Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CONVERSA INICIAL A presente aula tem como objetivo demonstrar a psicologia como ciência, em seu contexto histórico, objetivos e principais abordagens nos diversos campos de atuação, possibilitando a você a compreensão da importância do comportamento humano nas organizações para as relações de trabalho. O desenvolvimento dos temas está organizado em uma estrutura que inicia com a apresentação da psicologia em seu surgimento no final do século XIX, e como se tornou uma ciência de fundamental importância para o entendimento dos processos mentais e do comportamento humano. Em seguida, apresentamos as abordagens e o vasto campo profissional em que a psicologia atua diretamente e em parceria com outras áreas do conhecimento para a melhor compreensão do ser humano, em aspectos específicos do seu comportamento. Para finalizar, demonstramos as contribuições da psicologia organizacional para a administração no entendimento das questões humanas no trabalho. CONTEXTUALIZANDO Você, certamente, já passou por uma situação em sua vida em que o comportamento humano esteve em discussão, trazendo o tema da psicologia para o diálogo na pretensão do entendimento sobre o que faz as pessoas serem diferentes umas das outras, por exemplo: “São irmãos gêmeos, mas a personalidade deles é totalmente diferente”, ou então “um dos gêmeos é introvertido e o outro extrovertido, como é possível?”. Isto demonstra o quanto fazemos uso do termo psicologia em nosso cotidiano e somos capazes, mesmo que de maneira superficial, de explicar ou compreender essas situações de um ponto de vista psicológico. Entretanto como profissional com foco em pessoas é fundamental que você detenha o conhecimento teórico dos estudos da psicologia e suas relações com esse cotidiano. Dessa forma, propomos a sua reflexão ao longo dos temas de como os conteúdos desta aula poderão potencializar o seu desempenho enquanto indivíduo e profissional. TEMA 1 – A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA E PROFISSÃO A psicologia se constituiu enquanto ciência a partir do século XIX, sendo considerada como uma das mais antigas ao abordar a mente, assunto que remonta aos filósofos gregos e, ao mesmo tempo, uma das mais novas em função dos 200 anos de idade dada a fusão com a filosofia. Segundo Schultz, Schultz (2017), o interesse acerca da natureza e conduta humanas são o tópico de muitas obras filosóficas e teológicas no século V a.C., com Sócrates, Platão, Aristóteles e outros sábios gregos, que se viam às voltas com muitos dos mesmos problemas que hoje ocupam os psicólogos: a memória, a aprendizagem, a motivação, a percepção, a atividade onírica (sonhos) e o comportamento anormal do indivíduo. O filósofo Sócrates (469-399 a.C.) postulava que a principal característica humana era a razão, condição que separa o homem dos animais, o que permite ao homem sobrepor-se aos instintos, que são a base da irracionalidade. A contribuição da filosofia para a sistematização dos estudos da psicologia, é reforçada por Bock, Furtado e Teixeira (2002), que demonstram que o próprio termo psicologia vem do grego psyché, que significa alma, e de logos, que significa razão. Portanto, etimologicamente, psicologia significa estudo da alma. Os gregos consideravam a alma ou espírito como a parte imaterial do ser humano e abarcaria o pensamento, os sentimentos de amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a sensação e a percepção. Figura 1 – Letra grega Psi que é considerada o símbolo da psicologia Fonte: Pogorelova Olga/Shutterstock. Psicologia quer dizer o estudo da alma. Essa concepção foi ampliada com a evolução dos estudos acerca da psicologia, a qual foi considerada formalmente uma disciplina científica ao final do século XIX, quando Wilhelm Wundt (1832-1920) criou o primeiro laboratório experimental dedicado ao estudo dos fenômenos psicológicos em Leipzig, Alemanha. Mas qual é a razão para os psicólogos irem em busca dessa condição científica para o seu campo de estudo? De forma bem resumida, apresentamos abaixo os acontecimentos históricos que retratam as explicações sobre a condição humana e o universo que tiveram importância e influência para que a psicologia tivesse a sua base científica: Até a Idade Média: a religião detinha as explicações para a vida e para o universo. Santo Agostinho (354-430) acreditava que a alma era imortal por ser o elemento que liga o homem a Deus. E, sendo a alma também a sede do pensamento, a Igreja passa a se preocupar também com sua compreensão; Renascimento – século XIV: as explicações para os acontecimentos da vida e do universo passaram a ser fundamentadas com base na razão, tendo seu como representante René Descartes (1596-1659), afirmava que o homem possui uma substância material e uma substância pensante, e que o corpo, desprovido do espírito, é apenas uma máquina, caracterizando assim a separação entre mente (alma, espírito) e corpo; Capitalismo – século XIX: com a industrialização a ciência deveria dar respostas e soluções práticas no campo da técnica. A partir de então, o pensamento científico foi reconhecido e respeitado como a forma para a construção do conhecimento, e a psicologia teve a sua fundação enquanto ciência. Sendo a ciência para Bock, Furtado, Teixeira (2002, p. 24) o conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. Mesadri e Pasetto (2012, p. 42) corroboram a ideia de que a psicologia como ciência é o estudo do comportamento humano individual. Para isso, além de explicar o funcionamento desse comportamento, procura medi-lo. Como também propõem Robbins, Judge e Sobral (2010, p.10), “a psicologia é a ciência que busca medir, explicar e, algumas vezes, modificar o comportamento dos seres humanos e dos animais” Para Bock, Furtado e Teixeira (2002, p. 24), a psicologia é uma ciência que fala do homem a partir de seu mundo interno, sua subjetividade, que é fonte de manifestações do indivíduo, suas ações, seus sonhos, seus desejos, suas emoções, sua consciência e seu inconsciente. Os autores convergem para o entendimento do indívíduo na sua totalidade e este processo se dá pela facilitação de um profissional com a devida formação, como nos mostra Bock, Furtado e Teixeira (2002) O psicólogo é um profissional que desenvolve uma intervenção no processo psicológico do homem que tem a finalidade de torná-lo saudável, isto é, capaz de enfrentar as dificuldades do cotidiano; e faz isso a partir de conhecimentos acumulados pelas pesquisas científicas na área da Psicologia (Bock; Furtado; Teixeira, 2002, p.201) No Brasil, a psicologia é uma profissão reconhecida pela Lei n. 4.119, de 1962, que reconhece a existência da psicologia como profissão, cujo exercício está relacionado ao uso de métodos e técnicas para fins de diagnóstico psicológico, orientação e seleção profissional, orientação psicopedagógica e solução de problemas de ajustamento entre outros. Mais adiante, no tema 2, com a descrição dos campos de atuação e os respectivos objetos de estudo que cada abordagem trata, poderemos entender com maior aprofundamento a atuação do profissional da psicologia. 1.1 MARCOS HISTÓRICOS DA PSICOLOGIA EM SUA FORMAÇÃO COMO CIÊNCIA Apresentamos na Figura 2 uma linha do tempo com os marcos históricos da psicologia nas diversas áreas de atuação e métodos teóricos. Figura 2 – Linha do tempo dos principais pontos de referência no desenvolvimento da psicologia Fonte: Feldmann, 2015, p.16-17; Benson, 2016, p. 17. TEMA 2 – ABORDAGENS DA PSICOLOGIA Durante o desenvolvimento da psicologia como ciência, foram se organizando abordagens e correntes de pensamento que se diferenciam na sua forma de estudar e interpretar o ser humano e seu comportamento. Em razão disso, existem diferentes e diversos entendimentos sobre o objeto de estudo da Psicologia,tais como a subjetividade, o comportamento, os processos mentais, o inconsciente. Se perguntarmos a cada profissional da psicologia, em suas diferentes abordagens e áreas de atuação sobre o seu objeto de estudo, as respostas certamente serão variadas. Por exemplo, um psicanalista responderá que é o inconsciente, já um psicólogo da abordagem humanista argumentará que é a autorrealização. 2.1 PERSPECTIVAS ATUAIS DA PSICOLOGIA Ao conhecermos os fatos básicos da história e as diferentes possibilidades do objeto de estudo da psicologia, podemos agora compreender as principais perspectivas dessa disciplina do conhecimento na atualidade. Para Feldmann (2015, p.19), as perspectivas da psicologia oferecem pontos de vista distintos e enfatizam fatores diferentes. Assim como podemos usar mais do que um mapa para encontrar o caminho para determinada região – por exemplo, um mapa que mostra estradas e rodovias e outro que mostra os principais pontos de referência –, os psicólogos desenvolveram uma diversidade de abordagens para compreender o comportamento. Quando consideradas em conjunto, as diferentes perspectivas fornecem um modo de explicar o comportamento em sua variedade. A seguir, você encontra um quadro explicativo com as cinco grandes perspectivas atuais da psicologia, as quais destacam os diferentes aspectos do comportamento e dos processos mentais. Lembre que cada uma leva a compreensão do comportamento para uma direção um pouco diferente dado o objeto de estudo da sua abordagem: a. A neurociência estuda e considera o comportamento da perspectiva do funcionamento biológico, se fundamentando pela avanços científicos dos últimos séculos; b. A psicodinâmica postula que o comportamento é motivado pelas forças internas, inconscientes do indivíduo, sobre as quais tem pouco controle; c. A perspectiva comportamental, se concentra no comportamento observável; d. A cognitiva se preocupa como as pessoas pensam, aprendem e compreendem o mundo em que vivem; e. A perspectiva humanística defende a capacidade que o indivíduo tem de controlar seu comportamento na busca de realizar seu pleno potencial. Quadro 1 – As cinco principais perspectivas atuais da psicologia A perspectiva da neurociência: sangue, suor e medo: Fundamentalmente, os seres humanos são feitos de pele e ossos. A perspectiva da neurociência considera como as pessoas e os animais funcionam biologicamente: como as células nervosas estão ligadas, como a herança de certas características dos pais e de outros ancestrais influencia o comportamento, como o funcionamento do corpo afeta esperanças e medos, quais comportamentos são instintivos, e assim por diante. Mesmo tipos mais complexos de comportamentos, tais como a reação de um bebê a estranhos, são vistos como possuidores de componentes biológicos essenciais pelos psicólogos que adotam a perspectiva da neurociência. Essa perspectiva inclui o estudo da hereditariedade e da evo- lução, a qual considera como a hereditariedade pode influenciar o comportamento, e a neurociência comportamental, que examina como o cérebro e o sistema nervoso afetam o comportamento. Uma vez que todo comportamento pode ser subdividido em seus componentes biológicos, a perspectiva da neurociência é muito atraente. Os psicólogos que aderiram a essa perspectiva fizeram contribuições importantes para a compreensão e a melhoria da vida humana, que variaram desde curas para certos tipos de surdez até tratamentos medicamentosos para pessoas com transtornos mentais graves. Além disso, avanços nas técnicas para examinar a anatomia e o funcionamento do cérebro permitiram que a perspectiva neuro- científica estendesse sua influência a uma ampla gama de subáreas da psicologia (Feldmann, 2015, p.17). A perspectiva psicodinâmica: compreendendo a pessoa interna: Para muitas pessoas que nunca fizeram um curso de psicologia, esta se inicia e termina com a perspectiva psicodinâmica. Os proponentes da perspectiva psicodinâmica alegam que o comportamento é motivado por forças e conflitos internos sobre os quais temos pouca cons- ciência ou controle. Eles veem os sonhos e lapsos verbais como indicações do que uma pessoa realmente está sentindo dentro do caldeirão efervescente de atividade psíquica inconsciente. As origens da visão psicodinâmica estão ligadas a uma pessoa: Sigmund Freud. Ele foi um médico austríaco do início do século XX cujas ideias sobre os determinantes inconscientes do comportamento tiveram um efeito revolucionário no pensamento daquela época, não apenas na psicologia, como também em campos relacionados. Ainda que alguns dos princípios freudianos originais tenham sido veementemente criticados, a perspectiva psicodinâmica contemporânea forneceu um meio tanto para compreender e tratar alguns tipos de transtornos psicológicos como para compreender fenômenos cotidianos como preconceito e agressão (Feldmann, 2015, p.18). A perspectiva comportamental: observando a pessoa externa: Enquanto as abordagens neurocientífica e psicodinâmica olham para dentro do organismo a fim de determinar as causas de seu comportamento, a perspectiva comportamental em- prega uma abordagem muito diferente. A perspectiva comportamental desenvolveu-se a partir de uma rejeição da ênfase inicial da psicologia aos mecanismos internos da mente. Em vez disso, os behavioristas sugeriram que o campo deveria priorizar o comportamento observável que pode ser medido objetivamente. John B. Watson foi o primeiro psicólogo americano importante a defender a abordagem comportamental. Trabalhando na década de 1920, manteve-se irredutível em sua visão de que era possível alcançar uma compreensão do comportamento estudando e modificando o ambiente em que as pessoas operam. Na verdade, Watson acreditava com certo otimismo que era possível obter qualquer tipo de comportamento que se queira controlando o ambiente de uma pessoa. Essa filosofia está clara em suas próprias palavras: “Deem-me uma dúzia de bebês saudáveis, bem-formados, e meu próprio mundo para criá-los, e garanto tomar qualquer deles ao acaso e treiná-lo para tornar-se qualquer tipo de especialista que eu escolha – médico, advogado, artista, comerciante, bem como pedinte e ladrão, independentemente de seus talentos, tendências, aptidões, vocações e raça de seus ancestrais” (Watson, 1924). A perspectiva comportamental foi promovida por B. F. Skinner, um pioneiro nessa área. Grande parte de nossa compreensão de como as pessoas adquirem novos comportamentos é baseada na perspectiva comportamental. Como veremos, ela aparece em cada atalho da psicologia. Junto a sua influência na área de processos de aprendizagem, essa perspectiva fez contribuições em campos tão diversos quanto tratamento de transtornos mentais, redução da agressividade, resolução de problemas sexuais e tratamento de dependência química (Silverman; Roll; Higgins, 2008; Schlinger, 2011) A perspectiva cognitiva: identificando as raízes da compreensão: Os esforços para compreender o comportamento levam alguns psicólogos diretamente para a mente. Desenvolvendo-se em parte a partir do estruturalismo e em parte como reação ao behaviorismo, que se centrava tão fortemente no comportamento observável e no ambiente, a perspectiva cognitiva analisa como as pessoas pensam, compreendem e sabem sobre o mundo. A ênfase recai no aprendizado de como as pessoas compreendem e representam o mundo externo dentro de si mesmas e como nosso modo de pensar sobre o mundo influencia nosso comportamento. Muitos psicólogos que aderem à perspectiva cognitiva comparam o pensamento humano às operações de um computador, o qual recebe a informação e a transforma, armazena e recupera. Em sua visão, pensar é processar informações. Os psicólogos que aplicam a perspectiva cognitiva fazem perguntas sobre assuntos que variam desde como as pessoas tomam decisões até se uma pessoa pode assistir à televisão e estudar ao mesmo tempo. Os elementos comuns que ligam as abordagens cognitivas sãoa análise de como as pessoas compreendem e pensam sobre o mundo e o interesse em descrever os padrões e irregularidades na operação de nossa mente (Feldmann, 2015, p.19). A perspectiva humanística: analisando as qualidades exclusivas da espécie humana: Rejeitando a visão de que o comportamento é determinado sobretudo por forças biológicas que se desdobram automaticamente, por processos inconscientes ou pelo ambiente, a pers- pectiva humanística pressupõe que todos os indivíduos naturalmente se esforçam para crescer, desenvolver-se e ter controle sobre sua vida e seu comportamento. Os psicólogos humanísticos afirmam que cada um de nós tem capacidade de buscar e alcançar realização. Segundo Carl Rogers e Abraham Maslow, que foram as figuras centrais no desenvolvimento da perspectiva humanística, as pessoas esforçam-se para realizar seu pleno potencial se tiverem oportunidade. A ênfase da perspectiva humanística é no livre- arbítrio, na capacidade de tomar decisões livremente sobre o próprio comportamento e a vida. A noção de livre-arbítrio coloca-se em contraste com o determinismo, o qual vê o comportamento como causado, ou determinado, por aspectos além do controle da pessoa. A perspectiva humanística presume que as pessoas têm a capacidade de fazer suas próprias escolhas sobre seu comportamento em vez de depender dos padrões da sociedade. Mais do que qualquer outra abordagem, ela enfatiza o papel da psicologia em enriquecer a vida das pessoas e ajudá-las a alcançar a autorrealização. Ao lembrar os psicólogos de seu compromisso com o indivíduo na sociedade, a perspectiva humanística tem sido uma influência importante (Dillon, 2008; Robbins, 2008; Nichols, 2011). Fonte: Feldmann, 2015, p.17-19. TEMA 3 – CAMPOS DE ATUAÇÃO E OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA Como já mencionamos, há inúmeras abordagens na psicologia para a compreensão do ser humano. Ao longo do tempo, essas abordagens foram se desenvolvendo e se especificando em diferentes campos de estudo para a análise e o entendimento do indivíduo. Apresentamos a seguir alguns dos principais campos de estudo da psicologia em suas diferentes subáreas, as quais permitem que os psicólogos expliquem o mesmo comportamento de várias formas. Quadro 2 – Campos de atuação e objeto de estudo da psicologia Campo de estudo Objeto de estudo Psicologia clínica A psicologia clínica trata do estudo, do diagnóstico e do tratamento de transtornos psicológicos com base em diversas teorias. Psicologia do A psicologia do desenvolvimento estuda o desenvolvimento e a formação do ser humanos desde o desenvolvimento momento da concepção até a sua morte nos estágios da infância, adolescência e maturidade. Psicologia educacional A psicologia educacional ocupa-se do estudo acerca de como ocorrem os processos aprendizagem, tais como a relação entre a motivação e o desempenho na escola. Psicologia hospitalar/ saúde A psicologia hospitalar / saúde tem foco nos estudos da relação entre fatores psicológicos e enfermidades físicas que intervém na saúde geral do indivíduo. Psicologia organizacional A psicologia organizacional preocupa-se com a aplicação da psicologia no trabalho para a compreensão, a intervenção e o desenvolvimento das relações humanas nos processos individuais e grupais, com o objetivo de alinhar os objetivos profissionais do trabalhador aos da empresa. Psicologia social A psicologia social é o estudo de como os pensamentos, os sentimentos e as ações das pessoas são afetadas pela interação com outras pessoas. Psicologia do esporte A psicologia do esporte se dedica à aplicação da psicologia à atividade e ao exercício esportivo. Neurociência comportamental A neurociência comportamental examina as bases biológicas do comportamento. Fonte: Feldmann, 2015, p. 7; Lorena, 2014, p. 2-3. 3.1 O FUTURO DA PSICOLOGIA Para Feldmann (2015, p. 23), existem tendências de futuro para a disciplina da psicologia em sua contínua contribuição para a tratativa do ser humano: Conforme a base de conhecimentos cresce, a psicologia se tornará cada vez mais especializada e novas perspectivas surgirão. Por exemplo, nossa compreensão do cérebro e do sistema nervoso, aliada aos avanços científicos na genética e na terapia genética, permitirão aos psicólogos focar a prevenção dos transtornos psicológicos, e não apenas seu tratamento. O que nos revela a ampliação de possibilidades dada a inovação no campo dos estudos científicos: A influência da psicologia em questões de interesse público também vai crescer. Os principais problemas de nosso tempo – como violência, terrorismo, preconceito racial e étnico, pobreza e desastres ambientais e tecnológicos – contêm importantes aspectos psicológicos. (Feldmann 2015, p. 23- 24) Saiba mais Acesse o link a seguir para conhecer o site da Ilumne, consultoria especializada e diferenciada que utiliza os conhecimentos da neurociência aliados a uma grande experiência em gestão de recursos e desenvolvimento humanos. ILUMNE – Inspinring Brains. Disponível em: < http://www.ilumne.com.br/#header-secao-ilum ne>. Acesso em: 12 mar. 2020. TEMA 4 – PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL Como você pode perceber pelo exposto até aqui, a psicologia é uma ciência que tem o seu conhecimento aplicado a inúmeros contextos que envolvam o comportamento humano. E no campo das relações humanas nas organizações, o seu estudo é um grande aliado para a valorização do trabalhador. Podemos observar, no Quadro 2, os campos de estudos da psicologia e perceber que a psicologia organizacional se preocupa com os estudos do ser humano no trabalho, aplicando os conhecimentos para a compreensão, a intervenção e o desenvolvimento das relações humanas nos processos individuais e grupais, com o objetivo de alinhar os objetivos profissionais do trabalhador aos da empresa. No final do século XIX, mais especificamente na Europa, parte da popularidade da psicologia foi resultado de forças econômicas. Nessa época, houve o aumento do contingente de pessoas com pós-graduação em psicologia e não havia cargos acadêmicos suficientes para empregá-las. Esse fato abriu as portas para que os psicólogos expandissem sua atuação nas organizações, o que http://www.ilumne.com.br/#header-secao-ilumne incluía clínicas de saúde mental, justiça criminal e testes psicológicos, concretizando assim a área da psicologia nas organizações como demonstram Schultz e Schultz (2017, p.183): A expansão da psicologia industrial aconteceu, em parte, em virtude dos estudos de Hawthorne. De 1927 a 1930, esses estudos foram estabelecidos para determinar “os efeitos do ambiente físico de trabalho” sobre a produtividade. Em vez disso, os pesquisadores descobriram que o ambiente social e emocional provoca um impacto ainda maior sobre a produtividade. Os estudos de Hawthorne levaram os psicólogos a explorar o aspecto social e o aspecto psicológico do ambiente de trabalho, o que incluía o comportamento de liderança, a formação de grupos informais de trabalho, as atitudes dos funcionários, os padrões de comunicação entre os subordinados e seus superiores, além de outros fatores capazes de influenciar a motivação, a produtividade e a satisfação. Com essa ação, essas experiências deram vigor para o campo da psicologia industrial e organizacional. Desse modo, demonstramos o marco histórico da psicologia aplicada às organizações, a qual passou a utilizar os princípios científicos do comportamento humano nas organizações. Com a Revolução Industrial iniciando no final do século XVIII, o trabalho artesanal nas oficinas foi substituído pelo trabalho assalariado nas fábricas. O processo de produção, agora por meio das máquinas, não exigia dos operários aptidões complexas para a realização das tarefas profissionais. Porém com a chegada do século XX, o processo produtivo passa a ser o que hoje conhecemos como linha de produção ou produção em série, idealizado por Henry Ford (1863-1947) com o objetivode aumentar a produtividade. Para isso, o trabalhador passou a ser treinado para executar tarefas repetitivas e de forma organizada, sendo considerado como uma peça da engrenagem do sistema produtivo industrial (Bock; Furtado; Teixeira, 2008). Bagatini e Persico (2012, p.15) reforçam esta condição de mudança acerca do trabalho: A principal mudança quanto à concepção do trabalho foi a substituição da habilidade do artesão pela máquina, ou da força do homem pela força da máquina, o que resultou em maior rapidez, maior quantidade e qualidade, reduzindo tempos de produção. Figura 3 – O trabalho passa da oficina para a fábrica Fonte: Sérgio Foto/Shutterstock; Everett Historical/Shutterstock. Essa abordagem deu seguimento com os estudos do engenheiro americano Frederick Winslow Taylor (1856-1915), pioneiro na sistematização do processo administrativo dentro das organizações, denominado de administração científica. Baseado na engenharia, sua ênfase era que se o ambiente de trabalho estivesse suficientemente arrumado e organizado, o empregado não teria outro comportamento senão o de produzir mais. Com os princípios da administração científica, Taylor procurou combater a atitude desorganizada de administrar, tendo êxito na organização dos trabalhadores na linha de montagem, conhecida como modelo Taylor – fordista. Nessa mesma época, na França, o industrial Henry Fayol (1841-1925), considerado o pai da teoria moderna da administração, ou teoria clássica, veio a complementar o trabalho de Taylor, uma vez que aquele substituiu a abordagem analítica e concreta deste por uma abordagem sintética, global e universal (Mesadri; Pasetto, 2012, p. 16). Ainda hoje os estudos de Taylor e Fayol são praticados nos vários contextos do trabalho, tendo precedido a teoria de Hugo Münsterberg (1863 – 1916), considerado o fundador da Psicologia Industrial. Em seu livro Psicologia e a eficiência industrial (Psychology and Industrial Efficiency, de 1913), impulsionou o uso de testes mentais e psicológicos para candidatos a empregos. 4.1 PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL NO BRASIL Há registros de que a atuação da psicologia organizacional no Brasil tenha tido seu início a partir de 1924, direcionada a atender aos interesses da indústria, nas bases dos pressupostos do taylorismo. Foi na década de 1970 que surgiu o termo psicologia organizacional, considerando a relação da psicologia com a estrutura da organização. A partir dos anos 1990, com as contingências da globalização, o avanço da tecnologia, com o surgimento da internet e seu impacto na competitividade empresarial, fundamentou-se a concepção de que a mudança de comportamento e o desenvolvimento de competências dos profissionais são fatores essenciais frente às demandas do mercado. Apesar das críticas quanto à aplicação da psicologia para atender à produtividade das empresas, essa ciência contribui para a melhoria do ambiente de trabalho, no entendimento dos fenômenos relacionados à vida do trabalhador em seu contexto pessoal e profissional. 4.2 TENDÊNCIAS DA PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL Em tempos de constante mudança e inovação nos modelos de negócios, devido à acelerada evolução da tecnologia digital, a cada dia temos um maior número de ferramentas de análise, softwares, programas e plataformas digitais desenhadas exclusivamente com o objetivo de aumentar a performance das empresas dos mais diversos setores e portes. Isso impacta diretamente na relação empregador e empregado e tem resultado em transformações significativas para a gestão de pessoas. Um dos destaques se dá ao Big Data, nome dado à imensidão de dados gerados a cada segundo na internet. Essas informações, quando organizadas e analisadas de maneira correta, são capazes de dar respostas aos mais distintos tipos de questões e serem adotadas em uma abordagem empresarial. A análise minuciosa dessas informações é o que se convencionou chamar de Analytics. Com foco na gestão de RH, a aplicação é denominada People Analytics, consistindo em um processo de levantamento e análise de um grande volume de dados dos colaboradores para subsidiar o processo decisório relacionado à gestão de pessoas. Seus benefícios estão em promover uma gestão de pessoas mais estratégica e fundamentada em dados objetivos. A análise de Big Data vem sendo utilizado pelas maiores empresas do mundo. Com essa ferramenta, diminui-se a subjetividade da área de gestão de pessoas, sendo possível a obtenção de resultados e relatórios que sejam potentes e ajudem a melhorar a performance empresarial. E como bem nos revela Chiavenato (2014, p. 310): em um mundo informatizado em que todos têm acesso à informação, sobressaem-se as pessoas capazes de acessá-la, interpretá-la e transformá-la rapidamente – e antes dos outros – em um novo produto, serviço, aplicação, inovação ou oportunidade . É importante você considerar a utilização de ferramentas de Big Data e o Analytics nos processos de RH da sua empresa. Saiba mais Acesse o link a seguir e conheça a SBPOT – Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho, uma associação de propósitos científicos e educacionais com a finalidade de promover a produção e divulgar o conhecimento científico e tecnologias na área de psicologia organizacional e do trabalho. SBPOT – Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho. Disponível em: < https://www.sbpot.org.br/institucional>. Acesso em: 12 mar. 2020. TEMA 5 – A PSICOLOGIA E O COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Desde o início do século XX, a psicologia tem contribuído para os estudos do comportamento humano nas organizações, sendo que, na década de 1970, o psicólogo passa a ter como objeto de trabalho os processos inconscientes das relações interpessoais e grupais no conjunto das práticas institucionais (Mesadri; Pasetto, 2012, p. 42). Deu-se então origem ao estudo do comportamento humano nas organizações pautado na psicologia e outras ciências, como revelam Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 10): O estudo do comportamento organizacional é uma ciência aplicada que se apoia na contribuição de diversas outras disciplinas sociais, tais como a psicologia, a sociologia, a psicologia social, a antropologia e a ciência política. A psicologia tem contribuído principalmente para o nível micro, ou individual, de análise, enquanto as demais disciplinas contribuem para a nossa compreensão dos conceitos macro, tais como os processos grupais e a dinâmica organizacional. Para os autores Robbins, Judge e Sobral (2010), a contribuição da psicologia e da psicologia social é para a compreensão dos indivíduos, grupos e organização, cujo objetivo é o aumento da eficácia organizacional, justificada no conceito dos mesmos autores para a definição do campo de estudo denominado comportamento organizacional (CO) https://www.sbpot.org.br/institucional campo de estudos que investiga o impacto que indivíduos, grupos e a estrutura organizacional têm sobre o comportamento das pessoas dentro das organizações, com o propósito de utilizar esse conhecimento para melhorar a eficácia organizacional. (Robbins; Judge; Sobral, 2010, p.5) O objetivo central do CO é compreender como o comportamento das pessoas afeta o desempenho organizacional com base em evidências estudadas. As pesquisas, antes voltadas ao aumento da eficiência do trabalhador, passaram a ter foco no ambiente mais propício ao melhor desempenho das funções. Tornou-se essencial que o indivíduo acredite que a sua realização pessoal está diretamente relacionada com os objetivos da organização à que pertence, bem como que haja a harmonia nas suas relações interpessoais. Assim, torna-se possível construir organizações mais saudáveis, além de produtivas. Na atualidade, Robbins, Judge e Sobral (2010) apontam em seus estudos a contribuição da psicologia positiva em organizações, referenciando o foco para o campo de estudos do CO: constata-se também um crescimento real na área de pesquisa de comportamento organizacional no quese refere ao conhecimento organizacional positivo (também chamado comportamento organizacional positivo), que estuda como as organizações desenvolvem as forças e competências de seus trabalhadores, promovem vitalidade e resiliência e descobrem talentos potenciais. Os pesquisadores nessa área argumentam que há muita pesquisa e prática administrativa de comportamento organizacional destinada a identificar o que está errado com as organizações e seus funcionários. Respondem a isso tentando estudar o que é bom em relação a elas. Algumas variáveis independentes essenciais nas pesquisas de conhecimento organizacional positivo são o engajamento, a esperança, o otimismo e a resiliência perante as tensões. Os pesquisadores dessa corrente analisam um conceito chamado ‘refletindo sobre si mesmo’, pedindo que os funcionários reflitam sobre situações quando se encontravam ‘em sua melhor forma’ para entender como explorar seus pontos fortes. A ideia é que todos nós temos algo em que somos excepcionalmente bons, porém temos a tendência de nos concentrar em nossas limitações e raramente pensamos em explorar nossos pontos fortes. (Robbins; Judge; Sobral, 2010, p. 20) O surgimento da psicologia positiva teve a primeira referência em 1954, em um dos livros de Abraham Maslow (1908-1970), Motivação e personalidade, em que revela da importância do desenvolvimento das qualidades e virtudes do indivíduo para o seu autoconhecimento e melhoria da qualidade de vida. TROCANDO IDEIAS Propomos que reflita e apresente um posicionamento em face da questão proposta: se podemos fazer uso do termo psicologia e somos capazes de explicar ou compreender situações do cotidiano de um ponto de vista psicológico, a exemplo o comportamento das pessoas à nossa volta, qual é a importância do conhecimento sobre os estudos teóricos produzidos no campo da psicologia sobre o comportamento humano nas organizações? NA PRÁTICA Este é o momento de consolidação do seu conhecimento sobre a importância da psicologia organizacional no entendimento das questões humanas no trabalho. Para tanto, apresentamos uma proposta de aplicação prática dos conteúdos desta aula. a. Leia o artigo “A influência dos vínculos com a organização sobre o bem-estar subjetivo do trabalhador” da Revista Psicologia: Organizações e Trabalho: SOUZA, G. C. et al. A influência dos vínculos com a organização sobre o bem-estar subjetivo do trabalhador. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, v. 18, n. 4, out.-dez., 2018, p. 460-467. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v18n4/v18n4a02.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2020; b. Identifique qual a abordagem da psicologia que embasa a pesquisa apresentada no artigo; c. Analise os vínculos organizacionais denominados comprometimento e entrincheiramento, foco da pesquisa e Demonstre quais os resultados obtidos nestes dois tipos de vínculo para o bem-estar subjetivo (BES) do trabalhador; d. Justifique qual a relação do vínculo de comprometimento do trabalhador para com a organização com os conteúdos desta aula. A abordagem da psicologia que se identifica no artigo em questão é a humanística, a qual defende a capacidade que o indivíduo tem de controlar seu comportamento na busca de realizar seu pleno potencial. Nesse caso, no contexto organizacional, em que também estabelece vínculos e tem a capacidade de fazer suas próprias escolhas sobre seu comportamento. Como resultado da pesquisa do tema sugerido no artigo em questão, o comprometimento organizacional indicou ser capaz de aumentar experiências positivas (afetos positivos e pela satisfação com a vida) e diminuir experiências negativas (afetos negativos) para o trabalhador. Já o entrincheiramento organizacional foi capaz de aumentar experiências negativas (afetos negativos) e http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v18n4/v18n4a02.pdf de diminuir parcialmente as positivas (afetos positivos, sem influência sobre a satisfação com a vida). A relação do vínculo de comprometimento do trabalhador para com a organização com os conteúdos desta aula se dá na demonstração de que o comportamento humano é um fator importante e de impacto para a organização. Razão pela qual o foco atual dos estudos da psicologia organizacional é para a promoção de um ambiente mais propício ao melhor desempenho das funções, bem como para a harmonia das relações interpessoais do sujeito no contexto profissional. FINALIZANDO Por meio da articulação entre os conhecimentos aqui expostos, discorremos sobre a fundamentação da psicologia como ciência para o entendimento dos processos mentais e do comportamento humano e o seu campo de estudo nas relações do trabalho. A relevância do comportamento humano como um fator importante e de impacto para a organização pode ser aprofundada com a atividade sobre a influência dos vínculos estabelecidos entre a organização e o trabalhador. REFERÊNCIAS BAGATINI, B.; PERSICO, N. Comportamento humano nas organizações. Curitiba: InterSaberes, 2012. BENSON, N. et al. O livro da psicologia. 2. ed. São Paulo: Globo, 2016. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. BRASIL. Lei n. 4.119, de 27 de agosto de 1962. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 nov. 1962. CHIAVENATO I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2014. FELDMANN, R. S. Introdução à psicologia. 10.ed. Porto Alegre: Mac Graw Hill Education, 2015. LORENA, A. B. (Org.). Psicologia geral e social. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014. MESADRI, F. E.; PASETTO, N. V. Comportamento organizacional: integrando conceitos da administração e da psicologia. Curitiba: InterSaberes, 2012. ROBBINS, S. P. Comportamento organizacional. 9. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. ROBBINS, S. T.; JUDGE, T. A.; SOBRAL, F. Comportamento organizacional: teoria e prática no contexto brasileiro. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2017.
Compartilhar