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luana espig_mestrado_diamantina e o percurso da arquitetura moderna_unicamp_final

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Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura
Luciana Pietrosanto Milla - CRB 8/8129
Regiani, Luana Espig, 1992-
R263d RegDiamantina e o percurso da arquitetura moderna : Lucio Costa, Juscelino
Kubitschek - e Oscar Niemeyer / Luana Espig Regiani. – Campinas, SP : [s.n.],
2019.
RegOrientador: Rafael Augusto Urano de Carvalho Frajndlich.
RegDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade
de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo.
Reg1. Arquitetura moderna - Brasil. 2. Patrimônio histórico - Brasil. 3.
Arquitetura colonial - Diamantina (MG) - Obras ilustradas. 4. Oscar Niemeyer.
5. Movimento moderno (Arquitetura) - Brasil. I. Frajndlich, Rafael Augusto
Urano de Carvalho, 1982-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade
de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Diamantina and the Brazilian modern architecture route: Lucio 
Costa, Juscelino Kubitschek - and Oscar Niemeyer
Palavras-chave em inglês:
Architecture, Modern - 20th century - Brazil
Architecture, Colonial - Brazil
Architects - Brazil
World Heritage areas - Conservation and restoration
Modern movement (Architecture) - Brazil
Área de concentração: Arquitetura, Tecnologia e Cidade
Titulação: Mestra em Arquitetura, Tecnologia e Cidade
Banca examinadora:
Rafael Augusto Urano de Carvalho Frajndlich [Orientador]
Guilherme Teixeira Wisnik
Silvana Barbosa Rubino
Data de defesa: 15-07-2019
Programa de Pós-Graduação: Arquitetura, Tecnologia e Cidade
Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)
- ORCID do autor: https://orcid.og/0000-0002-3950-0454
- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/3110818847848603 
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
 
 
Agradeço ao professor Dr. Rafael Urano Frajndlich pelos horizontes de pesquisa 
que foram abertos com sua chegada na pós-graduação. Obrigada pelas orientações instigantes 
e revisões atentas. 
Agradeço à professora Dra. Regina Tirello pelo importante papel para o ingresso 
no mestrado. 
Meus agradecimentos aos professores da banca de qualificação: Dr. Eduardo 
Rossetti e Dra. Silvana Rubino. À professora Silvana, agradeço especialmente pelas preciosas 
observações desde a Iniciação Científica, essenciais para todas as viagens que se seguiram. 
Agradeço também ao professor Dr. Guilherme Wisnik pelos pertinentes e atenciosos 
comentários na banca de defesa. 
Obrigada, in memoriam, aos Professores Alexandre Eulálio e José Cláudio Gomes, 
cujas coleções doadas, respectivamente, às bibliotecas da Unicamp e da USP, possibilitaram o 
início deste trabalho. 
Agradeço às instituições que disponibilizaram seus arquivos. No Rio de Janeiro, 
ao Arquivo Central do IPHAN, fundamental para a pesquisa, e agradeço, em particular, à 
Tatiana Lopes Salciotto e sua atenção em cada pedido. Na mesma cidade, à Fundação Oscar 
Niemeyer. Em Brasília, ao Memorial JK. Em Belo Horizonte, ao IEPHA e ao fortuito encontro 
com Bruno Fioravante e André Miranda. 
Em Diamantina, muitos foram os lugares que, ao preservarem a memória da 
cidade, colaboraram profundamente com este trabalho. Devo agradecimentos ao Arquivo 
Público Municipal pela disponibilidade ao abrir o acervo de projetos. Ao Arquivo Eclesiástico 
da Arquidiocese, à Verônica de Mendonça Motta, pelo auxílio com os jornais “A Estrela Polar”. 
À Biblioteca Antônio Torres. Ao Escritório Técnico do IPHAN e à Vanessa de Pádua Mello por 
compartilharem as bases que possibilitaram a confecção dos mapas. Também ao Instituto Casa 
da Gloria, que permitiu que utilizasse sua biblioteca para escrever parte da dissertação. 
 
Especialmente, agradeço ao Museu Tipografia Pão de Santo Antônio e ao seu 
secretário, Emanoel Ricardo Maria, pela generosidade ao compartilharem o rico acervo da 
instituição com os exemplares da Voz de Diamantina, essenciais para recuperar fatos e datas 
dos eventos narrados. 
Agradeço também, imensamente, à Casa de Juscelino. Ao Serafim Jardim, pela 
incansável disponibilidade para contar e manter a história do ex-presidente em sua cidade 
natal. Ao Rômulo Barbosa, que também abraçou essa missão. Obrigada por abrirem, sem 
restrições, a biblioteca e os arquivos. 
Ainda no antigo Arraial, agradeço ao Hotel Tijuco e toda a sua equipe pela 
recepção nas duas estadias. Em momentos cruciais para a pesquisa, foi um privilégio estar ali 
e ser tão bem recebida. Especialmente, agradeço ao Rony Odlanier Silva, gerente do hotel, um 
dos grandes responsáveis por preservar o edifício e sua história e que com muita dedicação 
atende aos pesquisadores e turistas que se interessam pelo Tijuco. 
Agradeço ao Professor Dr. Marcos Lobato Martins pela disponibilidade em 
conversar e compartilhar seus textos. Sua vasta produção sobre a região foi primordial para o 
trabalho. 
Muito obrigada ao Professor Erildo Nascimento de Jesus que prontamente, seja 
numa conversa no Beco do Mota ou por e-mail, esclarecia qualquer dúvida sobre a cidade. 
Além de emprestar o livro com os desenhos do Lucio Costa. 
Agradeço excepcionalmente ao Michel Becheleni pela disponibilidade, 
generosidade e atenção ao realizar as fotos aéreas, fazendo registros atuais expressivos que 
ajudarão a documentar a cidade pela história. 
Obrigada também à Telma Pio, pelos materiais compartilhados. 
À Fernanda Valim, pela gentileza e pelos encontros proporcionados, incluindo a 
tarde de aquarela. 
À Dalva, Maria Dalva Aquino, e o seu Cantinho na Rua do Amparo onde 
encontrava não só a comida mais gostosa, mas também muito carinho. 
Agradeço ao diamantinense Manuel Dimitri de Almeida Gomes pelas caminhadas 
e conversas que tanto colaboraram com o mestrado. Obrigada pelo amparo incondicional, sem 
o qual este trabalho não teria sido feito da mesma forma. 
Também à Larissa Doalla, pela importante ajuda com o livro esquecido. 
Em Minas, agradeço ainda ao Paulo T. G. Pinto pelos lindos registros em 
Diamantina e pela disponibilidade em todos os pedidos de ajuda ao longo dos últimos dois 
anos. 
Ao Bernardo Puhler, pelas músicas que traziam a luz da Serra do Espinhaço 
enquanto escrevia em Campinas, Curitiba ou São Paulo. 
Em Campinas, agradeço aos colegas do Grupo de Pesquisa de História da 
Arquitetura: Protagonistas – GHIPARQ. 
Agradeço aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação - FEC/Unicamp por 
toda a ajuda e disponibilidade ao longo do processo do mestrado. Também aos funcionários 
da Biblioteca Octávio Ianni, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, pelo 
auxílio durante o estudo. 
Muito obrigada à Taiana Car Vidotto e à Giovana Martino por compartilharem a 
experiência como monitoras na disciplina de projeto de interesse social. 
Ao Francisco de Carvalho Dias de Andrade, pelas respostas atenciosas e 
detalhadas com as referências responsáveis pelo direcionamento do primeiro capítulo. 
Devo também sinceros agradecimentos à Saeko Suzuke e à Ana Ribeiro pelo 
cuidado que tiveram comigo e com a minha saúde. 
Ao Lucas Ariel e ao Maurício Ferreira, pela casa mais aconchegante em Barão. 
Obrigada por me receberem com tanto carinho. Ao Lucas, agradeço também pelas longas 
conversas e mensagens de apoio. 
Ao Fernando Nakandakare, por compartilhar os anseios da pesquisa, mas também 
momentos de descontração. 
Ao Flavio Bragaia, pela amizade proporcionada pelo mestrado. 
Agradeço à Marília Dantas por dividir responsabilidades, amizade e muito 
carinho. 
Ao Bruno Geraldi Martins, que sempre tem as palavras mais queridas, a energia 
mais pura e o abraço para todas as horas. 
A pesquisa foi escrita em algumas casas. Agradeço a todos aqueles com quem 
compartilhei as alegrias e também as dificuldades da rotina. 
 
Em Barão Geraldo, agradeço ao Pierluigi Pirozzi, Lucas Pacheco, Antoine Beuvain, 
Dínamis Lara e Walter Gagliardi. Ao Walter, sou especialmente grata pela amizade que 
continua constante, mesmo com adistância. 
Em São Paulo, agradeço ao Pedro Murilo Freitas pela receptividade e pela 
biblioteca que tanto colaborou com o texto. Muito obrigada, sobretudo, à Giulia Vercelli, que 
entre a Itália e o Brasil esteve sempre presente desde 2013 e que tanto me apoiou no 
desenvolvimento deste trabalho, além dos essenciais e felizes momentos de viagem, descanso 
e conversa. 
Ainda na capital, agradeço à Juliana Reis e à Camila Midori Yoshida, que 
encararam uma mudança nessa reta final. Estar com vocês no último mês fez toda a diferença. 
Muito obrigada à minha amiga-irmã, Thaís Marília Fillus, com quem há vinte anos 
compartilho, diariamente, das pequenas às grandes coisas. Sou imensamente grata por sempre 
poder contar com você. 
Obrigada à Angelina Benvenutti Regiani, minha irmãzinha, que sempre pergunta 
como vai meu trabalho e tem se revelado uma excelente escritora. 
Agradeço aos meus pais, Eloiza Espig e Jesuan Henrique Felde Regiani, e seus 
companheiros Luiz Alex Bomfim e Adriana Benvenutti Regiani. 
Por fim, agradeço especialmente à Eloiza Espig pelo apoio irrestrito em todas as 
instâncias referentes a este mestrado. Fiel e atenta leitora, meu percurso até aqui seria 
impossível sem você. Obrigada por estar presente em mais uma fase que se encerra e obrigada 
pelo amor que tanto acolhe e ensina. 
 
Esta dissertação foi realizada com o apoio da FAEPEX – Fundo de Apoio ao 
Ensino, Pesquisa e Extensão da UNICAMP. 
 
 
 
Alumbramento 
 
 
Eu vi os céus! Eu vi os céus! 
Oh, essa angélica brancura 
Sem tristes pejos e sem véus! 
 
Nem uma nuvem de amargura 
Vem a alma desassossegar. 
E sinto-a bela... e sinto-a pura. 
 
[...] 
 
Eu vi a estrela do pastor... 
Vi a licorne alvinitente!... 
Vi...vi o rastro do senhor!... 
 
E vi a Via-Láctea ardente... 
Vi comunhões... capelas... véus... 
Súbito... alucinadamente... 
 
Vi carros triunfais... troféus... 
Pérolas grandes como a lua... 
Eu vi os céus! Eu vi os céus! 
 
Eu vi-a nua... toda nua! 
 
 
Manuel Bandeira, 1919 
 
 
 
Diamantina faz parte da origem e afirmação da história da arquitetura moderna 
brasileira. Isso se deve ao elo que consolida entre as pretensões de um ideal nativo e de um 
progresso latente no país, sobretudo pelos discursos de Juscelino Kubitschek e Lucio Costa. O 
ex-presidente tem o antigo Arraial do Tijuco como berço familiar e de formação pessoal, 
enquanto o arquiteto, na viagem que realiza em 1924, descobre ali o que considerava ser o 
autêntico passado colonial. De modos distintos, ambos remontam à materialidade e à narrativa 
de Diamantina nas justificativas de suas decisões e formas de engendrar a construção cultural 
do Brasil. Ao elaborar essa ideologia vinculada à cidade, valem-se também de ações executivas 
concretas através do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e das esferas de 
poder governamental que viabilizaram, nos anos 1950, o desenho de edifícios públicos por 
Oscar Niemeyer. Os fatos, documentos, textos, imagens e projetos que articulam a cidade à 
união extemporânea dos responsáveis por Brasília serão confrontados, lançando luz em como 
Diamantina é testemunho da arquitetura colonial trabalhada através de sucessivas 
intervenções para se tornar um dos modelos de conciliação prática e ideológica entre presente 
e passado na arquitetura moderna brasileira. 
 
Palavras-chave: Diamantina; Lucio Costa; Juscelino Kubitschek; Oscar Niemeyer; 
Arquitetura Moderna Brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diamantina is widely considered a cornerstone on the notion of origin of Brazilian 
Modern Architecture. The city connects the pretensions of a latent progress in the country 
made by two important authors for the diffusion of the avant-guarde trends in Brazil: Juscelino 
Kubitschek and Lucio Costa. The former President Kubitschek was born and has in the old 
Arraial do Tijuco his Alma Mater. The architect Costa has travelled to Diamantina in 1924, in 
a journey where he understood to find the legitimate representations of the Brazilian colonial 
past. Both intellectuals use in their narratives and in their decisory processes aspects of 
Diamantina a good formal examples on how to build a modern cultural construction of Brazil. 
Along with the weaving of this ideology on the city, they made practical executive actions on 
its form through Costa’s work in the National Historical and Artistic Heritage Service (Serviço 
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN) and Kubitschek’s terms in offices of the 
Government, which enabled the design of public buildings by Oscar Niemeyer in the 1950s. 
The facts, documents, texts, images and projects that render the city as common ground for 
these two protagonists of Brazilian Modernism – and builders of Brasília – will be confronted, 
revealing convergences and differences of though on how they understood the city. Moreover, 
it is intended to shed light on how Diamantina has witnessed the works on colonial 
architecture made in the last century by the modernists to shape a model of practical and 
ideological conciliation between present and past in Modern Brazilian Architecture. 
 
Keywords: Diamantina; Lucio Costa; Juscelino Kubitschek; Oscar Niemeyer; Brazilian 
Modern Architecture. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Rua das Mercês, Diamantina, c. 1920. 
Fonte: Acervo IMS. Autor: Chichico Alkmim. 
 
 
Em 1924, Lucio Costa viajou até Diamantina. No antigo Arraial do Tijuco, 
alumbrou uma nova percepção sobre o passado colonial e passou, ao longo dos anos seguintes, 
a formular uma visão crítica das pretensões de busca de uma identidade nacional conforme 
intendia seu círculo de intelectuais neocoloniais. O vilarejo é também a cidade natal de 
Juscelino Kubitschek, que usará seu berço como referência onipresente em sua trajetória 
política, iniciada em 1933. Em 1937, tem-se a fundação do SPHAN1 – com participação ativa 
de um Lucio Costa já convertido às postulações das vanguardas, sendo Diamantina tombada 
em 1938. Acontecimentos reforçados na década seguinte e reafirmados nos anos 1950, quando 
surge em Diamantina mais um personagem relacionado a arquitetura moderna: Oscar 
Niemeyer. Nenhum outro conjunto urbano de herança portuguesa preservado teve tantos 
edifícios projetados pelo arquiteto carioca quanto o antigo Arraial do Tijuco2. À luz dessas 
questões, Diamantina e o Percurso da Arquitetura Moderna busca traçar a linha entre fatos que, 
na origem, são eventuais, mas que na sua inter-relação confluíram para a construção de 
aspectos de uma modernidade arquitetônica nacional. 
Lucio Costa nasceu em 1902 e morou na Europa até os 14 anos. O retorno ao Brasil 
é descrito como “uma revelação”3. Do desembarque no Rio de Janeiro destaca “as montanhas 
diferentes, a mata, o casarão, o céu perto, o mar [...] espetáculo de prender a respiração”4, um 
comentário que demonstra o encantamento diante da paisagem brasileira. O jovem cursou a 
Escola Nacional de Belas Artes e, como arquiteto, foi enviado para Diamantina em 1924, 
descrevendo o deslumbramento provocado pela cidade com a mesma palavra, “revelação” 5, 
que havia usado para as terras cariocas. Neste importante ano, não por acaso, inicia um traço 
que o distinguiria: suas ideias são divulgadas através de textos, sendo que uma de suas 
 
1 A instituição foi criada sob a denominação SPHAN, Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, no 
entanto, em 1946, foi transformado em Diretoria, DPHAN, passando, em 1970, a ser Instituto do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional, utilizando a sigla IPHAN. De 1990 até 1994, foi denominado Instituto Brasileiro do 
Patrimônio Cultural (IBPC), até que, novamente, voltou à sigla IPHAN, designação vigente até hoje. Embora a 
dissertação utilize documentações e toque em assuntos referentes aos anos de 1937-1959, será utilizado, no decorrerdo texto, a sigla SPHAN. 
2 Cf. CALDAS, Bruno Tropia. Hoje, o passado de amanhã: a arquitetura de Oscar Niemeyer em sítios históricos 
brasileiros. III ENANPARQ. Arquitetura, Cidade e Projeto: uma construção coletiva, 2014. 
3 COSTA, Lucio. Rio de Janeiro, in. Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das Artes, 
1997, p. 27. 
4 Idem. 
5 COSTA, Lucio. Diamantina, in. Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das Artes, 
1997, p. 27. 
primeiras entrevistas publicadas tem como argumento a viagem de estudos recém-realizada6. 
No começo profissional, Costa foi partidário do movimento neocolonial, para em seguida 
negá-lo e se tornar, durante as décadas seguintes, “o responsável pela produção e difusão 
pública de enunciados que deram sustentação” e que tornaram possível “o extraordinário 
sucesso de uma certa ‘arquitetura moderna brasileira’ ”7. Tamanha responsabilidade atribuída 
ao arquiteto se deve à atuação multidisciplinar que permeava seus projetos, escritos e 
atividades públicas e políticas, estas relacionadas a sua participação no Serviço do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional com funcionário atuante em despachos, pareceres e 
intervenções. 
Juscelino Kubitschek teve um início de trajetória diverso, afastado das metrópoles. 
Saiu de Diamantina pela primeira vez em 1919 para prestar um concurso em Belo Horizonte. 
A capital mineira ainda era, então, um “esboço cartográfico”, mas para o jovem interiorano, 
acostumado com o tecido colonial, foi esse contato com a cidade planejada que também 
provocou “um deslumbramento”8. Das dificuldades nos primeiros anos, Kubitschek passou 
pela carreira de médico até ter contato com a política, na qual se firmou como expoente, 
alçando cargos de deputado, prefeito, governador e presidente da república. Diamantina 
esteve em sua mente e em seus discursos ao longo de seus anos como governante. Referia-se 
à cidade como berço não só de seus interesses pela escala atemporal, mas conectava as próprias 
memórias com as do vilarejo. 
Durante as atuações de Costa e Kubitschek entre os anos 1930 e 1950, Diamantina 
recebeu tanto projetos de salvaguarda, através do SPHAN, quanto de caráter moderno, com 
desenho de Oscar Niemeyer. A elaboração de edifícios públicos diamantinenses por Niemeyer 
passa pelo respaldo que os dois personagens deram ao profissional. Costa foi seu mentor e 
abriu as portas que o levaram a participar de projetos como o Ministério da Educação e Saúde, 
o Pavilhão de Nova York e anuiu e defendeu sua primeira intervenção em uma cidade 
histórica: o Grande Hotel de Ouro Preto. Depois da obra inaugural em Minas Gerais, vieram 
 
6 Cf. COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun. 1924. 
7 LEONIDIO, Otavio. Carradas de razões: Lucio Costa e a arquitetura moderna brasileira (1924-1951). Rio de 
Janeiro, RJ; São Paulo, SP: Editora da PUC-Rio: Loyola, 2007. p.15. 
8 KUBITSCHEK, Juscelino. Meu caminho para Brasilia. Volume 1. Rio de Janeiro, RJ: Bloch, 1974, p.59. 
 
 
os contatos que o levaram a Juscelino Kubitschek e, assim, a assinar o complexo da Pampulha 
e os diversos projetos que sucederam a carreira do político9. Niemeyer ganha relevância junto 
ao cenário político e ao público das artes e é considerado o mais celebrado arquiteto brasileiro 
no século XX10. Suas obras em Diamantina, embora pouco comentadas, são seminais para a 
compreensão da importância da história que conecta os fatos entre Pampulha e Brasília e os 
nomes de Costa e Kubitschek. 
Neste cenário cabem questionamentos: de que maneira Diamantina faz parte da 
mudança de postura de Lucio Costa em relação as vanguardas? Como a cidade foi incluída 
nos discursos e intervenções de Juscelino Kubitschek? E de que forma os projetos de Oscar 
Niemeyer se relacionam com este contexto e vinculam a representação de uma Diamantina 
colonial ao moderno? 
É mister que a atuação concreta dos intelectuais, entremeando preservação e 
intervenção e as aspirações das vanguardas com o colonial, associou ao antigo Arraial do 
Tijuco uma questão ideológica que permeou tanto a imagem pretendida pelo político quanto 
os aspectos fundacionais atribuídos pelo arquiteto e pode-se pensar em Diamantina como uma 
das alegorias que levava ao moderno e a consolidação de seus preceitos. 
Walter Benjamin havia identificado a alegoria como elemento principal na 
representação de mundo do Barroco11. Através das narrativas alegóricas, seria possível abrir 
as camadas dos sentidos de obras de arte e de cidades, diante da evocação de outras realidades. 
 
9 Oscar Niemeyer, em seu livro de memórias, relata que o primeiro contato com Kubitschek veio por intermédio de 
Capanema: “Um dia Capanema me levou a Benedito Valadares, governador de Minas Gerais, que pretendia 
construir um cassino no ‘Acaba Mundo’. E foi nessa ocasião que conheci Juscelino Kubitschek, candidato a prefeito 
de Belo Horizonte. Fiz o projeto, que mostrei a Benedito, mas o assunto só foi retomado meses depois, quando JK, 
prefeito da cidade, novamente me convocou. No dia combinado voltei a Belo Horizonte com Rodrigo. [...]” In: 
NIEMEYER, Oscar. As curvas do tempo: memórias. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Revan, 1998, p.93. 
Juscelino Kubitschek, por outro lado, conta que o primeiro contato foi por Rodrigo Melo Franco de Andrade. 
Insatisfeito com o suposto concurso que havia realizado para a Pampulha, saiu daquela “situação de embaraço” 
com a indicação dada pelo Diretor do SPHAN: “Estava no meu gabinete quando fui procurado por Rodrigo Melo 
Franco de Andrade, diretor do Departamento do Patrimônio Histórico Nacional, do Ministério da Educação. 
Conversamos sobre a Pampulha e, revelando-lhe meu desagrado [...] perguntou-me se não desejava experimentar 
um arquiteto que, naquele momento, estava em Belo Horizonte e que, apesar de sua pouca idade, já revelava 
impressionantes dons de originalidade artística. Imediatamente mandei que o trouxessem ao meu gabinete. [...] 
Oscar Niemeyer – era esse o nome do jovem arquiteto [...]” In: KUBITSCHEK, Juscelino. Meu Caminho para 
Brasília. Volume 2. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1974, p. 35-36. 
10 Cf. LIERNUR, Jorge. The South American Way. Block, Buenos Aires: n. 4, p. 23-41, dez 1999; CAVALCANTI, 
Lauro Pereira. Moderno e brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura (1930-60). Rio de Janeiro, RJ: 
Jorge Zahar, 2006. 
11 BENJAMIN, Walter. Origem do Drama Barroco Alemão. Sérgio Paulo Rouanet (tradução, apresentação e notas). 
São Paulo: Brasiliense, 1984. 
Assim, lugares como Diamantina podem ser vistos como espaços, prédios e objetos concretos, 
mas também apontar para uma “totalidade singular que se apresenta sempre além do alcance 
de uma visão imediata. Essa visão supostamente sem mediações [...]” é cotidiana e poderia ser 
a vista do conjunto urbano, mas também uma “visão aurática de um objeto único, permanente 
e não-reproduzível”12 como um monumento, uma cidade histórica. 
A alegoria de Diamantina foi aperfeiçoada por Costa e Kubitschek. A cidade era 
uma dessas relíquias espalhadas pelo território mineiro e as viagens de “descoberta” pelo 
interior foram fundamentais. A ida de Lucio Costa a Diamantina colaborou para consolidar a 
visão de redenção nacional nas narrativas alegóricas veiculadas pelos modernos brasileiros. 
Embora a viagem estivesse dentro do programa que pretendia organizar um estudo dos 
motivos arquitetônicos do Brasil colonial pelos neocoloniais13, o tempo e a mudança de postura 
de Costa fizeram com que se alinhasse com as pretensões de vanguarda e seus partidários que 
se reuniram anos depois no SPHAN. 
O que se buscava tanto nas excursões modernistas quanto nas neocoloniais era 
principalmente a produção do século XVII e XVIII. Diamantina, nesse período, seguiu umalógica de formação diferente das demais cidades mineiras que desenvolviam o povoamento 
ao longo dos caminhos da mineração. A exceção do antigo Arraial do Tijuco, além da 
descoberta do diamante no início da década de 172014, foi a adoção de uma solução 
quadrangular e concentrada. Vasconcellos destaca a evolução do traçado urbano no período: 
Ter-se-iam então três etapas principais cumpridas em seu desenvolvimento: a 
primeira, de 1700 a 1720, relativa ao povoamento esparso, em vários arraiais, 
de limitação indeterminada; a segunda de formação polarizada, de 1720 a 
 
12 GONÇALVES, José Reginaldo Santos. A retorica da perda: os discursos do patrimonio cultural no Brasil. Rio de 
Janeiro, RJ: Editora da UFRJ, 1996. p. 128-129. 
13 KESSEL, Carlos. Arquitetura Neocolonial no Brasil: entre o pastiche e a modernidade. Rio de Janeiro: Jauá, 2008, 
p. 133-134. 
14 Cf. MARTINS, Marcos Lobato. Breviário de Diamantina: uma história do garimpo de diamantes nas Minas Gerais 
(século XIX). Belo Horizonte: Fino Traço, 2014; FURTADO, Júnia Ferreira. O livro da capa verde: o Regimento 
Diamantino de 1771 e a vida no Distrito Diamantino no período da Real Extração. São Paulo, SP: Annablume, 1996. 
 
1750, quando se organizou em reticulado sua parte urbana propriamente dita; 
a terceira, de 1750 em diante, relativa à consolidação e expansão. 15 
Na Figura 2 é possível observar a evolução do Tijuco no século XVIII. A primeira 
etapa é marcada pela constituição do Arraial Rio Grande, onde no rio de mesmo nome os 
minérios começaram a ser explorados. Um dos córregos deste rio recebeu o nome de Tijuco e 
na sua margem direita se instalou o povoamento inicial, correspondente hoje as proximidades 
da Rua do Burgalhau. Na fase seguinte, os demais arraiais são formados em núcleos esparsos: 
o Arraial de Baixo, na entrada do caminho que vinha pelo Serro, o de Cima, na saída para 
Barra do Guacuí e, por último, o dos Forros. Os quatro arraiais seriam as balizas para 
configurar o território do Arraial do Tijuco, cujas delimitações foram dadas pelos caminhos 
que conectavam essas aglomerações primitivas16. 
 
15 VASCONCELLOS, Sylvio. Formação urbana do Arraial do Tejuco. Revista do Instituto do Patrimônio Histórico 
e Artístico Nacional, n.14. Rio de Janeiro, 1959. p. 121-134. 
16 Cf. Idem. 
19 
 
 
 
 
Figura 2: Mapa do desenvolvimento do traçado urbano do Arraial do Tijuco no séc. XVII 
Fonte: Elaborado pela autora com base em Cruz (2016, p. 69) e no acervo do Escritório Técnico do IPHAN em Diamantina (2018). 
19 
 
 
 
 
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Com as vias principais e o centro delimitados, o vilarejo se desenvolve. Na 
primeira metade do século XIX, a localidade chamou a atenção de viajantes estrangeiros e 
permeou diversos relatos17. Para Tschudi havia “uma aura de mistério que envolve seu nome 
e sua história”18, sendo o principal elemento mistificante a mineração e as relações dela 
derivadas. Também como resultado da exploração de diamantes, John Mawe ressalta que o 
Tijuco era um “lugar florescente”19. A impressão de prosperidade é confirmada por Johann 
Moritz Rugendas: “há em Tijuco muitos funcionários e negociantes, o que dá maior encanto 
às relações sociais” e relata que, mesmo merecendo “muito mais do que Vila do Príncipe, que 
é a sede da comarca, ser chamado cidade ou vila” 20, o Tijuco permanecia como Arraial. A 
decisão de manter o vilarejo como arraial era uma medida de controle político-administrativo 
em virtude da exploração dos diamantes21. Pelo interesse da metrópole pela região, as 
autoridades agiram com maior rigor e influenciaram a conformação urbana concentrada do 
Distrito Diamantino, que se valia da regra que para melhor vigiar os moradores era melhor 
não os deixar se espalhar22. O Arraial, por fim, se tornou Vila em 1831 e, em 1838, passou a ser 
cidade de Diamantina. 
Apesar do progresso com que iniciou aquele século, as atividades de produção de 
diamante diminuíram na segunda metade do XIX23. A cidade buscou alternativas na indústria 
e no comércio e, estando na entrada do sertão, funcionou como o “grande empório do Norte”24, 
 
17 No texto são citados alguns autores e suas excursões pelo Brasil, passando por Diamantina: John Mawe (1809-
1810); Carl Friedrich Philipp Martius e Johann Naptist Von Spix (1818); Auguste de Saint-Hilaire (1817-1822); 
Johann Moritz Rugendas (1822-1825) e Johann Jakob Von Tschudi (1858). Cf. MUCIDA, Danielle Piuzana et al. 
Viajantes naturalistas do século XIX: a reconstrução do antigo Distrito Diamantino na literatura de viagem. Caderno 
de Geografia, V.21, n.36, 2011. PP. 66-86. Disponível em 
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/article/view/2809>. 
18 TSCHUDI, Johann Jakob von. Viagens através da América do Sul. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 
Centro de Estudos Históricos e culturais, 2006. v.2, p. 93. 
19 MAWE, John. Viagem ao interior do Brasil, principalmente aos Distritos do Ouro e do Diamante. Rio de Janeiro: 
Ed. Zélio Valverde, 1944. p. 221-222. 
20 RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil. São Paulo: Martins. Ed. da Universidade de São 
Paulo, 1972. p.40. 
21 O Arraial do Tijuco pertencia a Vila do Príncipe, atual Serro. Ademais, as medidas de controle têm início em 
1745, quando a Coroa portuguesa proibiu a livre entrada na região, buscando evitar os contrabandos. Ao 
persistirem os roubos, surgiu, em 1771, a Real Extração dos Diamantes e o Livro da Capa Verde com uma série de 
determinações que visavam regular a vida na região. Surgia uma concepção que via na Demarcação Diamantina 
um “estado dentro do estado”. Cf. MARTINS, Marcos Lobato, op. cit. p.19-25; FURTADO, Júnia Ferreira, op.cit. 
22 D’ASSUMPÇÃO, Lívia Romanelli. Diamantina: uma formação urbana original. Revista Barroco. São Paulo, 1993, 
n. 17. p. 227-230. 
23 O ciclo do diamante durou até cerca de 1870, quando a entrada do diamante sul-africano no mercado 
internacional provocou a baixa nos preços. Cf. MARTINS, Marcos Lobato. op.cit. p. 366. 
24 Ibid. p. 401-404 
 
encontrando um mercado consumidor fiel diante da dificuldade de levar os mais diversos 
produtos para o interior. Desse período, temos projetos como a Fábrica de Tecidos do Biribiri, 
de 1876, e do mercado, construído em 1835 e adquirido pelo município em 1890 para funcionar 
como Mercado Municipal25. Além da questão comercial, Diamantina também se afirmou como 
local de alto poder episcopal após a instalação do Bispado em 185426 e de referência na 
educação regional, com o Colégio Nossa Senhora das Dores e o Seminário Sagrado Coração 
de Jesus27, mantendo o retrato enunciado por Saint-Hilaire de uma localidade com “gosto pela 
literatura e um desejo mais vivo de se instruir” 28. 
A movimentação do distrito não impedia que a distância que se encontrava dos 
grandes centros fosse sentida. A paisagem das pedras anunciava ao visitante quanto se 
avançava pelo interior do continente e o surpreendia: 
Sente-se o viajante, nesses deliciosos jardins, atraído de todos os lados por 
novos encantos [...] Volvendo o olhar pacífico e variegado ambiente para a 
distância, o espectador vê-se todo contornado por altas montanhas rochosas 
que, iluminadas pelos ofuscantes raios solares, refletem uma luz 
resplandecente de seus vértices brancos(...) 29 
Desse isolamento, vem o retrato formal que se cristaliza no tempo até o início do 
século XX. Diamantina recebeu tardiamente os traços da modernidade: a iluminação elétrica 
chega em 1910, a linha de tremem 1914. Datam desse período reinvindicações de melhorias 
do espaço público, através do embelezamento de praças e parques, e de infraestrutura urbana, 
 
25 Inicialmente construído como “Intendências dos Lages”, o edifício foi adquirido pela Câmara Municipal para 
atender a demanda de um local apropriado para o comércio. Ibid. p. 277-292. 
26 Para criar a diocese foi necessário um decreto-lei do Estado Imperial Brasileiro, neste caso lei civil n. 673 de 10 de 
agosto de 1853, executada em 1854. Cf. SANTOS, Dayse Lucide Silva. Cidades de vidro: a fotografia de Chichico 
Alkmim e o registro da tradição e da mudança em Diamantina (1900 a 1940). 2015. Tese (Doutorado) - Faculdade 
de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015. p. 133. 
27 O Colégio Nossa Senhora das Dores foi fundado em 1866 e funcionava na Casa da Glória. Em 1878, recebeu o 
conhecido passadiço. Já o Seminário do Sagrado Coração de Jesus, foi fundado em 1864. Cf. BARACHO, Cláudia 
Elizabeth. Grupo Escolar Professora Júlia Kubitschek: modernização na arquitetura e nas concepções educacionais 
em Diamantina, 1951-1961. 2016. 142 p. Dissertação (Mestrado Profissional) – Programa de Pós-Graduação em 
Ciências Humanas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2016. p. 65. 
28 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelo Distrito dos diamantes e litoral do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; 
São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1974, p.33. 
29 SPIX e MARTIUS. Viagem pelo Brasil: 1817- 1820. Vol II. São Paulo: Melhoramentos, em colaboração com o 
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em convênio com o Instituto Nacional do Livro – MEC, 1976 apud 
D’Assumpção, 1995, p. 77. 
 
com os calçamentos das vias e o saneamento30. Foi nesse contexto que cresceu Juscelino 
Kubitschek, até que ele parte do interior para Belo Horizonte. 
Lucio Costa, ao fazer o caminho inverso, encontra a imagem de Diamantina com o 
mesmo conjunto colonial emoldurado pela Serra dos Cristais visto pelos exploradores do 
século XIX (Figura 3). O visitante que chegava no Arraial dos anos 20 se deparava com um 
conjunto urbano mais concentrado que as demais cidades mineiras, se assemelhando a retícula 
portuguesa, mas diferindo dela por não possuir uma centralidade associada a uma grande 
praça, fato que pode ser explicado pela ausência de uma Casa de Câmara e Cadeia31. O 
conjunto arquitetônico era composto principalmente por residências e, desde o final do século 
XVIII, contava também com edificações assobradadas que poderiam ser de uso misto32. 
Embora o programa das habitações, a conformação no lote e o arranjo das 
edificações ao longo das vias sejam semelhantes as cidades que surgiram no mesmo período, 
como Ouro Preto e Mariana, Diamantina possui particularidades. Na escala urbana, nota-se 
como suas igrejas se relacionam com o conjunto quase se confundindo com o casario, 
conferindo uma delicadeza peculiar se comparada as demais cidades setecentistas mineiras33. 
Provavelmente seja um resultado da dificuldade de terrenos livres onde as Irmandades 
pudessem prever, além da expansão dos templos, o cemitério anexo e o “cenário urbano”34. 
 
 
30 GOODWIN Jr., James William. As Cidades de Papel: Imprensa, Progresso e Tradição. Diamantina e. Juiz de Fora, 
MG (1884-1914). Dissertação de Doutorado em História Social. FFLCH/USP, São Paulo, 2007. p. 166-168. 
31 Cf. PESTANA, Til. Diamantina. In: Actas do Colóquio Internacional Universo Urbanístico Português – 1415-1822. 
Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001, p. 582. 
32 LEMOS, Celina Borges. Diamantina e sua arquitetura nos contextos da formação do arraial e consolidação da 
vida: registros e manifestos da modernidade na paisagem cultural entre os séculos XVIII e XIX. In: Anais XIII 
Seminário sobre Economia mineira 2006. Diamantina: CEDEPLAR/FACE, 2006. p. 72-93. 
33 D’ASSUMPÇÃO, Lívia Romanelli. Diamantina: uma formação urbana original. Revista Barroco. São Paulo, 1993, 
n. 17. p. 230. 
34 Idem. 
23 
 
 
   
 
Figura 3: Panorama de Diamantina no início do século XX. Fonte: Acervo do Museu do Diamante.  
23 
 
 
 
   
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Na escala do lote, destaca‐se a solução formal das fachadas, onde o aproveitamento 
intencional do afloramento da estrutura de madeira confere  tratamento plástico e verdade 
construtiva  às  edificações35,  além  da  profusão  de  cores  do  conjunto.  Brandão  afirma  que 
“rudes, mas acolhedoras, os ‘incultos pedreiros’ deram‐nos o selo da simplicidade e da pureza, 
fazendo  inclusive  com  que  se  perdessem  ‘certos  maneirismos  preciosos  e  um  tanto 
arrebitados’ que ainda havia na metrópole”36.  Foi essa autonomia e singeleza da casa colonial 
tijucana que chamou a atenção de Costa. 
Se em 1924, ao também percorrer o caminho modernista em direção à Minas, Lucio 
ainda não estava alinhado com o movimento moderno, o discurso já assinalava a necessidade 
de um diálogo: “Naturalmente será preciso conciliar tais vestígios de uma época passada com 
o raffinement da vida moderna. Surge justamente aí a principal tarefa do arquiteto”37. 
Lucio  Costa,  ao  traçar  um  fio  condutor  entre  origem  e  futuro  da  arquitetura 
brasileira,  se  insere  em  um  grande  projeto  de  reconstituição  ideológico‐cultural  do  país. 
Dentro desse projeto, a defesa do patrimônio arquitetônico integra um eixo fundamental. Uma 
“boa  causa”  da  qual Costa  se  ocupa,  “uma  causa,  aliás,  que,  desde  a  primeira  viagem  à 
Diamantina  havia  sensibilizado  Lucio  Costa;  que,  portanto,  sempre  fora  sua”38. 
Consequentemente,  Diamantina  também  está  no  contexto  das  discussões  do  Serviço  do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 
Passa  a  nossa  cidade  juntamente  com  outras  em  todo  o  Brasil  para  o 
patrimônio histórico nacional, sendo aqui criado um departamento. Agora já 
não se podia fazer nenhum melhoramento por pequeno que fosse sem ordem e 
direção  do  Patrimônio,  o  que  tirava  um  pouco  o  seu  progresso, mas  em 
compensação acabou a dor de cabeça dos católicos para efetuarem os consertos 
de  que  tanto  necessitavam  as  nossas  igrejas,  algumas  ainda  do  tempo  do 
Tijuco.  [...]  A  política  estava  forte  e  trazendo  grandes  vantagens  para 
Diamantina, pois começava a elevar‐se nosso conterrâneo e grande amigo de 
                                                      
35 Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Bens tombados de Diamantina. Brasília, IPHAN, 2003. 
p.22. 
36 BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Arquitetura residencial no barroco mineiro. Revista AP, n.5, p.26‐30, 1996. 
37 COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun.1924 
38 LEONIDIO, Otavio. Carradas de  razões. Lucio Costa  e a  arquitetura moderna brasileira  (1924‐1951). Rio de 
Janeiro: tese de doutorado, Departamento de História, PUC‐Rio, 2005, p. 195. 
25 
 
 
 
sua terra natal [...] Juscelino Kubitschek de Oliveira. A nossa cidade começou 
a progredir assustadoramente e obtinha tudo com facilidade. 39 
É nesse quadro de dualidade entre preservação e desenvolvimento que o SPHAN 
aprova alguns projetos modernos no tecido histórico de Diamantina. Repetindo a colaboração 
desenvolvida  em  Belo Horizonte,  Juscelino  encomenda  uma  série  de  projetos  para Oscar 
Niemeyer: a Sede Social do Diamantina Tênis Clube na Praça de Esportes; o Hotel de Turismo; 
o Grupo Escolar Júlia Kubitschek; a Faculdade de Odontologia e o aeroporto40. As demandas 
viabilizadas  por  Kubitschek  representavam  as  convicções  de  um  processo modernizador 
onde,  do  interior  paracentro,  das  pequenas  as  grandes  cidades,  criava‐se  uma  ideologia 
política que poderia também ser traduzida pela arquitetura.  
Para dar nexo ao arco que parte de casualidades dos anos 1920 até coordenadas 
ações de intervenção na cidade colonial nos anos 1950, a abordagem metodológica da pesquisa 
buscou  cotejar  questões  arquitetônicas  e  políticas  tecidas  nesse  período  no  Brasil  com 
Diamantina. Os  trajetos de Lucio Costa e Juscelino Kubitschek no antigo Arraial do Tijuco, 
traduzidos em textos, desenhos, projetos técnicos e burocráticos, extrapolaram questões locais 
e contribuíram para evidenciar uma construção ideológica que encontrou em Diamantina uma 
representação: “[...] e como a humanidade não pode prescindir de representações [...] há, afim 
de não suportar inconscientemente esse fardo, a necessidade de ‘analistas’.ʺ41 Assim, investigar 
as questões que culminaram nessa alegoria requer um olhar atento para a história. ”E se a 
arquitetura tem o seu poder, a história tem outros. [...] Conhecer os limites já é um bom negócio 
e a história pode  contribuir  com  isso.”42. As delimitações  trazidas pelos autores estudados 
possuem, por um lado, materiais para entender Diamantina e, por outro, criam uma imagem 
da cidade e das pretensões em relação a ela – e ao país. Para entender a nuance dos fatos, foi 
preciso buscar as fontes primárias.  
                                                      
39 SANTOS, Luiz Gonzaga dos. Memórias de um carpinteiro. Belo Horizonte: Editora Bernardo Álvares, 1963. p.77‐
78. 
40  O aeroporto não foi construído e existem ressalvas em relação a autoria do projeto da Faculdade de Odontologia. 
Cf. MACEDO, Danilo, A Matéria da Invenção: Criação e construção das obras de Oscar Niemeyer em Minas Gerais. 
1938‐1954, Dissertação de mestrado, Belo Horizonte: UFMG, 2002. 
41 TAFURI, Manfredo. apud OCKMAN, J. ʺVenice and New Yorkʺ in. Casabella n.619‐620, 1995, p.67. “[...] and since 
humanity  cannot  do without  representations  –  the  ‘symbolic  forms  of Cassirer  –  thus,  in  order  not  to  bear  this  burden 
unconsciously, the need for ‘analysts’.” Tradução da autora. 
42 Idem. “And if architecture has its power, history has others. [...]To know limits is already a good deal, and history 
can contribute to that. ”. Tradução da autora.  
26 
 
 
 
As  documentações  pessoais  têm  um  caráter  sentimental,  como  é  o  caso  das 
anotações de Costa no verso do recibo do hotel de 192443 ou ainda a carta de Kubitschek para 
o amigo Augusto44. Elas endossam os relatos enternecidos publicados posteriormente, seja em 
livros biográficos – exemplo dos textos de Registro de uma vivência e Meu caminho para Brasília, 
ou nos depoimentos transcritos. Esses discursos, elaborados quando já se sabia o alcance que 
teriam,  afirmam  a  posição  de  Diamantina  numa  elaboração  histórica  e  demonstram  as 
convicções idealizadas em torno da cidade.  
Nas  entrevistas,  o  conjunto diamantinense  aparece  como  ilustração  e  Juscelino 
Kubitschek se mantém mais saudosista ao expressar suas memórias da terra natal, conforme 
nas  falas  concedidas  a Maria Victoria Benevides45,  enquanto Lucio Costa busca  explicar  o 
alumbramento causado pelo vilarejo através de elementos arquitetônicos, como na primeira 
edição da revista Pampulha46. Já nos documentos institucionais, a postura adotada tanto por 
Costa quanto Kubitschek demonstra um lado mais objetivo, focado em viabilizar projetos na 
cidade.  Nesse  ponto,  os  arquivos  do  IPHAN  ganham  protagonismo  à  medida  que  são 
evidenciados os diversos períodos de atuação de Lucio Costa em Diamantina: desde a pouco 
conhecida visita de 1937 até as polêmicas quanto a necessidade de novas edificações públicas 
dentro do tecido histórico nos anos 195047. Há também as questões do então governador de 
Minas  Gerais  com  o  órgão  de  proteção  ao  patrimônio,  visto  a  troca  de  telegramas  para 
possibilitar a construção das obras de Niemeyer no perímetro tombado. 
Quando,  no  entremeio  de  textos,  surgem  informações  gráficas  através  de 
desenhos, projetos e retratos, o  trabalho ganha outra dimensão. A concepção e assimilação 
imagética de Diamantina é composta pelas fotografias do período feitas por Chichico Alkmim, 
Erich Hess  e Assis Horta  e  pelos  desenhos  de  juventude  de  Costa  e  de  outros  viajantes 
contemporâneos ao arquiteto, como Alfredo Norfini e  José Wasth Rodrigues. Os desenhos 
                                                      
43 COSTA, Lucio. Verso do recibo do Hotel Roberto. Diamantina, 1924. Acervo Casa de Lucio Costa. Disponível em: 
<http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/2888>. Acesso em: 15 maio 2017. 
44 KUBITSCHEK, Juscelino. Correspondência a Augusto, 09/03/1941, Palace Hotel Poços de Caldas, In. MEMORIAL 
JK, 016/A.C. 
45 OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de. Juscelino Kubitschek I (depoimento, 1974). Rio de Janeiro, CPDOC, 1979; 
OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de. Juscelino Kubitschek II (depoimento, 1976). Rio de Janeiro, CPDOC, 1979. 
46 PAMPULHA. Belo Horizonte: Caminho Novo Empresa Jornalística e Panela; Instituto dos Arquitetos do Brasil, 
Seção Minas Gerais, N. 01 nov/dez. 1979,  p.12‐20. 
47 Exemplo da polêmica quanto ao novo edifício da rodoviária. Cf. COSTA, Lucio. Parecer, 27 de agosto de 1959. 
BARRETO, Paulo Theodin. Informação sobre pedido para ser levantado o tombamento de quatro prédios (...) de 
Diamantina, de 27 de julho de 1959. Processo de Tombamento 0064‐T‐38 – ACI/RJ. 
27 
 
 
 
originais de Costa,  expostos no museu Casa de  Juscelino  em Diamantina, demonstram os 
detalhes  construtivos,  enquanto  as  aquarelas, mais divulgadas  em publicações, despertam 
outras questões. Já as fotografias de Alkmim relatam o cotidiano do antigo Arraial justamente 
no período que toca a pesquisa, e as de Hess, contratado pelo SPHAN e orientado pelo próprio 
Lucio Costa na expedição dos anos 1930, apresentam a cidade pelo olhar de um visitante.  
Há ainda a expressão espacial  realizada na década de 1950, quando das  linhas 
articuladas  por  Oscar Niemeyer  surgem  os  projetos modernos  de  intervenção  no  centro 
histórico. Tafuri afirma que certamente documentos e contexto histórico importam, mas que 
“não há nada mais enganoso e hermético que uma arquitetura sem desenho”48. Analisar as 
obras de Niemeyer e o que elas  representam naquele momento,  seja na  tradução do  ideal 
moderno dentro de um perímetro mineiro e barroco tombado, seja na questão política através 
de Kubitschek, é perceber as intenções e alusões nos seus traços. Para além disso, também é 
investigar  os  entremeios  das  construções  dos  projetos. Mesmo  que  a  pesquisa  não  tenha 
encontrado tantas respostas nos acervos documentais da capital mineira, o arquivo do IPHAN 
deu o lastro para compreender a relação entre o então governador de Minas Gerais, o Serviço 
e  o  arquiteto  e,  nos  arquivos  municipais,  foi  possível  encontrar  um  desenho  ainda 
desconhecido do projeto da Praça de Esportes de 195149. 
O  lastro  documental  e  biográfico  para  cobrir  as  três  figuras  que  constroem  a 
dissertação  não  seria  suficiente  para  entender  a  protagonista  imanente  do  trabalho.  Para 
compreender Diamantina, a pesquisa de campo  foi essencial.   Quando  fala sobre os bens a 
serem protegidos ou preservados, Márcia Chuva  ressalta  a  “necessidade  incontornável de 
contato, de experiência e de vivência”.  Pode‐se pensar nas primitivas viagens modernistas até 
as  rotineiras  excursões  que  caracterizaram  o  Serviço  do  Patrimônio Histórico  e Artístico 
Nacional, sendo que “para a fruição estética, essa experiência é imprescindível. ”50.   
Ao todo foram cerca de quatro meses de permanência, divididos em duas viagens 
para o antigo arraial. Nelas, foram registradas imagens, desenhos, anotações e textos afim de48 TAFURI, M. ʺLʹarcheologia del presenteʺ in. BIANCHINO, G. Il disegno dellʹarchitettura. Parma: Centro di studi 
e archivio della comunicazione, 1983, p. 24. “Intendo dire che no c’è nulla di più  ingannevole e di ermetico che 
un’architettura senza disegno, certo anche senza documenti, anche senza contesto storico, ma in particolare senza 
disegni.”. Tradução da autora.    
49 Arquivo Púbico Municipal de Diamantina – Série Plantas Diversas Antigas. Cx. 07. 
50 CHUVA, Márcia. O modernismo nas restaurações do SPHAN: modernidade, universalidade, brasilidade. Revista 
IEB, São Paulo, n.55, 2012, p.97. 
28 
 
 
 
apreender as percepções da cidade, além do contato com pesquisadores locais. Também foram 
visitadas  as  obras  de  Oscar  Niemeyer  e  foram  percorridos  os  locais  caros  a  Juscelino 
Kubitschek na sua cidade natal, com foco na Casa de Juscelino e na preservação da memória 
do ex‐presidente pelo museu, incluindo uma conversa (transcrita nos apêndices) com Serafim 
Jardim,  presidente  da  Casa  e  amigo  que  acompanhou  Kubitschek  depois  do  exílio.  O 
depoimento  de  Jardim  trouxe  uma  visão  da  relação  de  Juscelino  com  Diamantina 
extemporânea aos cargos públicos, mostrando uma continuidade de interesse pela terra natal. 
Sobressaíram‐se  também os arquivos que preservaram  a memória da  imprensa  local,  com 
jornais de cunho católico, A Estrela Polar, partidário pessedista, O Nordeste, e popular, Voz de 
Diamantina.  
Percorrer a cidade buscando os possíveis caminhos realizados em 1924 permitiu 
vislumbrar os pontos que constam nos  registros de Lucio Costa e que mais  tarde  também 
foram preservados pelo SPHAN. Andar pelas capistranas do centro histórico traz a consciência 
que  a  Diamantina  que  se  apresenta  para  o  visitante  contemporâneo  é  aquela  que  os 
protagonistas das intervenções dos anos 1930 a 1950 quiseram mostrar.  
Em outro momento do percurso, foi refeito o trajeto de Costa na primeira visita a 
Minas  Gerais,  quando,  além  da  permanência  em  Diamantina,  passou  brevemente  pelas 
cidades de Ouro Preto, Mariana e Sabará51. Estar nos quatro vilarejos históricos em sequência 
foi  importante  para  visualizar  consonâncias  e  divergências  entre  os  conjuntos  coloniais 
preservados e o que se sobressai no mais distante deles.   Na viagem,  incluiu‐se ainda Belo 
Horizonte,  tanto  pela  pesquisa  no  Arquivo  Público  Mineiro,  quanto  para  auxiliar  na 
compreensão  do  significado  da  construção  da  Pampulha,  que  junto  com  as  obras  em 
Diamantina, é um elo  importante que rege a relação de Kubitschek e Niemeyer no período 
pré‐Brasília. A respeito da capital federal, é ela que, junto com o Rio de Janeiro, fecha o arco 
das cidades percorridas em virtude da pesquisa. Na busca por fontes primárias, mostrou‐se 
indispensável  ir  além  de Minas  Gerais.  Brasília  e  Rio  de  Janeiro  foram  as  duas  frentes 
responsáveis por cobrir outros arquivos referentes a  Juscelino Kubitschek e Lucio Costa. A 
consulta  restrita  permitida  no Memorial  JK  contrasta  com  a  disponibilidade  do Arquivo 
                                                      
51 Cf. COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun. 1924.  
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Central do  IPHAN, onde  foram encontrados os alicerces para estabelecer as  relações entre 
Costa, Kubitschek, Niemeyer, Diamantina e o patrimônio.  
  No que diz respeito às fontes secundárias, a pesquisa se pautou, inicialmente, 
nas  coleções Alexandre  Eulálio,  da  Biblioteca Central César  Lattes  da Unicamp  e  na  José 
Claudio Gomes, da Biblioteca de Pós‐Graduação da FAUUSP. Tanto Eulálio52, professor da 
Unicamp, quanto Gomes53, professor da USP, tiveram Diamantina como objeto de interesse e 
estudo. Evidencia‐se a importância do livro raro, “O Discurso de Diamantina”, que pertencia 
à Eulálio e contém a transcrição do discurso que Kubitschek realiza na cidade natal assim que 
é eleito presidente e  também as análises de Diamantina, que se  tem acesso,  realizadas por 
Gomes.  Somou‐se  à  leitura  das  coleções,  a  leitura  de  dissertações,  teses,  artigos  e  livros 
pertinentes ao tema tendo como fio a investigação de Diamantina como parte da construção 
de uma modernidade.  
Para aprofundar a visão de Diamantina por Lucio Costa, partindo da percepção 
da  materialidade  da  cidade  através  de  seus  desenhos  nos  anos  1920  e  perpassando  o 
pensamento  que  desenvolveria  nas  décadas  seguintes  quando  assimila  a  conexão  entre  o 
passado e as vanguardas, ressaltam‐se as teses de Caion Meneguello Natal e Samuel Silva de 
Brito. Já ao se ater ao período de transição na obra e no pensamento de Costa, culminando com 
a  atuação  no  SPHAN  e  tecendo  um  círculo  de  interesse  do  arquiteto  onde  a  viagem  a 
Diamantina  permeou  questões  primordiais,  merecem  destaque  os  trabalhos  de  Otavio 
Leonidio  e  Cristiane  Souza  Gonçalves.  A  fim  de  dialogar  com  esses  e  outros  autores  e 
embasando  os  argumentos  tecidos  pela  dissertação,  valeu‐se,  principalmente,  da  vasta 
produção  textual do próprio arquiteto e dos seus  inúmeros depoimentos para os meios de 
comunicação. 
Assim como Lucio Costa, Juscelino Kubitschek publicou diversos escritos, além de 
deixar registrados discursos e entrevistas. Para debater com as falas do político e buscando 
                                                      
52 Cf. MACEDO, Sílvia Quintanilha. Alexandre Eulalio: retrato de um intelectual singular. Tese de Doutoramento. 
Faculdade  de  Filosofia,  Letras  e  Ciências Humanas  da USP,  2004; Obra  Completa  de Alexandre  Eulálio.  In: 
<http://www.unicamp.br/~boaventu/page20.htm> 
53 Cf. SILVA NETO, Manoel Lemes. “Do todo à parte”. Revista Óculum, n. 15. Campinas: FAUPUCCAMP, 2012. < 
http://periodicos.puc‐campinas.edu.br/seer/index.php/oculum/article/view/880> 
RETTO  JUNIOR, Adalberto  da  Silva;  CONSTANTINO, Norma  Regina  Truppel  ;  ENOKIBARA, Marta  .  José 
Cláudio  Gomes.  Entrevista,  São  Paulo,  ano  06,  n.  023.01,  Vitruvius,  jul.  2005 
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/06.023/3315>. 
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perfazer os modos pelos quais a ideologia de Diamantina foi construída, destaca‐se o livro de 
Josanne Guerra Simões e também o texto de Marcos Lobato Martins. Buscando compreender 
a figura de Kubitschek no contexto de diversas interpretações sobre as tradições, necessárias 
para  a modernização  em meio  a um  cenário de busca por uma  identidade nacional  tanto 
política quanto arquitetônica, evidenciam‐se a biografia elaborada por Claudio Bojunga e os 
trabalhos de Maria Victoria Benevides.  
Ao  relacionar os  trajetos de Costa e Kubitschek em Diamantina ao percurso da 
história da arquitetura moderna brasileira e aos reflexos no vilarejo através dos projetos dos 
anos 1950, a dissertação também se apoia em nomes como Adrián Gorelik e especificamente, 
pensando nas edificações desenhadas por Oscar Niemeyer, nos estudos de Danilo Macedo e 
Bruno Tropia Caldas.  
A  argumentação  busca, no  seu  conjunto,  expor  como Diamantina precisou  ser 
continuamente  revisitada.  Embora  estivesse  sob  o  signo  ideológico  da  pureza  para  os 
intelectuais  modernistas,  existia,  em  sua  condição  originária,  uma  inadequação  com  os 
intentos  mais  literalmente  progressistas,  o  que  demandava  diferentes  pensamentos  e 
ponderações  que  frequentemente  recaiam  na  necessidade  de  conciliar  preservação  e 
intervencionismo na cidade. Em si isso é um dilema comum nos tecidos tombados, mas o peso 
ideológico de uma Diamantina lendária conforme aparecia nos discursos de Kubitschek, nos 
ideais de Costa e no SPHAN forçaram o debate a se tornar mais afinado. Os dilemas estéticos 
que  conectam o  casario diamantino  com as  casas de Warchavchik, por exemplo,  são  traço 
estético dos desdobramentos vanguardistasda viagem de Costa em 1924. As querelas acerca 
da demolição do mercado da cidade, das residências no Beco do Mota ou acerca da construção 
da Rodoviária e dos projetos de Niemeyer são o outro lado: as intervenções práticas. Ambos 
demonstram a distinção de Diamantina nos salões e sucursais em Belo Horizonte, São Paulo, 
Rio de Janeiro e, posteriormente, em Brasília. A dissertação busca dar perspectiva aos ideários 
lançados em uma  cidade  cuja noção de pureza eventualmente poderia  ser pretexto para a 
tornar a‐histórica. Seguindo o percurso dos  intelectuais que nela passaram e cujo  legado a 
define, é nítida a inserção de Diamantina no começo do século XX em amplos debates do seu 
tempo. Sua condição atual é igual testemunho desse posicionamento (Figura 4). 
   
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Figura 4: Panorama de Diamantina, 2017. Em vermelho, alterações destacando as obras de Oscar Niemeyer. Fonte: Acervo da autora. 
 
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1. LUCIO COSTA: O DESENHO DA PUREZA 
Em Diamantina, Lucio Costa elaborou uma série de desenhos. Na maioria deles, 
seus  traços  evocavam  detalhes  construtivos.  As  doze  ilustrações  que  se  tem  acesso  são 
registros  a  lápis  de  fechaduras,  balaústres,  portas,  janelas,  púlpitos  e  beirais.  Porém,  as 
imagens mais divulgadas como referências da sua viagem de 1924 são as poucas aquarelas que 
mostram,  em  cores,  representações da perspectiva  interna da  Igreja de Nossa  Senhora do 
Carmo, da externa do passadiço do antigo Colégio Nossa Senhora das Dores e de uma via, 
talvez o Beco da Tecla1 (Anexo A, Imagens I, II e III). De sua autoria, não chegou até nós um 
panorama amplo que mostre visualmente a cidade descrita por ele na entrevista concedida 
para o  jornal A noite,  logo após  retornar da excursão mineira, ou no depoimento, décadas 
depois, em Registro de uma vivência. Conhece‐se a visão inicial de Diamantina através de suas 
palavras: 
A janela do meu quarto, no Hotel Roberto2, dava para a rua (...). Um piano 
distante tocava quando desci e me pus a caminhar pelas capistranas, trilha de 
lajes maiores no meio das ruas empedradas: no alto de uma  ladeira os dois 
sobrados do colégio de freiras, um ainda setecentista, o outro já do Império, 
ligados por um elegante passadiço; no  largo  fronteiro a uma  igreja o  típico 
cruzeiro de madeira guarnecido dos símbolos do martírio, com uma figueira 
enroscada, nascida do seu pé3. Depois a fachada da casa de Chica da Silva, a 
                                                      
1 O  desenho  aparece  na  reportagem  do  Jornal A Noite  com  a  legenda:  “uma  das  ruas mais  interessantes  de 
Diamantina, conservando em quase todos os seus aspectos a feição hispano‐árabe”. Pela descrição e pela imagem, 
acredita‐se ser o Beco da Tecla. Em 1943, Mariano usará a perspectiva para ilustrar seu texto. Cf. COSTA, Lucio. 
Considerações  sobre  o  nosso  gosto  e  estilo. A Noite,  Rio  de  Janeiro,  18  jun.  1924; MARIANO  FILHO,  José. 
Influências muçulmanas na architectura tradicional brasileira. Rio de Janeiro: Editora A Noite, 1943, p.67. 
2 O Hotel Roberto ficava na Rua Direita, consta nos jornais dos anos 1920 o endereço “No largo da Sé” ou nos recibos 
emitidos  “em  frente  a  Sé”.  Ressalta‐se  que  a  Sé  ainda  era  a  colonial,  demolida  em  1932. Numa  busca  para 
compreender qual era o edifício do Hotel, constatou‐se, através de uma fotografia de época, que provavelmente o 
Hotel  estava  instalado  no mesmo  sobrado  no  qual,  na  virada  do  século XIX  para  o XX,  possuía  parte  como 
residência o avô de Juscelino Kubitschek e onde, em 1902, o ex‐presidente nasceu. Mais tarde, o hotel foi transferido 
para o sobrado na esquina da Rua Direita com a Travessa do Carmo. 
3 Sabe‐se que é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário por citar a condição única do cruzeiro. O templo foi construído 
por volta de 1772 e na frente do edifício, onde está uma praça, nasceu uma gameleira e não uma figueira, como 
confunde‐se Costa, que cresceu emaranhada com o cruzeiro ali existente. 
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famosa amante do contratador, resguardada por extenso muxarabi, e, defronte, 
a capela do Carmo, construída para ela (...).4 
O texto sugere pontos percorridos pelo arquiteto em extremos do perímetro que 
mais tarde seria tombado pelo SPHAN (Figura 5). Os edifícios no passeio são representativos 
diamantinenses  de  rezar,  morar  e  educar  e  demonstram  como  Costa,  em  um  primeiro 
momento, não ateve suas análises a uma única função, mas ao uso total da cidade. A maioria 
das particularidades esmiuçadas são formais, como “beirais fortemente balanceados, tratados 
em madeira com caibros aparentes e perfilados, balcões com balaústres torneados, portas de 
ricas  almofadas,  ferragens,  gelosias,  alpendres”5  (Anexo  A,  Imagens  IV  a  XII).  Detalhes 
“convenientemente documentados” para ajudar a “definir a nossa arquitetura”6, cumprindo o 
intuito do convite de José Mariano Filho para que Lucio Costa fosse à cidade. 
No  final  da  década  de  1910  e  início  da  década  de  1920,  as  novas  construções 
passavam pelo embate do que seria uma arquitetura nacional autêntica. A historiografia nos 
conta  que,  até  então,  a  preocupação  de  se  representar  uma  brasilidade  não  existia  e  a 
arquitetura seguia correntes como o neoclassicismo, neogótico, art nouveau e demais formas 
do ecletismo7. Intelectuais passaram a questionar o modelo em vigor e a defender a busca por 
um estilo nacional pautado pelo estudo da arquitetura colonial, escolhida como aquela que 
representava as origens brasileiras do construir. Dessa forma, surge o neocolonial.  
Mariano, recifense radicado no Rio de Janeiro, fazia parte da corrente carioca de 
personalidades que era partidária do novo estilo. A arquitetura era um tema caro ao médico 
que,  como  presidente da  Sociedade Brasileira de Belas Artes8,  financiou  as  excursões  que 
fomentaram argumentos e  imagens em prol do uso do vocabulário colonial como meio de 
expressar, de modo preciso,  o que  seria  o  tão buscado  estilo nacional. Com  este objetivo, 
Mariano convidou profissionais de sua estima para visitarem as cidades mineiras. Nestor de 
                                                      
4 COSTA, Lucio. Diamantina, in: Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das Artes, 
1997, p. 27. 
5 COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun. 1924. 
6 Idem. 
7 Cf. REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2004; CZAJKOWSKI, 
Jorge. Guia da arquitetura eclética no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000. 
8 Além de presidir a Sociedade Brasileira de Belas Artes por muitos anos, foi diretor da Escola Nacional de Belas 
Artes entre 1926‐1927 e também fundou o Instituto Brasileiro de Arquitetos e a Sociedade Central de Arquitetos em 
1921, presidindo ambas e as unindo em 1924 como Instituto Central de Arquitetos. 
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Figueiredo  foi  a Ouro Preto, Nereu Sampaio  a São  João Del Rei  e Congonhas do Campo, 
Ângelo Bruhns a Mariana e a Lucio Costa coube a última cidade do sentido Rio de Janeiro‐
Minas Gerais da antiga Estrada Real9: “Eu era o mais novo, então, me mandaram para mais 
longe”10. 
Porém, Costa  não  foi  o  único  viajante  que  percorreu  as  36  horas  de  trem  até 
Diamantina em nome das pesquisas de grupos neocoloniais. Ricardo Severo  ‐ engenheiro, 
arqueólogo e arquiteto português residente em São Paulo, promoveu excursões com objetivos 
semelhantes na mesma época11. Sob seu patrocínio, os pintores José Wasth Rodrigues e Alfredo 
Norfini foram enviados para interior do Brasil e Diamantina fazia parte do roteiro.  
JoséWasth Rodrigues era paulistano, conhecido por pinturas de painéis, azulejos 
e de paisagens antigas do estado. Em 1916, Monteiro Lobato escreveu um artigo elogiando o 
artista12, que passaria a fazer ilustrações para a Revista do Brasil e para livros de autores como 
Guilherme de Almeida e Alcântara Machado. Alfredo Norfini, por sua vez, era florentino e se 
fixou em São Paulo em 1911, após passagens por Buenos Aires, Campinas e Rio de Janeiro. No 
mesmo ano, por recomendação de Ramos de Azevedo, foi nomeado professor titular do Liceu 
de Artes  e Ofícios. No momento das  excursões para o  interior brasileiro, os dois pintores 
tinham carreiras mais consolidadas que o jovem Lucio Costa. 
9 Cf. NATAL, Caion Meneguello. Da casa de barro ao palácio de concreto: a invenção do patrimônio arquitetônico 
no Brasil  (1914‐1951). Tese  (doutorado)  ‐ Universidade Estadual de Campinas,  Instituto de Filosofia e Ciências 
Humanas, Campinas, SP, 2013, p. 113‐114 e TELLES, Augusto da Silva. Neocolonial: la polémica de José Marianno. 
In: AMARAL, Aracy (cord.). Arquitetura Neocolonial: América Latina, Caribe, EUA. São Paulo: Memorial/Fundo 
de Cultura Econômica, 1994. 
10 COSTA, Lucio. Sobre o Patrimônio. Boletim do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural ‐ IBPC, 27 de fevereiro 
de 1992. In: NOBRE, 2010, p. 215. 
11 No  final da década de  1910,  o  português Ricardo  Severo  patrocinou  as  excursões  dos  pintores  José Wasth 
Rodrigues, Alfredo Norfini e Felisberto Ranzini pelo Brasil. Através delas, seria possível desenvolver um material 
que  fundamentasse  o  vocabulário neocolonial. Os  estados percorridos  foram  São Paulo, Minas Gerais, Rio de 
Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Pará e Maranhão, dando privilégio às 
cidades  interioranas,  sobretudo  as mineiras. Cf. MELLO,  Joana. Ricardo  Severo: da  arqueologia  portuguesa  à 
arquitetura brasileira. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra/Annablume, 2012, p. 65‐67 e NATAL, op. 
cit., p. 103‐105. 
12 LOBATO, Monteiro. A propósito de Wasth Rodrigues. O Estado de São Paulo, São Paulo, 9 de janeiro de 1916. 
35 
Figura 5: Mapa do Percurso de Lucio Costa em 1924. 
Elaborado com base nos relatos de Lucio Costa em Registro de uma Vivência e nos desenhos realizados na viagem em 1924. Na legenda, os edifícios foram nomeados de acordo com a 
função que ocupavam na época. Hoje, a Câmara Municipal (9) é o fórum da cidade. O Grupo Escolar Matta Machado (8) era, entre os séculos XVIII e XIX, a Casa de Intendência. No século 
XX e até recentemente foi a prefeitura, sendo que hoje continua a abrigar órgãos administrativos. A Casa do Muxarabi (7) é a Biblioteca Antonio Torres. Na Casa de Chica da Silva (5), 
funciona a sede do escritório técnico do Iphan em Diamantina. Já o colégio Nossa Senhora das Dores (3) pertence a UFMG e abriga o Instituto Casa da Glória.  Na primeira sede do Hotel 
Roberto (2) funcionam lojas comerciais. A antiga Estação de Trem (1) é a Sede do Corpo de Bombeiros. 
Fonte: Elaborado pela autora (2018)  
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36 
A viagem de Norfini para Minas Gerais foi realizada em 1921 e dela resultaram 
mais de uma centena de registros. Dos que foram divulgados, cinco são do antigo Arraial do 
Tijuco (Anexo A, Imagens XXVII a XXXI).  Rodrigues, por sua vez, visitou o estado em 1919 e 
em 1930, elaborou maior quantidade de materiais sobre Diamantina e foi mais rigoroso nas 
pranchas de detalhes, dando  atenção,  assim  como Costa,  aos pormenores das  construções 
diamantinenses (Anexo A, Imagens XIII a XXVI).  
Dos  pontos  em  comum  entre  os  registros,  destaca‐se  o  passadiço  da Casa  da 
Glória13. A ponte surge tanto na aquarela de Costa, quanto no desenho de Rodrigues (Anexo 
A, Imagens III e XIII). Ressalta‐se ainda as imagens da Casa de Chica da Silva, presentes na 
narrativa dos enviados por Severo e que atestam a importância dessa personagem central no 
imaginário construído em torno de Diamantina (Anexo A, Imagens XV e XXX); as perspectivas 
do  Beco  da  Tecla,  uma  de  cada  extremo,  denotando  a  peculiaridade  da  viela  (Anexo A, 
Imagens  II e XVIII)  ; e os desenhos precisos  feitos por Costa e Rodrigues do muxarabi da 
edificação construída no século XVIII na Rua da Quitanda (Anexo A, Imagens IV e XXII). 
Porém, todo o esforço feito ao enviar os profissionais para elaborar materiais que 
guiassem os intelectuais pelo neocolonial acabou restrito às mãos daqueles que patrocinaram 
as  excursões. Ricardo  Severo  e  José Mariano  não  publicaram  os desenhos  resultantes das 
viagens de seus enviados.   Sem as  imagens, Diamantina nos anos 1920  foi divulgada pelas 
palavras.  
Em abril de 1926, Wasth Rodrigues concede uma entrevista para o jornal Estado 
de São Paulo. O depoimento fazia parte da série que ficou conhecida como “inquéritos sobre 
arquitetura colonial”14. Apesar do pintor ressaltar que “sua pena dispõe de eloquência mais 
13 A Casa da Glória é constituída por dois sobrados, sendo que o mais antigo foi construído por volta de 1775, e 
deve o nome à sua antiga proprietária, Josefa Maria da Glória. Em 1813, ali passaram a residir os intendentes de 
diamantes. Em 1864, passou a abrigar a sede do 2º Bispado de Minas Gerais. Em 1867, foi repassada às Irmãs de 
São Vicente de Paulo que nela criaram um educandário feminino, o colégio e orfanato Nossa Senhora das Dores. 
Em 1878, as  irmãs  construíram o passadiço  ligando o orfanato ao prédio da  frente, edifício de 1850 que havia 
pertencido ao Cel. Rodrigo de Souza Reis. Na metade do século XX, com a desativação do Colégio, passou por um 
período de abandono até ser adquirido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1979, onde abrigou 
o Centro de Geologia Eschwege até 1999,  sendo  transformado no  Instituto Casa da Glória –  IGC/UFMG até o
presente. Cf. MARTINS, Marcos Lobato, Martins,  Júnia Maria Lopes, O Colégio Nossa  Senhora das Dores de 
Diamantina e a Educação Feminina no norte\nordeste mineiro (1860‐1940)‐ Educação em Revista, Belo Horizonte 
(17): 11‐19,11‐19, jun. 1993 
14  “Sob  direção do  jornalista  Fernando  de Azevedo,  a  série  de  nove  artigos  objetivou  reavaliar  o movimento 
neocolonial para  estabelecer  critérios  rígidos  à utilização do vocabulário  arquitetônico antigo na  realização de 
novos projetos. [...] contaram com a opinião de Ricardo Severo, José Marianno, José Wasth Rodrigues, Alexandre 
37 
sugestiva  do  que  sua  palavra”,  são  compartilhadas  posições  relevantes  do  estudioso  da 
arquitetura antiga brasileira, lembrando que “de nove anos a esta parte é nessapesquisa que 
se absorve todo o meu tempo e se concentra o meu maior interesse”. Das repetidas viagens 
para o  interior, Minas se mostrou “manancial  inesgotável de documentação arquitetônica”, 
considerando Diamantina um dos “principais núcleos de arte e tradições antigas”.  O parecer 
de Wasth Rodrigues ainda diz:  
Olhemos, pois, para o passado, se quisermos inspirar‐nos melhor. [...]O que a 
caracteriza [a arquitetura antiga] é a harmonia de linhas, admirável bom senso 
que presidiu a maior parte dessas construções. 15 
Lucio Costa seguiu uma orientação semelhante no depoimento de 18 de junho de 
1924 para o jornal A Noite, onde o argumento central da entrevista foi o retorno do arquiteto 
da sua excursão. Das conclusões, é possível perceber como o tempo pretérito se apresentava 
como o lugar de resgate das proporções: 
É preciso aproveitar o que herdamos de nossos avós. Mas fazê‐lo conservando, 
antes que  tudo, a beleza das proporções: proporções gerais – onde as  linhas 
horizontais dominam dando ao todo uma impressão de calma e tranquilidade 
[...] 16 
  Para  relacionar  a  redescoberta  das  heranças  coloniais  com  a  atualidade,  os 
artistas  demonstravam  a  preocupação  por  uma  técnica  alinhada  com  o  presente:  “As 
exigências  e  as  condições da  vida moderna  não permitiriam  copias  servis de modelos de 
construções que satisfaziam a outros tempos de menos exigências”, como disse Wasth. 
  Mantém‐se a ideia da beleza impressa pela proporção, mas ela deve ser polida 
de complicações construtivas e relativizada por objetivos racionais, mediados pela sinceridade 
‐  naquele  momento  expressa  pela  influência  colonial  em  contraponto  aos  “exageros” 
ecléticos17. Para ambos, existia um despropósito dos estilos em vigor, contra os quais a arte 
Albuquerque e Adolpho Pinto Filho, além da perspectiva do próprio Azevedo sobre o assunto.” In: NATAL, op. 
cit., p. 82. 
15 RODRIGUES, José Wasth. In: Architectura Colonial IV: uma palestra com o Sr. Wasth Rodrigues. Jornal O Estado 
de S. Paulo, São Paulo, 16 de abril de 1926. 
16 COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun. 1924. 
17 Cf. LEONIDIO, Otavio. Carradas de razões. Lucio Costa e a arquitetura moderna brasileira (1924‐1951). Rio de 
Janeiro: tese de doutorado, Departamento de História, PUC‐Rio, 2005, p. 33‐35. 
38 
 
 
 
colonial poderia oferecer um respiro e uma direção. Quando Rodrigues foi questionado se era 
a favor do movimento neocolonial, afirmou:  
Não  faço  mais  que  seguir  um  movimento  que  me  parece  universal.  O 
regionalismo é consequência do excesso de cosmopolitismo [...] É preciso, pois, 
conhecer perfeitamente a arquitetura colonial para podermos extrair o estilo 
“internacionalmente” de uma arte toda feita “espontaneamente”.18 
Apesar da aparente proximidade de discurso entre pintor e arquiteto, é possível 
perceber  nuances.  Costa  já  sinalizava  para  o  apreço  das  construções  passadas  “sem  a 
preocupação de chamar a atenção pela extravagância das formas” e convidava o leitor para 
“olhar um pouco para esse nosso céu” onde nevoeiros e neves não precisavam ser levados em 
consideração. Se “a beleza absoluta não existe”, a arquitetura deveria acompanhar também as 
condições do lugar e a finalidade para a qual era destinada19.  O arquiteto ainda menciona o 
excesso de ornamentos e a dissimulação dos materiais: 
Acabar com essas pequenas complicações que, a título de embelezamento e a 
pretexto de efeito decorativo, todo o construtor se acha com o direito de “criar”, 
e cujo verdadeiro  fim é, além de “epater  ler bourgeois”,  justificar o custo 
excessivo  em  que  ficar  a  obra  e  mascarar  a  inferioridade  do  material  e 
acabamento.20 
Wasth Rodrigues acreditava que a modernidade viria pela forma e agilidade com 
a qual poderiam ser feitos e empregados os elementos coloniais nos dias atuais. “Do ponto de 
vista pitoresco”, os motivos de decoração das “casas modernas” viriam não das residências 
coloniais, mas do “interior das igrejas”. Quanto à atribuição do arquiteto, só era necessário que 
desviasse os olhos dos “catálogos econômicos” para esses “magníficos exemplares”: 
Para  que  as  construções  inspiradas  nessa  arte  tradicional  satisfaçam  a 
sensibilidade moderna, bastará que o arquiteto que as projeta, associe ao “estilo 
                                                      
18 RODRIGUES, José Wasth. In: Architectura Colonial IV: uma palestra com o Sr. Wasth Rodrigues. Jornal O Estado 
de S. Paulo, São Paulo, 16 de abril de 1926. 
19 COSTA, Considerações sobre o nosso gosto e estilo, op. cit. 
20 Idem. 
39 
 
 
 
profundo da arte colonial” o espirito ágil e flexível, vivo e atual, a cujo sopro 
se renove, sem perder a sua fisionomia, a arte antiga.21 
O pintor se atém à decoração como o meio pelo qual a arte colonial seria traduzida 
nas novas construções. A função do edifício a que se destinam, por outro lado, não aparece 
como questão. Para Lucio Costa e seus colegas, era o oposto:  
O estilo vem por si. [...] Basta que cada arquiteto e cada proprietário tenha 
sinceramente  o  desejo  de  fazer uma  obra  que  preencha  da melhor maneira 
possível os fins a que se destina.22 
As diferentes visões de Costa e Wasth Rodrigues são comprovadas também pelos 
desenhos. No Anexo A  é  possível  observar  como  o  arquiteto  seguiu  a  proposta  de  uma 
documentação  técnica,  com desenhos dimensionados  e  escalas  indicadas,  ao passo que os 
detalhes construtivos registrados por Wasth Rodrigues, embora tanto ou mais numerosos que 
os de Costa, parecem buscar ser apenas um catálogo de elementos para serem conhecidos ou 
copiados, sem apresso ao anotar as medidas das proporções originais.  
Essas divergências se mostraram cruciais na atuação profissional dos viajantes nas 
décadas seguintes. Em Diamantina, cerca de dez anos depois das excursões registradas pelos 
intelectuais, o caso da Catedral exemplifica as posturas contrárias adotadas. A Matriz de Santo 
Antonio, feita em 1750 e exemplo central da escala dos templos do conjunto, foi demolida em 
1932 e José Wasth Rodrigues projetou o edifício que a substituiu (Figura 8). A polêmica em 
torno da demolição da antiga Sé e construção da nova Catedral pode revelar uma vontade por 
parte do desenhista de dar, segundo seus parâmetros, uma igreja que se destacasse no tecido 
diamantinense, enquanto o bispado pretendia expressar sua  imponência. Se a Sé com seus 
largos e materiais criava uma relação de proporção com as construções civis ao redor, o novo 
edifício foi desenhado fora da escala da cidade e, apesar de se apropriar de alguns fragmentos 
do  repertório barroco,  se  aproxima mais das  regras  compositivas do  ecletismo. O  eixo de 
implantação, em relação ao edifício original, foi rotacionado e a lateral da Catedral ficou para 
a Rua Direita, onde antes era a frente da Sé, interferindo na preservação da trajetória urbana 
                                                      
21 RODRIGUES, Architectura Colonial IV: uma palestra com o Sr. Wasth Rodrigues, op. cit. 
22 COSTA, Considerações sobre o nosso gosto e estilo, op. cit. 
40 
 
 
 
do  antigo Arraial  do  Tijuco.  Previsivelmente,  Lucio Costa  considera  o  novo  projeto  uma 
“porcaria” que “não tem nada com Diamantina”23 (Figuras 6 e 7).  
                                                      
23 COSTA, Lucio. Entrevista: Lucio Costa. Revista Pampulha. Belo Horizonte: Caminho Novo Empresa Jornalística 
e Panela; Instituto dos Arquitetos do Brasil, Seção Minas Gerais, N. 01 nov/dez. 1979,  p.16. 
Figura 6: Antiga Sé de Diamantina, c. 1920.
Fonte: Santos (2015, p. 147). Autor: Chichico Alkmim. 
Figura 7: Panorama com a nova Catedral de Diamantina, década de 1940. 
O edifício destaca‐se no centro, no meio das construções coloniais. Fonte: Santos (2015, 
p. 149). Autor: Chichico Alkmim
41 
 
 
 
 
Figura

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