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Montes Claros/MG - 2012
Clebson Luiz de Brito
Letícia de Souza Peixe
Língua Portuguesa
Semiótica
ISBN 978-85-7739-341-1
© - EDITORA UNIMONTES - 2012
Universidade Estadual de Montes Claros
CATALOGADO PELA DIRETORIA DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES (DDI) - UNIMONTES
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 - Telefone: (38) 3229-8214
www.unimontes.br / editora@unimontes.br 
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Maria Cristina Ruas de Abreu Maia
Maria Lêda Clementino Marques
Ubiratan da Silva Meireles
REVISÃO TÉCNICA
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Cláudia de Jesus Maia
Josiane Santos Brant Rocha
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Profª Maria Geralda Almeida. UFG
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Orlanda Miranda Santos
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês
Hejaine de Oliveira Fonseca
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português
Ana Cristina Santos Peixoto
Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia
Maria Narduce da Silva
Autores
Clebson Luiz de Brito
É graduado em Letras / Licenciatura em Língua Portuguesa e mestre em 
Linguística do Texto e do Discurso pela UFMG. Tem experiência no ensino de 
Língua Portuguesa e tem conhecimento de Semiótica francesa, que utilizou em 
sua dissertação de mestrado e em textos publicados em revistas acadêmicas, 
e em Análise do Discurso de linha francesa. Atualmente é doutorando em 
Linguística do Texto e do Discurso pela UFMG.
Letícia de Souza Peixe 
Mestre em Linguística do Texto e do Discurso, pela Universidade Federal de 
Minas Gerais, tendo atuado principalmente nas áreas de Semiótica Greimasiana 
e Análise do Discurso de linha francesa. É professora do ensino fundamental e 
médio de Belo Horizonte/MG.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1
Primeiras noções e nível fundamental 
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 O lugar da semiótica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.3 O percurso gerativo de sentido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
1.4 Noções gerais e implicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13
1.5 Nível fundamental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
Unidade 2
Nível narrativo
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21
2.2 Conversão das estruturas fundamentais em estruturas narrativas. . . . . . . . . . . . . . . . .21
2.3 Sintaxe narrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.4 Semântica narrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
Unidade 3
Nível discursivo, a realização do sentido
3.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.2 Sintaxe discursiva: as projeções da enunciação no enunciado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33
3.3 Sintaxe discursiva: o trato da argumentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.4 Semântica discursiva: os temas, as figuras e as isotopias . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . 44
3.5 Para além do percurso gerativo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59
Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .63
9
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
Apresentação 
Prezado acadêmico, nesta disciplina você 
terá contato com a Semiótica, uma teoria ex-
tremamente produtiva no que diz respeito à 
abordagem do texto e à análise do discurso 
que este contém. Como você notará, trata-se 
de estudar não aspectos da língua, mas do sen-
tido produzido textualmente. Com efeito, você 
verá que a produção dos textos/discursos obe-
dece a determinadas regras e envolve determi-
nados mecanismos geradores do sentido. Esse 
sentido, por isso, pode ser apreendido pelo 
estudo desses mecanismos que o constituem.
Há uma crença comum segundo a qual 
entender um texto, interpretá-lo requer sen-
sibilidade ou perseverança – seria preciso lê-
-lo várias vezes. Embora essa ideia não seja 
de todo equivocada, é preciso considerar ou-
tros elementos envolvidos nesse processo, e 
você, nesta disciplina, é convidado a fazer jus-
tamente isso. Você verá que, para se chegar 
ao(s) sentido(s) de um texto, para se atingir o 
seu discurso, é preciso lançar mão de estra-
tégias mais ou menos objetivas. Na disciplina 
de Semiótica, você terá a oportunidade de co-
nhecer justamente categorias de análise que 
tornam possível, por assim dizer, um roteiro 
de abordagem do texto e de apreensão do(s) 
sentido(s), o que certamente potencializa o 
processo interpretativo. Essas categorias, in-
clusive, não se restringem aos textos verbais, 
mas permitem também o estudo e a inter-
pretação de textos ditos não verbais (visuais, 
sonoros, gustativos etc.) e sincréticos, ou seja, 
textos que utilizam mais de uma linguagem 
na produção do seu sentido. E você já notou 
como essa habilidade é cada vez mais exigida 
na vida contemporânea? Os textos que circulam 
na sociedade atualmente, não raro, exploram 
diferentes linguagens na produção do senti-
do ou apelam à linguagem visual, fazendo jus à 
máxima de que “uma imagem vale mais que mil 
palavras”. Conhecer e utilizar as categorias pro-
postas pela Semiótica, portanto, pode ser útil 
no desenvolvimento de habilidades de leitura 
e interpretação de diferentes gêneros textuais 
com os quais se confronta atualmente.
A Semiótica não é uma teoria fácil, sobre-
tudo porque, para entender as partes dela, 
é preciso entender o seu todo, a sua propos-
ta geral; ao mesmo tempo, esse todo ou essa 
proposta geral apenas se torna evidente quan-
do se tem acesso às partes de forma orientada 
e paciente. Não se desanime com as dificulda-
des iniciais! Tenha paciência, que aos poucos 
as coisas vão se encaixando. É assim que as 
coisas acontecem mesmo! 
Nas unidades deste caderno, você estu-
dará as diferentes categorias de análise dessa 
teoria, de modo que possa conhecê-la satis-
fatoriamente e aplicá-la na interpretação de 
diferentes textos, elegendo, como analista, as 
mais apropriadas para cada análise específi-
ca. Para chegar a esse ponto, porém, é preciso 
que você tenha sempre em mente o todo pro-
posto pela teoria, que é o percurso gerativo de 
sentido, noção fundamental na Semiótica.
Para adiantar-lhe essa proposta geral, 
nesta disciplina você verá que o sentido parte 
de uma forma mais simples e abstrata e vai se 
enriquecendo até atingir o grau de complexi-
dade e concretude com o qual o leitor se con-
fronta quando está diante de uma produção 
textual efetiva. Veja, a ideia é de um percurso 
mesmo, uma trajetória, um caminho que o 
sentido perfaz até encontrar-se em estado, por 
assim dizer, comunicável.
Para cada nível desse processo de com-
plexificação ou enriquecimento ou para cada 
nível/patamar do percurso gerativo do sen-
tido, a Semiótica propõe categorias que per-
mitem apreender o sentido tal como ele se 
apresenta ali. São essas diferentes ferramentas 
que permitem o exame de diferentes níveis de 
apresentação do sentido que você, prezado 
acadêmico, conhecerá nesta disciplina. 
Inicialmente você terá algumas informa-
ções gerais sobre o lugar da teoria Semiótica 
em relação a outras teorias. Além disso, terá 
acesso a uma visão geral do percurso gerativo 
de sentido para poder relacioná-lo às partes 
que você estudará à frente em maiores deta-
lhes. Com isso, poderá compreender como 
cada nível e suas categorias se articulam nessa 
proposta geral de descrever a geração do sen-
tido. Nesse momento inicial, você conhecerá 
ainda algumas noções chaves para a compre-
ensão da teoria, como o que é texto, discurso, 
textualização, linguagem etc. 
Nas demais seções você poderá conhe-
cer mais detalhadamente cada patamar do 
percurso gerativo de sentido: os níveis fun-
damental, narrativo e discursivo, observan-
do as diferentes categorias e sua aplicação 
a diferentes textos. Por fim, você conhecerá 
as possibilidades de aplicação da Semiótica 
a diferentes objetos, alguns desdobramentos 
recentes dessa teoria e sua relação com outras 
disciplinas e áreas.
10
UAB/Unimontes - 8º Período
Dito isso, espera-se que, ao final, você conheça os conceitos fundamentais e categorias de 
análise da Semiótica, consiga aplicar essas categorias na análise de textos verbais, não verbais e 
sincréticos, dominando os mecanismos que constroem textualmente o (s) sentido (s). Mais que 
isso, deseja-se que o seu percurso nesta disciplina, prezado acadêmico, seja produtivo e que o 
conhecimento de Semiótica seja significativamente proveitoso na sua formação. 
Os autores
11
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
UNIDADE 1
Primeiras noções e nível 
fundamental 
Clebson Luiz de Brito
1.1 Introdução
Prezado acadêmico, começa aqui, efetivamente, a sua caminhada pelo terreno da Semiótica. 
Você terá nesta unidade acesso a uma visão geral da teoria, indispensável para a compreensão 
das partes que a compõem, partes essas abordadas no transcorrer do curso. 
Essa visão geral, como já lhe foi adiantado na apresentação deste material, relaciona-se à 
compreensão do chamado percurso gerativo, simulacro teórico-metodológico da teoria para 
descrever a geração do sentido. Compreender essa proposta geral leva a uma melhor compre-
ensão dos diferentes níveis do percurso gerativo, pois, em cada nível, o sentido se apresenta sob 
uma forma, uma configuração suscetível de ser descrita pelas categorias propostas pela teoria 
para aquele nível. 
Uma vez conhecida a visão geral da teoria, você começará a conhecer de perto os diferentes 
trechos do percurso gerativo. Você começará conhecendo e examinado o nível fundamental: pa-
tamar que apresenta o sentido sob sua forma mais elementar e abstrata. 
Antes de mais nada, porém, você precisa saber de que teoria semiótica este caderno trata e 
em que ela se diferencia de outras. Por isso, inicialmente você terá acesso a informações que aju-
darão a contextualizar a teoria, seus conceitos fundamentais e suas propostas.
1.2 O lugar da semiótica
O termo “semiótica” (do grego semeioti-
ké) relaciona-se de modo geral a signo, signi-
ficação, sentido. Por essa razão, várias teorias 
e abordagens que se interessam por esses ele-
mentos são chamadas – ou pelo menos são 
passíveis de sê-lo – de semiótica. É preciso em 
geral acrescentara esse termo, como você vê, 
um adjetivo que possa particularizar a teoria 
em jogo. Qual adjetivo/ quais adjetivos que 
cabe/cabem à Semiótica que você vai conhe-
cer nesta disciplina?
Fiorin (1995), talvez o maior semioticista 
brasileiro, fala de pelo menos três grandes te-
orias Semióticas. Veja os adjetivos que ele usa: 
1) a americana, que se constitui em torno da 
obra de Charles Sanders Peirce; 2) a russa, que 
se desenvolve a partir da obra de Iuri Lotman; 
e 3) a francesa, que se constrói a partir da obra 
do lituano, radicado na França, Algirdas Julien 
Greimas. A que você, prezado acadêmico, es-
tudará nesta disciplina é esta última, também 
conhecida, em razão do seu fundador, como 
Semiótica Greimasiana e mais recentemente 
como Semiótica Discursiva (doravante, nesta 
disciplina apenas Semiótica).
Trata-se de uma teoria que dialoga com 
a Filosofia – sobretudo a Fenomenologia, de 
Husserl e Merleau-Ponty – e a Antropologia 
Cultural – Lévi-Strauss e Marcel Mauss, entre 
outros. Ela, porém, é antes de tudo linguís-
tica, herdeira do estruturalismo de Saussure 
e do linguista dinamarquês Hjelmslev, conti-
nuador das ideias do mestre genebrino (BER-
TRAND, 2003). 
A Semiótica, prezado acadêmico, privi-
legia o texto, sobretudo, como um objeto de 
significação, passível de uma análise imanen-
te, que, tomando-o como uma máscara, bus-
ca explicitar as leis que regem os discursos 
(BARROS, 2001) ou ainda “os procedimentos 
de composição discursiva, que se manifestam 
textualmente” (FIORIN, 2008, p. 125). O obje-
tivo da Semiótica discursiva, como você pode 
ver, é não apenas examinar o sentido dos tex-
tos/discursos, mas principalmente explicitar 
seus mecanismos de constituição do sentido.
12
UAB/Unimontes - 8º Período
Por essa razão, no âmbito geral dos estudos do discurso, a Semiótica difere das teorias que 
tomam o texto primordialmente como objeto histórico e que se preocupam, sobretudo, com a 
formação ideológica de que o texto é expressão, com as relações polêmicas que, numa socieda-
de dividida em classes, estão na base da constituição das diferentes formações discursivas. Vale 
lembrar-lhe, porém, que a Semiótica não ignora essa dimensão do texto. Com efeito, ela procura 
apenas contemplá-lo, primordialmente, como um todo de sentido dotado de uma organização 
específica, privilegiando, em seu escopo, o exame dos procedimentos e mecanismos que o estru-
turam, que o tecem como uma totalidade de sentido (FIORIN, 1995). 
1.3 O percurso gerativo de sentido
A Semiótica postula, na abordagem do 
sentido que se constitui textualmente, um 
processo de enriquecimento do sentido. O 
que isso quer dizer? Retenha de momento que 
a ideia é a de que o sentido se apresenta ini-
cialmente sob uma forma mais simples e abs-
trata e vai passando progressivamente a uma 
mais complexa e concreta à medida que se 
aproxima da superfície textual. Esse processo 
de enriquecimento do sentido, noção funda-
mental na teoria, é chamado de percurso ge-
rativo, suscetível de uma descrição em diferen-
tes níveis de abstração (FIORIN, 2006, p. 20). 
Você estudará em detalhes cada patamar do 
percurso gerativo ao longo da disciplina. De ime-
diato, observe como é o seu funcionamento geral.
O percurso da geração do sentido com-
preende um nível elementar, em que o senti-
do se apresenta sob uma forma extremamen-
te simples e abstrata. Essa forma é apreendida 
como uma oposição semântica, por exemplo: 
/vida/ versus /morte/, /natureza/ versus /civi-
lização/, /liberdade/ versus /opressão/ etc. Os 
termos da oposição, por sua vez, são inseridos 
em um quadro de valores, de maneira que, 
grosso modo, um seja, em dado texto, consi-
derado positivo e o outro, negativo. 
Tome como exemplo o discurso ecológi-
co. Como ele se constrói em geral? Se você ob-
servar, é a partir da oposição /natureza/ versus 
/civilização/ e, ao mesmo tempo, pela adoção 
de /natureza/ como termo positivo em relação 
à /civilização/, termo tomado como negativo. 
Um discurso desenvolvimentista, por outro 
lado, pode usar a mesma oposição semântica, 
diferenciando-se do ecológico por considerar 
como positivo o termo /civilização/ e negativo 
o termo /natureza/.
A forma elementar do sentido compreen-
de algumas operações elementares que per-
mitem dar conta da sucessividade do texto, 
podendo tudo ser representado de forma ló-
gica e abstrata no chamado quadrado semióti-
co. São operações simples, lógicas e abstratas, 
que você conhecerá à frente.
Outro nível do percurso gerativo de sentido 
é o narrativo, patamar mais bem desenvolvido 
na teoria. Não pense que esse nível é exclusivi-
dade de textos narrativos! Em Semiótica, todos 
os textos apresentam narratividade, entendida 
como uma sucessão de diferentes estados. 
Veja que um texto dissertativo-argumen-
tativo, por exemplo, apresenta um nível nar-
rativo, uma vez que progride de um estado 
de tese não fundamentada (corresponde à 
explicitação da tese) a um estado de tese fun-
damentada, após a apresentação dos argu-
mentos que a sustentam. Não é dessa transfor-
mação de estados que depende o sucesso do 
texto dissertativo-argumentativo? Sem validar 
a tese, pode-se atingir minimamente o obje-
tivo de sustentar uma perspectiva num dado 
debate? Evidentemente que não.
No nível narrativo, o sentido se constitui, 
dessa forma, a partir de uma organização nar-
rativa abstrata que simula as transformações 
promovidas e/ou sofridas pelo homem, além 
de explicar por que tais transformações ocor-
rem e quais os seus desdobramentos.
O percurso gerativo do sentido apresenta 
ainda o nível discursivo do percurso gerativo 
de sentido. Trata-se, resumidamente, da apro-
priação das estruturas abstratas dos níveis an-
teriores pelo sujeito da enunciação, que, não 
necessariamente consciente, as converte em 
algo comunicável, por assim dizer. 
Observe que, com a oposição fundamen-
tal /vida/ versus /morte/ e a organização narra-
tiva: <<sujeito A leva sujeito B à disjunção com 
o objeto de valor vida>>, por exemplo, um 
enunciador jornalista pode noticiar um assas-
sinato ou um suicídio (neste caso, se A e B es-
tiverem sincretizados em um mesmo ator dis-
cursivo). É possível dizer mais. Como o sujeito 
A fez o que fez com B, infere-se que ele tinha 
um /poder/ e um /saber/ fazer isso, elementos 
abstratos do nível narrativo. Isso pode, no ní-
vel discursivo, ganhar a forma de uma arma de 
fogo, no caso do assassinato, ou de uma corda, 
no caso de suicídio por enforcamento. O nível 
13
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
discursivo, como você pode notar, é aquele 
em que se preenchem, quando da enunciação, 
estruturas narrativas abstratas e regulares com 
elementos mais concretos que constroem o 
discurso propriamente dito. 
Isso não é tudo. Como o discurso (enun-
ciado) é o produto de uma enunciação, você 
deve levar em consideração que esta dei-
xa marcas no enunciado que geram efeitos 
de sentido. A instância da enunciação pode 
projetar, no discurso, a terceira pessoa (ele), 
criando um efeito de sentido de objetividade, 
uma das características do discurso jornalísti-
co, por exemplo; ou a primeira pessoa (eu), o 
que gera efeito de sentido de subjetividade. 
Ele pode, ainda, disseminar figuras pela cadeia 
discursiva, isto é, termos capazes de criar um 
simulacro do mundo natural, como é o caso 
do gênero romance, gerando efeito de sentido 
de realidade (ou de irrealidade, se for o caso); ou 
se limitar a produzir o discurso com temas, se o 
objetivo é discutir, explicar de forma abstrata o 
mundo, como é o caso dos discursos filosóficos. 
Há até mesmo uma série de outras esco-
lhas que, assim como as anteriores, são por-
tadoras de sentido; por isso, como você pode 
ver, longe de aleatórias (pelo menos para al-
guém proficiente em relação ao discurso), são 
operaçõesdestinadas, em última instância, a 
levar o enunciatário a aceitar como verdadeiro 
o discurso produzido. Você examinará ao lon-
go do curso essas possibilidades.
1.4 Noções gerais e implicações
A Semiótica, prezado acadêmico, toma o 
discurso como a parte mais superficial e con-
creta do plano de conteúdo, resultado, como 
você viu, da enunciação. O plano do conteúdo, 
por sua vez, constitui o texto quando se liga a 
um dado plano de expressão, seja ele verbal, 
não verbal (sonoro, gustativo, visual etc.) ou 
sincrético, como é o caso do cinema, das histó-
rias em quadrinhos, entre outros. A textualiza-
ção, como você pode ver, é a junção do plano 
de expressão com o plano de conteúdo.
Para entender os conceitos de plano de 
expressão e plano de conteúdo, você pode 
relacioná-los às noções de significante e signi-
ficado de Saussure, que você já deve ter estu-
dado. Isso porque aqueles se originaram des-
tes. Juntos o significante e o significado não 
formam o signo linguístico? O texto pode ser 
entendido, da mesma forma, como um signo 
complexo formado por um plano de expres-
são e um plano de conteúdo. Este é o plano 
do sentido e aquele é a(s) linguagem(ns) que 
permite(m) a veiculação de tal sentido.
A Semiótica busca primeiramente anali-
sar o plano de conteúdo dos textos a partir do 
percurso gerativo de sentido; procura, num 
segundo momento, analisar também o plano 
de expressão dos textos, quando essa análise 
é pertinente e produtiva. Quando isso ocorre? 
Quando o texto apresenta uma função estéti-
ca (o poema, o ballet, a pintura etc.), ou seja, 
quando o plano de expressão não apenas vei-
cula o plano do conteúdo, mas lhe agrega sen-
tido (BARROS, 2003). 
Como você já deve ter notado, a Semió-
tica apresenta-se como um arcabouço teórico 
que busca explicitar a maneira como o senti-
do de um dado discurso se organiza indepen-
dentemente do plano de expressão a que ele 
se ligue e do texto em que ele se manifeste. 
Quais são as implicações disso? Como você 
já viu na apresentação deste caderno, ape-
sar de sua ligação com a Linguística, a apli-
cação da Semiótica não se restringe ao texto 
verbal, abarcando qualquer produção textu-
al/discursiva. 
Essas considerações sobre os planos de 
conteúdo e de expressão permitem que você 
apreenda alguns conceitos básicos que foram 
empregados até aqui. Eles são importantes e, 
por isso, você os verá repetidas vezes ao longo 
deste trabalho. Não se preocupe se a princípio 
parecerem de difícil assimilação: a repetição 
é a mãe da retenção, já diz o ditado. Retenha 
inicialmente que, em Semiótica, “texto” é uma 
unidade que se dirige para a manifestação, 
distinguindo-se, portanto, do “discurso”; este, 
por sua vez, faz parte do plano de conteúdo, 
que se junta a um dado plano de expressão, 
constituindo o texto, no processo chamado de 
textualização (FIORIN, 2007a, p. 79). 
Outra informação importante: conhecen-
do as categorias disponibilizadas pela teoria, 
você não precisa trabalhar com todas; é preci-
so eleger aquelas que sejam mais apropriadas 
para cada análise específica. Como se adquire 
essa proficiência em relação à escolha das ca-
tegorias pertinentes em cada caso? Deriva da 
própria prática analítica, que pode permitir 
uma potencialização da leitura, da interpre-
tação e mesmo da produção textual, já que 
revela que, no discurso, nada é gratuito e que 
suas operações pelo enunciador são sempre 
geradoras de sentido.
GLOSSáRIO
Enunciação: o ato de 
produção do enun-
ciado. Em semiótica, 
esse processo implica a 
conversão das estru-
turas abstratas dos 
níveis fundamental e 
narrativo em estruturas 
discursivas.
Sincrético: tem a 
ver com sincretismo, 
que é uma junção de 
elementos distintos. Em 
semiótica, sua aplica-
ção ao texto designa a 
existência de mais de 
um plano de expressão 
veiculando o sentido.
14
UAB/Unimontes - 8º Período
 Dito isso, é hora de você, prezado acadêmico, conhecer de perto os diferentes níveis do 
chamado percurso gerativo de sentido e o seu funcionamento. Lembre-se de que, em cada um 
desses níveis, há um componente sintáxico e um componente semântico: respectivamente, um 
conjunto de mecanismos que ordenam os conteúdos e os conteúdos que se investem nos arran-
jos sintáxicos (FIORIN, 2006). Há, portanto, sintaxe e semântica fundamentais, narrativas e discur-
sivas. Nesta unidade, você passa agora ao estudo do nível fundamental, o mais abstrato e sim-
ples do percurso gerativo.
1.5 Nível fundamental
A Semiótica postula a existência de uma forma elementar e abstrata como o ponto de par-
tida na geração do sentido e como base do discurso. Essa configuração do sentido é examinada 
no chamado nível fundamental, que você passa agora a conhecer. 
No componente semântico desse primeiro patamar, você vai observar que, subjacentes a 
todo discurso, há determinadas estruturas elementares da significação (FIORIN, 2006). Já no 
componente sintáxico, vai conhecer as operações abstratas que permitem apreender o discurso 
na sua sucessividade.
1.5.1 Semântica fundamental: o sentido nas oposições 
No nível fundamental, a forma elementar do sentido se apresenta como uma oposição se-
mântica: um discurso fala de /vida/ versus /morte/, /liberdade/ versus /opressão/, /identidade/ 
versus /alteridade/, /totalidade/ versus /parcialidade/ e assim por diante. Para examinar um texto 
por esse primeiro nível do percurso gerativo, você deve, portanto, realizar um processo de abs-
tração que permita identificar uma forma elementar do seu sentido geral.
A título de exemplo, observe algumas palavras do célebre discurso sobre “A origem da desi-
gualdade entre os homens”, de Rousseau:
A extrema desigualdade na maneira de viver, o excesso de ociosidade de al-
guns, o excesso de trabalho de outros, [...] os alimentos muito requintados dos 
ricos [...], a má alimentação do pobre [...], aí estão os funestos fiadores de que 
a maior parte dos nossos males são nossa própria obra e de que poderíamos 
evitá-los quase todos, conservando a maneira de viver simples, uniforme e soli-
tária que nos foi prescrita pela natureza.
[...] Cremos que se faria com facilidade a história das doenças humanas seguin-
do a história das sociedades civis.[...] Com tão poucas fontes de males, o ho-
mem no estado natural não tem, pois, necessidade de remédios, menos ainda 
de médicos.
O primeiro que, cercando um terreno, se lembrou de dizer: “isto é meu” e en-
controu pessoas bastante simples para acreditar, foi o verdadeiro fundador da 
sociedade civil. Quantos crimes, guerras, assassinatos, misérias e horrores não 
teriam sido poupados ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas 
ou tapando o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: não escutem esse im-
postor! Vocês estarão perdidos se esquecerem que os frutos são de todos e a 
que a terra não é de ninguém (ROUSSEAU, s.d, p. 35).
O discurso de Rousseau se constrói tendo, por base, a categoria /natureza/ versus /civiliza-
ção/, que o resume como um todo. A tese defendida pelo filósofo suíço é a de que as desigual-
dades entre os homens derivam do próprio processo civilizatório que afastou o homem de sua 
condição natural de igualdade. Você pode notar que Rousseau defende que a organização do 
homem em sociedade, sobretudo pela instituição da sociedade civil, é o que o levou a uma série 
de mazelas, uma vez que altera o modo de ser natural do homem. 
A categoria semântica do nível fundamental, como você pode ver, apresenta uma contrarie-
dade tal, que os termos se pressupõem de forma recíproca. O sentido de /liberdade/, por exem-
plo, poderia existir sem a noção de /opressão/ ou o contrário? Lógico que não! O mesmo se dá 
com oposições como /vida/ e /morte/, /liberdade/ e /opressão/, /sacralidade/ e /profanidade/, /
totalidade/ e /parcialidade/, entre outras. Ambos os termos se constituem, portanto, narelação 
GLOSSáRIO 
Sintáxico: é em-
pregado para tratar 
de mecanismos 
que operam com 
arranjos. É equiva-
lente a sintático, que 
também é usado em 
Semiótica, mas que 
foi preterido aqui, 
a exemplo de Tatit 
(2002), para evitar 
confusão com a 
acepção de sintaxe 
da gramática norma-
tiva.
DICAS 
Nem sempre é fácil 
determinar a oposi-
ção que dá sentido 
ao texto, organi-
zando-o semanti-
camente. Por isso, 
não fique aflito caso 
pareça difícil precisar 
a categoria semân-
tica de base numa 
dada análise. Caso 
haja dificuldade em 
examinar o nível fun-
damental, pode ser 
que, para a análise 
do texto em questão, 
esse nível não seja 
tão produtivo quanto 
os demais. Aos pou-
cos você aprenderá a 
eleger as categorias 
mais apropriadas 
para cada caso.
15
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
de contrariedade que mantêm entre si. Ao mesmo tempo, essa relação de contrariedade pressu-
põe um nexo entre os termos. Faz sentido opor /sensibilidade/ a /horizontalidade/? Não, porque 
nada há em comum entre esses termos. /Masculinidade/, porém, se opõe a /feminilidade/, por-
que ambos pertencem ao domínio da sexualidade (FIORIN, 2006, p. 22).
1.5.2 Semântica fundamental: o sistema abstrato de valores
No componente semântico do nível fun-
damental, além de apreender a categoria se-
mântica que está na base do discurso em aná-
lise, é preciso que você observe o sistema de 
valores em que ela se inscreve. Em todos os 
discursos, um dos termos da oposição é mar-
cado, grosso modo, com um traço de positivi-
dade e o outro, com um traço de negativida-
de. O traço de positividade recebe o nome de 
euforia, e o termo por ele marcado é definido 
como eufórico; o traço de negatividade, por 
sua vez, recebe o nome de disforia, e o termo 
por ele marcado é definido como disfórico 
(GREIMAS; COURTÉS, 2008). 
No fragmento do discurso de Rousseau, 
você consegue perceber qual dos termos é 
positivo e qual é negativo na categoria semân-
tica de base do texto: /natureza/ versus /civili-
zação/? Não é difícil ver que o primeiro termo, 
/natureza/, é tomado como eufórico (positivo) 
e o segundo, /civilização/, como disfórico (ne-
gativo). Como você viu, o filósofo defende que 
as mazelas sociais aumentam à proporção que 
o homem se afasta do seu estado natural e 
avança no processo civilizatório. Nesse trágico 
progresso, a instituição da sociedade civil é um 
marco negativo cujo reflexo são crimes, guerras, 
assassinatos, misérias e horrores. Ao estado de 
natureza, por sua vez, o autor relaciona saúde, 
liberdade, simplicidade e igualdade. 
Acerca das marcas de positividade (eufo-
ria) e negatividade (disforia), lembre-se de que 
elas não são dadas a priori, mas se inscrevem 
nos discursos individuais, sob pena de erro de 
avaliação. Não se deve, por exemplo, supor 
que /vida/ seja sempre um termo eufórico, po-
sitivo. Como explica Fiorin (2006, p. 23), /mor-
te/, em um discurso que prega o valor do mar-
tírio – como o de muitos fundamentalistas –, 
receberá o traço positivo e /vida/, o negativo. 
Em muitos discursos que valorizam o 
progresso humano, diferentemente do que 
ocorre com o discurso de Rousseau, analisa-
do anteriormente, é o termo /natureza/ que é 
disfórico, associado, não raro, à barbárie. Ou-
tro exemplo pode ser visto no exame de nar-
rativas míticas indígenas elaborado por Brito 
(2011), que observou que era regular, na base 
dos discursos analisados, a mesma categoria 
semântica observada no discurso de Rousse-
au: /natureza/ versus /civilização/. Neles, po-
rém, o traço eufórico repousa sobre o termo /
civilização/, que remete à coletividade, à nor-
malidade, às coerções morais que garantem a 
vida dos grupos, em oposição à /natureza/, to-
mada como um negativo domínio do individu-
alismo, da singularidade, do que é estranho e 
nocivo ao “eu-tribo” (BRITO, 2011, p. 107).
Outro lembrete importante: o sistema de 
valores estabelecido graças às marcas euforia/
disforia sobre a oposição semântica de base 
não pode ser confundido com a manifestação 
da ideologia. Esta, como visão de mundo, tem 
seu espaço de manifestação privilegiado no 
nível discursivo, sobretudo no seu componen-
te semântico, pois é ali que se apreendem os 
temas e as figuras que o sujeito da enunciação 
utiliza para concretizar, no seu discurso, os ele-
mentos abstratos do nível fundamental (FIO-
RIN, 2006). 
/Liberdade/ e /dominação (opressão ou 
coerção)/, por exemplo, podem ser concre-
tizados pelo tema do consumo, em que o 
primeiro termo seria positivo e implicaria a 
propriedade sobre um carro potente, capaz 
de levar o proprietário a todos os lugares aos 
quais desejasse ir; ou podem ser concretizados 
ainda, respectivamente, como governo demo-
crático e governo totalitário. A /liberdade/, por 
outro lado, em discursos que valorizam a ação 
de governos conservadores, pode remeter à 
bagunça, desordem, confusão, em oposição 
a uma /dominação/ positiva (eufórica), enten-
dida como ordem, regra, como explica Barros 
(2003, p. 190). 
A organização do nível elementar, por-
tanto, apresenta um sistema abstrato de valo-
res; a ideologia se manifesta no nível mais su-
perficial e concreto do percurso gerativo, pois 
é ali que o sujeito da enunciação concretiza os 
níveis mais abstratos com temas e figuras que 
expressam uma dada visão de mundo. Você 
verá isso na unidade 3, que tratará do nível 
discursivo.
ATIVIDADES
Exercite agora sua ca-
pacidade de abstração 
e apreensão das opo-
sições semânticas que 
organizam os textos. 
Segue uma sugestão: 
você já assistiu ao filme 
“Narradores de Javé”, 
dirigido por Eliane Ca-
ffé? Assista a esse filme 
(ou veja-o de novo se 
for o caso) e procure 
identificar as oposições 
semânticas fundamen-
tais que estão na base 
da história, bem como 
o que permite identifi-
cá-las no filme.
16
UAB/Unimontes - 8º Período
1.5.3 Sintaxe fundamental: as operações de asserção e de negação
Você viu, anteriormente, o componen-
te semântico do nível fundamental. É preciso 
agora abordar as operações que permitem 
dar conta da sucessividade do texto. A sintaxe 
fundamental analisa justamente essas opera-
ções básicas que estão na base dos discursos. 
São duas as operações elementares: a asserção 
(afirmação) e a negação (FIORIN, 2006, p. 23). 
Trata-se de operações que permitem que, dada 
uma determinada categoria semântica, possa 
haver uma transição de um termo a outro e, por-
tanto, um percurso fundamental que dê conta 
do que se mostra na sucessividade do texto.
O fragmento do discurso de Rousseau, já dis-
cutido, permite que você observe o funciona-
mento das operações fundamentais de nega-
ção e afirmação. Ali, quando o homem ainda 
se mantinha em estado selvagem, tinha-se a 
afirmação inicial da /natureza/; com a progres-
siva civilização do homem, porém, ocorre a 
operação elementar de negação da /nature-
za/. Depois, há a operação de afirmação da /
civilização/, com, sobretudo, a instituição das 
sociedades civis. Trata-se de um percurso dis-
forizante, isto é, em direção ao termo disfórico, 
marcado, portanto, por um final “negativo”, já 
que, como você viu, no discurso de Rousse-
au, a natureza é o termo eufórico. São essas 
operações elementares que estão na base do 
discurso do filósofo, cuja tese é a de que a pas-
sagem da igualdade à desigualdade entre os 
homens, acompanhada do surgimento de inú-
meras mazelas sociais e morais, deu-se com a 
organização do homem em sociedade.
Os percursos fundamentais, possíveis 
graças às operações sintáxicas de asserção 
e negação, podem apresentar movimentos 
diferentes do visto em Rousseau? Sim. Brito 
(2011), já citado, observou, por exemplo, que 
as transformações míticas dos diferentes dis-
cursos sobre a aquisição do fogo pelo homem 
(índio) implicavampara os animais, de for-
ma geral, o seguinte percurso fundamental: 
civilização→não civilização→natureza. Isso 
porque alguns dos animais apresentavam tra-
ços de humanidade e estavam, antes de o per-
derem para os homens, de posse do fogo, que 
se liga ao estado de /civilização/. A perda do 
fogo para os homens expressa a negação da /
civilização/ e a consequente afirmação da /na-
tureza/ para os animais, que perdem os traços 
humanos e passam a apresentar apenas seus 
aspectos naturais (BRITO, 2011, p. 65).
Veja ainda o caso da letra da canção “O 
pulso”, do grupo Titãs. Ali há uma lista de di-
ferentes tipos de doenças e paixões (“Peste 
bubônica, câncer, pneumonia, raiva, rubeula, 
tuberculose e anemia, rancor, caxumba, difite-
ria...”) e o seguinte refrão: “e o pulso ainda pul-
sa”. Nesta letra, a oposição que está na base 
do texto é /vida/ versus /morte/. O acúmulo 
de doenças faz parecer certa a morte, que, 
no entanto, não vem, já que a pulsação ainda 
existe. Nesse caso há uma espécie de percurso 
fundamental esperado, próximo ou iminente, 
que seria: vida → não vida → morte. Observe, 
porém, que esse percurso não se realiza, pois 
mantém-se a afirmação da /vida/, que teima em 
resistir às diferentes e acumuladas doenças.
Por fim, nos exemplos destacados,você 
pode observar algo que é importante frisar: 
as operações sintáxicas fundamentais obede-
cem a uma lógica, em que a afirmação de um 
termo da oposição apenas ocorre após uma 
necessária negação do termo oposto. Não 
se passa de maneira direta da afirmação de 
um termo à afirmação do seu oposto; é pre-
ciso sempre postular a negação de um termo 
como transição para a afirmação do oposto. 
Em alguns textos, isso pode ficar mais eviden-
te; a negação da /vida/ pode, por exemplo, ser 
explorada de forma mais prolongada em um 
texto, sob a forma do coma. Porém, ainda que 
não seja tão evidente, não se esqueça de que 
há sempre a negação de um termo antes da 
afirmação do termo oposto.
1.5.4 O quadrado semiótico: uma representação abstrata e lógica do 
sentido geral do discurso
Você verá agora que toda a organização fundamental dos discursos é suscetível de uma re-
presentação lógica e abstrata no chamado quadrado semiótico. O quadrado semiótico, por isso, 
é uma forma econômica, lógica e abstrata de representação do sentido. 
Veja o caso do discurso de Rousseau, que apresenta a oposição semântica /natureza/ versus 
/civilização/, como você já viu. Cada um desses termos pode projetar, por meio de uma operação 
de negação, um outro termo que lhe é contraditório (BARROS, 2001). Isso faz com que, de /natu-
reza/, se chegue à /não natureza/ e de /civilização/ se chegue à /não civilização/, o que leva a um 
total de quatro termos. Além disso, você observou que, na sucessividade do discurso de Rousse-
au, há uma transição de um termo a outro. 
17
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
Em outras palavras, há as operações da sintaxe fundamental: o discurso aponta que ha-
via uma afirmação inicial da /natureza/, estágio em que se via igualdade entre os homens; esse 
termo, porém, é negado (chega-se à /não natureza/) no processo civilizatório, vindo depois a afir-
mação da /civilização/, sobretudo pela instituição da sociedade civil e das desigualdades que ela 
implica. Veja como tudo isso pode ser representado no quadrado semiótico:
Veja outro exemplo da organização fundamental do sentido e de sua representação no qua-
drado semiótico na letra da canção da banda Legião Urbana. 
Soldados 
Nossas meninas estão longe daqui
Não temos com quem chorar e nem pra onde ir 
Se lembra quando era só brincadeira
Fingir de ser soldado a tarde inteira?
Mas agora a coragem que temos no coração
Parece medo da morte mas não era então. 
Tenho medo de lhe dizer o que eu quero tanto 
Tenho medo e eu sei por quê:
Estamos esperando
Quem é o inimigo?
Quem é você?
Nos defendemos tanto tanto sem saber
Por que lutar
Nossas meninas estão longe daqui
E de repente eu vi você cair
Não sei armar o que eu senti
Não sei dizer que vi você ali
Quem vai saber o que você sentiu?
Quem vai saber o que você pensou?
Quem vai dizer agora o que eu não fiz
Como explicar pra você o que eu quis
Somos soldados
Pedimos esmola
E a gente não queria lutar
E a gente não queria lutar
E a gente não queria lutar
E a gente não queria lutar
(LEGIÃO URBANA, 1985) 
◄ Figura 1: Esquema 
de representação do 
quadrado semiótico do 
discurso de Rousseau
Fonte: Elaboração própria
18
UAB/Unimontes - 8º Período
Na letra da banda de Brasília, pode-se observar a oposição /liberdade/ versus /opressão (co-
erção ou dominação)/. O primeiro termo da categoria semântica é que recebe a marca da eufo-
ria, ao passo que o segundo recebe a da disforia. Observe que a /opressão/ se revela a partir do 
contexto de combate, de guerra, em que os soldados lutam sem saber por que e são submetidos 
a uma realidade cruel em que a morte está constantemente presente; revela-se, porém, de forma 
mais explícita na reiteração de que não se queria lutar (“E a gente não queria lutar”). Em oposição 
a essa dolorosa opressão, a /liberdade/, termo eufórico, se manifesta, sobretudo, pelo que falta 
aos soldados: as meninas (que estão longe), que remetem ao prazer do namoro/sexo. 
Quanto às operações elementares da sintaxe fundamental, pode-se observar, novamente, 
um percurso disforizante. Veja que há uma anterior e pressuposta afirmação da /liberdade/, pois, 
no texto, há uma referência a um tempo em que ser soldado era só brincadeira, um agradável 
fingimento de criança. Com a imposição dos soldados aos horrores de uma guerra de que eles 
não queriam participar, há a negação da /liberdade/ e a afirmação da /opressão/. Representando 
tudo isso no quadrado semiótico, veja como ficaria: 
1.5.5 O nível fundamental em 
textos não verbais
Fechando a descrição do funcionamento 
do nível fundamental, veja agora a importân-
cia da apreensão da organização elementar do 
sentido na análise de textos não verbais. Ob-
serve a figura de Obama a seguir, uma criação, 
a princípio, espontânea de um artista ameri-
cano que quis contribuir com a campanha do 
democrata na corrida à Casa Branca, em 2008. 
A força do discurso contido nesta figura, que 
apresenta algumas variações na linguagem 
verbal, foi tão grande, que ela foi incorporada 
à campanha oficial de Obama. Veja!
Figura 2: Esquema 
de representação do 
quadrado semiótico da 
letra de Soldados
Fonte: Elaboração própria.
►
PARA SABER MAIS
Há um livro que pode 
ajudá-lo a desenvol-
ver a habilidade de 
interpretação especifi-
camente de textos visu-
ais. Chama-se “Semióti-
ca Visual: os percursos 
do olhar”, de Antônio 
Vicente Pietroforte. 
Esse livro, que aparece 
como sugestão de 
leitura nas referências 
suplementares deste 
material, é bastante 
didático e mostra como 
podemos guiar nosso 
olhar em busca do sen-
tido nos textos visuais. 
Vale a pena lê-lo!
◄ Figura 3: Pôster de Obama. Criação de Shepard 
Fairey.
Fonte: Disponível em < http://en.wikipedia.org/wiki/
Barack_Obama_%22Hope%22_poster>. 
Acesso em 01 set. 2011.
19
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
O discurso expresso, nesse texto, por um plano de expressão predominantemente visual se 
organiza a partir da categoria semântica de base: /identidade/ versus /alteridade/. O texto, em 
que as cores são determinantes para o sentido, expressa o termo /alteridade/, sobretudo, como 
diferenças raciais. Esse termo é, por isso, o termo disfórico, pois o discurso apela ao sentimento 
de unidade nacional, tomando, como positivo, o termo /identidade/. 
Como se observa isso? Inicialmente, considere que a questão racial poderia levar muitos 
americanos, de maioria branca, a não se verem representados pelo então candidato democra-
ta, um homem negro. Você pode pressupor, por isso,uma afirmação da /alteridade/, entendida 
como diferenças raciais. Aí entra a força do texto em questão. O discurso contido na figura nega 
(no sentido da operação sintáxica de negação, apenas) a /alteridade/ e promove a posterior afir-
mação da /identidade/ quando pinta o negro Obama com as cores da bandeira norte-americana. 
Veja que Obama é, assim, legitimado como representante da sociedade norte-americana como 
um todo, pois as diferenças raciais são, no discurso analisado, suplantadas pela identidade na-
cional. Essa é a organização fundamental que está na base desse poderoso e persuasivo discurso 
em favor do sentimento de unidade americana em torno de Obama. 
Referências
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria do discurso: fundamentos semióticos. 3. ed. São Paulo: 
Humanitas; FFLCH/USP, 2001.
BARROS, Diana Luz Pessoa de. Estudos do discurso. In: FIORIN, José Luiz (Org.). Introdução à Lin-
güística – II. Princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2003, p. 187-219.
BERTRAND, Denis. Caminhos da Semiótica literária. Trad. Grupo Casa. Bauru: EDUSC, 2003.
BRITO, Clebson Luiz de. Outras harmonias insuspeitas: um estudo da (in)variabilidade discursi-
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tica do Texto e do Discurso) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras, Belo 
Horizonte, 2011.
FAIREY, Shepard. Pôster de Obama. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Barack_
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FIORIN, José Luiz. A noção de texto em Semiótica. Organon, Porto Alegre, v. 9, n. 23, p. 163-173, 
1995.
FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. São Paulo: Contexto, 2006.
FIORIN, José Luiz. Enunciação e Semiótica. Santa Maria: Letras (Santa Maria), v. 33, 2007a, p. 69-
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ago. 2011.
FIORIN, José Luiz. A Semiótica Discursiva. In: LARA, Glaucia M. P.; MACHADO, Ida Lucia; EMEDIA-
TO, Wander (orgs.). Análises do Discurso Hoje. v. 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, p. 121-
144.
GREIMAS, Algirdas Julien; COURTÉS, Joseph. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Contexto, 
2008.
LEGIÃO URBANA. Soldados. In: Idem. Legião urbana. Rio de Janeiro: EMI Music do Brasil, 1985.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. A origem da desigualdade entre os homens. São Paulo: Escala, s. d.
TATIT, Luiz. A abordagem do texto. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Linguística I: Obje-
tos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002. p. 187-209. 
TITÃS. Comida. In: Idem. Jesus não tem dentes no país dos banguelas. Rio de Janeiro: WEA, 
1987.
ATIVIDADES
Para praticar o exame 
do nível fundamental, 
vá ao endereço eletrô-
nico: <http://www.se-
nado.gov.br/atividade/
pronunciamento/Deta-
lhes.asp?d=388285> e 
leia o texto disponível. 
Trata-se de um discurso 
do Senador pelo 
Espírito Santo, Magno 
Malta. Após ler o texto, 
procure responder: O 
que ele tem de comum 
e diferente com a 
imagem de Obama? 
Explore o máximo de 
elementos observado 
nesta unidade. 
21
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
UNIDADE 2
Nível narrativo
Letícia de Souza Peixe
2.1 Introdução
Você começa agora a estudar o nível narrativo do percurso gerativo de sentido, o qual, 
como vale lembrar, consiste em uma sucessão de níveis, que vão do mais simples e abstrato ao 
mais complexo e concreto, passando-se por um “processo de enriquecimento semântico” (FIO-
RIN, 1995, p. 164), no qual o primeiro nível é concretizado pelo segundo, que, por sua vez, é con-
cretizado pelo terceiro e último.
No nível narrativo, ocorre a concretização das categorias semânticas do nível fundamental, 
que você estudou na Unidade 1. Ou seja, os valores abstratos e virtuais desse nível são atuali-
zados, assumidos por um sujeito na sua relação com um dado objeto (que se torna, assim, um 
objeto-valor ou Ov). Constrói-se, dessa forma, um simulacro da ação do homem no mundo.
Nessa passagem, as operações lógicas fundamentais convertem-se em transformações nar-
rativas operadas por um sujeito; as categorias semânticas de base tornam-se valores do sujeito 
inscritos nos objetos com os quais ele se relaciona; e as determinações do sistema abstrato de valores 
do nível fundamental (traços de euforia e disforia) convertem-se em modalizações que modificam as 
ações e os modos de existência do sujeito e suas relações com os valores (BARROS, 2003).
2.2 Conversão das estruturas 
fundamentais em estruturas 
narrativas
Para observar como a conversão das estruturas fundamentais em estruturas narrativas ocor-
re, retome a passagem de “A origem da desigualdade entre os homens”, de Rousseau, exemplo 
analisado anteriormente.
Nele, você observou, quanto ao nível fundamental, a oposição /natureza/ versus /civiliza-
ção/, em que a /natureza/ é eufórica e a /civilização/ é disfórica. Como esses valores se transfor-
mam em estruturas narrativas no texto? Veja que, quando se analisa a mesma passagem, pelo 
viés do nível narrativo, os valores abstratos daquele nível são investidos na relação de um sujeito 
com um objeto.
A extrema desigualdade na maneira de viver, o excesso de ociosidade de al-
guns, o excesso de trabalho de outros, [...] os alimentos muito requintados dos 
ricos [...], a má alimentação do pobre [...], aí estão os funestos fiadores de que 
a maior parte dos nossos males são nossa própria obra e de que poderíamos 
evitá-los quase todos, conservando a maneira de viver simples, uniforme e soli-
tária que nos foi prescrita pela natureza.
[...] Cremos que se faria com facilidade a história das doenças humanas seguin-
do a história das sociedades civis.[...] Com tão poucas fontes de males, o ho-
mem no estado natural não tem, pois, necessidade de remédios, menos ainda 
de médicos.
O primeiro que, cercando um terreno, se lembrou de dizer: “isto é meu” e encontrou 
pessoas bastante simples para acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade ci-
vil. Quantos crimes, guerras, assassinatos, misérias e horrores não teriam sido pou-
pados ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou tapando o fosso, 
tivesse gritado a seus semelhantes: não escutem esse impostor! Vocês estarão per-
didos se esquecerem que os frutos são de todos e a que a terra não é de ninguém 
(ROUSSEAU, s. d, p. 35, grifo nosso).
DICAS
Retorne à Unidade 1 
e relembre o estudo 
das estruturas funda-
mentais, uma vez que 
ele será imprescindível 
para a compreensão 
das estruturas narrati-
vas, nas quais aquelas 
são convertidas.
22
UAB/Unimontes - 8º Período
Como exemplo, observe a parte final do discurso. Nela, o sujeito “homem”, especificamente 
o primeiro a se autointitular dono de um terreno, obteve o objeto “propriedade”, enquanto as 
demais pessoas, que também desempenham papel subjetivo, passam, simultaneamente, a não 
dispor do objeto “propriedade”. 
Perceba, prezado acadêmico, que os termos /natureza/ e /civilização/ são, assim, atualiza-
dos: o primeiro, na relação das demais pessoas que não possuem propriedades, estado, segundo 
Rousseau, natural do ser humano; o segundo, na relação do “verdadeiro fundador da sociedade 
civil”, que se apossou de uma propriedade, dando início à civilização.
Como cada nível é composto por uma semântica e uma sintaxe, em que a semântica é en-
tendida como os conteúdos investidos nos arranjos sintáxicos, e a sintaxe, como um conjunto de 
mecanismos que ordena os conteúdos, você passa agora ao estudo da semântica narrativa e da 
sintaxe narrativa, como fez no exame do nível fundamental.
2.3 Sintaxe narrativa
2.3.1 Os enunciados elementares e as relações de junção
No âmbito da sintaxe narrativa, há dois tipos de enunciados elementares: os enunciados de 
estado e os enunciados de fazer. O que os distingue? Os primeiros são determinados pela relação 
de junção – conjunção ou disjunção –do sujeito com o objeto, podendo, portanto, ser conside-
rados estáticos. Já os enunciados de fazer são dinâmicos, pois englobam as transformações de 
um estado para outro. 
Se você retornar ao exemplo do texto de Rousseau, pode perceber, inicialmente, que o su-
jeito de estado “homem” – “verdadeiro fundador da sociedade civil” – estava em disjunção com o 
objeto “propriedade”, enunciado de estado que pode ser, desta forma, representado:
S¹ (homem) U Ov (propriedade)
U = disjunção
Da mesma maneira os demais sujeitos, as outras pessoas, estavam também em disjunção 
com o objeto “propriedade”:
S¹ (demais pessoas) U Ov (propriedade)
O sujeito “homem”, entretanto, transforma seu estado, operando ele mesmo a transforma-
ção ao, cercando um terreno, se lembrar de dizer: “isto é meu”. Note que, com isso, ele passa a 
atuar como sujeito de fazer, alterando a junção do sujeito de estado, ele próprio, com os valores 
expressos pelo objeto, por meio da apropriação:
PN = F (apropriação)
[S¹ (homem) → (S² (homem) ∩ Ov (propriedade))]
F = função
→ = transformação
∩ = conjunção
É importante salientar que só com a transformação operada pelo S¹ (homem) é que efeti-
vamente constitui-se o objeto “propriedade”. Note que, de acordo com Rousseau, foi a partir do 
momento em que o “verdadeiro fundador da sociedade civil” apropriou-se de um terreno e afir-
mou ser ele seu que se estabeleceu a propriedade, até então inexistente, pela oposição do direi-
to de um frente ao dever dos outros de não o afrontar.
No exemplo dado, tem-se um programa narrativo – ou PN –já que, nesse caso, o enuncia-
do de fazer é um enunciado modal, aquele que rege ou “modaliza” um enunciado descritivo, que, 
em um programa narrativo, é o enunciado de estado.
GLOSSáRIO 
Programa narrativo 
(PN): sintagma elemen-
tar da sintaxe narrativa 
que ocorre quando 
um enunciado de fazer 
rege um enunciado de 
estado.
23
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
2.3.2 Articulação de PNs e percursos na formação do esquema 
narrativo canônico
Uma sequência de PNs, por sua vez, caracteriza o percurso narrativo. Os actantes sintáxi-
cos, sujeito de estado, sujeito de fazer e objeto, presentes no PN, são redefinidos como papéis 
actanciais no âmbito do percurso narrativo, transformando-se, no último nível da hierarquia das 
unidades sintáxicas – o esquema narrativo –, em actantes funcionais, como você pode observar 
no quadro abaixo:
QUADRO 1
Esquema Narrativo
Unidades sintáticas Actantes
Esquema narrativo Actante funcional (sujeito, objeto, destinador, 
destinatário)
Percurso narrativo Papel actancial (Ex.: sujeito competente, sujei-
to do querer)
Programa narrativo (e enunciado elementar) Actante sintático (sujeito do estado, sujeito do 
fazer, objeto)
Fonte: BARROS, 2001, p. 36
Note que uma narrativa centra-se, portanto, na transformação de estado entre sujeito e ob-
jeto, tendo, como unidade operatória básica, o PN (LARA, 2004). O esquema narrativo canônico 
compreende quatro fases ou quatro PNs (organizados em três percursos – o da manipulação, o 
da ação e o da sanção) que se encadeiam, podendo alguma(s) dessas fases estar pressuposta(s). 
O que caracteriza cada um desses PNs apontados?
O primeiro PN é o de manipulação (o fazer-fazer). Nele, um sujeito leva outro a /querer/ e/
ou a /dever/ praticar uma ação, constituindo-se, dessa forma, no percurso do destinador-mani-
pulador. São quatro os tipos de manipulação mais recorrentes: 
1) tentação, em que o destinador-manipulador oferece valores que ele crê que 
o destinatário quer obter; 
2) intimidação, em que o destinador apresenta valores que ele acredita que o 
destinatário teme e, portanto, deve evitar; 
3) provocação, em que o destinador apresenta uma imagem negativa do desti-
natário, devendo este reverter tal imagem; 
4) sedução, em que o destinador apresenta uma imagem positiva do destinatá-
rio, que este quer manter (BARROS, 2003, p. 197-198). 
Talvez um dos exemplos mais claros que ilustram os tipos de manipulação em língua por-
tuguesa e, provavelmente, o mais trabalhado é aquele que retrata uma mãe tentando fazer com 
que seu filho coma, empregando, para tanto, as diversas formas de manipulação: 
Tentação – “Se você comer, ganha um refrigerante”;
Intimidação – “Se você não comer, não vai assistir televisão’;
Sedução – “Pus essa comida no seu prato, porque você é grande e é capaz de 
comer tudo”;
Provocação – “Pus essa comida no seu prato, mas eu sei que, como você é pe-
queno, não consegue comer o que está aí”.
(FIORIN, 2006, p. 30)
A fase seguinte, a competência (o ser-fazer), é entendida como a capacitação do sujeito por 
meio de um /poder/ e um /saber/ realizar a ação. É, dessa forma, um PN pressuposto da perfor-
mance (pressuponente), que, por sua vez, é o PN no qual ocorre a transformação central da nar-
rativa, ou seja, a realização da ação propriamente dita (o fazer-ser). Os PNs de competência e de 
performance juntos constituem o percurso da ação ou do sujeito. 
Observe a narrativa de Millôr Fernandes:
24
UAB/Unimontes - 8º Período
Fábulas fabulosas – O Rato que tinha medo (A maneira dos … Marroquinos)?
(Millôr Fernandes)
Um Rato tinha medo de Gato. Nisso não era diferente dos outros ratos. Pavor, 
tremor, ânsia, vida incerta. Mas igual a todos outros de sua espécie, o nosso 
Rato teve, no entanto, um fato diferente em sua vida – encontrou-se com um 
Mágico(1).
Conversa vai, conversa vem, ele explicou ao Mágico a sua sina e o seu pavor. O 
Mágico, então, transformou-o exatamente naquilo que ele mais temia e achava 
mais poderoso sobre a terra – um Gato. O Rato daí em diante, passou a perse-
guir os outros ratos, mas adquiriu imediatamente um medo horrível de cães. E 
nisso também, não sendo diferente de todos os outros gatos.
A única diferença foi que tornou a se encontrar com o Mágico. Falou-lhe então 
do seu novo medo e foi transformado outra vez na coisa que mais temia – um 
Cão, que pôs-se logo a perseguir os gatos. Mas passou a temer animais maio-
res: como Leão, Tigre, Onça, Boi, Cavalo, tudo. O Mágico surgiu mais uma vez e 
resolveu transformá-lo então, num Leão, o mais poderoso dos animais(2). Mas 
o nosso ratinho, guindado assim a letra O da classe animal, passou, porém, a 
recear quando ouvia passos de Caçador. 
Então o Mágico chegou, transformou-o de novo num Rato e disse, alto e bom 
som:
Moral: Meu filho, quem tem coração de rato, não adianta ser leão.
Ainda há alguma magia.
Será?
(FERNANDES, 2011, s/p)
Nela, você pode notar que o Rato está inicialmente em conjunção como o objeto-valor 
“medo”, do qual quer se ver em disjunção. Tem-se, portanto, um enunciado de estado que pode 
ser assim representado:
S¹ (Rato) ∩ Ov (medo)
Todavia, um Mágico que o Rato conhece oferece-se para ajudá-lo, realizando, para tanto, 
um PN de competência, em que dota o Rato de um valor modal /poder/, quando “transformou-o 
exatamente naquilo que ele mais temia e achava mais poderoso sobre a terra – um Gato”, para 
que o mesmo entre em disjunção com o objeto-valor “medo”.
PN (competência) = F (transformar o Rato em Gato)
S¹ (Mágico) S² (Rato) ∩ Ov (medo)
Ov = Objeto-valor
Note que ocorre, desse modo, uma doação, em que um sujeito de fazer (S¹) confere, a um 
sujeito de estado (S²), um objeto-valor; transformação essa realizada por atores diferentes, no 
caso, o Mágico e o Rato. 
Além da doação, o programa de aquisição pode se dar também por meio de renúncia, na 
qual o sujeito de fazer (S¹) possibilita que o sujeito de estado (S²) entre em disjunção com um 
objeto-valor, sendo o sujeito de fazer e o sujeito de estado realizados pelo mesmo ator. 
PN (competência) = F (transformar o Rato em barata)
S¹ (Rato) S² (Rato) U Ov (medo)
A espoliação, por sua vez, ocorre quando o sujeito de fazer (S¹), realizado por ator diferente do 
sujeito de estado, fazcom que o sujeito de estado (S²) entre em disjunção com um objeto-valor. 
PN (competência) = F (transformar o Rato em barata)
S¹ (Mágico) S² (Rato) U Ov (medo)
Na apropriação, o sujeito de fazer (S¹), representado pelo mesmo ator do sujeito de estado 
(S²), torna possível sua conjunção com o objeto-valor.
PN (competência) = F (transformar o Rato em Gato)
S¹ (Rato) S² (Rato) ∩ Ov (medo)
25
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
Quanto à fábula de Millôr Fernandes, perceba que, apesar de o Rato ter entrado em con-
junção com o valor modal /poder-fazer/, por meio da transformação perpetrada pelo Mágico, o 
mesmo não aconteceu com o valor modal /saber-fazer/. Mesmo transformando o Rato nos ani-
mais que mais temia, o Mágico não lhe forneceu um /saber-fazer/ que o possibilitasse empregar 
o objeto-valor modal que lhe foi doado, /poder-fazer/, com o objetivo de entrar em disjunção 
com o objeto-valor “medo”.
A descrição que você observou é a de um programa narrativo complexo, formado por um 
programa narrativo de base, a transformação do estado inicial do Rato de conjunção com o 
objeto-valor “medo” para o estado de disjunção; e por um programa de uso, pressuposto ne-
cessário para que isso ocorra, na fábula, o auxílio do Mágico, que transformaria o Rato em um 
animal temível.
Já a última fase do esquema narrativo consiste no PN de sanção (o ser-ser), em que se tem o 
percurso do destinador-julgador. A sanção implica duas operações: uma cognitiva e outra prag-
mática. O que as diferencia e como elas funcionam?
A primeira operação, a cognitiva, é a constatação da ocorrência (ou não) da ação, conforme 
o acordo estabelecido com o destinador-manipulador, culminando, portanto, no reconhecimen-
to do “herói” ou no desmascaramento do “vilão”.
Nela, “o destinador interpreta os estados resultantes do fazer do sujeito, definindo-os como 
verdadeiros (que parecem e são), falsos (que não parecem e não são), mentirosos (que parecem 
e não são) ou secretos (que não parecem e são)” (BARROS, 2001, p. 40). Para entender melhor, 
releia apenas este fragmento do mesmo texto de Millôr Fernandes e observe a análise posterior:
Mas o nosso ratinho, guindado assim a letra O da classe animal, passou, porém, 
a recear quando ouvia passos de Caçador. Então o Mágico chegou, transfor-
mou-o de novo num Rato e disse, alto e bom som:
Moral: Meu filho, quem tem coração de rato, não adianta ser leão.
Na história, o sujeito Rato sofre sanção cognitiva, já que o Mágico constata que a verdadei-
ra transformação, o programa de base no qual o Rato entraria em disjunção com o objeto-valor 
“medo”, não ocorreu. Interpreta, portanto, o estado a que o sujeito Rato chegou, a conjunção 
com o objeto-valor modal /poder-fazer/ e a disjunção com o /saber-fazer/, e o define como men-
tiroso, pois, apesar de parecer, o Rato não é um leão, o qual não teme ninguém.
A segunda forma de sanção, a pragmática, implica a retribuição; seja ela positiva, a premia-
ção, ou negativa, o castigo. 
Voltando ao texto usado como exemplo, você pode perceber que o Rato é também sancio-
nado de forma pragmática pelo Mágico ao ser transformado novamente em Rato, função inter-
pretada de maneira negativa de acordo com a ideologia veiculada pela narrativa, a qual depende 
do sentido do percurso narrativo realizado (BARROS, 2005). Você verá melhor essa questão da 
ideologia no nível discursivo, na Unidade 3.
No quadro a seguir, você visualizará sinteticamente o esquema narrativo canônico descrito, 
constituído dos três percursos – o da manipulação, o da ação e o da sanção – e dos PNs que os 
constituem:
QUADRO 2
Esquema narrativo canônico
Fonte: BARROS, 2005, p. 37
26
UAB/Unimontes - 8º Período
Cabe lembrar-se, prezado acadêmico, que muitas fases podem ficar ocultas e devem ser, 
portanto, pressupostas em uma narrativa. Além disso, muitas delas não se realizam completa-
mente, enquanto outras podem, ainda, relatar, preferencialmente, somente uma das fases (FIO-
RIN, 2006).
2.4 Semântica narrativa
2.4.1 As modalizações
A sintaxe, que você estudou anteriormente, é mais autônoma do que a semântica, já que a 
relação sintáxica pode receber diversos investimentos semânticos.
O componente semântico do nível narrativo, dessa maneira, ocupa-se da modalização, que 
pode ser de dois tipos: a modalização pelo /ser/ e a modalização pelo /fazer/, que se referem, 
respectivamente, ao sujeito de estado (na sua relação com o objeto-valor) e ao sujeito de fazer 
(conforme viu-se acima, na descrição dos PNs). Observe o quadro 3:
QUADRO 3
Modalizações de /ser/ e /fazer/
Fonte: BARROS, 2001, p. 50
Assim, o sujeito manipulado, ou seja, aquele que detém um /querer/ e/ou um /dever-fazer/ 
é um sujeito virtual (ou virtualizado); o que adquire um /saber/ e um /poder-fazer/, referentes à 
competência, é um sujeito atualizado. Porém, apenas depois de realizada a performance, é que o 
sujeito se torna realizado. Você pode visualizar isso no quadro 4.
27
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
QUADRO 4
Modalizações do sujeito
Fonte: BARROS, 2001, p. 52
 
A modalização pelo /ser/ engloba dois tipos: a modalização veridictória e a modalização 
pelo /querer/, /dever/, /poder/ e /saber/ ser. Como se caracteriza cada uma delas e como elas 
atuam? Você já vai saber, começando pela primeira. 
A modalização veridictória abarca a oposição /ser/ versus /parecer/; o primeiro termo do par 
relacionado à imanência (ser e não-ser) e o segundo, à manifestação (parecer e não-parecer). Ob-
serve que essa modalização permite determinar o tipo de relação existente entre o sujeito e o 
objeto, classificando-a como verdadeira, falsa, mentirosa ou secreta. 
A verdade é um estado que articula o /ser/ e o /parecer/; a falsidade, um estado que conju-
ga o /não-parecer/ com o /não-ser/; a mentira, o /parecer/ e o /não-ser/; e o segredo, o /ser/ e o 
/não-parecer/, conforme você pode ver na figura semiótica que segue: 
 
Para compreender melhor a modalização veridictória, tome como exemplo o livro “Harry 
Potter e a pedra filosofal”, de J.K. Rowling. Nele, o menino Harry Potter, então com onze anos, 
descobre-se bruxo ao ser informado disso por Hagrid, um meio-gigante que trabalha na esco-
la de bruxaria de Hogwarts, na qual Harry é convidado a ingressar. A seguinte passagem ilustra 
uma fala de Hagrid ao ser confrontado com a descrença do menino frente à revelação. Veja:
◄ Figura 4: Modalizações 
veridictórias
Fonte: BARROS, 2001, p. 55
28
UAB/Unimontes - 8º Período
- Não é bruxo, hein? Nunca fez nada acontecer quando estava apavorado ou 
zangado? 
Harry olhou para o fogo. Pensando bem... cada coisa estranha que deixara os 
seus tios furiosos tinha acontecido quando ele, Harry estava perturbado ou 
com raiva... perseguido pela turma de Duda, pusera-se de repente fora do seu 
alcance, receoso de ir para a escola com aquele corte ridículo, conseguira fazer 
os cabelos crescerem de novo, e da última vez que Duda batera nele, não fora à 
forra sem perceber que estava fazendo isto? Não mandara uma cobra atacá-lo? 
Harry olhou para Hagrid, sorrindo, e viu que ele ria abertamente para ele (RO-
WLING, 2000, p. 54). 
Analisando esse trecho pelo viés da modalização veridictória, você pode perceber que Har-
ry, por não se saber bruxo, passa do segredo (pois é, mas não parece bruxo) à verdade (é e pa-
rece bruxo), a partir do momento em que se descobre como tal. É essa busca pela verdade que 
dá o tom a toda a primeira parte da narrativa, pois nela Harry Potter mostra-se desconfortável 
e deslocado no mundo onde vive. Descobre-se posteriormente que a razão dessa inadequação 
é justamente o segredo que os tios de Harry, com os quais o garoto, por ser órfão, mora, escon-
dem: sua origem mágica. Com essa revelação, o menino pode, enfim, reconhecer-se como bruxo 
(manifestação/parecer), algo que,na verdade, sempre fez parte da sua natureza (imanência/ser) 
(PEIXE, 2009, p. 44). 
Sobredeterminando a modalização pelo /ser/ e pelo /parecer/, tem-se a modalidade do /
crer/. Assim sendo, o enunciado de estado é certamente verdadeiro quando se articulam /crer-
-ser/ e /parecer/; é provavelmente verdadeiro quando conjuga /não-crer-não-ser/ e /não-crer-
-não-parecer/; certamente falso quando coordena /crer-não-ser/ e /não-parecer/, bem como o 
falso incerto conjuga /não-crer-ser/ e /crer-não-parecer/ (BARROS, 2001, p. 57). Você pode ver as 
relações de certeza, impossibilidade/exclusão, probabilidade e incerteza representadas a seguir:
Para exemplificar o exame das modalidades descritas no quadro, considere o exemplo da 
narrativa do primeiro livro da série que tem, como personagem principal, o jovem bruxo Harry 
Potter, “Harry Potter e a pedra filosofal”. No trem que levará os alunos a Hogwarts, Harry, que di-
vide uma cabine com seu novo amigo Rony Weasley, rejeita o fazer persuasivo de Draco Malfoy, tam-
bém aluno novato de Hogwarts, que, na condição de destinador-manipulador, oferece a Harry sua 
amizade, que, segundo ele, é de grande valia, dada a importância de sua família (manipulação 
por tentação, ou seja, oferecimento de Ov(s) positivo(s), que – se imagina – o sujeito quer obter). 
Virou-se para Harry. 
- Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias de bruxos são bem 
melhores do que outras, Harry. Você não vai querer fazer amizade com as ruins. 
E eu posso ajudá-lo nisso.
Ele estendeu a mão para apertar a de Harry, mas Harry não a apertou.
- Acho que sei dizer qual é o tipo ruim sozinho, obrigado - disse com frieza (RO-
WLING, 2000, p. 96).
Figura 5: Modalidades 
do /crer/ 
Fonte: BARROS, 2001, p. 57
►
29
Letras/Português - Língua portuguesa Semiótica
Você deve ter imaginado, nesse caso, que a amizade de alguém que se diz importante se-
ria um valor desejável para o protagonista da história, já que todo novo aluno quer ser aceito, 
no meio escolar, por seus semelhantes. O que explica, então, sua negativa? Harry, no seu fazer 
interpretativo, toma Malfoy como certamente falso (/crer-não-ser/ e /não-parecer/) ou como pro-
vavelmente falso (/não-crer-não-ser/ e /não-parecer/), não se deixando manipular e, consequen-
temente, renegando o contrato de amizade proposto. Não realiza, assim, a performance que Mal-
foy dele espera: apertar sua mão (o que indicaria aceitá-lo como amigo), pois Harry não apenas /
quer/, mas /sabe/ e /pode/ (competência) decidir por si só quem é ou não confiável e, portanto, 
digno de amizade (o que ele fará durante sua estadia em Hogwarts).
2.4.2 Modalizações e estados passionais
Já a modalização pelo /querer/, /dever/, /poder/ e /saber/ ser “incide especificamente sobre 
os valores investidos nos objetos” (LARA, 2004, p. 72), tornando-os desejáveis, proibidos, necessá-
rios etc e gerando, dessa forma, efeitos passionais no/sobre o sujeito (de estado). 
Note que uma espada é necessária ou desejável, por exemplo, para um príncipe de um con-
to de fadas, já que modalizada pelo /poder/ matar o dragão e, com isso, resgatar a princesa. O 
mesmo ocorre em uma caça ao tesouro, na qual o mapa representa a modalização do /saber/, 
tornando-se, assim, necessário à descoberta do tesouro.
O que o estudo dessa modalização significou? A partir da modalização do ser surgiu a Se-
miótica das Paixões, segundo a qual as paixões são “efeitos de sentido de qualificações modais, 
que, na narrativa, modificam a relação do sujeito com os valores” (BARROS, 2005, p. 88). 
As paixões simples ou paixões de objeto resultam de um arranjo modal da relação sujei-
to-objeto, na qual o sujeito está em conjunção ou disjunção com o objeto, resultando da modali-
zação pelo /querer-ser/. Veja alguns exemplos de paixões simples:
QUADRO 6
Paixões simples
Fonte: BARROS, 2001, p. 63
Nas paixões complexas, “várias organizações de modalidades constituem, na instância do 
discurso, uma configuração patêmica e desenvolvem percursos” (BARROS, 2001, p. 62). 
Tome como exemplo novamente a história escrita por J.K. Rowling. Na sequência da narra-
tiva de “Harry Potter e a pedra filosofal”, o garoto vem a enfrentar seu inimigo Lord Voldermort, 
que planejava obter a Pedra Filosofal, com cuja força poderia fortalecer-se para colocar em prá-
tica seu plano de segregação dos bruxos sangues-puros dos mestiços, filhos de bruxos e trouxas 
(não bruxos).
Quanto às paixões, você vai notar que há, pelo menos, duas maiores que “modulam” a narra-
tiva (ambas paixões simples, decorrentes da modalização pelo querer-ser). 
A seguinte passagem ilustra a busca de Harry e seus amigos para descobrir quem é Nicolau 
Flamel, o bruxo a quem pertence a Pedra Filosofal, a partir da qual se pode produzir o Elixir da 
Vida, que torna imortal aquele que o bebe (ROWLING, 2000); razão pela qual Lord Voldemort, 
ainda enfraquecido, almeja obtê-la.
30
UAB/Unimontes - 8º Período
- Só queremos saber quem é Nicolau Flamel, só isso - falou Hermione.
- A não ser que você queira nos dizer e nos poupar o trabalho?
- acrescentou Harry. - Já devemos ter consultado uns cem livros e não o encon-
tramos em lugar nenhum. Que tal nos dar uma pista?
Sei que já li o nome dele em algum lugar.
- Não digo uma palavra - respondeu Hagrid decidido.
- Então vamos ter que descobrir sozinhos - disse Rony, e saíram depressa para a 
biblioteca, deixando Hagrid desapontado.
Andavam realmente procurando o nome de Flamel nos livros desde que Ha-
grid deixara escapá-lo, porque de que outra maneira iam descobrir o que 
Snape estava tentando roubar? O problema é que era muito difícil saber por 
onde começar, sem saber o que Flamel poderia ter feito para aparecer em um 
livro. Não se encontrava em Grandes sábios do século, nem em Nomes notá-
veis da mágica do nosso tempo, não era encontrável tampouco em Importan-
tes descobertas modernas da mata nem em Um estudo aos avanços recentes 
na magia. E, é claro, havia também o tamanho da biblioteca em si, dezenas de 
milhares de livros, milhares de prateleiras, centenas de corredores estreitos 
(ROWLING, 2000, p. 170-171).
Observe que, nessa passagem, está retratada a primeira paixão simples da narrativa, a curio-
sidade (querer-saber), sem a qual os sujeitos não teriam obtido as informações necessárias para 
descobrir o mistério que envolvia a Pedra Filosofal e salvá-la do mal. Essa é uma característica 
marcante das crianças, recorrente em muitos contos de fadas, cujos protagonistas são jovens, 
por exemplo, em “João e Maria”, em que duas crianças, por curiosidade, embrenham-se na flores-
ta e ficam perdidas:
Era uma vez um menino chamado João e sua irmã Maria, que moravam em 
uma casa perto da floresta.
Um dia, sua mãe pediu que fossem buscar galhos secos para acender o fogo. 
Não precisavam trazer muitos, apenas o bastante para acender a lareira.
- Não vão muito longe. Os galhos que temos aqui perto já servem, não vão se 
perder por aí...
- Pode deixar, mamãe, vamos voltar logo!
E lá se foram os dois procurar gravetos secos por ali, entre várias brincadeiras. 
Não queriam ir longe, mas estavam tão curiosos com a floresta que resolveram 
arriscar só um pouquinho.
Maria teve uma idéia genial: foi marcando todo o caminho, para saber por 
onde voltar: assim não iriam se perder. E brincaram à vontade.
Já estava querendo escurecer quando resolveram voltar. Maria foi logo procu-
rando os pedacinhos de pão que deviam estar marcando o caminho, mas...
Os passarinhos que moravam ali estavam achando ótimo aquele lanchinho, e 
não deixaram nem um miolinho de pão sobrar. Não havia como achar o cami-
nho de volta para casa. A idéia de marcar o caminho tinha sido ótima, mas não 
com pedacinhos de pão.
Fonte: <http://feijo.com/~flavia/joaoemaria.html>. Acesso em 23 set. 2011.
Outra paixão que você pode observar na trama é a ambição ou cobiça, que move

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