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Introdução a Metodologia Científica Ana Néri Almeida Tenório Técnicas de estudos 2 Metodologia científica Introdução a Metodologia Científica / Ana Néri Almeida Tenório Maceió, 2012. 85f.; 26cm UAB – Universidade Aberta do Brasil 1. Introdução a Metodologia Científica I Tenório, Ana Néri Almeida Técnicas de estudos 3 Metodologia científica SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 6 1.1 A importância da leitura .............................................................................. 7 1.2 Estratégias de leitura ........................................................................................ 8 1.3 Tipos de leitores ............................................................................................... 11 1.4 Estratégias cognitivas e metacognitivas ......................................................... 12 1.5 Esquema, resumo e fichamento ..................................................................... 14 1.5.1 Esquema ....................................................................................................... 14 1.5.2 Tipos de resumo ........................................................................................... 17 1.5.3 Fichamento .................................................................................................. 21 1.6 Pesquisa bibliográfica ..................................................................................... 24 1.7 Referências ...................................................................................................... 30 2. INTRODUÇÃO À PESQUISA CIENTIFICA .................................................... 32 2.1 Tipos de conhecimento ................................................................................... 32 2.2 Pesquisa científica .......................................................................................... 34 2.3 Tipologia da pesquisa ..................................................................................... 37 2.4 Planejamento de pesquisa .............................................................................. 39 2.5 Referências ..................................................................................................... 50 3. ELABORAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS .......................................... 52 3.1. Tipos de trabalhos acadêmicos ...................................................................... 52 3.2 Partes que compõem o trabalho .................................................................... 54 3.3 Referências ..................................................................................................... 69 4 PROJETO DE PESQUISA ................................................................................. 70 4.1 Partes que compõem o projeto de pesquisa ................................................... 71 4.2 Normas da redação do texto .......................................................................... 82 REFERÊNCIAS.....................................................................................................85 Técnicas de estudos 4 Metodologia científica Introdução O objetivo deste manual é servir de apoio aos alunos do ensino a distância, do IF-AL, em seu aprendizado na disciplina Metodologia Científica. Trata-se de um resumo das principais noções dessa unidade curricular, abordadas com linguagem clara, procurando se familiarizar com o alunado, na tentativa de esclarecer suas dúvidas e dificuldades em sua nova etapa como aluno de nível superior. O ingresso do aluno em um curso superior, geralmente, provoca uma série de mudanças em seu cotidiano, exigindo-se desse novato uma dedicação mais acentuada aos estudos, normas e experiências distintas das vividas em sua etapa anterior, como aluno do ensino médio. Até mesmo o aluno com mais idade, que já tenha concluído o ensino médio há alguns anos, sente dificuldade nesse processo de crescimento intelectual. Na verdade, trata-se de uma mudança de postura como aluno, como colega de sala, agora não mais com o “amparo” dos pais e cuidado e compreensão por parte da maioria dos professores, e sim com a cobrança excessiva, embora discreta, da instituição da qual ele faz parte, dos professores, da sociedade em geral. O aluno de nível superior precisa se adaptar a essas mudanças e cobranças, construindo seu espaço na sociedade, solidificando seus objetivos e buscando êxito em seu dia-a- dia, com senso crítico aguçado. Dentro desse quadro de mudanças e desafios, a disciplina Metodologia Científica é de suma importância para o crescimento do aluno de nível superior. Mais do que um aprendizado de normas e técnicas para o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos, ela se propõe a trabalhar a postura do aluno de nível Técnicas de estudos 5 Metodologia científica superior, desenvolvendo o senso crítico e estimulando seu interesse pela pesquisa científica. Na unidade 1, discutiremos sobre as técnicas de estudo, com enfoque nas estratégias de leitura, modelos de esquema de texto, tipos de resumo e pesquisa bibliográfica; na unidade 2, daremos um grande passo: discutiremos sobre como elaborar uma pesquisa científica, dando ênfase à questão da formulação de um problema científico, hipóteses e estudo dos tipos de método; nas unidades 3 e 4, abordaremos a questão das partes que compõem os trabalhos científicos, especificamente, o projeto de pesquisa, apresentando as normas técnicas da ABNT e noções básicas da redação do texto científico. Boa leitura! Técnicas de estudos 6 Metodologia científica UNIDADE 1 Técnicas de estudos Técnicas de estudos 7 Metodologia científica 1. Introdução Neste capítulo iremos conhecer as principais orientações para a realização de um estudo produtivo e consciente. Produtivo no sentido de ser efetivo e trazer ganhos para o aluno; consciente pelo fato de o aluno adotar determinadas técnicas para alcançar os objetivos desejados. Na maioria das vezes, o aluno estuda porque precisa fazer uma prova, porque precisa tirar nota “x” ou “y”, sem se dar contar de como está estudando e quais os ganhos reais que ele terá com esse estudo. Alguns conseguem alcançar a nota de que precisam, estudando muito ou pouco, lendo várias vezes o conteúdo ou apenas “dando uma lida”, como costumam dizer. Muitas vezes, o aluno estuda bastante, no entanto, não faz boa prova, ou não consegue fazer um bom trabalho, ou ainda se sair bem em uma prova oral ou seminário. Há, ainda, alguns alunos que não estudam como outros e mesmo assim conseguem obter êxito nos exames. É importante lembrar que para compreender determinado conteúdo, é preciso, na maioria das vezes, lançar mão de técnicas para auxiliar esse processo de cognição. Algumas pessoas já as utilizam intuitivamente; outras, precisam conhecê-las e praticá-las para melhorarem seu desempenho. 1.1 A importância da leitura Nunca é demais repetir que a leitura é de fundamental importância para o crescimento intelectual de todos nós. Seja a leitura por prazer, leitura descompromissada em uma fila de espera, leitura rápida, leitura como estudo obrigatório, todas elas exercitam nossa mente e promovem o conhecimento. Muitas são as reclamações dos professores a respeito das dificuldades sentidas pelos alunos em relação à leitura e compreensão de textos. Comumente, muitos alunos têm dificuldade em compreender questões de Técnicas de estudos 8 Metodologia científica provas e textos mais complexos. Vale ressaltar que as dicas dadas pelos manuais não resolvem o problema se o aluno não praticar, diariamente, a leitura de vários tipos de textos, desde os mais didáticos, esquematizados, aos mais rebuscados. E é dessa forma que ele irá enriquecendo seu vocabulário, descobrindo estratégiasde leitura e melhorando sua maneira de escrever também. Tudo isso vem reforçar que a prática da leitura de jornais, revistas e livros é, sem dúvida, de suma importância para o crescimento intelectual. 1.2 Estratégias de leitura Quando se fala sobre estratégias de leitura, observa-se que essa expressão é usada para identificar vários mecanismos, utilizados na leitura de textos com o objetivo de melhor compreender seu sentido. Quando se procura o significado dessa expressão na internet, por exemplo, apresentam-se vários tipos de estratégias provenientes de teorias diversas ou de reflexões feitas por leitores mais dedicados. Sendo assim, que tipo de estratégias estamos falando? Quais estratégias conhecemos e/ou utilizamos em nossas leituras e não nos damos conta? Segundo KATO (1985, p. 64), nos modelos teóricos de leitura o termo “estratégia” costuma ser empregado para caracterizar “os diversos comportamentos hipotetizados no leitor durante o processo de ler.” Nesses modelos teóricos, formulados a partir dos estudos das ciências cognitivas do discurso, o leitor é visto, especificamente pela psicolinguística, como um construtor, e o “sucesso de seu entendimento vai depender de sua atividade durante o ato de ler” (SILVEIRA, 2005, p. 66). Segundo Leffa, citada por Silveira (2005), o uso de estratégias de leitura ajuda o leitor a adquirir maior Técnicas de estudos 9 Metodologia científica consciência do ato de ler, fazendo-se, com isso, mais eficiente. Segundo a autora, isso ocorre porque o leitor: • estabelece um objetivo para cada tipo de leitura; • avalia o próprio comportamento durante o ato de ler; • aprende a detectar ambiguidades e incoerências no texto; • aprende a resolver problemas de entendimento, selecionando as estratégias adequadas; • faz-se eficiente na adoção de diferentes estilos de leitura para diferentes materiais e para conseguir diferentes objetivos; • questiona o que lê. Segundo Silveira (2005: 68), o modelo do teórico Goodman, intitulado Leitura como jogo psicolingüístico de adivinhações, contemplou e promoveu a aplicabilidade de estratégias de leitura. Segundo esse estudioso, as estratégias para o entendimento do texto são: • Predição – capacidade do leitor antecipar-se ao texto à medida que vai processando seu entendimento; • Seleção – habilidade de selecionar só os índices que são relevantes a seu entendimento e propósito; • Inferência – através da qual o leitor completa a informação, utilizando sua qualificação linguística, seu conhecimento conceitual e os esquemas que estão em sua mente; • Confirmação – utilizada para verificar se as predições estão corretas ou precisam ser replanejadas; Técnicas de estudos 10 Metodologia científica • Correção – uma vez confirmada a predição, o leitor levanta outras hipóteses e recolhe outras pistas, sempre na tentativa de achar sentido no que lê. Nos programas de leitura em língua estrangeira é muito utilizado o que Silveira denomina técnica de leitura. Segundo a autora, é de uso frequente no ensino do inglês instrumental, mas é possível ser aplicado, também, em outras línguas. São elas: • Skimming – leitura rápida da ideia geral de um texto, para descobrir o assunto de que trata; • Scanning – leitura rápida em busca de uma informação específica, geralmente em listas e tabelas; • Leitura detalhada – busca de informações detalhadas, incluindo a exploração de pistas do léxico, sintáticas e discursivas; • Levantamento das ideias principais – essa técnica facilita a retenção das macroestruturas do texto e pode ser utilizada para recursos e para discussões posteriores sobre as principais proposições do texto; • Leitura crítica – questionamento do texto sobre vários pontos de vista (público, leitor a que se destina, intenções, validade das conclusões e da mensagem, em relação ao posicionamento do leitor, etc). Essas técnicas trabalham com a noção de inferência lexical, dando-se ênfase ao conhecimento prévio e a pistas sintáticas e semânticas. Muitas vezes, inclusive o leitor comum, faz uso dessas técnicas em sua leitura, ainda que de forma inconsciente. Nas classes de língua estrangeira, o professor tenta trabalhar com o aluno, alertando sobre as pistas que o texto geralmente apresenta: recursos tipográficos, ilustrações, formato do texto, etc. Técnicas de estudos 11 Metodologia científica 1.3 Tipos de leitores Outro aspecto relevante para esta reflexão é a individualidade do leitor, tema pouco discutido, segundo Varig, citado por Silveira (2005). Segundo a autora, existem pessoas que possuem um pensamento holístico, sintético; já outras se ocupam mais com as minúcias do texto, são mais analíticas. Sobre esse aspecto, Kato citado por Silveira (2005) define dois tipos de leitores. Vejamos: a) Leitores que tendem a usar o processamento descendente ou “top-down”, cujas características são as seguintes: • aprendem facilmente as ideias gerais e principais do texto; • são fluentes e velozes; • fazem muitas suposições (algumas até desautorizadas); • porque não deram muita importância à leitura ascendente, tendem a não confirmar essas suposições com os dados do texto; • fazem mais uso do conhecimento prévio que da informação existente no texto. b) Leitores que privilegiam o processamento ascendente ou “botton-up”, cujas características são: • constroem o significado a partir dos dados do texto; • observam detalhes, detectando até erros de ortografia; • tendem a não tirar conclusões precipitadas; • são lentos e pouco fluentes; • têm dificuldade de sintetizar as ideias do texto porque não sabem separar as ideias principais das acessórias. Técnicas de estudos 12 Metodologia científica Silveira afirma que é evidente que os dois tipos são antagônicos e que a virtude não está nos extremos, e sim, no equilíbrio. Além disso, afirma que vários fatores podem influenciar o leitor na eleição de um mecanismo, a saber: maturidade do leitor, natureza do texto, lugar onde o leitor se situa no texto e o propósito da leitura (Kato apud Silveira, 2005: 74). A autora afirma que o leitor experiente é aquele que tem consciência de seu comportamento no ato de ler, e que pode variar suas estratégias ao longo da leitura. Posteriormente a essas informações, a autora expõe a concepção de leitura, relacionando essa definição à necessidade de uso de estratégias. Tudo o que foi descrito até aqui nos permite achar que é ponto pacífico a concepção de que a leitura é uma atividade cognitiva e linguística fortemente relacionada com a questão do pensamento e da aprendizagem. E, pelo que se desenvolveu até agora, pode-se concluir também que, a estas alturas, sendo a leitura um conjunto de destrezas ou habilidades que demandam o emprego de estratégias, como acontece, em geral, com todas as atividades humanas que envolvem a solução de problemas, é necessário ter como consenso sobre a importância exercida pela cognição e sua atuação circunscrita ao ato de ler (SILVEIRA, 2005, p. 74). Nessas linhas a autora recorda a tarefa de ler como uma atividade cujo objetivo é conseguir o entendimento, valendo-se o leitor/construtor de estratégias para obter sucesso nessa “batalha”, concebida, aqui, como um exercício, sobretudo, cognitivo e linguístico. 1.4 Estratégias cognitivas e metacognitivas Segundo Silveira (2005), as estratégias de leitura podem ser classificadas em estratégias cognitivas e estratégias metacognitivas. Para Vigotsky, citado pela autora, é possível distinguir duas fases no processo de desenvolvimento do conhecimento humano: fase de desenvolvimento automático e inconsciente (cognição) e uma fase de controle desse conhecimento (metacognição). Logo, as estratégias cognitivas “são relacionadas Técnicas de estudos 13 Metodologia científica aos princípios que regem o comportamento automático e inconscientedo leitor. Já as estratégias metacognitivas são relacionadas aos princípios que regulam a desautomatização consciente do processo” (SILVEIRA, 2005, p. 75). As noções apresentadas, anteriormente, servem para dar uma ideia geral das técnicas conscientes e inconscientes que utilizamos durante a leitura. Sem dúvida, ter conhecimento desse processo ajudará o aluno na compreensão e formulação de textos. Vejamos algumas dicas para se iniciar uma leitura: • Ao iniciar a leitura de um livro, é importante que o leitor observe-o em linhas gerais, ou seja, verifique cuidadosamente o todo e suas partes. Leitura detalhada do sumário, os capítulos e referências. Ler cuidadosamente o prefácio, a fim de tirar suas próprias conclusões a respeito da obra, após a leitura; • É importante, também, que o leitor sublinhe ou anote em um papel à parte, as palavras novas e as definições do autor. Sinalizar ao lado dos parágrafos com exclamações, interrogações ou colchetes, ou seja, facilitar o trabalho de um posterior fichamento do livro ou texto; • Dependendo do tipo de texto (didático ou complexo), o leitor poderá ajustar a velocidade da leitura, a fim de economizar tempo. Ou seja, dedicar mais tempo aos textos mais complexos; • Uma estratégia importante é não se deter em um parágrafo apenas, repetindo-o, caso o leitor tenha tido dificuldade em compreendê-lo. É interessante sinalizá-lo e seguir adiante na leitura do capítulo ou final do texto, para depois retornar ao trecho complexo. Muitas vezes, um trecho mais à frente esclarece a dúvida anterior. Vale salientar que essas dicas poderão ser bastante úteis para alguns leitores, e para outros, não funcionem. Isso porque o uso das estratégias de Técnicas de estudos 14 Metodologia científica leitura, assim como outros usos, variam de pessoa para pessoa. Muitos leitores desenvolvem suas próprias estratégias, embora pareçam estranhas ou ineficientes para outros. O importante é que cada leitor encontre as que mais se adaptem ao seu ritmo. 1.5 Esquema, resumo e fichamento 1.5.1 Esquema O esquema é uma das técnicas que ajudam a sintetizar as ideias principais de um texto ou conteúdo em geral. Costumamos chamá-lo de “esqueleto” no sentido de que ele não deverá ser extenso, cheio de detalhes, e sim, conter, principalmente, as palavras-chave. Geralmente, utiliza-se o esquema para uma preparação de um resumo, com o objetivo de organizar o pensamento em relação às informações adquiridas. Na elaboração de um esquema, geralmente, são utilizados símbolos como setas, colchetes, chaves e marcadores para ajudarem na organização da síntese do conteúdo, dependendo da preferência de quem o formula. Salomon (1977, p. 85), um dos principais nomes no estudo da metodologia científica, ressalta as características de um bom esquema. Vejamos: Um esquema, para que seja realmente útil, deve ter as seguintes características: 1. Fidelidade ao texto original: deve conter as idéias do autor, sem alteração, mesmo quando se usarem as próprias palavras para reproduzir as do autor. Por isso, em alguns momentos, é preciso transcrever e citar a página. Técnicas de estudos 15 Metodologia científica 2. Estrutura lógica do assunto: de posse da idéia principal, dos detalhes importantes, é possível elaborar uma organização dessas idéias a partir das mais importantes para as conseqüentes. No esquema, haverá lugar para os devidos destaques. 3. Adequação ao assunto estudado e funcionalidade: o esquema útil é flexível. Adapta-se ao tipo de matéria que se estuda. Assunto mais profundo, mais rico de informações e detalhes importantes possibilitará uma forma de esquema com maiores indicações. Assunto menos profundo, mais simples, terá no esquema apenas indicações- chave. É diferente de um esquema em função de revisão para exame e outro em função de uma aula a ser dada! 4. Utilidade de seu emprego: consequência da característica anterior: o esquema deve ajudar e não atrapalhar. Tratando-se de esquema em função do estudo, deve ser feito de tal modo que facilite a revisão. É instrumento de trabalho. Deve facilitar a consulta no texto, quando necessário. Daí explicitar páginas, relacionamento de partes do texto etc. 5. Cunho pessoal: cada um faz o esquema de acordo com suas tendências, hábitos, recursos e experiências pessoais. Por isso é que um esquema de uma pessoa raramente é útil para outra. Uns preferem o esquema rigidamente lógico, outros o cronológico, ou o psicológico, na disposição das ideias. Alguns usam recursos gráficos, de visualização da imagem mental (tinta de cor, desenhos, símbolos etc); já outros preferem empregar só palavras. Técnicas de estudos 16 Metodologia científica Exemplo de esquema 1: Salomon (1977, p. 88), após dar as características de um bom esquema, apresenta os itens anteriores, em forma esquemática: ESQUEMA CARACTERÍSTICAS DE UM ESQUEMA ÚTIL 1. Flexibilidade: o esquema é que deve adaptar-se à realidade e não esta ao esquema. 2. Fidelidade ao original: esquematizar não é deturpar, mas sintetizar. 3. Estrutura lógica do assunto: organiza-se pelo esquema a relação da idéia importante e seu desenvolvimento. 4. Adequação ao assunto estudado: mesmo que funcionalidade. 5. Utilidade de emprego: o esquema tem por objetivo auxiliar a captação do conjunto e servir para comunicar algo. 6. Cunho pessoal: o esquema traduz atitudes e modo de agir de cada um – varia de pessoa para pessoa.” Exemplo de esquema 2: Outro exemplo de esquema, sobre o mesmo texto, utilizando-se a numeração progressiva: 1. Esquema útil 1.1 Características 1.1.1 Flexibilidade – adaptação à realidade 1.1.2 Fidelidade ao original – síntese e não alteração da ideia 1.1.3 Estrutura lógica – relação da ideia importante e seu desenvolvimento Técnicas de estudos 17 Metodologia científica 1.1.4 Adequação ao assunto - funcionalidade 1.1.5 Utilidade de emprego – sintetizar e comunicar algo 1.1.6 Cunho pessoal – varia de pessoa para pessoa Podemos observar, nesse último exemplo de esquema, além de sua estrutura de numeração progressiva, que houve alteração de algumas palavras, mas não da ideia. O autor do esquema pode escrever com suas palavras o que entendeu de um texto ou capítulo, mantendo o cuidado para não deturpar a idéia, como diz Salomon. Se utilizar as mesmas palavras do autor do livro, estas deverão vir entre aspas. Nesse último exemplo, foram utilizados a numeração progressiva e hifens, mas poderiam ser utilizados colchetes e setas, para auxiliar na organização e compreensão. O importante é sintetizar as ideias principais, com clareza e fidelidade ao sentido do texto original. 1.5.2 Tipos de resumo O resumo de um texto constitui uma síntese das principais ideias abordadas. Geralmente, um resumo é sempre precedido de um esquema, no sentido de que quando precisamos resumir determinado conteúdo, de antemão, procuramos organizar as informações principais em forma de tópicos. Existem vários tipos de resumo, dependendo de cada necessidade. Vejamos os principais tipos, de acordo com Andrade (2007, p. 15-16): a) Resumo descritivo ou indicativo: nesse tipo de resumo descrevem-se os principais tópicos do texto original, e indicam-se sucintamente seus conteúdos. Portanto, não dispensa a leitura do texto original para a compreensão do assunto. Quanto à extensão, não deve ultrapassar quinze ou vinte linhas; utilizam-se frases curtas que, geralmente, correspondem a cada elemento fundamental do texto; Técnicas de estudos 18 Metodologia científica porém, o resumo descritivo não deve limitar-se à enumeração pura e simples das partes do trabalho. b) Resumo informativo ou analítico: é o tipo de resumo que reduz o texto a 1/3 ou 1/4 do original, abolindo-se gráficos, citações, exemplificações abundantes, mantendo-se, porém, asidéias principais. Não são permitidas as opiniões pessoais do autor do resumo. O resumo informativo, que é o mais solicitado nos cursos de graduação, deve dispensar a leitura do texto original para o conhecimento do assunto. c) Resumo crítico: Consiste na condensação do texto original a 1/3 ou 1/4 de sua extensão, mantendo as idéias fundamentais, mas permite opiniões e comentários do autor do resumo. Tal como o resumo informativo, dispensa a leitura do original para a compreensão do assunto. d) Resenha: é um tipo de resumo crítico; contudo, mais abrangente. Além de reduzir o texto, permite opiniões e comentários, inclui julgamentos de valor, tais como comparações com outras obras da mesma área do conhecimento, a relevância da obra em relação às outras do mesmo gênero etc. e) Sinopse (em inglês, synopsis ou summary, em francês, résumé d'auteur): neste tipo de resumo indicam-se o tema ou assunto da obra e suas partes principais. Trata-se de um resumo bem curto, elaborado apenas pelo autor da obra ou por seus editores. Técnicas de estudos 19 Metodologia científica Podemos observar, a partir das características de cada resumo, acima elucidadas, que podemos dividir os resumos em textos breves ou longos, completos ou sucintos, críticos ou apenas informativos. Interessante é a distinção discreta entre o resumo crítico e a resenha: no primeiro, é permitido dar opiniões a respeito da obra, seja a respeito do conteúdo em si ou do tipo de linguagem utilizada, perfil do autor, dentre outras características; já no segundo, não bastam somente opiniões, mas um conhecimento prévio a respeito do assunto tratado, para que se possa, verdadeiramente, falar com propriedade a respeito do tema, fazer comparações com outras obras, abordagens e teorias, ou seja, fazer uma crítica produtiva. Muitas vezes, os professores solicitam resenhas de obras a alunos iniciantes no curso superior, sem atentarem para o fato de que o aluno iniciante precisará de um longo caminho até adquirir a maturidade e tempo de leitura para produzir uma resenha. Cabe ao aluno aplicado, ciente das características de um resumo e uma resenha, perguntar com detalhes ao professor, que tipo de resumo ele está solicitando. No que diz respeito à elaboração de um resumo, há algumas orientações que, certamente, serão de grande importância na hora de escrever. Após a leitura cuidadosa do texto ou capítulo, faz-se necessário reler e sublinhar as frases ou palavras mais importantes do texto. Com base no que foi sublinhado, é possível se fazer um bom resumo, garantindo fidelidade ao texto. No entanto, essa não é uma técnica obrigatória e rígida, já que existem bons resumos, independentemente das palavras sublinhadas. Exemplo de resumo com base nas palavras grifadas (ANDRADE, 2007, p. 18): “Vivemos num ambiente formado e, em grande proporção, criado Técnicas de estudos 20 Metodologia científica por influências semânticas sem paralelo no passado: circulação em massa, de jornais e revistas que só fazem refletir, num espantoso número de casos, os preconceitos e as obsessões de seus redatores e proprietários; programas de rádio, tanto locais como em cadeia, quase inteiramente dominados por motivos comerciais; conselheiros de relações públicas, que não são mais que artífices, regiamente pagos, para manipular e remodelar o nosso ambiente semântico de um modo favorável a seu cliente. É um ambiente excitante, mas cheio de perigos, sendo apenas um pequeno exagero dizer que foi pelo rádio que Hitler conquistou a Áustria. Os cidadãos de uma sociedade moderna precisam, em conseqüência, de algo mais do que simples 'senso comum', recentemente definido por Stuart Chase como 'aquilo que nos diz que o mundo é plano'. Precisam, esses cidadãos, de ficar cientificamente conscientes do poder e das limitações dos símbolos, especialmente das palavras, se é que desejam evitar ser levados à mais completa confusão, mediante a complexidade do seu ambiente semântico. Assim, pois, o primeiro dos princípios que governam os símbolos é este: O símbolo não é a coisa simbolizada; a palavra não é a coisa; o mapa não é o território que ele representa.” (HAYAKAWA apud ANDRADE, 2007, p. 18) Resumo: “Vivemos num ambiente formado por influências semânticas: circulação em massa de jornais que refletem os preconceitos e obsessões de seus redatores e proprietários; o rádio, dominado por motivos comerciais; os relações públicas, pagos para manipular o ambiente a favor de seus clientes. É um ambiente excitante, mas cheio de perigos. Os cidadãos de uma sociedade moderna precisam ficar Técnicas de estudos 21 Metodologia científica conscientes do poder e das limitações dos símbolos, a fim de evitar confusão ante a complexidade de seu ambiente semântico. O primeiro princípio que governa os símbolos é este: o símbolo não é a coisa simbolizada; a palavra não é a coisa; o mapa não é o território que representa.” Salientamos que, além do resumo com base nas palavras sublinhadas, visto no exemplo anterior, é viável, também, fazê-lo apenas com a idéia central do texto, tomando o cuidado para não deturpar o que foi dito no texto original. Como palavra final, a respeito de resumo, é importante que o aluno adote a prática de sublinhar os textos lidos, para facilitar a compreensão e elaboração. 1.5.3 Fichamento O fichamento é o ato de fichar (transcrever) anotações sobre capítulos, obras, livros, na maioria das vezes, para um estudo posterior ou para melhor organizar as ideias que o texto ou obra quis passar. A maior vantagem em praticar o fichamento, após a leitura de livros, é garantir um registro sucinto das informações principais de determinada obra, para que não sejam esquecidas, podendo ser utilizadas a qualquer tempo. Tempos atrás, eram utilizadas, apenas, fichas de papel; hoje, podemos falar de fichas no computador. Atualmente, orientamos os alunos a organizarem pastas no computador, sob o título fichário. Nesse espaço, o aluno pesquisador irá organizar várias fichas dos livros e capítulos lido por ele, durante sua vida ou apenas durante o curso. Comumente, no ensino superior, os professores costumam solicitar fichamentos de capítulos ou livros. Existem, na verdade, vários tipos de fichas, com diferentes objetivos. Vamos conhecer as mais comuns? Técnicas de estudos 22 Metodologia científica Seguindo os passos de Andrade (2007, p. 48-56), resumiremos os principais tipos de fichas, com exemplos utilizados pela autora: a) Fichas de indicações bibliográficas – consistem no conjunto de elementos que constam na bibliografia: autor, título, número da edição, local da publicação, editora e data da publicação. Geralmente, encontramos esse tipo de ficha em fichários de bibliotecas, para identificar as obras que constam na mesma. a. 1) Exemplo de ficha de indicação bibliográfica: autor1 b) Fichas de transcrições – é constituída de trechos da obra, que poderão ser utilizados como citações no trabalho que o pesquisador irá realizar, ou apenas registrar as principais idéias do autor do livro. b. 1) Exemplo de ficha de transcrição c) Fichas de esquemas – são constituídas de esquemas de capítulos, livros ou planos de trabalho. 1 Os exemplos apresentados no item Fichamento foram extraídos da obra: ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 51-55. LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina: contos. 4. ed. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 1981. FOLCLORE/ Artesanato LIMA, Rossini T. de. A ciência do folclore: segundo diretrizes da Escola de folclore. São Paulo: Ricordi, 1978. p. 15-16. “A indumentária também é artesanato, enquanto foi produzidapara a venda, e é indumentária propriamente dita ao ser usada. A imagem do santo pode ser arte na casa do artista ou de alguém que a tem nas suas características decorativas; é manifestação de religião ao integrar um contexto religioso.” Técnicas de estudos 23 Metodologia científica c. 1) Exemplo de ficha de esquema d) Fichas de resumos - constituídas de resumos descritivos ou informativos. d. 1) Exemplo de ficha de resumo descritivo Além desses tipos de fichas, registramos, ainda, o tipo de trabalho solicitado por professores no curso superior, na maioria das vezes, para conduzir o aluno à leitura, destacando as informações principais da obra e tecendo comentários a respeito da mesma. Vejamos os itens necessários para esse tipo de ficha, de acordo com HUHNE (2000, p. 64-65): METODOLOGIA CIENTÍFICA I Pesquisa bibliográfica – fases: 1. Escolha e delimitação do tema 2. Identificação das fontes (consulta a catálogos, fichários, abstracts) 3. Localização das informações: Leituras (prévias, seletiva, analítica, interpretativa) 4. Documentação – Fichamentos (resumos, transcrições, apreciações, indicações) 5. Seleção de material levantado 6. Planejamento do trabalho 7. Redação das partes 8. Revisão e redação final 9. Organização da bibliografia O dicionário, com cinco volumes e mais de 5.000 páginas, contém 85. 486 palavras, dispostas em ordem alfabética. Inclui minucioso estudo da palavra, desde as origens, raiz e formação, sempre agrupadas em famílias. Os vocábulos são segmentados por traços; raiz, sufixo, prefixo, elementos de ligação. Ao indicar a origem da palavra, comprova que muitas vieram do sânscrito e outras línguas antigas, como o nórdico e o frísio, embora a maioria se tenha originado do latim. Entre as 36 línguas que contribuíram para a formação do vocabulário português incluem-se o grego e o tupi. Trata-se de um trabalho inédito no mundo e destina-se aos estudiosos da língua e professores de português. Técnicas de estudos 24 Metodologia científica 1.6 Pesquisa bibliográfica Após o ingresso do aluno em um curso superior, a pesquisa bibliográfica torna-se uma prática constante em sua vida acadêmica, nas diversas etapas do curso. Para todo e qualquer trabalho a ser realizado, será necessário recorrer às fontes bibliográficas para se saber o que foi feito até o momento sobre determinado assunto, as teorias formuladas, os inúmeros trabalhos realizados por outros alunos. As aulas, em sua maioria, são constituídas de momentos de discussão, o que exige do aluno estar atualizado com as leituras das obras que constam na bibliografia dada. Sendo assim, a prática da pesquisa bibliográfica é indispensável nos cursos superiores para o amadurecimento do aluno, seja nas atividades relacionadas à pesquisa científica ou apenas nos trabalhos do curso. 1.6.1 Pesquisa na biblioteca O ambiente da biblioteca é, sem dúvida, o melhor refúgio para os alunos, sejam eles iniciantes ou veteranos. Há uma mescla de curiosidade e ansiedade em conhecer o que há naquelas obras. A prática de visitar as Indicação bibliográfica (conforme as normas da ABNT) 1ª parte: apresentação objetiva das idéias do autor 1 – Resumo (baseado no esquema) 2 – Pequenas citações (entre aspas e páginas) 2ª parte: elaboração pessoal sobre a leitura 1 – Comentários (parecer e crítica) 2 – Ideação (novas perspectivas) Técnicas de estudos 25 Metodologia científica bibliotecas, seja da cidade, do bairro ou da Instituição, trabalha no aluno o prazer em pesquisar, familiarizando-o com o saber científico. Segundo Andrade (2007, p. 26-27), comumente, há três fichários básicos na biblioteca: fichário de autores, de títulos e de assuntos. Nas fichas de autores constam os sobrenomes destes em ordem alfabética; nos títulos das obras, são disponibilizadas apenas o título dos livros, sem considerar o artigo inicial; no fichário de assuntos, há referência, primeiramente, ao tema tratado na obra. Além de ficar atento ao tipo de fichário para realizar a pesquisa, o aluno deverá, também, ter em mente o tipo de fonte que melhor atenderá às suas necessidades. Gil citado por Andrade (2007, p. 28) apresenta os tipos de fontes da seguinte maneira: Classificação das fontes: • livros de leitura corrente: obras de literatura, em seus diversos gêneros (romance, poesia, teatro etc.); obras de divulgação, que podem ser científicas, técnicas e de vulgarização. As científicas e técnicas utilizam linguagem própria da Ciência e destinam-se aos especialistas de cada área. As de vulgarização destinam-se ao público não especializado na matéria; • livros de referência: dicionários, enciclopédias e anuários são as principais obras de referência informativa. Os de referência remissiva são os catálogos das grandes bibliotecas e editoras, os boletins e jornais especializados; • periódicos: as principais publicações periódicas são os jornais e revistas, de grande utilidade para a atualização das informações. As revistas Técnicas de estudos 26 Metodologia científica costumam publicar resenhas, que representam uma forma de estar em dia com publicações recentes de cada área do conhecimento; • impressos diversos: além de livros, jornais e revistas, encontram-se nas bibliotecas publicações do governo, boletins informativos de empresas ou de institutos de pesquisa, estatutos de entidades diversas etc. Spina (1974, p. 12) acrescenta a essa classificação: • obras de estudo: tratados, manuais, textos, compêndios, monografias, teses, ensaios, conferências, antologias, seleções, dissertações etc. Esse último tipo de fonte, acrescentada por Spina (1974), constitui um material de suma importância para o aluno iniciante. Com base na leitura de monografias, teses e ensaios de outros alunos e professores e/ou teóricos, o aluno terá contato com a linguagem utilizada, temas já abordados, organização do trabalho, dificuldades relatadas, enfim, tudo de grande valia para seus trabalhos futuros. 1.6.2 Pesquisa na internet Além do ambiente físico das bibliotecas, hoje, temos a comodidade e rapidez do ambiente virtual da internet. No entanto, requer algumas ressalvas básicas para melhor fazer uso desse meio, sem perder tempo ou ser prejudicado. Vejamos algumas orientações: • Utilizar palavras-chave do assunto a ser pesquisado – ter um foco na hora de pesquisar, para não se perder, desperdiçando tempo; • Pesquisar em sites confiáveis e específicos, quando necessário – escolher buscadores mais conhecidos, indicados por professores, sites do governo Técnicas de estudos 27 Metodologia científica e de instituições respeitadas. Não confiar totalmente em sites individuais, caseiros, blogs (exceto os de renome); • Atenção redobrada ao copiar e colar algum texto - ter o cuidado para limpar a formatação do texto original e reformatá-lo. Não esquecer de fazer a referência do autor e do site, mesmo em citações indiretas. Seguem, abaixo, três tabelas com alguns endereços eletrônicos, apresentados por Andrade (2007, p. 31-39): Tabela 1 - Lista de endereços de alguns sites de busca genérica, em língua portuguesa Site Endereço (URL) Tipo Alta Vista http://br.altavista.com Genérico, dividido por áreas Brasil Online http://www.miner.com.br Metabuscador Guby Network http://www.achei.com.br Genérico, dividido por áreas Lycos http://www.lycos.com.br Genérico, dividido por áreas Microsoft http://www.msn.com.br Genérico, no Internet Explorer Netscape Brasil http://home.br.netscape.com/pt Genérico, botão do Netscape StarMedia http://www.cade.com.br Genérico, dividido por áreas UOL http://www.radaruol.com.br Genérico Vem Cá Serviços http://www.jarbas.com.br Metabuscador Yahoo! Brasil http://www.yahoo.com.brGenérico Técnicas de estudos 28 Metodologia científica Tabela 2 - Sites que podem auxiliar em trabalhos e pesquisa, com mecanismo de busca, mais voltados para o primeiro e segundo graus até o vestibular: Site Endereço (URL) Descrição BARSA http://www.barsa.com Atualidades, pesquisas, dicionário Enciclopédia Digital Master http://pediab.zip.net Busca por seções; com Atlas e várias áreas globo.com http://www.10emtudo.com.br Todas as matérias, simulados, cadastro grátis helio@milenio.com.br http://www.biomania.com.br Dividida em áreas, biografias, exercícios IBGE http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/default. htm Brasil em números, para jovens Scite.Pro http://www.scite.pro.br Biblioteca d eciências, textos, livros, multimídia Terra http://www.terra.com.br/matematica Dividida por temas, com exercícios resolvidos UOL http://www2.uol.com.br/almanaque Versão on line do Almanaque Abril, retrospectiva anual USP – Escola do Futuro http://www.bibvirt.futuro.usp.br Extensa e variada, literatura e vestibular ZipNet http://www.historianet.com.br História Geral, do Brasil e das Artes Técnicas de estudos 29 Metodologia científica Tabela 3 - Relação de alguns sites, em áreas específicas, com informações acadêmicas e pesquisas, com mecanismo de busca: Site Endereço (URL) Descrição Base Peri http://dibd.esalq.usp.hr/peri.htm Mais de 30.000 artigos na área de Ciências Agrárias Base PERIE http://www.eco.unicamp.br Artigos, monografias, pesquisas em Economia Univ. Columbia Internacional Affairs http://www.ciaonet.org Negócios Internacionais, user = biblio;senha = udesc US National Science Foundation http://xxx.lanl.gov EUA – Textos na área de Física, Matemática e Computação Edubase http://www.bibli.fae.unicamp.br Dados em Educação, artigos, monografias, pesquisas Sibradid http://www.eef.ufmg.br Educação Física e Desporto, centro esportivo virtual Base de Dados Infobila http://cuib.unam.mx Informação e Biblioteconomia na América Latina MEDlars online http://igm.nlm.nih.gov Base de dados em Ciências Médicas, Saúde Pública - EUA Biblioteca pública na Internet - EUA http://www.ipl.org/ref/ Enciclopédias, dicionários, atlas, em todas as áreas Web of Science http://webofscience.fapesp.br Produção científica indexada, desde 1974, todas as áreas - BR” Técnicas de estudos 30 Metodologia científica 1.7 Referências ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 8. ed. São Paulo: atlas, 2007. MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONISIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Orgs.). Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. HUHNE, L.M. Metodologia científica. 7. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2000. pp.64- 65. SALOMON, D. V. Como fazer uma monografia: elementos de metodologia do trabalho científico. 5. ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1977. SILVEIRA, Maria Inez M. Modelos teóricos e estratégias de leitura: suas implicações para o ensino. Maceió: EDUFAL, 2005. Introdução à pesquisa científica 31 Metodologia científica Unidade 2 Introdução à pesquisa científica Introdução à pesquisa científica 32 Metodologia científica 2. Introdução à pesquisa cientifica Para falarmos sobre o conhecimento científico, sem dúvida faz-se necessário fazer referência aos outros tipos de conhecimentos, com o objetivo de sabermos diferenciar um de outro e identificá-los em nosso dia-a-dia. Podemos falar em quatro tipos de conhecimentos, a saber: conhecimento científico, conhecimento do senso comum (popular), conhecimento filosófico e conhecimento teológico. Vejamos as principais características e alguns exemplos para melhor compreendê-los. 2.1 Tipos de conhecimento a) Conhecimento científico – é o conhecimento racional, exato e que faz uso de teoria e método. Exemplo: A descoberta de uma vacina para determinado vírus. Vejamos as principais características desse tipo de conhecimento nas palavras de Pizam, citado por Schlüter (2003, p. 24-25): • - É objetivo porque é independente da opinião pessoal do pesquisador a respeito do tema que estuda. • - É reproduzível porque é um processo que permite que outros pesquisadores cheguem ao mesmo resultado. • - É sistemático porque trata de conhecimentos organizados logicamente, utilizando procedimentos técnicos. Introdução à pesquisa científica 33 Metodologia científica b) Conhecimento do senso comum – conhecido também como conhecimento popular, é o conhecimento obtido na experiência de vida, através da simples observação e prática de ações não planejadas. Esse tipo de conhecimento, comumente, é passado de uma geração à outra, ou seja, de pai para filho ou entre pessoas de uma mesma comunidade. Exemplo: Orientações como não misturar leite com determinadas frutas. Segundo Ander-Egg, citado por Schlüter (2003, p. 23-24), o conhecimento do senso-comum é caracterizado, normalmente, como superficial, sensitivo, subjetivo e acrítico. - É superficial, na medida em que se resigna com o aparente, com o que comprova com o simples passar pelas coisas; o conhecimento expresso em frases como “porque falaram”, “porque eu vi”, “porque li”, “porque todo mundo diz”. - É sensitivo uma vez que faz referência a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária. - Subjetivo, porque o próprio indivíduo organiza as experiências e os conhecimentos de um modo não sistemático, tanto na forma de adquiri-los como na de validá-los. Podem ser verdadeiros ou não, o certo é que não se coloca a pretensão de sê-lo de forma crítica ou reflexiva (Ander-Egg, apud Schlüter, 2003). Vale salientar que embora não tenha valor científico, o conhecimento popular é de grande valor para a sociedade, para a cultura de determinada comunidade e funciona, muitas vezes, como ponto de partida para reflexões em nosso dia-a-dia. c) Conhecimento filosófico - é o conhecimento adquirido através do raciocínio e reflexão a respeito dos fenômenos gerais do universo, buscando-se conceituá-los de forma subjetiva. Introdução à pesquisa científica 34 Metodologia científica Exemplo: "O homem é a ponte entre o animal e o além-homem." (Friedrich Nietzsche) d) Conhecimento teológico - conhecimento adquirido através da fé ou crença religiosa. Exemplo: Acreditar em milagres ou verdades incontestáveis (dogmas) de uma religião. 2.2 Pesquisa científica A pesquisa científica pode ser definida como um “procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos” (GIL, 2002, p. 17). Quando não há respostas suficientes para algum problema ou quando há desordem nas respostas disponíveis, a pesquisa científica se faz necessária2. Para desenvolver uma pesquisa científica, é necessário que se faça uso de métodos e técnicas específicas, além dos conhecimentos prévios em relação ao problema. Gil (2002, p. 20) destaca as principais qualidades intelectuais e sociais do pesquisador, para obter êxito nas várias etapas desse processo: Qualidades pessoais do pesquisador: a) conhecimento do assunto a ser pesquisado; b) curiosidade; c) criatividade; d) integridade intelectual; e) atitude autocorretiva; 2 GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 17. Introdução à pesquisa científica 35 Metodologia científica f) sensibilidade social; g) imaginação disciplinada; h) perseverança e paciência; i) confiança na experiência. Todas essas qualidades, bem pontuadas pelo autor, são necessárias para se percorrer o caminho da pesquisa científica, obtendo êxito nos resultados, seja em uma pesquisa “pura” ou “aplicada”3. Dentre as qualidades, acima apresentadas, a perseverança e paciência são de extrema importância, postoque, comumente, são inúmeras as dificuldades que surgem durante o processo. Vejamos alguns dos principais problemas sentidos pelos alunos: a) dificuldades para elaborar o projeto de pesquisa; b) adequação à teoria ou linha de pesquisa; c) dificuldade no acesso às fontes bibliográficas; d) custos; e) problemas com o(a) orientador(a); f) dificuldade na redação do texto; g) problemas quanto ao tempo disponível No que diz respeito ao primeiro item, geralmente, os alunos iniciantes demoram a se adaptar ao ritmo de um curso superior ou trazem consigo problemas de uma formação deficiente. Muitos alunos ingressam em um curso superior com sérios problemas na elaboração de textos ou organização de um raciocínio lógico, e por isso, sentem dificuldades na elaboração de um projeto de pesquisa, na formulação de um problema e hipóteses. Sem esquecer, é claro, que 3 As pesquisas consideradas “puras” são as que surgem do desejo de conhecer pela própria satisfação de conhecer; as “aplicadas”, decorrem do desejo de conhecer e fazer algo de maneira eficiente (Ibidem, p. 17). Introdução à pesquisa científica 36 Metodologia científica se trata de uma prática nova para os iniciantes. Quando falamos de ritmo, estamos nos referindo à prática da pesquisa bibliográfica, leitura diária e linguagem formal na elaboração e apresentação de trabalhos acadêmicos, dentre outras exigências. O aluno do ensino médio, comumente, está habituado a pesquisar ou ler apenas quando é cobrado pelo professor ou para fazer determinado trabalho. Na universidade ou faculdade, para o aluno obter êxito no curso, e mais ainda, para fazer pesquisa, precisa habituar-se constantemente a pesquisar e ler, sem esperar ser cobrado. É um voo solitário; um voo de águia e não mais de pardais, diríamos na linguagem metafórica. O aluno precisa cultivar suas aptidões e aprimorá-las, com leitura, assiduidade às aulas (presenciais) e compromisso com as aulas a distância, se for o caso. Ainda sobre as dificuldades em realizar uma pesquisa científica, os problemas relacionados à teoria, acesso às fontes, custos e tempo disponível, precisam ser sanados o quanto antes, para que a pesquisa se concretize e seja produtiva. Muitas vezes, os alunos querem dar conta de um problema muito abrangente, ambicioso, ou que não se enquadra nas linhas de pesquisa dos orientadores disponíveis. Há, ainda, estudos que demandam custos altos, que não poderão ser realizados sem o auxílio de uma bolsa ou programa do Governo, e outros, que requerem bastante tempo na coleta de dados. Esse alerta não quer dizer que o aluno não possa ser criativo e ousado, no bom sentido, mas que ele precisa ter consciência de suas limitações, para que não venha ter sérios problemas na execução da pesquisa, bem como na vida acadêmica como um todo. No que diz respeito aos problemas com o orientador, vale apostar na sabedoria e humildade. É interessante escolher um professor que além de se enquadrar na linha de pesquisa escolhida, tenha estabelecido alguma afinidade em relação à turma e/ou aluno, para que haja tranquilidade na relação Introdução à pesquisa científica 37 Metodologia científica orientador versus orientando. Se isso não for possível, será preciso usar mais da responsabilidade e humildade, para obter credibilidade por parte do orientador. Essas ressalvas não tem como objetivo assustar o iniciante na pesquisa, e sim, prepará-lo para as eventuais dificuldades que poderão ocorrer no processo. 2.3 Tipologia da pesquisa Veremos neste item, de forma esquemática, a classificação da pesquisa quanto à natureza, aos objetivos, aos procedimentos e ao objeto, conforme Andrade (2007, p. 113): Quanto à natureza – pode ser um trabalho científico original ou resumo de assunto. O trabalho original diz respeito às pesquisas feitas pela primeira vez, geralmente, realizadas por teóricos e cientistas. Já os resumos de assunto, partem de pesquisas já realizadas por autoridades em determinado assunto, com o objetivo, não de fazer uma simples cópia, mas de interpretar as idéias com base em fatos reais e metodologia adequada. Quanto aos objetivos – pode ser exploratória, descritiva e explicativa Exploratória – procura proporcionar maiores informações sobre determinado tema. Ex. Pesquisa bibliográfica. Descritiva – tem como objetivo principal descrever traços de determinada população ou fenômeno, sem a interferência do pesquisador. Ex: Pesquisas desenvolvidas nas Ciências Humanas e Sociais (mercadológicas, pesquisas de opinião, levantamentos socioeconômicos). Introdução à pesquisa científica 38 Metodologia científica Explicativa – além do objetivo de estudar os fenômenos, procura descobrir os fatores determinantes. Quanto aos procedimentos - maneira pela qual os dados necessários são adquiridos. Pesquisas de campo – tem como objetivo a observação dos fatos tal como ocorrem na realidade. O pesquisador coleta os dados no local onde ocorre determinado fenômeno; Pesquisas de fontes (pesquisa bibliográfica e pesquisa documental) – a diferença principal entre a bibliográfica e a documental é a de que a primeira faz uso de fontes secundárias, enquanto a segunda, faz uso de documentos originais. Quanto ao objeto – podem ser de três formas: bibliográfica, de laboratório e de campo: Bibliográfica - pode constituir-se de um trabalho independente ou como ponto de partida de outra investigação. De laboratório – em sua grande maioria, constitui-se de uma pesquisa experimental, embora isso não seja uma regra. No laboratório, o pesquisador provoca, produz e reproduz fenômenos, em condições de controle (RUIZ apud ANDRADE, 2007, p. 116). De campo – nessa pesquisa, como foi dito anteriormente, a coleta de dados é realizada no ambiente onde ocorre o fenômeno, sem interferência do pesquisador. Desenvolvida, principalmente, nas Ciências Sociais (política, economia, sociologia e Antropologia). Introdução à pesquisa científica 39 Metodologia científica 2.4 Planejamento de pesquisa Essa é considerada a primeira fase da pesquisa, envolvendo a formulação do problema, objetivos, construção das hipóteses, operacionalização dos conceitos etc (GIL, 2002, p. 19). Tudo isso será concretizado através da elaboração de um projeto de pesquisa que servirá como um roteiro a ser seguido e deverá mostrar com clareza o quê (problema), por quê (justificativa), para quê (objetivo) e como (metodologia) se pretende realizar esse estudo. Sabendo da importância de esquematizar para melhor compreender um conteúdo ou trabalho a ser realizado, muitos pesquisadores elaboram a diagramação da pesquisa. Vale salientar que essas etapas não são rígidas, pois muitas vezes é preciso simplificar ou alterar alguma das fases. Vejamos um exemplo desse diagrama, apresentado por Gil (2002, p. 21): Quadro - Diagramação da pesquisa Formulação do problema Construção de hipóteses Determinação do plano Operacionalização das variáveis Elaboração dos instrumentos de coleta de dados Pré-teste dos instrumentos Seleção da amostra Coleta de dados Análise e interpretação dos dados Redação do relatório da pesquisa Introdução à pesquisa científica 40 Metodologia científica 2.4.1 Problema de pesquisa Já vimos, até agora, que a pesquisa científica é um procedimento racional para dar respostas a problemas propostos, que pode ser pura ou aplicada e que deverá ser planejada através da elaboração de um projeto. Para a elaboração deste, o aluno deverá formular um problema a ser estudado. Mas o que é um problema de pesquisa? Para ficar mais claro, faremos a distinção entre problema comum e problema científico: Muitos alunos sentem dificuldades em formular um problema científico por não saberem,ao certo, do que se trata exatamente. Primeiramente, vale dizer que problema científico não é a mesma coisa que todo e qualquer problema. Para ser científico, ele precisa envolver “variáveis que podem ser tidas como testáveis” (GIL, 2002, p. 24). Vejamos como isso funciona, utilizando exemplos deste último autor: 1. “Em que medida a escolaridade determina a preferência político- partidária?” 2. “A desnutrição determina o rebaixamento intelectual?” As variáveis dos exemplos anteriores são, respectivamente, preferência político-partidária e nível de escolaridade. Essas variáveis são suscetíveis de observação e manipulação, pelo fato de ser possível verificar tanto uma como outra. Sendo assim, os problemas dos exemplos (1) e (2) são de natureza científica (GIL, 2002, p. 24). Segundo Kerlinger apud Gil (2002, p. 24), podemos classificar determinados problemas não científicos como problemas de engenharia. Exemplos: Introdução à pesquisa científica 41 Metodologia científica 3.“Como fazer para melhorar os transportes urbanos?” 4.“O que pode ser feito para melhorar a distribuição de renda?” 5.“Como aumentar a produtividade no trabalho?” Segundo GIL (2002), a ciência não pode responder diretamente a problemas como esses, nos exemplos (3), (4) e (5), pois “eles não indagam como são as coisas, suas causas e consequências, mas indagam acerca de como fazer as coisas”. Outro tipo de problema classificado pelo autor como não científicos são os problemas de valor: 6. “Qual a melhor técnica psicoterápica?” 7. “É bom adotar jogos e simulações como técnicas didáticas?” 8. “Os pais devem dar palmadas nos filhos?” Nos três últimos exemplos, (6), (7) e (8), é indagado se algo é bom ou ruim, se se deve ou não fazer determinada coisa. Ou seja, são problemas de valor e não problemas científicos. “Embora não se possa afirmar que o cientista nada tenha a ver com esses problemas, o certo é que a pesquisa científica não pode dar respostas a questões de 'engenharia' e de 'valor', porque sua correção ou incorreção não é passível de verificação empírica ” (GIL, 2002, p. 24). Ainda de acordo com esse último autor, “o problema de pesquisa pode ser determinado por razões de ordem prática ou de ordem intelectual”. As de ordem prática caracterizam as pesquisas aplicadas, interessadas em conhecer e fazer algo mais eficiente; já as de ordem intelectual, caracterizam as pesquisas puras, interessadas, apenas, em conhecer. Vejamos alguns exemplos, conforme Gil, (2002): Razões de ordem prática 1. Busca de respostas para subsidiar determinada ação; Introdução à pesquisa científica 42 Metodologia científica Ex: Uma empresa que deseja conhecer o perfil do consumidor de seus produtos para optar pelo tipo de propaganda que deverá ser feita. 2. Avaliação de certas ações ou programas; Ex: Descobrir os efeitos de um programa do Governo a respeito da recuperação de alcoólatras. 3. Estudo das consequências de várias alternativas possíveis; Ex: Uma empresa que deseja verificar qual sistema de avaliação de desempenho é mais adequado para o perfil de seu pessoal. 4. Predição de acontecimentos. Ex: Uma prefeitura que tem o interesse em verificar em que medida a construção de uma via poderá provocar danos na respectiva área da cidade. Razões de ordem intelectual 1. Exploração de um objeto pouco conhecido; Ex: Os estudos de Freud sobre o inconsciente. 2. Estudo específico de áreas já exploradas; Ex: Um pesquisador que tem o interesse em verificar em que medida fatores não econômicos podem servir como agentes motivadores no trabalho. 3. Teste de uma teoria específica; Ex: A experiência do pesquisador Wardle (1961) com a teoria da carência materna de Bowlby. 4. Descrição de determinado fenômeno; Ex: Estudo que busca verificar os traços socioeconômicos de determinada população. Introdução à pesquisa científica 43 Metodologia científica 2.4.2 A formulação de um problema de pesquisa Embora não haja procedimentos rígidos para a formulação de um problema científico, existem algumas condições que auxiliam o pesquisador nessa etapa, como: • Imersão sistemática no objeto; • Estudo da literatura existente; • Discussão com pessoas experientes na área (SELLTIZ apud GIL, 2002, p. 26). Além dessas condições, há as seguintes regras práticas, apresentadas pelo referido autor: a) O problema deve ser formulado como pergunta – maneira direta utilizada para melhor identificar de que trata a pesquisa; Ex: Dizer que irá pesquisar sobre o problema do divórcio não diz muito sobre a pesquisa. Diferentemente, seria dizer que está pesquisando sobre 'que fatores provocam o divórcio?'4. b) O problema deve ser claro e preciso – um problema precisa ser formulado com clareza para que possa ser solucionado. Não poderá ser vago ou generalizado; Ex: A pergunta 'Como funciona a mente?' é vaga e muito abrangente. Já a pergunta 'Que mecanismos psicológicos podem ser identificados no processo de memorização?' diz respeito ao mesmo tema, mas está delimitado e claro. 4 Os exemplos apresentados no item A formulação de um problema de pesquisa foram extraídos da obra: GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 27-29. Introdução à pesquisa científica 44 Metodologia científica c) O problema deve ser empírico – o pesquisador deverá verificar os resultados com base na experiência e não em valores ou julgamentos pessoais; d) O problema deve ser suscetível de solução – na formulação de um problema, é preciso conhecer as condições oferecidas e possíveis para poder solucioná-lo; e) O problema deve ser delimitado a uma dimensão viável – é preciso que o pesquisador delimite o problema ao seu alcance. Ex: Poderá haver um interesse em pesquisar a atitude dos jovens em relação à religião. Certamente, não será possível verificar a atitude de todo e qualquer jovem a respeito de toda e qualquer religião. O ideal será delimitar a pesquisa, perguntando-se sobre a atitude de determinados jovens, de determinada faixa etária, de uma cidade específica em relação a uma religião específicas. 2.4.3 Hipóteses A hipótese no trabalho científico funciona como uma possível resposta ao problema proposto, através de uma proposição testável. Significa dizer que, após formular um problema solucionável, o pesquisador formulará uma ou mais hipóteses que poderão vir a ser confirmadas ou não ao final da pesquisa. Enquanto o problema deverá ser formulado em forma de pergunta, a hipótese, por sua vez, deverá ser uma afirmação. As hipóteses surgem de diversas fontes, como observação, resultados de outras pesquisas, teorias ou intuição (GIL, 2002, p.35-36). Introdução à pesquisa científica 45 Metodologia científica Observação – considerado o procedimento fundamental na formulação de hipóteses. A observação dos fatos do dia-a-dia fornece pistas de respostas aos problemas propostos; Resultados de outras pesquisas – comumente são utilizados em vários tipos de investigações, e na maioria das vezes, conduzem a conhecimentos mais abrangentes; Teorias – alguns pesquisadores fazem uso de teorias para formularem suas hipóteses, no entanto, isso nem sempre é possível, pois há muitas áreas que carecem de teorias esclarecedoras; Intuição – as hipóteses com base em intuições são, por sua natureza, difíceis de serem avaliadas, por não deixarem claro as razões que a determinaram. Além das fontes mais comuns que determinam as formulações de hipóteses, vistas anteriormente, podemos falar, ainda, das características de uma hipótese aplicável, ou seja, que pode ser testável. Essas características foram formuladas por Goode e Hatt (1969) e McGuigan (1976), e citadas por Gil (2002, p. 36-38): Características de uma hipótese aplicávelClara – os conceitos referentes às variáveis devem estar claramente definidos; Específica – deve ser expressa em termos específicos e não muito pretensiosos; Obter referências empíricas – não deverão envolver julgamentos de valor como “bom”, “mau”, “deve ou deveria”, para que possam ser testadas adequadamente; Introdução à pesquisa científica 46 Metodologia científica Parcimoniosa – entre uma hipótese simples e uma complexa, recomenda-se adotar a simples, desde que tenha o mesmo poder de explicação; Relacionada com as técnicas disponíveis – as hipóteses deverão estar ajustadas às técnicas disponíveis, para serem testadas. Caso não haja, o pesquisador deverá reformulá-las ou realizar estudos para se descobrir novas técnicas. Relacionada com uma teoria – Em muitas pesquisas sociais, este critério é dispensado. No entanto, vale salientar que as hipóteses formuladas deverão ter algum vínculo a uma teoria existente, para que possibilitem a generalização de seus resultados. 2.4.4 Métodos e técnicas de pesquisa No que diz respeito aos métodos científicos, podemos classificá-los da seguinte maneira: métodos de abordagem e métodos de procedimentos. 2.4.5 Métodos de abordagem O método de abordagem pode ser definido como o conjunto de procedimentos utilizados no estudo de fenômenos ou no percurso feito para chegar-se à verdade. Classificam-se em: dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo e dialético (ANDRADE, 2007, p. 121). a) Dedutivo – esse método parte de teorias e leis gerais para se chegar à conclusão. A cadeia de raciocínio estabelece conexão descendente (do geral para o particular); Exemplo de raciocínio dedutivo: Introdução à pesquisa científica 47 Metodologia científica Todo homem é mortal. ---------------universal, geral; Pedro é homem; -----------------------particular; logo, Pedro é mortal. -----------------conclusão (ANDRADE, 2007, p. 121). b) Indutivo – nesse método ocorre o inverso do método dedutivo. A conexão estabelecida é ascendente (do particular para o geral). As constatações particulares conduzem às teorias e leis gerais; Exemplo de raciocínio dedutivo: O calor dilata o ferro; ---------------------particular; O calor dilata o bronze;--------------------particular; O calor dilata o cobre; ---------------------particular; logo, o calor dilata todos os metais------geral, universal (ANDRADE, 2007, p. 121). c) Hipotético-dedutivo – segue a mesma linha de raciocínio do método dedutivo. A diferença é não se limitar à generalização empírica das observações feitas durante a pesquisa; d) Dialético - método que concebe a realidade em constante mudança, e por isso é contrário ao conhecimento rígido. Introdução à pesquisa científica 48 Metodologia científica 2.4.6 Métodos de procedimentos Diferentemente dos métodos de abordagem, os métodos de procedimentos possuem um caráter mais específico, relacionando-se com as etapas da pesquisa. Segundo Lakatos citado por Andrade (2007, p. 123), “os principais métodos de procedimentos, na área das Ciências Sociais são: histórico, comparativo, estatístico, funcionalista, estruturalista, monográfico etc” . a) Histórico – através desse método, os fatos e instituições do passado são investigados com o objetivo de compreender sua natureza e função, bem como a influência desses acontecimentos na sociedade atual. b) Comparativo – como o próprio nome indica, realiza comparações com o objetivo de encontrar semelhanças e divergências em grupos do passado e/ou presente. c) Estatístico – fundamenta-se na aplicação da teoria estatística das probabilidades na investigação de diversos fenômenos, procurando obter generalizações sobre sua natureza e ocorrência. d) Funcionalista – mais de interpretação do que de investigação, “estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, visto que considera toda atividade social e cultural como funcional ou como desempenho de funções” (ANDRADE, 2007, p. 124). e) Estruturalista – desenvolvido por Levi-Strauss, parte da investigação de um fenômeno concreto para o abstrato e vice-versa, utilizando-se de um modelo para analisar a realidade concreta dos fenômenos. Introdução à pesquisa científica 49 Metodologia científica f) Monográfico ou estudo de caso – criado por Le Play, no estudo de famílias operárias, constitui-se na investigação de determinados indivíduos, grupos, profissões, comunidades, com o objetivo de obter generalizações. 2.4.7 Técnicas de pesquisa Segundo Andrade (2007, p. 124), as técnicas de pesquisa estão relacionadas com a coleta de dados. Grosso modo, podemos afirmar que método é geral e técnica, particular. Vejamos a distinção feita por Ruiz (1991) e citada pela referida autora: A rigor, reserva-se a palavra método para significar o traçado das etapas fundamentais da pesquisa, enquanto a palavra técnica significa os diversos procedimentos ou a utilização de diversos recursos peculiares a cada objeto de pesquisa, dentro das diversas etapas do método, (…) (RUIZ apud ANDRADE, 2007, p. 125). De acordo com a autora, as técnicas de pesquisa são divididas em dois tipos de procedimentos, a saber, documentação indireta e documentação direta: a) Documentação indireta – é dividida em pesquisa bibliográfica e pesquisa documental, já comentadas anteriormente; b) Documentação direta – divide-se em observação direta intensiva (observação e entrevistas) e observação direta extensiva (aplicação de formulários, questionários, testes, pesquisas de mercado etc). Introdução à pesquisa científica 50 Metodologia científica 2.5 Referências ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 8. ed. São Paulo: atlas, 2007. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SCHLÜTER, Regina G. Metodologia da pesquisa em turismo e hotelaria. São Paulo: Aleph, 2003. Elaboração de Trabalhos Acadêmicos 51 Metodologia científica Unidade 3 Elaboração de Trabalhos Acadêmicos Elaboração de Trabalhos Acadêmicos 52 Metodologia científica 3. Elaboração de Trabalhos Acadêmicos Nas unidades 1 e 2, demos ênfase à questão de técnicas de estudos e encaminhamento de uma pesquisa científica. Agora, nas unidades 2 e 3, estudaremos quais são os tipos de trabalhos acadêmicos e científicos, em que consistem e como formatá-los. 3.1. Tipos de trabalhos acadêmicos Com o objetivo de esclarecer o que vem a ser determinado tipo de trabalho acadêmico e científico, utilizaremos, a seguir, as definições de diversos tipos de trabalhos, apresentadas por Furasté (2008, p. 57-59), em sua obra sobre normas técnicas para o trabalho científico, com base na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): a) TESE - Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico de tema único e bem delimitado. Deve ser elaborado com base em investigação original, constituindo-se em real contribuição para a especialidade em questão. É feito sob a coordenação de um orientador (doutor) e visa à obtenção do título de DOUTOR ou similar. b) DISSERTAÇÃO - Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou exposição de um estudo científico retrospectivo, de tema único e bem delimitado em sua extensão, com o objetivo de reunir, analisar e interpretar informações. Deve evidenciar o conhecimento de literatura existente sobre o assunto e a capacidade de sistematização do candidato. É feito sob a coordenação de um orientador (doutor), visando à obtenção do título de MESTRE. Elaboração de Trabalhos Acadêmicos 53 Metodologia científica c) TRABALHOS ACADÊMICOS e/ou similares (Trabalho de conclusão de curso (TCC), Trabalho de Graduação Interdisciplinar (TGI) e outros): Documentoque representa o resultado de estudo, devendo expressar conhecimento do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente emanado da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa e outros ministrados. Deve ser feito sob a coordenação de um orientador. d) PROJETO DE PESQUISA – Documento que apresenta o plano previamente traçado para o desenvolvimento do trabalho final. A ABNT define projeto como 'descrição da estrutura de um empreendimento a ser executado' e projeto de pesquisa como sendo 'uma das fases da pesquisa. É a descrição da sua estrutura.' e) RELATÓRIO DE ESTÁGIO – Documento que contém relato completo e objetivo do cumprimento de estágio exigido regimentalmente por algumas instituições, contendo experiências vividas, programas desenvolvidos, objetivos propostos e alcançados e observações técnicas realizadas, além de outras informações exigidas. f) ARTIGO CIENTÍFICO – É parte de uma publicação com autoria declarada que apresenta e discute idéias, métodos, técnicas, processos e resultados nas mais diversas áreas do conhecimento. g) TRABALHO ESCOLAR – Trabalho, normalmente, exigido sem qualquer compromisso com normas científicas. São resumos, sínteses, análises, recensões, questionários e tarefas de aula. Elaboração de Trabalhos Acadêmicos 54 Metodologia científica h) MONOGRAFIA – Documento constituído de uma só parte ou de um número preestabelecido de partes que se complementam. 3.2 Partes que compõem o trabalho A estrutura dos trabalhos científicos é constituída de três partes: elementos pré-textuais, elementos textuais e elementos pós-textuais. Nessas partes há elementos obrigatórios e opcionais: Vejamos o detalhamento desses elementos, conforme Furasté (2008, p. 76): PARTES QUE COMPÕEM UM TRABALHO ACADÊMICO Elementos pré-textuais: • Capa (obrigatório) • Folha de rosto (obrigatório) • Folha de Aprovação (obrigatório) • Dedicatória • Agradecimentos (opcional) • Epígrafe (opcional) • Resumo na língua vernácula (obrigatório) • Resumo em língua estrangeira (obrigatório) • Listas de ilustrações • Listas de abreviaturas e siglas (opcional) • Sumário (obrigatório) Elementos textuais: • Introdução • Desenvolvimento • Conclusão Elaboração de Trabalhos Acadêmicos 55 Metodologia científica Elementos pós-textuais: • Referências e/ou Obras consultadas 5(obrigatório) • Glossário (opcional) • Apêndice (opcional) • Anexo (opcional) 3.2.1 Elementos pré-textuais - são elementos que antecedem o corpo do trabalho, com informações sobre o autor, instituição e tema; a) Capa – elemento obrigatório, contendo as principais informações para identificação do trabalho. Exemplo de capa, segundo Furasté (2008, p. 80): Nome da Instituição a 3cm e do autor a 5cm da borda superior, centrado, em negrito, fontes 12 a 14. Título principal a 11cm da borda superior, centrado, em negrito, fontes 12 a 14. Local a 25,5cm e ano a 26,5cm da borda superior, em minúsculas, sem negrito, fonte 12. FACULDADES RIO-GRANDENSES AUGUSTO CARVALHO DA SILVA O TEMPO E O LUGAR NO ROMANCE DE 1930 LENDAS E HISTÓRIAS VOLUME 2 Porto Alegre 2004 Elaboração de Trabalhos Acadêmicos 56 Metodologia científica b) Folha de rosto – elemento obrigatório, contendo as mesmas informações da capa e inclusão de texto especificando o trabalho. Exemplo de folha de rosto, segundo Furasté (2008, p. 84): Nome do autor a 5cm da borda superior, centrado, em negrito, fontes 12 a 14. Título principal a 11cm da borda superior, centrado, em negrito, fontes 12 a 14. Texto a 17cm da borda superior, letras minúsculas, sem negrito fonte 12. Local a 25,5cm da borda superior, centrado, em minúsculas, sem Nome do orientador a 25,5cm da borda superior, centrado, letras minúsculas, sem negrito, fonte 12. AUGUSTO CARVALHO DA SILVA O TEMPO E O LUGAR NO ROMANCE DE 1930 LENDAS E HISTÓRIAS VOLUME 4 Dissertação de Mestrado em Literatura Brasileira Para obtenção do título de Mestre em Literatura Universidade Federal do Rio Grande do Sul Centro de Pós-Graduação e Pesquisa Faculdade de Filosofia e Letras Literatura Contemporânea Orientadora: Clarissa de Borba Henn Porto Alegre 2004 Elaboração de Trabalhos Acadêmicos 57 Metodologia científica c) Folha de aprovação – elemento obrigatório a partir da atualização da ABNT, de agosto de 2001. As orientações quanto à formatação não são rígidas, dependem da Instituição. Exemplo de folha de aprovação, segundo Timbó (2006, p. 10): Nome do autor a 3cm da borda superior, centrado, em negrito, fontes 12 a 14. Texto em espaço entre linhas simples, letras minúsculas, sem negrito fonte 12. Margem direita a 2cm. Margem esquerda a 3cm. Espaço entre linhas 1,0. Margem inferior a 2cm. STELA SALES PEREIRA EDUCAÇÃO E MÍDIA NO BRASIL: ENSINO MÉDIO E FUNDAMENTAL Monografia apresentada no curso de graduação à Universidade Metodista de São Paulo, Faculdade de Educação e Letras, para conclusão do curso. Área de concentração: Data de defesa: 22 de novembro de 2006. Resultado: ________________________. BANCA EXAMINADORA Eduardo de Almeida Prof. Dr. _____________ Universidade Metodista de São Paulo. Regina dos Santos Prof. Dra. _____________ Universidade Metodista de São Paulo Geraldo Afonso Cunha Prof. Dr. _____________ Universidade de São Paulo Elaboração de Trabalhos Acadêmicos 58 Metodologia científica d) Resumo em língua vernácula e língua estrangeira – tanto o resumo, em nosso caso, em português, como em língua estrangeira, são obrigatórios. Vejamos o exemplo em português, apresentado por Furasté (2008, p. 98): Texto em espaço simples. Um parágrafo apenas. Recomenda- se texto composto de 150 a 500 palavras, para trabalhos acadêmicos. RESUMO Este trabalho apresenta os procedimentos técnicos empregados na tradução. Assim, temos a definição de tradução e seus diferentes tipos, exemplos e tentativa de tradução automática, através de máquina de traduzir. Depois, temos os procedimentos técnicos com definições e exemplos. Faz-se menção à qualidade das traduções e coloca-se sugestões para melhorá-las. É uma tentativa de dar uma ampla visão do assunto tradução, sem se enveredar apenas por um só caminho, mas mostra-se também as diferentes opções existentes. Palavras-chave: tradução – tradução automática - definições Elaboração de Trabalhos Acadêmicos 59 Metodologia científica f) Sumário – elemento obrigatório que como finalidade dar uma visão do trabalho e indicar a localização dos conteúdos. É apenas informativo, diferentemente do índice que é explicativo. Exemplo de sumário, segundo Furasté (2008, p. 105): Texto em espaço simples. Seções primárias e secundárias em versal e maiúsculo e as terciárias em minúsculo. Não são numerados esses títulos, nem a introdução. Centrado, versal, negrito. 2cm, direito; 3cm, esquerdo. 8cm da borda SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................11 1. ENTENDENDO O FRANCHISING...................................12 1.1 O FRANCHISING NO BRASIL......................................14