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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E FILOSOFIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGION AL A INFLUÊNCIA DAS EMPRESAS DE FOMENTO MERCANTIL ( FACTORING) SOBRE AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE RIO DO SUL MARCOS ROBERTO CARDOSO BLUMENAU 2008 MARCOS ROBERTO CARDOSO A INFLUÊNCIA DAS EMPRESAS DE FOMENTO MERCANTIL ( FACTORING) SOBRE AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE RIO DO SUL Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Desenvolvimento Regional, do Centro de Ciências Humanas e da Comunicação da Universidade Regional de Blumenau, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional. Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo Negrão Bizzotto BLUMENAU 2008 A INFLUÊNCIA DAS EMPRESAS DE FOMENTO MERCANTIL ( FACTORING) SOBRE AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE RIO DO SUL Por MARCOS ROBERTO CARDOSO Dissertação apresentada para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional, pela banca examinadora formada por: ______________________________________________________________ Presidente: Prof. Dr. Carlos Eduardo Negrão Bizzotto, Orientador, FURB _____________________________________________________________ Membro: Profa. Dra. Cristiane Mansur de Moraes Souza - FURB _____________________________________________________________ Membro externo: Prof. Dr. Fábio Alexandrini - UNIDAVI _____________________________________________________________ Membro suplente: Prof. Dr. Oscar Dalfovo - FURB Blumenau, dezembro de 2008 AGRADECIMENTOS O término deste trabalho traz a satisfação da conclusão e, ao mesmo tempo, o sentimento de dívida e gratidão para com aqueles que, direta e indiretamente, estiveram presentes nesta jornada, pessoas que, com colaboração e compreensão, muitas vezes pela minha ausência, contribuíram para que fosse possível a realização desta obra. Agradeço especialmente a minha esposa Manuela, companheira paciente e dedicada de tantos anos, e ao meu filho André, orgulho e maior acontecimento da minha vida. Incentivadores incansáveis, de acolhida certa nos momentos de dificuldade e incerteza. Agradeço aos meus pais, Avelino e Lourdes, por todo o sacrifício realizado por mim, pela educação e pela força que sempre me transmitiram e ensinaram a ter na busca dos meus objetivos e, acima de tudo, pela lição de vida que me passam a cada dia. Aos meus irmãos, Ronaldo, Ivan e Darclé, que estiveram atentos a cada passo, torcendo, apoiando, vibrando fazendo um pouco deles, também, esta conquista. A idade, o tempo e os afazeres podem ter diminuído as possibilidades de convivência, mas a proximidade afetiva conquistada desde a infância permanece intacta. Agradeço a Manuel e Fernanda, sogro e sogra, avô e avó do André, pela presença e carinho. Para mim, na verdade, segundo pai e segunda mãe, que me viram crescer, não desde tão pequeno, mas o suficiente para ter neles fonte de consulta e sabedoria que ajudaram, também, a guiar meus passos. Agradeço ao Prof. Dr. Carlos Eduardo Negrão Bizzotto por aceitar ser meu orientador e pelas precisas e tranqüilas considerações, indicações e correções, que direcionaram tão bem o foco deste trabalho. Aos amigos Cátia Dagnoni, mestra e logo doutora, historiadora invejável e companheira de academia; à eficiente e paciente Janaína Caetano, futura economista, que organiza e torna mais leve a minha rotina e a Solano André Cunha, parceiro na música e na vida. Enfim, agradeço à UNIDAVI pelo apoio financeiro e pelo espaço acadêmico que me tem dado; ao Prof. Dr. Fábio Alexandrini e ao Prof. Msc. Arnaldo Kuroski pela amizade e pelas precisas considerações; à Profa. Msc. Marilei Kroetz pelo auxílio nas pesquisas; ao Prof. Luiz Alberto Neves, companheiro de inúmeros projetos; à economista Mariléia Gunther pelo apoio na realização das pesquisas, leituras, busca e prospecção de dados. A lista de agradecimentos poderia ser mais extensa, pois foram muitos os que me dispensaram seus préstimos, carinho e amizade. Por isso, acima de tudo, agradeço a Deus por ter colocado em minha vida pessoas maravilhosas que, aqui citadas ou não, tanto contribuíram para o meu crescimento intelectual, profissional e humano. “Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente.” Érico Veríssimo RESUMO Nesta dissertação, objetiva-se avaliar a influência das empresas de fomento mercantil – as denominadas factorings - sobre a atividade empresarial do município de Rio do Sul, em Santa Catarina. Por isso, apresenta-se conceitos, exemplos e dados que podem contribuir para o conhecimento e compreensão do potencial de contribuição econômica do factoring para o município pesquisado. Inicialmente, descreve-se as características, importância e representatividade das micro e pequenas empresas, ressaltando questões que envolvem sustentabilidade, em especial o crédito. Em seguida, aborda-se a atividade do factoring: histórico, características, modalidades e formas de atuação junto às empresas, distinguindo-o de outras atividades com as quais é confundido. Por fim, analisa-se os dados coletados junto às micro e pequenas empresas estabelecidas no município de Rio do Sul para verificar a contribuição do fomento mercantil para a atividade empresarial. Palavras-chave: Factoring. Micro e Pequenas Empresas. Sustentabilidade. Rio do Sul. ABSTRACT This present dissertation has as objective to evaluate the trade foment companies’ influence, the factorings, about the corporate activity from the county of Rio do Sul / SC. The work presents concepts, examples and facts, that intend to amplify the knowledge and understanding of action and factoring’s potential to economical contribution for the country. In the beginning, it is made the characteristics presentation, importance and representatively, in specially the credit. Following, questions related to the factoring activity are approached, its historic, characteristics, modalities, action’s forms, the distinction between the activities with it is confused and how it has worked with the companies’ activity. By the end an analysis is made throughout the collected facts in an applied search, of trade foments contribution at the small and micro companies established in the county of Rio do Sul. Key-words: factoring. Micro and Small Companies. Sustainability. Rio do Sul. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANFAC – Associação Nacional das Sociedades de Fomento Mercantil – factoring BACEN – Banco Central do Brasil BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CADIN – Cadastro Informativo de Créditos não Quitados do Setor Público Federal CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados CDB – Certificado de Depósito Bancário CGET – Coordenação Geral de Estatísticas do Trabalho DNRC – Departamento Nacional de Registro do Comércio FINAME – Financiamento de Máquinas e Equipamentos IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IF – Instituições Financeiras IOF – Imposto Sobre Operações Financeiras IR – Imposto de Renda ISS – Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior ME – Micro Empresa MPE – Micro e Pequena Empresa MPME – Micro, Pequenas e Médias Empresas MTE – Ministério do Trabalho e Emprego PIB – Produto Interno Bruto RAIS – Relatório Anual de Informações Sociais RDB – Recibo de Depósito Bancário SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SECEX – Secretaria deComércio Exterior SERASA – Centralização de Serviços dos Bancos S.A SPC – Serviço de Proteção ao Crédito SPPE – Secretaria de Políticas Públicas de Emprego STF – Supremo Tribunal Federal LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 - Fluxo das operações de factoring..........................................................................54 Figura 02 - Localização da cidade de Rio do Sul .....................................................................67 Gráfico 01 - Número de empresas por porte no Brasil – 2002.................................................23 Gráfico 02 - Taxa de mortalidade das MPEs formalmente constituídas ..................................27 Gráfico 03 - Taxa (%) estadual de mortalidade de MPE constituídas em 2005.......................28 Gráfico 04 - Crédito do sistema financeiro nacional, em percentual do PIB (jan. 1990 a fev. 2004)....................................................................................................................40 Gráfico 05 - Formas de financiamento mais utilizadas pelas MPEs ........................................42 Gráfico 06 - Formas de pagamento aceitas nas vendas a prazo (***)......................................43 Gráfico 07 - Razões alegadas pelos bancos para não conceder empréstimo (PJ) às MPEs, segundo as empresas com propostas de crédito negadas.....................................44 Gráfico 08 - Ramo de atuação da empresa...............................................................................74 Gráfico 09 - Número de empregados com vínculo empregatício em dezembro de 2007. .......75 Gráfico 10 - Situação financeira mais freqüente da empresa ...................................................78 Gráfico 11 - A empresa busca recursos financeiros em função de que necessidades ..............79 Gráfico 12 - Utiliza-se freqüentemente de empréstimos bancários ou agências de microcrédito .....................................................................................80 Gráfico 13 - Motivo pelo qual não utiliza empréstimos bancários ou agências de microcrédito ................................................................................81 Gráfico 14 - Principal dificuldade encontrada na busca de recursos financeiros junto a bancos, financeiras ou agências de microcrédito..............................................................82 Gráfico 15 - Títulos utilizados nas vendas a prazo...................................................................89 Gráfico 16 - Título de preferência ............................................................................................90 Gráfico 17 - Prazos comuns estabelecidos para as vendas.......................................................92 Gráfico 18 - Realiza consulta quando vende a prazo para verificar o risco do crédito ............92 Gráfico 19 - Motivo pelo qual utiliza os serviços das factorings.............................................97 Gráfico 20 - Como considera o factoring em relação às opções existentes no mercado financeiro .........................................................................................98 Gráfico 21 - Como considera a factoring em relação às opções existentes no mercado financeiro .........................................................................................98 Gráfico 22 - Como considera a factoring em relação às opções existentes no mercado financeiro .........................................................................................99 Gráfico 23 - Como considera a factoring em relação às opções existentes no mercado financeiro .........................................................................................99 Gráfico 24 - Como considera a factoring em relação às opções existentes no mercado financeiro .......................................................................................100 Gráfico 25 - O custo cobrado pela factoring é considerado...................................................101 Gráfico 26 - Realiza a venda dos títulos sempre com a mesma empresa de factoring..........102 Gráfico 27 - Conhece os serviços que as factorings oferecem além da compra de títulos ....103 Gráfico 28 - A factoring com a qual negocia presta serviço além da compra dos cheques pré-datados e duplicatas ................................................................103 Gráfico 29 - Serviços oferecidos pelas empresas de factoring além da compra dos cheques pré-datados e duplicatas ................................................................104 Gráfico 30 - Fator determinante para a escolha da empresa de factoring com a qual realiza negócios...............................................................................105 Gráfico 31 - A empresa consegue trabalhar melhor com o auxílio do factoring?..................106 Gráfico 32 - Desempenho da empresa após utilizar os serviços do factoring........................106 LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro 01 - Factoring: modalidades, vantagens e desvantagens ............................................60 Quadro 02 - Banco x factoring x agiotagem ............................................................................62 Tabela 01 - Classificação das empresas por número de empregados......................................20 Tabela 02 - Classificação das empresas por Receita Operacional Anual (R$ mil) .................20 Tabela 03 - Número de empresas formais em atividade no Brasil - 2002 (mil)......................21 Tabela 04 - Número absoluto de MPE no Brasil - 2003 .........................................................23 Tabela 05 - Número de estabelecimentos, por setor de atividade e porte - Brasil - 2005.......24 Tabela 06 - Evolução do número de microempresas, por setor de atividade no Brasil – 2001 a 2005.......................................................................................24 Tabela 07 - Evolução do número de pequenas empresas por setor de atividade no Brasil - 2001 a 2005 .......................................................................................25 Tabela 08 - Taxa de mortalidade das MPE formalmente constituídas....................................27 Tabela 09 - Dificultadores na gestão das empresas ativas criadas em 2005 ...........................28 Tabela 10 - Principais responsáveis pela mortalidade das MPEs criadas em 2005 ................29 Tabela 11 - Evolução do crédito total no Brasil - 2003 a 2006...............................................40 Tabela 12 - Evolução do crédito total no Brasil - 2005 a 2007...............................................41 Tabela 13 - Direcionamento das operações de fomento mercantil por segmento econômico (%) ....................................................................................65 Tabela 14 - Total de empresas - por setor e tamanho - estabelecidas em Rio do Sul (Classificação SEBRAE).....................................................................................70 Tabela 15 - Valores de z para alguns níveis de confiança........................................................72 Tabela 16 - Tempo de vida da empresa....................................................................................75 Tabela 17 - Número de empregados com vínculo empregatício em dezembro - 2004 a 2007 ................................................................................76Tabela 18 - Faturamento médio anual da empresa - 2004 a 2007...........................................76 Tabela 19 - Principal dificuldade de gestão enfrentada pela empresa.....................................77 Tabela 20 - Situação financeira da empresa referente à necessidade de capital de giro .........79 Tabela 21 - Principal forma utilizada para solucionar as necessidades de recursos financeiros ........................................................................................83 Tabela 22 - Atuação dos organismos públicos e privados para facilitar a tomada de recursos financeiros.........................................................................84 Tabela 23 - Principal dificuldade para que a empresa tenha acesso ao crédito bancário ou que a levam a evitar tomar empréstimos junto às instituições financeiras.....85 Tabela 24 - Segunda principal dificuldade para que a empresa tenha acesso ao crédito bancário ou que a levam a evitar tomar empréstimos junto às instituições financeiras............................................................................................................85 Tabela 25 - Percentual das vendas à vista ...............................................................................87 Tabela 26 - Percentual de vendas a prazo................................................................................87 Tabela 27 - Percentual das vendas a prazo (crediário) ............................................................88 Tabela 28 - Percentual das vendas com cartão de crédito .......................................................88 Tabela 29 - Percentual das vendas com cheque pré-datado ....................................................89 Tabela 30 - Percentual das vendas através de financeiras .......................................................91 Tabela 31 - Percentual das vendas através de convênios ........................................................91 Tabela 32 - Tipo de consulta efetuada quando vende a prazo.................................................93 Tabela 33 - Percentual dos títulos gerados pelas vendas a prazo negociados com factorings.....................................................................................................93 Tabela 34 - Percentual dos títulos gerados pelas vendas a prazo, mantidos em carteira.........94 Tabela 35 - Percentual dos títulos gerados pelas vendas a prazo, enviados para cobrança simples junto a banco...........................................................................94 Tabela 36 - Percentual dos títulos gerados pelas vendas a prazo, utilizados para desconto bancário ........................................................................................95 Tabela 37 - Percentual dos títulos gerados pelas vendas a prazo de descontados com agiota ...........................................................................................................96 Tabela 38 - Percentual dos títulos gerados pelas vendas a prazo, endossados e repassados a fornecedores e outros......................................................................96 Tabela 39 - Meio pelo qual soube da existência do factoring ..............................................100 Tabela 40 - Custo mensal, em percentual, cobrado pela factoring com a qual negocia........101 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................15 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA.....................................................................................16 1.2 OBJETIVOS................................................................................................................16 1.2.1 Objetivo geral ..............................................................................................................16 1.2.2 Objetivos específicos...................................................................................................16 1.3 PERGUNTAS DE PESQUISA ...................................................................................16 1.4 HIPÓTESES................................................................................................................17 1.5 JUSTIFICATIVA PARA O ESTUDO DO TEMA.....................................................17 1.6 METODOLOGIA........................................................................................................17 1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................18 2 AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS................................................................19 2.1 CARACTERIZAÇÃO.................................................................................................19 2.2 IMPORTÂNCIA E REPRESENTATIVIDADE ........................................................20 2.3 A SUSTENTABILIDADE DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS....................25 2.4 O CRÉDITO PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS.................................31 2.4.1 Breve histórico e importância do crédito.....................................................................31 2.4.2 Assimetria de informações e o crédito para as MPEs .................................................33 2.4.3 O crédito para as micro e pequenas empresas no Brasil..............................................39 3 O FACTORING..........................................................................................................47 3.1 ORIGENS HISTÓRICAS E CARACTERIZAÇÃO ..................................................47 3.2 A OPERAÇÃO DE FACTORING..............................................................................51 3.3 MODALIDADES E A ATUAÇÃO DO FACTORING..............................................55 3.4 ATIVIDADES CONFUNDIDAS COM O FACTORING..........................................61 3.4 A ATUAÇÃO DO FACTORING JUNTO À ATIVIDADE EMPRESARIAL...........62 4 O FACTORING E AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DE RIO DO SUL.66 4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.......................................................66 4.2 PESQUISA MPES RIO DO SUL -2008 .....................................................................70 4.2.1 Definição da amostra ...................................................................................................71 4.2.2 Análise dos dados .......................................................................................................74 4.2.2.1 Caracterização das empresas ......................................................................................74 4.2.2.2 Situação financeira .....................................................................................................78 4.2.2.3 Acesso ao crédito........................................................................................................80 4.2.2.4 Composição das vendas..............................................................................................86 4.2.2.5 Prazos e consultas cadastrais ......................................................................................91 4.2.2.6 Destino dos títulos gerados pelas vendas a prazo.......................................................93 4.2.2.7 A relação com o factoring..........................................................................................97 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................107 6 REFERÊNCIAS ......................................................................................................112 APÊNDICE - INSTRUMENTO DE PESQUISA .............................................................119 1 INTRODUÇÃONos últimos anos, os avanços tecnológicos, a inovação e a globalização, principalmente financeira, se tornaram traços marcantes da economia mundial, promovendo uma integração ainda maior da economia e fazendo com que a competitividade entre empresas e nações se atrele cada vez mais à capacidade de adaptação destas a um contexto de aceleradas e complexas mudanças. Nesse Cenário, o crédito caracteriza-se como um dos pontos-chave para obter, manter e ampliar vantagens competitivas. O crédito pode ser contextualizado dentro de uma série de finalidades, que vão do financiamento voltado ao consumo à nobre função de gerar recursos financeiros para dar suporte à atividade produtiva. Reconhecendo esses recursos como variáveis-chave para a manutenção dos negócios das empresas de qualquer ramo, infere-se que o acesso ao crédito e a existência de meios adequados à canalização de recursos financeiros são fatores de suma importância para economia mundial. Afinal, a prosperidade empresarial está vinculada à disponibilidade de capital ou à capacidade de obtê-lo para manter os negócios, ampliar a produção, adotar novas tecnologias e ganhar novos mercados. A função de intermediador entre agentes econômicos superavitários e deficitários é tradicionalmente exercida pelos bancos. Porém, a dificuldade das micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) oferecerem garantias e fornecerem dados sobre sua situação econômico- financeira e conduta administrativa aumentam a incerteza, tornando o crédito menor, mais caro e dificultando a obtenção de recursos junto a estes agentes financiadores. Isso é um percalço para a sustentabilidade das MPMEs que, além de uma tecnologia gerencial eficiente, precisam de crédito para manter o capital de giro e fazer investimentos. Nesse contexto, surgem as empresas de fomento mercantil, conhecidas como factorings, que agem como adquirentes de créditos obtidos nas transações mercantis e fornecem os valores necessários à manutenção e ampliação dos negócios, principalmente das MPMEs. Neste estudo, objetiva-se aprofundar os conhecimentos sobre a origem, evolução forma de atuação e importância das empresas de fomento mercantil, as quais, acredita-se, contribuem significativamente para a sobrevivência das micro, pequenas e médias empresas. 16 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA O fomento mercantil (factoring) é uma atividade expressiva para o desenvolvimento do setor produtivo de Rio do Sul/SC? Em outras palavras, o factoring tem contribuído para a melhoria das condições de funcionamento, crescimento e perpetuidade das micro e pequenas empresas estabelecidas no município? 1.2 OBJETIVOS 1.2.1 Objetivo geral Avaliar a contribuição da atividade de fomento mercantil para as micro e pequenas empresas estabelecidas no município de Rio do Sul. 1.2.2 Objetivos específicos 1. Analisar as características e a dimensão do mercado das MPEs de Rio do Sul; 2. demonstrar como o fomento mercantil tem atuado em Rio do Sul e qual sua contribuição para a manutenção e perpetuidade dos negócios das micro e pequenas empresas estabelecidas no município; 3. apontar as perspectivas do fomento mercantil na cidade de Rio do Sul. 1.3 PERGUNTAS DE PESQUISA Os objetivos do estudo foram trabalhados, respondendo as seguintes perguntas de pesquisa: 1. Quais são as contribuições do fomento mercantil para a sustentabilidade e o desenvolvimento das micro e pequenas empresas do município de Rio do Sul? 2. Quanto as micro e pequenas empresas estabelecidas em Rio do Sul têm se utilizado dos serviços disponibilizados pelas factorings? 3. Quais os impactos decorrentes da utilização dos serviços de factorings para os micro e pequenos negócios? 4. Quais são as perspectivas do fomento mercantil em Rio do Sul? 17 1.4 HIPÓTESES As hipóteses que norteiam esta pesquisa são: 1. as empresas de fomento mercantil têm sido atuantes e representam a opção desburocratizada no suporte aos negócios das micro e pequenas empresas de Rio do Sul; 2. as factorings têm disponibilizado recursos financeiros que proporcionam um melhor fluxo de caixa, viabilizam o recebimento à vista das vendas efetuadas a prazo, dinamizam e possibilitam a expansão dos negócios das micro e pequenas empresas do município; 3. o número de empresas que recorre a factorings em Rio do Sul é expressivo, sendo a taxa de mortalidade das empresas que utilizam os serviços das factorings menor do que a observada no mercado em termos gerais; 4. as factorings de Rio do Sul compram duplicatas, cheques pré-datados e têm potencial para ofertar uma ampla variedade de serviços como, por exemplo, assessoria na gestão creditícia e orientação à gestão empresarial. 1.5 JUSTIFICATIVA PARA O ESTUDO DO TEMA O interesse na investigação e na conseqüente condução destes objetivos se justifica, ao proporcionar um diagnóstico da forma como as empresas de fomento mercantil vêm atuando em Rio do Sul e como têm contribuído para a sustentabilidade e crescimento das MPEs do município. A realização deste projeto deve-se ao fato de estar o suporte financeiro diretamente ligado ao processo de crescimento econômico e, por conseqüência, ao desenvolvimento regional. Além disso, este estudo pode contribuir para que estudantes, professores, empresários e planejadores públicos aprofundem seus conhecimentos sobre as dinâmicas do desenvolvimento empresarial de Rio do Sul e do papel que as factorings desempenham neste processo. 1.6 METODOLOGIA Na busca de respostas para as questões levantadas e com o intuito de se obter bases históricas, filosóficas, econômicas e jurídicas para melhor compreender o tema, realizou-se 18 esta pesquisa bibliográfico-exploratória, com aplicação de questionário estruturado e análise quali-quantitativa. Na primeira etapa, realizou-se a revisão bibliográfica para seleção e fichamento da literatura existente, utilizando-se como fonte livros, periódicos, teses e sites que tratam do tema. Na segunda, desenvolveu-se a pesquisa exploratória através da identificação, seleção, análise e registro de dados contidos em documentos pertencentes a arquivos públicos e particulares como os do SEBRAE, IBGE, JUCESC, Prefeitura Municipal, empresas, anuários estatísticos e jornais. Na terceira, aplicou-se um questionário estruturado - com questões abertas e fechadas - aos micro e pequenos empresários do município de Rio do Sul que, por sua vez, constituem a amostra desta pesquisa. As informações obtidas foram apresentadas através de texto, tabelas e gráficos, a fim de revelar como vem agindo, qual o grau de contribuição e como é vista a atividade de fomento mercantil no município pesquisado. Na análise de dados, empregou-se técnicas, procedimentos estatísticos e comparou-se os resultados as informações obtidas nas pesquisas bibliográfica e documental. 1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho é composto por cinco capítulos. Primeiro: esta introdução. Segundo: revisão de literatura sobre micro e pequenas empresas e questões que afetam sua sustentabilidade, como as dificuldades de acesso ao crédito e obtenção de recursos financeiros. Terceiro: sobre o factoring, suas origens, caracterização, aspectos operacionais, modalidades, campos de atuação, diferenças em relação às atividades com as quais é confundido e como tem atuado junto à atividade empresarial. Quarto: caracterização da área em estudo e análise dos dados coletados na pesquisa de campo, aplicada com o intuito de elucidar a contribuição do fomento mercantil para às micro e pequenas empresas estabelecidas no município de Rio do Sul. Quinto: considerais finais que apresentam as conclusões deste estudo e recomendações para futuras pesquisas. 19 2 AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS As micro e pequenas empresas se constituem em um dos principais pilares de sustentação da economia brasileira, pois representam aproximadamente 99% das organizações existentese são responsáveis por cerca de 60% dos empregos formais do País (SEBRAE, 2004). 2.1 CARACTERIZAÇÃO A classificação das empresas quanto a ser micro ou pequena varia de acordo com o país e, em alguns casos, com a região do país, embora a formação dos blocos econômicos tenha aumentado a uniformidade entre os critérios utilizados para esta classificação. A União Européia, por exemplo, considera como micro e pequenas empresas aquelas que tenham até 250 empregados. No continente americano, os países que integram o Tratado Norte- Americano de Livre Comércio (NAFTA) - bloco econômico formado por Estados Unidos, Canadá, México e Brasil - consideram micro e pequenas empresas aquelas que possuem até 500 empregados. Na Coréia do Sul e Japão, o conceito abrange as empresas com até 300 empregados, já em Taiwan o limite é de 200 empregados. É também bastante comum a utilização de critérios mais restritos para os setores de comércio e serviços. Segundo Puga (2000), as empresas costumam também ser classificadas em função da receita bruta anual (Brasil e União Européia, por exemplo) e do capital realizado (Coréia do Sul, Japão e Taiwan). Determinados órgãos nacionais de apoio a MPEs estabelecem definições próprias. É o caso da Small Business Administration (SBA) dos Estados Unidos, que classifica as empresas de acordo com a atividade econômica, respeitando o grau de competição da indústria, o tamanho médio e as barreiras à entrada. Além da existência de critérios distintos para classificá-las, existem diferenças metodológicas na apuração de informações sobre a importância das MPEs. No Brasil, de acordo com a Lei nº. 9.841, de 1999, com valores atualizados pelo Decreto nº. 5.028, de 2004, definiu-se microempresa como a pessoa jurídica ou firma individual que tiver receita bruta anual igual ou inferior a R$ 433 mil e empresa de pequeno porte como a pessoa jurídica ou firma mercantil que tiver receita bruta anual superior a R$ 433 mil e igual ou inferior a R$ 2,2 milhões. Cabe ressaltar que estes valores são atualizados com base na variação acumulada 20 pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) ou por outro índice oficial que venha a substituí-lo. As análises de investimento e crédito do SEBRAE (2004a) consideram a classificação de porte de empresa de acordo com o número de empregados, como segue: Tabela 1 - Classificação das empresas por número de empregados SETOR MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE Indústria/Construção até 19 de 20 até 99 de 100 até 499 acima de 499 Comércio/Serviço até 09 de 10 até 49 de 050 até 099 acima de 099 Fonte: (SEBRAE, 2004a) A classificação de porte de empresa adotada pelo BNDES (2004a) e aplicável à indústria, comércio e serviços, conforme a Carta Circular nº. 64/02, de 14 de outubro de 2002, toma como base a receita operacional anual apresentada na tabela 2. Tabela 2 - Classificação das empresas por Receita Operacional Anual (R$ mil) SETOR MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE Indústria/Comércio/Serviço até 1.200 de 1.200 até 10.500 de 10.500 até 60.000 acima de 60.000 Fonte: (BNDES, 2004a) Com isso, é possível observar que mesmo existindo um decreto federal que estabelece os critérios e valores para a classificação das empresas quanto ao porte (Decreto Federal n° 5.028 de 31 de março de 2004), cada instituição adota seus próprios critérios e valores. Neste trabalho, a classificação das empresas em micro e pequenas será feita com base na proposta do SEBRAE (2004a). 2.2 IMPORTÂNCIA E REPRESENTATIVIDADE Em 2002, o total de empresas em atividade no Brasil alcançou a marca de 4.918.370 unidades divididas entre os setores da indústria, construção, comércio e serviços (IBGE, 2003). O conjunto das MPEs atingiu a significativa marca “de 99,2% do total de empresas sendo responsável por 57,2% dos empregos totais e por 26,0% da massa salarial” (SEBRAE, 2004 p. 11). Já as empresas de grande porte representaram apenas 0,3% do total das firmas, como pode ser atestado na tabela 3: 21 Tabela 3 - Número de empresas formais em atividade no Brasil - 2002 (mil) MICRO PEQUENA MÉDIA GRANDE TOTAL SETOR Unid. % Unid. % Unid. % Unid. % Unid. % Indústria 439 90,7 37 7,7 7 1,4 1 0,3 484 100 Construção 116 91,9 8 6,5 2 1,3 0,2 0,2 1.265 100 Comércio 2.338 95,4 106 4,3 5 0,2 3 0,1 2.451 100 Serviços 1.712 92,3 123 6,6 11 0,6 0,6 0,6 1.856 100 Total 4.606 93,6 274 5,6 24 0,5 0,3 0,3 4.918 100 Fonte: (IBGE, 2003) As micro e pequenas empresas têm significativa participação na economia brasileira, tanto na geração de emprego quanto no crescimento da renda. Pode-se quantificar e qualificar a relevância desses agentes utilizando-se os estudos realizados pelo IBGE (2003) e pelo SEBRAE (2004), em parceria com a Fundação Universitária de Brasília (FUBRA). Estes estudos apresentam dados e informações próximos à conjuntura atual, cujos diagnósticos demonstram relação de causa-efeito entre a atuação das empresas de menor porte e os indicadores de performance: geração de emprego, renda e valor adicionado. Os percentuais de participação de pessoal ocupado (50,7%, 47% e 60,8%) e o percentual de empresas (95,5%, 95,9% e 97,6%), respectivamente para os anos de 1985, 1994 e 2001, nos setores do comércio e serviços, segundo dados do IBGE (2003), contribuem para enfatizar a relevância das micro e pequenas empresas no mercado brasileiro. A pesquisa anual do comércio e de serviços no ano de 2001 aponta que: as MPEs estimadas nos dois setores geravam emprego para cerca de 7,3 milhões de pessoas, correspondendo a 9,7% do total da população ocupada. Respectivamente, os indicadores de receita operacional líquida e valor adicionado alcançavam R$ 168,2 bilhões e R$ 61,8 bilhões (IBGE, 2003, p. 1). Esta pesquisa, segundo o IBGE (2003), apresenta dados referentes ao acréscimo de valor adicionado por unidade de receita, através do indicador “quociente de valor adicionado”, que representa a geração de renda. Os acréscimos de remuneração aos agentes envolvidos, no caso micro e pequenas empresas, e o crescimento econômico pelo efeito do encadeamento evidenciam a elevada contribuição das empresas de pequeno porte, com 37%, em relação às de médio e grande porte, com 24%. O estudo do IBGE (2003) faz, também, uma exposição da estrutura de custos das empresas analisadas. Aparecem como componentes majoritários os itens de mão-de-obra e material utilizado, que representam cerca de 80% do total, no período de 1998 a 2001. Tais informações corroboram para a compreensão da contribuição das MPEs como geradoras de emprego e renda. 22 Em função deste potencial, há muito tempo, as micro e pequenas empresas vêm sendo alvo da atenção de analistas econômicos. A partir de meados da década passada, as discussões envolvendo a relevância das micro e pequenas empresas e a sua relação com o desenvolvimento econômico e social ganharam notável espaço entre os diversos segmentos da sociedade. La Rovere (1999) afirma que, no pós-fordismo, essa atenção se intensifica à medida que aumenta a valorização da flexibilidade e a rapidez de adaptação às demandas do mercado, que são características marcantes de muitas MPEs. A visão da importância da micro e pequena empresa nacional torna-se ainda mais clara com os números disponibilizados pelo SEBRAE (2004), que demonstram ser estas empresas formadoras de cerca de 43% da renda total dos setores industrial, comercial e de serviços, respondendo por 30% do PIB. Além disso, são responsáveis pelo emprego de aproximadamente 60% da força de trabalho e 42% da massa salarial. No entanto, participam de apenas 2% no total das exportações. O Boletim das Exportações das MPEs Industriais; as pesquisas sobre a Economia Informal Urbana (ECINF/IBGE, 2003), Mortalidade de Empresas no Brasil (SEBRAE, 2004); e as bases estatísticas como o Cadastro Central de Empresas do IBGE, os dados da RAIS do Ministério do Trabalho e Empregoe os registros de novas empresas do Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC), segundo SEBRAE (2005), apontam que: o número de microempresas no Brasil, entre 1996 e 2002, evoluiu de 2.956.749 para 4.605.607, com crescimento acumulado de 55,8%, passando a participação percentual no total de empresas de 93,2%, em 1996, para 93,6%, em 2002. Dados disponíveis no Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) apontam, ainda, que “em 2000, 64% da empresas instaladas no sul do país eram microempresas” (SEBRAE, 2004, p. 27). Segundo SEBRAE (2004), o número total de pessoas ocupadas nas microempresas passou de 6.878.964 para 9.967.201 (crescimento de 44,9%) entre 1996 e 2002, elevando a participação percentual no total de ocupações nas empresas de 31,8% para 36,2%. A participação na massa total de salários passou de 7,3%, em 1996, para 10,3%, em 2002. Já o número de pequenas empresas em atividade entre os dois anos elevou-se de 181.115 para 274.009 (crescimento de 51,3%). O número de pessoas ocupadas passou de 4.054.635 para 5.789.875 (crescimento de 42,8%), evoluindo a participação percentual no total de empregos de 18,8% para 21,0%. Entre os anos de 2002 e 2003, verifica-se crescimento maior de emprego nas micro e pequenas empresas (3,0% e 3,3%) em relação ao aumento do emprego nas médias e grandes. 23 De acordo com SEBRAE (2005), as empresas formais geraram 27.561.924 de empregos em 2002. Deste total, 57,2 % foram empregados pelas micro e pequenas empresas, somando 15.757.076 pessoas. O setor no qual as MPEs mais contrataram foi no de comércio, com 58,9% dos empregos. O segundo setor que mais gerou postos de trabalhos, neste segmento empresarial, foi o de serviços, com 28,8% do total. Pesquisas do SEBRAE (2005) e do IBGE (2003, 2005b) mostram que a quantidade de MPEs formais e informais, urbanas e rurais somam 20 milhões no Brasil (tabela 4). Tabela 4 - Número absoluto de MPE no Brasil - 2003 MPE Nº (MILHÕES) DADOS Formais, urbanas 5,717 RAIS Informais, urbanas 10,336 IBGE Rurais 4,1 INCRA Total 20,153 Fonte: SEBRAE (2005), IBGE (2003, 2005b) O IBGE (2005) divulgou um relatório específico sobre as MPEs brasileiras, informando que a participação destas no número total de empresas nacionais chega a 99,2%, conforme ilustra o gráfico 1: 0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% Micro Pequena Média Grande Micro Pequena Média Grande Gráfico 1 - Número de empresas por porte no Brasil – 2002 Fonte: IBGE (2005); Elaboração SEBRAE/UED. Site www.sebrae.org.br De acordo com os dados da RAIS (2005), somente nas áreas urbanas, existiam mais de dois milhões de micro e pequenos estabelecimentos formais com empregados no ano de 2005. A tabela 5 apresenta a distribuição destes estabelecimentos por setor de atividade e porte. 93,6% 5,6% 0,5% 0,3% 24 Tabela 5 - Número de estabelecimentos, por setor de atividade e porte - Brasil - 2005 NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS, POR SETOR DE ATIVIDADE E PORTE Porte Comércio Serviços Indústria Construção Total Micro 830.048 689.766 219.620 60.067 1.799.501 Pequena 119.300 127.669 40.492 9.159 296.620 Média 8.124 14.943 8.524 1.780 33.371 Grande 4.312 13.251 1.609 242 19.414 Total 961.784 845.629 270.245 71.248 2.148.906 Fonte: MTE.RAIS (2005) Elaboração: DIEESE Obs.: Inclui apenas os estabelecimentos com empregados Segundo o IBGE (2003), em 2003, havia no Brasil cerca de 10,3 milhões de pequenos empreendimentos informais. Quando se leva em conta a redução do número de empregos, causada pelas mudanças tecnológicas e nos processos de trabalho de grandes empresas, fica explícita a tendência deste segmento tornar-se cada vez mais representativo para a geração de trabalho e renda e, portanto, para a conformação do mercado trabalhista no País. Se por um lado, a micro ou pequena empresa é uma alternativa de ocupação para uma pequena parcela da população que tem condições de desenvolver seu próprio negócio, por outro, ela é uma alternativa de emprego formal ou informal para grande parcela da força de trabalho excedente, que não consegue emprego em empresas de maior porte, muitas vezes, por falta de qualificação. A tabela 6 expõe a evolução do número de microempresas por setor de atividade econômica entre 2001 e 2005. Tabela 6 - Evolução do número de microempresas, por setor de atividade no Brasil – 2001 a 2005 EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE MICROEMPRESAS, POR SETOR DE A TIVIDADE Setor 2001 2002 2003 2004 2005 Comércio 675.022 715.423 746.138 786.198 830.048 Serviços 600.403 628.463 644.911 666.961 689.766 Indústria 195.346 202.151 205.316 211.819 219.620 Construção 59.629 62.392 58.794 59.483 60.067 Total 1.530.400 1.608.429 1.655.159 1.724.461 1.799.501 Fonte: MTE. RAIS (2005) Elaboração: DIEESE Obs: Inclui apenas os estabelecimentos com empregados 25 Micro e pequenas empresas contribuem de forma importante para o crescimento e desenvolvimento do País, minimizando significativamente os efeitos do desemprego. Na tabela 7, observa-se os números referentes ao crescimento da quantidade de pequenas empresas no Brasil, por setor de atividade econômica, entre 2001 e 2005. Tabela 7 - Evolução do número de pequenas empresas por setor de atividade no Brasil - 2001 a 2005 EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE PEQUENAS EMPRESAS, POR SETOR DE ATIVIDADE Setor 2001 2002 2003 2004 2005 Comércio 88.941 96.265 102.439 111.748 119.300 Serviços 106.342 111.724 115.065 120.893 127.669 Indústria 34.015 35.320 36.086 39.024 40.492 Construção 8.647 8.752 8.329 8.693 9.159 Total 237.945 252.061 261.919 280.358 296.620 Fonte: MTE. RAIS (2005) Elaboração: DIEESE Obs: Inclui apenas os estabelecimentos com empregados A pesquisa SEBRAE (2005) aponta, também, que entre os anos de 1996 e 2001, as micro, pequenas e médias empresas respondiam por algo em torno de 84% dos novos empregos com carteira assinada e que os pequenos empreendimentos necessitavam de baixos investimentos. Atualmente, esse segmento é responsável pela maioria dos empregos oficialmente registrados (56%), o que corresponde a 14,5 milhões de trabalhadores. 2.3 A SUSTENTABILIDADE DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Levando-se em conta o alto índice de mortalidade das MPEs e a importância destas para a economia brasileira, percebe-se a necessidade de estudos para identificar quais variáveis limitam a sobrevivência destas empresas em longo prazo. As pesquisas do SEBRAE (2004, 2005) e SEBRAE/VOX POPULI (2007) apontam para dificuldades enfrentadas pelas empresas de menor porte, que apresentam um elevado percentual de fechamento por não conseguirem superar os entraves surgidos no decorrer de suas atividades. Estudos sobre o desempenho competitivo das MPMEs indicam que existem limitações a este desempenho que são comuns às empresas de países desenvolvidos e em desenvolvimento, tais como máquinas obsoletas, administração inadequada e dificuldades de comercialização de seus produtos em novos mercados (LEVISTKY,1996 apud LA ROVERE, 2001, p. 3). 26 Micro e pequenas empresas apresentam uso generalizado de máquinas obsoletas e baixa capacidade de inovar. Conforme Fallgatter (2006), na década de 90, quando o Brasil iniciou o processo de abertura de mercado aos produtos estrangeiros, as empresas nacionais iniciaram, internamente, por questão de sobrevivência, uma ampla transformação gerencial e tecnológica. Porém, faltou um ingrediente fundamental: a inovação. Segundo o IBGE (2000 apud FALLGATTER, 2006), no Brasil, 62% da receita líquida da indústria é proveniente de uma estrutura composta por empresas que atuam em setores de baixa e média-baixa tecnologia. Apenas 8,1% das receitas líquida da indústria nacional advêm de setores considerados de alta tecnologia. No caso das MPEs, esta característica está intimamente relacionada às dificuldades que estas empresas encontram em obter crédito. Estudoscomo ONUDI (2002), IBGE (2002) e ANPEI (2004) verificam também a relação entre o porte da empresa e sua estratégia de inovação. As conclusões apontam para uma maior concentração de inovações radicais pelas empresas de grande porte, sugerindo como possível justificativa a maior disponibilidade de recursos para investimentos em P&D e no processo de inovação de um modo geral por estas empresas, em relação às de pequeno e médio porte (FALLGATTER, 2006, p. 39). Mecanismos de crédito específicos para MPEs existem tanto nos países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, às vezes, no entanto, podem ser de difícil acesso. No Brasil, há diversas linhas de financiamento especiais para pequenas empresas, porém, a simples exigência de estar em dia com as obrigações fiscais para obter crédito exclui a maioria delas. Nos países desenvolvidos, as garantias exigidas para a concessão de empréstimos são, em geral, elevadas, impedindo a utilização destes recursos, principalmente por microempresas. Acs e Audrestch (1992 apud LA ROVERE, 2001) afirmam que as condições para a tomada do crédito por parte das MPEs são menos favoráveis do que impostas às grandes empresas. A fragilidade das empresas de menor porte no que se refere à gestão do negócio é evidente. Dados e informações precisas disponíveis fornecem os subsídios necessários para que se possa conhecer o mercado, traçar estratégias e tomar decisões. Para tanto, porém, se faz necessária uma capacitação administrativa que abranja habilidades como: formular demonstrativos, controlar custos, conhecimento de regras financeiras etc. Mas, em geral, quem está à frente do micro ou pequeno negócio não possui capacitação para as atividades de administrador. No Brasil, segundo relatório SEBRAE (2004, p. 24), “todo ano 470 mil novas empresas são criadas, porém, uma grande parcela (cerca de 200 mil) desses empreendimentos 27 fecham suas portas, acarretando, por conseguinte, impactos significativos nos indicadores sócio-econômicos das regiões e do País”. De acordo com outro estudo do SEBRAE (2005), o índice de mortalidade das micro, pequenas e médias empresas é elevado, cerca de 50% delas fecham antes de completar o segundo ano de funcionamento e 60% não atingem o quarto ano. A tabela 8 apresenta a taxa de mortalidade das MPEs formalmente constituídas nos anos de 2000, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005, em âmbito nacional e por região. Tabela 8 - Taxa de mortalidade das MPE formalmente constituídas ANO BRASIL NORTE NORDESTE CENTRO- OESTE SUDESTE SUL 2000 56,9% 53,4% 62,7% 53,9% 61,1% 58,9% 2001 56,4% 51,6% 53,4% 54,6% 56,7% 60,1% 2002 49,4% 47,5% 46,7% 49,4% 48,9% 52,9% 2003 35,9% 27,8% 38,6% 37,5% 39,1% 36,3% 2004 31,3% 28,4% 29,0% 34,6% 28,1% 36,6% 2005 22,0% 29,9% 18,9% 21,6% 16,1% 23,9% Fonte: Adaptado de SEBRAE /VOX POPULI (2007) O comportamento das taxas de natalidade e mortalidade das empresas mostra-se bastante sensível à variável “porte” das empresas. Os números expostos na tabela 8 podem ser mais bem visualizados no gráfico 2. 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Brasil Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Gráfico 2 - Taxa de mortalidade das MPEs formalmente constituídas Fonte: Adaptado de SEBRAE /VOX POPULI (2007) A pesquisa realizada pelo SEBRAE/VOX POPULI (2007) contemplou uma amostra estatisticamente representativa de 14.181 MPEs distribuídas nas 26 unidades da federação e no Distrito Federal. Na seqüência, o gráfico 3 apresenta os índices de mortalidade estadual, no Brasil, em 2005. 28 14,3 14,3 14,7 16 16,5 17,1 17,5 17,6 18,5 18,7 18,7 19,2 20,3 21,3 21,3 22 22 22,4 22,5 22,7 24,1 24,2 25,2 25,5 28,3 37,8 39,7 50,7 0 10 20 30 40 50 60 ES MG SE P I RN SP PA BA DF AL R J PB RO GO MS CE BR AS IL MA RS PE SC AM PR MT TO AP AC RR Gráfico 3 - Taxa (%) estadual de mortalidade de MPE constituídas em 2005 Fonte: SEBRAE/VOX POPULI (2007) A pesquisa representada no gráfico 3 realizou, entre 25 de abril a 30 de junho de 2007, 7.172 entrevistas com empresários de estabelecimentos de micro e pequeno porte criados em 2005, sendo 6.726 com empresas ativas e 446 com empresários que tiveram suas empresas extintas, de uma base inicial de 10.364 MPEs. A tabela 9 apresenta os fatores considerados como os maiores dificultadores na gestão das empresas ativas no Brasil, segundo dados levantados pela pesquisa. Tabela 9 - Dificultadores na gestão das empresas ativas criadas em 2005 POLITICAS PUBLICAS E ARCABOUÇO LEGAL 73% Carga tributária elevada 65% Falta de crédito bancário 22% Problemas com a fiscalização 7% CAUSAS ECONÔMICAS CONJUNTURAIS 69% Concorrência muito forte 35% Inadimplência/Maus pagadores 28% Recessão econômica no país 26% POLITICAS PUBLICAS E ARCABOUÇO LEGAL 73% Carga tributária elevada 65% Falta de crédito bancário 22% Problemas com a fiscalização 7% CAUSAS ECONÔMICAS CONJUNTURAIS 69% Concorrência muito forte 35% Inadimplência/Maus pagadores 28% Recessão econômica no país 26% Falta de clientes 22% Continua 29 Continuação FALHAS GERENCIAIS 55% Falta de capital de giro 39% Problemas financeiros 19% Falta de conhecimentos gerenciais 10% Ponto/Local Inadequado 6% Desconhecimento de mercado 4% Qualidade do produto/serviço 3% LOGISTICA OPERACIONAL 36% Falta de mão-de-obra qualificada 33% Instalações inadequadas 6% NÃO ENFRENTA NENHUMA DIFICULDADE 4% OUTRAS 0% NS/NR 0% BASE * 6.726 Fonte: SEBRAE/VOX POPULI (2007, p. 126) *Admitia respostas múltiplas As entrevistas foram distribuídas proporcionalmente por porte e setor de atividade econômica e com representatividade para cada um dos 26 estados mais o Distrito Federal e cada uma das cinco grandes regiões do país de forma suficiente para atingir a margem de erro especificada em cada nível de agregação (SEBRAE/VOX POPULI, 2007, p. 11). Os fatores apontados como principais responsáveis pela mortalidade das empresas encontram-se expostos na tabela 10. Tabela 10 - Principais responsáveis pela mortalidade das MPEs criadas em 2005 FALHAS GERENCIAIS 68% Falta de capital de giro 37% Problemas financeiros 25% Ponto/local inadequado 19% FALTA DE CONHECIMENTOS GERENCIAIS 13% Desconhecimento de mercado 11% Qualidade do produto/serviço 4% CAUSAS ECONÔMICAS CONJUNTURAIS 62% Falta de clientes 27% Concorrência muito forte 25% Inadimplência/maus pagadores 19% Recessão econômica no país 18% POLITICAS PUBLICAS E ARCABOUÇO LEGAL 54% Carga tributária elevada 43% Problemas financeiros 16% LOGISTICA OPERACIONAL 21% Falta de mão-de-obra qualificada 16% Instalações inadequadas 6% Continua 30 Continuação NÃO ENFRENTA NENHUMA DIFICULDADE 7% OUTRAS 4% NS/NR 3% BASE * 446 Fonte: SEBRAE/VOX POPULI (2007, p. 131) *Admitia respostas múltiplas A tabela 10 aponta como principais causas para as dificuldades de gestão e fechamento das empresas: falta de capital de giro, ausência de clientes, problemas financeiros, existência de maus pagadores, falta de crédito bancário, recessão econômica do País e estabelecimento em ponto ou local inadequado. Esses fatores podem estar relacionados à ausência de um planejamento estratégico, de um plano de negócios, a um planejamento mal feito (fator, nesse caso, gerencial), à conjuntura econômica e à tributação. Esse cenário fica ainda mais claro quando se observa que entre as causas apontadas para o fracasso encontram-se: falta de capital de giro, com 37% de ocorrência, indicando descontrole do fluxo de caixa; problemas financeiros, com 25%, indicando situação de alto endividamento; ponto inadequado, ocorrência de 19%, representando falhas no planejamento inicial. Esses itens somados a falta de conhecimentos gerenciais, apontado em 13% das respostas, formam um quadro de questões cruciais para as falhas de gestão dos negócios. Destacam-se, também, outros fatores como a falta de clientes, problemascom maus pagadores e a recessão econômica no País, que resultam de causas econômicas conjunturais. O fator falta de clientes pressupõe falhas no planejamento inicial da empresa. A alta carga tributária foi o item mais citado tanto pelas empresas que encerraram as atividades quanto para aquelas que continuam no mercado. Ambas destacaram as políticas públicas e os aspectos legais como fatores com alto grau de influência no gerenciamento e sustentabilidade das MPEs. O relatório SEBRAE (2004b) ressalta que, situações desfavoráveis podem ser previstas pelo empresário, se este fizer uso de técnicas administrativas. Degen (1989) afirma que o fracasso das MPEs é fruto da falta de experiência e capacidade gerencial do empreendedor, de seu conhecimento inadequado do mercado e da insuficiência de capital no início do empreendimento. Para Longenecker et al. (1998), o fracasso ocorre por causas relacionadas a fatores econômicos, financeiros e falta de experiência. Em resumo, de acordo com os dados divulgados pelas pesquisas apresentadas, pode- se concluir que os fatores responsáveis pela elevada mortalidade das empresas estão 31 preponderantemente relacionados à fragilidade gerencial. Essa fragilidade repercute de forma acentuada na condução das empresas e na sua sustentabilidade. Para as empresas de menor porte, os problemas gerenciais residem principalmente na falta de informação, de capacidade e habilidades suficientes para gerir o negócio. A falta de dados consistentes e de conhecimento administrativo prejudica a tomada de decisão, começando pela escolha do empreendimento, passando pela forma de financiamento das operações, política de vendas, estratégia de compras e estrutura de produção. A ausência de dados consistentes e tempestivos também prejudica a visão que o mercado possui a respeito da empresa afetando, inclusive e principalmente, as análises para a concessão de crédito. Berger e Undel (1998) estudam a disponibilidade das fontes de crédito em função do tamanho, idade e disponibilidade de informação sobre a empresa, deixando claro que, o desenvolvimento das habilidades de identificação e formalização dos dados do empreendimento são requisitos essenciais para uma boa administração econômico-financeira e para a capacidade de obtenção de crédito. 2.4 O CRÉDITO PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Embora tenham se destacado no contexto econômico brasileiro devido à capacidade de gerar contrapartidas sociais, as MPEs enfrentam muitos empecilhos quando o assunto é acesso ao crédito oficial e privado, pois têm sérias dificuldades para atender as exigências dos agentes financeiros para concessão dos recursos financeiros necessários ao empreendimento. 2.4.1 Breve histórico e importância do crédito Leite (2005) conta que, há mais de 2.000 anos, Hammurabi, Rei da Babilônia, fez gravar num bloco de pedra fórmulas de gestão comercial e normas que regulamentavam os procedimentos do comércio da época. Estas gravações faziam parte do chamado “Código de Hammurabi”. Comércio era pressuposto de confiança, crédito. Nos primórdios da civilização, a forma de obter e transferir recursos a terceiros surgiu da necessidade do tráfego de mercadorias. Foi utilizada pelos caldeus, babilônios, fenícios, etruscos, gregos e romanos, entre outros povos que faziam comércio no Oriente Médio e no Mediterrâneo. Registros históricos demonstram que o comércio é tão velho quanto a humanidade. Alguns pesquisadores vão buscar no "Código de Hammurabi" as origens históricas dos bancos e de outras atividades comerciais relacionadas ao crédito, inclusive o factoring. 32 O advento da inserção da moeda nas relações comerciais fez com que o dinheiro, se tornasse, definitivamente, o instrumento de troca por excelência, nem sempre, porém, existia em quantidade e no momento desejados. Frente à necessidade alheia e diante da possibilidade de ganho, passou-se a aceitar e acreditar que a palavra empenhada seria cumprida. A crença de que um valor presente podia ser trocado por um valor futuro fez nascer o crédito, que se disseminou e, até hoje, facilita trocas, impulsiona a circulação de capitais com maior rapidez e permite que os recursos financeiros sejam usados da melhor forma possível. Estudos recentes, realizados por Amado (1999), demonstram que variáveis monetárias podem ser responsáveis pela manutenção e ampliação de diferenças de renda regionais. Dow (1993) constata que a teoria monetária pós-keynesiana considera a moeda como parte do processo econômico, o que impede uma clara distinção entre o lado monetário e o real da economia. Para os pós-keynesianos, a moeda integra o processo econômico através do crédito, determinando o investimento. Bernanke e Gertler (1989, p. 14) defendem a hipótese de que a robustez da situação patrimonial dos agentes econômicos é um fator importante na determinação do nível de atividade econômica. Esses autores corroboram com a opinião de investigadores do ciclo econômico de que o nível de solvabilidade dos agentes é um importante determinante do nível de atividade econômica. No início da era industrial - com o aumento das transações comerciais e o aprimoramento do sistema de produção para suprir os carentes mercados de produtos - o crédito tornou-se um dos elementos centrais do processo de evolução do modo capitalista de produção, principalmente no que tange ao crescimento e desenvolvimento econômico gerado pela inovação e aprimoramento dos processos. É praticamente impossível desvincular tais transformações dos mecanismos de fornecimento de crédito que fomentaram empreendimentos nos mais variados setores. Desde então, o financiamento pode ser considerado peça crucial para o desenvolvimento. O crédito implica ceder parte de um patrimônio a alguém que o solicita, mediante garantias de retorno. Schrickel (1995, p. 25) afirma que: crédito é todo ato de vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte de seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, depois de decorrido o tempo estipulado. Esta parte do patrimônio pode estar materializada por dinheiro (empréstimo monetário) ou bens (empréstimo para uso, ou venda com pagamento parcelado, ou a prazo). 33 Uma empresa que possui planos de investimento pode levantar os recursos financeiros necessários através de diferentes canais. O primeiro e mais óbvio é internamente, através de receitas monetárias pela venda de bens e serviços gerando superávits que serão utilizados para o autofinanciamento. A segunda possibilidade é apelar para a liquidez de seus ativos, vendendo-os para a obtenção dos recursos necessários ao investimento pretendido. A terceira opção é o endividamento. Gerar superávits internos nem sempre é possível, e quando o é pode não ocorrer na velocidade necessária para atender a demanda ou a urgência, em virtude da oportunidade/necessidade que representam os projetos existentes. A venda de ativos pode não ser possível em virtude da baixa liquidez no mercado, naquele momento, para o bem em questão. Além disso, pode ser que a venda não seja desejada pelos proprietários ou não existam bens que possam ser vendidos para a capitalização do projeto. O endividamento exige a existência de agentes superavitários dispostos a canalizar seus recursos para os projetos da empresa interessada, que se encontra em posição de déficit ou com necessidade de capital. Instrumentos de crédito não criam oportunidades, mas permitem que boas oportunidades sejam aproveitadas. Uma sociedade sem crédito é uma sociedade de oportunidades limitadas, em que projetos lucrativos não saem do papel. Stiglitz e Greenwald (2003) argumentam sobre a necessidade de focar o papel do crédito para contribuir com a atividade econômica de uma maneira geral, destacam também o papel da informação na determinação dequem toma o crédito e o papel dos bancos neste processo. Tradicionalmente, os bancos mantêm o foco na prática do crédito e exercem a função de intermediadores entre agentes econômicos superavitários e deficitários. 2.4.2 Assimetria de informações e o crédito para as MPEs A importância em se abordar, neste trabalho, a assimetria de informações está no relacionamento estabelecido pelas pequenas empresas com os agentes fornecedores de crédito. A assimetria de informação se caracteriza pelo fato de que, em determinados mercados, uma das partes sabe muito mais do que a outra sobre a real qualidade do que está sendo negociado. 34 A assimetria da informação é um fenômeno relativamente recente na história do homem. Antes da evolução das tribos primitivas para as supertribos, que originaram as cidades modernas, as pessoas se conheciam mutuamente e a assimetria de informações era praticamente nula. Hoje em dia, o homem vive no anonimato em decorrência da hiper- população, sendo que, ninguém mais conhece ninguém e a assimetria de informações é enorme. O Relatório do Banco Mundial (1989) aponta a assimetria de informações como um dos principais problemas na intermediação financeira, por ser uma relevante fonte de risco, ou seja, pela possibilidade do devedor não pagar. Stiglitz e Weiss (1981) advertem que a assimetria de informações é problema que repercute mesmo antes da formalização dos contratos e pode conduzir ao racionamento de crédito no mercado de financiamentos. No entanto, ocorre também após a formalização do contrato, seja em decorrência de determinadas ações tomadas pelo devedor e que não são observadas pelo credor, seja pelo resultado de ações da natureza (também observadas somente pelo devedor) e que afetam o retorno esperado do empreendimento. Ao se avaliar a sustentabilidade dos pequenos negócios, ou seja, sua capacidade de sobrevivência sem que haja a intervenção do Estado, pode-se perceber que são várias as situações em que uma empresa necessita de recursos não disponíveis como, por exemplo, nos descasamentos em seu fluxo de caixa ou quando surge a necessidade de investimento em infra-estrutura. Nesses momentos, a solução vem, muitas vezes, do mercado, através de recursos de terceiros ou de instituições financeiras. No caso das micro e pequenas empresas, a captação de recursos passa, obrigatoriamente, pela intervenção de um agente que viabilize o encontro entre oferta e procura de crédito. Portanto, para tais empresas, a captação própria no mercado não significa uma alternativa de capital, como para grandes empresas. Isso ocorre pela incapacidade da empresa em gerar credibilidade (confiança) junto aos agentes financiadores, sem que exista o aval de outra instituição. Tradicionalmente, a função de intermediador entre agentes econômicos superavitários e deficitários é exercida pelos bancos. São instituições que têm, em seu foco principal, a prática do crédito; com antecipação de recursos futuros para utilização imediata. O risco do crédito inerente a cada operação gera insegurança nos credores quanto ao recebimento dos recursos adiantados. Quanto menos informação disponível houver sobre uma 35 empresa, maior a incerteza em torno da capacidade desta honrar o compromisso assumido e, portanto, menor ou mais caro será o seu crédito. Esta assimetria de informações é um fenômeno fortemente presente no mercado de crédito. Segundo Ventura (2000, p. 65-66): no crédito a confiança é o elemento subjetivo, o que governa; ela é a base do crédito. A apreciação, o juízo favorável que o possuidor do capital fizer de uma pessoa ou de um grupo de pessoas (firma) é o que permite a operação de crédito. Entretanto, essa confiança, apreciação ou juízo favorável, tem um fundamento positivo, que se estabelece ou pela garantia material que o devedor possa oferecer para o resgate do empréstimo, ou pelo conceito moral que ele goze. As ferramentas de mensuração de risco utilizadas pelos bancos são bastante úteis na execução da política implementada em cada instituição, mas, não garantem o sucesso das relações banco-cliente. Medidas tomadas na direção de maior conhecimento do cliente são bastante relevantes para o monitoramento do risco de crédito. Em se tratando de clientes de grande porte, o acesso às informações relativas à sua performance é mais fácil, isto porque a sua estrutura interna permite e exige a formalização de dados pertinentes a cada fase dos processos para embasamento na tomada de decisões. O acompanhamento de mercado de grandes empresas também é facilitado pela evidenciação de seu desempenho; ressaltando seu poder de mercado como fator de interesse para consumidores, investidores e meios de comunicação. Para micro e pequenas empresas, entretanto, a tarefa de conhecimento é mais sutil, exigindo maior aproximação do seu dia-a-dia. O seu desempenho de mercado, frente à própria dinâmica deste demanda contato, muitas vezes direto e individualizado, com o objetivo de caracterizar o comportamento dos agentes. Sob uma realidade de insegurança em relação aos seus ativos de crédito e com intuito de remunerar seus acionistas, os bancos priorizam a segurança dos negócios por meio da administração do risco de crédito e, conseqüentemente, dos problemas de gerenciamento da liquidez. Cria-se, dessa forma, uma verdadeira restrição ao crédito das micro e pequenas empresas. Na outra ponta desse ambiente de transparência no mercado de crédito encontra-se o tomador de recursos, que participa da relação por meio do fornecimento de informações exigidas com precisão e tempestividade, gerando uma necessidade de organização interna e boa administração. As micro e pequenas empresas possuem infra-estrutura administrativa reduzida e, muitas vezes, não contam com a habilidade gerencial necessária, o que compromete a 36 disponibilidade de informações e a capacidade de oferecer garantias, o que dificulta a obtenção de crédito. Além das dificuldades administrativas, as MPEs têm maior restrição para acesso ao crédito, tanto pelas garantias que podem oferecer, quanto pelas taxas de juros cobradas. A causa pode estar em uma frágil situação econômico-financeira ou na ausência de informações, refletindo o seu risco ou incerteza. Para as grandes empresas, a formalização de dados operacionais e de gestão não representa entrave para a obtenção de crédito, visto ter disponíveis as informações através de sua estrutura interna. Para as MPEs, contudo, torna-se inviável a exigência de um controle acurado de suas informações. A contratação de um especialista se torna mais onerosa à medida que a despesa deve ser diluída em um menor número de operações. Ter como acessar o crédito é imprescindível quando se enfrenta problemas de liquidez, e, a capacidade de apresentar informações prontas e precisas a respeito da empresa solicitante e o relacionamento estabelecido com os detentores de capital formam a via que conduz até ele. A assimetria de informações existente nos contratos de crédito é um obstáculo a ser superado. Passa pela maior disponibilidade de informações referentes ao devedor, sob a ótica do credor. O fornecimento de dados confiáveis e suficientes promove a melhoria na qualidade gerencial, na gestão das Instituições Financeiras (IFs) e na tomada de crédito. As empresas sociedades anônimas de capital aberto normalmente oferecem uma maior transparência e facilidade para a análise financeira, enquanto outras naturezas jurídicas de empresas, como as que são por cotas de responsabilidade limitada, e, sobretudo aquelas de médio e pequeno porte, tendem a oferecer menor transparência e por conseqüência maior dificuldade para a análise financeira (BROM, 2003, p. 65). A falta de crédito é uma das maiores barreiras para a criação de pequenos negócios no Brasil, levando os pequenos empreendedores a buscarem dinheiro fora dos bancos. Além darelevante participação dos pequenos negócios na economia do País, o distanciamento entre as micro e pequenas empresas do sistema financeiro nacional é evidente. Então elas recorrem a alternativas para colocar dinheiro em caixa. Akerloff (1970), Hoff, Braverman e Stiglitz, (1993) ressaltam a importância da compreensão de que toda transação financeira se apóia na visão, por parte do credor, da capacidade futura do devedor honrar seus compromissos sendo, portanto, um contrato intertemporal e de cumprimento incerto. Os concessores de crédito dependem da qualidade da avaliação de riscos, que mede antecipadamente a confiabilidade dos devedores. Na origem da 37 relação de troca, há uma assimetria de informação entre o tomador e o credor, conforme ressaltado anteriormente. Essa assimetria de informação gera dois tipos de problema: a seleção adversa e o risco-moral. A existência de assimetria de informações no mercado financeiro reduz a eficiência deste, dada a problemática do risco moral e seleção adversa enfrentada pelos investidores (MISHIKIM, 2000). A seleção adversa é o fenômeno, ou situação, em que o preço é extremamente elevado para o “bom” pagador e acessível para o “mau” pagador, fazendo com que haja uma alocação ineficiente dos recursos. Este problema acontece antes que a transação ocorra. A seleção adversa torna-se um problema no mercado financeiro devido ao fato de que é mais provável que tomadores com riscos de crédito elevados demandem crédito aumentando, assim, a probabilidade que estes sejam selecionados. Sabendo de antemão desta relação, os concessores podem decidir não conceder empréstimos, pois não conseguem distinguir os bons dos maus tomadores de crédito. A perspectiva de inadimplência faz com que as instituições financeiras incorporem nas suas taxas de juros o item risco, para minimizar a variável incerteza, em um nível elevado em relação ao bom pagador e em nível adequado para um potencial inadimplente. Efetiva-se assim um contrato menos eficiente, que aplica taxas idênticas tanto para o melhor quanto para o pior cliente. No risco moral ou, perigo moral, de acordo com Fry (1995), a premissa básica é a de que os indivíduos não têm o mesmo incentivo para cuidar da propriedade de outras pessoas com o mesmo zelo com que cuidam de seus próprios interesses, ou seja, há um incentivo menor em zelar pelo dinheiro emprestado do que pelos recursos próprios. Este problema ocorre depois que a transação é efetuada. O risco moral se refere ao risco dos tomadores de crédito se engajarem em atividades indesejáveis do ponto de vista do emprestador, pois reduzem a probabilidade de que o empréstimo seja pago. Da mesma forma que a seleção adversa, o risco moral pode ocasionar o fim da concessão de crédito como uma forma de proteção ao risco do emprestador. Braga (2000) afirma que o risco ou perigo moral ocorre quando um fato ex-post ao acordo firmado, de conhecimento de uma das partes pode afetar a negociação prejudicando a contraparte. Existem situações em que o fato gerador, que provoca a relação assimétrica, ocorre após a formalização do acordo (contrato). Tal evento pode ser gerado pelo próprio devedor sendo de seu exclusivo conhecimento, ou por decorrência de fenômenos naturais, cuja observação também lhe é individualizada. Ou seja, quando o estímulo fornecido para o estabelecimento de um contexto de informações assimétricas é proporcionado após a assinatura do contrato dá-se o nome de risco moral. 38 Ainda sobre risco moral, Pindyck e Rubinfeld (1994, p. 817) assinalam que “este ocorre quando a parte segurada pode influenciar a probabilidade ou magnitude do evento que é fato gerador do pagamento”. O agente responsável pela situação e por eventuais danos sofre uma alteração nos padrões de comportamento quando este é afetado pelo risco moral. Por exemplo: se o consumidor pode adquirir um seguro de bicicleta, então o custo infringido ao indivíduo de ter a sua bicicleta roubada é muito menor. Se a bicicleta é roubada, então a pessoa simplesmente tem que avisar a Cia. de seguros e receberá o dinheiro para substituí-la. No caso extremo, onde a Cia. reembolsa completamente o indivíduo pelo roubo da bicicleta, o indivíduo não possui nenhum incentivo para tomar cuidado. Esta falta de incentivo para tomar cuidado é chamada “perigo moral” (VARIAN, 1994, p. 653-654). Segundo Varian (1994, p. 655), pode-se estabelecer conceitos para risco moral e seleção adversa: perigo moral se refere às situações onde um lado do mercado não pode observar as ações do outro. Por este motivo é algumas vezes chamado de problema de ação oculta. Seleção adversa se refere à situação onde um lado do mercado não pode observar o “tipo” ou qualidade dos bens no outro lado do mercado. Por este motivo é denominado de problema de tipo oculto. Mishikin (2000) afirma que o risco moral ocorre quando o tomador direciona o crédito para outras atividades, que não as previamente contratadas, de alto risco, que aparentemente representam promessa de retornos maiores para o investimento, que podem, no entanto, não se concretizarem, comprometendo o pagamento da dívida. Nessas circunstâncias, as chances da concessão de um empréstimo a um mau pagador aumentam muito e fazem com que haja restrições, por parte dos agentes financeiros, na oferta de linhas de crédito. O que se verifica é que a assimetria de informações afeta tanto o lado da oferta quanto o lado da demanda crédito. Dada a falta de informações, o ofertante, para não colocar em risco a sua carteira de empréstimo, pode não conceder crédito a todo tomador interessado. Já os tomadores devem atentar para as informações a respeito dos termos dos contratos ou diferentes documentos que estão assinando para evitar comprometer sua renda ou capital em virtude de uma desinformação contratual. Medidas preventivas e alternativas que buscam reduzir as conseqüências que podem decorrer do problema de assimetria de informações são muito importantes para MPEs. Risco moral e seleção adversa, provocados pela assimetria de informações, são fenômenos que impactam diretamente no comportamento do mercado de crédito, que é determinante para o desempenho e perpetuação dos negócios das empresas de pequeno porte. 39 2.4.3 O crédito para as micro e pequenas empresas no Brasil O Brasil apresenta uma atividade financeira sofisticada em todos os seus aspectos relevantes, porém, com baixo aprofundamento financeiro; sendo o crédito e o financiamento muito reduzidos, caros e de acesso difícil para a maior parte dos interessados, afetando, principalmente, as MPEs e os empreendimentos econômicos em geral. Os custos elevados e as fortes restrições de acesso ao crédito criam dificuldades de financiamento na economia brasileira, limitando a capacidade de crescimento das empresas por não permitirem o acesso destas aos serviços financeiros de que necessitam. Por outro lado, retiram parcela significativa da renda gerada daquelas que conseguem manter relações permanentes com os bancos, pela transferência ao setor financeiro na rolagem de suas dívidas, em virtude das taxas de juros praticadas. O custo do crédito no Brasil é muito alto, sob qualquer parâmetro de comparação internacional. A taxa média de juros do crédito em termos reais (já descontada a inflação, portanto) foi de 40,3% ao ano no Brasil, em 2003, a mais alta entre 93 países analisados em estudo recente do instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI, 2004 In: ARAÚJO, 2004, p. 17). O crédito escasso e os juros elevados são um dos principais fatores que dificultam a gestão e causam a mortalidade elevada das MPEs. As condições precárias de acesso aos serviços financeiros por parte desse importante e gigantesco segmento da economia brasileira representam um entrave significativo para sua transformação efetiva em fonte de renda estável e de absorção do progresso
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