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CONTABILIDADE SETORIAL Luciana Paim Pieniz Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os conceitos de custos aplicados na gestão das proprie- dades rurais. Descrever a composição de receitas e custos de produção na con- tabilidade rural. Relacionar custos e despesas fixas e variáveis em atividades agrope- cuárias e agroindustriais. Introdução Na atualidade, o agronegócio tem ganhado destaque no cenário mun- dial por tratar-se de um ramo de negócio que movimenta a demanda por alimentos de mais de 7 bilhões de pessoas, o que justifica sua importância não só no cenário nacional, mas também no internacional. Empresas com essas características exigem habilidades específicas por parte dos gestores no momento das decisões, de modo que requerem informações precisas e oportunas, capazes de direcionar a decisão sem margens de erro. Portanto, os custos relacionados aos processos de produção são determinantes de competitividade para essas empresas. Nesse sentido, conhecer as particularidades e aplicações da empresa ou da atividade torna-se fundamental na busca por resultados, eficácia e eficiência. Neste capítulo, você conhecerá a dinâmica de aplicação da conta- bilidade de custos nas empresas rurais. Além disso, conhecerá os prin- cipais fundamentos relacionados à classificação, ao reconhecimento de despesas e receitas e ao uso das informações para a tomada de decisão. 1 A classificação dos custos aplicados às empresas rurais Conforme Crepaldi (2016, p. 63): [...] a informação gerencial é a resultante do que na realidade ocorre no empre- endimento. Por meio da classificação e organização dos dados referentes ao movimento econômico-financeiro diário da propriedade, é possível gerar essas informações. Elas vão indicar o volume de receitas por atividade, os níveis do investimento por setor e as quantias desembolsadas por tipo de despesas. Nesse sentido, a contabilidade de custos oferece todos os subsídios necessá- rios para a implementação dos sistemas de controle gerencial, dos mais simples aos mais sofisticados, por meio dos dados e informações por ela gerados. A estrutura básica da contabilidade de custos está dividida, incialmente, em conceitos fundamentais. Nessa etapa inicial, é muito importante discernir algumas diferenças conceituais antes de partir para as especificidades das atividades rural e agroindustrial, pois as bases de entendimento são as mesmas para o efeito contábil. O Quadro 1, a seguir, apresenta a principal estrutura de classificação da contabilidade de custos, ou seja, a compreensão da diferença que existe entre um gasto que se transforma em custo e de um gasto que se transforma em despesa, os quais podem ser fixos ou variáveis, conforme detalhado a seguir. Fonte: Adaptado de Martins (2009). Custos Despesas Fixos Variáveis Fixas Variáveis Quadro 1. Classificação dos gastos em uma empresa Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural2 Essa diferença reside no fato de que os gastos identificados como custo são aqueles empregados no processo produtivo da principal atividade operacional da empresa, podendo ser, ainda, custos fixos ou variáveis. Os gastos classificados como despesa correspondem aos valores empregados após o produto estar pronto, ou seja, após ter sido completamente terminado em relação ao processo de produção. Conforme Martins (2009), a regra é simples: basta definir-se o momento em que o produto está pronto para a venda. Até aí, todos os gastos são custos; a partir desse momento, tornam-se despesas. As despesas variáveis têm sua ocorrência relacionada ao volume de vendas da empresa, ao passo que as despesas fixas têm relação com a manutenção da estrutura administrativa da empresa, não relacionada ao processo produtivo. Outra classificação possível, a partir da definição de se um gasto é custo ou despesa, é em relação ao valor total de um custo ou despesa e sua relação com o volume de atividade em uma unidade de tempo, chamado de custo fixo ou variável. Os custos variáveis são aqueles que, em relação à linha de tempo ou ao ciclo operacional, variam conforme o volume de unidades produzidas, ou seja, quanto mais a empresa produzir, mais custos variáveis ela incorrerá. Já os custos fixos são aqueles que, em relação ao ciclo operacional ou a uma linha de tempo, não variam conforme o volume de unidades produzidas, mantendo-se constantes, caso sejam mantidas todas as demais condições de uso dos ativos fixos. A Figura 1, a seguir, apresenta os custos fixos e variáveis em relação à quantidade de unidades produzidas. Figura 1. Custos fixos e variáveis em relação à quantidade de unidades produzidas. Fonte: Adaptada de Bruni e Famá (2009) 3Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural Ou seja, se a estrutura fixa da empresa for alterada, há possibilidade de que os custos fixos também sejam alterados. Custos fixos e variáveis nas empresas rurais Nas empresas rurais, a classifi cação dos custos assume algumas características específi cas, dadas as especifi cidades da atividade rural, tanto agrícola como pecuária. Conforme Crepaldi (2016), os custos variáveis na empresa rural podem ser reconhecidos por meio dos gastos associados à produção dos cul- tivos, tais como combustível, lubrifi cantes, manutenção e consertos. O autor ressalta, ainda, que o custo variável corresponde aos recursos aplicados na produção, que deverão ser totalmente incorporados a ela. Os custos variáveis resultam da soma dos gastos com insumos (sementes, defensivos, fertilizantes e medicamentos), serviços em geral, prestados por mão de obra braçal, técnica e administrativa, serviços de máquinas e equi- pamentos, conservação dos bens empresariais e juros. O custo variável total, quando dividido pela metade, resulta no custo variável médio (CVMe), que representa o custo variável de uma unidade produzida: CVMe/un = soma dos custos variáveis empregados na produção/ produção total Essa fórmula permite ao produtor saber qual é o seu CVMe por unidade produzida, de acordo com a atividade desenvolvida. Os custos fixos, por sua vez, originam-se da infraestrutura, dos recursos com duração superior ao ciclo operacional, e não serão incorporados total- mente aos produtos no curto prazo, podendo ser utilizados tantas vezes quanto permitir sua vida útil. Conforme Crepaldi (2016), é o resultado da soma dos custos de terra, benfeitorias, máquinas e equipamentos, lavouras permanentes, animais produtivos e de trabalho, impostos e taxas fixas. Quando se divide o custo fixo total pela quantidade produzida, obtém-se o custo fixo médio (CFMe), que representa o custo fixo de uma unidade do produto. Alguns recursos de produção, geralmente os fixos, são utilizados em mais de uma atividade. A esses recursos são atribuídos custos indiretos, proporcionalmente à sua utilização pelas atividades; isto é, são rateados e Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural4 distribuídos entre as atividades proporcionalmente ao tempo de utilização, à área ocupada pela atividade dentro da propriedade ou mesmo às receitas obtidas em cada cultivo ou atividade, sejam elas agrícolas ou pecuárias. CFMe/un = soma dos custos fixos do período/produção total A partir dessa fórmula, é possível encontrar o CFMe por unidade produzida, que pode ser, por exemplo, uma saca de grão, um quilo de carcaça bovina, uma caixa de laranja, dependendo da unidade de produção que o produtor utiliza convencionalmente em sua propriedade. As empresas rurais possuem inúmeras particularidades relacionadas à sua gestão, e uma delas está diretamente relacionada à gestão de custos e preços. Os preços damaioria dos produtos agrícolas, conhecidos como commodities, são definidos pelo mercado, e não pelo produtor. Como consequência, o produtor rural não exerce nenhum tipo de influência sobre o preço de seu produto, ele é um tomador de preços. Isso acarreta uma responsabilidade muito maior aos gestores e contadores das empresas rurais, pois estes, cada vez mais, devem subsidiar a tomada de decisão com informações precisas e oportunas, a fim de minimizar os prejuízos causados pelas flutuações de preço no mercado externo. 2 A formação do resultado na empresa rural A composição do resultado em uma empresa rural é baseada em três fatores principais: os custos, as despesas e as receitas. Os custos, como visto, dividem- -se em dois grandes grupos, fi xos e variáveis. As receitas, na atividade rural, possuem duas classifi cações: as receitas operacionais, referentes às principais atividades desenvolvidas pela empresa (p. ex., aquelas relacionadas às vendas de grãos, gado de corte, leite); e as receitas extraoperacionais (p. ex., arrenda- mentos, aluguel de máquinas agrícolas, prestação de serviços). Os custos, de modo geral, são segmentados em varáveis e fixos como forma de facilitar o gerenciamento, pois, devido à sua natureza, são elementos que exigem uma abordagem de gestão diferenciada. Os custos variáveis são aqueles que possuem 5Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural relação direta com a quantidade de unidades a ser produzida, portanto, qualquer alteração no planejamento da produção em termos de área plantada, por exemplo, afetará no valor final dos custos variáveis. As despesas variáveis são tratadas dessa forma porque são gastos relacionados ao período de “pós-produção”, ou seja, o pro- duto já está acabado. Portanto, despesa seria todo o esforço para se obter uma receita. Já os custos fixos totais, relacionados à estrutura das operações da empresa, não se movimentam de forma proporcional à quantidade de unidades produzida, visto que estes são periódicos e lineares e independem da área plantada ou da quantidade a ser produzida. Eles estão relacionados ao uso da infraestrutura instalada, o que requer atenção redobrada em relação aos investimentos e ao custo-benefício do empreendimento. O Quadro 2, a seguir, apresenta alguns exemplos de custos e despesas variáveis e custos e despesas fixos relacionados a uma empresa rural. Fonte: Adaptado de Crepaldi (2016). Custos variáveis Despesas variáveis Custos fixos Despesas fixas Mão de obra para manejo do rebanho Transporte de leite Depreciação Aluguel de galpões e benfeitorias Minerais Energia e combustível Impostos e taxas Aluguel de arma- zéns para grãos e sementes Forragens verdes Contribuição para a seguridade social Arrendamento Comissão sobre vendas Silagem Reparos de benfeitorias Medicamentos Reparos de máquinas, motores e equipamentos Inseminação artificial Concentrados Quadro 2. Exemplos de custos variáveis e fixos, despesas variáveis e fixas Ao segregar os gastos em fixos e variáveis, é possível compreender a di- nâmica de sua movimentação dentro da empresa, ou seja, quais são os fatores que contribuem para que esses gastos ocorram. No caso dos custos e despesas Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural6 variáveis, deve-se planejar a produção: o que, quanto, quando produzir, quanto vender — fatores decisivos para a decisão de quanto será gasto. Essa decisão impactará diretamente no fluxo de caixa do proprietário da empresa, de modo que não deve ser uma decisão isolada ou sem o embasamento em uma infor- mação segura e devidamente qualificada, emanada da contabilidade de custos. Os custos e despesas fixas, por sua vez, refletem ao proprietário a eficiência de sua estrutura de capital: ao investir na propriedade, havia expectativa de geração de fluxos de caixa futuros e da remuneração do capital investido. Se a produção estiver no nível de eficiência, esses custos são absorvidos pelos produtos em nível satisfatório; se não estiver no nível de eficiência desejado/ esperado, os custos fixos por unidade serão ineficientes (p. ex., quando uma estrutura está trabalhando abaixo de sua capacidade produtiva). Em relação às receitas, na atividade rural, seu reconhecimento se dá por meio do regime de caixa (regulamentado pela Receita Federal). O regime de caixa registra o pagamento ou o recebimento apenas quando ele se efetiva de fato. O empresário rural “pessoa física” utiliza o livro-caixa (regime de caixa) para registrar suas receitas, custos e despesas (fixos e variáveis) ao longo do ano, prestando contas ao fisco acerca do resultado de sua atividade, se obteve lucro ou prejuízo. Às empresas rurais “pessoa jurídica” recaem as mesmas regras das empresas comerciais, ou seja, é utilizado o regime de competência para a apuração do resultado e a aferição do lucro ou prejuízo do exercício. Nas empresas rurais, as receitas sofrem influência de dois fatores: o preço de mercado e a produtividade. O preço de mercado é o fator determinante para as empresas rurais que produzem a maioria das commodities. Segundo Batalha (2001), para que uma mercadoria possa receber o nome de commodity, é necessário que ela atenda a pelo menos trê s requisitos mí nimos: padronizaç ã o de um contexto no comé rcio internacional, possibilidade de entrega nas datas acordadas entre comprador e vendedor e possibilidade de armazenagem ou de venda de unidades padronizadas. Por possuírem essas características e terem seus produtos negociados na bolsa de mercadorias e futuros, a maioria dos produtores rurais têm o preço de seus produtos definido pela Bolsa de Chicago, com base na demanda e na oferta de produto no restante do mundo. Esse fator condiciona a formação da receita do produtor ao comportamento do mercado, de modo que ele não tem nenhum tipo de controle sobre o preço de seu produto. Isso afeta não só os produtores de soja, trigo, milho, arroz, açúcar, café, carne, leite, algodão, mas também os demais participantes da cadeia. A formação da receita nas propriedades rurais também está atrelada ao fator produtividade. Para Crepaldi (2016), a medida de produtividade do pro- duto agropecuá rio analisado pode ser obtida com base nos valores mé dios 7Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural das propriedades rurais localizadas em uma determinada regiã o, para fins de comparação e análise de benchmarking. Essas informaç õ es podem ser obtidas com entidades de pesquisa e assistê ncia té cnica, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuá ria (Embrapa) ou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatí stica (IBGE), entre outras. No entanto, o fator determinante de produtividade da empresa rural será dado pela eficiência de trabalho da empresa e o bom uso dos equipamentos e das tecnologias empregadas, dos insumos e da mão de obra no processo produ- tivo, do início ao fim. Ao longo dos últimos anos, um movimento importante tem sido observado no Brasil: a redução das áreas plantadas e o aumento da quantidade colhida. Quando isso ocorre, diz-se que a produtividade aumentou. A produtividade nada mais é do que fazer mais com menos. Portanto, ela está diretamente relacionada com o grau de eficiência da propriedade rural. Desse modo, para definir a formação de seu resultado, o produtor rural dependerá do nível de seus custos de produção, do nível das despesas e das suas receitas, que, por sua vez, dependem dos fatores de mercado e dos fatores internos relacionados ao bom funcionamento operacional da propriedade. O Quadro 3, a seguir, apresenta um exemplo de contas para a formação de resultado, com duas fontes de receitas, os custos e o resultado operacional. Receitas Venda de leite R$ 50.000,00 Venda de gado de corte R$ 5.900,00 Custos Alimentação R$ 18.650,00 Silagem R$ 5.120,00 Mãode obra contratada R$ 6.810,00 Medicamentos R$ 3.200,00 Gastos com ordenha R$ 1.040,00 Energia elétrica R$ 1.010,00 Manutenção R$ 550,00 Máquinas R$ 2.000,00 Quadro 3. Resultado operacional de uma empresa rural fictícia (Continua) Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural8 O Livro Caixa Digital do Produtor Rural (LCDPR) é um instrumento utilizado pelos produtores rurais pessoa física para manterem seus registros de escrituração contábil. O objetivo é apurar os resultados da atividade no campo, incluindo investimentos, receitas, despesas de custeio, entre outros. Para saber mais sobre essa novidade, acesse o link a seguir e faça o download do pro- grama para aprender na prática as facilidades oferecidas pela Receita Federal do Brasil. https://qrgo.page.link/z8diW 3 Custos para tomada de decisão A utilidade das informações de custos nas empresas rurais dependerá da ne- cessidade dos usuários da informação ou do tomador de decisão. Em geral, no dia a dia da empresa, são necessários subsídios para tarefas cotidianas, desde as mais simples — como saber o custo de uma matéria-prima comprada há 30 dias ou o custo-hora de um funcionário — até as mais complexas — como saber o valor atualizado de produção de uma tonelada de ração. O campo de aplicação é bastante vasto, não se restringindo apenas às propriedades rurais tradicionais, como as produtoras de grãos, carne ou leite, abrangendo também agroindústrias, importantes participantes da cadeia do agronegócio. A seguir, será apresentado um exemplo de uma pequena agroin- dústria de conservas de pepino, objeto de um estudo prático, onde serão demonstrados os dados coletados, sua sistematização e a forma como eles podem gerar informações simples e úteis para a tomada de decisão. Fonte: Adaptado de Crepaldi (2016). Despesas Despesas de administração R$ 1.890,00 Despesas com vendas R$ 100,00 Resultado operacional R$ 15.530,00 Quadro 3. Resultado operacional de uma empresa rural fictícia (Continuação) 9Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural A agroindústria em questão é uma empresa familiar, de pequeno porte, que se utiliza de um sistema de informação simples, que coleta e sistematiza informações conforme suas necessidades diárias. O Quadro 4, a seguir, apre- senta os dados relativos aos custos variáveis de produção das conservas de pepino, principal produto da empresa. Fonte: Adaptado de Colvero e Pieniz (2017). Matéria-prima Unidade Quantidade Valor unitário (R$) Total (R$) para uma conversa de 300 gramas Pepino g 300,00 0,0019 0,561 Açúcar g 3,00 0,0026 0,0078 Coentro g 0,25 0,22 0,055 Pimenta g 0,25 0,22 0,055 Rótulo Un 1,00 0,1 0,1 Sal g 5,00 0,001 0,0048 Tampa Un 1,00 0,28 0,28 Vidro Un 1,00 0,84 0,84 Ácido acético mL 7,00 0,0029 0,0203 Água mL 330,00 0,0001 0,033 Gás g 15 0,005 0,07 Mão de obra em minutos Min 3,00 0,138 0,27 Total - R$ 2,30 Produção men- sal em unidades de 300 gramas - 2,400 2,30 (2.400 unida- des × R$ 2,30) R$ 5.520 Produção semes- tral em unidades de 300 gramas - 14.400 2,30 R$ 33.120,00 Legenda: g: gramas; Un: unidade; mL: mililitro; Min: minutos. Quadro 4. Relação de custos variáveis de produção para uma conserva de pepino de 300 gramas Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural10 Os dados relacionados à produção são coletados e registrados em planilhas de Excel. Para o proprietário da agroindústria, os custos variáveis representam o principal desembolso e, consequentemente, a principal rubrica de seu fluxo de caixa. Ao utilizar essa simples ferramenta, o proprietário obtém uma valiosa informação sobre seu ciclo financeiro, podendo alinhar o desembolso e as vendas de forma mais equilibrada ao longo do ano. As despesas da empresa também são objeto de registro e recebem o acom- panhamento da contabilidade de custos, pois são parte essencial do funcio- namento da empresa. O Quadro 5, a seguir, apresenta a relação das despesas fixas e variáveis da empresa. Fonte: Adaptado de Colvero e Pieniz (2017). Tipo de despesa Valor total do mês (em R$) Valor total do semestre (em R$) Água 100,00 600,00 Energia elétrica 150,00 900,00 Telefone 100,00 600,00 Material de limpeza 50,00 300,00 Combustível 300,00 1.800,00 Depreciação do veículo 250,00 1.500,00 Gás 124,00 744,00 Pró-labore – entrega 500,00 3.000,00 Total 1.574,00 9.444,00 Quadro 5. Relação das despesas fixas e variáveis da empresa Custos fixos da empresa A empresa possui custos fi xos relacionados à sua infraestrutura, que totaliza um investimento de R$ 150.000,00 em máquinas e equipamentos específi cos para a produção dos pepinos, mais a depreciação do galpão onde a agroindústria está instalada. O custo de oportunidade do negócio foi estimado em 2% ao ano. O valor a ser considerado como custo fi xo, semestralmente, na propriedade, 11Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural considerando-se os gastos relacionados, é de R$ 6.000,00 semestrais, sendo composto por gastos relacionados à mão de obra fi xa contratada de uma engenheira de alimentos que supervisiona o processo produtivo. Receitas As receitas visam a incrementar o patrimônio líquido de uma empresa e auxiliam a atingir os objetivos iniciais de sua implantação, gerando fl uxos de caixa positivos ao longo de sua vida útil. O Quadro 6 apresenta a informação sobre as receitas geradas pelo produto fabricado pela empresa. O preço de venda constante foi defi nido com base em preços de mercado de produtos similares, após uma pesquisa no mercado regional. Fonte: Adaptado de Colvero e Pieniz (2017). Produto Quantidade mensal Quantidade semestral Preço/ venda Vendas/ mês Vendas/ semestre Conserva 300 g 2.400 14.400 R$ 3,90 R$ 9.360,00 R$ 56.150,00 Total de receitas por semestre R$ 9.360,00 R$ 56,160,00 Quadro 6. Receitas da empresa Por fim, a demonstração de resultado do exercício possibilita reportar ao proprietário da empresa se sua atividade está cumprindo os padrões de eficiência por ele desejados. A lógica da contabilidade de custos é traduzir os resultados encontrados em informações úteis para a tomada de decisão, de modo que o proprietário possa planejar, antever ou até mesmo se res- guardar de qualquer problema ou eventualidade. As informações de custos podem ser utilizadas com caráter preditivo, principalmente por oferecerem uma informação segregada, em que os custos são detalhados em cada etapa do processo. O Quadro 7, a seguir, apresenta o resultado operacional da atividade re- latada anteriormente. Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural12 Fonte: Adaptado de Colvero e Pieniz (2017). Receitas Em R$ Em R$ Venda de pepinos 56.160,00 Custos Custos variáveis de produção semestral 33.120,00 Despesas Despesas semestrais 9.444,00 Resultado operacional (= 1 – 2 – 3) 13.596,00 Custos fixos 6.000,00 ( = ) Lucro 7.596,00 Custo variável por unidade 2,30 Custo fixo por unidade (6.000/14.400 un) 0,4166 Resultado operacional por unidade produzida (13.596/14.400 un) 0,94 Lucro por unidade produzida (7.596/14.400 un) 0,5275 Quadro 7. Resultado operacional da atividade semestral Como foi possível perceber no Quadro 7, após coletadas e sistematizadas, as informações de custos tornaram a realidade clara e elucidativa, possibilitando rapidez e agilidade no processo de tomada de decisão. Para conferir algumas dicas interessantes de como empreender no ramo das agroindústrias ou, ainda, atuar como consultor de negócios nessa área, acesse o link disponível a seguir. https://qrgo.page.link/ZCieb 13Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural Para aprofundar seus conhecimentos, acesse o link a seguire leia o artigo “Estruturação de um modelo de custeio para uma indústria de conservas”, que apresenta um exemplo de como desenvolver um sistema de custeio por absorç ã o para uma pequena indú stria de conservas de palmeira-real, situada no municí pio de Antô nio Carlos, na grande Florianópolis, com a finalidade de custear todos os produtos da empresa. https://qrgo.page.link/hkY1Q BATALHA, M. O. Gestã o agroindustrial. 3. ed. Sã o Paulo: Atlas, 2001. v. 2. BRUNI, A. L.; FAMÁ, R. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calcu- ladora Hp 12c e Excel. 5. ed. São Paulo: Scipione, 2009. COLVERO, D.; PIENIZ, L. P. Viabilidade econômica e financeira de uma agroindústria de conservas vegetais. 2017. Disponível em: https://home.unicruz.edu.br/wp-content/ uploads/2017/12/Viabilidade-Econ_mica-e-Financeira-de-uma-Agroind_stria-de- -Conservas-Vegetais.pdf. Acesso em: 17 jan. 2020. CREPALDI, S. A. Contabilidade rural: uma abordagem decisorial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2016. MARTINS, E. Contabilidade e custos. 9. ed. Sã o Paulo: Atlas, 2009. Leituras recomendadas BRASIL. Ministério da Economia, Receita Federal. Programa livro caixa da atividade rural 2019 (versão Java). 2019. Disponível em: http://receita.economia.gov.br/orientacao/tri- butaria/pagamentos-e-parcelamentos/pagamento-do-imposto-de-renda-de-pessoa- -fisica/livro-caixa-da-atividade-rural-1/livro-caixa-da-atividade-rural-2019-versao-java/ programa-livro-caixa-da-atividade-rural-2019-versao-java. Acesso em: 17 jan. 2020. RICHARTZ, F.; BORGERT, A.; ROCHA, J. M. Estruturação de um modelo de custeio para uma indústria de conservas. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 30., 2010, São Carlos. Anais [...]. São Carlos: [s. n.], 2010. Disponível em: http://www.abepro. org.br/biblioteca/enegep2010_tn_sto_126_811_15023.pdf. Acesso em: 17 jan. 2020. SEBRAE. Como montar uma fábrica de conservas. [2019]. Disponível em: https://www. sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/como-montar-uma-fabrica-de-conservas,28 597a51b9105410VgnVCM1000003b74010aRCRD. Acesso em: 17 jan. 2020. Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural14 Os links para sites da Web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 15Custos e receitas da exploração das atividades agrícola, pecuária e agroindustrial na contabilidade rural
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