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penal 20 10

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- Aplicação de lei penal no espaço:
 Já perguntamos se lei penal portuguesa tem ou não competência para regular aquele crime ou aplicar aquela pena.
 Contrariamente ao que sucedia há uns seculos atras, hoje em dia aplicamos o princípio da territorialidade, nos termos do art.º 4, a), se um francês disparar sobre um espanhol em Portugal, o estado português é competente para julgar esse crime à luz deste princípio – alínea a). 
 Durante muito tempo, o território não era um elemento do estado como hoje é. No entanto, quando as fronteiras não estavam suficientemente definidas e não se sabia quais os limites do estado aplicava-se a lei penal em função da nacionalidade, a partir do momento em que o estado passou a ter como componente o território, passou a ser uma manifestação de soberania exercer o poder punitivo relativamente aos crimes cometidos nesse território.
 Temos extensões ao princípio da territorialidade:
- A alínea b) do art.º 4 diz-nos que a lei penal portuguesa é aplicável a factos praticados a bordo de navios ou aeronaves portuguesas. Significa que vai ser considerado território português não apenas Portugal continental e ilhas, é aplicável a bordo de navios ou aeronaves portuguesas. 
 Isto significa que, imaginemos, temos um navio ou um avião que está atracado no porto em Espanha, mesmo estando em águas espanholas, se a bordo desse navio português for cometido um crime, por força desta alínea, a lei penal portuguesa é aplicável. Tanto dá que seja aviões ou navios civis ou militares. O que interessa é que o pavilhão (bandeira) do navio/avião seja português.
- Na sequência dos atentados às torres gémeas, em 2001, estava em causa um crime internacional, em que os diferentes estados tomaram medidas de repressão de atos ilícitos praticados a bordo de aeronaves civis e comerciais. Em 2003 ao critério do pavilhão somaram-se mais duas extensões a este principio que – Decreto-lei 254/2003 – e uma dessas situações é a de, se uma aeronave fizer escala em Portugal e se no trajeto entre o local onde levantou voo e Portugal tiver cometido algum crime, o comandante pode chegar ca e entregar o cidadão para ele ser julgado – art.º 3 DL. 
- Em 2001 introduziu-se também outra extensão, decorrente do art.º 3 DL, que não diz respeito ao pavilhão da aeronave, mas a uma aeronave alugada com ou sem tripulação, em que a operadora de aviação tem sede em Portugal.
 Quer o art.º 4 CP quer o art.º 3 do DL começam com a expressão “salvo tratado ou convenção internacional em contrário” isto significa que tudo isto em termos práticos não é necessariamente assim porque pode acontecer que PT celebre com Espanha, Marrocos ou outro país qualquer um acordo referente à aplicação da jurisdição penal e então estas regras são afastadas. Pode acontecer não de acordo bilateral, mas multilateral, ou seja, que implique mais que uma parte e temos a regra de que as regras do CP não são imperativas pois podem ser revogadas por convenções ou acordos internacionais. 
 O principal é o respeito do princípio da territorialidade, mas verificamos que há uma ampla fatia de crimes que não são cometidos em PT e que podem vir a ser julgados em PT – art.º 5.
 Estas normas podem ser afastadas, pelo princípio segundo o qual nenhum crime deve ficar por punir. Pode acontecer que não aconteça crime num estado e esse estado não tenha competência para o julgar e paralelamente outro estado envolvido também não o julga e nesse sentido tenta-se consagrar critérios que possam levar a um conflito positivo de competências, ou seja, mais que um estado se declarar competente para julgar. 
 Neste caso aplica-se o art.º 7, aqui o crime considera-se praticado quer no local onde o agente atuou total ou parcialmente, quer onde o resultado se produziu. Imaginemos que em vez do art.º 7 redigido da forma oficial, tínhamos um hipotético artigo que dizia que Portugal é competente para julgar os crimes cometidos em solo português e a lei espanhola tinha um artigo idêntico em que Espanha era competente para julgar um quando o resultado se tiver produzido em Espanha. Na fronteira do lado de Espanha o senhor A dá um tiro mortal em B que está dentro do carro e ainda consegue acelerar morrendo em solo português. A atua em Espanha, mas à luz da lei penal espanhola hipotética só se aplica aos crimes cujo o resultado se tenha produzido em Espanha. Por sua vez o resultado morte já se dá em Portugal e de acordo com o artigo hipotético, a lei penal portuguesa não pode ser aplicada a este crime porque esta só se aplica se o ato tiver sido produzido em Portugal. Neste caso haveria um problema pois nenhum dos países teria competência para julgar o caso, daí existir o art.º 7 da forma como está redigido.
 Da forma como o art.º 7 está redigido, imaginemos que B sofre um primeiro tiro em Espanha, mas acaba por morrer Espanha, aqui, Portugal já se torna competente para julgar, da mesma forma seria se o resultado se produzisse em Espanha e o crime em Portugal, este também teria capacidade para julgar. 
 O objetivo desta norma é evitar lacunas de punibilidade evitando que haja um conflito negativo de competência, ou seja, que um ou mais estados envolvidos não queiram julgar. 
 Outro exemplo, imaginemos que o Alberto está em londres com um computador à frente e tem um inimigo em Portugal e a partir de londres acede a uma central informática e desliga a máquina do hospital ligada ao seu inimigo, o agente atua totalmente em londres, mas o resultado é em Portugal tendo este a capacidade para julgar. Considerando uma situação mais abrangente. No caso de londres ter um artigo semelhante ao art.º 7 português, aplica-se o art.º 5 quando diz salvo convenção ou tratado internacional.
 Imaginem que duas pessoas decidem cometer um crime em co-autoria, se uma delas estiver em PT e outra estiver em frança, basta isso para a lei penal ser aplicada aos dois – art.º 7 “sob qualquer forma de participação”.

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