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REVISTA CIENTÍFICA CULTIVO DO CAFÉ (Coffea arabica L.) ORGÂNICO SOMBREADO PARA PRODUÇÃO DE GRÃOS DE ALTA QUALIDADE CULTIVO DO CAFÉ (Coffea arabica L.) ORGÂNICO SOMBREADO PARA PRODUÇÃO DE GRÃOS DE ALTA QUALIDADE 1ª Edição CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone VICENTE DE PAULA QUEIROGA JOSIVANDA PALMEIRA GOMES BRUNO ADELINO DE MELO ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE (Editores Técnicos) CULTIVO DO CAFÉ (Coffea arabica L.) ORGÂNICO SOMBREADO PARA PRODUÇÃO DE GRÃOS DE ALTA QUALIDADE 1ª EDIÇÃO ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB 2021 ©Copyright 2021 by Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA, JOSIVANDA PALMEIRA GOMES, BRUNO ADELINO DE MELO, ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Capa DIEGO ANTÔNIO NÓBREGA QUEIROGA Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP) Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal. Data de fechamento da edição: 29-01-2021 Q3c Queiroga, Vicente de Paula. Cultivo do café (Coffea arábica L.) orgânico sombreado para produção de grãos de alta qualidade. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga, Josivanda Palmeira Gomes, Bruno Adelino de Melo, Esther Maria Barros de Albuquerque. – Campina Grande: AREPB, 2021. 279 f. : il. color. ISBN 978-65-87070-05-6 1. Café. 2. Coffea arabica. 3. Café sombreado. 4. Colheita seletiva. 5. Orgânico. 6. Café especial. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Gomes, Josivanda Palmeira. III. Melo, Bruno Adelino de. IV. Albuquerque, Esther Maria Barros de. IV. Título. CDU 631.5 https://servicos.cbl.org.br/servicos/meus-livros/visualizar/?id=0c319bd9-c8db-ea11-a813-00224836022c O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito. A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais. Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural. Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa. Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br EDITORES TÉCNICOS Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil) Josivanda Palmeira Gomes (Drª) Professora da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola Universidade Federal de Campina Grande Campina Grande, PB (Brasil) Bruno Adelino de Melo (Dr) Pesquisador do CNPQ / UFCG Universidade Federal de Campina Grande Campina Grande, PB (Brasil) Esther Maria Barros de Albuquerque (Drª) Doutora em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande Campina Grande, PB (Brasil) APRESENTAÇÃO No Brasil existem poucos trabalhos associando o cafezal orgânico sombreado com a sua produção. Diversos trabalhos mostram que o cafeeiro sombreado pode influenciar ou afetar a sua floração, taxa de fotossíntese, produção, maturação, tamanho dos frutos e qualidade da bebida. Aparentemente a quantidade ótima de radiação depende do manejo das árvores sombreadas (espécie, poda e arranjo), pois em algumas experiências, os cafeeiros sombreados apresentam produções comparáveis, e inclusive maiores que as do café a pleno sol. Em outras, as produções do café sombreado são extremamente baixas, mesmo assim de grande valia para a produção de cafés especiais. Isto depende de uma série de fatores que incluem o clima, intensidade de radiação solar do local, tipo de solo e as práticas de manejo do sistema. Portanto, este livro descreve as principais tecnologias para a produção de café (Coffea arabica) orgânico com sustentabilidade, abordando os seguintes aspectos: variedades indicadas para o sombreamento, morfologia, fenolologia, produção de mudas, plantio em sistema de agroflorestal, conservação do solo, adubação orgânica, controle de plantas daninhas, poda de produção, pragas-doenças, colheita, secagem, processamento, beneficiamento e qualidade. Além disso, os autores desta publicação, preocupados em fortalecer a participação de cafeicultores brasileiros na produção de café orgânico sombreado, trazem a comunidade acadêmica e extensionistas, as informações básicas copiladas de bibliografias existentes sobre Cultivo do café (Coffea arabica L.) orgânico sombreado para produção de grãos de qualidade. Os autores SUMÁRIO CAPÍTULO I – SISTEMA PRODUTIVO DO CAFÉ (Coffea arabica L.) ORGÂNICO SOMBREADO – Vicente de Paula Queiroga, Josivanda Palmeira Gomes, Bruno Adelino de Melo, Esther Maria Barros de Albuquerque, Eduardo Gonçalves de Oliveira .......................... 10 CAPÍTULO II – MATURAÇÃO, COLHEITA, BENEFICIAMENTO E ARMAZENAMENTO DO CAFÉ - Vicente de Paula Queiroga, Josivanda Palmeira Gomes, Bruno Adelino de Melo, Esther Maria Barros de Albuquerque, Eduardo Gonçalves de Oliveira .................................................................................................................................................181 CAPÍTULO III - DEFINIÇÕES DE AGRICULTURA ORGÂNICA E NORMAS DE CERTIFICAÇÃO - Vicente de Paula Queiroga, Josivanda Palmeira Gomes, Bruno Adelino de Melo, Esther Maria Barros de Albuquerque ............................................................................ 221 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS ................................................................................. 240 C a p í t u l o I | 10 CAPÍTULO I SISTEMA PRODUTIVO DO CAFÉ (COFFEA ARABICA L.) ORGÂNICO SOMBREADO Vicente de Paula Queiroga Josivanda Palmeira Gomes Bruno Adelino de Melo Esther Maria Barros de Albuquerque Eduardo Gonçalves de Oliveira (Editores) C a p í t u l o I | 11 INTRODUÇÃO O Brasil é o maior produtor mundial de café; contudo, em 2003, foi o 6º produtor mundial de café orgânico, com uma produção de 80 mil sacas, o que representou 0,2% de sua produção total (MOREIRA, 2003). O cultivo orgânico do café em associação com árvores vem sendo estimulado pelas certificadoras, porém não constitui uma condição limitante para a conversão de cafezais convencionais em orgânicos. As informações existentes na literatura, sobre o efeito do sombreamento na produção de café, são escassas e variam de acordo com as condições regionais (altitude, temperatura, radiação fotossinteticamente ativa e fertilidade do solo) e com a espécie utilizada (ESTÍVARIZ-COCA, 1997). Em muitos estudos conduzidos sobre arborização de cafezais, a sombra reduziu a produção (HERNÁNDEZ et al., 1997). Entretanto, a maioria desses estudos foi conduzida sob sombra muito densa. No Brasil, existe uma grande demanda de conhecimento sobre esses sistemas de produção em termos agronômicos e econômicos. Entretanto, há pouca informação qualificada sobre as práticas de manejo que permitem um desempenho razoável desses sistemas de produção e a informação existente geralmente é superficial. Existem muitas dúvidas sobre a escolha das espécies arbóreas adequadas, seu espaçamento, a frequência da poda, a nutrição dos cafeeiros e a seleção de cultivares mais adaptadas a estas condições. Não são claras as condições edafoclimáticas ou a escala e sistema de produção em que o uso de cafeeiros sombreados permitiria sua inserção bem-sucedida nos agroecossistemas e cadeias produtivas locais. Nesse sentido, Haarer (1977) argumenta que existem muitos aspectos sobre o cultivo do café sombreado que necessitam ser esclarecidos. Primeiramente, deve-se questionar se o cafeeiro requer absolutamente, em qualquer localidade, sombra, e em caso afirmativo, em que intensidade. Deve-se também definir quais as espécies arbóreas que crescem melhor numa plantação ou tipo de solo em particular, qual o espaçamento mais adequado, tanto entre as árvores como entre os cafeeiros, e saber se as espécies utilizadas não competem de forma significativa pela umidade e nutrientes do solo, bem como pela luminosidade. Outro aspecto importante é definir o manejo adequado para a formação do cafezal e das espécies sombreadoras e assegurar-se de que as espécies utilizadas sejam de uso múltiplo e que não favoreçam o incremento de pragas e doenças no cafeeiro. Segundo Fernandes (1986), o sombreamento com espécies e espaçamentos adequados pode apresentar resultados satisfatórios, quando comparado ao cultivo a pleno sol. C a p í t u l o I | 12 Em relação ao solo, a presença de árvores aumenta o aporte de matéria orgânica em virtude da queda de folhas, conserva a umidade, reduz as perdas de N, aumenta a capacidade de absorção e infiltração de água, reduz o risco de erosão e a emergência de plantas invasoras, e estimula a atividade biológica (MUSCHLER, 2000; BARBERA- CASTILLO, 2001). Adicionalmente, as árvores contribuem para melhorar a fertilidade do solo (MUÑOZ; ALVARADO, 1997), funcionam como banco de estoque de carbono no solo e na vegetação, removendo quantidades significativas de CO2 da atmosfera (ANDRADE; IBRAHIM, 2003), e servem como refúgio para a biodiversidade animal (PERFECTO et al., 1996; GORMLEY; SINCLAIR, 2003). A existência de maior biodiversidade possibilita a autorregulação dos sistemas (DUBOIS, 2004) e proporciona condições desfavoráveis ao estabelecimento de pragas e doenças (GUHARAY et al., 2001), como por exemplo, a cercosporiose (Cercospora coffeicola), a antracnose (Colletotrichum spp.) (BOULAY et al., 2000) e o bicho-mineiro (Leucoptera coffeella), que preferem ambientes ensolarados e mais secos (HAGGAR et al., 2001). A produção orgânica é baseada em princípios de diversificação, reciclagem, processos biológicos e imitação de habitats naturais (IFOAM, 1996) e pode ser uma alternativa interessante sob os aspectos ambiental, social e econômico, pois não contamina o meio ambiente nem as pessoas direta e indiretamente envolvidas, além de agregar mais valor ao produto final. Por outro lado, o café sombreado é um dos sistemas mais antigos de produção de café (Coffea arabica L.) no mundo, particularmente difundido na Colômbia, Costa Rica, Guatemala, El Salvador e México. No norte da América Latina, antes da década de setenta, o café era produzido predominantemente em sistemas sombreados, altamente diversificados, caracterizados pelo baixo impacto ecológico e a baixa produtividade (PERFECTO et al., 1996). As regiões cafeeiras do mundo apresentam condições ecológicas muito distintas, sugerindo que o comportamento desta rubiácea não é idêntico em todas as áreas produtoras e os resultados experimentais frequentemente não concordam entre si ou são diametralmente opostos. As espécies do gênero Coffea mostram uma ampla margem de adaptabilidade a diferentes condições edafoclimáticas (CARVAJAL, 1984). Em grande parte das regiões produtoras de café, predominam condições edafoclimáticas adversas como: déficit hídrico anual; presença de solos rasos, de texturas arenosas, com C a p í t u l o I | 13 baixa fertilidade natural, e que apresentam baixa capacidade de retenção da água; ocorrência de ventos fortes e elevada taxa evapotranspiratória. Essas condições, somadas às frequentes oscilações do preço do café e à pressão da sociedade por uma cafeicultura mais sustentável, têm redirecionado a visão do cafeicultor para a utilização de espécies perenes que possam ser consorciadas com o café, visando o aumento da rentabilidade por área cultivada e à minimização dos efeitos adversos do clima. Ou seja, a diversificação da produção é uma importante estratégia para manter o equilibro econômico da propriedade e os sistemas agroflorestais podem ser uma alternativa. No Brasil, o sombreamento dos cafeeiros era uma prática comum na região Norte e Nordeste até os anos sessenta. No começo desta década foram eliminadas grandes áreas de café com o objetivo de diminuir a superprodução e posteriormente, na década de setenta, algumas destas áreas foram substituídas por café a pleno sol. Estes cafeeiros rapidamente se converteram em improdutivos devido às condições climáticas, e, enquanto muitos agricultores desistiram da cultura, outros voltaram a cultivar o café sombreado (MATSUMOTO; VIANA, 2004). Mesmo assim, o café sombreado ainda se encontra mais difundido no Norte e Nordeste do País. Nas regiões Sul e Sudeste o sombreamento é menos frequente, sendo as árvores geralmente utilizadas para proteger a cultura das geadas ou cultivadas pelo seu alto valor econômico. No caso do Nordeste é comum seu cultivo em associação com diversas espécies sombreadoras, onde essa prática tem se mostrado promissora. Os maiores benefícios fisiológicos que o cafeeiro recebe das árvores de sombra estão associados com a redução do estresse da planta, pela melhoria do microclima e do solo (BEER, 1997; BEER et al., 1998). Essas modificações microclimáticas interferem no comportamento da planta de cafeeiro, alterando astrocas gasosas, a anatomia, a morfologia, o crescimento e o desenvolvimento produtivo, refletindo consequentemente em sua produtividade. SOTO-PINTO et al. (2000), verificaram em estudos realizados em cafezais comerciais sombreados que a cultivar, idade do cafeeiro, número de espécies e densidade de árvores que promoviam o sombreamento não foram fatores que influenciaram a produção dos frutos de café. Entretanto, foi verificada uma relação positiva entre níveis de sombreamento de 23 a 38% e produção de frutos. No Sudoeste da Bahia, o sombreamento com grevilhas tem sido empregado para amenizar a limitação hídrica, uma das principais restrições à produtividade dos cafezais nessa região. C a p í t u l o I | 14 Matiello et al. (1989), trabalhando com cinco níveis de sombra variando de 0 a 100%, em áreas com período seco acentuado no Nordeste brasileiro (Brejão, PE), verificaram que o sombreamento tem resultado em melhor enfolhamento e maior produtividade dos cafeeiros, sendo os melhores resultados obtidos com os níveis de 50 a 75% de sombra. Para que a cultura cafeeira no país tenha uma colocação de sucesso no mercado mundial, é necessário se desenvolver sistemas que venham minimizar os riscos causados pelas Mudanças Climáticas Globais (MCG) previstas para os próximos anos ao qual a cultura esta sujeita. A arborização na agricultura é uma técnica muito utilizada em países equatoriais para a proteção de cafezais contra as adversidades climáticas e promover a sustentação da cultura. Este método visa melhorar o ambiente, mantendo uma insolação necessária aos cafeeiros de forma a permitir a fotossíntese normal (CAMARGO; GONÇALVES, 2004). O sombreamento de cafezais no Brasil é uma tecnologia que vem ganhado importância nos últimos tempos. O ponto chave da expansão desse sistema de produção é a capacidade de satisfazer megatendências mundiais como: competividade, internacionalização, mudanças nos padrões de consumo e conscientização ecológica. Além disso, o sombreamento de cafeeiros pode contribuir para viabilizar o cultivo no sistema orgânico, minimizar gastos com insumos, promover melhor qualidade de bebida, gerar fonte de renda adicional para o produtor, promover a manutenção de sistemas equilibrados, com preservação da biodiversidade, solo, qualidade de recursos hídricos e sequestro de carbono e amenizar adversidades climáticas como geadas, secas e altas temperaturas. É importante destacar que os plantios de café sombreado no Nordeste do Brasil são frequentemente citados como exemplos de sucesso, em razão de diversificar a fonte de renda do agricultor ao produzir o cafeeiro em sistemas agroflorestais; também podem apresentar outros benefícios, entre eles, melhoria da qualidade do café, agregando mais valor ao produto, tendo como exemplo o café orgânico produzido pela empresa Yaguara Ecológica em Taquaritinga do Norte, PE. A exigência por cafés especiais ou de qualidade, tanto no mercado nacional como internacional, é cada vez mais intensa. Portanto, a qualidade transformou-se num fator imprescindível para a manutenção do cafezal orgânico sombreado e a conquista de novos mercados. Registros no CONDEPE apontam que este município apresenta à altitude de 774 m acima do nível do mar. A temperatura média anual é de 20,9ºC e a vegetação predominante é a caatinga hiperxerófila. Porém, o bioma onde o café da variedade Typica (Coffea arábica) C a p í t u l o I | 15 é produzido esta localizada em uma área de microclima onde prevalece a mata atlântica, a qual cultivada a sombra no meio das árvores, apesar de que não foi encontrado registro que confirme a chegada do café em Taquaritinga do Norte. É importante destacar que o café orgânico de Taquaritinga do Norte é cultivado dentro do conceito da agroecologia, o qual garante sua produção dentro das boas práticas agrícolas. Além disso, a empresa Yaguara adota o sistema consorciado com outras culturas (policultivos) e utiliza, para fertilizar o solo, a matéria orgânica como adubos verdes e cobertura morta. Na atualidade a busca por uma melhor qualidade de vida despertou no consumidor uma maior preocupação com a saúde e com a segurança do produto, aumentando assim aos poucos a procura por alimentos orgânicos. Além disso, alguns cafeicultores passaram a tentar diferenciar seus grãos com base na origem, qualidade ou sustentabilidade, tentado, de alguma forma, agregar valor ao café. Foi percebida a pré-disposição dos consumidores internacionais em pagar um ágio por um produto com qualidade diferenciada, valorizando atributos como a sustentabilidade (SAES et al., 1997; SAES; NUNES, 2001). Para Souza (2006), a qualidade do café tem relação direta com as condições agroecológicas e as decisões tomadas do produtor, tais como as terras escolhidas para o plantio, o sistema de cultivo (em pleno sol ou a sombra), colheita com uso intensivo de mão de obra ou mecanizado, a forma de beneficiamento via seca (café natural) ou via úmida (cereja descascado e café despolpado) e, por fim, a separação em lotes homogêneos. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA Agroecossistema - O Brasil ocupa o primeiro lugar a nível mundial em biodiversidade, a qual tem entre suas principais ameaças o desflorestamento e a mudança climática. A agricultura segue sendo o fator mais importante do desflorestamento no mundo, tornando urgente promover interações positivas entre esse setor e a atividade florestal (ORGANIZACION DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACION, 2016). Em esse sentido, os sistemas agroflorestais (SAF) consistem na introdução ou retenção de árvores nas fazendas para aumentar, diversificar e sustentar a produção e, ao mesmo tempo, melhorar os benefícios sociais, econômicos e ambientais, sendo importante para a transformação da agricultura convencional em agricultura climaticamente inteligente, uma vez que fornecem aos agricultores rurais fontes C a p í t u l o I | 16 adicionais de renda e maiores estratégias de resiliência para se adaptar aos impactos do mercado ou do clima, reduzindo sua exposição aos riscos (ATANGANA et al., 2014; LASCO et al., 2014; MONTAGNINI, 2015; REED et al., 2017). Segundo Masera et al., (1999), o café como um agro-sistema, desempenha um efeito positivo na regulação da água, uma vez que a sombra reduz a evaporação, promovendo maior infiltração da chuva no solo. As árvores mantêm uma cobertura natural permanente formada com folhas secas; contribuem para a redução da erosão hídrica, melhora o microclima; assimilam e fixam o carbono; conservam ou melhoram a fertilidade do solo e constituem em habitat para a biodiversidade (Figura 1). Também preserva os processos de reciclagem de nutrientes e cria o ambiente ideal para o paisagismo e a promoção do turismo. Figura 1. Ciclo de nutrientes de Coffea arabica. Foto: José Laércio Favarin e Paulo Mazzafera (2017). No Brasil, apesar de predominar o cultivo a pleno sol, a técnica de sombreamento de cafezais tem se expandido em virtude da necessidade de se produzir com menor uso de insumos, como no sistema orgânico. Outra razão é a possibilidade de renda adicional para o agricultor e manutenção do sistema equilibrado, com preservação da biodiversidade, solo, qualidade dos recursos hídricos e sequestro de carbono. Para o cafeeiro, o C a p í t u l o I | 17 sombreamento protege contra as temperaturas extremas, reduz a bienalidade de produção, a incidência de seca dos ponteiros e melhora a qualidade do café (RENA; MAESTRI, 1985; VAAST et al., 2005). Além disso, a produção de café tem atraído uma atenção considerável em todo o mundo, devido à sua importância econômica, social e ecológica, onde os sistemas agroflorestais (SAFs) foram propostos como uma maneira de conciliar a conservação da biodiversidade, a produção de alimentos e a prestação de outros serviços dos ecossistemas (HERNÁNDEZet al., 2009; GOODALL et al., 2015; DE BEENHOUWER et al., 2016). No Norte da América Latina a recuperação da antiga prática do sombreamento começou nos anos noventa, quando a crise do preço internacional do grão forçou os países produtores a desenhar estratégias de recuperação econômica. Uma das propostas foi incentivar a expansão do café sombreado com o objetivo de reduzir a produção e os custos (LYNGBÆK et al., 2001). Também foram consideradas outras vantagens como a geração de serviços ambientais, particularmente o aumento da biodiversidade regional e o melhoramento das condições socioeconômicas dos agricultores, através da produção de cafés especiais que têm preços diferenciados dos mercados de comoddities. O café (Coffea arabica L.) é uma espécie originária do sub-bosque e de baixa estatura que cresce em nível abaixo do dossel florestal, por isso os cafeeiros possuem capacidades fotossintéticas adaptadas a ambientes sombreados. No entanto, plantações a pleno sol permitem produtividades mais elevadas se as condições de temperatura e de manejo forem adequadas (RAPIDEL et al., 2015). É por isso que no sistema agroflorestal (SAF) o estudo das interações entre as plantas lenhosas perenes e o cultivo consorciado é relevante, uma vez que o equilíbrio entre elas determina o efeito total dentro do sistema; as interações podem ser positivas, neutras ou negativas; uma interação positiva é a complementaridade entre os componentes na aquisição de recursos, enquanto a competição por água, nutrientes e luz é um exemplo de interações negativas. Uma compreensão de onde e como as interações ocorrem indica domínios de possíveis modificações do sistema que se podem empreender mediante as atividades de manejo (ATANGANA et al., 2014). Usos – Os grãos de café são usados principalmente para produzir a bebida estimulante com o mesmo nome, mas também podem ser usados como biofertilizantes, biocombustíveis, biomassa e para fins medicinais, por exemplo, para o tratamento da malária na América Latina (MANSFELD WORLD DATABASE, 2014; ZUORRO; LAVECCHIA, 2012; MACHADO et al., 2010; PANDEY et al., 2000). C a p í t u l o I | 18 Propriedades - Considerando as propriedades da bebida, o café arábico é profundo e penetrante, de sabor ácido e com baixo teor em cafeína. O café das variedades Robusta é mais forte e apresenta um sabor mais amargo. Além disso, o seu alto teor em cafeína faz com que o seu consumo seja realizado principalmente na forma de mescla. Existem vários termos para descrever as características organolépticas dos cafés. Começando com o sabor, o café pode apresentar gostos ácidos, amargos, doces, salgados ou azedos, dependendo da composição química, do grau de torrefação, da variedade utilizada e do tempo de fermentação. Em geral, os gostos excessivamente azedos e amargos são considerados indesejáveis. Em relação à textura, o café pode ter mais ou menos corpo, e pode ser ou não ser adstringente, uma característica considerada indesejável. Terminando com o aroma, este pode ser classificado em animal, cinza, queimado/defumado, químico/medicinal, chocolate, caramelo, cereal/ malte/pão torrado, terra, floral, frutas/cítrico, erva/folhagem, noz, ranço/podre, borracha, especiarias, tabaco, vinho e madeira (OIC, 2014). Tendo em conta as propriedades da cafeína, este composto é um estimulante do sistema nervoso central, que aumenta o estado de vigília, estimula as contrações cardíacas, promove a vasodilatação periférica e a vasoconstrição a nível craniano. Também é responsável por estimular a musculatura esquelética, diurese e secreção e motilidade gástrica. A cafeína também é utilizada como adjuvante no tratamento de enxaquecas e de sobrepeso, uma vez que está associada a medicamentos com efeitos colaterais sedativos (ARVY et al., 2007; VANACLOCHA; FOLCARA, 2003; CLARKE; MACRAE, 1988). Considerando os efeitos fisiológicos da bebida, o café parece produzir um ligeiro aumento da pressão arterial e dos níveis de homocisteína em soro. O consumo de determinados cafés com altas concentrações de diterpenos também parece levar a um aumento nos níveis séricos de colesterol. No entanto, a relação entre o consumo de café e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares não é tão clara, porque outros fatores exógenos que podem influenciar não são levados em consideração, como são a dieta e os hábitos de vida. Por outro lado, alguns estudos associam o consumo de café a um possível desenvolvimento de câncer. Em concreto, estudos in vitro revelam que altas doses de café induzem efeitos mutagênicos em bactérias, fungos e células de mamíferos. No entanto, outros testes mostram que esses efeitos são abolidos quando são adicionadas enzimas hepáticas que exercem um efeito desintoxicador e bioprotetor. Portanto, pode-se concluir que os testes in vitro não são muito confiáveis quando as condições fisiológicas reais não são exatamente reproduzidas em condições reais. Além disso, numerosos componentes C a p í t u l o I | 19 do café parecem exercer um efeito quimioprotetor devido às suas propriedades antioxidantes. De forma concreta, vários estudos mostram que o consumo de café previne o desenvolvimento de câncer de cólon e fígado, diminui a incidência de diabetes e reduz o risco de sofrer dano hepático e distúrbios neurológicos (HAMID AKASH et al., 2014; CANO-MARQUINA et al., 2013; MURIEL; ARAUZ, 2010; NKONDJOCK, 2009; CLARK; VITZTHUM, 2008; BONITA et al., 2007; SOFI et al., 2007). ORIGEM E HISTÓRIA O cafeeiro é uma planta perene do gênero botânico Coffea da família Rubiaceae, que contém cerca de 500 gêneros e mais de 6000 espécies, a maioria árvores e arbustos encontrados nos sub-bosques das florestas tropicais. A primeira denominação botânica do café foi Jasminum arabicum laurifolia, incluindo na família Oleaceae por Antoine de Jussieu em 1714. Linnaeus descreveu o gênero Coffea em 1737 e a espécie Coffea arabica L. em 1753, nome que perdura até hoje (WRIGLEY, 1988). As florestas montanas latifoliadas das regiões de Jimma e Kaffa, na Etiópia e no platô de Boma, no Sudão, são consideradas o centro de origem da espécie Coffea arabica. Estas regiões, situadas aproximadamente entre 6 e 9º de latitude Norte e 34 e 40º de longitude Leste, apresentam clima ameno em função da altitude que varia de 1.600 a 2.000 m. A temperatura do ar oscila entre 17 e 20 ºC e as chuvas anuais variam entre 1500 e 1800 mm, bem distribuídas, com um período seco definido de quatro a cinco meses (CARVALHO, 1988; WRIGLEY, 1988). Das diversas espécies de Coffea descritas, apenas duas possuem importância econômica, Coffea arabica (café arábica) e Coffea canephora Pierre (café robusta). Cerca de 70% do café comercializado no mundo é o arábica, que no Brasil corresponde a aproximadamente 80% do café plantado (BARROS et al., 1995; MATIELLO et al., 2002). PRODUÇÃO DE CAFÉS ESPECIAIS Em decorrência do fraco crescimento do mercado mundial do café tradicional, o setor cafeeiro no Brasil aumenta os investimentos em plantios alternativos de cafés, atendendo ao cenário de segmentação de mercado que se verifica no ambiente externo. Essa segmentação significa a produção de cafés com características diferenciadas, com qualidade superior e maior valor agregado. A aposta do setor, extremamente voltado para C a p í t u l o I | 20 a exportação, é que o consumo de cafés especiais cresça na ordem de 10% ao ano (SEBRAE; PENSA, 2001). A produção de cafés especiais apresenta boas vantagens aos produtores rurais, uma vez que o preço obtido com o café especial é maior que o tradicional (Figura 2). A valorização de um produto diferenciado representa o preço-prêmio que o produtor recebe por ter investido em um café de alta qualidade com maior custo, porém que agregou valor e foi reconhecido pelo comprador (PORTER, 1989). A boa aceitação no mercado externo tem influenciadoos produtores a investir na produção com o objetivo de exportar. Essa evidência é verificada principalmente nas regiões com pouca tradição em cafeicultura e que estão investindo nesse segmento de cafés especiais exclusivamente para exportação, como os estados de Pernambuco e Rondônia. No tocante ao mercado interno, a diversificação dos canais de distribuição, comercializando o produto diretamente a cafeterias e lojas especializadas também é considera uma vantagem, uma vez que diminui a dependência dos canais tradicionais dos mercados internos e externos (SEBRAE; PENSA, 2001). Figura 2. Cafés especiais caracterizados por grãos graúdos e homogêneos. O setor de beneficiamento, torrefação e moagem, responsável pelo processamento dos grãos para consumo, notadamente relacionado ao mercado interno, identifica vantagens significativas na comercialização dos cafés especiais, com destaque ao diferencial maior de preço praticado sobre a agregação de valor ao produto. No entanto, a restrição de mercado decorrente da dificuldade do consumidor identificar os atributos superiores do C a p í t u l o I | 21 café diferenciado, aliado a escassez de encontrar a matéria-prima adequada disponível no mercado nacional, são agentes desestimuladores para investir no segmento (SEBRAE; PENSA, 2001). O primeiro fator que deve ser levado em consideração para se definir a qualidade do café é a sua espécie, já que existem diferenças entre as espécies arábica (Coffea arabica) e robusta (Coffea caneplora), as duas mais cultivadas em todo o mundo. O arábica é um café mais fino, que apresenta uma bebida de qualidade superior, com maior aroma e sabor. É o tipo preferido para produção de cafés especiais ou com atributos diferenciados, como o orgânico. A diversidade climática é outro fator determinante da qualidade do café, pois proporciona variações quanto à acidez, corpo, doçura e aroma do café. O Brasil possui uma diversidade muito grande de cafés quanto à qualidade da bebida em decorrência da sua imensa variedade de solos e climas, associados a diferentes sistemas de manejo da lavoura e do fruto colhido (EMBRAPA, 2004). Para que um produto seja vendido como orgânico, a propriedade deve passar por um período de conversão, que no caso do café pode durar até três anos, criando desse modo uma forte barreira de entrada devido à improdutividade durante esse tempo e deixando o produtor com poucas alternativas de produção. Há também a preocupação do produto sair orgânico da propriedade rural e contamina-se no processo de beneficiamento ou comercialização, o que requer forte controle das transações verticais (PORTER, 1989). A competividade da cafeicultura orgânica está diretamente ligada à integração dos sistemas de produção, minimizando gastos com insumos pelo aproveitamento de resíduos e agregando valor ao produto. A cafeicultura orgânica apresenta, também, na análise do estado nutricional e da fertilidade do solo das lavouras, alta eficiência deste sistema de produção no fornecimento de nitrogênio, elemento essencial às plantas, via compostos orgânicos (estercos), adubação verde e roçada de plantas espontâneas como cobertura vegetal permanente do solo (EMBRAPA, 2004). Nesse conceito diferenciado do café, surgem atributos de qualidade que vão além dos aspectos tangíveis (aspectos físicos, sensoriais e locacionais), agregando aspectos imateriais relacionados a questões tecnológicas, manutenção de fauna e flora e responsabilidade social. Zylberszrtajn e Farina (2001) apresentam o conceito de cafés especiais: C a p í t u l o I | 22 O conceito de cafés especiais está intimamente ligado ao prazer proporcionado pela bebida. Tais cafés destacam-se por algum atributo associado ao produto, ao processo de produção ou o serviço a ele relacionado. Diferenciam-se por categorias como qualidade superior da bebida, aspectos dos grãos, forma de colheita, tipo de preparo, história, origem dos plantios, variedades raras e quantidades limitadas, entre outras. Podem também incluir parâmetros de diferenciação que se relacionam a sustentabilidade econômica, ambiental e social da produção. De acordo com Almeida et al. (2010), os cafés especiais são divididos em quatro categorias principais: os de qualidade superior (Gourmet), origem (Estate Coffe), sombreado e orgânico. Tais produções, conforme Souza (2006), são ditas como sustentáveis quanto aos aspectos ambientais quando se tratam de sombreado e orgânico. Para Almeida et al. (2010), o café de qualidade superior está relacionado diretamente aos aspectos de homogeneização dos grãos que devem ser selecionados por lotes de produção de cafés de grãos maduros, verdes e secos. Os aspectos relacionados à forma do beneficiamento também são importantes, com a possibilidade de escolha por parte dos produtores. Para Souza et al. (2000), a certificação para os cafés de origem se torna primordial porque, em comparação com o café “gourmet” que podem ter suas características comprovadas ou não, o consumidor busca, nas certificações, a certeza da região de produção do café que esta sendo por ele consumido. O seguimento de cafés especiais contempla, também, os orgânicos, e os sombreados. Seus surgimentos estão ligados diretamente à exigência do mercado consumidor por um produto naturalmente sustentável, saudável e que constituam uma alternativa de renda nas regiões do país que ainda estão em processo de desenvolvimento (SOUZA, 2006). Para o café receber a certificação de “especial” e garantir ao consumidor a melhor experiência com a bebida, o produto precisa ser submetido à rigorosa avaliação da Associação Brasileira de Cafés Especiais. A entidade julga todo processo de produção, desde o cultivo, passando pela colheita e torra até chegar à xícara. As notas variam entre 60 e 100 pontos e, acima de 80, em várias faixas de valores, o café é classificado como especial. Conforme Ponte (2004), o café do tipo sombreado tem como proposito preservar o meio ambiente. É uma forma de tentar reproduzir o habitat natural da planta, podendo ser produzido em níveis diversos de sombreamento, com poucas espécies de árvores ou com uma maior biodiversidade, onde a cobertura florestal preservada se transforma em um C a p í t u l o I | 23 habitat perfeito para várias espécies, por isso a denominação “eco friendly” (SOUZA, 2006). Para Souza (2006), mesmo com a baixa produtividade, os cafés de sombra geram uma bebida bastante apreciada por sua qualidade, devido à cobertura vegetal gerar um efeito de controle nas oscilações diárias de temperatura. O café sombreado, normalmente, tem características inerentes a outro tipo de café especial: o café orgânico. DISTRIBUÍÇÃO DA PRODUÇÃO DO CAFÉ NO NORDESTE No Nordeste, o café é cultivado nos estados da Bahia, Pernambuco, Ceará e Alagoas (IBGE, FAO, apud BRASIL, 2014). Embora a região Nordeste seja a segunda produtora em volume, no País sua participação é de apenas 7%, sendo o estado da Bahia o maior produtor da região com um volume de 97%, ficando 3% para os estados de Alagoas, Pernambuco e Ceará (FAO, IBGE, 2009, apud SEBRAE, 2011). Em Pernambuco, o cultivo do café teve início desde a época do Brasil Império, na cidade de Garanhuns, região do Agreste e se apresentava como o quinto melhor café do País. Dados do IBGE (2010) apontam que a área plantada teve crescimento de 2.873 hectares no ano de 2010 para 3.892 hectares no ano de 2011 (SEBRAE, 2011). No obstante o crescimento da área plantada, a pesquisa Sebrae (2011) registra que, em alguns municípios, houve uma descontinuidade da cultura, refletindo uma queda da atividade e impacto na economia local. Conforme o SEBRAE (2011), embora o município de Garanhuns mantenha a tradição de produtor de café no Estado, o destaque foi o município de Taquaritinga do Norte, com produção de 630 toneladas, isto é, 1\3 da produção doestado. Na Figura 3, verifica-se o mapa de Pernambuco, destacando a localização geográfica do município supracitado do Agreste Setentrional. C a p í t u l o I | 24 Figura 3. Localização do município de Taquaritinga do Norte no Agreste Setentrional de Pernambuco, tendo as seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 7° 53' 17'' Sul, Longitude: 36° 5' 33'' Oeste. A cafeicultura em Pernambuco concentra-se nos municípios do Agreste, devido às características climáticas e de altitude, principalmente considerando que a espécie predominante é a arábica. Essa mesorregião é responsável por 92% do total estadual, como pode se observar na Figura 4. Com mais de 1/3 do café produzido no Estado, Taquaritinga do Norte aparece na liderança do ranking de municípios produtores. Garanhuns e Brejão ocupam a segunda e terceira posições, respectivamente, com volumes parecidos. Mesmo com a supremacia das cidades do Agreste, há registros, segundo o IBGE (2009), de produção em Triunfo, Exu, Santa Cruz da Baixa Verde e Moreilândia, localizadas no Sertão. C a p í t u l o I | 25 Figura 4. Produção de café por mesorregião do Agreste do pernambucano. Fonte: IBGE – PPM, 2009 (Elaborado por Sebrae/PE, 2011). No estado de Pernambuco, de acordo com IBGE (2019) no ano de 2018 foram produzidas 996 toneladas de café em grão verde numa área de aproximadamente 2,08 mil hectares, se destacando o município de Taquaritinga do Norte na região Agreste do estado, com produção de 800 toneladas em 1,6 mil hectares, resultando em produtividade de 8,3 sacas (60 kg) para essa safra, muito aquém da média nacional que está em torno de 25 sacas/ha. Fato que pode estar relacionado às condições edafoclimáticas da região (Figura 5), que é semiárida, ao sistema sombreado empregado na produção ecológica e também às variedades cultivadas Typica e Mundo Novo, que atesta o IAC que esta primeira variedade (Typica) é remanescente das primeiras mudas de café aportadas no Brasil no ano de 1727. Conforme IAC (2009), trata-se de um verdadeiro patrimônio genético e cultural que deve ser preservado e estudado em seu desenvolvimento. Para se entender a importância histórica desse grão, o IAC (2009) o trata como uma espécie de coleção, uma “verdadeira relíquia”. C a p í t u l o I | 26 Figura 5. Destaque da Terra do Café - Taquaritinga do Norte, PE. Foto: Adaptação de imagens dos arquivos do Café Orgânico Várzea Grande e de Aldo Rocha (2015). Além do café diferenciado de Pernambuco, os estados da Bahia e do Ceará também apresentam potenciais para produzir café orgânico sombreado, sendo que no caso cearense existe uma região, o Maciço de Baturité, muito propícia ao cultivo do café arábica, de alta qualidade. A experiência da Chapada Diamantina, na Bahia, de altas altitudes e baixas temperaturas é conhecida pelo plantio de cafés especiais de alta qualidade, utilizando as cultivares Catuaí e Catucaí. SUSTENTABILIDADE O conceito de sustentabilidade implica produção em longo prazo sem causar maiores danos ao meio ambiente ou esgotar os recursos naturais (BENZING, 2001). Diz-se que a agricultura é sustentável quando é ecologicamente segura, economicamente viável, socialmente justa e culturalmente apropriada, onde o meio ambiente e os recursos naturais são à base da atividade econômica. A agricultura sustentável preserva a biodiversidade, conserva o solo, a água e a energia, valoriza o conhecimento local, minimiza os insumos externos que o produtor precisa cultivar, tornando-o mais autossuficiente (LABRADOR; ALTIERI, 2001). C a p í t u l o I | 27 Uma iniciativa que vem ao encontro da produção sustentável de café é o Código Comum para a Comunidade Cafeeira (4C) que visa ampliar a oferta de café verde no mercado comum, produzido com critérios ambientais, sociais e econômicos. Esse Código está sendo desenvolvido num processo transparente e participativo, aberto a todos que integram ativamente o setor do café no mundo, desde organizações de produtores, comércio, indústria e sociedade civil organizada. Destaca-se que o investimento necessário para adaptação ao 4C não significa necessariamente em prêmio no preço da saca comercializada. O que existe é o compromisso das indústrias de comprar, e da rede varejista de comercializar, de forma gradativa e ao longo do tempo, volumes crescentes de café com padrão 4C (BLISKA et al., 2007). PRODUÇÃO ORGÂNICA A agricultura orgânica é um sistema produtivo que exclui o uso de fertilizantes, pesticidas sintéticos (ALTIERI, 1999), hormônios e reguladores de crescimento para a produção agrícola (CUCHMAN; RIQUELME, 2000). Segundo a Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica, IFOAM (2003), a produção orgânica é "um sistema holístico, baseado em uma série de processos que resultam em um ecossistema sustentável, alimentos seguros, boa nutrição, bem-estar animal e justiça social". Esta definição compreende uma série de princípios como; manter e aumentar a fertilidade e a atividade biológica do solo; manter e fortalecer a biodiversidade natural através da proteção do habitat; promover o uso responsável e a conservação da água; evitar a poluição e o desperdício de recursos renováveis; reconhecer a importância de aprender e proteger o conhecimento local e os sistemas tradicionais de produção, entre outros. No Brasil, a Instrução Normativa nº 7 do Ministério da Agricultura e Abastecimento, de maio de 1999 (BRASIL, 1999), definiu: Considera-se sistema orgânico de produção agropecuária e industrial, todo aquele em que se adotam tecnologias que otimizem o uso de recursos naturais e socioeconômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a auto-sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não-renováveis e a eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados - OGM transgênicos, ou radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de consumo, e entre os mesmos, privilegiando a preservação da saúde C a p í t u l o I | 28 ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os estádios da produção e da transformação. A grande maioria das propriedades em sistemas orgânicos de produção de café é certificada de acordo com os princípios dessa Instrução Normativa e segue, portanto, suas bases tecnológicas de produção. Neste tipo de agricultura, as práticas mais comuns são rotação de culturas, uso de restolho vegetal, esterco animal, associação com leguminosas, adubos verdes, rochas minerais e o controle biológico de pragas e doenças, práticas que aumentam a fertilidade do solo e eles ajudam no controle de ervas daninhas, doenças e pragas na lavoura (ALTIERI, 1999). Segundo Cenicafe (2005) define café orgânico como "café produzido e processado em um sistema sustentável (ambiental, técnico, social e economicamente viável), sem o uso de produtos químicos sintéticos". Deve-se ter em mente que a produção de café orgânico não é sinônimo de cultivo abandonado, mas responde a recomendações técnicas sob uma consciência orgânica (BOYCE, 1994). Há uma série de condições que um cafeicultor com potencial para produzir café orgânico certificado deve atender: 1) não usar produtos de síntese química no gerenciamento da fazenda; 2) estabelecer práticas de conservação de recursos naturais; 3) possuir bases conceituais de produção orgânica (produção e certificação) (OSPINA; FARFÁN, 2003), além daquelas exigidas individualmente pelo organismo de certificação. Encontra-se no terceiro capítulo mais informações sobre Agricultura Orgânica e Normas de Certificação. O que mostra a importância relativa do café cultivado pelos métodos da agricultura orgânica não é tanto o volume de café que se vende, mas o enorme esforçodos produtores no sentido de adquirir conhecimentos sobre técnicas agrícolas que exigem baixos níveis de inversão de capital e que, ao mesmo tempo, atendem aos dois principais objetivos do desenvolvimento sustentável: a) proporcionar alternativas menos nocivas para a manutenção da fertilidade e da qualidade dos recursos naturais; b) contribuir para que pequenos e médios agricultores que operam com base no uso intensivo de mão-de-obra organizem-se em sistemas de cooperativas ou associações que lhes garantam acesso ao mercado. C a p í t u l o I | 29 BOTÂNICA, MORFOLOGIA E FISIOLOGIA -Aspecto Botânico O cafeeiro pertence à família Rubiaceae, com centro de origem na Etiópia, onde é cultivado em locais predominantemente sombreados, nas regiões montanhosas ocidentais, onde as populações se estabelecem no sub-bosque de florestas caducifólias, entre 1.000 e 2.500 m de altitude, temperatura média anual entre 18ºC e 21ºC e com uma estação seca bem definida, de dois a quatro meses (MIRANDA et al., 1999). No século XV foi levado para a Arábia por mercadores, de onde a planta foi difundida. A espécie chegou ao Brasil no ano de 1727, mas somente no século XIX que a cafeicultura apresentou relevância sobre a economia brasileira, se concretizando como um dos principais produtos do agronegócio brasileiro (ALCANTRA, 2012). No Brasil, o café entrou pelo Pará, seguindo para o Maranhão, Bahia, Vale do Paraíba, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Espírito Santo. Inicialmente, o cultivo ocorria em condições sombreadas, porém, a partir da década de 1950, este manejo foi quase completamente abandonado. Na Tabela 1, encontra-se a classificação taxonômica do café: Tabela 1. Classificação taxonômica do café. Reino Plantae Tipo Espermatofitas Divisão Angiospermae ou Magnoliophyta (planta com flor) Classe Dicotiledônea ou Magnoliopsida Subclasse Metaclamídeas Ordem: Gentianales ou Rubiales Família: Rubiaceae Tribo Coffeae Género: Coffea Subgênero Eucoffea Espécie: C. arábica; Coffea canéfora; Coffea liberica etc Nome binomial Coffea arabica L. O café arábica é o único tetraploide dentre o gênero Coffea, sendo as 5 demais diploides. Isso significa que essa espécie apresenta quatro conjuntos do número básico de cromossomos (n=11), totalizando 44 cromossomos (SOUZA et al., 2004). Quanto ao modo de reprodução, é uma espécie autógama autocompatível e se multiplica predominantemente por autofecundação, que ocorre em aproximadamente 90% das flores fertilizadas pela junção de pólen e óvulo oriundos da mesma planta (FAZUOLI, 2004). https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_(biologia) https://pt.wikipedia.org/wiki/Gentianales https://pt.wikipedia.org/wiki/Fam%C3%ADlia_(biologia) https://pt.wikipedia.org/wiki/Rubiaceae https://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%A9nero_(biologia) https://pt.wikipedia.org/wiki/Cafeeiro https://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%A9cie C a p í t u l o I | 30 Existem mais de 500 gêneros e mais de 8.000 espécies desta família (CARVALHO, 1957; PINO; VEGRO, 2008), sendo o gênero Coffea o mais importante, representado por 124 espécies (DAVIS et al., 2011). Tal gênero é constituído de 66 espécies separadas em quatro seções, isto e, Eucoffea, Mascarocoffea, Paracoffea e Argocoffea. A seção mais importante, Eucoffea, possui cinco subseções, das quais a Erythrocoffea é a mais importante comercialmente, pois abrangem as principais espécies cultivadas, a Coffea arabica L. e a Coffea canephora Pierre ex Froehner (Conilon ou Robusta). O Coffea arabica L. é a espécie mais plantada no mundo, em mais de 80% dos países cafeicultores, tendo sua maior difusão no continente americano. Na Ásia, esta espécie quase se extinguiu devido, principalmente, à incidência de ferrugem (Hemileia sp.). Atualmente, encontra-se nas partes altas da Índia, com variedades resistentes às raças predominantes do fungo, bem como nas Filipinas e no Sudeste da Indonésia. O Coffea canephora alcançou o auge de seu cultivo graças à alta resistência à ferrugem das folhas, sendo primeiramente cultivada em Java, pelos holandeses. Hoje, encontra-se, exclusivamente, em regiões com temperaturas médias anuais entre 21 a 26°C. Mais algumas características das espécies de café C. canephora e C. liberica: -Coffea canephora é uma árvore robusta com uma raiz pouco profunda que pode alcançar 10 metros de altura. O fruto é arredondado e leva até 11 meses para amadurecer. Sua semente é alargada e menor que a da espécie C. arabica, enquanto as folhas são geralmente maiores (Figura 6). O café Robusta é cultivado na África Central e Ocidental, em todo o Sudeste Asiático e um pouco no Brasil, onde é conhecido como “Conilon” (WALLER et al., 2007). Figura 6. Semente da Coffea canephora (Robusta) é alargada e menor que a da espécie Coffea arabica. C a p í t u l o I | 31 -Coffea liberica é uma árvore de grande porte, com até 20 metros de altura, com folhas grandes e coriáceas. É cultivado na Malásia e na África Ocidental e é comercializado apenas em pequenas quantidades, pois sua demanda é baixa, devido ao fato de que suas características de aroma e sabor a tornam menos valorizada (WALLER et al., 2007). O café arábica é o mais comercializado no mundo devido à sua superioridade na qualidade da bebida e à vasta aceitação no mercado consumidor (SONDAHL; LAURITIS, 1992; NEBESNY; BUDRYN, 2006). Apesar dos avanços alcançados na cultura, a produtividade média do café arábica ainda é considerada baixa quando comparada com o café conilon, especialmente para lavouras mais velhas e com manejo inadequado de condução de plantas. -Aspecto Morfológico Planta – Trata-se de uma planta perene, com ciclo bianual, de clima tropical de altitude, adaptada a temperaturas amenas e clima úmido, como na região de seu centro de origem (Figura 7). Em geral, apresentam ótimo desenvolvimento em temperatura de 23°C diurna e 17°C noturna. Temperaturas médias mais altas podem causar problemas como o abortamento de flores (ALCANTRA, 2012). Figura 7. A- Detalhe do ramo plagiotrópico do Coffea arabica L: (1) flor completa; (2) estigma formado pelo filete e a antera; (3) ovário seguido pelo estilete e dois pistilos ou carpelos; (4) brácteolas; (5) fruto seco; (6) semente; (7) corte transversal do ovário; C a p í t u l o I | 32 O cafeeiro da variedade Típica é um arbusto de caule ereto que pode atingir 2- 3 metros de altura; os seus ramos são longos, flexíveis e trazem as folhas, que são opostas, decussadas e persistentes, e as flores, dispostas em glomérulos axilares. A estrutura primária - todos os tecidos do caule, bem como os das folhas, podem ser traçados em origem a uma gema apical, de forma cônica, que mede 250-300 micros na sua maior altura, e, aproximadamente, 200 micros na sua base (DEDECCA, 1957). Diversas cultivares de Coffea arabica têm aspecto mais compacto em relação a cultivar Típica, utilizada como referência nas análises genéticas da espécie (CARVALHO; MÔNACO, 1972). Trata-se de uma espécie autopolinizada, o que conduz a que as suas variedades tendam a permanecer geneticamente estáveis. No entanto, cepas com mutações espontâneas foram cultivadas devido às suas características desejáveis. "Caturra", por exemplo, é uma forma compacta da cultivar Bourbon; "Maragogipe" que é uma cultivar Típica de grãos grandes; "San Ramón" é uma Típica anã e "Purpurascens" é uma Típica de folhas roxas. Também tem sido desenvolvidas cultivares adaptadas às condições regionais específicas (clima, tipo de solo, doenças etc.) com o objetivo de obter o máximo desempenho econômico. É o caso das variedades “Blue Mountain” (derivada da Typica jamaicana, cultivada comercialmente no Quênia e é resistente à doença do grão de café); “Mundo Novo” (cruzamento de Typica e Bourbon, originalmente cultivada no Brasil); "Kent" (desenvolvida na Índia e de folhas de cor bronze, produzcafé de alta qualidade e é resistente a várias doenças), SL28 e 34 (desenvolvidas no Quênia, também produz café de alta qualidade, embora sensíveis à ferrugem e doença do grão de café) e Catuai (híbrido de Mundo Novo e Caturra, cultivado na América do Sul) (OIC, 2014; WALLER et al., 2007). Raiz – O sistema radicular é pivotante, e suas raízes finas localizam-se, em sua maioria, entre 30 e 40 cm de profundidade no solo (ALVES, 2008). A raiz primária se desenvolve da radícula do embrião. A raiz primária e suas ramificações - as raízes laterais - formam a raiz pivotante ou axial, pois a raiz lateral é endógena, acima da zona pilífera, ela possui as mesmas partes da raiz principal (Figura 8). C a p í t u l o I | 33 Figura 8. Detalhe do sistema radicular da planta de café. Fotos: Arquivo do Manual do Café e Carlos Henrique Siqueira de Carvalho. O sistema radicular do cafeeiro é responsável, em grande parte, pelo sucesso das práticas de manejo de uma lavoura. Quando tem início o declínio de um cafezal, marcado pela seca de ponteiros, principalmente em decorrência de altas cargas, é necessário, antes de qualquer intervenção para contornar o problema, uma avaliação sobre o estado do sistema radicular. Em muitas situações, as causas podem ser atribuídas às características do solo, associadas ou não à qualidade da muda, preparo do terreno, cuidados no plantio etc. Quando os problemas estão relacionados às raízes, qualquer medida que venha a ser adotada torna-se ineficiente ou antieconômico, ou, quando muito, de eficácia temporária. Caule – Caule de espessura média e lenho duro/amarelo. De acordo com Coste (1955), as plantas de café arábica são arbustos monocaules (Figura 9), tolerantes ao sombreamento e podem chegar a até 4 metros de altura. Elas apresentam crescimento contínuo com dimorfismo de ramos (plagiotrópicos e ortotrópicos), sendo os ramos plagiotrópicos responsáveis pela produção (THOMAZIELLO; PEREIRA, 2008). Os ramos plagiotrópicos se formam ao longo do ramo ortotrópico, e crescem em comprimento e número de nós, de onde se originam novas folhas (REIS; CUNHA, 2010). Os ramos primários são longos e flexíveis, havendo abundante ramificação secundária e C a p í t u l o I | 34 terciária. Há tendência de a planta ser multicaule. Entretanto, em plantios comerciais, com desbrotas controladas, consegue-se manter apenas uma haste por planta. Devido à alternância do ciclo vegetativo e reprodutivo, as plantas da espécie são podadas com o intuito de revigoramento e aumento de produção (THOMAZIELLO et al., 2000). Figura 9. Presença de unicaule na espécie Coffea arabica e de multicaule na Coffea canefora. Foto: José Laércio Favarin (2017). Ramos – A planta do café tem duas formas de crescimento, uma vertical ou ortotrópica que dá origem ao caule ou tronco e outra horizontal ou plagiotrópica, ou seja, para as laterais do tronco, a partir dos quais se formam os ramos primários ou bandolas e, por sua vez, originam ramos secundários e, em seguida, terciários (AMUSCLAM, 2013). São nas axilas das folhas verdadeiras, até o nono ou décimo par, que ocorrem somente gemas vegetativas que originam ramos ortotrópicos. A partir do décimo ou décimo primeiro par de folhas, surge apenas uma única gema maior por axila, que originará o ramo plagiotrópico e várias gemas menos desenvolvidas, as quais darão origem aos ramos ortotrópicos. Quando a planta "perde" um ramo plagiotrópico, não é capaz de regenerá- lo, e sim os ramos ortotrópicos na axila do ramo perdido (comumente denominados "ramos ladrões") (Figura 10). A interação entre os padrões de crescimento proporcional desses dois tipos de ramos confere ao C. arabica um formato cilíndrico. C a p í t u l o I | 35 Figura 10. Tipos de ramos do cafeeiro. Foto: Adaptação de Martinez et al. (2017). Nos ramos plagiotrópicos, surgem somente gemas produtoras de ramos plagiotrópicos de ordem superior ou de inflorescências nas axilas de suas folhas. Essa característica define o dimorfismo de ramos que ocorre no cafeeiro, em razão de não se recuperar um ramo ortotrópico a partir de fragmentos de ramos plagiotrópicos. Nos trabalhos de melhoramento que visam à propagação vegetativa através do enraizamento de estacas (clonagem de híbridos), podem ser empregadas somente partes de ramos ortotrópicos, que terão crescimento vertical normal, originando uma haste perfeita como a da planta obtida por semente. Plantas obtidas a partir da clonagem de ramos laterais plagiotrópicos desenvolvem-se irregularmente, com crescimento rasteiro, apenas na posição horizontal, sendo do tipo "moita". Ou seja, o dimorfismo de ramos é uma diferenciação somática permanente. Pode-se prová-la via estaquia de cada tipo de ramo, onde o ramo semelhante ao caule ou ramo ladrão origina uma planta normal, enquanto o ramo lateral (plagiotrópicos) forma uma planta atípica, a qual não cresce em altura, mas lateralmente. Por outro lado, os descritores mínimos das cultivares brasileiras podem apresentar internódios curtos, médios ou longo, como é o caso da cultivar Mundo Novo (Figura 11). C a p í t u l o I | 36 Figura 11. Internódios curtos (A) e longos (B) apresentados nos ramos. Foto: Oliveiro Guerreiro Filho (2007) e Yuliana Duque Garcés. Meristemas primário e secundário – O meristema primário é o tecido embrionário que forma a todo tempo novos órgãos: raiz, caule, folha e ramo. São células semelhantes à célula tronco animal (WEIGEL; JÜRGENS, 2002). O meristema secundário é formado somente depois do desenvolvimento embrionário. Esses meristemas são: axilar, floral e lateral. O meristema axilar (axila foliar) origina ramo lateral no tronco ou caule – produtivo (gema cabeça de série) ou ladrão (gemas seriadas). Gemas – A parte aérea da planta de café se desenvolve em uma única haste ortotrópica, a partir da retomada do desenvolvimento do eixo embrionário, durante a germinação, até que a muda atinja de oito a dez pares de folhas (CARVALHO et al., 2008). As gemas localizadas nas axilas foliares, geralmente em número de cinco a seis, são denominadas de seriadas e a primeira gema do conjunto é chamada cabeça de série. A presença de gemas seriadas é que confere ao cafeeiro a capacidade de formação de novas brotações ortotrópicas. As gemas seriadas localizadas nos internódios dos ramos plagiotrópicos C a p í t u l o I | 37 (axilas das folhas) originarão ramos e frutos, enquanto as gemas cabeça de série originarão apenas ramos plagiotrópicos secundários ou de maior ordem, o que influenciará diretamente o potencial produtivo da planta (RENA; MAESTRI, 1986; Figura 12). Portanto, maior número de ramos plagiotrópicos, associado ao maior diâmetro de copa, contribuirá para maior produção dessas plantas. Figura 12. Nas axilas das folhas cotiledonares em diante há gemas seriadas. Depois do 6°, 8° ou 10° par de folhas, além das gemas seriadas, tem a gema cabeça de série. A gema cabeça de série é única e origina ramos plagiotrópico/produtivo/lateral. Foto: Cannell (1985). Existe somente uma gema cabeça-de-série na axila de cada folha presente no nó ao longo da haste principal e, a partir de cada nó, existe apenas um par de ramos plagiotrópicos. Os ramos plagiotrópicos de primeira ordem, ou ramificações primárias, se desenvolvem na axila das folhas, presentes a partir do oitavo ou do décimo nó do ramo principal. As ramificações primárias, assim como as de ordem superior, possuem gemas cabeça-de- C a p í t u l o I | 38 série com capacidade de se diferenciar em ramificações secundárias e gemas seriadas que dão origem a folhas, ramos secundários ou botões florais, a depender do estímulo ambiental (ALVES, 2008). Folhas – A variedade Típica de C. arábica apresenta folhas opostas, decussadas, dorsiventrais, curto-pecioladas, de lâmina elípticaou elíptico-lanceolada, atenuada em ambas as extremidades, glabras, verde-luzidia na face superior e verde clara na face inferior, medindo 9- 18 cm de comprimento e 3-7 cm de largura, nervação reticulada, nervura mediana desenvolvida, com 9-12 nervuras secundárias, recurvadas, de ambos os lados, salientes na face inferior, bordos inteiros, levemente ondulados. As estípulas interpecioladas, de forma triangular ou deltoide e extremidade acuminada, são unidas na base, de modo a rodear completamente o caule e livres na maior porção, estruturalmente muito se assemelham às folhas. As domácias na cultivar Típica apresentam-se localizadas no ângulo formado pelas nervuras secundárias com a nervura principal na face abaxial das folhas, as quais são pequenas saliências nos tecidos ou são obstruídas por um turfo de pelos que têm por finalidade abrigar determinados parasitas (DEDDECA, 1957; Figura 13). As folhas, em plantas adultas, normalmente, estão presentes somente nos ramos plagiotrópicos, no mesmo plano e em posições opostas. A cor das folhas jovens é um importante descritor para as cultivares do grupo Mundo Novo (ALVES, 2008). Figura 13. Ramo do cafeeiro Coffea arabica (A), destacando a domácia (x4; B) na folha junto às nervuras principal e secundária. C a p í t u l o I | 39 O lançamento de folhas é um processo contínuo durante todo ano, mas a sua taxa varia com as condições climáticas, sendo maior no período quente e chuvoso que no período seco e frio. A produção de folhas está intimamente associada ao crescimento dos caules, especialmente dos ramos laterais, tendo-se em vista que os primórdios foliares resultam diretamente da atividade da gema apical. O crescimento relevante, portanto, é aquele comprometido com a formação de nós, e não com a extensão dos entrenós, embora os dois processos estejam de algum modo relacionados (RENA; MAESTRI, 1987). Carelli et al. (2002) verificaram que a área foliar individual do café da cultivar Obatã IAC 1669-20 decresceu de 35,8; 53,7; 57,6 e 76,4 cm2 com a respectiva redução da radiação de 100, 70, 50 e 30%. Contudo, os tratamento com sombreamento intermédiário (50 e 70% de radiação) não diferiram estatisticamente entre si, mas o tamanho médio da folha do café variou de 42,1 a 80,9 cm3 (Figura 14). Esse aumento da folha é uma estratégia utilizada pelas plantas para maior captação de luz. Figura 14. Comparação entre folhas de cafeeiros, aos 38 meses após o plantio, sob 25% de irradiação (a) e a pleno sol (b), em Piracicaba, SP. Foto: Aureny Maria Pereira Lunz. O pecíolo, em cortes transversais praticados quase ao nível de inserção da folha sobre os ramos, exibe um contorno em forma de escudo, sendo provido na parte superior de duas asas ou aurículas que representam os primeiros estágios da expansão do limbo foliar. O C a p í t u l o I | 40 seu sistema vascular está representado por um grande feixe central, em forma de arco fechado e que irá constituir-se na nervura mediana da folha. Este grande feixe vascular central, faz-se acompanhar de dois feixes menores, na parte superior e ao nível das azas, e que igualmente exibem o xilema voltado para a epiderme superior e o floema dirigido para a epiderme inferior (DEDDECA, 1957). Anatomia da folha – A lâmina foliar possui uma ou mais camadas de células externas que constituem a epiderme, especializada na absorção de luz. A epiderme é revestida por uma camada de cutícula (formada por cutina, ceras e pectinas) que reduz a perda espontânea de água e protege contra danos mecânicos. Apresenta grande diversidade anatômica e morfológica e, por estar em contato direto com o ambiente, está sujeita a modificações estruturais, em decorrência de vários fatores ambientais, entre eles a luz. Contém diferentes tipos de células, tais como a dos estômatos, do parênquima paliçádico e lacunoso. A transpiração estomática é responsável por mais de 90% da água transpirada (CARVALHO et al., 2008). A folha do café é dorsiventral - parênquima paliçádico de um lado e lacunoso de outro. Os estômatos estão na epiderme abaxial (hipostomática) onde há, em média, 200 estômatos e 400 estômatos por mm2 em C. arabica e C. canephora, nessa ordem (VOLTAN, et al., 1992). A densidade estomática é definida como o número de estômatos por unidade de área de uma face foliar, sendo fortemente modificada por fatores ambientais. A forma e arranjo das células do paliçádico e os cloroplastos perpendiculares à epiderme maximizam o uso da luz. O mesófilo com mais espaço entre as células facilitam as trocas gasosas - maior eficiência fotossintética (MENEZES et al., 2012). Os fatores ambientais influenciam diretamente a anatomia foliar, sendo a condição hídrica um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento foliar (CASTRO et al., 2009) e a anatomia foliar se destaca nas relações com a produção vegetal (SILVA et al., 2005). A anatomia foliar do cafeeiro demonstra plasticidade para os fatores como as condições de radiação, alterando as espessuras do parênquima paliçádico e esponjoso, dimensões estomáticas, entre outras (NASCIMENTO et al., 2006; PINHEIRO et al., 2005; RAMIRO et al., 2004; Figura 15). C a p í t u l o I | 41 Figura 15. Estruturas internas das folhas do café desenvolvidas em pleno sol e em plena sombra. Foto: José Laércio Favarin; Paulo Mazzafera (2017). O parênquima, em sua morfologia, é relativamente simples, mas complexo em sua fisiologia, sendo atribuídas a ele funções como fotossíntese, respiração, trocas gasosas e armazenamento de substâncias como carboidratos, lipídios e proteínas, dentre outras funções (CASTRO et al., 2009). Floração – As flores do cafeeiro de Coffea arabica L. dispõem-se em glomérulos axilares, originados de gemas nos ramos laterais denominados pagiotrópicos, crescidas na estação anterior, em número variável de 4 a 5 glomérulos por axila, raramente em maior número (MOENS, 1968), envolvidas por um calículo formado por dois pares de bractéolas, respectivamente lanceoladas e triangulares (Figura 16). C a p í t u l o I | 42 Figura 16. Floração e frutificação da planta do café (C. arabica). Foto: Krug, C. A. (1950) e Desenho: Beatrice Häsler, Uster, Suíça. A) inflorescência, mostrando o calículo, as estipula interpeciolares e bractéolas foliáceos (x2); e B-C) flores, tamanho natural. C a p í t u l o I | 43 O processo de floração no cafeeiro abrange várias etapas como a indução, iniciação, diferenciação, crescimento e desenvolvimento, dormência e antese (BARROS et al., 1978; WORMER; GITUANJA, 1970). Cada uma dessas etapas é influenciada pelas condições ambientais e por fatores endógenos da planta. Dentre os fatores ambientais os mais importantes são a radiação, a temperatura e a disponibilidade de água e, dependendo da fase de desenvolvimento do cafeeiro, um desses fatores atua no controle do ciclo vegetativo ou reprodutivo da planta (BARROS et al., 1978; CAMAYO-VÉLEZ et al., 2003; MAJEROWICZ; SÖNDAHL, 2005; MOENS, 1968; RENA; MAESTRI, 1986; WORMER; GITUANJA, 1970). Em primeiro lugar, deve-se considerar a fase de indução ou iniciação floral que ocorre, possivelmente, entre fevereiro e março, na maioria das regiões. Antes dessa época, os tecidos que compõem as gemas não diferenciadas não possuem ainda a sensibilidade e não estão aptos ou maduros para perceber o estímulo da floração. Portanto, são incapazes de serem induzidos. Condições ideais são a não ocorrência de déficit hídrico severo, que os dias sejam quentes e as noites frescas (aqui é preciso lembrar que o zoneamento climático para a cultura do cafeeiro define a faixa de 180C a 230C, como ideal para a cultura). Essas condições estimulam a indução floral e os tecidos; assim, sensibilizados a “perceberem” o sinal, estão aptos à floração (ALVES, 2007). A passagem da gema à fase reprodutiva (indução)compreende uma sequência de eventos de natureza bioquímica e morfológica que começa com o estímulo indutivo. Em Coffea arabica um leve achatamento do meristema e sua elevação acima do nível original são os primeiros indícios visuais de transição floral (RENA; MAESTRI, 1985). Na sequência são lançadas pequenas gemas que vão crescendo e ficando visivelmente diferenciadas. Sua caracterização nas subfases é feita da seguinte maneira: G1 - refere-se aos nós com gemas indiferenciadas; G2 – nós com gemas intumescidas; G3 – gemas com até 3 mm de comprimento; G4 – gemas medindo 3,1 a 6 mm de comprimento; G5 – gemas de 6,1 a 10 mm (coloração verde claro); G6 – gema maior que 10 mm (coloração branca). Após o G6, normalmente ocorre à abertura das flores nas primeiras horas da manhã, começam a murchar no segundo dia e caem no terceiro (Figura 17). C a p í t u l o I | 44 Figura 17. Desenvolvimento da gema floral (G) e a floração (FL) do cafeeiro, sendo a fase G subdividida tendo como variável o tamanho das gemas (G1 a G6). Fotos: Heverly Morais (2006). Em seguida à indução e à diferenciação floral, os primórdios florais se desenvolvem continuamente por um período de dois meses, até atingirem um tamanho máximo de 4 a 6 mm e entrarem em dormência (fase gema dormente), nos dois meses finais, de julho a agosto. Nessa etapa, as gemas são reconhecidas pela coloração amarelo-pálida e contêm alto conteúdo de ácido abcíssico (ABA). Existem evidências de que, nessa fase, o volume do xilema seja bastante reduzido e de que somente o floema faça a conexão vascular do pedicelo, ligando o ramo ao botão floral. Essa vascularização imperfeita do pedúnculo levou alguns autores a concluírem que a dormência, mesmo com suprimento razoável de umidade no solo, seria causada por um déficit interno de água nos botões florais. Em termos de ambiente, o período de dormência parece estar associado a um período de déficit hídrico e baixa temperatura (ALVES, 2007). É importante destacar que o tecido induzido somente conseguirá se diferenciar ou mesmo desenvolver as pecas florais (microscópicas) caso haja umidade no solo. Vale lembrar que o cafeeiro suporta déficits hídricos de até 150 mm sem maiores prejuízos ao C a p í t u l o I | 45 desenvolvimento vegetativo das plantas e sem consequências significativas para a safra projetada para o ano seguinte. Diversos estudos sugerem que o cultivo do cafeeiro ocorra sob condições intermediárias de sombreamento, de modo que a produção seja homogênea ao longo de vários anos (BAGGIO et al., 1997; MATIELLO; ALMEIDA, 1991). O conhecimento do efeito de diferentes níveis de radiação sobre o desenvolvimento floral do cafeeiro possibilitaria definir os níveis de sombreamento ou a densidade de plantio para maximizar o desenvolvimento, a produção e a sustentabilidade do cafeeiro. Isso porque a frutificação depende de uma floração adequada, e o conhecimento do processo de indução e desenvolvimento de estruturas reprodutivas é fundamental para a obtenção de alta produtividade. Flores – Grandes, em glomérulos axilares, 1 a 4 flores por glomérulo (est. 4-A) e 1 a 7 glomérulos por axila, protegidos por calículos que podem encerrar apenas 1 glomérulo ou 1 principal e 2 secundários; calículo constituído por 2 a 3 pares de bractéolas e 2 a 3 pares de estipulas interpeciolares, deltoides, pouco acuminadas, com ponta de comprimento variável; o primeiro par de bractéolas muito reduzido; o par médio, de natureza foliar e muito variável em tamanho, e o mais interno, rudimentar ou mesmo ausente em alguns casos; pedicelo curto, ovário ínfero constituído de dois carpelos unidos (pistilo) e se assentem sobre um disco carnoso nectarífero; cálice rudimentar, formado por 5 insignificantes dentículos; nectário discoide, grande; corola branca, hipocraterimorfa, de perfume agradável, constituída por 5 pétalas unidas na base, formando um tubo; lobos da corola lineares, acuminados, estendidos; estames, em número de cinco, epipétalos; com filetes curtos, fixos no tubo da corola juntos aos pontos de separação dos seus lobos ou em posição alternada às pétalas; inserção do filete no terço inferior da antera; estilo com 2 lobos estigmáticos, por onde entram os grãos de pólen, com papilas estigmáticas internas (KRUG, 1950; Figura 18). C a p í t u l o I | 46 Figura 18. A-B) Flor de café com a corola branca, constituídas por cinco pétalas unidas entre si até quase a parte mediana formando um tubo e o estilo se bifurca em dois lobos estigmáticos. Os lobos da corola são em número de 5 e têm os 5 estames aderidos à sua base; e C) Estame, ligado ao ovário, é formado pelo filete e a antera. Fotos: José Laércio Favarin e Paulo Mazzafera (2017). C a p í t u l o I | 47 O ovário é normalmente bilocular, cada lóculo encerrando um óvulo anátropo, de funículo curto e inserido em placentas centrais. A epiderme externa do ovário é representada por uma camada de células estreitas e a ela se segue uma extensa região parenquimatosa (futuro mesocarpo do fruto), onde se dispões 2-3 series concêntricas de feixes vasculares. Grande número de células parenquimatosas exibe um conteúdo escuro, provavelmente representado por material tanoide (DEDDECA, 1957). Fruto – O fruto de Coffea arabica L. variedade Typica Cramer é uma drupa globosa ou ovoide, curto-pedicelada, seu maior eixo medindo cerca de 14 mm, inicialmente de cor verde e depois avermelhada na maturidade, algumas vezes dividida por um sulco longitudinal em duas partes quase iguais, apresentando superiormente uma cicatriz circular correspondente à inserção do cálice e do disco (Figura 19). Encerra normalmente duas sementes, uma por lóculo, ou excepcionalmente 3 ou mais, seja devido à ocorrência de ovários triloculares ou pluriloculares, ou não, no caso de ovários biloculares que apresentam mais de um óvulo por loja (falsa poliembrionia). Outras vezes se desenvolve apenas uma única semente, arredondada, devido ao aborto de um dos óvulos do ovário. Se ocorrer abortamento de um lóculo há formação de semente arredondada, denominada moca (DEDDECA, 1957). Figura 19. Anatomia do fruto do café. C a p í t u l o I | 48 Fruto de café tem o pericarpo bem desenvolvido e a semente. O pericarpo é a parede do fruto, a qual possui três camadas: exocarpo (casca), mesocarpo e endocarpo (pergaminho; Figura 20). O exocarpo ou epicarpo é representado por uma única camada de células, correspondentes à epiderme externa do ovário; estas células são estreitas e muito juntas entre si, de paredes delgadas, e entre elas podem ser encontrados estomas. O mesocarpo, também chamado de mucilagem, é uma substância gelatinosa e adocicada existente entre o exocarpo e o endocarpo. É uma região extensa formada de mais de 20 camadas de células parenquimatosas, grandes, frequentemente encerrando um conteúdo de cor escura, que é considerado um material tanoide, como o demonstrou Franco (1939). Além dessa inclusão, a maioria das células encerra açúcares, gomas e mucilagens diversas, que são responsáveis pela consistência suculenta do fruto do cafeeiro no estado de cereja. Por entre as células deste parênquima distribuem-se diversos feixes vasculares, dispostas em 2-3 séries concêntricas, tal como ocorre no ovário. Estes feixes encerram uma predominância de fibras e parênquimas lenhosos de paredes celulares ainda pouco espessas. Figura 20. Fruto do café possui três camadas: exocarpo (Exocarp), mesocarpo (Mesocarp) e endocarpo (Endorcap), sendo que este último envolve a película prateada (Silver skin) e o endosperma (Endosperm) e C-D) frutos e sementes com e sem pergaminho, de tamanho natural. Fotos: Yuliana Duque Garcés e Krug, C. A. (1950). C a p í t u l o I | 49 Endocarpo, também chamado de “pergaminho”, apesar de ser uma parte do fruto, acompanha
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