava de um vídeo 
para outro enquanto uma voz interna afirmava 
coisas: “Você acha mesmo que uma secretária já 
entraria com a polpinha da bunda aparecendo na 
sala do chefe?” e “Quem é que geme assim 
depois de duas passadinhas de língua secas?”. 
E recorrer aos vídeos amadores, postados 
muitas vezes sem consentimento de quem os 
protagoniza, estava fora de cogitação. Dão tesão, 
TESÃO – VOL. 1 
 
87 
não posso negar. Neles existe a verdade sem 
roteiros que considero afrodisíaca. Mas venho 
tentando fazer as coisas certas, me colocar mais 
na pele do outro, sabe? E assistir a vídeos desse 
tipo é tão maléfico quanto comprar um celular 
roubado. 
Só sei que, graças a uma publicidade que 
apareceu antes de um vídeo, eu acabei em um 
strip club virtual. Um lugar onde você assiste a 
performances ao vivo de garotas de todos os 
tipos, desde mocinhas siliconadas e dentro dos 
padrões da indústria pornô até seminovinhas 
carregadas de base para esconder os pés de 
galinha que se descrevem usando palavras como 
“MILF” e “experiência”. 
No topo do site havia um aviso luminoso, 
uma mistura de letreiro de Las Vegas com painel 
de aeroporto. E nele os horários dos próximos 
RICARDO COIRO 
88 
shows ao vivo piscavam de maneira escandalosa. 
Bastava escolher um, clicar, inserir os dados do 
cartão e esperar. Foi o que eu fiz. 
Polly era o nome dela. Nome fantasia, off 
course. E entraria às 22h00. Esperei-a totalmente 
nu, sentado sobre a única herança que meu avô 
materno deixou: uma cadeira de couro marrom 
com alguns remendos e queimaduras de cigarro. 
21h50 começou uma contagem regressiva 
bem no meio de uma tela preta. Números que, 
de vez em quando, davam lugar a anúncios de 
produtos para aumentar o pau, bonecas infláveis 
de boca sempre aberta e outras coisas que me 
deixaram com certa culpa por estar lá. 
Começou em ponto com um “Oi, gente”, o 
que me amoleceu um pouco, já que nunca fui 
muito fã de sexo grupal nem de ménage à trois 
― vejo a exclusividade como requisito básico 
para o tesão. 
TESÃO – VOL. 1 
 
89 
Mas ela logo se redimiu colocando um bom 
blues lentinho, meu gênero musical preferido. 
Acho que Love In Vain. Quase certeza. Então, 
com os bicões dos peitos tirando finas do 
edredom, engatinhou feito uma felina; foi bem 
devagar no sentido oposto à câmera até chegar a 
uma cabeceira de veludo azul, aí, com as duas 
mãos espalmadas sobre ela e as pernas bem 
abertas, como se fosse ser revistada, começou 
uma sessão de rebolado hipnótico ao extremo, 
um remelexo coordenado de invertebrada que 
me fez esporrar bem antes do previsto, na palma 
da mão que precisou entrar em cena para poupar 
o tapete do quarto da minha lava de sementes 
que, se eu tiver sorte, não brotarão neste mundo 
cada dia mais egoísta, artificial e raso. 
Depois ela começou a brincar com um pau 
preto de borracha. Engoliu-o quase inteiro sem 
dificuldade, instigando-me a pensar que tiraria 
RICARDO COIRO 
90 
meus dezoito centímetros de letra, sem qualquer 
esforço. 
Fiquei duro de novo e, mais uma vez, apesar 
dos mais de trinta anos nas costas, dei uma de 
adolescente espinhento: não fui capaz de segurar 
o gozo quando ela, com a pica negra cravada na 
buceta e encarando a câmera por cima do ombro 
direito, começou a meter o dedo do meio no cu e 
morder os beiços de olhos semicerrados. 
Foi a faísca de algo que, até então, não sei 
se é obsessão, paixão ou tesão confundindo a 
porra toda ― com o perdão da dubiedade. Mas 
tanto faz também... Foda-se o que é ou deixa de 
ser... Foda-se! A única coisa que me importa 
agora é encontrar uma forma de tê-la no mundo 
real, no mesmo espaço, ao alcance do desejo que 
ela continua a incitar todos os domingos com 
shows que se desenrolam de maneira idêntica: 
da engatinhada lentinha à pica preta desafiando 
TESÃO – VOL. 1 
 
91 
os limites do cu. Desejo, vale dizer, que parece 
ultrapassar as barreiras do campo sexual: quero 
comê-la, claro que quero... Mas carrego uma 
estranha vontade de levá-la parapassear num 
domingo qualquer, de me enfiar com ela numa 
pousada no meio do nada e ficar só falando 
besteira, revendo filmes de Sessão da Tarde, 
enchendo a pança de bolacha e outras coisas que 
andam sendo demonizadas por nutricionistas 
virtuais que não comem açúcar nem glúten nem 
frutose nem amido nem farinha nem... Quero 
trepar com ela, repito para que fique bem claro e 
não ache que estou fazendo tipo. Não apenas 
isso, contudo. 
Mas como fazer com que ela preste atenção 
em mim? Como? 
Se ela fizesse showzinhos particulares, como 
algumas outras, até poderia tentar convencê-la 
RICARDO COIRO 
92 
de que não sou um serial killer e que vale a pena 
me encontrar à moda antiga; para uma cerveja, 
um cinema, um cappuccino ou qualquer outra 
merda dessas que as pessoas usam como 
desculpa para se provarem de cabo a rabo. Mas 
ela só se exibe para vários seres e mal lê as 
mensagens que esse bando de tarados sem um 
pingo de educação fica mandando sem parar, 
como se ela fosse uma atração bizarra num circo. 
 “Enfia no cu, seu lixo!”, é o tipo de coisa 
que eles escrevem enquanto ela se abre. Eu não 
tenho acesso às mensagens que recebe, mas a 
expressão de frustração que ela às vezes deixa 
escapar não me resta dúvida: de tanta baixaria 
ofensiva e degradante que já recebeu apesar dos 
shows dignos de aplausos e bis, já não lê mais 
quase nada. Turva a visão para transformar tudo 
em borrão. 
Então como? 
TESÃO – VOL. 1 
 
93 
Passei o último show em busca de algum 
detalhe capaz de me dar uma pista de onde fica o 
quarto do qual se apresenta. Sessenta minutos 
caçando algum indício com potencial para me 
levar até ela. E nada. Só cama, o pau preto, a 
cabeceira de veludo azul, muito rebolado e um 
sotaque que parece ser do interior de São Paulo. 
Ou Minas. Mas de que adiantaria saber de onde 
ela é? Eu preciso saber onde ela está, porra! 
Aliás, o que está fazendo agora, hein? O que faz 
quando não está servindo como matéria-prima à 
imaginação de gente carente como eu? 
Eu consigo imaginá-la patinando no gelo, 
comendo bolo de cenoura com as amigas, puta 
da vida porque a calça 38 já não fecha mais... 
Fodendo comigo, claro. Fodendo muito. Mas não 
apenas na cama: fodendo comigo em todas as 
possibilidades da palavra. 
RICARDO COIRO 
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Pensei também em ligar ao site para pedir 
um contato. Mas logo vi que eles não têm nem 
telefone. As dúvidas dos clientes precisam ser 
enviadas para a bosta de um e-mail. 
“Boa tarde, tudo bom? Aqui é o Bruno 
Fontes, um cliente do site, e quero muito me 
encontrar com uma cam girl de vocês. Podem me 
enviar um contato dela? Ficaria eternamente 
agradecido. Juro que não sou maníaco e que 
estou disposto a retribuir todo o prazer que ela 
me dá; a fazer cafuné, bolo de banana da vovó e 
massagem no pé também. Também prometo 
chupá-la com esmero, não esquecendo dos seios, 
das costas, dos macetes individuais que ela 
certamente me ensinará para fazê-la gozar mais 
e melhor. É possível? Obrigado!” 
Não, não colaria... 
Então como? 
TESÃO – VOL. 1 
 
95 
Já sei... Não, não sei... 
Como, caralho? 
Que tipo de mensagem posso mandar para 
fazê-la prestar um pouco de atenção em mim e 
me achar de fato diferente de todo o resto? 
Domingo, 21h59. 
Já paguei pelo show. Hoje, porém, tentarei 
falar com ela. O máximo que pode acontecer é 
não me notar, certo? Até aí... 
No campo destinado às mensagens, copio e 
colo o texto que escrevi ontem à noite, no 
intervalo do Altas Horas: 
“Sei que pode parecer idiota, e até um 
pouco assustador, mas eu estou faz vários dias 
sem conseguir tirá-la da minha cabeça. Quero 
conhecê-la de verdade, sem câmeras por perto, 
RICARDO COIRO 
96 
levá-la para tomar um sorvete. Meu preferido é 
pistache, e o seu? Se seus dentes forem muito 
sensíveis, tudo bem... A gente conversa até o 
sorvete derreter, mete o pau na vida, ri na cara 
dela. Ah, e se estiver fugindo de doces e preferir 
algo mais fitness, podemos ir de açaí. O meu com 
bastante granola e banana picada, e o seu? Não 
vai me dizer que coloca Leite Ninho? Sabe o que 
é? É que passei a semana toda pensando numa 
forma de descobrir seu telefone, endereço, sei 
lá... Sem saber como fazer com que me note sem 
ter medo ou me achar igual a todo o resto que 
não enxerga as possibilidades que vejo em você, 
mesmo só a tendo visto de longe, daqui de SP. É 
claro que me dá tesão e que sinto vontade de 
fazer tudo e mais um pouco com seu corpão, não 
vou mentir. Mas uma imagem doida insiste em 
voltar à minha mente: você e eu patinando numa 
pista de gelo, num outro país, eu caindo sem 
parar e você gargalhando, como nos filmes bem 
TESÃO – VOL. 1 
 
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clichês, sabe? Se tiver preguiça, posso descascar 
o abacaxi para você também. Fazer macarrão ao 
pesto e ainda lavar as louças. É provável que nem 
leia esta mensagem. E, mais provável ainda, que 
não perceba o quanto quero conhecer uma 
nudez diferente da que mostra por aqui. Mostrar 
a minha também. Não sei nem onde mora, mas, 
se estiver a fim de tomar um sorvete ou uma 
cerveja com um cara que não para de pensar em 
você, mesmo só tendo visto o personagem que 
exibe, mande um ‘oi’ para este número: 11 
983837623. Sei que isto não é Tinder, mas aí vai 
um pouco mais de mim: meu nome é Bruno 
Fontes, sou advogado, amo cinema e cozinho 
bem, quase um Masterchef. Sei fazer o melhor 
bolo de cenoura recheado de brigadeiro da 
Terra. Ou do meu bairro, sei lá. Não sei mais o 
que dizer. Beijo.” 
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Ela não olha para a tela. Continua enfiando 
o caralho preto e gemendo gostoso, fazendo-me 
imaginar o que esse som causaria se entrasse 
direto em meu ouvido sem ajuda de microfone, 
internet e outras modernidades do tipo. Tento 
bater uma punheta e não consigo, é como se não 
existisse mais clima, não sei explicar. Continuo 
com tesão, mas o virtual, depois do que escrevi, 
parece pequeno demais para nós, insuficiente 
perante as idealizações que criei. 
Escrevi de coração, essa que é a real. Deixei 
escapar vontades que até eu desconhecia. E me 
masturbar impulsionado pelos atos ensaiados da 
personagem, agora, parece-me pouco perto do 
que quero. Você me entende? Acho que não... 
Porque nem eu me entendo às vezes. 
Enquanto ela termina o show, penso no 
quão estranho meus amigos me achariam se 
dissesse que me apaixonei por uma cam girl. 
TESÃO – VOL. 1 
 
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“Logo você, Brunão? Que é tão certinho...”, é o 
que diriam, eu até consigo imaginá-los. Mas ela 
tocou num ponto diferente, não sei explicar. 
Nem Freud saberia. Talvez seja só coisa da minha 
cabeça, sentimento que criei para me livrar do 
tédio que minha vida se tornou depois que me 
mudei de escritório. Não descarto. Mas é como 
se eu soubesse que ela se encaixará bem em 
mim, e não apenas na cama. Um sentimento 
demasiadamente esotérico para um racionalista 
convicto como eu, que caga para signos, tarô, 
energia... Aliás, se não fosse cético, diria que 
temos química e que só falta um encontro para 
que as coisas se desenrolem, sabe? 
O show termina, ela se despede e, segundos 
antes de desligar a câmera, franze a testa em 
direção àquilo que imagino ser a telinha do 
notebook dela. Será que viu? Talvez tenha ficado 
curiosa devido ao tamanho da mensagem. Tanto 
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talvez que... Quer saber? Vou dormir... Amanhã 
começa mais uma semana. 
... 
Era uma quinta-feira. Estava comemorando 
o aniversário de um amigo quando recebi a 
mensagem dela. “Oi”. Nem mais um ponto. “Oi”. 
Já não tinha mais esperanças de resposta e 
havia desencanado de pagar para ser provocado 
por ela. 
Demorei para ligar a fotinho do WhatsApp à 
figura que tinha tirado meu sono por um tempo. 
Quando a reconheci, porém, gritei: 
“Caralho, é a Polly!” 
Todas as pessoas da mesa se viraram a mim 
de olhos arregalados, sem entender a razão 
daquela

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