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BIOQUÍMICA – Rafaela Negri Gliconeogênese Definição: -É o processo pelo qual a glicose é sintetizada a partir de precursores não carboidratos. -Pode vir do Glicerol ou qualquer composto que possa gerar piruvato ou oxaloacetato é precursor da glicose. -A glicose é formada a partir de intermediários comuns da glicólise e gliconeogênese. -Das 10 reações (enzimas) da via glicolítica até piruvato, 7 são compartilhadas com a gliconeogênese. -Das 3 reações irreversíveis, a mais crítica é a conversão de piruvato a PEP, que não pode ser feita por uma única enzima. A carboxilação do piruvato a oxaloacetato possibilita o retorno a PEP. Importância: -Alguns tecidos (como cristalino e córnea do olho, medula renal, testículos, leucócitos, eritrócitos e músculo esquelético em exercício) necessitam de suprimento contínuo de glicose. -O glicogênio hepático satisfaz esta necessidade por 10 a 18h na ausência de ingestão de carboidratos. A gliconeogênese é fonte de glicose durante o jejum prolongado. Local: -Enzimas da Gliconeogênese se expressam: · Fígado: Durante o jejum de uma noite: 90% da gliconeogênese. Jejum prolongado: 60% da gliconeogênese – serve para a manutenção da glicemia · Córtex Renal: Durante o jejum de uma noite: 10% da gliconeogênese. Jejum prolongado: 40% da gliconeogênese A maior parte é usada pela medula renal e o restante entra na corrente sanguínea. Precursores: Os precursores mais importantes em humanos são: · Glicerol · Geradores de oxaloacetato: Lactato, piruvato, os aminoácidos glicogênicos (especialmente a alanina, via piruvato) e o propionil-CoA Glicerol: -Liberado a partir da hidrólise dos triacilgliceróis do tecido adiposo (lipólise), sendo levado ao fígado via corrente sanguínea -Adrenalina e Glucagon promovem a produção de AMPc, via proteína Gs. O AMPc irá ativar a PKA, que por sua vez irá ativar a Lipase Hormônio sensível. O cortisol também promove a mobilização de ácidos graxos pelo tecido adiposo, porém o mecanismo não é muito conhecido -A Lipase irá degradar o Triacilglicerol em glicerol e ácidos graxos, os quais cairão na corrente sanguínea -O glicerol será captado pelo fígado e servirá como substrato para a gliconeogênese -O fígado possui a enzima glicerol-cinase, possibilitando a gliconeogênese a partir do glicerol. -O glicerol será fosforilado no carbono 3, gerando glicerol-3-fosfato, que será convertido à diidroxicetona-fosfato pela enzima glicerol-3-fosfato-desidrogenase -A glicerol-3-P-DHé a mesma da lançadeira de elétrons. -Uma parte da diidroxicetona-fosfato será isomerizada a giceraldeido-3-fosfato e outra parte vai se condensar com o giceraldeido-3-fosfato, formando frutose-1,6-bifosfato -A frutose segue na gliconeogênese para formar glicose Lactato: -É oriundo da glicólise anaeróbica no músculo em exercício, nas células sem mitocôndria (como os eritrócitos) ou nos adipócitos durante o estado alimentado. -A enzima LDH hepática facilita a conversão do lactato a piruvato - A circulação de lactato e glicose entre o fígado e os tecidos periféricos é chamada de Ciclo de Cori -O lactato produzido no Ciclo de Cori cai na corrente sanguínea, é captada pelo fígado e vai para gliconeogênese - O piruvato gera oxaloacetato, via piruvato carboxilase (reação anaplerótica do ciclo de Krebs), e o oxaloacetato forma PEP Aminoácidos: -Originam-se da dieta ou do pool (fundo comum) de aminoácidos no músculo, a partir da proteólise muscular - De acordo com o destino da sua cadeia carbonada (α-cetoácidos), os aminoácidos dividem-se em glicogênicos, cetogênicos e glicocetogênicos - Os aminoácidos glicogênicos formam piruvato ou intermediários do ciclo de krebs. -A formação de piruvato se dá a partir, principalmente, da alanina (via transaminação pela TGP), ou a partir de outros aminoácidos - O piruvato gera oxaloacetato, via piruvato carboxilase (reação anaplerótica do ciclo de Krebs), e o oxaloacetato forma PEP - O Asp e a Asn formarão oxaloacetato, e os demais aminoácidos glicogênicos formam intermediários do ciclo de Krebs, que, por sua vez, formarão oxaloacetato. O oxaloacetato originará a glicose Propionil-CoA: -Única situação em que os ácidos graxos podem gerar glicose -É produzido a partir da oxidação de ácidos graxos de número ímpar de carbonos ou de ácidos graxos ramificados, ou, ainda, a partir doa aminoácidos Ile, Val, Met, e Thr Acetil-CoA x Produção de glicose: -Para gerar glicose, a acetil-CoA deve produzir piruvato. -No entanto, ela não é substrato para a gliconeogênese, pois a reação de PDH é irreversível e como 2 carbonos são liberados na forma de CO2 para cada acetil- CoA que entra no ciclo de krebs, não há a regeneração de oxaloacetato a partir deste carbonos. Logo, não há síntese líquida de glicose a partir de acetil-CoA. Reações irreversíveis -Reações da glicólise que precisam ser superadas para a formação da glicose - Das dez reações da glicólise: · Sete reações são reversíveis e podem ser usadas na gliconeogênese. · Três reações são irreversíveis e devem ser contornadas para formação de glicose: 1)Glicocinase 2)Fosfofrutocinase-1 3)Piruvato-cinase - Das 3 reações irreversíveis, a mais crítica é a conversão de piruvato a PEP (fosfoenolpiruvato), que não pode ser feita por uma única enzima. A carboxilação do piruvato a oxaloacetato possibilita o retorno a PEP. Conversão de piruvato a PEP: 1º Passo -Carboxilação do Piruvato na Mitocôndria: -A piruvato carboxilase hidrolisa ATP e impulsiona a formação de oxaloacetato. A reação requer biotina. Esta reação tem a função de formar oxalocacetato: · Para o ciclo de Krebs (principal reação anaplerótica), ou · Para a gliconeogênese -ATP dessa reação vem da β-oxidação de ácidos graxos no fígado 2º Passo- Transporte do Oxaloacetato para o Citosol: -Como o oxaloacetato não pode atravessar a membrana interna mitocondrial, ele deverá se transformar em moléculas que possuem transportadores e podem sair da mitocôndria: 1) PEP (fosfoenolpiruvato): -O oxaloacetato se converte em PEP, via PEP- carboxicinase (PEPCK) mitocondrial. O PEP sai da mitocôndria e segue na gliconeogênese (reversão da glicólise até frutose 1,6 bisfosfato) -O CO2 usado pela piruvato carboxilase para na formação de oxaloacetato é o mesmo produzido durante a conversão de oxaloacetato a PEP. 2) Malato ou -Via malato-desidrogenase mitocondrial (enzima do ciclo de Krebs). O malato sai da mitocôndria, e regenera o oxaloacetato via a malato-desidrogenase citosólica. 3) Aspartato. -Via transaminação (TGO). No citosol, o aspartato regenera o oxaloacetato, também, por transaminação -Assim o oxaloacetato poderá seguir na gliconeogênese. 3º Passo - Descarboxilação do Oxaloacetato no Citosol: - O oxaloacetato produzido no citosol, a partir do malato ou aspartato, converte-se a PEP pela enzima PEP- carboxicinase (PEPCK) citosólica. -Durante a catálise, há a hidrólise de GTP Resumindo: -A combinação das enzimas piruvato carboxilase + Malato DH ou TGO + PEPCK garante a formação do PEP no citosol -2 piruvatos irão produzir 2 fosfoenolpiruvato (PEP) -Cada molécula de fosfoenolpiruvato vai gerar 2-fosfoglicerato, que depois se converte a 3-fosfoglicerato -Para a fosfogliceratoquinase formar 1,3 –bisfosfoglicerato a partir de partir de 3 fosfoglicerato será necessário ATP, que virá da β-oxidação de ácidos graxos -Para que a gliceraldeido-3-fosfato-desidrogenase forme gliceraldeido-3-fosfato a partir de 1,3-bifosfoglicerato será necessário NADH -Origem do NADH: · A partir do glicerol (glicerol converte-se em glicerol-3-fosfato pela glicerol-cinase e o glicerol-3-fosfato vai converter-se a diidroxicetona pela glicerol-3-fosfato-desidrogenase – com formação de NADH) · Pela enzima malato-desidrogenase-citosólica (durante a oxidação do malato a oxaloacetato, o NADH produzido pela malato-desidrogenase-citosólica é usado pela gliceraldeído-3-P- DH) -A cada 2 gliceraldeídos-3- fosfato formados, um é convertido à diidroxicetona-fosfato. A diidroxicetona-fosfatose une com o outro gliceraldeídos-3- fosfato para formar a frutose-1,6-bifsfato -A próxima reação é irreversível - catalisada pela Fosfofrutocinase-1 Conversão de Frutose-1,6-Bisfosfato a Frutose: -A reação é catalisada pela frutose-1,6-bisfosfatase. -Na reação contraria há consumo de ATP (na glicólise). No entanto, nessa reação não há produção de ATP pela remoção do fosfato de C1, pois a frutose1,6-bisfosfato é um composto de baixa energia de hidrólise -A isomerase forma glicose-6-fosfato a partir de frutose-6-fosfato. A próxima reação irreversível é catalisada pela Glicocinase Conversão da Glicose-6-Fosfato a Glicose: -Gliconeogênese ocorre no fígado, e a isoforma da hexocinase no fígado é a Glicocinase, logo, a reação catalisada por ela que deve ser revertida -A reação é catalisada pela Glicose-6-Fosfatase. A ligação fosfato da glicose-6-fosfato, por ser de baixa energia, não gera ATP -A reação ocorre no REL. A glicose-6-fosfato é transportada para o REL pela glicose-6-fosfato-translocase -O fígado e rim são os únicos órgãos que liberam glicose livre a partir de glicose-6-fosfato Gastos energéticos da gliconeogênese: -O NADH necessário para que a gliceraldeido-3-fosfato-desidrogenase forme gliceraldeido-3-fosfato a partir de 1,3-bisfosfoglicerato vem: · Do metabolismo do glicerol (glicerol converte-se em glicerol-3-fosfato pela glicerol-cinase e o glicerol-3-fosfato vai converter-se a diidroxicetona pela glicerol-3-fosfato-desidrogenase – com formação de NADH) ou · Da reação catalisada pela malato desidrogenase citosólica (durante a oxidação do malato a oxaloacetato, o NADH produzido pela malato-desidrogenase-citosólica é usado pela gliceraldeído-3-P- DH) -O ATP necessário para converter o 3-fosfoglicerato em 1,3-bisfofoglicerato virá da β-oxidação de ácidos graxos -O restante da energia para as outras reações também virá da β-oxidação de ácidos graxos -Na conversão de 2 moles de piruvato a 1 mol de glicose: · 2 moles de ATP são hidrolisados, quando 2 moles de piruvato são carboxilados à oxaloacetato, pela piruvato carboxilase. · 2 moles GTP (equivale a 2 moles de ATP) são necessários para converter 2 moles de oxaloacetato a 2 moles de PEP, pela PEPCK. · 2 moles de ATP são usados na formação de 2 moles de 1,3 bisfosfoglicerato a partir de 2 moles 3-fosfoglicerato, pela fosfogliceratocinase. · 2 moles de NADH são necessários para converter 2 moles de oxaloacetato em 2 moles de malato, pela malato DH mitocondrial (mais tarde, os elétrons serão doados pelo NADH, via malato DH citosólica, para a gliceraldeído-3-fosfato-DH). Quando ocorre a gliconeogênese: -Jejum (estímulo glucagon/cortisol) -Exercício prolongado (estímulo adrenalina) -Dieta rica em proteínas e pobre em carboidratos (estímulo hipoglicemia) -Estresse (estímulo adrenalina/cortisol) Regulação: -As enzimas regulatórias são aquelas que catalisam as reações irreversíveis -São elas: Piruvato-Cinase (Via Glicolítica) - No fígado, o glucagon (via PKA) fosforila e inativa a piruvato-cinase. Assim o piruvato será redirecionado para formar oxaloacetato , e posteriormente, glicose Piruvato-Desidrogenase (PDH) (Via Glicolítica) -A atividade da PDH (via glicolítica) é regulada pela velocidade de produção/consumo de energia (ATP), sendo inibida por NADH e acetil-CoA. O NADH e o acetil-CoA têm origem na oxidação de ácidos graxos dos oriundos dos adipócitos (durante o jejum, exercício, estresse). Desta forma, o piruvato não é convertido em acetil-CoA, podendo ser usado na gliconeogênese Piruvato Carboxilase -É ativada alostericamente por acetil-CoA. Durante o jejum, há produção de acetil-CoA no fígado, a partir da oxidação de ácidos graxos do tecido adiposo. -Quanto maior a [acetil-CoA] maior a necessidade de síntese de oxaloacetato para o ciclo de Krebs. -Nesta situação, a gliconeogênese também é beneficiada Fosfoenolpiruvato-Carboxicinase (PEPCK) -O glucagon e a adrenalina, via AMPc, e o cortisol aumentam e a insulina diminui a transcrição gênica desta enzima Fosfofrutocinase-1 (PFK-1) (Via Glicolítica) -A frutose 2,6-bisfosfato (frutose 2,6-bisP) é o mais potente ativador da PFK-1, ativando-a mesmo quando os níveis de ATP estão elevados. A frutose-2,6-bisP não é intermediário da glicólise. É formada pelo complexo fosfofrutocinase-2 (PFK-2/FBP-2), uma enzima bifuncional, que possui tanto atividade cinásica (domínio cinase: PFK-2), formando frutose 2,6-bisP, quanto atividade fosfatásica (domínio fosfatase: frutosebisP-fosfatase-2, FBP-2), desfosforilando a frutose 2,6-bisP e formando frutose-6-P. -Os níveis de insulina e glucagon regulam a atividade desta enzima Frutose-1,6-Bisfosfatase: -É inibida por níveis elevados de AMP, durante o alto consumo de ATP, e por frutose 2,6-bisfosfato, formada quando a relação insulina/glucagon é alta. --O Glucagon induz à síntese da frutose-1,6-bisfofatase -O glucagon ativa a PKA, que fosforila a fosfofrutocinase-2. A fosforilação ativa a função fosfatásica da enzima, que desfosforila a frutose-2,6- bisfosfato, desinibindo a frutose-1,6-bifosfatase. Glicocinase (Via Glicolítica) Possui um alto Km (baixa afinidade) para a glicose, sendo estimulada pela glicose. A Glicocinase não é inibida pela glicose-6-P. Ela é inibida indiretamente pela frutose- 6-P (que está em equilíbrio com a glicose-6-P). No jejum, a GK não está muito ativa devido à hipoglicemia. Glicose-6-Fosfatase O Glucagon induz à síntese da Glicose-6-fofatase. Regulação Hormonal por Transcrição Gênica/Síntese Proteíca: -O consumo regular de uma refeição rica em carboidratos ou a administração regular de insulina aumentam a transcrição gênica e a síntese da GK, PFK-1, PK. Por outro lado, quando o glucagon plasmático está elevado e a insulina baixa, a transcrição gênica e a síntese destas enzimas estão diminuídas Fontes da glicose sanguínea: -A glicemia normal é entre 80 a 100 mg%; • Em um indivíduo adulto normal, no estado alimentado, ela varia entre 120 a 140 mg%; Duas horas após a refeição (início do jejum), ela cai para 80 mg% e mantém-se neste nível até 12h de jejum; -Em um jejum de 3 dias a glicemia é de 75mg%, chegando a 65mg% em um jejum de 5-6 semanas. -A glicogenólise é a principal fonte de glicose até 12 h de jejum, iniciando 2h pósrefeição e tendo um pico em 8h de jejum. -A gliconeogênese inicia em 4h-6h após a refeição e, em 16h de jejum, a glicogenólise e a gliconeogenese têm igual importância na manutenção da glicemia. -A partir de 16h de jejum, a gliconeogênese é a principal fonte de glicose sanguínea, pois com 30h de jejum o glicogênio hepático está quase todo exaurido
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