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APOSTILA HISTÓRICO DO DIREITO PENAL

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CURSO: Direito 
PERÍODOS: 1º/2º 
TURNO: Diurno 
DISCIPLINA: Teoria Geral do Crime 
CARGA HORÁRIA SEMANAL: 03 horas/aula 
CARGA HORÁRIA SEMESTRAL: 60 horas/aula 
PROFESSOR: TITO SOUZA DO AMARAL 
 
 
1. Síntese Histórica do Pensamento Jurídico-Penal. 
As diversas fases da evolução da vingança penal deixam claro que não se 
trata de uma progressão sistemática, com princípios, períodos e épocas 
caracterizadores de cada um de seus estágios. 
A doutrina mais aceita tem adotado uma tríplice divisão, que é 
representada pela vingança privada, vingança divina e vingança pública, 
todas elas sempre profundamente marcadas por forte sentimento 
religioso/espiritual.1 
 
Evolução da vingança penal: 
1.1. Tempos Primitivos. 
1.1.a Fase da vingança privada; 
A vingança privada constituía-se numa reação natural e instintiva, por isso, 
foi apenas uma realidade sociológica, não uma instituição jurídica. 
Código de Hamurabi – Lei de Talião - lex talionis (lex: lei e talio, de talis: 
tal, idêntico) – 1780 AC - 
Olho por olho, dente por dente – reciprocidade. 
No seu epílogo, Hamurabi afirma que elaborou o conjunto de leis "para 
que o forte não prejudique o mais fraco, a fim de proteger as viúvas e os 
órfãos" e "para resolver todas as disputas e sanar quaisquer ofensas". 
Foi adotado no Código de Hamurabi: 
 
1 Tratado de direito penal : parte geral 1 / Cezar Roberto Bitencourt. – 24. ed. – São Paulo : 
Saraiva Educação, 2018. 
"Art. 209 – Se alguém bate numa mulher livre e a faz abortar, deverá pagar 
dez ciclos pelo feto". 
"Art. 210 – Se essa mulher morre, então deverá matar o filho dele". 
 
1.1.b - Fase da vingança divina; 
"Homens, resisti à dor, e sereis salvos" 
A administração da sanção penal ficava a cargo dos sacerdotes que, como 
mandatários dos deuses, encarregavam-se da justiça. 
Aplicavam-se penas cruéis, severas, desumanas. A "vis corpolis" era usa 
como meio de intimidação. 
No Oriente Antigo, pode-se dizer que a religião confundia-se com o Direito, 
e, assim, os preceitos de cunho meramente religioso ou moral, tornavam-
se leis vigentes. 
A legislação típica dessa fase era o Código de Manu2, mas esses 
princípios foram adotados na Babilônia, no Egito (Cinco Livros), na China 
(Livro das Cinco Penas), na Pérsia (Avesta) e pelo povo de Israel. 
 
1.1.c Fase da vingança pública. 
Com uma sociedade um pouco mais organizada, especialmente no que 
tangia ao desenvolvimento do poder político, surge, no seio das 
comunidades, a figura do chefe ou da assembleia. 
A pena, portanto, perde sua índole sacra para transformar-se em uma 
sanção imposta em nome de uma autoridade pública, a qual 
representava os interesses da comunidade em geral. 
Não era mais o ofendido, ou mesmo os sacerdotes, os agentes 
responsáveis pela sanção, mas sim o soberano (rei, príncipe, 
 
2 O código de Manu é tido como a primeira organização geral da sociedade sob a forte motivação 
religiosa e política. Nele, há uma série de ideias sobre valores, tais como verdade, justiça e 
respeito. Mas o mais importante é que seu conteúdo é baseado no sistema de Varnas (castas), 
que define que a casta é preponderante para determinar o valor da honra e da situação da pessoa 
dentro do direito. (http://www.cidadederibeiraopreto.com.br/descritivo5085-o-que-e-o-codigo-de-
manu.html). 
regente). Este exercia sua autoridade em nome de Deus e cometia 
inúmeras arbitrariedades. 
A pena de morte nesta época era uma sanção largamente difundida e 
aplicada por motivos que hoje são considerados insignificantes. Usava-se 
mutilar o condenado, confiscar seus bens e estender a pena além da 
pessoa do apenado, geralmente atingia-se até os familiares do 
delinquente. 
Embora a criatura humana vivesse aterrorizada período da história, devido 
à falta de segurança jurídica, verificou-se um grande avanço no fato de 
a pena não ser mais aplicada por terceiros, e sim pelo Estado. 
 
1.2. Direito Penal Romano, Germânico, Canônico, Comum. 
1.2.a Direito Penal Romano3 
A história do Direito Romano divide-se em várias etapas, as quais 
percorreram 22 séculos (de 753 a.C. a 1453 d.C.) de grandes 
transformações. 
Em matéria penal, o poder dos magistrados, intitulado coercitio, era 
totalmente discricionário e limitado apenas pela apelação ao povo 
(provocatio ad populum), direito exclusivo do cidadão romano. 
Portanto, dele não se podiam valer as mulheres, os escravos e os 
estrangeiros. 
Por força da possibilidade de apelação ao povo, mesmo não existindo o 
princípio da reserva legal, as decisões passaram a se revestir de 
fundamentação, proporcionando maior segurança jurídica aos cidadãos 
romanos. 
A elaboração da Lei das XII Tábuas foi fundamental para a evolução do 
Direito Romano, já que disciplinou a utilização da vingança privada. Com 
o passar do tempo a administração da justiça foi transferida do particular 
para um poder estatal central. 
 
3 Direito penal esquematizado – Parte geral – vol.1 / Cleber Masson. – 9.ª ed. rev., atual. e ampl. 
– Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015. 
De igual modo, o Direito Romano passou por um período de laicização, 
deixando a lei de ser uma mensagem dos deuses. Prescrevia a Lei das XII 
Tábuas: “O que os sufrágios do povo ordenaram em último lugar, essa é 
a lei”4. 
 
1.2.b Direito Penal Germânico5 
Não tinha leis escritas. Caracterizava-se como direito consuetudinário, 
concebido como uma ordem de paz. Sua transgressão poderia assumir 
caráter público ou privado: se público, impunha-se a perda da paz, 
consistente na ausência de proteção jurídica, podendo o agressor ser 
perseguido e morto por qualquer pessoa; se privado o crime, o infrator era 
entregue à vítima ou a seus familiares para que exercessem o direito de 
vingança. Havia penas de morte, corporais (mutilação), exílio etc. 
Mais tarde, por influência do Direito Romano e do Cristianismo, foram 
adotadas a Lei do Talião e a composição, demonstrando traços de 
proporcionalidade no Direito Penal germânico. 
Em decorrência da instituição de um poder público, representante da 
vontade do povo, a pena de morte passou a poder ser substituída por um 
preço da paz (semelhante a uma fiança), em que o violador da lei pagava 
uma pecúnia em troca de sua liberdade. Como destaca Aníbal Bruno: 
A porção penal das leis germânicas – Leges barbarorum, da época franca, 
e outras posteriores a essa compilação – tornou-se, na sua maior parte, 
um minucioso tabelamento de taxas penais, variáveis segundo a 
 
4 Em 451 a.C. um decenvirato (um grupo de dez homens) foi designado para preparar o projeto 
do código. Supõe-se que os romanos enviaram uma embaixada para estudar o sistema legal dos 
gregos, em especial as leis de Sólon, possivelmente nas colônias gregas do sul da península 
Itálica, conhecida então como Magna Grécia. 
Os dez primeiros códigos foram preparados em 451 a.C. e, em 450 a.C., o segundo decenvirato 
concluiu os dois últimos. As Doze Tábuas foram então promulgadas, havendo sido literalmente 
inscritas em doze tabletes de madeira que foram afixados no Fórum romano, de maneira a que 
todos pudessem lê-las e conhecê-las. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_das_Doze_Tábuas 
 
5 Direito penal esquematizado – Parte geral – vol.1 / Cleber Masson. – 9.ª ed. rev., atual. e 
ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro_Decenvirato
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Leis_de_S%C3%B3lon&action=edit&redlink=1
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pen%C3%ADnsula_It%C3%A1lica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pen%C3%ADnsula_It%C3%A1lica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Magna_Gr%C3%A9cia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Segundo_Decenvirato
https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%B3rum_romano
gravidade das lesões e também a categoria do ofendido, ou a sua idade 
ou sexo. 
Era o sistema da composição pecuniária (Vehgeld), que muito bem 
substituía a vingança privada, no qual predominava a responsabilidade 
penal objetiva.Em relação às provas, acolhiam-se as ordálias ou juízos de deus, 
caracterizadas por superstições e atos cruéis, sem chances de defesa 
para os réus, que deveriam, por exemplo, caminhar sobre o fogo ou 
mergulhar em água fervente, sem suportar ferimentos, para que fosse 
provada a sua inocência, razão pela qual quase nunca se livravam das 
bárbaras punições. 
 
1.2.c Direito Penal Canônico6 
É o ordenamento jurídico da Igreja Católica Apostólica Romana, e a 
primeira consolidação de suas normas e regras se deu por volta do ano de 
1140, por decreto de Graciano. 
Inicialmente, teve caráter meramente disciplinar, destinando-se apenas 
aos seus membros. Aos poucos, com a crescente influência da Igreja e 
enfraquecimento do Estado, estendeu-se a religiosos e leigos, desde que 
os fatos tivessem conotação religiosa. Serviu-se do procedimento de 
inquisição: início de ofício, utilização de tortura e penas cruéis. 
Nada obstante predominasse à época o caráter retributivo da pena, no 
Direito Penal canônico a pena se dirigia à cura do delinquente, à sua 
recuperação, pois se destinavam ao seu arrependimento perante a 
divindade (poenas medicinales). E, como destaca Aníbal Bruno: 
Era natural que nesse Direito a pena tivesse caráter sacral, mas, embora 
fosse, em princípio, de base retribucionista, vingança divina, vingança zelo 
justitiae et bono animo e não vingança amore ipsius vindictae, dirigia-se 
também à correção do criminoso. Apesar da rudeza dos tempos e dos 
 
6 Direito penal esquematizado – Parte geral – vol.1 / Cleber Masson. – 9.ª ed. rev., atual. e 
ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015. 
excessos e crueldades dos hereges, deve-se à Igreja ter contribuído para 
a disciplina da repressão anticriminal e o fortalecimento da autoridade 
pública; pelo combate à prática da vingança privada com a instituição das 
tréguas de Deus e do asilo religioso. Reagiu, assim, contra o espírito 
individualista do Direito germânico, apressando a marcha do Direito 
punitivo para a pena pública como única sanção justa e regular. 
Diferentemente dos germanos, aqui preponderava o elemento 
subjetivo para a incriminação de alguém. 
A jurisdição eclesiástica era dividida em dois grupos: em razão da pessoa 
(ratione personae) e em razão da matéria (ratione materiae). Na primeira, 
o religioso era sempre julgado por um Tribunal da Igreja, 
independentemente do crime praticado. Na segunda, por seu turno, a 
competência eclesiástica era fixada ainda que o crime fosse cometido por 
um leigo. 
Os delitos se dividiam em: Delicta eclesiastica: ofendiam o direito divino, 
eram da competência dos tribunais eclesiásticos e punidos com 
penitências; 
Delicta mera secularia: ofendiam apenas a ordem jurídica laica, eram 
julgados pelos tribunais do Estado e suportavam as penas comuns. 
Eventualmente, sofriam punição eclesiástica com as poena medicinales; e 
Delicta mixta: violavam as ordens religiosa e laica, e eram julgados pelo 
Tribunal que primeiro tivesse conhecimento da ofensa. Pela Igreja eram 
punidos com as poena vindicativae (vingança). 
Contribuiu consideravelmente para o surgimento da prisão moderna, 
principalmente no tocante à reforma do criminoso. Do vocábulo 
“penitência” derivam os termos “penitenciária” e “penitenciário”. O cárcere, 
como instrumento espiritual de castigo, foi desenvolvido pelo Direito 
Canônico, uma vez que, pelo sofrimento e pela solidão, a alma do homem 
se depura e purga o pecado. A penitência visava aproximar o criminoso de 
Deus. 
Nas palavras de João Bernardino Gonzaga: 
De acordo com o pensamento da Igreja, a prisão penal 
não se destinava a castigar o condenado, mas a levá-lo 
ao isolamento propício à reflexão salvadora, bem como 
servia para impedir que ele continuasse a exercer más 
influências no rebanho cristão. 
Com a doutrina da Igreja, a prática das ordálias7 ou juízos de Deus, comum 
ao povo germânico, decaiu significativamente. 
 
1.2.a Direito Penal Comum8 
O Direito comum, produto da reunião do Direito Romano, do Direito 
germânico e do Direito Canônico com os direitos locais. 
Importante ressaltar que essa época foi palco de grandes injustiças e 
horrores, caracterizada pela arbitrariedade do Judiciário, o qual criava 
e extinguia definições de crimes ao seu bel-prazer, de acordo com 
seus interesses, bem como pela crueldade na execução das penas que, 
aliás, eram diferentes para nobres e plebeus, muito mais brutais para os 
últimos. 
Podem ser apontadas como penas desse tempo: forca, fogueira, 
arrancamento das vísceras, enterramento com vida, afogamento, 
esquartejamento, mutilações (pés, mãos, lábios, orelhas e castração), 
entre outras de semelhante natureza. 
Os condenados eram julgados mediante o arbítrio do Estado, intimamente 
vinculado com a ordem cristã, sem a possibilidade de defesa ou de um 
devido processo legal. Torturava-se para a obtenção de confissões e da 
verdade, mormente em relação às “feiticeiras” (mulheres que detinham 
conhecimentos medicinais). 
 
7 Ordálio ou ordália, também conhecida como juízo de Deus (judicium Dei, em latim), é um tipo 
de prova judiciária usado para determinar a culpa ou a inocência do acusado por meio da 
participação de elementos da natureza e cujo resultado é interpretado como um juízo divino. 
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordália) 
8 Direito penal esquematizado – Parte geral – vol.1 / Cleber Masson. – 9.ª ed. rev., atual. e 
ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Latim
https://pt.wikipedia.org/wiki/Prova
https://pt.wikipedia.org/wiki/Direito_processual
https://pt.wikipedia.org/wiki/Culpa
https://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza
A razão da vingança social ou divina e o objetivo da intimidação e 
exemplaridade justificavam os excessos, amparados pelas leis confusas e 
indeterminadas, normalmente prolixas, e interpretadas em conformidade 
com o arbítrio da Igreja e dos juízes por ela doutrinados. 
 
1.3. Escolas Penais: Clássica, Positiva, Técnico-Jurídica. 
Escola penal pode ser conceituada como um conjunto de princípios e 
teorias cujo escopo e estudar e explicar o Direito Penal, no que tange ao 
comportamento do indivíduo e à aplicação das penas. 
 
1.3.a – Escola Clássica9 
A nomenclatura Escola “Clássica” foi desenvolvida pejorativamente pelos 
positivistas, em face da divergência de pensamentos sobre os conceitos 
estruturais do Direito Penal. 
A Escola Clássica nasceu entre o final do século XVIII e a metade do 
século XIX como reação ao totalitarismo do Estado Absolutista, 
filiando-se ao movimento revolucionário e libertário do Iluminismo. 
Vivia-se o “século das luzes”. 
Seus fundamentos tiveram origem nos estudos de Beccaria10 e foram 
lapidados e desenvolvidos, principalmente, pelos italianos Francesco 
Carrara, autor da obra Programa del corso di diritto criminale, publicada 
em 1859; Carmignani, que escreveu Elementa juris criminalis, publicado 
em 1847; e Rossi, que contribuiu com o Trattato di diritto penale, de 1859. 
Outros famosos representantes da Escola Clássica foram Mittermaier 
e Birkmeyer, na Alemanha, Ortolan e Tissot, na França, e F. Pacheco 
e J. Montes, na Espanha. 
Todos eles tinham em comum a utilização do método racionalista e 
dedutivo (lógico) e eram, em regra, jusnaturalistas, ou seja, aceitavam 
 
9 Direito penal esquematizado – Parte geral – vol.1 / Cleber Masson. – 9.ª ed. rev., atual. e ampl. 
– Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015. 
10 Dos Delitos e Das Penas 
que normas absolutas e naturais prevalecessem sobre as normas do 
direito posto. 
Basicamente, suas notas fundamentais eram: 
a) entendiam o crime como um conceito meramente 
jurídico, tendo como sustentáculo o direito natural. Para Francesco 
Carrara, crime é “a infração da lei do Estado promulgada para proteger a 
segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem, positivo 
ou negativo, moralmente imputável e politicamentedanoso”; 
b) predominava a concepção do livre-arbítrio, isto é, 
o homem age segundo a sua própria vontade, tem a liberdade de escolha 
independentemente de motivos alheios (autodeterminação). Logo, por ser 
possuidor da faculdade de agir, o homem é moralmente responsável 
pelos seus atos; e por ser responsável, àquele que infringiu a norma 
penal deve ser imposta uma pena, como forma de retribuição pelo crime 
cometido. Se, ao contrário, o agente não estava em suas perfeitas 
condições psíquicas (ausência da faculdade de agir, 
inimputabilidade), não pode ser punido. 
Foi sob a influência dos pensamentos de Kant e Hegel que a concepção 
retribucionista do Direito Penal se desenvolveu. Ou seja, a única 
finalidade da pena consistia na aplicação de um mal ao infrator da lei 
penal. A sanção penal era, na verdade, um castigo necessário para o 
restabelecimento do Direito e da justiça. Para Moniz Sodré, em relação ao 
condenado, a pena: 
Não lhe é imposta somente como um meio eficaz de defesa social, senão 
também, e muito principalmente, como um castigo devido a todo culpado; 
não é considerada um remédio contra o crime, mas uma punição 
merecida, em vista do mal que voluntariamente fez. Ela é aplicada, não 
em nome da conservação da sociedade, mas para a satisfação da justiça. 
Em decorrência do ideal iluminista, prevaleceu a tendência de eliminar as 
penas corporais e os suplícios. Além disso, outra contribuição dessa 
escola refere-se à passagem do caráter de vingança real ou religioso da 
pena para aquela tida como uma resposta da própria sociedade, a fim de 
manter sua própria segurança. 
 
1.3.b – Escola Positiva11 
 
O avanço das ciências humanas e biológicas operado no final do século 
XIX marcou a decadência da Escola Clássica. Além disso, cumpre lembrar 
que os anseios em face do Direito Penal eram outros. Já não se via mais 
o antigo absolutismo do Estado ou o antigo arbítrio, violência e injustiça 
penal da época da Idade Média. A maior preocupação na segunda metade 
do século XIX era a crescente criminalidade: “Os homens sentiam-se 
solidários com a ordem social e jurídica, e desejosos de opor proteção 
eficaz à ameaça do crime”. 
A maior distinção entre as duas escolas reside menos nas conclusões 
particulares e mais no método “[...] – dedutivo, de lógica abstrata, para 
a escola clássica, – indutivo e de observação dos fatos para a escola 
positiva; aquela tendo por objeto o ‘crime’ como entidade jurídica, esta, 
ao contrário, ‘o delinquente’ como pessoa, revelando-se mais ou 
menos socialmente perigosa pelo delito praticado”. 
Ao voltarem os olhos ao delinquente, os positivistas centraram sua 
análise na morfologia e na psicologia. Analisaram a criminalidade, 
observando suas causas, e se utilizaram, com frequência, da estatística. 
Note-se que a Escola Clássica via o crime como “entidade jurídica”, 
enquanto a Escola Positiva o encarava como fato social e humano. 
Roberto Lyra, representante do positivismo no Brasil, asseverou que, ao 
assim procederem, os positivistas contemplavam o delito em “seu aspecto 
real”, isto é, como um “fenômeno natural e social”. 
Com referência ao fundamento da pena, a Escola Positivista discordava 
seriamente da Clássica. 
 
11 Direito penal : parte geral (arts. 1º a 120) / André Estefam. – 7. ed. – São Paulo : Saraiva 
Educação, 2018. 
A questão do livre-arbítrio, defendida pelos clássicos, era completamente 
rejeitada em nome de um verdadeiro determinismo. 
Ou o homem nasce livre e deve ser punido conforme suas escolhas 
voluntárias ou, desde o nascimento, já está determinado a ser um 
criminoso, em função de sua raça, sua psicologia, sua fisionomia e demais 
fatores biológicos e sociais. Para os positivistas (com diferentes matizes), 
a segunda assertiva era a verdadeira. 
Ademais, segundo os positivistas, a Escola Clássica, com seu método 
dedutivo ou de lógica abstrata, perdera de vista o “protagonista vivo e 
presente” da justiça penal, isto é, o criminoso. 
Sendo esta uma das razões pelas quais suas proposições teriam 
contribuído para um “contínuo aumento da criminalidade e da recidiva”. 
Em função desse quadro, Ferri, Garofalo e, sobretudo, Lombroso 
reagiram com a criação da antropologia criminal, ciência auxiliar do 
Direito Penal. Embora louváveis suas intenções (redução da criminalidade, 
defesa social, entre outras), o que chama mais atenção são os exageros 
a que chegaram. 
Na célebre classificação de criminosos desenvolvida por Lombroso e 
aplaudida pelos demais positivistas, havia, ao lado do criminoso louco, 
habitual, ocasional e passional, a famigerada figura do criminoso 
nato, uma variedade particular da raça humana! Diz-se que fora em 
1871, ao abrir o crânio de um criminoso chamado Vilela e verificar 
determinadas anomalias, que Lombroso teve sua inspiração. 
Além disso, partindo de seu método indutivo (em contraposição ao método 
dedutivo da Escola anterior), chegaram ao absurdo de traçar 
características morfológicas dos delinquentes (atavismo). 
Acrescente-se, ainda, o fato de que, nesta Escola, a pena não tinha papel 
retributivo, mas fundamentalmente preventivo. Não sendo possível 
corrigir os criminosos, serviria como instrumento de defesa social. A 
sanção aplicável não se balizava somente pela gravidade do ilícito, mas, 
sobretudo, pela periculosidade do agente. 
 
1.3.c – Escola Técnico-Jurídica 
Conforme síntese de Bitencourt (2007, p. 62): “Pode -se apontar como as 
principais características da Escola Técnico-Jurídica: a) o delito é pura 
relação jurídica, de conteúdo individual e social; b) a pena constitui uma 
reação e uma consequência do crime (tutela jurídica), com função 
preventiva geral e especial, aplicável aos imputáveis; c) a medida de 
segurança — preventiva — deve ser aplicável aos inimputáveis; d) 
responsabilidade moral (vontade livre); e) método técnico-jurídico; e f) 
recusa o emprego da filosofia no campo penal”. 
 
2. Evolução Histórica do Direito Penal Brasileiro: Períodos Colonial, 
Imperial, Republicanos. 
 
O Direito Penal brasileiro, num primeiro período, regeu-se pela legislação 
portuguesa, e, só num segundo período, por legislação genuinamente 
brasileira. Essa história pode ser, para fins didáticos, ser resumida em três 
fases principais, a saber: período colonial, imperial e período republicano. 
 
2.1. Período Colonial12 
A partir do descobrimento do Brasil, em 1500, passou a vigorar em nossas 
terras o Direito lusitano. Nesse período, vigoravam em Portugal as 
Ordenações Afonsinas, publicadas em 1446, sob o reinado de D. Afonso 
V, consideradas como primeiro código europeu completo. Em 1521, foram 
substituídas pelas Ordenações Manuelinas, por determinação de D. 
Manuel I, que vigoraram até o advento da Compilação de Duarte Nunes 
de Leão, em 1569, realizada por determinação do rei D. Sebastião. Os 
ordenamentos jurídicos referidos não chegaram a ser eficazes, em razão 
das peculiaridades reinantes na imensa colônia. Na realidade, havia uma 
 
12 Tratado de direito penal : parte geral 1 / Cezar Roberto Bitencourt. – 24. ed. – São 
Paulo : Saraiva Educação, 2018 
inflação de leis e decretos reais destinados a solucionar casuísmos da 
nova colônia; acrescidos dos poderes que eram conferidos com as cartas 
de doação, criavam uma realidade jurídica muito particular. O arbítrio dos 
donatários, na prática, é que estatuía o Direito a ser aplicado, e, como 
cada um tinha um critério próprio, era catastrófico o regime jurídico do 
Brasil Colônia. 
Pode-se afirmar, sem exagero, que se instalou tardiamente um regime 
jurídico despótico, sustentado em um neofeudalismo luso-brasileiro, com 
pequenos senhores, independentes entre si, e que, distantes do poder da 
Coroa, possuíam um ilimitado poder de julgar e administrar os seus 
interesses. De certa forma, essa fase colonial brasileira reviveu os 
períodos mais obscuros, violentos e cruéis da História da Humanidade,vividos em outros continentes. 
Formalmente, a lei penal que deveria ser aplicada no Brasil, naquela 
época, era a contida nos 143 títulos do Livro V das Ordenações Filipinas, 
promulgadas por Filipe II, em 1603. 
Orientava-se no sentido de uma ampla e generalizada criminalização, com 
severas punições. Além do predomínio da pena de morte, utilizava outras 
sanções cruéis, como açoite, amputação de membros, as galés, degredo 
etc. Não se adotava o princípio da legalidade, ficando ao arbítrio do 
julgador a escolha da sanção aplicável. Esta rigorosa legislação regeu a 
vida brasileira por mais de dois séculos. O Código Filipino foi ratificado em 
1643 por D. João IV e em 1823 por D. Pedro I. 
 
2.2. Período Imperial13 
A Constituição brasileira de 1824 determinou a urgente e imperiosa 
necessidade de elaboração de “um Código Criminal, fundado nas 
sólidas bases da justiça e da equidade” (art. 179, XVIII). Em 1827, 
Bernardo Pereira de Vasconcellos e José Clemente Pereira apresentaram, 
 
13 Tratado de direito penal : parte geral 1 / Cezar Roberto Bitencourt. – 24. ed. – São 
Paulo : Saraiva Educação, 2018 
individualmente, um projeto de código criminal, ambos de excelente 
qualidade. Preferiu-se, no entanto, o de Bernardo Pereira de Vasconcellos 
“por ser aquele que, mais amplo ao desenvolvimento das máximas 
jurídicas e equitativas, e por mais munido na divisão das penas, cuja 
prudente variedade muito concorria para a bem regulada distribuição 
delas, poderia mais facilmente levar-se a possível perfeição com menor 
número de retoques acrescentados àqueles que já a comissão lhe dera, 
de acordo com seu ilustre autor”. Em 1830, o imperador D. Pedro I 
sancionou o Código Criminal, primeiro código autônomo da América 
Latina. Destacava Aníbal Bruno que o novo texto fundou-se nas ideias de 
Bentham, Beccaria e Mello Freire, no Código Penal francês de 1810, no 
Código da Baviera de 1813, no Código Napolitano de 1819 e no Projeto 
de Livingston de 1825. Todavia, não se filiou estritamente a qualquer 
deles, “tendo sabido mostrar-se original em mais de um ponto”. 
Com efeito, o Código Criminal do Império surgiu como um dos mais 
bem elaborados, influenciando grandemente o Código Penal 
espanhol de 1848 e o Código Penal português de 1852, por sua 
clareza, precisão, concisão e apuro técnico. 
Dentre as grandes inovações, nosso Código consagrou, como destacam 
Régis Prado e Zaffaroni, o sistema dias-multa em seu art. 55, tido, 
equivocadamente, como de origem nórdica. 
O Código de Processo Criminal somente surgiu em 1832. 
 
2.2. Período Republicano14 
Com o advento da República, João Baptista Pereira foi encarregado de 
elaborar um projeto de Código Penal, que restou aprovado e publicado 
em 1890, antes, portanto, da Constituição de 1891. 
Esse Código, criado às pressas, desapontou pelas suas inúmeras 
falhas. Ignorou os avanços e tendências mundiais que se faziam sentir em 
 
14 Direito penal esquematizado – Parte geral – vol.1 / Cleber Masson. – 9.ª ed. rev., atual. e ampl. 
– Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015. 
razão do positivismo, bem como os exemplos de códigos estrangeiros, 
notadamente o Código Zanardelli15. 
Seus equívocos e deficiências acabaram transformando-o em verdadeira 
colcha de retalhos. Era enorme a quantidade de leis extravagantes que, 
finalmente, se concentraram na Consolidação das Leis Penais, de 
Vigente Piragibe, promulgada em 1932. 
Durante o Estado Novo, em 1937, Alcântara Machado apresentou um 
projeto de Código Penal brasileiro, o qual foi sancionado em 1940, 
passando a vigorar desde 1942 até os dias atuais, alterado por diversas 
leis contemporâneas, tais como a Lei 6.414/1977, atualizando as sanções 
penais, e a Lei 7.209/1984 – Reforma da Parte Geral do Código Penal. 
A reforma da Parte Geral humanizou as sanções penais e adotou penas 
alternativas à prisão, além de reintroduzir o sistema de dias-multa. 
Em 1969 foi aprovado o Projeto de Nélson Hungria para criação de 
um novo Código Penal. 
Entretanto, deu-se sua revogação quando ainda se encontrava em vacatio 
legis. 
 
 
15 Giuseppe Zanardelli (Brescia, 29 de Outubro de 1826 — 26 de Dezembro de 1903) foi um 
político italiano. Ocupou o cargo de primeiro-ministro da Itália entre 15 de Fevereiro de 1901 até 
3 de Novembro de 1903. Ele se formou em direito na Universidade de Pavia como um estudante 
do Colégio Ghislieri. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Brescia
https://pt.wikipedia.org/wiki/29_de_Outubro
https://pt.wikipedia.org/wiki/1826
https://pt.wikipedia.org/wiki/26_de_Dezembro
https://pt.wikipedia.org/wiki/1903
https://pt.wikipedia.org/wiki/Primeiro-ministro
https://pt.wikipedia.org/wiki/It%C3%A1lia
https://pt.wikipedia.org/wiki/15_de_Fevereiro
https://pt.wikipedia.org/wiki/1901
https://pt.wikipedia.org/wiki/3_de_Novembro
https://pt.wikipedia.org/wiki/1903

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