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Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura
Luciana Pietrosanto Milla - CRB 8/8129
Regiani, Luana Espig, 1992-
R263d RegDiamantina e o percurso da arquitetura moderna : Lucio Costa, Juscelino
Kubitschek - e Oscar Niemeyer / Luana Espig Regiani. – Campinas, SP : [s.n.],
2019.
RegOrientador: Rafael Augusto Urano de Carvalho Frajndlich.
RegDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade
de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo.
Reg1. Arquitetura moderna - Brasil. 2. Patrimônio histórico - Brasil. 3.
Arquitetura colonial - Diamantina (MG) - Obras ilustradas. 4. Oscar Niemeyer.
5. Movimento moderno (Arquitetura) - Brasil. I. Frajndlich, Rafael Augusto
Urano de Carvalho, 1982-. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade
de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Diamantina and the Brazilian modern architecture route: Lucio 
Costa, Juscelino Kubitschek - and Oscar Niemeyer
Palavras-chave em inglês:
Architecture, Modern - 20th century - Brazil
Architecture, Colonial - Brazil
Architects - Brazil
World Heritage areas - Conservation and restoration
Modern movement (Architecture) - Brazil
Área de concentração: Arquitetura, Tecnologia e Cidade
Titulação: Mestra em Arquitetura, Tecnologia e Cidade
Banca examinadora:
Rafael Augusto Urano de Carvalho Frajndlich [Orientador]
Guilherme Teixeira Wisnik
Silvana Barbosa Rubino
Data de defesa: 15-07-2019
Programa de Pós-Graduação: Arquitetura, Tecnologia e Cidade
Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)
- ORCID do autor: https://orcid.og/0000-0002-3950-0454
- Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/3110818847848603 
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)
 
 
Agradeço ao professor Dr. Rafael Urano Frajndlich pelos horizontes de pesquisa 
que foram abertos com sua chegada na pós-graduação. Obrigada pelas orientações instigantes 
e revisões atentas. 
Agradeço à professora Dra. Regina Tirello pelo importante papel para o ingresso 
no mestrado. 
Meus agradecimentos aos professores da banca de qualificação: Dr. Eduardo 
Rossetti e Dra. Silvana Rubino. À professora Silvana, agradeço especialmente pelas preciosas 
observações desde a Iniciação Científica, essenciais para todas as viagens que se seguiram. 
Agradeço também ao professor Dr. Guilherme Wisnik pelos pertinentes e atenciosos 
comentários na banca de defesa. 
Obrigada, in memoriam, aos Professores Alexandre Eulálio e José Cláudio Gomes, 
cujas coleções doadas, respectivamente, às bibliotecas da Unicamp e da USP, possibilitaram o 
início deste trabalho. 
Agradeço às instituições que disponibilizaram seus arquivos. No Rio de Janeiro, 
ao Arquivo Central do IPHAN, fundamental para a pesquisa, e agradeço, em particular, à 
Tatiana Lopes Salciotto e sua atenção em cada pedido. Na mesma cidade, à Fundação Oscar 
Niemeyer. Em Brasília, ao Memorial JK. Em Belo Horizonte, ao IEPHA e ao fortuito encontro 
com Bruno Fioravante e André Miranda. 
Em Diamantina, muitos foram os lugares que, ao preservarem a memória da 
cidade, colaboraram profundamente com este trabalho. Devo agradecimentos ao Arquivo 
Público Municipal pela disponibilidade ao abrir o acervo de projetos. Ao Arquivo Eclesiástico 
da Arquidiocese, à Verônica de Mendonça Motta, pelo auxílio com os jornais “A Estrela Polar”. 
À Biblioteca Antônio Torres. Ao Escritório Técnico do IPHAN e à Vanessa de Pádua Mello por 
compartilharem as bases que possibilitaram a confecção dos mapas. Também ao Instituto Casa 
da Gloria, que permitiu que utilizasse sua biblioteca para escrever parte da dissertação. 
 
Especialmente, agradeço ao Museu Tipografia Pão de Santo Antônio e ao seu 
secretário, Emanoel Ricardo Maria, pela generosidade ao compartilharem o rico acervo da 
instituição com os exemplares da Voz de Diamantina, essenciais para recuperar fatos e datas 
dos eventos narrados. 
Agradeço também, imensamente, à Casa de Juscelino. Ao Serafim Jardim, pela 
incansável disponibilidade para contar e manter a história do ex-presidente em sua cidade 
natal. Ao Rômulo Barbosa, que também abraçou essa missão. Obrigada por abrirem, sem 
restrições, a biblioteca e os arquivos. 
Ainda no antigo Arraial, agradeço ao Hotel Tijuco e toda a sua equipe pela 
recepção nas duas estadias. Em momentos cruciais para a pesquisa, foi um privilégio estar ali 
e ser tão bem recebida. Especialmente, agradeço ao Rony Odlanier Silva, gerente do hotel, um 
dos grandes responsáveis por preservar o edifício e sua história e que com muita dedicação 
atende aos pesquisadores e turistas que se interessam pelo Tijuco. 
Agradeço ao Professor Dr. Marcos Lobato Martins pela disponibilidade em 
conversar e compartilhar seus textos. Sua vasta produção sobre a região foi primordial para o 
trabalho. 
Muito obrigada ao Professor Erildo Nascimento de Jesus que prontamente, seja 
numa conversa no Beco do Mota ou por e-mail, esclarecia qualquer dúvida sobre a cidade. 
Além de emprestar o livro com os desenhos do Lucio Costa. 
Agradeço excepcionalmente ao Michel Becheleni pela disponibilidade, 
generosidade e atenção ao realizar as fotos aéreas, fazendo registros atuais expressivos que 
ajudarão a documentar a cidade pela história. 
Obrigada também à Telma Pio, pelos materiais compartilhados. 
À Fernanda Valim, pela gentileza e pelos encontros proporcionados, incluindo a 
tarde de aquarela. 
À Dalva, Maria Dalva Aquino, e o seu Cantinho na Rua do Amparo onde 
encontrava não só a comida mais gostosa, mas também muito carinho. 
Agradeço ao diamantinense Manuel Dimitri de Almeida Gomes pelas caminhadas 
e conversas que tanto colaboraram com o mestrado. Obrigada pelo amparo incondicional, sem 
o qual este trabalho não teria sido feito da mesma forma. 
Também à Larissa Doalla, pela importante ajuda com o livro esquecido. 
Em Minas, agradeço ainda ao Paulo T. G. Pinto pelos lindos registros em 
Diamantina e pela disponibilidade em todos os pedidos de ajuda ao longo dos últimos dois 
anos. 
Ao Bernardo Puhler, pelas músicas que traziam a luz da Serra do Espinhaço 
enquanto escrevia em Campinas, Curitiba ou São Paulo. 
Em Campinas, agradeço aos colegas do Grupo de Pesquisa de História da 
Arquitetura: Protagonistas – GHIPARQ. 
Agradeço aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação - FEC/Unicamp por 
toda a ajuda e disponibilidade ao longo do processo do mestrado. Também aos funcionários 
da Biblioteca Octávio Ianni, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, pelo 
auxílio durante o estudo. 
Muito obrigada à Taiana Car Vidotto e à Giovana Martino por compartilharem a 
experiência como monitoras na disciplina de projeto de interesse social. 
Ao Francisco de Carvalho Dias de Andrade, pelas respostas atenciosas e 
detalhadas com as referências responsáveis pelo direcionamento do primeiro capítulo. 
Devo também sinceros agradecimentos à Saeko Suzuke e à Ana Ribeiro pelo 
cuidado que tiveram comigo e com a minha saúde. 
Ao Lucas Ariel e ao Maurício Ferreira, pela casa mais aconchegante em Barão. 
Obrigada por me receberem com tanto carinho. Ao Lucas, agradeço também pelas longas 
conversas e mensagens de apoio. 
Ao Fernando Nakandakare, por compartilhar os anseios da pesquisa, mas também 
momentos de descontração. 
Ao Flavio Bragaia, pela amizade proporcionada pelo mestrado. 
Agradeço à Marília Dantas por dividir responsabilidades, amizade e muito 
carinho. 
Ao Bruno Geraldi Martins, que sempre tem as palavras mais queridas, a energia 
mais pura e o abraço para todas as horas. 
A pesquisa foi escrita em algumas casas. Agradeço a todos aqueles com quem 
compartilhei as alegrias e também as dificuldades da rotina. 
 
Em Barão Geraldo, agradeço ao Pierluigi Pirozzi, Lucas Pacheco, Antoine Beuvain, 
Dínamis Lara e Walter Gagliardi. Ao Walter, sou especialmente grata pela amizade que 
continua constante, mesmo com adistância. 
Em São Paulo, agradeço ao Pedro Murilo Freitas pela receptividade e pela 
biblioteca que tanto colaborou com o texto. Muito obrigada, sobretudo, à Giulia Vercelli, que 
entre a Itália e o Brasil esteve sempre presente desde 2013 e que tanto me apoiou no 
desenvolvimento deste trabalho, além dos essenciais e felizes momentos de viagem, descanso 
e conversa. 
Ainda na capital, agradeço à Juliana Reis e à Camila Midori Yoshida, que 
encararam uma mudança nessa reta final. Estar com vocês no último mês fez toda a diferença. 
Muito obrigada à minha amiga-irmã, Thaís Marília Fillus, com quem há vinte anos 
compartilho, diariamente, das pequenas às grandes coisas. Sou imensamente grata por sempre 
poder contar com você. 
Obrigada à Angelina Benvenutti Regiani, minha irmãzinha, que sempre pergunta 
como vai meu trabalho e tem se revelado uma excelente escritora. 
Agradeço aos meus pais, Eloiza Espig e Jesuan Henrique Felde Regiani, e seus 
companheiros Luiz Alex Bomfim e Adriana Benvenutti Regiani. 
Por fim, agradeço especialmente à Eloiza Espig pelo apoio irrestrito em todas as 
instâncias referentes a este mestrado. Fiel e atenta leitora, meu percurso até aqui seria 
impossível sem você. Obrigada por estar presente em mais uma fase que se encerra e obrigada 
pelo amor que tanto acolhe e ensina. 
 
Esta dissertação foi realizada com o apoio da FAEPEX – Fundo de Apoio ao 
Ensino, Pesquisa e Extensão da UNICAMP. 
 
 
 
Alumbramento 
 
 
Eu vi os céus! Eu vi os céus! 
Oh, essa angélica brancura 
Sem tristes pejos e sem véus! 
 
Nem uma nuvem de amargura 
Vem a alma desassossegar. 
E sinto-a bela... e sinto-a pura. 
 
[...] 
 
Eu vi a estrela do pastor... 
Vi a licorne alvinitente!... 
Vi...vi o rastro do senhor!... 
 
E vi a Via-Láctea ardente... 
Vi comunhões... capelas... véus... 
Súbito... alucinadamente... 
 
Vi carros triunfais... troféus... 
Pérolas grandes como a lua... 
Eu vi os céus! Eu vi os céus! 
 
Eu vi-a nua... toda nua! 
 
 
Manuel Bandeira, 1919 
 
 
 
Diamantina faz parte da origem e afirmação da história da arquitetura moderna 
brasileira. Isso se deve ao elo que consolida entre as pretensões de um ideal nativo e de um 
progresso latente no país, sobretudo pelos discursos de Juscelino Kubitschek e Lucio Costa. O 
ex-presidente tem o antigo Arraial do Tijuco como berço familiar e de formação pessoal, 
enquanto o arquiteto, na viagem que realiza em 1924, descobre ali o que considerava ser o 
autêntico passado colonial. De modos distintos, ambos remontam à materialidade e à narrativa 
de Diamantina nas justificativas de suas decisões e formas de engendrar a construção cultural 
do Brasil. Ao elaborar essa ideologia vinculada à cidade, valem-se também de ações executivas 
concretas através do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e das esferas de 
poder governamental que viabilizaram, nos anos 1950, o desenho de edifícios públicos por 
Oscar Niemeyer. Os fatos, documentos, textos, imagens e projetos que articulam a cidade à 
união extemporânea dos responsáveis por Brasília serão confrontados, lançando luz em como 
Diamantina é testemunho da arquitetura colonial trabalhada através de sucessivas 
intervenções para se tornar um dos modelos de conciliação prática e ideológica entre presente 
e passado na arquitetura moderna brasileira. 
 
Palavras-chave: Diamantina; Lucio Costa; Juscelino Kubitschek; Oscar Niemeyer; 
Arquitetura Moderna Brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diamantina is widely considered a cornerstone on the notion of origin of Brazilian 
Modern Architecture. The city connects the pretensions of a latent progress in the country 
made by two important authors for the diffusion of the avant-guarde trends in Brazil: Juscelino 
Kubitschek and Lucio Costa. The former President Kubitschek was born and has in the old 
Arraial do Tijuco his Alma Mater. The architect Costa has travelled to Diamantina in 1924, in 
a journey where he understood to find the legitimate representations of the Brazilian colonial 
past. Both intellectuals use in their narratives and in their decisory processes aspects of 
Diamantina a good formal examples on how to build a modern cultural construction of Brazil. 
Along with the weaving of this ideology on the city, they made practical executive actions on 
its form through Costa’s work in the National Historical and Artistic Heritage Service (Serviço 
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN) and Kubitschek’s terms in offices of the 
Government, which enabled the design of public buildings by Oscar Niemeyer in the 1950s. 
The facts, documents, texts, images and projects that render the city as common ground for 
these two protagonists of Brazilian Modernism – and builders of Brasília – will be confronted, 
revealing convergences and differences of though on how they understood the city. Moreover, 
it is intended to shed light on how Diamantina has witnessed the works on colonial 
architecture made in the last century by the modernists to shape a model of practical and 
ideological conciliation between present and past in Modern Brazilian Architecture. 
 
Keywords: Diamantina; Lucio Costa; Juscelino Kubitschek; Oscar Niemeyer; Brazilian 
Modern Architecture. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Rua das Mercês, Diamantina, c. 1920. 
Fonte: Acervo IMS. Autor: Chichico Alkmim. 
 
 
Em 1924, Lucio Costa viajou até Diamantina. No antigo Arraial do Tijuco, 
alumbrou uma nova percepção sobre o passado colonial e passou, ao longo dos anos seguintes, 
a formular uma visão crítica das pretensões de busca de uma identidade nacional conforme 
intendia seu círculo de intelectuais neocoloniais. O vilarejo é também a cidade natal de 
Juscelino Kubitschek, que usará seu berço como referência onipresente em sua trajetória 
política, iniciada em 1933. Em 1937, tem-se a fundação do SPHAN1 – com participação ativa 
de um Lucio Costa já convertido às postulações das vanguardas, sendo Diamantina tombada 
em 1938. Acontecimentos reforçados na década seguinte e reafirmados nos anos 1950, quando 
surge em Diamantina mais um personagem relacionado a arquitetura moderna: Oscar 
Niemeyer. Nenhum outro conjunto urbano de herança portuguesa preservado teve tantos 
edifícios projetados pelo arquiteto carioca quanto o antigo Arraial do Tijuco2. À luz dessas 
questões, Diamantina e o Percurso da Arquitetura Moderna busca traçar a linha entre fatos que, 
na origem, são eventuais, mas que na sua inter-relação confluíram para a construção de 
aspectos de uma modernidade arquitetônica nacional. 
Lucio Costa nasceu em 1902 e morou na Europa até os 14 anos. O retorno ao Brasil 
é descrito como “uma revelação”3. Do desembarque no Rio de Janeiro destaca “as montanhas 
diferentes, a mata, o casarão, o céu perto, o mar [...] espetáculo de prender a respiração”4, um 
comentário que demonstra o encantamento diante da paisagem brasileira. O jovem cursou a 
Escola Nacional de Belas Artes e, como arquiteto, foi enviado para Diamantina em 1924, 
descrevendo o deslumbramento provocado pela cidade com a mesma palavra, “revelação” 5, 
que havia usado para as terras cariocas. Neste importante ano, não por acaso, inicia um traço 
que o distinguiria: suas ideias são divulgadas através de textos, sendo que uma de suas 
 
1 A instituição foi criada sob a denominação SPHAN, Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, no 
entanto, em 1946, foi transformado em Diretoria, DPHAN, passando, em 1970, a ser Instituto do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional, utilizando a sigla IPHAN. De 1990 até 1994, foi denominado Instituto Brasileiro do 
Patrimônio Cultural (IBPC), até que, novamente, voltou à sigla IPHAN, designação vigente até hoje. Embora a 
dissertação utilize documentações e toque em assuntos referentes aos anos de 1937-1959, será utilizado, no decorrerdo texto, a sigla SPHAN. 
2 Cf. CALDAS, Bruno Tropia. Hoje, o passado de amanhã: a arquitetura de Oscar Niemeyer em sítios históricos 
brasileiros. III ENANPARQ. Arquitetura, Cidade e Projeto: uma construção coletiva, 2014. 
3 COSTA, Lucio. Rio de Janeiro, in. Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das Artes, 
1997, p. 27. 
4 Idem. 
5 COSTA, Lucio. Diamantina, in. Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das Artes, 
1997, p. 27. 
primeiras entrevistas publicadas tem como argumento a viagem de estudos recém-realizada6. 
No começo profissional, Costa foi partidário do movimento neocolonial, para em seguida 
negá-lo e se tornar, durante as décadas seguintes, “o responsável pela produção e difusão 
pública de enunciados que deram sustentação” e que tornaram possível “o extraordinário 
sucesso de uma certa ‘arquitetura moderna brasileira’ ”7. Tamanha responsabilidade atribuída 
ao arquiteto se deve à atuação multidisciplinar que permeava seus projetos, escritos e 
atividades públicas e políticas, estas relacionadas a sua participação no Serviço do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional com funcionário atuante em despachos, pareceres e 
intervenções. 
Juscelino Kubitschek teve um início de trajetória diverso, afastado das metrópoles. 
Saiu de Diamantina pela primeira vez em 1919 para prestar um concurso em Belo Horizonte. 
A capital mineira ainda era, então, um “esboço cartográfico”, mas para o jovem interiorano, 
acostumado com o tecido colonial, foi esse contato com a cidade planejada que também 
provocou “um deslumbramento”8. Das dificuldades nos primeiros anos, Kubitschek passou 
pela carreira de médico até ter contato com a política, na qual se firmou como expoente, 
alçando cargos de deputado, prefeito, governador e presidente da república. Diamantina 
esteve em sua mente e em seus discursos ao longo de seus anos como governante. Referia-se 
à cidade como berço não só de seus interesses pela escala atemporal, mas conectava as próprias 
memórias com as do vilarejo. 
Durante as atuações de Costa e Kubitschek entre os anos 1930 e 1950, Diamantina 
recebeu tanto projetos de salvaguarda, através do SPHAN, quanto de caráter moderno, com 
desenho de Oscar Niemeyer. A elaboração de edifícios públicos diamantinenses por Niemeyer 
passa pelo respaldo que os dois personagens deram ao profissional. Costa foi seu mentor e 
abriu as portas que o levaram a participar de projetos como o Ministério da Educação e Saúde, 
o Pavilhão de Nova York e anuiu e defendeu sua primeira intervenção em uma cidade 
histórica: o Grande Hotel de Ouro Preto. Depois da obra inaugural em Minas Gerais, vieram 
 
6 Cf. COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun. 1924. 
7 LEONIDIO, Otavio. Carradas de razões: Lucio Costa e a arquitetura moderna brasileira (1924-1951). Rio de 
Janeiro, RJ; São Paulo, SP: Editora da PUC-Rio: Loyola, 2007. p.15. 
8 KUBITSCHEK, Juscelino. Meu caminho para Brasilia. Volume 1. Rio de Janeiro, RJ: Bloch, 1974, p.59. 
 
 
os contatos que o levaram a Juscelino Kubitschek e, assim, a assinar o complexo da Pampulha 
e os diversos projetos que sucederam a carreira do político9. Niemeyer ganha relevância junto 
ao cenário político e ao público das artes e é considerado o mais celebrado arquiteto brasileiro 
no século XX10. Suas obras em Diamantina, embora pouco comentadas, são seminais para a 
compreensão da importância da história que conecta os fatos entre Pampulha e Brasília e os 
nomes de Costa e Kubitschek. 
Neste cenário cabem questionamentos: de que maneira Diamantina faz parte da 
mudança de postura de Lucio Costa em relação as vanguardas? Como a cidade foi incluída 
nos discursos e intervenções de Juscelino Kubitschek? E de que forma os projetos de Oscar 
Niemeyer se relacionam com este contexto e vinculam a representação de uma Diamantina 
colonial ao moderno? 
É mister que a atuação concreta dos intelectuais, entremeando preservação e 
intervenção e as aspirações das vanguardas com o colonial, associou ao antigo Arraial do 
Tijuco uma questão ideológica que permeou tanto a imagem pretendida pelo político quanto 
os aspectos fundacionais atribuídos pelo arquiteto e pode-se pensar em Diamantina como uma 
das alegorias que levava ao moderno e a consolidação de seus preceitos. 
Walter Benjamin havia identificado a alegoria como elemento principal na 
representação de mundo do Barroco11. Através das narrativas alegóricas, seria possível abrir 
as camadas dos sentidos de obras de arte e de cidades, diante da evocação de outras realidades. 
 
9 Oscar Niemeyer, em seu livro de memórias, relata que o primeiro contato com Kubitschek veio por intermédio de 
Capanema: “Um dia Capanema me levou a Benedito Valadares, governador de Minas Gerais, que pretendia 
construir um cassino no ‘Acaba Mundo’. E foi nessa ocasião que conheci Juscelino Kubitschek, candidato a prefeito 
de Belo Horizonte. Fiz o projeto, que mostrei a Benedito, mas o assunto só foi retomado meses depois, quando JK, 
prefeito da cidade, novamente me convocou. No dia combinado voltei a Belo Horizonte com Rodrigo. [...]” In: 
NIEMEYER, Oscar. As curvas do tempo: memórias. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Revan, 1998, p.93. 
Juscelino Kubitschek, por outro lado, conta que o primeiro contato foi por Rodrigo Melo Franco de Andrade. 
Insatisfeito com o suposto concurso que havia realizado para a Pampulha, saiu daquela “situação de embaraço” 
com a indicação dada pelo Diretor do SPHAN: “Estava no meu gabinete quando fui procurado por Rodrigo Melo 
Franco de Andrade, diretor do Departamento do Patrimônio Histórico Nacional, do Ministério da Educação. 
Conversamos sobre a Pampulha e, revelando-lhe meu desagrado [...] perguntou-me se não desejava experimentar 
um arquiteto que, naquele momento, estava em Belo Horizonte e que, apesar de sua pouca idade, já revelava 
impressionantes dons de originalidade artística. Imediatamente mandei que o trouxessem ao meu gabinete. [...] 
Oscar Niemeyer – era esse o nome do jovem arquiteto [...]” In: KUBITSCHEK, Juscelino. Meu Caminho para 
Brasília. Volume 2. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1974, p. 35-36. 
10 Cf. LIERNUR, Jorge. The South American Way. Block, Buenos Aires: n. 4, p. 23-41, dez 1999; CAVALCANTI, 
Lauro Pereira. Moderno e brasileiro: a história de uma nova linguagem na arquitetura (1930-60). Rio de Janeiro, RJ: 
Jorge Zahar, 2006. 
11 BENJAMIN, Walter. Origem do Drama Barroco Alemão. Sérgio Paulo Rouanet (tradução, apresentação e notas). 
São Paulo: Brasiliense, 1984. 
Assim, lugares como Diamantina podem ser vistos como espaços, prédios e objetos concretos, 
mas também apontar para uma “totalidade singular que se apresenta sempre além do alcance 
de uma visão imediata. Essa visão supostamente sem mediações [...]” é cotidiana e poderia ser 
a vista do conjunto urbano, mas também uma “visão aurática de um objeto único, permanente 
e não-reproduzível”12 como um monumento, uma cidade histórica. 
A alegoria de Diamantina foi aperfeiçoada por Costa e Kubitschek. A cidade era 
uma dessas relíquias espalhadas pelo território mineiro e as viagens de “descoberta” pelo 
interior foram fundamentais. A ida de Lucio Costa a Diamantina colaborou para consolidar a 
visão de redenção nacional nas narrativas alegóricas veiculadas pelos modernos brasileiros. 
Embora a viagem estivesse dentro do programa que pretendia organizar um estudo dos 
motivos arquitetônicos do Brasil colonial pelos neocoloniais13, o tempo e a mudança de postura 
de Costa fizeram com que se alinhasse com as pretensões de vanguarda e seus partidários que 
se reuniram anos depois no SPHAN. 
O que se buscava tanto nas excursões modernistas quanto nas neocoloniais era 
principalmente a produção do século XVII e XVIII. Diamantina, nesse período, seguiu umalógica de formação diferente das demais cidades mineiras que desenvolviam o povoamento 
ao longo dos caminhos da mineração. A exceção do antigo Arraial do Tijuco, além da 
descoberta do diamante no início da década de 172014, foi a adoção de uma solução 
quadrangular e concentrada. Vasconcellos destaca a evolução do traçado urbano no período: 
Ter-se-iam então três etapas principais cumpridas em seu desenvolvimento: a 
primeira, de 1700 a 1720, relativa ao povoamento esparso, em vários arraiais, 
de limitação indeterminada; a segunda de formação polarizada, de 1720 a 
 
12 GONÇALVES, José Reginaldo Santos. A retorica da perda: os discursos do patrimonio cultural no Brasil. Rio de 
Janeiro, RJ: Editora da UFRJ, 1996. p. 128-129. 
13 KESSEL, Carlos. Arquitetura Neocolonial no Brasil: entre o pastiche e a modernidade. Rio de Janeiro: Jauá, 2008, 
p. 133-134. 
14 Cf. MARTINS, Marcos Lobato. Breviário de Diamantina: uma história do garimpo de diamantes nas Minas Gerais 
(século XIX). Belo Horizonte: Fino Traço, 2014; FURTADO, Júnia Ferreira. O livro da capa verde: o Regimento 
Diamantino de 1771 e a vida no Distrito Diamantino no período da Real Extração. São Paulo, SP: Annablume, 1996. 
 
1750, quando se organizou em reticulado sua parte urbana propriamente dita; 
a terceira, de 1750 em diante, relativa à consolidação e expansão. 15 
Na Figura 2 é possível observar a evolução do Tijuco no século XVIII. A primeira 
etapa é marcada pela constituição do Arraial Rio Grande, onde no rio de mesmo nome os 
minérios começaram a ser explorados. Um dos córregos deste rio recebeu o nome de Tijuco e 
na sua margem direita se instalou o povoamento inicial, correspondente hoje as proximidades 
da Rua do Burgalhau. Na fase seguinte, os demais arraiais são formados em núcleos esparsos: 
o Arraial de Baixo, na entrada do caminho que vinha pelo Serro, o de Cima, na saída para 
Barra do Guacuí e, por último, o dos Forros. Os quatro arraiais seriam as balizas para 
configurar o território do Arraial do Tijuco, cujas delimitações foram dadas pelos caminhos 
que conectavam essas aglomerações primitivas16. 
 
15 VASCONCELLOS, Sylvio. Formação urbana do Arraial do Tejuco. Revista do Instituto do Patrimônio Histórico 
e Artístico Nacional, n.14. Rio de Janeiro, 1959. p. 121-134. 
16 Cf. Idem. 
19 
 
 
 
 
Figura 2: Mapa do desenvolvimento do traçado urbano do Arraial do Tijuco no séc. XVII 
Fonte: Elaborado pela autora com base em Cruz (2016, p. 69) e no acervo do Escritório Técnico do IPHAN em Diamantina (2018). 
19 
 
 
 
 
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Com as vias principais e o centro delimitados, o vilarejo se desenvolve. Na 
primeira metade do século XIX, a localidade chamou a atenção de viajantes estrangeiros e 
permeou diversos relatos17. Para Tschudi havia “uma aura de mistério que envolve seu nome 
e sua história”18, sendo o principal elemento mistificante a mineração e as relações dela 
derivadas. Também como resultado da exploração de diamantes, John Mawe ressalta que o 
Tijuco era um “lugar florescente”19. A impressão de prosperidade é confirmada por Johann 
Moritz Rugendas: “há em Tijuco muitos funcionários e negociantes, o que dá maior encanto 
às relações sociais” e relata que, mesmo merecendo “muito mais do que Vila do Príncipe, que 
é a sede da comarca, ser chamado cidade ou vila” 20, o Tijuco permanecia como Arraial. A 
decisão de manter o vilarejo como arraial era uma medida de controle político-administrativo 
em virtude da exploração dos diamantes21. Pelo interesse da metrópole pela região, as 
autoridades agiram com maior rigor e influenciaram a conformação urbana concentrada do 
Distrito Diamantino, que se valia da regra que para melhor vigiar os moradores era melhor 
não os deixar se espalhar22. O Arraial, por fim, se tornou Vila em 1831 e, em 1838, passou a ser 
cidade de Diamantina. 
Apesar do progresso com que iniciou aquele século, as atividades de produção de 
diamante diminuíram na segunda metade do XIX23. A cidade buscou alternativas na indústria 
e no comércio e, estando na entrada do sertão, funcionou como o “grande empório do Norte”24, 
 
17 No texto são citados alguns autores e suas excursões pelo Brasil, passando por Diamantina: John Mawe (1809-
1810); Carl Friedrich Philipp Martius e Johann Naptist Von Spix (1818); Auguste de Saint-Hilaire (1817-1822); 
Johann Moritz Rugendas (1822-1825) e Johann Jakob Von Tschudi (1858). Cf. MUCIDA, Danielle Piuzana et al. 
Viajantes naturalistas do século XIX: a reconstrução do antigo Distrito Diamantino na literatura de viagem. Caderno 
de Geografia, V.21, n.36, 2011. PP. 66-86. Disponível em 
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/geografia/article/view/2809>. 
18 TSCHUDI, Johann Jakob von. Viagens através da América do Sul. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 
Centro de Estudos Históricos e culturais, 2006. v.2, p. 93. 
19 MAWE, John. Viagem ao interior do Brasil, principalmente aos Distritos do Ouro e do Diamante. Rio de Janeiro: 
Ed. Zélio Valverde, 1944. p. 221-222. 
20 RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil. São Paulo: Martins. Ed. da Universidade de São 
Paulo, 1972. p.40. 
21 O Arraial do Tijuco pertencia a Vila do Príncipe, atual Serro. Ademais, as medidas de controle têm início em 
1745, quando a Coroa portuguesa proibiu a livre entrada na região, buscando evitar os contrabandos. Ao 
persistirem os roubos, surgiu, em 1771, a Real Extração dos Diamantes e o Livro da Capa Verde com uma série de 
determinações que visavam regular a vida na região. Surgia uma concepção que via na Demarcação Diamantina 
um “estado dentro do estado”. Cf. MARTINS, Marcos Lobato, op. cit. p.19-25; FURTADO, Júnia Ferreira, op.cit. 
22 D’ASSUMPÇÃO, Lívia Romanelli. Diamantina: uma formação urbana original. Revista Barroco. São Paulo, 1993, 
n. 17. p. 227-230. 
23 O ciclo do diamante durou até cerca de 1870, quando a entrada do diamante sul-africano no mercado 
internacional provocou a baixa nos preços. Cf. MARTINS, Marcos Lobato. op.cit. p. 366. 
24 Ibid. p. 401-404 
 
encontrando um mercado consumidor fiel diante da dificuldade de levar os mais diversos 
produtos para o interior. Desse período, temos projetos como a Fábrica de Tecidos do Biribiri, 
de 1876, e do mercado, construído em 1835 e adquirido pelo município em 1890 para funcionar 
como Mercado Municipal25. Além da questão comercial, Diamantina também se afirmou como 
local de alto poder episcopal após a instalação do Bispado em 185426 e de referência na 
educação regional, com o Colégio Nossa Senhora das Dores e o Seminário Sagrado Coração 
de Jesus27, mantendo o retrato enunciado por Saint-Hilaire de uma localidade com “gosto pela 
literatura e um desejo mais vivo de se instruir” 28. 
A movimentação do distrito não impedia que a distância que se encontrava dos 
grandes centros fosse sentida. A paisagem das pedras anunciava ao visitante quanto se 
avançava pelo interior do continente e o surpreendia: 
Sente-se o viajante, nesses deliciosos jardins, atraído de todos os lados por 
novos encantos [...] Volvendo o olhar pacífico e variegado ambiente para a 
distância, o espectador vê-se todo contornado por altas montanhas rochosas 
que, iluminadas pelos ofuscantes raios solares, refletem uma luz 
resplandecente de seus vértices brancos(...) 29 
Desse isolamento, vem o retrato formal que se cristaliza no tempo até o início do 
século XX. Diamantina recebeu tardiamente os traços da modernidade: a iluminação elétrica 
chega em 1910, a linha de tremem 1914. Datam desse período reinvindicações de melhorias 
do espaço público, através do embelezamento de praças e parques, e de infraestrutura urbana, 
 
25 Inicialmente construído como “Intendências dos Lages”, o edifício foi adquirido pela Câmara Municipal para 
atender a demanda de um local apropriado para o comércio. Ibid. p. 277-292. 
26 Para criar a diocese foi necessário um decreto-lei do Estado Imperial Brasileiro, neste caso lei civil n. 673 de 10 de 
agosto de 1853, executada em 1854. Cf. SANTOS, Dayse Lucide Silva. Cidades de vidro: a fotografia de Chichico 
Alkmim e o registro da tradição e da mudança em Diamantina (1900 a 1940). 2015. Tese (Doutorado) - Faculdade 
de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015. p. 133. 
27 O Colégio Nossa Senhora das Dores foi fundado em 1866 e funcionava na Casa da Glória. Em 1878, recebeu o 
conhecido passadiço. Já o Seminário do Sagrado Coração de Jesus, foi fundado em 1864. Cf. BARACHO, Cláudia 
Elizabeth. Grupo Escolar Professora Júlia Kubitschek: modernização na arquitetura e nas concepções educacionais 
em Diamantina, 1951-1961. 2016. 142 p. Dissertação (Mestrado Profissional) – Programa de Pós-Graduação em 
Ciências Humanas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2016. p. 65. 
28 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelo Distrito dos diamantes e litoral do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; 
São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1974, p.33. 
29 SPIX e MARTIUS. Viagem pelo Brasil: 1817- 1820. Vol II. São Paulo: Melhoramentos, em colaboração com o 
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em convênio com o Instituto Nacional do Livro – MEC, 1976 apud 
D’Assumpção, 1995, p. 77. 
 
com os calçamentos das vias e o saneamento30. Foi nesse contexto que cresceu Juscelino 
Kubitschek, até que ele parte do interior para Belo Horizonte. 
Lucio Costa, ao fazer o caminho inverso, encontra a imagem de Diamantina com o 
mesmo conjunto colonial emoldurado pela Serra dos Cristais visto pelos exploradores do 
século XIX (Figura 3). O visitante que chegava no Arraial dos anos 20 se deparava com um 
conjunto urbano mais concentrado que as demais cidades mineiras, se assemelhando a retícula 
portuguesa, mas diferindo dela por não possuir uma centralidade associada a uma grande 
praça, fato que pode ser explicado pela ausência de uma Casa de Câmara e Cadeia31. O 
conjunto arquitetônico era composto principalmente por residências e, desde o final do século 
XVIII, contava também com edificações assobradadas que poderiam ser de uso misto32. 
Embora o programa das habitações, a conformação no lote e o arranjo das 
edificações ao longo das vias sejam semelhantes as cidades que surgiram no mesmo período, 
como Ouro Preto e Mariana, Diamantina possui particularidades. Na escala urbana, nota-se 
como suas igrejas se relacionam com o conjunto quase se confundindo com o casario, 
conferindo uma delicadeza peculiar se comparada as demais cidades setecentistas mineiras33. 
Provavelmente seja um resultado da dificuldade de terrenos livres onde as Irmandades 
pudessem prever, além da expansão dos templos, o cemitério anexo e o “cenário urbano”34. 
 
 
30 GOODWIN Jr., James William. As Cidades de Papel: Imprensa, Progresso e Tradição. Diamantina e. Juiz de Fora, 
MG (1884-1914). Dissertação de Doutorado em História Social. FFLCH/USP, São Paulo, 2007. p. 166-168. 
31 Cf. PESTANA, Til. Diamantina. In: Actas do Colóquio Internacional Universo Urbanístico Português – 1415-1822. 
Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001, p. 582. 
32 LEMOS, Celina Borges. Diamantina e sua arquitetura nos contextos da formação do arraial e consolidação da 
vida: registros e manifestos da modernidade na paisagem cultural entre os séculos XVIII e XIX. In: Anais XIII 
Seminário sobre Economia mineira 2006. Diamantina: CEDEPLAR/FACE, 2006. p. 72-93. 
33 D’ASSUMPÇÃO, Lívia Romanelli. Diamantina: uma formação urbana original. Revista Barroco. São Paulo, 1993, 
n. 17. p. 230. 
34 Idem. 
23 
 
 
   
 
Figura 3: Panorama de Diamantina no início do século XX. Fonte: Acervo do Museu do Diamante.  
23 
 
 
 
   
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Na escala do lote, destaca‐se a solução formal das fachadas, onde o aproveitamento 
intencional do afloramento da estrutura de madeira confere  tratamento plástico e verdade 
construtiva  às  edificações35,  além  da  profusão  de  cores  do  conjunto.  Brandão  afirma  que 
“rudes, mas acolhedoras, os ‘incultos pedreiros’ deram‐nos o selo da simplicidade e da pureza, 
fazendo  inclusive  com  que  se  perdessem  ‘certos  maneirismos  preciosos  e  um  tanto 
arrebitados’ que ainda havia na metrópole”36.  Foi essa autonomia e singeleza da casa colonial 
tijucana que chamou a atenção de Costa. 
Se em 1924, ao também percorrer o caminho modernista em direção à Minas, Lucio 
ainda não estava alinhado com o movimento moderno, o discurso já assinalava a necessidade 
de um diálogo: “Naturalmente será preciso conciliar tais vestígios de uma época passada com 
o raffinement da vida moderna. Surge justamente aí a principal tarefa do arquiteto”37. 
Lucio  Costa,  ao  traçar  um  fio  condutor  entre  origem  e  futuro  da  arquitetura 
brasileira,  se  insere  em  um  grande  projeto  de  reconstituição  ideológico‐cultural  do  país. 
Dentro desse projeto, a defesa do patrimônio arquitetônico integra um eixo fundamental. Uma 
“boa  causa”  da  qual Costa  se  ocupa,  “uma  causa,  aliás,  que,  desde  a  primeira  viagem  à 
Diamantina  havia  sensibilizado  Lucio  Costa;  que,  portanto,  sempre  fora  sua”38. 
Consequentemente,  Diamantina  também  está  no  contexto  das  discussões  do  Serviço  do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 
Passa  a  nossa  cidade  juntamente  com  outras  em  todo  o  Brasil  para  o 
patrimônio histórico nacional, sendo aqui criado um departamento. Agora já 
não se podia fazer nenhum melhoramento por pequeno que fosse sem ordem e 
direção  do  Patrimônio,  o  que  tirava  um  pouco  o  seu  progresso, mas  em 
compensação acabou a dor de cabeça dos católicos para efetuarem os consertos 
de  que  tanto  necessitavam  as  nossas  igrejas,  algumas  ainda  do  tempo  do 
Tijuco.  [...]  A  política  estava  forte  e  trazendo  grandes  vantagens  para 
Diamantina, pois começava a elevar‐se nosso conterrâneo e grande amigo de 
                                                      
35 Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Bens tombados de Diamantina. Brasília, IPHAN, 2003. 
p.22. 
36 BRANDÃO, Carlos Antônio Leite. Arquitetura residencial no barroco mineiro. Revista AP, n.5, p.26‐30, 1996. 
37 COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun.1924 
38 LEONIDIO, Otavio. Carradas de  razões. Lucio Costa  e a  arquitetura moderna brasileira  (1924‐1951). Rio de 
Janeiro: tese de doutorado, Departamento de História, PUC‐Rio, 2005, p. 195. 
25 
 
 
 
sua terra natal [...] Juscelino Kubitschek de Oliveira. A nossa cidade começou 
a progredir assustadoramente e obtinha tudo com facilidade. 39 
É nesse quadro de dualidade entre preservação e desenvolvimento que o SPHAN 
aprova alguns projetos modernos no tecido histórico de Diamantina. Repetindo a colaboração 
desenvolvida  em  Belo Horizonte,  Juscelino  encomenda  uma  série  de  projetos  para Oscar 
Niemeyer: a Sede Social do Diamantina Tênis Clube na Praça de Esportes; o Hotel de Turismo; 
o Grupo Escolar Júlia Kubitschek; a Faculdade de Odontologia e o aeroporto40. As demandas 
viabilizadas  por  Kubitschek  representavam  as  convicções  de  um  processo modernizador 
onde,  do  interior  paracentro,  das  pequenas  as  grandes  cidades,  criava‐se  uma  ideologia 
política que poderia também ser traduzida pela arquitetura.  
Para dar nexo ao arco que parte de casualidades dos anos 1920 até coordenadas 
ações de intervenção na cidade colonial nos anos 1950, a abordagem metodológica da pesquisa 
buscou  cotejar  questões  arquitetônicas  e  políticas  tecidas  nesse  período  no  Brasil  com 
Diamantina. Os  trajetos de Lucio Costa e Juscelino Kubitschek no antigo Arraial do Tijuco, 
traduzidos em textos, desenhos, projetos técnicos e burocráticos, extrapolaram questões locais 
e contribuíram para evidenciar uma construção ideológica que encontrou em Diamantina uma 
representação: “[...] e como a humanidade não pode prescindir de representações [...] há, afim 
de não suportar inconscientemente esse fardo, a necessidade de ‘analistas’.ʺ41 Assim, investigar 
as questões que culminaram nessa alegoria requer um olhar atento para a história. ”E se a 
arquitetura tem o seu poder, a história tem outros. [...] Conhecer os limites já é um bom negócio 
e a história pode  contribuir  com  isso.”42. As delimitações  trazidas pelos autores estudados 
possuem, por um lado, materiais para entender Diamantina e, por outro, criam uma imagem 
da cidade e das pretensões em relação a ela – e ao país. Para entender a nuance dos fatos, foi 
preciso buscar as fontes primárias.  
                                                      
39 SANTOS, Luiz Gonzaga dos. Memórias de um carpinteiro. Belo Horizonte: Editora Bernardo Álvares, 1963. p.77‐
78. 
40  O aeroporto não foi construído e existem ressalvas em relação a autoria do projeto da Faculdade de Odontologia. 
Cf. MACEDO, Danilo, A Matéria da Invenção: Criação e construção das obras de Oscar Niemeyer em Minas Gerais. 
1938‐1954, Dissertação de mestrado, Belo Horizonte: UFMG, 2002. 
41 TAFURI, Manfredo. apud OCKMAN, J. ʺVenice and New Yorkʺ in. Casabella n.619‐620, 1995, p.67. “[...] and since 
humanity  cannot  do without  representations  –  the  ‘symbolic  forms  of Cassirer  –  thus,  in  order  not  to  bear  this  burden 
unconsciously, the need for ‘analysts’.” Tradução da autora. 
42 Idem. “And if architecture has its power, history has others. [...]To know limits is already a good deal, and history 
can contribute to that. ”. Tradução da autora.  
26 
 
 
 
As  documentações  pessoais  têm  um  caráter  sentimental,  como  é  o  caso  das 
anotações de Costa no verso do recibo do hotel de 192443 ou ainda a carta de Kubitschek para 
o amigo Augusto44. Elas endossam os relatos enternecidos publicados posteriormente, seja em 
livros biográficos – exemplo dos textos de Registro de uma vivência e Meu caminho para Brasília, 
ou nos depoimentos transcritos. Esses discursos, elaborados quando já se sabia o alcance que 
teriam,  afirmam  a  posição  de  Diamantina  numa  elaboração  histórica  e  demonstram  as 
convicções idealizadas em torno da cidade.  
Nas  entrevistas,  o  conjunto diamantinense  aparece  como  ilustração  e  Juscelino 
Kubitschek se mantém mais saudosista ao expressar suas memórias da terra natal, conforme 
nas  falas  concedidas  a Maria Victoria Benevides45,  enquanto Lucio Costa busca  explicar  o 
alumbramento causado pelo vilarejo através de elementos arquitetônicos, como na primeira 
edição da revista Pampulha46. Já nos documentos institucionais, a postura adotada tanto por 
Costa quanto Kubitschek demonstra um lado mais objetivo, focado em viabilizar projetos na 
cidade.  Nesse  ponto,  os  arquivos  do  IPHAN  ganham  protagonismo  à  medida  que  são 
evidenciados os diversos períodos de atuação de Lucio Costa em Diamantina: desde a pouco 
conhecida visita de 1937 até as polêmicas quanto a necessidade de novas edificações públicas 
dentro do tecido histórico nos anos 195047. Há também as questões do então governador de 
Minas  Gerais  com  o  órgão  de  proteção  ao  patrimônio,  visto  a  troca  de  telegramas  para 
possibilitar a construção das obras de Niemeyer no perímetro tombado. 
Quando,  no  entremeio  de  textos,  surgem  informações  gráficas  através  de 
desenhos, projetos e retratos, o  trabalho ganha outra dimensão. A concepção e assimilação 
imagética de Diamantina é composta pelas fotografias do período feitas por Chichico Alkmim, 
Erich Hess  e Assis Horta  e  pelos  desenhos  de  juventude  de  Costa  e  de  outros  viajantes 
contemporâneos ao arquiteto, como Alfredo Norfini e  José Wasth Rodrigues. Os desenhos 
                                                      
43 COSTA, Lucio. Verso do recibo do Hotel Roberto. Diamantina, 1924. Acervo Casa de Lucio Costa. Disponível em: 
<http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/2888>. Acesso em: 15 maio 2017. 
44 KUBITSCHEK, Juscelino. Correspondência a Augusto, 09/03/1941, Palace Hotel Poços de Caldas, In. MEMORIAL 
JK, 016/A.C. 
45 OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de. Juscelino Kubitschek I (depoimento, 1974). Rio de Janeiro, CPDOC, 1979; 
OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de. Juscelino Kubitschek II (depoimento, 1976). Rio de Janeiro, CPDOC, 1979. 
46 PAMPULHA. Belo Horizonte: Caminho Novo Empresa Jornalística e Panela; Instituto dos Arquitetos do Brasil, 
Seção Minas Gerais, N. 01 nov/dez. 1979,  p.12‐20. 
47 Exemplo da polêmica quanto ao novo edifício da rodoviária. Cf. COSTA, Lucio. Parecer, 27 de agosto de 1959. 
BARRETO, Paulo Theodin. Informação sobre pedido para ser levantado o tombamento de quatro prédios (...) de 
Diamantina, de 27 de julho de 1959. Processo de Tombamento 0064‐T‐38 – ACI/RJ. 
27 
 
 
 
originais de Costa,  expostos no museu Casa de  Juscelino  em Diamantina, demonstram os 
detalhes  construtivos,  enquanto  as  aquarelas, mais divulgadas  em publicações, despertam 
outras questões. Já as fotografias de Alkmim relatam o cotidiano do antigo Arraial justamente 
no período que toca a pesquisa, e as de Hess, contratado pelo SPHAN e orientado pelo próprio 
Lucio Costa na expedição dos anos 1930, apresentam a cidade pelo olhar de um visitante.  
Há ainda a expressão espacial  realizada na década de 1950, quando das  linhas 
articuladas  por  Oscar Niemeyer  surgem  os  projetos modernos  de  intervenção  no  centro 
histórico. Tafuri afirma que certamente documentos e contexto histórico importam, mas que 
“não há nada mais enganoso e hermético que uma arquitetura sem desenho”48. Analisar as 
obras de Niemeyer e o que elas  representam naquele momento,  seja na  tradução do  ideal 
moderno dentro de um perímetro mineiro e barroco tombado, seja na questão política através 
de Kubitschek, é perceber as intenções e alusões nos seus traços. Para além disso, também é 
investigar  os  entremeios  das  construções  dos  projetos. Mesmo  que  a  pesquisa  não  tenha 
encontrado tantas respostas nos acervos documentais da capital mineira, o arquivo do IPHAN 
deu o lastro para compreender a relação entre o então governador de Minas Gerais, o Serviço 
e  o  arquiteto  e,  nos  arquivos  municipais,  foi  possível  encontrar  um  desenho  ainda 
desconhecido do projeto da Praça de Esportes de 195149. 
O  lastro  documental  e  biográfico  para  cobrir  as  três  figuras  que  constroem  a 
dissertação  não  seria  suficiente  para  entender  a  protagonista  imanente  do  trabalho.  Para 
compreender Diamantina, a pesquisa de campo  foi essencial.   Quando  fala sobre os bens a 
serem protegidos ou preservados, Márcia Chuva  ressalta  a  “necessidade  incontornável de 
contato, de experiência e de vivência”.  Pode‐se pensar nas primitivas viagens modernistas até 
as  rotineiras  excursões  que  caracterizaram  o  Serviço  do  Patrimônio Histórico  e Artístico 
Nacional, sendo que “para a fruição estética, essa experiência é imprescindível. ”50.   
Ao todo foram cerca de quatro meses de permanência, divididos em duas viagens 
para o antigo arraial. Nelas, foram registradas imagens, desenhos, anotações e textos afim de48 TAFURI, M. ʺLʹarcheologia del presenteʺ in. BIANCHINO, G. Il disegno dellʹarchitettura. Parma: Centro di studi 
e archivio della comunicazione, 1983, p. 24. “Intendo dire che no c’è nulla di più  ingannevole e di ermetico che 
un’architettura senza disegno, certo anche senza documenti, anche senza contesto storico, ma in particolare senza 
disegni.”. Tradução da autora.    
49 Arquivo Púbico Municipal de Diamantina – Série Plantas Diversas Antigas. Cx. 07. 
50 CHUVA, Márcia. O modernismo nas restaurações do SPHAN: modernidade, universalidade, brasilidade. Revista 
IEB, São Paulo, n.55, 2012, p.97. 
28 
 
 
 
apreender as percepções da cidade, além do contato com pesquisadores locais. Também foram 
visitadas  as  obras  de  Oscar  Niemeyer  e  foram  percorridos  os  locais  caros  a  Juscelino 
Kubitschek na sua cidade natal, com foco na Casa de Juscelino e na preservação da memória 
do ex‐presidente pelo museu, incluindo uma conversa (transcrita nos apêndices) com Serafim 
Jardim,  presidente  da  Casa  e  amigo  que  acompanhou  Kubitschek  depois  do  exílio.  O 
depoimento  de  Jardim  trouxe  uma  visão  da  relação  de  Juscelino  com  Diamantina 
extemporânea aos cargos públicos, mostrando uma continuidade de interesse pela terra natal. 
Sobressaíram‐se  também os arquivos que preservaram  a memória da  imprensa  local,  com 
jornais de cunho católico, A Estrela Polar, partidário pessedista, O Nordeste, e popular, Voz de 
Diamantina.  
Percorrer a cidade buscando os possíveis caminhos realizados em 1924 permitiu 
vislumbrar os pontos que constam nos  registros de Lucio Costa e que mais  tarde  também 
foram preservados pelo SPHAN. Andar pelas capistranas do centro histórico traz a consciência 
que  a  Diamantina  que  se  apresenta  para  o  visitante  contemporâneo  é  aquela  que  os 
protagonistas das intervenções dos anos 1930 a 1950 quiseram mostrar.  
Em outro momento do percurso, foi refeito o trajeto de Costa na primeira visita a 
Minas  Gerais,  quando,  além  da  permanência  em  Diamantina,  passou  brevemente  pelas 
cidades de Ouro Preto, Mariana e Sabará51. Estar nos quatro vilarejos históricos em sequência 
foi  importante  para  visualizar  consonâncias  e  divergências  entre  os  conjuntos  coloniais 
preservados e o que se sobressai no mais distante deles.   Na viagem,  incluiu‐se ainda Belo 
Horizonte,  tanto  pela  pesquisa  no  Arquivo  Público  Mineiro,  quanto  para  auxiliar  na 
compreensão  do  significado  da  construção  da  Pampulha,  que  junto  com  as  obras  em 
Diamantina, é um elo  importante que rege a relação de Kubitschek e Niemeyer no período 
pré‐Brasília. A respeito da capital federal, é ela que, junto com o Rio de Janeiro, fecha o arco 
das cidades percorridas em virtude da pesquisa. Na busca por fontes primárias, mostrou‐se 
indispensável  ir  além  de Minas  Gerais.  Brasília  e  Rio  de  Janeiro  foram  as  duas  frentes 
responsáveis por cobrir outros arquivos referentes a  Juscelino Kubitschek e Lucio Costa. A 
consulta  restrita  permitida  no Memorial  JK  contrasta  com  a  disponibilidade  do Arquivo 
                                                      
51 Cf. COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun. 1924.  
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Central do  IPHAN, onde  foram encontrados os alicerces para estabelecer as  relações entre 
Costa, Kubitschek, Niemeyer, Diamantina e o patrimônio.  
  No que diz respeito às fontes secundárias, a pesquisa se pautou, inicialmente, 
nas  coleções Alexandre  Eulálio,  da  Biblioteca Central César  Lattes  da Unicamp  e  na  José 
Claudio Gomes, da Biblioteca de Pós‐Graduação da FAUUSP. Tanto Eulálio52, professor da 
Unicamp, quanto Gomes53, professor da USP, tiveram Diamantina como objeto de interesse e 
estudo. Evidencia‐se a importância do livro raro, “O Discurso de Diamantina”, que pertencia 
à Eulálio e contém a transcrição do discurso que Kubitschek realiza na cidade natal assim que 
é eleito presidente e  também as análises de Diamantina, que se  tem acesso,  realizadas por 
Gomes.  Somou‐se  à  leitura  das  coleções,  a  leitura  de  dissertações,  teses,  artigos  e  livros 
pertinentes ao tema tendo como fio a investigação de Diamantina como parte da construção 
de uma modernidade.  
Para aprofundar a visão de Diamantina por Lucio Costa, partindo da percepção 
da  materialidade  da  cidade  através  de  seus  desenhos  nos  anos  1920  e  perpassando  o 
pensamento  que  desenvolveria  nas  décadas  seguintes  quando  assimila  a  conexão  entre  o 
passado e as vanguardas, ressaltam‐se as teses de Caion Meneguello Natal e Samuel Silva de 
Brito. Já ao se ater ao período de transição na obra e no pensamento de Costa, culminando com 
a  atuação  no  SPHAN  e  tecendo  um  círculo  de  interesse  do  arquiteto  onde  a  viagem  a 
Diamantina  permeou  questões  primordiais,  merecem  destaque  os  trabalhos  de  Otavio 
Leonidio  e  Cristiane  Souza  Gonçalves.  A  fim  de  dialogar  com  esses  e  outros  autores  e 
embasando  os  argumentos  tecidos  pela  dissertação,  valeu‐se,  principalmente,  da  vasta 
produção  textual do próprio arquiteto e dos seus  inúmeros depoimentos para os meios de 
comunicação. 
Assim como Lucio Costa, Juscelino Kubitschek publicou diversos escritos, além de 
deixar registrados discursos e entrevistas. Para debater com as falas do político e buscando 
                                                      
52 Cf. MACEDO, Sílvia Quintanilha. Alexandre Eulalio: retrato de um intelectual singular. Tese de Doutoramento. 
Faculdade  de  Filosofia,  Letras  e  Ciências Humanas  da USP,  2004; Obra  Completa  de Alexandre  Eulálio.  In: 
<http://www.unicamp.br/~boaventu/page20.htm> 
53 Cf. SILVA NETO, Manoel Lemes. “Do todo à parte”. Revista Óculum, n. 15. Campinas: FAUPUCCAMP, 2012. < 
http://periodicos.puc‐campinas.edu.br/seer/index.php/oculum/article/view/880> 
RETTO  JUNIOR, Adalberto  da  Silva;  CONSTANTINO, Norma  Regina  Truppel  ;  ENOKIBARA, Marta  .  José 
Cláudio  Gomes.  Entrevista,  São  Paulo,  ano  06,  n.  023.01,  Vitruvius,  jul.  2005 
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/06.023/3315>. 
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perfazer os modos pelos quais a ideologia de Diamantina foi construída, destaca‐se o livro de 
Josanne Guerra Simões e também o texto de Marcos Lobato Martins. Buscando compreender 
a figura de Kubitschek no contexto de diversas interpretações sobre as tradições, necessárias 
para  a modernização  em meio  a um  cenário de busca por uma  identidade nacional  tanto 
política quanto arquitetônica, evidenciam‐se a biografia elaborada por Claudio Bojunga e os 
trabalhos de Maria Victoria Benevides.  
Ao  relacionar os  trajetos de Costa e Kubitschek em Diamantina ao percurso da 
história da arquitetura moderna brasileira e aos reflexos no vilarejo através dos projetos dos 
anos 1950, a dissertação também se apoia em nomes como Adrián Gorelik e especificamente, 
pensando nas edificações desenhadas por Oscar Niemeyer, nos estudos de Danilo Macedo e 
Bruno Tropia Caldas.  
A  argumentação  busca, no  seu  conjunto,  expor  como Diamantina precisou  ser 
continuamente  revisitada.  Embora  estivesse  sob  o  signo  ideológico  da  pureza  para  os 
intelectuais  modernistas,  existia,  em  sua  condição  originária,  uma  inadequação  com  os 
intentos  mais  literalmente  progressistas,  o  que  demandava  diferentes  pensamentos  e 
ponderações  que  frequentemente  recaiam  na  necessidade  de  conciliar  preservação  e 
intervencionismo na cidade. Em si isso é um dilema comum nos tecidos tombados, mas o peso 
ideológico de uma Diamantina lendária conforme aparecia nos discursos de Kubitschek, nos 
ideais de Costa e no SPHAN forçaram o debate a se tornar mais afinado. Os dilemas estéticos 
que  conectam o  casario diamantino  com as  casas de Warchavchik, por exemplo,  são  traço 
estético dos desdobramentos vanguardistasda viagem de Costa em 1924. As querelas acerca 
da demolição do mercado da cidade, das residências no Beco do Mota ou acerca da construção 
da Rodoviária e dos projetos de Niemeyer são o outro lado: as intervenções práticas. Ambos 
demonstram a distinção de Diamantina nos salões e sucursais em Belo Horizonte, São Paulo, 
Rio de Janeiro e, posteriormente, em Brasília. A dissertação busca dar perspectiva aos ideários 
lançados em uma  cidade  cuja noção de pureza eventualmente poderia  ser pretexto para a 
tornar a‐histórica. Seguindo o percurso dos  intelectuais que nela passaram e cujo  legado a 
define, é nítida a inserção de Diamantina no começo do século XX em amplos debates do seu 
tempo. Sua condição atual é igual testemunho desse posicionamento (Figura 4). 
   
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Figura 4: Panorama de Diamantina, 2017. Em vermelho, alterações destacando as obras de Oscar Niemeyer. Fonte: Acervo da autora. 
 
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1. LUCIO COSTA: O DESENHO DA PUREZA 
Em Diamantina, Lucio Costa elaborou uma série de desenhos. Na maioria deles, 
seus  traços  evocavam  detalhes  construtivos.  As  doze  ilustrações  que  se  tem  acesso  são 
registros  a  lápis  de  fechaduras,  balaústres,  portas,  janelas,  púlpitos  e  beirais.  Porém,  as 
imagens mais divulgadas como referências da sua viagem de 1924 são as poucas aquarelas que 
mostram,  em  cores,  representações da perspectiva  interna da  Igreja de Nossa  Senhora do 
Carmo, da externa do passadiço do antigo Colégio Nossa Senhora das Dores e de uma via, 
talvez o Beco da Tecla1 (Anexo A, Imagens I, II e III). De sua autoria, não chegou até nós um 
panorama amplo que mostre visualmente a cidade descrita por ele na entrevista concedida 
para o  jornal A noite,  logo após  retornar da excursão mineira, ou no depoimento, décadas 
depois, em Registro de uma vivência. Conhece‐se a visão inicial de Diamantina através de suas 
palavras: 
A janela do meu quarto, no Hotel Roberto2, dava para a rua (...). Um piano 
distante tocava quando desci e me pus a caminhar pelas capistranas, trilha de 
lajes maiores no meio das ruas empedradas: no alto de uma  ladeira os dois 
sobrados do colégio de freiras, um ainda setecentista, o outro já do Império, 
ligados por um elegante passadiço; no  largo  fronteiro a uma  igreja o  típico 
cruzeiro de madeira guarnecido dos símbolos do martírio, com uma figueira 
enroscada, nascida do seu pé3. Depois a fachada da casa de Chica da Silva, a 
                                                      
1 O  desenho  aparece  na  reportagem  do  Jornal A Noite  com  a  legenda:  “uma  das  ruas mais  interessantes  de 
Diamantina, conservando em quase todos os seus aspectos a feição hispano‐árabe”. Pela descrição e pela imagem, 
acredita‐se ser o Beco da Tecla. Em 1943, Mariano usará a perspectiva para ilustrar seu texto. Cf. COSTA, Lucio. 
Considerações  sobre  o  nosso  gosto  e  estilo. A Noite,  Rio  de  Janeiro,  18  jun.  1924; MARIANO  FILHO,  José. 
Influências muçulmanas na architectura tradicional brasileira. Rio de Janeiro: Editora A Noite, 1943, p.67. 
2 O Hotel Roberto ficava na Rua Direita, consta nos jornais dos anos 1920 o endereço “No largo da Sé” ou nos recibos 
emitidos  “em  frente  a  Sé”.  Ressalta‐se  que  a  Sé  ainda  era  a  colonial,  demolida  em  1932. Numa  busca  para 
compreender qual era o edifício do Hotel, constatou‐se, através de uma fotografia de época, que provavelmente o 
Hotel  estava  instalado  no mesmo  sobrado  no  qual,  na  virada  do  século XIX  para  o XX,  possuía  parte  como 
residência o avô de Juscelino Kubitschek e onde, em 1902, o ex‐presidente nasceu. Mais tarde, o hotel foi transferido 
para o sobrado na esquina da Rua Direita com a Travessa do Carmo. 
3 Sabe‐se que é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário por citar a condição única do cruzeiro. O templo foi construído 
por volta de 1772 e na frente do edifício, onde está uma praça, nasceu uma gameleira e não uma figueira, como 
confunde‐se Costa, que cresceu emaranhada com o cruzeiro ali existente. 
33 
 
 
 
famosa amante do contratador, resguardada por extenso muxarabi, e, defronte, 
a capela do Carmo, construída para ela (...).4 
O texto sugere pontos percorridos pelo arquiteto em extremos do perímetro que 
mais tarde seria tombado pelo SPHAN (Figura 5). Os edifícios no passeio são representativos 
diamantinenses  de  rezar,  morar  e  educar  e  demonstram  como  Costa,  em  um  primeiro 
momento, não ateve suas análises a uma única função, mas ao uso total da cidade. A maioria 
das particularidades esmiuçadas são formais, como “beirais fortemente balanceados, tratados 
em madeira com caibros aparentes e perfilados, balcões com balaústres torneados, portas de 
ricas  almofadas,  ferragens,  gelosias,  alpendres”5  (Anexo  A,  Imagens  IV  a  XII).  Detalhes 
“convenientemente documentados” para ajudar a “definir a nossa arquitetura”6, cumprindo o 
intuito do convite de José Mariano Filho para que Lucio Costa fosse à cidade. 
No  final  da  década  de  1910  e  início  da  década  de  1920,  as  novas  construções 
passavam pelo embate do que seria uma arquitetura nacional autêntica. A historiografia nos 
conta  que,  até  então,  a  preocupação  de  se  representar  uma  brasilidade  não  existia  e  a 
arquitetura seguia correntes como o neoclassicismo, neogótico, art nouveau e demais formas 
do ecletismo7. Intelectuais passaram a questionar o modelo em vigor e a defender a busca por 
um estilo nacional pautado pelo estudo da arquitetura colonial, escolhida como aquela que 
representava as origens brasileiras do construir. Dessa forma, surge o neocolonial.  
Mariano, recifense radicado no Rio de Janeiro, fazia parte da corrente carioca de 
personalidades que era partidária do novo estilo. A arquitetura era um tema caro ao médico 
que,  como  presidente da  Sociedade Brasileira de Belas Artes8,  financiou  as  excursões  que 
fomentaram argumentos e  imagens em prol do uso do vocabulário colonial como meio de 
expressar, de modo preciso,  o que  seria  o  tão buscado  estilo nacional. Com  este objetivo, 
Mariano convidou profissionais de sua estima para visitarem as cidades mineiras. Nestor de 
                                                      
4 COSTA, Lucio. Diamantina, in: Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das Artes, 
1997, p. 27. 
5 COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun. 1924. 
6 Idem. 
7 Cf. REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2004; CZAJKOWSKI, 
Jorge. Guia da arquitetura eclética no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2000. 
8 Além de presidir a Sociedade Brasileira de Belas Artes por muitos anos, foi diretor da Escola Nacional de Belas 
Artes entre 1926‐1927 e também fundou o Instituto Brasileiro de Arquitetos e a Sociedade Central de Arquitetos em 
1921, presidindo ambas e as unindo em 1924 como Instituto Central de Arquitetos. 
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Figueiredo  foi  a Ouro Preto, Nereu Sampaio  a São  João Del Rei  e Congonhas do Campo, 
Ângelo Bruhns a Mariana e a Lucio Costa coube a última cidade do sentido Rio de Janeiro‐
Minas Gerais da antiga Estrada Real9: “Eu era o mais novo, então, me mandaram para mais 
longe”10. 
Porém, Costa  não  foi  o  único  viajante  que  percorreu  as  36  horas  de  trem  até 
Diamantina em nome das pesquisas de grupos neocoloniais. Ricardo Severo  ‐ engenheiro, 
arqueólogo e arquiteto português residente em São Paulo, promoveu excursões com objetivos 
semelhantes na mesma época11. Sob seu patrocínio, os pintores José Wasth Rodrigues e Alfredo 
Norfini foram enviados para interior do Brasil e Diamantina fazia parte do roteiro.  
JoséWasth Rodrigues era paulistano, conhecido por pinturas de painéis, azulejos 
e de paisagens antigas do estado. Em 1916, Monteiro Lobato escreveu um artigo elogiando o 
artista12, que passaria a fazer ilustrações para a Revista do Brasil e para livros de autores como 
Guilherme de Almeida e Alcântara Machado. Alfredo Norfini, por sua vez, era florentino e se 
fixou em São Paulo em 1911, após passagens por Buenos Aires, Campinas e Rio de Janeiro. No 
mesmo ano, por recomendação de Ramos de Azevedo, foi nomeado professor titular do Liceu 
de Artes  e Ofícios. No momento das  excursões para o  interior brasileiro, os dois pintores 
tinham carreiras mais consolidadas que o jovem Lucio Costa. 
9 Cf. NATAL, Caion Meneguello. Da casa de barro ao palácio de concreto: a invenção do patrimônio arquitetônico 
no Brasil  (1914‐1951). Tese  (doutorado)  ‐ Universidade Estadual de Campinas,  Instituto de Filosofia e Ciências 
Humanas, Campinas, SP, 2013, p. 113‐114 e TELLES, Augusto da Silva. Neocolonial: la polémica de José Marianno. 
In: AMARAL, Aracy (cord.). Arquitetura Neocolonial: América Latina, Caribe, EUA. São Paulo: Memorial/Fundo 
de Cultura Econômica, 1994. 
10 COSTA, Lucio. Sobre o Patrimônio. Boletim do Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural ‐ IBPC, 27 de fevereiro 
de 1992. In: NOBRE, 2010, p. 215. 
11 No  final da década de  1910,  o  português Ricardo  Severo  patrocinou  as  excursões  dos  pintores  José Wasth 
Rodrigues, Alfredo Norfini e Felisberto Ranzini pelo Brasil. Através delas, seria possível desenvolver um material 
que  fundamentasse  o  vocabulário neocolonial. Os  estados percorridos  foram  São Paulo, Minas Gerais, Rio de 
Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Pará e Maranhão, dando privilégio às 
cidades  interioranas,  sobretudo  as mineiras. Cf. MELLO,  Joana. Ricardo  Severo: da  arqueologia  portuguesa  à 
arquitetura brasileira. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra/Annablume, 2012, p. 65‐67 e NATAL, op. 
cit., p. 103‐105. 
12 LOBATO, Monteiro. A propósito de Wasth Rodrigues. O Estado de São Paulo, São Paulo, 9 de janeiro de 1916. 
35 
Figura 5: Mapa do Percurso de Lucio Costa em 1924. 
Elaborado com base nos relatos de Lucio Costa em Registro de uma Vivência e nos desenhos realizados na viagem em 1924. Na legenda, os edifícios foram nomeados de acordo com a 
função que ocupavam na época. Hoje, a Câmara Municipal (9) é o fórum da cidade. O Grupo Escolar Matta Machado (8) era, entre os séculos XVIII e XIX, a Casa de Intendência. No século 
XX e até recentemente foi a prefeitura, sendo que hoje continua a abrigar órgãos administrativos. A Casa do Muxarabi (7) é a Biblioteca Antonio Torres. Na Casa de Chica da Silva (5), 
funciona a sede do escritório técnico do Iphan em Diamantina. Já o colégio Nossa Senhora das Dores (3) pertence a UFMG e abriga o Instituto Casa da Glória.  Na primeira sede do Hotel 
Roberto (2) funcionam lojas comerciais. A antiga Estação de Trem (1) é a Sede do Corpo de Bombeiros. 
Fonte: Elaborado pela autora (2018)  
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36 
A viagem de Norfini para Minas Gerais foi realizada em 1921 e dela resultaram 
mais de uma centena de registros. Dos que foram divulgados, cinco são do antigo Arraial do 
Tijuco (Anexo A, Imagens XXVII a XXXI).  Rodrigues, por sua vez, visitou o estado em 1919 e 
em 1930, elaborou maior quantidade de materiais sobre Diamantina e foi mais rigoroso nas 
pranchas de detalhes, dando  atenção,  assim  como Costa,  aos pormenores das  construções 
diamantinenses (Anexo A, Imagens XIII a XXVI).  
Dos  pontos  em  comum  entre  os  registros,  destaca‐se  o  passadiço  da Casa  da 
Glória13. A ponte surge tanto na aquarela de Costa, quanto no desenho de Rodrigues (Anexo 
A, Imagens III e XIII). Ressalta‐se ainda as imagens da Casa de Chica da Silva, presentes na 
narrativa dos enviados por Severo e que atestam a importância dessa personagem central no 
imaginário construído em torno de Diamantina (Anexo A, Imagens XV e XXX); as perspectivas 
do  Beco  da  Tecla,  uma  de  cada  extremo,  denotando  a  peculiaridade  da  viela  (Anexo A, 
Imagens  II e XVIII)  ; e os desenhos precisos  feitos por Costa e Rodrigues do muxarabi da 
edificação construída no século XVIII na Rua da Quitanda (Anexo A, Imagens IV e XXII). 
Porém, todo o esforço feito ao enviar os profissionais para elaborar materiais que 
guiassem os intelectuais pelo neocolonial acabou restrito às mãos daqueles que patrocinaram 
as  excursões. Ricardo  Severo  e  José Mariano  não  publicaram  os desenhos  resultantes das 
viagens de seus enviados.   Sem as  imagens, Diamantina nos anos 1920  foi divulgada pelas 
palavras.  
Em abril de 1926, Wasth Rodrigues concede uma entrevista para o jornal Estado 
de São Paulo. O depoimento fazia parte da série que ficou conhecida como “inquéritos sobre 
arquitetura colonial”14. Apesar do pintor ressaltar que “sua pena dispõe de eloquência mais 
13 A Casa da Glória é constituída por dois sobrados, sendo que o mais antigo foi construído por volta de 1775, e 
deve o nome à sua antiga proprietária, Josefa Maria da Glória. Em 1813, ali passaram a residir os intendentes de 
diamantes. Em 1864, passou a abrigar a sede do 2º Bispado de Minas Gerais. Em 1867, foi repassada às Irmãs de 
São Vicente de Paulo que nela criaram um educandário feminino, o colégio e orfanato Nossa Senhora das Dores. 
Em 1878, as  irmãs  construíram o passadiço  ligando o orfanato ao prédio da  frente, edifício de 1850 que havia 
pertencido ao Cel. Rodrigo de Souza Reis. Na metade do século XX, com a desativação do Colégio, passou por um 
período de abandono até ser adquirido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1979, onde abrigou 
o Centro de Geologia Eschwege até 1999,  sendo  transformado no  Instituto Casa da Glória –  IGC/UFMG até o
presente. Cf. MARTINS, Marcos Lobato, Martins,  Júnia Maria Lopes, O Colégio Nossa  Senhora das Dores de 
Diamantina e a Educação Feminina no norte\nordeste mineiro (1860‐1940)‐ Educação em Revista, Belo Horizonte 
(17): 11‐19,11‐19, jun. 1993 
14  “Sob  direção do  jornalista  Fernando  de Azevedo,  a  série  de  nove  artigos  objetivou  reavaliar  o movimento 
neocolonial para  estabelecer  critérios  rígidos  à utilização do vocabulário  arquitetônico antigo na  realização de 
novos projetos. [...] contaram com a opinião de Ricardo Severo, José Marianno, José Wasth Rodrigues, Alexandre 
37 
sugestiva  do  que  sua  palavra”,  são  compartilhadas  posições  relevantes  do  estudioso  da 
arquitetura antiga brasileira, lembrando que “de nove anos a esta parte é nessapesquisa que 
se absorve todo o meu tempo e se concentra o meu maior interesse”. Das repetidas viagens 
para o  interior, Minas se mostrou “manancial  inesgotável de documentação arquitetônica”, 
considerando Diamantina um dos “principais núcleos de arte e tradições antigas”.  O parecer 
de Wasth Rodrigues ainda diz:  
Olhemos, pois, para o passado, se quisermos inspirar‐nos melhor. [...]O que a 
caracteriza [a arquitetura antiga] é a harmonia de linhas, admirável bom senso 
que presidiu a maior parte dessas construções. 15 
Lucio Costa seguiu uma orientação semelhante no depoimento de 18 de junho de 
1924 para o jornal A Noite, onde o argumento central da entrevista foi o retorno do arquiteto 
da sua excursão. Das conclusões, é possível perceber como o tempo pretérito se apresentava 
como o lugar de resgate das proporções: 
É preciso aproveitar o que herdamos de nossos avós. Mas fazê‐lo conservando, 
antes que  tudo, a beleza das proporções: proporções gerais – onde as  linhas 
horizontais dominam dando ao todo uma impressão de calma e tranquilidade 
[...] 16 
  Para  relacionar  a  redescoberta  das  heranças  coloniais  com  a  atualidade,  os 
artistas  demonstravam  a  preocupação  por  uma  técnica  alinhada  com  o  presente:  “As 
exigências  e  as  condições da  vida moderna  não permitiriam  copias  servis de modelos de 
construções que satisfaziam a outros tempos de menos exigências”, como disse Wasth. 
  Mantém‐se a ideia da beleza impressa pela proporção, mas ela deve ser polida 
de complicações construtivas e relativizada por objetivos racionais, mediados pela sinceridade 
‐  naquele  momento  expressa  pela  influência  colonial  em  contraponto  aos  “exageros” 
ecléticos17. Para ambos, existia um despropósito dos estilos em vigor, contra os quais a arte 
Albuquerque e Adolpho Pinto Filho, além da perspectiva do próprio Azevedo sobre o assunto.” In: NATAL, op. 
cit., p. 82. 
15 RODRIGUES, José Wasth. In: Architectura Colonial IV: uma palestra com o Sr. Wasth Rodrigues. Jornal O Estado 
de S. Paulo, São Paulo, 16 de abril de 1926. 
16 COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun. 1924. 
17 Cf. LEONIDIO, Otavio. Carradas de razões. Lucio Costa e a arquitetura moderna brasileira (1924‐1951). Rio de 
Janeiro: tese de doutorado, Departamento de História, PUC‐Rio, 2005, p. 33‐35. 
38 
 
 
 
colonial poderia oferecer um respiro e uma direção. Quando Rodrigues foi questionado se era 
a favor do movimento neocolonial, afirmou:  
Não  faço  mais  que  seguir  um  movimento  que  me  parece  universal.  O 
regionalismo é consequência do excesso de cosmopolitismo [...] É preciso, pois, 
conhecer perfeitamente a arquitetura colonial para podermos extrair o estilo 
“internacionalmente” de uma arte toda feita “espontaneamente”.18 
Apesar da aparente proximidade de discurso entre pintor e arquiteto, é possível 
perceber  nuances.  Costa  já  sinalizava  para  o  apreço  das  construções  passadas  “sem  a 
preocupação de chamar a atenção pela extravagância das formas” e convidava o leitor para 
“olhar um pouco para esse nosso céu” onde nevoeiros e neves não precisavam ser levados em 
consideração. Se “a beleza absoluta não existe”, a arquitetura deveria acompanhar também as 
condições do lugar e a finalidade para a qual era destinada19.  O arquiteto ainda menciona o 
excesso de ornamentos e a dissimulação dos materiais: 
Acabar com essas pequenas complicações que, a título de embelezamento e a 
pretexto de efeito decorativo, todo o construtor se acha com o direito de “criar”, 
e cujo verdadeiro  fim é, além de “epater  ler bourgeois”,  justificar o custo 
excessivo  em  que  ficar  a  obra  e  mascarar  a  inferioridade  do  material  e 
acabamento.20 
Wasth Rodrigues acreditava que a modernidade viria pela forma e agilidade com 
a qual poderiam ser feitos e empregados os elementos coloniais nos dias atuais. “Do ponto de 
vista pitoresco”, os motivos de decoração das “casas modernas” viriam não das residências 
coloniais, mas do “interior das igrejas”. Quanto à atribuição do arquiteto, só era necessário que 
desviasse os olhos dos “catálogos econômicos” para esses “magníficos exemplares”: 
Para  que  as  construções  inspiradas  nessa  arte  tradicional  satisfaçam  a 
sensibilidade moderna, bastará que o arquiteto que as projeta, associe ao “estilo 
                                                      
18 RODRIGUES, José Wasth. In: Architectura Colonial IV: uma palestra com o Sr. Wasth Rodrigues. Jornal O Estado 
de S. Paulo, São Paulo, 16 de abril de 1926. 
19 COSTA, Considerações sobre o nosso gosto e estilo, op. cit. 
20 Idem. 
39 
 
 
 
profundo da arte colonial” o espirito ágil e flexível, vivo e atual, a cujo sopro 
se renove, sem perder a sua fisionomia, a arte antiga.21 
O pintor se atém à decoração como o meio pelo qual a arte colonial seria traduzida 
nas novas construções. A função do edifício a que se destinam, por outro lado, não aparece 
como questão. Para Lucio Costa e seus colegas, era o oposto:  
O estilo vem por si. [...] Basta que cada arquiteto e cada proprietário tenha 
sinceramente  o  desejo  de  fazer uma  obra  que  preencha  da melhor maneira 
possível os fins a que se destina.22 
As diferentes visões de Costa e Wasth Rodrigues são comprovadas também pelos 
desenhos. No Anexo A  é  possível  observar  como  o  arquiteto  seguiu  a  proposta  de  uma 
documentação  técnica,  com desenhos dimensionados  e  escalas  indicadas,  ao passo que os 
detalhes construtivos registrados por Wasth Rodrigues, embora tanto ou mais numerosos que 
os de Costa, parecem buscar ser apenas um catálogo de elementos para serem conhecidos ou 
copiados, sem apresso ao anotar as medidas das proporções originais.  
Essas divergências se mostraram cruciais na atuação profissional dos viajantes nas 
décadas seguintes. Em Diamantina, cerca de dez anos depois das excursões registradas pelos 
intelectuais, o caso da Catedral exemplifica as posturas contrárias adotadas. A Matriz de Santo 
Antonio, feita em 1750 e exemplo central da escala dos templos do conjunto, foi demolida em 
1932 e José Wasth Rodrigues projetou o edifício que a substituiu (Figura 8). A polêmica em 
torno da demolição da antiga Sé e construção da nova Catedral pode revelar uma vontade por 
parte do desenhista de dar, segundo seus parâmetros, uma igreja que se destacasse no tecido 
diamantinense, enquanto o bispado pretendia expressar sua  imponência. Se a Sé com seus 
largos e materiais criava uma relação de proporção com as construções civis ao redor, o novo 
edifício foi desenhado fora da escala da cidade e, apesar de se apropriar de alguns fragmentos 
do  repertório barroco,  se  aproxima mais das  regras  compositivas do  ecletismo. O  eixo de 
implantação, em relação ao edifício original, foi rotacionado e a lateral da Catedral ficou para 
a Rua Direita, onde antes era a frente da Sé, interferindo na preservação da trajetória urbana 
                                                      
21 RODRIGUES, Architectura Colonial IV: uma palestra com o Sr. Wasth Rodrigues, op. cit. 
22 COSTA, Considerações sobre o nosso gosto e estilo, op. cit. 
40 
 
 
 
do  antigo Arraial  do  Tijuco.  Previsivelmente,  Lucio Costa  considera  o  novo  projeto  uma 
“porcaria” que “não tem nada com Diamantina”23 (Figuras 6 e 7).  
                                                      
23 COSTA, Lucio. Entrevista: Lucio Costa. Revista Pampulha. Belo Horizonte: Caminho Novo Empresa Jornalística 
e Panela; Instituto dos Arquitetos do Brasil, Seção Minas Gerais, N. 01 nov/dez. 1979,  p.16. 
Figura 6: Antiga Sé de Diamantina, c. 1920.
Fonte: Santos (2015, p. 147). Autor: Chichico Alkmim. 
Figura 7: Panorama com a nova Catedral de Diamantina, década de 1940. 
O edifício destaca‐se no centro, no meio das construções coloniais. Fonte: Santos (2015, 
p. 149). Autor: Chichico Alkmim
41 
 
 
 
 
Figura8: Cathedral de Diamantina, Corte CD, Projeto de J. W. Rodrigues, 1930  
Fonte: Arquivo Público Municipal de Diamantina 
 
 
As ponderações de Costa  sobre  sua  viagem  seguem um  arco mais  longo. Nos 
primeiros meses que sucedem a ida a Diamantina, anos antes da polêmica da nova Catedral 
de Wasth Rodrigues, e de volta ao Rio de Janeiro, Lucio Costa participa, em agosto de 1924, 
do 31º Salão de Belas Artes da ENBA. Devido ao curto espaço de tempo entre os eventos e ao 
discurso feito pelo arquiteto na entrevista concedida depois da sua volta, afirmando que havia 
visto “um estilo  inteiramente diverso desse colonial de estufa, colonial de  laboratório”24 da 
capital, supõe‐se que os trabalhos apresentados no Salão foram realizados antes da viagem de 
estudos25.  
                                                      
24 COSTA, Considerações sobre o nosso gosto e estilo, op. cit. 
25 BRITO, Samuel Silva de. Lucio Costa: o processo de uma modernidade: Arquitetura e projeto na primeira metade 
do séc. XX. 2014. 2 v. Tese (Doutorado) ‐ Curso de Arquitetura, Projetos Arquitetônicos, Universidad Politécnica de 
Catalunya, Barcelona, 2014, p.125. 
42 
 
 
 
O catálogo  revela que o arquiteto expôs dez propostas26. Costa não as assinava 
sozinho,  a  autoria  era  compartilhada  com  o  seu  sócio desde  1922,  Fernando Valentim do 
Nascimento. Na  exposição,  foram  laureados  com  a Grande Medalha de Prata27  e  as obras 
apresentadas permeavam  o  eclético,  como  o Atelier propriedade do  Sr. Chambelland,  e  o 
neocolonial, estas as que mais impressionaram, como conta a matéria do jornal O Paiz: 
Esbarrei  logo  com  as  magnificas  aquarelas  de  Lucio  Costa  e  Fernando 
Valentim,  ambos  brasileiros  e  demonstradores  ardentes  e  puros  do  nosso 
maravilhoso estilo neocolonial, o único que nos é próprio e que condiz com o 
clima e a organização do nosso país.28 
 
 
Figura 9: Perspectiva da Casa Antunes exposta no Salão de 1924. 
Fonte: Brito (2014, p.133) 
 
                                                      
26  Propriedade  do  Barão  Smith  de  Vasconcellos;  Propriedade  do  S.  J.  Antunes  (perspectiva,  hall,  elevação); 
Propriedade de Mll. M. L. V. Ruy Barbosa (perspectiva e interior, plantas e jardins); Túmulo (interior); Concurso J. 
Mariano  Filho  (perspectiva,  hall,  conjunto  e  seção);  Propriedade  do  Sr. Valentim  do Nascimento  (entrada  do 
subterrâneo  e  fotografias);  Propriedade  do  Sr.  Arnaldo  Guinle  (perspectiva,  plantas,  seção,  interior,  estudo 
colonial); Jardim propriedade do Sr. C. Amoroso Costa; Atelier propriedade do Sr. R. Chambelland; Propriedade 
do Sr. Vasco Lima. Cf. SLADE, Ana. Arquitetura moderna brasileira e as experiências de Lucio Costa na década de 
1920. Revista Artes & Ensaios, nº 15, p. 2007, p. 86. 
27 SLADE, Ana. Arquitetura moderna brasileira e as experiências de Lucio Costa na década de 1920, op. cit. 
28 CHRYSAN‐THÈME. A semana. O paiz, Rio de Janeiro, p.3, 17 ago. 1924. Apud. BRITO, S. S., 2014, p. 132. 
43 
 
 
 
 
 
Figura 10: Perspectiva da Casa Vasco Lima exposta no Salão de 1924. 
Fonte: Brito (2014, p.133) 
 
Os desenhos mencionados são as casas para o Sr.  J. Antunes e para o Sr. Vasco 
Lima29 (Figuras 9 e 10). Seriam essas as propostas com aspiração colonial elaboradas por Costa 
antes da viagem para Diamantina.  Sucedendo a viagem, está a casa projetada para Olga e Raul 
Pedrosa  na Rua  Rumânia30.  Lucio Costa  relata  que Valentim  já  estava  envolvido  com  os 
primeiros estudos em 192231, mas,  sendo a  conclusão do projeto posterior a excursão para 
                                                      
29 As aquarelas dos projetos foram localizadas por BRITO (2014) em uma revista de época “A ideia ilustrada”, n. 
23, que teve a página recortada e colada em um dos livros onde Paulo Santos colecionava matérias de periódicos 
do início do século XX: SANTOS, Paulo Ferreira (org.). [livro Q n. 18 recortes de jornal XXXVIII]. Rio de Janeiro: 
[s.n.], 19‐in?. In: BRITO, 2014, p. 134.  
30 Segundo Slade (2007), o projeto foi concluído em 1924 após o retorno de Diamantina ou, segundo Guimaraens 
(1996) e Bruand (2008) em 1925. Tais afirmações podem ter como evidência a ausência do mesmo na exposição da 
ENBA.  
31 COSTA, Lucio. Fernando Valentim. In: Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das 
Artes, 1997, p. 431. 
44 
 
 
 
Minas,  pode‐se  tomar  a  residência  da  família  Pedrosa  (Figuras  11  e  12)  como  a  primeira 
tentativa de se fazer uma arquitetura livre de estilos: 
As  principais  mudanças  que  podem  ser  aqui  observadas  em  relação  aos 
projetos neocoloniais feitos antes da viagem a Diamantina [...] estão na maior 
sobriedade e simplicidade conferidas pela harmonia dos volumes e pelo uso de 
extensas superfícies brancas. [...] 
Parece‐nos que procurou experimentar ali a liberdade no fazer arquitetônico, 
de maneira similar à enunciada em seu texto – sem a preocupação de fazer um 
estilo nacional, na crença de que o estilo viria, como afirmou, “por si”. E assim 
mostrou mais liberdade tanto em relação às normas compositivas beaux‐arts 
(sem, no entanto, as abandonar) quanto em relação ao uso de uma tipologia 
definida e também de um estilo “pronto”.32 
 
Figura 11: Fachada e corte da Casa Pedrosa, 1924. 
Fonte: Brito (2014, p.144) 
                                                      
32 SLADE, Ana. Arquitetura moderna brasileira e as experiências de Lucio Costa na década de 1920. Revista Artes 
& Ensaios, nº 15, p. 2007, p. 52. 
 
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Figura 12: Plantas da Casa Pedrosa, 1924. 
Fonte: Brito (2014, p.133) 
 
Continuando uma década que seria marcada por viagens, Lucio Costa, ao concluir 
seus estudos na ENBA, recebeu como prêmio uma passagem de  ida e volta à Europa. Para 
viabilizar os demais custos da excursão, o arquiteto rascunha um pedido de financiamento nas 
folhas timbradas do seu escritório com Valentim (Figuras 13 e 14).  
 
 
 
 
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Figura 13: (Acima) Verso da primeira página da justificativa de Lucio Costa  
para o financiamento da viagem à Europa, 1926. 
Destaque para o nome de Le Corbusier. Fonte: Casa de Lucio Costa. In: Brito (2014). 
 
Figura 14: (Abaixo) Terceira página da justificativa de Lucio Costa para o financiamento da viagem à Europa, 1926. 
Fonte: Casa de Lucio Costa. In: Brito (2014). 
47 
 
 
 
O documento33 elenca razões e objetivos da missão e traz, já em 1926, o nome de 
Le  Corbusier  em  dois momentos  como  questão  a  ser  estudada  na  viagem. No  verso  da 
primeira folha, o arquiteto franco‐suíço está no topo de uma lista com outras duas referências: 
Les  principes  de l’architecture,  John  Belcher,  e  The  seven  lamps  of  architecture,  John Ruskin. 
Na terceira folha, surge a segunda citação: 
Estilo  ‐ Como  conciliar  resolver  o  problema  da  harmonia  como  dentro  da 
liberdade de estilo. Se só aceitar os estilos baseados no Clássico (Neo‐grego, 
Renascença, Luiz XIII‐XVI, Barroco, os estilos germânicos). Como encarar a 
orientação  modernista,  o  abandono  às  formas  consagradas,  a  criação  do   
“estilo estrutura”. (Escola de Le Corbusier) 
A alusão ao mestre moderno chama atenção e está no mesmo ponto que levanta a 
inquietação sobre como manter a harmonia e a liberdade compositiva. Vale também ressaltar 
outros pontos que, mesmo ainda influenciados por um raciocínio de formação eclética, fazem 
referência a atitudes que seriam determinantes nas décadas seguintes, como os princípios de 
preservação de bens históricos e a relação de novas construções com o pré‐existente. Por se 
tratar em proposições anotadas  livremente conforme os assuntos surgiam e despertavam o 
interesse em serem estudados, o documento é ainda mais espontâneo:  
[...] 
‐  Como conciliar os interesses individuais dos proprietários com o interesse 
coletivo, interesse da cidade, queé o aspecto de cada rua considerada como uma 
massa arquitetônica (Teorias de J. Belcher). 
‐ Princípios a adotar para a conservação dos trechos antigos de valor artístico 
ou histórico. Como tratar as partes vizinhas de construção recente.  
[...] 
                                                      
33 O documento foi catalogado pela Casa de Lucio Costa e analisado por BRITO, S. S., 2014, p. 178‐181. Cf. COSTA, 
Lucio. V D 05‐01504 L. Razões que  justificam a proposta.  [Rascunho das  justificativas de  financiamento para a 
viagem  à  Europa  em  1926‐1927].  5fls.  1926?. Disponível  em:  <http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/1805>. 
Acesso em: 8 jan. 2019. 
48 
 
 
 
‐ O elemento linha ‐ qual escolher, a técnica italiana, com o domínio da linha 
horizontal, ordens sobrepostas, acentuando os frisos, a técnica francesa, onde 
domina a linha vertical, ordens abrangendo andares sucessivos encaixando os 
vãos correspondentes em  feixes verticais. Admitindo‐se ambos os princípios 
como concilia‐los. Como aceitar o partido americano que trata os pavimentos 
térreo e último como faixas independentes, isolados dos demais andares?34 
[...] 
Como o arquiteto recém‐formado consegue outros meios de financiar a viagem35, 
não precisa  levar adiante  esses planos de  estudo. A  remota menção a Le Corbusier – que 
mostra que o arquiteto sabia das vanguardas ‐ foi colocada de lado, tornando‐se apenas um 
auspício do nome que mais tarde tanto influenciaria a arquitetura de Lucio Costa e do Brasil36.  
No continente europeu, Costa visita a França, a Itália e a Suíça no momento que o 
movimento  moderno  já  estava  em  andamento.  Esteve  em  Paris  apenas  um  ano  após  a 
exposição do pavilhão da revista L’Esprit Nouveau e três anos após a publicação de Vers une 
Architecture. Décadas depois, em uma entrevista, disse que a viagem de 1926 não alterou de 
imediato sua relação com a arquitetura, mas que no futuro percebeu muitas coisas gravadas 
no seu subconsciente. Apesar de não se envolver com as iniciativas de vanguarda dos países 
visitados, quando volta diz sentir “verdadeiro desencanto pela arquitetura que fazia”37. Além 
disso, depois de meses viajando, envia uma carta para família: 
Cansado de ver tanta coisa  interessante em tão pouco tempo,  já quase nada 
sinto e quase nada me emociona. Procuro em vão ter aquela sensação de alegria 
sincera, profunda e ingênua que eu sempre tinha, e me fazia tanto bem. Era 
                                                      
34 COSTA, Lucio. V D 05‐01504 L. Razões que justificam a proposta. [Rascunho das justificativas de financiamento 
para  a  viagem  à  Europa  em  1926‐1927].  5fls.  1926?.  Disponível  em: 
<http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/1805>. Acesso em: 8 jan. 2019. 
35 Acredita‐se que Costa usou um prêmio que recebeu na loteria nessa mesma época e com ele teve condições de 
manter‐se por quase um ano viajando. Cf. BRITO, Samuel Silva de. Lucio Costa: o processo de uma modernidade: 
Arquitetura e projeto na primeira metade do séc. XX. 2014. 2 v. Tese (Doutorado) ‐ Curso de Arquitetura, Projetos 
Arquitetônicos, Universidad Politécnica de Catalunya, Barcelona, 2014, p.181. 
36 Na volta da viagem, Costa conta a história da brincadeira de forca realizada com Mary Houston no navio. A 
intelectual propôs um nome que começava com “L” e enforcou Lucio Costa, que não adivinhou o nome de Le 
Corbusier. Cf. COSTA, Lucio. Mary Houston.  In: Lucio Costa:  registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: 
Empresa das Artes, 1997, p. 48. 
37 COSTA, Lucio. Brasília é uma síntese do Brasil. O Estado de São Paulo, caderno Cultura, p. 2, 13 fev. 1988. 
49 
 
 
 
como uma onda de ar fresco e puro que respirasse. [...] E há momentos em que 
tenho ímpetos de fugir, de esconder‐me num país bem estúpido [...] Onde não 
havendo  essa  quantidade  excessiva  de  coisas  de  valor,  qualquer  pequena 
“trouvaille” é um grande prazer, um tesouro.38 
O jovem arquiteto só voltaria a sentir tal comoção ao retornar ao Brasil, no estado 
que o havia apresentado Diamantina. Por conta da desconfiança de uma doença pulmonar, 
Costa volta para Minas Gerais, onde se trata no convento do Caraça.  
O  claustro “perdido a uma altitude de mil e quatrocentos metros –  cercado de 
montanhas”39 estava há duas horas de distância do primeiro povoado. Era o final do ano de 
1927 e as montanhas e o isolamento remetiam ao contexto encontrado na viagem de 1924. O 
reencontro com as terras mineiras também foi o reencontro com o colonial que havia conhecido 
no Arraial do Tijuco e Costa foi presenteado com uma nova trouvaille. 
[...] No último dia do ano, com o  jumento  resvalando nas pedras  soltas da 
serra, desci até Catas Altas do Mato Dentro para visitar a rica matriz. 
Estava deserta. Apenas uma velhinha sentada num dos bancos. Em meio ao 
esplendor  da  talha,  dos  dourados,  das  imagens,  das  pinturas,  ela  sentia‐se 
visivelmente em casa. Estava ali à vontade, como se tudo aquilo tivesse sido 
concebido  para  o  seu  uso  e  gozo  exclusivo,  como  se  tudo  lhe  pertencesse. 
Morava  num  casebre,  mas  dispunha  da  imensa  nave  e  dos  gigantescos 
retábulos para a sua conversa diária – em clima de graça, louvor e glória – com 
Nossa Senhora e Senhor.40 
  A  continuação  da  viagem  por  mais  alguns  meses  ainda  permitiria  que  o 
arquiteto visitasse outras igrejas entre Sabará, Ouro Preto e Mariana, algumas registradas em 
seu caderno (Figura 15).  
                                                      
38 COSTA, Lucio. Cartas. In:  Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das Artes, 1997, 
p. 44. 
39 COSTA, Lucio. O palácio da Embaixada Argentina. O jornal. 28 de abril de 1928. In: NOBRE, 2010, p. 29. 
40 COSTA, Lucio. Catas Altas do Mato Dentro:  In: Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: 
Empresa das Artes, 1997, p. 519. 
50 
 
 
 
 
Figura 15: Desenho da Igreja de Nossa Senhora do Carmo em Ouro Preto, 1928.  
Fonte: Casa de Lucio Costa. Autor: Lucio Costa. 
 
Por mais que tenha se atentado para a Igreja de Nossa Senhora do Carmo de Ouro 
Preto, Costa, ao voltar de viagem, não fez boas ressalvas sobre o autor de sua portada, Antonio 
Francisco Lisboa, o Aleijadinho41. O escultor de importância reconhecida era, junto com nomes 
como Manuel da Costa Ataíde, um artista que despertava grande atenção dos estudiosos. Em 
1929, Costa, a pedido de Manuel Bandeira42, escreve o  texto “O Aleijadinho e a arquitetura 
tradicional” para a edição especial de O Jornal dedicada a Minas Gerais43. 
                                                      
41 Segundo o IPHAN, “através de estudos comparativos com outras portadas de autoria do Aleijadinho, a exemplo 
da portada de São Francisco da mesma cidade e as das Ordens Terceiras de São João Del Rei, a monumental portada 
do  Carmo  é  também  a  ele  atribuída”.  Cf. 
http://portal.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_belas.gif&Cod=1374. Acesso em 10 jan. 2019. 
42  COSTA, Lucio. Conversa caseira. Entrevista a Maria Elisa Costa. 22 de janeiro de 1990. In: NOBRE, 2010, p. 191. 
43 COSTA, Lucio. O Aleijadinho e a arquitetura  tradicional. O  Jornal, Rio de  Janeiro,  s.d.  In: XAVIER, Alberto  
Melchiades    (Org.).    Lúcio  Costa:  sôbre  arquitetura.  Porto  Alegre:  Centro  dos  Estudantes  Universitarios  de 
Arquitetura, 1962. 
51 
 
 
 
E é assim que a gente compreende que ele tinha espirito de decorador, não de 
arquiteto. O arquiteto vê o conjunto, subordina o detalhe ao todo, e ele só via 
o detalhe [...] Os seus maravilhosos portais podem ser transportados de uma 
igreja para outra sem que isso lhes prejudique [...] São coisas a parte. Estão ali 
como que alheios ao resto. 
[...] Os poucos arquitetos que têm estudado de verdade a nossa arquitetura do 
tempo colonial, sabem o quanto é difícil, por forçada a adaptação dos motivos 
por ele criados. [...]A nossa arquitetura é robusta, forte, maciça e tudo que ele 
fez  foi magro,  fino, quase medalha. A nossa arquitetura é de  linhas calmas, 
tranquilas, e tudo que ele deixou é torturado e nervoso. Tudo nela é estável, 
severo, simples, nada pernóstico. Nele tudo instável, rico, complicado, e um 
pouco precioso. [...] 44 
Para Leonídio, a principal questão de Lucio Costa naquele momento era quanto 
do  trabalho  de Aleijadinho  poderia  ser  aproveitado,  quantos  elementos  de  sua  produção 
excêntrica poderiam estar presentes na arquitetura brasileira contemporânea45 e, como nesse 
sentido, Costa não o considerava assim “tão  indispensável”46. O arquiteto escreveu sobre a 
obra do artista mineiro com os olhos de quem acabara de vencer o concurso para a embaixada 
da Argentina47 com um projeto que tinha como base elementos de várias fases da renascença 
espanhola, mas  que  no  seu  conjunto  buscava  “a  fisionomia  da  nossa  própria  arquitetura 
tradicional”. Para tanto, justificava o descarte de alguns estilos ao fazer suas escolhas. Um, em 
especial, chama a atenção: 
Finalmente,  os  estilos  francamente modernos –  como  tive  a  ocasião de ver 
ultimamente  na  Europa  muita  coisa  interessante  –  são,  mesmo  quando 
adaptadas com moderação as ideias de Le Corbusier, arriscados. 
                                                      
44  Idem. 
45 LEONÍDIO, Otavio. Carradas de  razões: Lucio Costa  e a  arquitetura moderna brasileira  (1924‐1951). Rio de 
Janeiro: PUC‐Rio; São Paulo: Loyola, 2007, p. 51‐52. 
46  COSTA, op. cit.  
47  O projeto da Embaixada Argentina é de 1928, o texto sobre Aleijadinho é de 1929. 
52 
 
 
 
Pode  ser  gosto  do  momento,  questão  de  moda,  parecer  amanhã  ridículo, 
extravagante, intolerável, como por exemplo hoje nos parece o art nouveau de 
1900. Estamos perto demais, não podemos ainda julgá‐lo.48 
Em  breve,  o  arquiteto  carioca  mudaria  de  opinião  a  respeito  dos  “estilos 
francamente modernos”. Como também, décadas depois, disse se arrepender das declarações 
dadas a respeito de Aleijadinho na reportagem do final dos anos 192049.  Nos interessa, nos 
discursos  veiculados  nesse  período,  perceber  como  expõem  o  passado  que  Lucio  Costa 
evocava: a “arquitetura, dita colonial, que me apaixonava era até 1700 e poucos”50 e revela o 
que, naquele momento, considerava serem as palavras que simbolizavam a nossa arquitetura: 
robusta, forte, maciça, estável, severa, simples, com linhas calmas, tranquilas.  
Pouco  se atenta para a passagem de Considerações  sobre nosso gosto  e  estilo onde 
Lucio Costa diz: “De minha viagem à Diamantina e pequena demora em Sabará, Ouro Preto e 
Mariana [...]”51. Ela revela que o arquiteto também esteve nesses lugares e pôde, ainda em 1924, 
começar a traçar um paralelo entre as principais cidades históricas mineiras. Embora não as 
tenha  registrado  naquela  ocasião,  na  segunda  viagem  a  Minas,  elas  figuram  em  seus 
desenhos52, que priorizaram as igrejas.  
Situação  similar pode  ser  observada  se  compararmos  os  registros das mesmas 
cidades mineiras visitadas pela comitiva paulista que foi a Diamantina. Para Alfredo Norfini 
e José Wasth Rodrigues, as  igrejas também foram protagonistas nas recordações de Sabará, 
Ouro  Preto  e  Mariana.  Comparando  com  os  desenhos  feitos  pelos  três  estudiosos  em 
Diamantina,  nota‐se  que  os  inúmeros  templos  da  cidade  não  compõem  as  perspectivas 
externas e ficaram de lado no retrato geral dos viajantes. A exceção é uma das aquarelas de 
Norfini onde a Igreja de Nossa Senhora do Rosário aparece parcialmente no canto (Anexo A, 
Imagem XXVIII). Assim, as viagens de Costa, Norfini e Rodrigues, mesmo que realizadas em 
anos  diversos,  apontam  para  a  interpretação  que  o  valor  atribuído  a  Diamantina  vinha, 
                                                      
48 COSTA, Lucio. O Aleijadinho e a arquitetura tradicional, op. cit.  
49 Cf. COSTA, Lucio. Lucio Costa sobre Aleijadinho. Revista Gávea, n.3. Junho de 1986. In: COSTA, NOBRE, 2010, 
p. 102‐103. 
50 Idem. 
51 COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun. 1924. 
52  Cf.  Lucio.  IV  e  01‐00284  L.  Desenhos  da  viagem  a  Minas.  16fls.  1927‐1928.  Disponível  em: 
<hup://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/637>. Acesso em: 10 out. 2018. 
 
53 
 
 
 
sobretudo, das manifestações populares de arquitetura, das pequenas casas no meio das quais 
as singelas igrejas setecentistas se misturam e dividem, sem competir, o olhar do observador. 
Para além das particularidades, a cidade havia mostrado a Lucio Costa o significado de pureza. 
O termo será chave para desvelar dilemas que o acompanhavam desde 1924 e que persistiram 
até 1930. 
A divergência entre a arquitetura e a estrutura, a construção propriamente 
dita tem tomado proporções simplesmente alarmantes. Em todas as grandes 
épocas  as  formas  estéticas  e  estruturais  se  identificaram. Nos  verdadeiros 
estilos,  arquitetura  e  construção  coincidem.  E  quanto  mais  perfeita  a 
coincidência,  mais  puro  o  estilo.  O  Parthenon,  Reims,  Sta.  Sofia,  tudo 
construção,  tudo  honesto,  as  colunas  suportam,  os  arcos  trabalham. Nada 
mente. 53 
Se  a  passagem  de  Le  Corbusier  pelo  Rio  de  Janeiro  um  ano  antes  não  havia 
chamado a atenção de Costa54, ao se deparar com a revista Para Todos55 com a foto de uma casa 
de Gregori Warchavchik “simpática, harmoniosa, bem equilibrada”56 ficou seduzido (Figura 
16). Warchavchik, arquiteto ucraniano radicado em São Paulo57 desde a primeira metade da 
década de 1920, publicou, no ano seguinte da viagem de Costa a Diamantina, o artigo “Acerca 
da arquitetura moderna”58. O manifesto, divulgado pelo  jornal Correio da Manhã do Rio de 
Janeiro,  é  considerado  a  primeira  referência  em  favor  da  arquitetura moderna  no  Brasil. 
Todavia,  apenas  em  1930,  Lucio  Costa  entraria  em  contato  com  as  ideias  e  projetos 
desenvolvidos na capital paulista.   A divulgação da “Exposição de uma casa modernista” teve 
                                                      
53 COSTA, Lucio. O novo diretor da Escola de Belas Artes e as diretrizes de uma reforma. O Globo, 29 de dezembro 
de 1930. In: NOBRE, 2010, p. 34‐35. 
54 Le Corbusier veio ao Brasil em 1929 e fez conferências em São Paulo e no Rio de Janeiro. Sobre o evento no Rio, 
Costa conta: “Cheguei um pouco atrasado e a sala estava toda tomada. As portas do salão da Escola estavam cheias 
de gente e eu o vi falando. Fiquei um pouco, depois desisti e fui embora,  inteiramente despreocupado, alheio à 
premente realidade.” Cf. COSTA, Lucio. Presença de Le Corbusier. Revista Arquitetura . In: NOBRE, 2010, p. 121. 
55 Acredita‐se  ser a edição 591 ou a 592 da  revista Para Todos. A primeira, de 12 de abril de 1930,  continha a 
divulgação da Exposição de uma casa modernista – projeto construído na Rua Italópilis. A segunda, de 19 de abril de 
1930,  já  possuía  uma  reportagem  detalhada  com  diversas  fotografias.  Disponível  em: 
http://www.jotacarlos.org/revista/index.html. Acesso em 02 jan. 2019. 
56 COSTA, Lucio. Conversa caseira. Entrevista a Maria Elisa Costa. 22 de janeiro de 1990. In: NOBRE, 2010, p. 191. 
57 Cf. LIRA, José. Warchavchik: Fraturas da vanguarda. São Paulo: Cosac Naify, 2011. 
58 WARCHAVCHIK, Gregori. Acerca da  arquitetura moderna.  Jornal Correio da Manhã, Rio de  Janeiro,  1 de 
novembro de 1925. 
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extenso apelo midiático, “[...] a cobertura dos jornais foi quase diária: desenhos, fotografias e 
caricaturas da casa espalharam‐se por toda parte e, [...] uma nova imagem da moradia atingiria 
ampla difusão”59, tocando também o arquiteto carioca. 
 
 
Figura 16: Revista Para Todos. Edição 592, 19 de abril de 1930, p. 35. 
 Fonte: Acervo J. Carlos em revista  
                                                      
59 LIRA, José. Warchavchik:Fraturas da vanguarda. op. cit., p. 196‐197. 
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É pela  forma de  resolver  o plano ordinário do morar que Lucio Costa por  fim 
vislumbra o moderno como opção legítima. Reconhece ali o mesmo encantamento despertado 
pelas casas de Diamantina. Se a casa moderna de Warchavchik aparentava não disfarçar sua 
estrutura de  concreto, Diamantina,  na  sua  sinceridade, deixava  à mostra  as  estruturas de 
madeira de suas casas. Estaria nessa escala particular da cidade um dos pontos que a tornava 
única e passível de ser um lugar revelador para aqueles que a descobriam.  
Ao  lado  das  construções  barrocas,  jesuíticas,  arquitetura  francamente 
religiosa,  há  a  arquitetura  civil,  de  um  aspecto muito  característico,  e  de 
particular  interesse  porque  nela  se  encontram  os  elementos  básicos  para 
solução inteligente de um projeto de aparência muito simples, porém bastante 
complexo  e  difícil:  o  projeto  e  a  construção  das  pequenas  casas,  casas  de 
cinquenta  e duzentos  contos, que a  todo momento  e  em  todos  os  cantos  se 
constroem.60 
Assim, de uma análise à luz do tempo passado, pode‐se inferir novos significados 
aos desenhos de 1924.   Das pranchas de Costa, talvez a mais significativa seja a dos beirais 
(Anexo A, Imagem XII), referência direta da relação intrínseca entre plástica e técnica. Essa é 
a pureza que tanto o deslumbra. É a palavra que perdura em seus relatos posteriores:  
“Aquilo, pra mim,  foi uma  revelação, a pureza daquela arquitetura,  fiquei 
impressionado, foi meu primeiro contato com a arquitetura mineira” 
Revista Pampulha, 1979 
“Era um ambiente  singelo, puro.  Isso  foi a  coisa que mais me  tocou neste 
contato direto com o Brasil antigo” 
Boletim do IBPC, 1992 
“A pureza da distante Diamantina dos anos vinte marcou‐me para sempre” 
Registro de uma vivência, 1995 
                                                      
60 COSTA, Lucio. Considerações sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, Rio de Janeiro, 18 jun. 1924. 
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A noção de pureza o ajudou a consolidar o salto em direção as vanguardas. Pureza 
não entendida em sua chave eugenista, mas no âmbito de uma questão formal, de uma opção 
de estrutura arquitetônica sincera em seus materiais e esforços. 
O desenho de uma residência serve de testemunho para esse período de transição 
projetual. Em 1930, o arquiteto elabora duas propostas para a casa de Ernesto Gomes Fontes. 
Uma consta em seus registros como a “última manifestação de sentido eclético‐acadêmico”61 e 
a outra é “a primeira proposição de sentido contemporâneo”62 (Figura 17).  
 
 
Figura 17: As duas propostas para a Residência E. G. Fontes. 
Fonte: Costa (1995, p. 57‐61) 
                                                      
61 COSTA, Lucio. Casa E. G. Fontes. In: Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das 
Artes, 1997, p. 55. 
62 Idem, p. 60. 
57 
 
 
 
  Costa estava convicto que a segunda versão era a melhor. Diante da relutância 
do proprietário, ele se retira da continuação do projeto: 
De acordo com a nossa conversa de 20 corrente, não podendo levar avante os 
estudos  para  a  construção  de  sua  residência  da  Tijuca,  nem  aceitar  a 
fiscalização que me propôs, autorizo‐o a utilizar, como melhor lhe parecer, as 
soluções  por  mim  apresentadas  até  a  presente  data,  exceptuando‐se, 
naturalmente,  o  ante‐projecto  completo  executado  a  seu  pedido,  e  que 
representa a minha opinião definitiva a respeito.63 
A  postura  enfática  do  arquiteto  reflete  os  demais  acontecimentos  do  período. 
Alguns meses depois de ter contato com a reportagem sobre a casa de Warchavchik, Lucio 
Costa recebe o convite inesperado para ser diretor da ENBA64. O caminho que se sucede passa 
por episódios, exaustivamente comentados65, que corroboram para a afirmação definitiva do 
arquiteto  diante  do moderno.  Ao  assumir  a  direção  da  Escola Nacional  de  Belas  Artes, 
implementa uma série de reformas, visando  
[...] aparelhar a Escola de um curso técnico científico tanto quanto possível 
perfeito, e orientar o ensino artístico no sentido de uma perfeita harmonia com 
                                                      
63 Idem, p. 66. 
64 Não se sabe ao certo as circunstâncias do convite. Aceita‐se a versão dada por Costa: “Estando eu lá [Correias], 
recebi um chamado ‐ porque houve a Revolução de 1930 ‐ para comparecer ao Ministério da Educação e Saúde, que 
estava provisoriamente instalado no edifício da Assembleia, pelo Rodrigo Melo Franco de Andrade, que era o chefe 
de gabinete do ministro Francisco Campos. Fui  convidado para dirigir a Escola Nacional de Belas Artes, mas 
procurei me furtar e expliquei que não me encontrava em condições de assumir. O governo estava mudando os 
diretores de toda a parte cultural: Biblioteca Nacional, Museu Histórico, Instituto de Música ‐ com Luciano Gallet, 
Rodolfo Garcia e vários outros. E ele achava que eu devia aceitar o convite, alegando que eu havia cursado a Escola, 
conhecia bem os problemas e seria uma oportunidade, então, de corrigir, orientar o ensino de outra forma se eu 
não o julgasse adequado.” (COSTA; NOBRE, 2010 p. 149). Quanto a Costa ser escolhido por Rodrigo Melo Franco 
de Andrade, o arquiteto diz: “E eu atribuo essa escolha ao seguinte: em 1929, um ano antes, o Manuel Bandeira 
tinha  aparecido  lá  no meu  escritório,  na  avenida  Rio  Branco  46,  para  pedir  que  eu  colaborasse  no  número 
comemorativo do Jornal de Minas, que ia completar cinquenta anos ‐ ele queria que eu escrevesse alguma coisa.” 
(COSTA; NOBRE, 2010, p. 191).  
65 Cf. LEONIDIO, Otavio. Carradas de razões. Lucio Costa e a arquitetura moderna brasileira (1924‐1951). Tese de 
doutorado, Departamento de História, PUC‐Rio, Rio de  Janeiro: 2005; BRITO, Samuel Silva de. Lucio Costa: o 
processo de uma modernidade: Arquitetura e projeto na primeira metade do séc. XX. 2 v. Tese (Doutorado) ‐ Curso 
de Arquitetura, Projetos Arquitetônicos, Universidad Politécnica de Catalunya, Barcelona, 2014; NATAL, Caion 
Meneguello. Da casa de barro ao palácio de concreto: a invenção do patrimônio arquitetônico no Brasil (1914‐1951). 
Tese (doutorado) ‐ Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP, 
2013. 
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a construção. Os clássicos serão estudados como disciplina; os estilos como 
orientação crítica e não para aplicação direta.66 
O autor do projeto que tanto chamara sua atenção foi convidado para compor o 
novo quadro de professores. Costa vai  a  São Paulo  especialmente para  encontrar Gregori 
Warchavchik e, apresentados por Mario de Andrade, iniciam uma parceria que passaria pela 
experiência de ensino na ENBA até a formação de um escritório por alguns anos67.   
A revolução proposta por Costa também se refletiu na XXXVIII Exposição Geral 
de Belas Artes, o Salão de 31, como ficou conhecida.  O evento organizado pelo arquiteto Lucio 
Costa, junto com o poeta Manuel Bandeira, a pintora Anita Malfatti, o pintor Candido Portinari 
e o escultor Celso Antonio, foi inaugurado em setembro de 1931 e abriu as portas para a arte 
moderna. Ao lado de obras de orientação conservadora, participaram nomes da pintura, da 
arquitetura e da escultura de vanguarda68. 
O  Salão  e  as  posturas  de  Lucio  Costa  como  diretor  deixaram  explícito  o 
rompimento do arquiteto com a estética defendida por José Mariano Filho. Se antes era dela 
grande incentivador, diante das suas novas convicções vanguardistas, passa a ser um crítico 
assíduo. Os jornais documentam as discussões: 
[...] O  paladino  da  arquitetura  de  fundo  nacional,  o  evocador  piedoso  da 
gloriosa arquitetura brasileira, o poeta que partia cheio de fé para Diamantina 
em busca de detalhes e sugestões para a reconstituição do velho estilo nacional, 
se fizera do dia para a noite um agente secreto do nacionalismo judaico. Abaixoa  tradição,  diz  o  cadete  Lucio  Costa!  Viva  Le  Corbusier,  o  carrasco  do 
sentimento acadêmico! E abriu sem demora as portas aos artistas que iriam 
                                                      
66 COSTA, Lucio. O novo diretor da Escola de Belas Artes e as diretrizes de uma reforma. O Globo, 29 de dezembro 
de 1930. In: NOBRE, 2010, p. 34‐35. 
67 Cf. COSTA, Lucio. Gregori Warchavchik. In: Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa 
das Artes, 1997, p. 72. 
68 Destaca‐se: Di Cavalcanti, Tarsila, Cícero Dias, Guignard, Segall, Ismael Nery, Brecheret, Leo Putz, John Graz, 
Regina Gomide Graz, Antonio Gomide, Flávio de Carvalho, Afonso Eduardo Reidy, Gerson Pompeu Pinheiro, 
Marcelo Roberto; além dos alunos Alcides da Rocha Miranda, Carlos Leão, Oscar Niemeyer e Roberto Burle Marx. 
Cf. VIEIRA,  Lucia Gouvêa.  Salão  de  1931: marco  da  revelação  da  arte moderna  em  nível  nacional.  Rio  de  Janeiro: 
FUNARTE/Instituto Nacional de Artes Plásticas, 1984. 
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dentro  da  própria  escola  trabalhar  contra  o  sentimento  nacional.  [...] 
(MARIANO FILHO, 1931) 69 
 
Foi Bahia  e Recife,  foram  as velhas  cidades de Minas  que,  aos  poucos, me 
abriram  os  olhos  e me  fizeram  compreender  a  verdadeira  arquitetura,  não 
futurista como o sr. José Mariano diz (ele sabe perfeitamente que não se trata 
de futurismos), mas simplesmente contemporânea, em acordo com os nossos 
materiais  e meios  de  realização,  os nossos  hábitos  e  costumes. Nada mais, 
apenas isso.  
Estudando  a nossa  antiga  arquitetura, não do ponto de vista de  amador  e 
diletante mais ou menos  expansivo do sr. Mariano, mas como profissional, 
analisando  os  sistemas  construtivos  absolutamente  honestos  em  que  a 
fisionomia  arquitetônica  reflete  não  mais  ou  menos,  porém  fielmente, 
exatamente  a  construção,  em  que  tudo de  fato  é  aquilo  que parece  ser  [...] 
(COSTA, 1931) 70 
A  resposta  de  Lucio  Costa  ressalta  a  importância  das  viagens  pelo  interior 
brasileiro  e  reafirma  a  relevância  da  observação  da  verdade  estrutural  que  as  antigas 
construções demonstravam. Costa se coloca como o  técnico que soube distinguir delas não 
apenas um dicionário visual a ser reproduzido, mas sim o saber construtivo desprovido de 
falsas camadas. Mesmo que Mariano  tenha  financiado o primeiro vislumbre desse passado 
autêntico, menos de uma década depois a visão do mecenas já não condizia com a do arquiteto 
que se formara. O embate ainda renderia longas polêmicas71, mas a mudança de Lucio Costa 
era definitiva.  
                                                      
69 MARIANO FILHO, José. Escola Nacional de Arte Futurista. O Jornal, 22 jul. 1931.  
70 COSTA, Lucio. Uma Escola viva de Belas Artes. O Jornal, Rio de Janeiro, 31 jul. 1931.  
71 Cf. NATAL, Caion Meneguello. Da casa de barro ao palácio de concreto: a invenção do patrimônio arquitetônico 
no Brasil  (1914‐1951). Tese  (doutorado)  ‐ Universidade Estadual de Campinas,  Instituto de Filosofia e Ciências 
Humanas, Campinas, SP, 2013, p. 156‐163. 
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A saída de Costa da direção da ENBA em 193172 aumentou a atenção para a causa 
defendida  e  o  arquiteto  passou  a  personificar  um  dos  incentivadores  da  arte  moderna 
associada a brasilidade. Através dos episódios do início da década de 1930, grande parte da 
imprensa, dos  intelectuais  e do meio  acadêmico  tomaram partido diante da  renovação da 
arquitetura brasileira. 
Ora  ponhamos  os  pontos  nos  is:  que  mal  fez  Lucio  Costa  contra  a  arte 
tradicional? Nenhum.  [...] Os  alunos  da  Escola,  os  professores  e  artistas 
modernos,  todas  as  pessoas  sensatas  e  lógicas,  os  próprios  princípios  de 
igualdade  tão  apregoados  pela  Segunda  República,  pedem  a  concorrência. 
Lucio Costa precisa voltar ao seu posto e restabelecer aquele critério admirável 
de concorrência que dera vida nova e felicidade ao ensino da Escola. 73 
O pioneirismo de Lucio Costa em inserir os preceitos modernos na academia seria 
refletido pelos alunos formados sob a influência de suas atitudes, parte dos primeiros grandes 
arquitetos modernos brasileiros. Se Diamantina plantou a semente do desconforto74 em Costa 
em relação ao neocolonial, a reforma do ensino da ENBA plantou, em uma geração de alunos 
cariocas75,  a  semente  das  vanguardas.  Mesmo  que  a  reforma  não  tenha  perdurado,  foi 
elemento fundamental para despertar os arquitetos para o que acontecia no além‐mar. Assim, 
por mais que as primeiras viagens de investigação para Minas – seja as de Mario de Andrade 
ou as  financiadas por Ricardo Severo,  tenham partido de São Paulo e que a primeira casa 
alinhada às vanguardas seja paulista, foi no Rio de Janeiro que o moderno atingiu as raízes do 
ensino da profissão no país. Lucio Costa, além de implementá‐lo, consolidou‐o nas décadas 
seguintes ao projetar o  Ministério da Educação e Saúde76 e fomentou suas discussões ao trazer 
                                                      
72 Costa perdeu apoio político no governo e, associado a pressão que sofria dos professores catedráticos, decide 
pedir demissão da Escola. Cf. PINHEIRO, Maria   Lucia   Bressan.   Neocolonial, Modernismo   e   Preservação   do   
Patrimônio   no Debate Cultural dos Anos 1920 no Brasil. São Paulo: EDUSP: Fapesp, 2011, p. 215‐222. 
73 ANDRADE, Mário de. “Escola de Belas Artes”. Diário Nacional, São Paulo, 4 de outubro de 1931. 
74 O termo “semente do desconforto” é usado por Maria Elisa Costa: “Tinha uma coisa tão normal na arquitetura 
civil de Diamantina, que essa experiência ficou, digamos assim, como a semente de um desconforto. E ao mesmo 
tempo, junto com esse desconforto em relação ao que ele fazia, veio também a indagação natural: ‘mas qual deve 
ser a linguagem da minha época?’”. In: Wisnik, Guilherme (org.). O risco — Lucio Costa e a utopia moderna. Rio 
de Janeiro: Bang Bang,2003,p. 137. 
75 Entre os alunos do período, destacam‐se: Oscar Niemeyer, Calos Leão, Jorge Moreira, Alcides da Rocha Miranda, 
Abelardo de Souza, Affonso Eduardo Reidy, Luiz Nunes e Roberto Burle Marx. 
76 O projeto do Ministério da Educação e Saúde Pública foi possível depois de uma série de articulações. Quando 
Gustavo Capanema tomou posse do Ministério da Educação, Costa viu ali a possibilidade de apoio federal para a 
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Le Corbusier e colocá‐lo em contato com a geração que vislumbrava continuar o legado que 
ali se fortalecia.  
Nos anos que antecederam a proposta do Ministério, foi constituído um “pequeno 
reduto  purista”77  interessado  na  renovação  da  técnica  e  da  expressão  arquitetônica. 
Estudavam as lições de Gropius, Mies van der Rohe e, principalmente, Le Corbusier. Nesse 
período, Lucio Costa escreveu Razões da nova arquitetura.   “Razões” se destaca como a primeira 
tentativa por parte de Costa de um registro teórico do que seria a arquitetura contemporânea78. 
Oportunamente, o texto foi publicado no momento em que se decidia o desfecho do concurso 
do MES. O parecer favorável a Costa permitiu que ele colocasse os preceitos modernos em 
prática, e, junto com a equipe responsável e com o mestre franco‐suíço, realizasse 
[...]  o  edifício  do  Ministério,  em  meio  à  espessa  vulgaridade  da  edificação 
circunvizinha,  como  algo  que  ali  pousasse  serenamente,  apenas  para  o  comovido 
enlevo do transeunte despreocupado, e, vez por outra, surpreso à vista de tão sublime 
manifestação de pureza formal e domínio da razão sobre a inércia da matéria.79 
As transformações pretendidas na década de 1930, sobretudo aquelas relacionadas 
ao Ministério da Educação e Saúde não só como edifício, mas como  instituição pública de 
influência,  ultrapassavam  âmbitos  arquitetônicos  e  buscavam  a  formação  do  homem 
brasileiro80  .  Para  fundamentar  esse  homem,  foram  recrutados  uma  série  de  intelectuais 
modernos,incluindo Lucio Costa.   Ao  falar do  início daquela década  em Registro  de  uma 
                                                      
arquitetura moderna no Brasil. Em 1935 é realizado um concurso para o projeto do novo edifício que abrigaria o 
MES, mas o Ministro o invalida e convida Lucio Costa para fazer o projeto, o arquiteto pede então à consultoria de 
Le Corbusier, que vem ao Brasil pela segunda vez, permanecendo, em 1936, seis semanas com o grupo montado 
por Costa  para  projetar  o Ministério. Cf.  SEGRE, Roberto. Ministério da  Educação  e  Saúde.  Ícone  urbano  da 
modernidade brasileira 1935‐1945. São Paulo, Romano Guerra, 2013. 
77 Palavras do arquiteto, grifo nosso. Costa ressalta projetos e participações no período: “O albergue da Boa Vontade, 
risco original dos arquitetos Reidy e Pinheiro, as casas Nordchild e Schwarrtz, de Warchavichik, os apartamentos 
da Rua  Senador Dantas  e Lavradio, de Luís Nunes  –  transferido depois para  o Recife,  onde,  na Diretoria de 
Arquitetura, contaria com a colaboração de Joaquim Cardoso, – a primeira série de casas de Marcelo Roberto (...), 
de Carlos Leão,  Jorge Moreira,  José Reis, Firmino Saldanha,  seguidos da  iniciação de Oscar Niemeyer, Alcides 
Rocha Miranda, Milton Roberto, Aldary Toledo, Vital Brasil, Ernani Vasconcellos, Fernando de Brito, Hélio Uchôa, 
Hermínio Silva e todos os demais”. In: COSTA, Lucio. Muita construção, alguma arquitetura e um milagre. Correio 
da Manhã, Rio de Janeiro, 15 de junho de 1951 
78 Cf. LEONIDIO, Otavio. Carradas de razões. Lucio Costa e a arquitetura moderna brasileira (1924‐1951). Tese de 
doutorado, Departamento de História, PUC‐Rio, Rio de Janeiro: 2005, p 143‐167. 
79 COSTA, Lucio. Muita construção, alguma arquitetura e um milagre. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 15 de 
junho de 1951 
80 CAVALCANTI, Lauro. Modernistas, arquitetura e patrimônio. In: [Dulce Pandolfi (org.)] Repensando o Estado 
Novo. Rio de Janeiro: Ed.Fundação Getulio Vargas, 1999 p. 181. 
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vivência, o arquiteto ressalta a “Tomada de consciência”81 diante das discrepâncias. O trem que 
levava a Petrópolis mostrava “na mesma plataforma, o confronto: de um lado os veranistas 
[...]  na  volta  às mansões  da  serra;  do  outro,  o  trem  do  subúrbio  apinhado  de  suarentos 
operários  [...]  na  volta  do  trabalho  para  os  casebres”. A  “constatação”  foi  de  que  “[...]  a 
realidade industrial a que chegamos está em completo desacordo com a realidade social em 
que vivemos” 82. 
Não  obstante  tal  simpatia  com  hipóteses  à  esquerda83  (Roberto  Schwarz 
considerava  Costa  “discretamente  marxista”84),  construiu  dois  dos  principais  edifícios 
modernos – o MES e o pavilhão do Brasil na feira Mundial de Nova York – durante o governo 
Vargas85.  O fato de aceitar participar da repartição varguista “[...] deixa transparecer a crença 
moderna de que era o Estado o lugar da renovação e da vanguarda naquele momento, assim 
como  o  vislumbre  da  possibilidade  de  aplicar  na  realidade  ideias  de  reinterpretação  ou 
reinvenção de um país [...]”86.  
Já o Estado “por meio do mecanismo de reinterpretação coletiva, através de seus 
intelectuais, se apropria de práticas populares para apresentá‐las como expressões de cultura 
nacional”87.  Pelas  duas  causas,  o  Serviço  do  Patrimônio  Histórico  e  Artístico  Nacional 
desempenha um papel importante, recaindo sobre ele e sobre as figuras a ele filiadas a tarefa 
de estabelecer no presente o que importava do passado.  
                                                      
81 Cf. COSTA, Lucio. Tomada de  consciência.  In: Lucio Costa:  registro de uma vivencia. 2a.  ed São Paulo, SP: 
Empresa das Artes, 1997, p. 80. 
82 Cf. COSTA, Lucio. Constatação. In: Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das 
Artes, 1997, p. 82. 
83 Décadas depois, Lucio Costa diria: “Eu sou um simpatizante do socialismo, mas sem partido. Sou um liberal por 
natureza.” COSTA, Lucio. Profissão de fé. Revista IstoÉ, 18 de novembro de 1987. In: NOBRE, 2010, p. 181. 
84 Cf. SCHWARZ, Roberto. Que horas são?: ensaios. 2. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2006, p.111. 
85 Ao ser questionado, nos anos 1990, sobre como a arquitetura moderna serviu ao gosto de regimes autoritários, 
que o MES foi feito sob o Estado Novo, Costa disse: “O bom urbanismo está acima das ideologias. [...] Tudo depende 
dos profissionais responsáveis. Se eles são submissos a caprichos políticos, então são irresponsáveis. O verdadeiro 
urbanismo está acima da direita e da esquerda. ”. COSTA, Lucio. O século por Lucio Costa. Folha de S. Paulo. 23 
de julho de 1995. In: NOBRE, 2010, p. 239‐240. 
86 CAVALCANTI, Lauro. Modernistas, arquitetura e patrimônio. Op. cit., p. 182. 
87 ORTIZ, Renato. Estado, cultura popular e identidade nacional. 4. reimp. 5. ed. São Paulo, Brasiliense, 2003, p. 135. 
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Costa participa da fundação do SPHAN em 193788. Diamantina é tombada no ano 
seguinte89,  junto  com outros  cinco agrupamentos urbanos,  todos  em Minas. É  interessante 
notar que, em paralelo ao  conjunto das demais  cidades,  são  tombados nelas uma  série de 
edifícios90.  Já em Diamantina, na ausência de exemplares das obras de Aleijadinho, Mestre 
Ataíde ou outras figuras que se destacavam individualmente, o que permanecia em evidência 
era a totalidade da obra em sua distinta pureza. Um ano depois do processo inicial, um único 
bem isolado é tombado na cidade91: a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte 
do Carmo (Figura 18), a mesma igreja da aquarela feita por Lucio Costa em 1924.  
 
Figura 18: Entorno e Igreja da Ordem Terceira de N. Sra. do Carmo, Diamantina, 1938. 
Destaque para torre que, ao contrário de hoje, encontrava‐se na parte anterior da igreja. A transferência foi realizada após 
intervenção uma do SPHAN, alegando que na conformação original a torre ficava na parte posterior. Fonte: IPHAN (2010, 
p.22). Autor: Erich Hess. 
                                                      
88 Lucio Costa participa, desde 1937, das atividades do SPHAN. Em 1939, seu vínculo se consolida ao ser contratado 
permanentemente como consultor. Em 1946, a partir de uma reforma administrativa, assume com mais rigor o 
cargo de diretor da Divisão de Estudos e Tombamento. Cf. BRITO, Samuel Silva de. Lucio Costa: o processo de 
uma modernidade, op. cit., p. 411‐415. 
89 Diamantina foi tombada em 16 de maio de 1938, processo nº 64‐T‐38, inscrição nº 66, constando do Livro de Belas 
Artes, v. 1, p. 12. 
90 Além de Diamantina, são  tombados os conjuntos urbanos de Serro, São  João del Rei, Mariana, Ouro Preto e 
Tiradentes.  Sobretudo  nas  três  últimas,  junto  com  o  conjunto,  são  tombados  uma  série  de  bens  isolados. Cf. 
<http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Lista_bens_tombados_processos_andamento_2018>Acesso 
em: 01. Abr. 2018. 
91 A Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo é tombada em 1939. Só dez anos depois, em 
1949, outros bens isolados serão tombados na cidade: as Igrejas do Senhor do Bonfim, de São Francisco de Assis, 
do Amparo, do Rosário e das Mercês. Já em 1950, é tombada a Casa de Chica da Silva e o Edifício do Fórum. 
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A proteção do conjunto urbano deu à cidade uma série de premissas. “Temos o 
bem tombado porque singular, típico. Ou porque excepcional, o único, o ápice. De uma época, 
da simultaneidade a um evento, de uma maneira de se construir”92. Dessa forma. Diamantina 
justificava sua preservação por várias frentes: era uma cidade singular na entrada do sertão 
mineiro,  símbolo  não  apenas  de  uma  época  específica  da mineração  com  a  retirada  dos 
diamantes, mas também de uma tradição construtiva que mantinha em pé tanto casas quanto 
igrejas.   Mais  que  um método  colonial,  o  pau‐a‐pique  também  ajudou  a  fundamentar  as 
técnicas da vanguarda: “o engenhoso processo de que são feitas [as casas]– barro armado com 
madeira –  tem qualquer  coisa do nosso  concreto armado”93. Essa  comparação  foi  feita por 
Lucio Costa  em Documentação Necessária,  artigo  seminal da primeira  edição da Revista do 
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional94. 
No  início das atividades do SPHAN, Costa atuava em várias  frentes. O projeto 
para o museu de São Miguel das Missões é dessa época e foi, segundo Rodrigo de Melo Franco 
de Andrade, a “primeira contribuição do grande arquiteto para o órgão administrativo do qual 
ele viria a tornar‐se o técnico mais influente e destacado”95.  
Em Diamantina, Lucio Costa  se  ateve  às  questões  burocráticas  e decisórias do 
patrimônio. Costa  retorna  ao município  em  1937  junto  com  a  comissão  responsável  pelo 
tombamento96  e  participa  das  resoluções  referentes  à  construção  de  novos  edifícios,  aos 
                                                      
92 RUBINO, Silvana. As fachadas da história: os antecedentes, a criação e os trabalhos do Serviço do Patrimonio 
Historico e Artistico Nacional, 1937‐1968. Dissertação (mestrado) ‐ Universidade Estadual de Campinas, Instituto 
de Filosofia e Ciencias Humanas, Campinas, SP, 1992, p. 2‐3. 
93 COSTA, Lucio. Documentação Necessária. Revista do Serviços do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio 
de  Janeiro, n. 1, p.31‐40, 1937. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/RevPat01_m.pdf>. 
Acesso em: 06 nov. 2017. 
94 Cf. ANDRADE, Francisco de Carvalho Dias de. Uma poética da técnica: a produção da arquitetura vernacular no 
Brasil. 2016. Tese (doutorado) ‐ Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 
Campinas, SP, p 63‐84. 
95 ANDRADE, Rodrigo Melo Franco de. Rodrigo e o SPHAN. Rio de  Janeiro: Ministério da Cultura: Fundação 
Nacional Pró‐Memória, 1987, p. 160. 
96  Nos anos 1970, uma nota no  jornal Voz de Diamantina faz menção a viagem, quando defende o conjunto de 
Bribiri: “Devo esclarecer‐lhe que em 1937, quando aí estiveram para fazer o tombamento histórico da cidade, o Dr. 
Rodrigo Melo Franco de Andrade, de saudosa memória, e a quem Diamantina multo deve, acompanhado dos Drs. 
Afonso Arinos de Melo  Franco, Virgílio de Melo  Franco, Lúcio Costa  e Epaminondas Macêdo,  todos  ficarem 
vivamente Impressionados com a beleza de Biribiri [...]”. In: Voz de Diamantina: Propriedade da Associação do 
Pão de Santo Antônio, ano 69, n. 3, 14 outubro 1973, p.4. Também o fotógrafo Erich Hess comenta sobre a viagem 
em uma entrevista: “Naquela época, estava lá também o Lucio Costa, que tinha feito, junto com o Rodrigo, no início 
de 1937 ou fins de 1936, uma viagem para Diamantina. E foi aí que disseram: “Bom, você não podia dar uma viagem 
para Diamantina?” Eu disse: “Perfeitamente”. ” In: Entrevista com Erich Joachim Hess. Memórias do Patrimônio, 
3. Rio de Janeiro, IPHAN/ DAF/Copedoc, 2013.  
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levantamentos  e  as  preservações  individuais  no  antigo Arraial. Como  na  nota  enviada  a 
Epaminondas Macedo, onde o arquiteto elenca pontos a serem observados pelo engenheiro ao 
realizar o levantamento da cidade, entre eles as igrejas, o mercado, a casa de Chica da Silva, o 
Colégio das Freiras, a Casa de Muxarabiê e a Casa Kubitschek97.  Anos depois, o jornal Voz de 
Diamantina, ao falar sobre as benfeitorias do órgão de preservação do patrimônio na cidade, 
cita praticamente os mesmos pontos relacionados por Lucio Costa98. 
Nos anos 1940, em uma  carta enviada pelo prefeito da  cidade, nota‐se  como o 
arquiteto era de fato uma referência: 
Afim  de  serem  estudados  diferentes  problemas  de  nossa  Diamantina, 
subordinados ao parecer técnico do Patrimônio, peço‐lhe, com real interesse, 
sua vinda e a do Dr. Lucio Costa a esta cidade. Além de muito grata, sua visita 
teria  a  grande  vantagem  de  firmar  cordial  cooperação  dos  construtores  e 
proprietários  diamantinenses,  facilitando,  ainda,  uma  compreensão 
indispensável à expansão harmônica da cidade. 99 
Na  década  seguinte,  as  polêmicas  quanto  ao  lugar  onde  a  rodoviária  seria 
construída  passam  pela  então  DPHAN  (Diretoria  do  Patrimônio  Histórico  e  Artístico 
Nacional). É emitido um parecer negando o destombamento de quatro prédios, no meio do 
centro histórico, que teriam como finalidade ampliar a área de um lote vago para receber o 
edifício100.  Lucio  Costa,  como Diretor  da Divisão  de  Estudos  e  Tombamento,  completa  a 
                                                      
97  COSTA,  Lucio.  Indicações  do  Dr.  Lucio  Costa  para  a  inspeção  a  ser  realizada  em  Diamantina  pelo  Dr. 
Epaminondas Macedo, sem data, Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.  In: Arquivo Central do 
IPHAN/Seção Rio de Janeiro – Série Inventário. MG Pasta 3, Cx. 25. 
98 “Além da casa do Pe. Rolim, a DPHAN  realizou em Diamantina a  reconstrução do Mercado Municipal e do 
Colégio N. S./ das Dôres, das  igrejas do Amparo, Mercês, Bomfim; a igreja de Sant’Ana do Inhai, no distrito do 
mesmo nome; a da casa Colonial n. 47, à rua Francisco Sá, que se destina ao futuro Museu de Diamantina”. In: VOZ 
DE  DIAMANTINA.  Diamantina:  Semanário  independente,  registrado  no  Departamento  de  Imprensa  e 
Propaganda, ano 9, n. 25, 19 maio 1946, p.4.  
99 FIGUEIREDO, Luiz Kubitschek. Carta do Prefeito de Diamantina para o Diretor Rodrigo de Melo Franco de 
Andrade. Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 24 de marco de 1941.  In: Arquivo Central do 
IPHAN/Seção Rio de Janeiro – Série Obras. Pasta 478, Cx. 105. 
100 BARRETO, Paulo Theodin. Informação sobre pedido para ser levantado o tombamento de quatro prédios (...) de 
Diamantina, de 27 de julho de 1959. Processo de Tombamento 0064‐T‐38 – ACI/RJ. 
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análise, chamando a atenção que “[...] na escolha do novo local deve‐se ter em vista, além da 
preservação da integridade urbana, a comodidade dos passageiros” 101.  
A  nota  resume  esse  interesse  de  Costa  na  cidade:  pensando  no  desejo  de 
preservação  referente  à  ‘pureza’  que  emanava de  seu  tecido  íntegro, havia  o  cuidado  em 
manter  a  funcionalidade,  referente  a  chegada dos passageiros. Aqui  entra  sua  atuação no 
SPHAN, uma vez que  em  seus breves despachos  tem  como preocupação  o percurso pela 
cidade e sua relação com os usos e formas de Diamantina. A autoridade de Costa resolve a 
preservação buscando uma imagem integral da cidade pura. Para construí‐la, a participação 
dos fotógrafos era fundamental. Erich Hess foi um dos primeiros colaboradores fotógrafo do 
SPHAN e sua viagem inaugural a serviço da Secretaria foi para Diamantina em 1938: 
Mandava‐me então, o Diretor [...] documentar fotograficamente as relíquias 
históricas e artísticas de Minas; e gosto de recordar que, das instruções que 
recebi para a  tarefa, constavam desenhos do punho do Mestre Lucio Costa, 
onde se especificavam detalhes de monumentos ou obras de arte que deviam 
ser fotografados minuciosa e especialmente.102  
Erich  Hess  menciona  que  na  excursão  de  1937  feita  pelos  diretores  chamou 
especialmente a atenção de Costa os detalhes dos altares laterais, os quais foi incumbido de 
registrar junto com os outros pontos da lista do pedido oficial (Figura 19):  o Colégio Nossa 
Senhora das Dores, o mercado, os balaústres, as imagens, mobiliário e pintura dos forros nas 
igrejas, os beirais, os conjuntos de casas e em especial a casa do senhor Smith e a casa da Rua 
Direita, da família Kubitschek103. A viagem a Diamantina é considerada por Erich Hess uma 
descoberta como fotógrafo104 e mais uma vez o antigo Arraial do Tijuco assume o papel de 
alumbramento que lhe atribuía Costa.  
                                                      
101 COSTA, Lucio. Parecer, 27 de agosto de 1959. In: BARRETO, Paulo Theodin. Informação sobre pedido para ser 
levantado o tombamento de quatro prédios (...) de Diamantina, de 27 dejulho de 1959. Processo de Tombamento 
0064‐T‐38 – ACI/RJ. 
102 HESS, Erich. 1959. Apud GRIECO, Bettina Zellner. O fotógrafo Erich Joachim Hess. In: ______ (Org.). Entrevista 
com Erich Joachim Hess. Rio de Janeiro: IPHAN/ DAF/ Copedoc, 2013. (Memórias do Patrimônio, 3), p. 40. 
103 Arquivo Central do Iphan. Rio de Janeiro. Caixa Memória Oral. MO‐12_EJH. Eric Joachim Hess. 
104 Afirmação feita pelo fotógrafo em entrevista realizada em 1983. In: GRIECO, Bettina Zellner. O fotógrafo Erich 
Joachim Hess. In: ______ (Org.). Entrevista com Erich Joachim Hess. Rio de Janeiro: IPHAN/ DAF/ Copedoc, 2013. 
(Memórias do Patrimônio, 3). 
67 
 
 
 
 
Figura 19: Lista para a viagem de Erich Hess a Diamantina, 1938. 
Fonte: ACI/RJ. Caixa Memória Oral. MO‐12_EJH. 
 
68 
 
 
 
 
Figura 20: Telhados do conjunto de Diamantina, c. 1938.   
Fonte: IPHAN (2010, p.30). Autor: Erich Hess. 
69 
 
 
 
Os  fotógrafos  são os  encarregados de  retratar as descobertas patrimoniais pelo 
país105.  Lucio Costa  chega  a  recomendar  que  também  cada  técnico  da  repartição  seja  um 
fotógrafo  habilitado  “capaz  de  fazer  a  sua  própria  documentação  nas  viagens  de 
reconhecimento,  pesquisa  ou  inspeção.  ”106. Os  profissionais  se  aproximam  dos  viajantes 
neocoloniais e seus registros. Entretanto, os desenhos dos anos 1920 não colaboraram com os 
levantamentos  técnicos  do  SPHAN  e  apenas  quando  o  movimento  moderno  estava 
engendrado e à sua maneira indissociável das questões patrimoniais é que as ilustrações dos 
motivos  coloniais,  desenvolvidas  no  início  do  século  XX,  convenientemente  chegaram  ao 
público, estabelecendo o nexo entre a pureza diamantina e o auge das vanguardas nacionais. 
Os desenhos de Norfini  foram divulgados em 1953, depois de adquiridos pelo 
Museu  Histórico  Nacional  e  publicados  em  um  dos  volumes  dos  anais  da  instituição, 
dedicados ao documentário  iconográfico de cidades e monumentos do Brasil.   No  texto de 
apresentação,  ressaltava‐se  que  aqueles  trabalhos  eram  uns  dos  mais  interessantes  do 
cartulário do museu e que Norfini, “apaixonado de nossas velhas coisas”, sabia manifestar na 
sua reprodução o seu sentimento, agora possível de ser conhecido pelo grande público.107 
Já Wasth Rodrigues publicou, em 1944, seus registros com o título “Documentário 
Arquitetônico: Relativo à Antiga Construção Civil no Brasil”108. Acredita‐se que o pintor só 
conseguiu reaver os desenhos após a morte de Ricardo Severo, quando então pode reuni‐los e 
divulga‐los109. Na introdução, não faz nenhuma referência direta ao engenheiro, apenas afirma 
que circunstâncias “alheias à nossa vontade” haviam impedido a publicação anteriormente110. 
Apenas os desenhos de Lucio Costa tiveram, ironicamente, seus originais omitidos 
até recentemente. A Sra. Marlene Bezerra, antiga nora de José Mariano Filho, conservou‐os em 
                                                      
105 Cf. COSTA, Eduardo Augusto. Arquivo, poder, memória: Herman Hugo Graeser e o arquivo  fotográfico do 
IPHAN. 2015. 444 p. Tese  (doutorado)  ‐ Universidade Estadual de Campinas,  Instituto de Filosofia  e Ciências 
Humanas, Campinas, SP. Disponível em: <http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/281153>. Acesso 
em: 6 fev. 2019.  
106 COSTA, Lucio. Plano de trabalho para a Divisão de Estudos e Tombamento da DPHAN. Arquivo Central do 
IPHAN/ Seção Rio de Janeiro. Série Personalidades/Lucio Costa. 
107 ANAIS DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: Documentário Iconográfico de Cidades e Monumentos do Brasil. 
Aquarelas e Desenhos de A. Norfini e Texto de Gustavo Barroso. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 
v. 7, 1953. 
108 Cf. RODRIGUES,  José Wasth. Documentário Arquitetônico:  relativo à antiga construção civil no Brasil. Belo 
Horizonte; São Paulo: Editora Itatiaia; EDUSP, 1979. 
109 MELLO,  Joana. Ricardo  Severo: da  arqueologia  portuguesa  à  arquitetura  brasileira. Coimbra:  Imprensa da 
Universidade de Coimbra/Annablume, 2012, p. 65‐67 e NATAL, op. cit., p. 65‐66. 
110 RODRIGUES, op. cit., p.1. 
70 
 
 
 
privado até que manifestou ter em mãos os registros a lápis da viagem do arquiteto. Então a 
Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, com o apoio da Companhia Brasileira de 
Mineração e Metalurgia ‐ CBMM, os incorporou ao Museu Mineiro. No início dos anos 2000, 
parte  dos  desenhos  passaram  para  o Museu  Casa  de  Juscelino  na  rua  São  Francisco  em 
Diamantina  e  permanecem  expostos  na  cidade  onde  foram  feitos111.    Quando  foram 
adquiridos, a CBMM fez uma publicação de tiragem restrita112. Por fim, a divulgação que teve 
mais alcance foi feita pelo próprio arquiteto quando, em 1995, publicou Registro de uma vivência 
incluindo as duas aquarelas, o desenho de uma janela e um texto memorial da cidade visitada 
na  juventude. Naquele ano, Costa  recebeu uma  carta da Sra. Bezerra  ‐ a mesma que anos 
depois entregaria os desenhos a lápis para o governo mineiro: 
Professor Lucio Costa, 
Sou guardiã daquela belíssima aquarela da Igreja do Carmo, em Diamantina. 
Disputei‐a no meu desquite de Claudio Mariano. Morei longos anos na Casa 
Grande  do  Engenho  da  Serra  em  Jacarepaguá  (restaurada  por  Wasth 
Rodrigues) cujas arcadas, certa vez na Escola de Belas Artes, o sr. as desenhou 
no ar ao me identificar e revelar‐lhe que possuía desenhos seus. Sequer podia 
imaginar a importância de Diamantina na sua obra monumental. 
Passei a semana mergulhada na leitura dos seus registros, com emoção! 
[...] 
Muito obrigada. Sinceramente.113 
                                                      
111 Em depoimento para a autora, o Sr. Serafim Jardim confirma a história: “[...] quando apareceu na secretaria de 
cultura uma senhora que o marido tinha morrido há pouco tempo e ele tinha trabalhado com o Lucio Costa (aqui 
há uma pequena confusão, na verdade o marido da Sra. Bezerra era Claudio Mariano, filho de José Mariano Filho), 
e eram dele esses  rascunhos, ela então  tentou vender, mas a CBMM, que é uma empresa de nióbio de Araxá, 
adquiriu para a secretaria de cultura, comprou. O que aconteceu: a secretaria de cultura pegou esses cinco desenhos 
e deixou aqui comigo [...] e tem que ficar aqui mesmo na Casa para contar a história de Diamantina [...]”  
112 Lucio Costa: desenhos da juventude. Organização J. D. Vital – Belo Horizonte: CBMM, 2001. 
113 BEZERRA, Marlene. Sobre aquarela de Diamantina.   Petrópolis, 1995. Acervo Casa de Lucio Costa: VI.A.02‐
02602. Disponível em: < http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/2883>. Acesso em: 16 jun 2018. 
Segundo  consta  no  site  do  acervo,  “Maria  Elisa  Costa  comprou  da  autora  desta  correspondência  a  referida 
aquarela.”   
Já a aquarela do Passadiço da Casa da Glória, segundo uma declaração de recibo para reprodução assinada pelo 
próprio Lucio Costa, é de propriedade de Maria Lucia Silveira de Castro. In: COSTA, Lucio. Aquarela: Passadiço 
de Diamantina‐ Declaro que me foi entregue [...]. Acervo Casa de Lucio Costa:  IV.E.03‐02233 L. Disponível em: < 
http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/2493>. Acesso em: 16 jun 2018. 
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Em Registro, a  forma como o arquiteto organiza suas memórias não segue uma 
linha  temporal, mas  acompanha  o percurso  que desejava  autenticar  como  a  sua  vivência. 
Diamantina tem um papel central logo de início, enquanto os textos envolvendo o SPHAN, a 
tradição  e Aleijadinho  estão no último  terço do volume. Entre  as duas partes  estão Oscar 
Niemeyer, Brasília e os projetos do período. O fio de sua trajetória passa por elas, mas mantém 
suas pontas no patrimônio.  
Diamantina, na construção extemporânea do autor, foi o seu despertar. Estava ali 
o  gênio  da  raça114,  o  inculto  pedreiro115,  capaz  de  resolver  dilemas  complexos  com  soluções 
simples. Através dessa experiência, pôde apreender técnica e discurso, vislumbrando a síntese 
entre a modernidadee a tradição. Já a consciência da obra de Aleijadinho surge nas décadas 
seguintes como um desfecho: “E isso que estava faltando, esse aboutissement, foi uma coisa que 
felizmente ocorreu através do Aleijadinho, senão ficaria sem conclusão, sem remate.”  116. O 
gênio local de Antonio Francisco Lisboa representaria um expoente do período colonial, assim 
como Oscar Niemeyer seria o do moderno:  
[...]  foi  o  nosso  próprio  gênio  nacional  que  se  expressou  através  da 
personalidade eleita desse artista, da mesma forma como já se expressara no 
século  XVIII,  em  circunstâncias,  aliás,  muito  semelhantes,  através  da 
personalidade de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.117 
Se  a  figura  de  Aleijadinho  poderia  encontrar  um  paralelo  em  Niemeyer, 
Diamantina nos ajuda a desvendar Costa e a fundamentar a sua construção da tradição. Cabe 
perceber o arquiteto e seus pensamentos entre um “romantismo estético e um cientificismo 
iluminista”118.  Se  a  cabana  de  Laugier  e  a  tenda  de  Le  Corbusier  são  arquétipos  que 
                                                      
114  [...] estava eu acostumado a ver em  cada novo país percorrido uma architetura  característica, que  refletia o 
ambiente, o gênio da raça [...] que transformava em pedra e nela condessava numa synthese maravilhosa toda uma 
época, toda uma civilização, toda a alma de um povo.” In: COSTA, Lucio. A alma dos nossos lares, A Noite, Rio de 
Janeiro, 19 mar. 1924. 
115 COSTA, Lucio. Documentação Necessária. Revista do Serviços do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio 
de  Janeiro, n. 1, p.31‐40, 1937. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/RevPat01_m.pdf>. 
Acesso em: 06 nov. 2017. 
116 COSTA, Lucio. Lucio Costa sobre Aleijadinho. Revista Gávea, n.3. Junho de 1986. In: COSTA, NOBRE, 2010, p. 
111. 
117 COSTA, Lucio. Depoimento. In. Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das Artes, 
1997., p. 199. 
118 GUIMARAES, Cêça de. Lucio Costa: um certo arquiteto em  incerto e secular roteiro. Rio de  Janeiro: Relume 
Dumara, 1996, p.5. 
72 
 
 
 
representam  cada  tentativa de  refundação da arquitetura diante de uma  crise119, não  seria 
possível pensar que, sendo a arquitetura e a modernidade brasileiras pautadas por questões 
patrimoniais, tenham elas como um dos arquétipos um bem histórico, tombado e solidificado, 
capaz de permear essa gênese? A construção do fio que conecta, na simplicidade estrutural 
funcional,  passado  e  presente,  é  uma maneira  brasileira  de  cotejar  os  postulados  de  Le 
Corbusier que, através de “uma leitura estritamente funcionalística”, correspondem “no seu 
caráter de síntese aos elementos essenciais da arquitetura entendidos como fatos originais”120. 
Há sim algo de diferente na modernidade da arquitetura brasileira, mas sempre 
aludindo a uma pretendida pureza. Entre Niemeyer  e Aleijadinho, as  casas do Arraial do 
Tijuco  e  os  projetos  de  Costa,  as  vanguardas  se  firmaram  como  válidas  em  um  país  de 
dimensões maiores que qualquer país europeu. Foi um processo construído ao longo dos anos, 
cuja origem remonta à viagem de Lucio Costa a Diamantina.  
 
Figura 21: Casa em construção em Diamantina com estrutura de madeira, c. 1938. 
Os panos de vedação associados a esse tipo de estrutura são construídos, em geral, utilizando a técnica tradicional do pau a 
pique ou taipa de mão. Fonte: IPHAN (2010, p.14). Autor: Erich Hess. 
                                                      
119  Cf. PRACCHI, A. ; CORATO, A. C. S. ; Maria Helena da Fonseca Hermes . A arquitetura do Iluminismo: alguns 
aspectos da ideologia e da práxis. São Carlos: Risco Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo ‐ IAU‐USP, 
2013. 
120  “[...]  também  em  Le  Corbusier  o  processo  dedutivo  insere‐se  em  alguns  postulados  fundamentais.  Estes 
postulados, mesmo os que mais parecem depender de uma  leitura  estritamente  funcionalística,  correspondem 
exatamente no seu caráter de síntese aos elementos essenciais da arquitetura entendidos como fatos originais [...]” 
In: GRASSI, Giorgio. La costruzione logica dell’architettura. Padova, 1967. 
 
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2. JUSCELINO KUBITSCHEK: 
ENTRE PRESERVAÇÃO E PROGRESSO 
 
Em  dois  documentos  do  IPHAN  constam  referências  à  casa  de  Juscelino 
Kubitschek  em  Diamantina.  Tratam‐se  das  indicações  de  Lucio  Costa  sobre  pontos  para 
registrar na cidade entre 1930 e 1940. Um deles é a nota enviada a Epaminondas Macedo onde 
o arquiteto elenca edificações a serem observadas pelo engenheiro ao realizar o levantamento 
da cidade, entre elas a “Casa Kubitschek’121 (Figura 22).   
 
O outro documento é a lista para o fotógrafo Erich Hess mencionando, em um dos 
itens, a “Casa da Rua Direita (Família Kubishek [sic]) – o  teto pintado”122. Possivelmente, a 
casa da Rua Direita em questão é a do avô de Kubitschek e onde nasceu o ex‐presidente123. 
                                                      
121  COSTA,  Lucio.  Indicações  do  Dr.  Lucio  Costa  para  a  inspeção  a  ser  realizada  em  Diamantina  pelo  Dr. 
Epaminondas Macedo, sem data, Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.  In: Arquivo Central do 
IPHAN/Seção Rio de Janeiro – Série Inventário. MG Pasta 3, Cx. 25. 
122 Arquivo Central do Iphan. Rio de Janeiro. Caixa Memória Oral. MO‐12_EJH. Eric Joachim Hess. 
123 O sobrado fica na Rua Direita, n. 106. No documento para Hess, entre parênteses, está escrito “forro pintado”. 
Na mesma rua, no número 36, fica a Casa do Forro Pintado, indicando que talvez tenha acontecido uma confusão. 
Porém, acredita‐se que a reafirmação do pedido pela “Casa Kubitschek” na lista posterior feita para Epaminondas 
Macedo demonstra a clareza quando ao interesse pela casa associada ao sobrenome do político. 
Figura 22: Indicações de Lucio Costa para inspeção a ser realizada por Epaminondas Macedo, Diamantina, s/d.
Fonte: ACI/RJ ‐ Série Inventário. MG Pasta 3, Cx. 25. 
 
74 
 
 
 
Nasci  em Diamantina  no  dia  12  de  setembro  de  1902,  num  sobrado  que 
pertencia ao meu avô e que  ficava situado a rua Direita, quase em  frente à 
Catedral. Era um sobradão colonial, como muitos outros existentes na cidade 
[...]124 
 
Figura 23: Rua Direita, Diamantina, entre 1910‐1932. 
Em 1910, a iluminação elétrica foi instalada e em 1932 a Sé foi demolida. Fonte: Acervo IMS.  
Autor: Chichico Alkmim. 
  
No entanto, a casa comumente associada ao político é a da Rua São Francisco, onde 
morou com a mãe e a irmã até sair da cidade e que fazia questão de visitar nas suas idas a 
Diamantina. É onde hoje funciona a Casa de Juscelino, museu dedicado ao ex‐presidente.  
                                                      
124 Versão preliminar do livro Meu caminho para Brasília com anotações manuscritas. KUBITSCHEK, Juscelino. Meu 
Caminho para Brasília. 1º Volume. In: Biblioteca do Memorial JK.  
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Morávamos, então, na casa da rua São Francisco. Ali vivi durante onze anos, 
até que me mudei para Belo Horizonte. [...] O quarto, que me coubera em nossa 
casa,  era  diminuto.  Dispunha  de  espaço  apenas  para  uma  cama  e  uma 
minúscula mesa,  feita  de  caixote,  e  da  respectiva  cadeira  que minha mãe 
arranjara, não sei onde. 
No documento para Epaminondas Macedo não há um  indício  sobre qual era a 
casa,  se a do avô ou da mãe. Não  se  sabe porque  tais  residências, aparentemente  iguais a 
muitas outras, mereciam destaque. Talvez seja um  indicativo de que Costa  já estava atento 
para a situação de que um político de importância ascendente era filho daquela cidade, o que 
justificava o registro de suas origens. O fato é que a casa da Rua São Francisco foi vistoriada 
oficialmente pelo SPHAN em 1957125 (Figura 24), constatando ser reconhecida como símbolo 
da  carreira  do  então  presidente  e  mostrando  que  existia  uma  relação  entre  o  instituto,Diamantina e a figura de Kubitschek.  
 
 
Figura 24: Casa onde Juscelino Kubitschek morou na Rua São Francisco. 
Levantamento realizado pelo DPHAN em 1957. Fonte: ACI/RJ‐SO, Pasta 579, Cx. 198. 
 
A cidade natal de Juscelino Kubitschek é onipresente ao longo de sua vida política. 
No discurso feito em Diamantina logo após as eleições para presidente, ressalta que sempre 
                                                      
125 Arquivo Central do IPHAN/Seção Rio de Janeiro – Série Obras, Pasta 579, Cx. 198. 
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honrou  com  suas  responsabilidades  públicas,  “ficando  à  altura das  tradições desta  velha, 
querida e legendária cidade”126. O ex‐presidente mistura a memória do vilarejo com a sua e 
Diamantina poderia ser narrada pelos seus discursos e entrevistas: 
De  1720  até  praticamente  a  Independência,  Diamantina  foi  um  centro 
extraordinário de irradiação de cultura, e a cultura daquele tempo se fazia na 
base  do  amor  à  liberdade.  Por  uma  razão  simples:  éramos  colônia127,  e  o 
primeiro  sentimento  é  o  de  independência,  e  esse  sentimento  se  confunde 
inteiramente com o de liberdade. A liberdade é uma palavra que está integrada 
inteiramente no vocábulo democracia, governo do povo [...]. Assim, quando 
perguntam porque desenvolvi  esse  sentimento democrático:  eu bebi  isso no 
leite, no café, no ar de Diamantina, nas serenatas da minha terra. 128 
Kubitschek parecia ter a propensão de tornar‐se “ideólogo de sua própria vida”, 
termo  usado  Bourdieu  em  A  ilusão  biográfica129. O  sociólogo  francês  ressalta  que  o  relato 
autobiográfico se baseia em “extrair uma lógica ao mesmo tempo retrospectiva e prospectiva” 
que estabeleça relações  inteligíveis entre os estados sucessivos na existência que está sendo 
narrada. Ao selecionar acontecimentos significativos em sua origem e estabelecer entre eles 
conexões,  instituindo‐os  como parte das  causas de uma  trajetória, a atitude de Kubitschek 
pode ser vista por essa ótica. A ideia de trajetória por si só associa a história de vida com um 
percurso e, não por acaso, o livro de memórias de JK se chama Meu caminho para Brasília. No 
texto, assim  como em Registro de uma vivência de Lucio Costa,  Juscelino Kubitschek  coloca 
Diamantina em suas primeiras páginas e com  isso dá à cidade não apenas a conotação de 
início, mas também “de princípio, de razão de ser”130. 
                                                      
126 Livro da Coleção Alexandre Eulálio da Biblioteca Central Cesar Lattes da Universidade Estadual de Campinas 
– BCCL/UNICAMP. KUBITSCHEK, Juscelino. O discurso de Diamantina. Rio de Janeiro, RJ: [s.n.], 1956. p. 21.  
127 Kubitschek destaca na entrevista a questão do Livro da Capa Verde, onde estavam contidos os dispositivos legais 
que Portugal impunha afim de assegurar o monopólio da exploração da mineração. Cf. FURTADO, Júnia Ferreira. 
O  livro da  capa verde: o Regimento Diamantino de 1771 e a vida no Distrito Diamantino no período da Real 
Extração. São Paulo, SP: Annablume, 1996. 
128 OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de. Juscelino Kubitschek I (depoimento, 1974). Rio de Janeiro, CPDOC, 1979, 
p. 5. 
129 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína e FERREIRA, Marieta de Moraes. Usos e abusos 
da história oral. (8ª edição) Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 184. 
130 Idem. 
77 
 
 
 
Duas leituras subjetivas da cidade que recaíram em interesses preservacionistas. 
Kubitschek  e  Costa,  cada  um  à  sua maneira,  exerceram  autoridade  sobre  a  narrativa  de 
Diamantina guiados por uma memória sentimental, cujo contraste revela nuances acerca da 
imagem da cidade feita pelos modernos. 
A Diamantina que Lucio Costa conhece não é mediada pela posterior visão do ex‐
presidente. Por poucos anos, os dois não se encontram na cidade131.   Na cronologia que os 
permeia, em 1934, quando o arquiteto escreveu Razões da Nova Arquitetura afirmando que “[...] 
o velho espírito –  transfigurado – descobre na mesma natureza e nas verdades de sempre, 
encanto  imprevisto [...]” e que assim “mais um horizonte então surge, claro, na caminhada 
sem fim”132, Juscelino Kubitschek venceu a primeria eleição como deputado federal.  
Político influente desde 1933, quando assumiu seu primeiro cargo como secretário 
da Interventoria de Minas Gerais, era presença constante na cidade. O início de sua carreira 
pública coincide com a morte do senador Olímpio Mourão,  líder político de Diamantina, e 
Kubitschek aproveita o fato para iniciar a consolidação de uma base na cidade natal.   
O município viu‐se órfão, não possuía agora ninguém que os representasse 
junto ao governo estadual para a obtenção de recursos, obras, nomeações. Até 
que algum aventureiro  lançasse mão... ou descobrisse o  filão. O  interventor 
Valadares percebeu a oportunidade que surgia – a  fortuna que passava  [...] 
Alertou seu secretário para o problema, instando‐o a assumir a chefia política 
do município.  [...] Assim,  utilizando  o  trânsito  que  o  cargo  lhe  conferia, 
agilizava  com  muita  atenção  –  e  como  bom  filho  da  terra  –  os  pedidos 
provenientes de Diamantina.133  
                                                      
131 Aos 18 anos, Kubitschek sai da cidade materna definitivamente. Sete anos depois, surge a primeira nota a seu 
respeito no jornal local: “Acaba de receber o grau em sciencias medico‐cirurgicas pela Escola de Medicina de Bello 
Horizonte,  o  nosso  jovem  conterrâneo,  dr.  Juscelino Kubitschek  de Oliveira  [...]”. Antes  haviam  as  notas  de 
aniversário, comuns em pequenas cidades. No entanto, a primeira falando propriamente de Juscelino no principal 
jornal da cidade é essa. In: PÃO DE S. ANTONIO. Diamantina: Pia União do Pão de Santo Antonio, ano 20, n. 22, 
25 dezembro 1927, p.2. 
132 COSTA, Lucio. Razões da nova arquitetura, in. Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa 
das Artes, 1997, p. 108. 
133 SIMÕES, Josanne Guerra. Sirênico Canto: Juscelino Kubitschek e a construção de uma imagem. Belo Horizonte: 
Autêntica, 2000. p.36. 
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Na campanha para deputado, Juscelino inicia uma prática que o acompanharia em 
toda a carreira: percorreu todos os distritos do município,  conversando tanto com chefes locais 
quanto  com moradores,  algo  incomum na  tradicional política diamantinense134. Perdeu na 
cidade, mas  ganhou  nos  distritos  e  na  zona  rural  e  foi  eleito  com  a maior  votação  para 
deputado federal no estado, mostrando que a tática deu certo. Nos anos seguintes, nas eleições 
municipais de 1936, foi o responsável direto pela campanha elegendo 11 dos 15 vereadores 
distritais  e  o  amigo  Joubert Guerra  como  prefeito  de Diamantina135.  Foi  o  início  de  uma 
hegemonia  que  fez  dos  candidatos  apoiados  por  Kubitschek  vitoriosos  por mais  de  três 
décadas no Arraial136.  
O ex‐presidente exerceu seu primeiro mandato político até o final de 1937, quando 
ocorreu o golpe do Estado Novo. Nesse período, Costa realizou o projeto do Ministério da 
Educação e Saúde e participou, ao mesmo tempo, da fundação do SPHAN. Diamantina, por 
sua vez, foi tombada em 1938. A estrada do político, do arquiteto e da cidade correram em 
paralelo. Se a viagem a Diamantina não foi capaz de fazer emergir imediatamente uma nova 
postura  em  Lucio  Costa,  a  cidade  foi  protagonista  intrínseca,  nas  décadas  seguintes,  do 
discurso e das atitudes do arquiteto envolvendo o passado e a conexão com o moderno. Já 
para Juscelino Kubitschek, foi referência constante na carreira política, seja para aplicar seus 
projetos, para buscar apoio ou para conectá‐lo à escala das pequenas cidades e seus habitantes.  
Lucio Costa, nos seus relatos, considera o vilarejo “uma revelação”137, já Juscelino 
Kubitschek menciona Diamantina  como uma  cidade que  “tem  o privilégio  e  o  condão de 
jamais fazer esquecidas as suas ruas íngremes, assuas casas velhas, onde tudo evoca episódios 
de  um  passado  que  é  orgulho  não  apenas  deste  pedaço  de Minas, mas  de  toda  a  Pátria 
brasileira”138. O casario colonial é elaborado como uma  imagem capaz  tanto de  justificar a 
origem interiorana e mineira singular de Kubitschek, quanto a capacidade de síntese de Costa 
que apreendeu ensinamentos com os elementos vernaculares de construção.  
                                                      
134 MARTINS, Marcos Lobato. “Quem é rei nunca perde a majestade”? JK na política de Diamantina no período 
934‐1970. Mneme ‐ Revista de Humanidades, v. 18, n. 41, p. 130‐162, 16 ago. 2018. 
135 Cf. KUBITSCHEK, Juscelino. Meu Caminho para Brasília. Volume 1. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1974. 
136 Cf. MARTINS, Marcos Lobato. “Quem é rei nunca perde a majestade”? JK na política de Diamantina no período 
934‐1970. op.cit. 
137 COSTA, Lucio. Diamantina, in. Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das Artes, 
1997., p. 27. 
138 KUBITSCHEK, Juscelino. O discurso de Diamantina. Rio de Janeiro, RJ: [s.n.], 1956. p. 18. 
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A  necessidade  desse  desvio  pela  construção  do  espaço  parece  tão  evidente 
quando é enunciada – quem pensaria em evocar uma viagem sem ter uma ideia 
da paisagem na qual ela se realiza? [...]139 
Além de uma memória nostálgica, esse elo da morfologia de Diamantina com um 
passado autêntico será fruto de uma elaboração ideológica tecida pelos dois protagonistas para 
justificar iniciativas de vanguarda. Não apenas um espaço físico, a cidade é um dos espaços 
sociais  onde  os  acontecimentos  biográficos  de  ambos  “se  definem  como  colocações  e 
deslocamentos”140 de uma posição a outra, de uma transição.  
Para desvencilhar do seu aspecto místico este “conceito que se determina a si 
mesmo”  ele  é  transformado  em  pessoa  [...]  uma  série  de  pessoas  que 
representam “o Conceito” na história, a saber “os pensadores”, os “filósofos” 
e  os  ideólogos  que  são  considerados,  por  sua  vez,  como  os  fabricantes  da 
história [...] 141 
Quando se propõe alumbrar a cidade de Diamantina e a ideologia a ela vinculada, 
refere‐se ao discurso ideológico “elaborado na chave retórica da persuasão: o ideólogo quer 
convencer o interlocutor de que seus argumentos foram construídos em nome e por meio da 
razão  universal”142.  Juscelino  Kubitschek  e  Lucio  Costa  tomam  Diamantina  como  uma 
referência comum e, diante do poder técnico que detinham, a transformam no projeto de um 
ideal que ultrapassa as questões  individuais e  se apresenta  como modelo nacional.   “...  se 
reconhece explicitamente que a técnica, sendo desenvolvimento e progresso, não poderá não 
conduzir a profundas  transformações na estrutura da  sociedade e do Estado”143. Político e 
arquiteto não só anunciaram o antigo Arraial como digno de fazer parte de um percurso rumo 
ao desenvolvimento, mas também colaboraram eles mesmos com o tecido da cidade através 
de projetos modernos e de salvaguarda, traduzindo a ideologia criada em artifícios tangíveis.  
                                                      
139 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. Op. cit. p. 190‐191. 
140 Idem. 
141 MARX, Karl. A  ideologia  alemã:  critica da  filosofia  alemã mais  recente  na  pessoa dos  seus  representantes 
Feurbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão na dos seus diferentes profetas. Coautoria de Friedrich Engels. 
3. ed. Portugal; Brasil: Presença: Martins Fontes, [19‐], p. 59. 
142 BOSI, Alfredo. Ideologia e contraideologia: temas e variações. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2010, p.72. 
143 ARGAN, Giulio Carlo. Architettura e ideologia. Tradução da autora. Texto original disponível em: BIRAGHI, 
Marco; DAMIANI, Giovanni (curad.). Le parole dellʹarchitettura: unʹantologia di testi teorici e critici : 1945‐2000. 
Torino: Einaudi, 2009.  
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Se a Lucio Costa coube uma atuação vinculada à proteção do patrimônio, Juscelino 
Kubitschek pôde  ir  além nas  estruturas  executivas. Em  1935, partindo para  a posse  como 
deputado federal, Kubitschek envia um telegrama ao Coronel Joscelino Pio Fernandes: “envio 
a  Diamantina,  por  seu  intermédio,  minhas  saudações,  reiterando‐lhes  e  a  todos  os 
correligionários segurança meu apoio e firme propósito trabalhar sempre benefício interesse 
nosso município”144. Cumprindo sua palavra, mantém o apoio à cidade em todos os cargos 
que ocupa. Mesmo com a interrupção do mandato como deputado em 1937, ainda era visto 
pelos diamantinenses como o homem vinculado a Getúlio Vargas e a Benedito Valadares145. A 
passagem pela Prefeitura de Belo Horizonte reforçou sua influência.  Joubert Guerra, o prefeito 
de Diamantina que Kubitschek havia ajudado a eleger, foi convidado para ser chefe da casa 
civil na  capital. As  iniciativas arrojadas de Kubitschek  como governante do município  lhe 
deram  grande  visibilidade  e  ajudaram  a  firmar  sua  imagem  de  “realizador  confiável”146.  
Quando se elege governador do Estado em 1950, o apoio se intensifica: 
Nenhum de nós, meus caros amigos de Diamantina, terá deixado de sentir a 
cada  instante,  inquietas ou  tranquilas que  sejam as horas da nossa vida, a 
presença  desta  cidade no mais  fundo  do nosso  coração  [...] Este não  é um 
retorno, porque na verdade sempre estive aqui e sempre me preocuparam os 
destinos da minha cidade e dos meus caros conterrâneos.147 
A conjunção entre Estado, cultura e vanguarda proposta nos anos 1950 envolvia 
os discursos sobre desenvolvimento, que apresentavam “a vigência de uma relação simétrica 
e  regular  entre  crescimento  econômico  e  tecnológico  e  invenção  cultural”148. No  governo 
estadual  mineiro,  o  progresso  seria  baseado  no  planejamento  racional  das  ações 
governamentais e das potencialidades geradas pela ciência e pela técnica, consolidadas pelas 
realizações do binômio energia e  transporte. Nesse sentido, a modernização “acenava para 
                                                      
144 KUBITSCHEK, Juscelino. In: PÃO DE S. ANTONIO. Diamantina: Pia União do Pão de Santo Antonio, ano 29, n. 
32, 05 maio 1935, p.3. 
145 Cf. MARTINS, Marcos Lobato. “Quem é rei nunca perde a majestade”? JK na política de Diamantina no período 
934‐1970. Op.cit. p. 135. 
146 Idem. 
147 KUBITSCHEK, Juscelino. In: A Estrela Polar. Diamantina, Acervo do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de 
Diamantina, ano LI, n. 19. 17 maio 1953, p.1.  
148 BOSI, Alfredo. Ideologia e contraideologia: temas e variações. Op. cit. p.235.  
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toda a sociedade, a todos enquadrando nos benefícios futuros que daí adviriam149, chegando 
ao homem também através de projetos de equipamentos públicos. 
Kubitschek, que havia  iniciado a parceria com Oscar Niemeyer na prefeitura de 
Belo Horizonte, continua contando com o arquiteto no governo de Minas. Diamantina é uma 
escolha  natural  para  a  aplicação  do  modelo  que  traduz  em  edificações  e  estradas  a 
modernização  das  pequenas  e  longínquas  cidades.  Entre  diversas  obras,  além  de  realizar 
melhorias na  estrada que  liga Diamantina  a Curvelo,  e  essa  a Belo Horizonte, Kubitschek 
encomenda cinco projetos para Niemeyer: a Sede Social do Diamantina Tênis Clube, o Hotel 
de Turismo, o aeroporto, a Faculdade de Odontologia e o Grupo Escolar Júlia Kubitschek150. 
Ressalta‐se que durante o governo estadual de Kubitschek  foram construídos mais de uma 
centena de prédios escolares em Minas Gerais 151, mas além do Colégio Estadual Central, em 
Belo Horizonte, apenas o de Diamantina foi projetado por Niemeyer. Os projetos demonstram 
a  ideia de  renovação  e  os programas  escolhidos  vão de  encontro  a proposta do  governo, 
aplicada na sua cidade de origem e com o respaldo da arquitetura moderna.  
No  início dos  anos  1950, Diamantina  contava  com  56.025 habitantes  e,  embora 
fizesse  parte  dos  poucos municípiosde Minas  Gerais  com  população  superior  a  50 mil 
moradores, o número a aproximava mais da classificação dos que possuíam entre 20 e 50 mil 
residentes. Eram nesses municípios que moravam a maioria dos mineiros – e dos brasileiros, 
cerca de 45%152. A cidade também representava a distribuição mineira entre o urbano e o rural: 
do total de seus habitantes, apenas 17,56% habitavam no perímetro urbano, número próximo 
do estadual, 18,53% e do nacional, 24,95%153.  Portanto, também numericamente poderia ser 
                                                      
149 SIMÕES, Josanne Guerra. Sirênico Canto: Juscelino Kubitschek e a construção de uma imagem. Op. cit. p.101 
150 O hotel, a sede social e a escola foram realizados, já o aeroporto não foi construído e existem ressalvas em relação 
a  autoria do  projeto  da  Faculdade  de Odontologia. Cf. MACEDO, Danilo, A Matéria  da  Invenção: Criação  e 
construção das obras de Oscar Niemeyer em Minas Gerais. 1938‐1954, Dissertação de mestrado, Belo Horizonte: 
UFMG, 2002. 
151 Cf. QUATRO anos no governo de Minas Gerais 1951‐1955:  sintese das  realizações do governador  Juscelino 
Kubitschek de Ol iveira. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1959; JK, seus ministros e colaboradores ‐ Guia de Fundos, 
Centro  de  Pesquisa  e  Documentação  de  História  Contemporânea  do  Brasil  –  CPDOC: 
<http://jk.cpdoc.fgv.br/trajetoria‐de‐vida/09‐governador‐de‐minas‐gerais‐1951‐1955> 
152 Dados com referência no Censo Demográfico de 1º VII 1950, realizado pelo Instituo Brasileiro de Geografia e 
Estatística  ‐  Conselho  Nacional  de  Estatística.  Cf.  
<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/67/cd_1950_v1_br.pdf>. Acesso em 30 abr. 2018. 
153 Idem. 
82 
 
 
 
vista como um padrão e possuía mais uma  justificativa para ser escolhida como o  lugar do 
ensaio de uma modernidade. 
As  práticas  de  caráter  propagandístico  de  Juscelino  Kubitschek  também 
encontravam um ponto de reverberação na cidade, multiplicado pelos meios de comunicação 
em massa. É notório como três diferentes jornais diamantinenses, cada um com sua vertente, 
engrandecem‐no. Como exemplo, temos a repercussão da visita oficial realizada em maio de 
1953. O  jornal  “O Nordeste”154,  pertencente  a  uma  sociedade  anônima  de  cunho  político 
pessedista, em 9 de maio de 1953 dizia: “Finalmente hoje, Diamantina terá a suprema honra 
de receber a visita oficial de seu dileto filho [...]” (Figura 27). Já no dia 10 de maio, deram as 
boas‐vindas os periódicos “A Estrela Polar”155 (Figura 26), da Arquidiocese de Diamantina e o 
“Voz de Diamantina”156  (Figura 25),  semanário  independente: “Diamantina  recebeu ontem 
entre  flores e aplausos o eminente preclaro mineiro Exmo. Sr. Dr.  Juscelino Kubitschek de 
Oliveira, em visita oficial a sua terra natal, e nesta oportunidade o nosso prezado conterrâneo 
está  inaugurando diversos melhoramentos nesta cidade. ”. Decretado  feriado municipal no 
dia 9, “O Nordeste” e “A Estrela Polar” divulgaram a programação oficial da visita de três 
dias, que incluía homenagens, bailes, reuniões políticas, visita as obras do Hotel de Turismo e 
da Santa Casa e lançamento das pedras fundamentais da Escola Julia Kubitschek e da Sede do 
Diamantina Tenis Clube. A viagem é uma síntese da forma de governar de Kubitschek e atesta 
o apresso e a busca por manter sólida sua base na cidade de origem. Nas palavras do jornal 
católico, uma “demonstração eloquente de amor ao seu berço e à sua gente. ”.  
 
 
 
                                                      
154 O NORDESTE. Diamantina, ano IV, n. 58. 09 maio 1953. 
155 A ESTRELA POLAR. Diamantina, Acervo do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Diamantina, ano LI, n. 
18. 10 maio 1953.  
156 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Semanário independente protetor da ʺObra do Pão de S. Antonioʺ, ano 
51, n.06, 10 maio 1953.  
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Figura 25: VOZ DE DIAMANTINA, 10 de maio de 1953. 
 Fonte: Acervo Museu Tipografia Pão de Santo Antônio. 
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Figura 26: A ESTRELA POLAR, 10 de maio de 1953.  
Fonte: Acervo do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Diamantina. 
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Figura 27: O NORDESTE, 9 de maio de 1953.
 Fonte: Acervo Casa de Juscelino. 
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Para consolidar esse traço, além das visitas oficiais: 
Toda vez que era eleito, seja para deputado, governador, seja para presidente 
ou senador, ele aparecia em Diamantina quase  incógnito, chamava uma ou 
duas pessoas de sua amizade, montava a cavalo e ia aos distritos agradecer os 
votos [...], visitando cada casa do lugar. [...]157 
Vivendo  em  movimento  entre  uma  cidade  e  outra,  Juscelino  Kubitschek 
estabeleceu contato direto com as populações humildes e distantes do centro. Sua associação 
com Diamantina foi determinante para aproximá‐lo do homem do interior. Em uma entrevista, 
contou que o escritor Vivaldi Moreira disse que “filho de professora pobre lá de Diamantina, 
que  chega  a  presidente  da  República,  é  um mau  político”158.  Kubitschek  roga  para  si  a 
identificação  com  esse  homem  brasileiro,  no  reconhecimento  das  origens  simples  e 
interioranas, na crença em um futuro promissor: “se pode considerar a possibilidade aberta 
por sua história de vida que permitia criar laços de identificação, e mesmo de aspiração, com 
a grande maioria da população: o exemplo vitorioso de  luta pela sobrevivência e ascensão 
social”159.  
Diamantina é o locus da concretização de vários desses signos. Cidade pequena, 
longínqua,  histórica.  Se  por  um  lado  é  assimilada  com  outros  municípios  através  de 
denominadores  comuns,  por  outro  tem  uma  mistificação  que  a  exalta:  a  descoberta  do 
diamante, a paisagem da serra, o casario colonial, os personagens como Padre Rolim, Chica da 
Silva e  Juscelino Kubitschek, que  toma para si essa representação: se ao mesmo  tempo é o 
homem comum que cresce num lugar que passa pelas mesmas dificuldades que a maioria dos 
municípios brasileiros, demonstrando  ter possuído as mesmas angustias que os moradores 
dessas  localidades, por outro  foi  também ele extraordinário em  suas  realizações, digno de 
constar nas linhas da história, assim como o antigo Arraial do Tijuco. 
A  imagem da cidade e do homem são associadas. Talvez seja possível ver esse 
quadro nas fotografias de Chichico Alkmim, tradicional fotógrafo diamantinense, cujo período 
                                                      
157 ANTUNES, Américo (org). João Antunes: vozes e visões. Diamantina: s.n., 2009. In: MARTINS, Marcos Lobato. 
“Quem é rei nunca perde a majestade”? JK na política de Diamantina no período 934‐1970. Op.cit. p. 143. 
158 OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de. Juscelino Kubitschek II (depoimento, 1976). Rio de Janeiro, CPDOC, 1979, 
p. 55. 
159 SIMÕES, Josanne Guerra. Sirênico Canto: Juscelino Kubitschek e a construção de uma imagem. Op. cit. p.51. 
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de  atuação  coincide  com o  recorte  em  estudo:  abriu  seu  estúdio  em  1912  e  encerrou  suas 
atividades em meados de 1950160. Alkmim registrou a Diamantina da juventude de Kubitschek, 
passando pelo período da viagem de Costa, o início da atuação do SPHAN e a construção dos 
projetos de Niemeyer. Fotografou a cidade suspensa entre o passado colonial e as intervenções 
modernas e registrou sobretudo seus habitantes. Os rostos e os cenários são engendrados pela 
fotografia e ajudam a traduzir os discursos do político e do arquiteto.  
 
Figura 28: Autobonde na Praça Antônio Eulálio, Diamantina, 1924. 
Fonte: Acervo IMS. Autor: Chichico Alkmim. 
 
Na fotografia da acima (Figura 28), vemos uma cena na Praça Antônio Eulálio. Em 
primeiro plano, estão os meninos que  se diferenciam entre os que  tem os pés vestidos ou 
descalços, um importante traço de classe do período. Juscelino Kubitschek contava pertencer 
ao segundo grupo: “não podia comprar livros, não podia comprar sapatos! Andava descalço,tudo isso”161, se encaixando nos personagens que compõe a maioria da imagem. A foto é de 
                                                      
160 Cf. FERRAZ, Eucanaã (Org.). Chichico Alkmim: fotógrafo. São Paulo: Instituto Moreiras Salles, 2017. 176 p. 
161 OLIVEIRA, Juscelino Kubitschek de. Juscelino Kubitschek II (depoimento, 1976). Rio de Janeiro, CPDOC, 1979. 
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1924 e poderia ser uma passagem vista por Lucio Costa no primeiro contato com a cidade. 
Nela,  podemos  perceber  os  elementos  arquitetônicos  que  chamaram  sua  atenção:  os 
arcabouços de madeira, a vedação em taipa de mão, os cachorros e beirais, as sombras que 
sugerem o colorido dos sobrados.  
Os  registros  de  Alkmim  também  guardam  tradições  que  a modernidade  iria 
transformar.  É  o  caso  do  Mercado  Municipal,  ponto  comercial  importante  para  onde 
convergiam as tropas na entrada do Vale do Jequitinhonha desde o final do século XIX162. No 
primeiro contato com a cidade, o edifício e seus arcos não despertaram o interesse de Costa, 
que não o incluiu em seus desenhos. Chichico Alkmim fotografa o contexto no início do século 
XX (Figura 29). 
 
Figura 29: Praça Barão de Guaicuí e Mercado Municipal, Diamantina, c. 1920. 
Fonte: Acervo IMS. Autor: Chichico Alkmim. 
 
                                                      
162 Cf. MARTINS, Marcos Lobato. O comércio de  ʺgêneros do paísʺ no Mercado de Diamantina, Minas Gerais: 
décadas de 1880 a 1930. Locus (UFJF), Juiz de Fora, v. 16, n. 2, p. 157‐173, 2010.  
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A mesma variação dos meninos da foto anterior aparece no centro da fotografia da 
Praça Barão de Guaicuí.  À direita, o terreno vago que em 1922 receberia um edifício eclético163, 
seguido das demais construções com comércio no térreo e seus clientes e vendedores apoiados 
nos batentes das portas à espera do clique de Chichico. Por fim, no canto esquerdo, o mercado 
e os animais de carga dos tropeiros, homens que não aparecem neste panorama. Erich Hess, 
como fotógrafo do patrimônio, iria registrá‐los no final dos anos 1930 (Figura 30): “Mercado ‐ 
interior em dia de movimento”, dizia um dos itens do pedido oficial do SPHAN164: 
 
Figura 30: Interior do Mercado e dinâmica dos tropeiros, Diamantina, 1938. 
Fonte: IPHAN/ Negativo ‐ N29313 50161872 In: Campos (2009, p.283) 
 
Em 1936, pouco antes das  fotografias de Hess, ganha  força o debate referente à 
demolição do Mercado Municipal. Alegava‐se o intenso transito de tropas nas ruas do centro 
e a insalubridade do lugar. Consta, nos arquivos da prefeitura, um estudo para desapropriação 
do espaço e construção do novo edifício para a Diretoria Regional dos Correios e Telegraphos 
                                                      
163 O edifício de dois andares, onde hoje funciona o Restaurante Apocalipse, foi construído por Franklin de Carvalho 
em 1922. Cf. SANTOS, Dayse Lucide Silva. Cidades de vidro: a  fotografia de Chichico Alkmim e o registro da 
tradição e da mudança em Diamantina (1900 a 1940). 2015. Tese (Doutorado) ‐ Faculdade de Filosofia e Ciências 
Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015. p. 119 e 219. 
164 Arquivo Central do Iphan. Rio de Janeiro. Caixa Memória Oral. MO‐12_EJH. Eric Joachim Hess. 
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(Figura 31). Kubitschek, como deputado federal, garantiu a verba165, “ilustre e prestigioso filho 
desta terra, que tudo fará para que a nossa D.R. tenha um prédio condigno”166. Porém, com o 
tombamento da cidade em 1938, o mercado passa a ser protegido pelo estado. 
Os  jornais  locais  criticavam  constantemente  a  construção.  Com  a  atuação  do 
SPHAN, a narrativa ganhou um novo vértice. Questionava‐se, nas reportagens, a demora da 
prefeitura em demolir o edifício, que caso já tivesse tomado essa atitude 
 [...] não teria surgido essa história de monumento histórico que alegam os srs. 
Representantes  do  Patrimônio  Histórico  Artístico  Nacional,  quando  aqui 
estiveram. [...] Ninguém pode acreditar que aqueles homens, acostumados a 
apreciar  e a valorizar  edifícios objetos de arte antiga,  considerassem aquele 
                                                      
165 “O Deputado dr. Juscelino Kubitschek, para maior garantia da execução da construção do edifício dos Correios 
e Telegrafos desta cidade, conseguiu, que se incluísse, de novo, no Orçamentos das Despesas da União, para 1937, 
a  dotação  dos  420,000$000,  destinados  aquele  fim”.  In:  VOZ  DE  DIAMANTINA.  Diamantina:  Semanário 
independente, protector da ʺObra do Pão de S. Antonioʺ, ano 1, n. 29, 29 agosto 1936, 4p. 
166 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Semanário independente, protector da ʺObra do Pão de 
S. Antonioʺ, ano 2, n. 5, 13 março 1937, 4p. 
Figura 31: Planta da praça do Mercado, Diamantina, 1936.
Linha preta mais forte corresponde ao perímetro do mercado e a linha tracejada vermelha é a projeção do edifício que 
seria construído. Fonte: Arquivo Público Municipal de Diamantina. 
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casarão sujo e pestilento como monumento antigo, quando ele é de construção 
de pouco mais de 40 anos167, e nada tem de artístico.168 
 Por fim, o jornal noticia: “Parece que se decidiu que o Mercado permanece, mas 
será contra a vontade da população diamantinense”169.  O edifício, a esse ponto, já era caro a 
Lucio Costa, que  ressaltou na  inspeção geral  realizada por Epaminondas Macedo que,  ao 
visitar o mercado, era preciso “verificar o que se poderá fazer em favor da higiene sem prejuízo 
das  qualidades  típicas  da  construção”170.  As  primeiras  obras  de  restauro  do  edifício 
começaram em 1940171, abrandando as discussões com a população e com governo municipal 
a esse respeito.  
O desuso do local como ponto de troca e comércio, como se via desde o século XIX, 
veio  com  o  tempo. A  chegada  da  ferrovia  em  1914  havia  apenas  encurtado  as  distâncias 
percorridas pelas tropas, que se mantinham como o único elo entre boa parte das localidades. 
Foram  as  estradas  de  rodagem  e  seus  caminhões  que  substituíram  a  grande maioria  das 
caravanas de muares entre os anos 1940 e 1950172. Estradas, muitas vezes, abertas por iniciativa 
de Juscelino Kubitschek.  
Era essa a modernidade que o político visava. O caso do mercado é significativo 
porque  ilustra  as  nuances  entre  as  imagens  que  Kubitschek  buscava  para  si.  Representa 
situações que combatia – a morosidade do transporte, as dificuldades higienistas. Ao mesmo 
tempo, demonstra os caminhos que ele via como solução: se o mercado parecia insalubre, se 
                                                      
167 Segundo os dados do jornal, a construção do mercado seria de aproximadamente 1890. Porém, segundo Leandro 
Campos, que se apoia no texto de Machado Filho, a data consignada para a construção da edificação que deu origem 
ao Mercado Municipal de Diamantina é 1835. Também é a data considerada pelo IPHAN. Cf. CAMPOS, Leandro 
Augusto Ferreira. A caixa vazia: Preservação e história no mercado municipal de Diamantina. Op. cit; MACHADO 
FILHO, Aires da Mata. Arraial do Tijuco, cidade Diamantina. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo, 1980 p. 225; 
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Bens tombados de Diamantina. Brasília, IPHAN, 2003. p.46. 
168 PÃO DE SANTO ANTONIO. Diamantina: Pia União [do Pão de Santo Antonio], [ano 03 mutilado], n. 40, 11 
junho 1939, 8p. 
169 VÓZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Semanário independente, protector da ʺObra do Pão de 
Santo Antonioʺ, ano 3, n. 43, 02 julho 1939, 6p. 
170  COSTA,  Lucio.  Indicações  do  Dr.  Lucio  Costa  para  a  inspeção  a  ser  realizada  em  Diamantina  pelo  Dr. 
Epaminondas Macedo, sem data, Serviço do Patrimônio Artístico Nacional. In: Arquivo Central do IPHAN/Seção 
Rio de Janeiro – Série Inventário. MG Pasta 3, Cx. 25. 
171  Cf.  CAMPOS,  Leandro Augusto  Ferreira. A  caixa  vazia:  Preservação  e  história  no mercado municipal  de 
Diamantina.2009.  402  f. Dissertação  (Mestrado)  –  Faculdade  de Arquitetura, Universidade  Federal  da  Bahia, 
Salvador, 2009. 
172 Cf. MARTINS, Marcos Lobato. O comércio de  ʺgêneros do paísʺ no Mercado de Diamantina, Minas Gerais: 
décadas de 1880 a 1930. Locus (UFJF), Juiz de Fora, v. 16, n. 2, p. 157‐173, 2010. 
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não estava de acordo com aparência pretendida pela cidade e se tinha outra obra para ficar no 
lugar,  que  fosse  então  demolido  e  ele,  como  membro  do  governo,  viabilizaria  a  nova 
construção. Não era o passado evocado pelo mercado que o interessava. 
Por outro lado, existiam tradições que estavam alinhadas com as suas pretensões 
e que poderiam ser reafirmadas, como a reputação de Diamantina como educandário regional: 
[...] cidade matriz, de onde, desde os tempos coloniais, se irradiou civilização 
para amplíssimo território, de área maior que a de alguns países europeus. E 
não é de hoje que os seus colégios, o seu seminário, a excelência do seu clima, 
os primores de sua civilidade para aqui atraem estudantes, não só do nordeste 
e do norte de Minas, mas também do centro e da Mata.173 
 
Figura 32: Alunas em frente ao Colégio Nossa Senhora das Dores, Diamantina, s/d. 
Fonte: Acervo IMS. Autor: Chichico Alkmim. 
 
                                                      
173 KUBITSCHEK,  Juscelino. Discurso:  solenidade  de  formatura  da  primeira  turma  de  cirurgiões‐dentistas  da 
Faculdade de Odontologia de Diamantina. 15 de dezembro de 1956. Biblioteca da Presidência da República.  
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Figura 33: Normalistas do Colégio N. Sra. Das Dores, Diamantina, 1938. 
Fonte: IPHAN (2010, p.9). Autor: Erich Hess 
 
O ensino secundário oferecia como opções a Escola Normal, o Lyceu de Artes e 
Officios da União Operária Beneficiente, o Curso de Humanidades do Seminário Episcopal e 
o Colégio Nossa Senhora das Dores174. O último, referência para viajantes e fotógrafos pelo seu 
passadiço  (Figuras  32  e  33),  tinha  como  endereço  a Rua da Glória, mesmo  logradouro da 
moderna Faculdade de Odontologia fundada por Juscelino Kubitschek em 1953 e da Escola 
Normal reativada pelo então governador em 1951175. A Faculdade reforçou tanto o eixo urbano 
de educação, quanto o ideário buscado por Kubitschek. No discurso como patrono da primeira 
turma de cirurgiões‐dentistas de Diamantina, afirmou que a criação do curso visava levar às 
populações  do  interior  também  os  benefícios  dos  cursos  superiores. Mais  que  isso,  se  a 
mineração e o comércio decaíram, acreditava que pelo viés da instituição de ensino a cidade 
teria novas oportunidades. 
                                                      
174 MARTINS, Júnia Maria Lopes; MARTINS, Marcos Lobato. O Colégio Nossa Senhora das Dores de Diamantina 
e a educação  feminina no norte\nordeste mineiro  (1860‐1940). Edu. Rev., Belo Horizonte, n. 17, 1993, p. 11‐19. 
Disponível em: <http://educa.fcc.org.br/pdf/edur/n17/n17a03.pdf>. Acesso em: 02 out. 2018. 
175SOARES,  Layane  Camposi;  FREITAS,  Flávio  César.  Histórias  de  Instituições  Educativas,  Diamantina/MG: 
supressão e reabertura da Escola Normal Oficial de Diamantina (1938‐1951). VII Congresso Brasileiro de História 
da Educação, Cuiabá ‐ MT, p.1‐13, 2013.  
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Tem rasgos de epopeia a história desta cidade e do seu povo, a áspera peleja que 
sustentaram, desde que  se  esvaiu  a  antiga  riqueza,  e no  solo  rochoso  ficou 
apenas  a memória  dos  fabulosos  tesouros  de  antanho. Meu  pensamento  se 
volta, neste instante, para aqueles que já não se acham ao nosso lado – sombras 
amadas que galhardamente lutaram, em condições adversas, para conservar, 
altaneiro, o pendão de nossa municipalidade, os foros do seu espírito, a altivez 
de sua pobreza. Que mais pura efusão cívica, que mais legitimo orgulho não 
haveria de  inflamar em seus corações, ao verem ressurgir, sob outra  forma, 
uma forma por certo mais alta e nobre, o antigo esplendor desta terra?176 
Tendo as fotografias como ilustração e pensando nas falas e decisões políticas de 
Juscelino Kubitschek pelas narrativas do Mercado Municipal e da Faculdade de Odontologia, 
é possível notar a distinção entre a representação diamantinense que ele gostaria de alterar e 
qual gostaria de manter e reafirmar. Já a preservação da imagem literal da cidade, expressa 
pelo patrimônio edificado, estava sob tutela do SPHAN. Enquanto Kubitschek era governador, 
foi  apenas  com  a  anuência  e  colaboração  do  órgão  que  os  projetos  modernos  foram 
construídos177 e foram pelas medidas protecionistas da instituição que o conjunto colonial se 
manteve, podendo ilustrar a permanência visual dos discursos do político ao se referir à sua 
lendária cidade.  
A autoridade do SPHAN permanece evidente na segunda metade da década de 
1950,  quando  Juscelino  Kubitschek  já  era  presidente.  A  necessidade  de  construir  uma 
rodoviária no antigo Arraial é uma das narrativas que atesta o poder da repartição. Costuma‐
se chamar a atenção para o comentário de Lucio Costa na ocasião, sem se atentar para os fatos 
que antecederam o parecer sobre o edifício para passageiros178. 
                                                      
176 KUBITSCHEK,  Juscelino. Discurso:  solenidade  de  formatura  da  primeira  turma  de  cirurgiões‐dentistas  da 
Faculdade de Odontologia de Diamantina. 15 de dezembro de 1956. Biblioteca da Presidência da República.  
177 Relação atestada por diversos documentos trocados entre o SPHAN/DPHAN e Kubitschek, entre eles ressalta‐
se: ANDRADE, Rodrigo M. F. Telegrama enviado ao Governador Juscelino Kubitschek em 16/06/1951. ACI/RJ‐SO 
Cx. 140 Pasta 628.4. 
178 Cf. COSTA, Lucio. Parecer, 27 de agosto de 1959. BARRETO, Paulo Theodin. Informação sobre pedido para ser 
levantado o tombamento de quatro prédios (...) de Diamantina, de 27 de julho de 1959. Processo de Tombamento 
0064‐T‐38 – ACI/RJ. 
95 
 
 
 
Em  agosto  de  1958,  o  arquiteto  e  chefe  do  3º Distrito  do DPHAN,  Sylvio  de 
Vasconcellos, comunicou ao Diretor no Rio de Janeiro que um incêndio havia consumido por 
completo um prédio no centro da cidade (Figura 34).  
 
 
Figura 34: Incêndio ocorrido em Diamantina, 1958. 
Fonte: Processo de Tombamento 0064‐T‐38 – ACI/RJ. 
 
No início do ano seguinte, Vasconcellos volta a entrar em contato a respeito dos 
desdobramentos do ocorrido:  
Cumpre  levar  ao  seu  conhecimento  que,  atendendo  a  desejo  do  revmo. 
Arcebispo  de  Diamantina,  que  pretende  afastar  do  centro  da  cidade  o 
meretrício,  foi  solicitado  ao  sr.  Presidente  da  República  que  levantasse  o 
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tombamento  de uma  quadra,  afim  de  serem  demolidas  as  construções nela 
existentes, vizinhas da área onde deu incêndio há pouco tempo.  Felizmente, o 
sr.  Presidente  da  República,  pessoal  e  peremptoriamente,  negou‐se  a  tal 
iniciativa,  esclarecendo que o assunto  só poderia  ser  resolvido pelo Diretor 
desta repartição.179 
A resposta de Rodrigo Melo Franco de Andrade enfatiza a postura de Kubitschek: 
“[...]  Sendo manifesto  o  descabimento  da medida  pleiteada,  confio  em  que  a  autoridade 
arquidiocesana não insista em obtê‐la, a vista de não ter surtido efeito a iniciativa tomada junto 
ao Chefe da Nação”180. O arcebispo naquele momento  era Dom  José Newton de Almeida, 
sucessor de Dom  Serafim Gomes  Jardim,  e  a  atitude de  Juscelino Kubitschek  em negar  o 
pedido ganha mais valor ao lembrarmos do poder que a igreja representava e sua interferência 
em questões políticas, como fez em favor do próprio Kubitschek em algumas ocasiões. Por 
mais que seus cargos públicos tenham sido exercidos em outras cidades, o apoio católico que 
recebeu não  foi da Arquidiocese da capital mineira. Pelo contrário, em Belo Horizonte era 
constantemente criticado. Assim, foram os arcebispos da arquidiocese da cidade natal que o 
defenderam durante as eleições, merecendoenfáticos agradecimentos: 
[...]  traz‐me  aqui,  também,  uma  dívida  imperecível  de  gratidão  com  estes 
sacerdotes de Diamantina. Um, que me mandava no início da campanha uma 
carta,  esteio  de  apresentação  dos meus  sentimentos  e  da minha  formação 
espiritual; D. Serafim,  arcebispo desta  cidade;  o  outro, D.  José Newton de 
Almeida [...] mandou, numa declaração pública a todo o Brasil, o testemunho 
de  que  eu  havia  nascido  nesta  cidade,  aqui  me  formara  nos  sentimentos 
cristãos e católicos desta brava gente, e aqui recolhera nos ensinamentos da 
minha velha mãe e nas lições destas igrejas e do seminário [...] 
Quando Kubitschek assume o maior cargo do poder executivo federal, a Catedral 
de Diamantina  já estava construída conforme o projeto de Wasth Rodrigues. Como o novo 
projeto rotacionou seu eixo em relação a antiga Sé, a frente da  igreja passou a ficar voltada 
                                                      
179 VASCONCELLOS, Sylvio de. Ofício nº 238. Sobre Diamantina. 25 de março de 1959. Processo de Tombamento 
0064‐T‐38 – ACI/RJ. 
180 ANDRADE, Rodrigo M. F. Resposta ao ofício nº 238. 30 de março de 1959. Processo de Tombamento 0064‐T‐38 
– ACI/RJ. 
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para  uma  das  entradas  de  acesso  do  Beco  do Motta,  tradicional  região  de  boemia,  onde 
também  ficavam os meretrícios. Denota‐se o propósito moralista do pedido, ressaltado por 
Vasconcellos  nas  correspondências  com  a  diretoria.  Nem  mesmo  a  boa  relação  da 
Arquidiocese com Kubitschek e a troca de favores consolidada entre ambos interferiram na 
decisão do SPHAN. Apesar do possível mal‐estar criado com os sacerdotes que o apoiaram, 
Juscelino se mantém distante do caso.  
O prefeito da época entra em contato diretamente com Rodrigo Melo Franco de 
Andrade, alegando que as casas que pede pelo levantamento do tombo não possuem “valor 
arquitetônico individuado”181. Inicia‐se também a discussão sobre se seria possível construir a 
rodoviária no local (Figuras 35 e 36) e, se não, onde os técnicos indicavam sua implantação. 
Então surge a figura de Lucio Costa, dando o conhecido parecer sobre a questão e revelando 
uma preocupação funcional, cuidado que demonstra ao olhar para o vilarejo desde os anos 
1920.  
Por fim, em setembro de 1959, o Conselho Consultivo nega a solicitação municipal, 
mantém  a  proteção  ao  conjunto  e  Melo  Franco  de  Andrade  comunica  a  prefeitura  de 
Diamantina  que  o  pedido  foi  indeferido  “por  julgar  improcedentes  os motivos  alegados, 
ficando  assim mantido o  tombamento da  área  compreendida  [...]  como parte  integrante  e 
indispensável do conjunto arquitetônico e paisagístico da cidade”182. 
Observamos  assim  que,  na  ideologia  de  Diamantina,  as  alusões  tendem  a 
acontecer, a princípio, através de elementos como a casa, os detalhes da arquitetura colonial. 
São eles pano de fundo para moradores e passageiros, mas convergem para o protagonismo 
intrínseco da cidade visto como o conjunto protegido pelo patrimônio. 
                                                      
181 SANTOS, Sylvio Felício dos. Carta ao diretor do DPHAN sobre o levantamento do tombo de quatro construções. 
22 de junho de 1959. Processo de Tombamento 0064‐T‐38 – ACI/RJ. 
182 ANDRADE, Rodrigo M.  F. Resposta  ao prefeito municipal de Diamantina  sobre  o  cancelamento de  trecho 
tombado. 29 de setembro de 1959. Processo de Tombamento 0064‐T‐38 – ACI/RJ. 
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Figura 35: Proposta enviada pelo prefeito para circulação de veículos e localização do edifício da 
rodoviária, Diamantina, 1959. 
Fonte: Processo de Tombamento 0064‐T‐38 – ACI/RJ. 
 
Figura 36: Mapa de localização do desenho enviado pelo prefeito em 1959.
Fonte: elaborado pela autora, 2019. 
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Erich Hess ressalta a primeira vez que vê as procissões “enormes, subindo lá pelo 
alto das  igrejas, passavam pela cidade...”183. É pertinente notar a diferença nos registros de 
Chichico Alkmim, personalidade local que tende a capturar cenas pausadas (Figuras 23, 28, 29 
e 32), e Hess, estrangeiro e viajante, para quem tudo era novo e que observa a procissão e as 
cenas a distância (Figuras 30, 33 e 37). No entanto, assim como Juscelino Kubitschek e Lucio 
Costa, a oposição das visões do nativo e do forasteiro acabam sendo atraídas para um quadro 
similar, emoldurado pela morfologia da cidade. Se pelo contraste com os componentes não 
ideológicos que os traços ideológicos saltam à vista184, Diamantina se torna um entremeio de 
imagens que trazem a promessa de uma vanguarda brasileira na qual existe plena sintonia 
entre política e estética. 
                                                      
183 HESS, Erich  Joachim.  (depoimento, 1983). In: GRIECO, Bettina Zellner.  (Org.). Rio de Janeiro: IPHAN/ DAF/ 
Copedoc, 2013. (Memórias do Patrimônio, 3), p. 56. 
184 BOSI, Alfredo. Ideologia e contraideologia: temas e variações. Op. cit. p.76. 
Figura 37: Cenas de uma procissão passando pelos arredores da Rua da 
Grupiara, Diamantina, 1938. 
 Fonte: IPHAN (2010, p.21). Autor: Erich Hess. 
 
100 
 
 
 
Ao celebrar os cinquenta anos de fundação da nova capital federal, Andrey Schlee 
afirmou  que  “inventamos Diamantina  e  Brasília”185. A  declaração  é  astuta  ao misturar  o 
aspecto factual, de que Brasília foi criada nas pranchetas de arquitetos e urbanistas, com uma 
nuance  ideológica, ao mencionar que, mais que uma  invenção, Diamantina  tem o papel de 
uma  conexão material  nativa  vinculada  a modernidade  e  estruturada  por  figuras  como 
Kubitschek e Costa.  
Em  1955,  quando  já  se  conhecia  o  resultado  das  eleições  para  Presidente  da 
República, sai na imprensa diamantinense um apelo: 
E, à guisa de anseio derradeiro, só deixo a V. Excia. mais uma solicitação, em 
nome de seus conterrâneos:  ‐ Copie, V. Excia. o gesto  filial de Leonardo da 
Vinci, essa incomparável figura típica da Renascença florentina. Êsse mestre 
da pintura, dando um sentido romântico ao seu patriotismo e ao seu orgulho 
cívico, assinava‐se sempre: “Leonardo, o Florentino”. Diamantina espera que 
V. Excia, em tudo que fizer de útil por um Brasil melhor, não se esqueça das 
virtudes religiosas e cívicas que ela ensinou a V. Excia.. Diamantina espera 
que, com as graças de Deus, para orgulho dela e para felicidade do Brasil, V. 
Excia. possa sempre se assinar: “JUSCELINO, O DIAMANTINESE”!186  
Não era preciso pedir. O nome da cidade há muito já era associado ao do político. 
A pureza  legível de Diamantina compunha perfeitamente com as virtudes pretendidas por 
Kubitschek e as similaridades perpassavam a primeira camada e também se esbarravam em 
suas complexidades. Se a  leitura de símbolos como a casa e o homem poderia acontecer de 
maneira imediata, as nuances surgiam após uma observação mais apurada. 
Nesse sentido, mais uma vez as questões envolvendo a preservação da cidade pelo 
SPHAN podem  ajudar  com  representações. Como no  citado  caso do mercado que,  ao  ser 
restaurado,  teve  as paredes da parte posterior  construídas  em  alvenaria, não mantendo  o 
original pau‐a‐pique (Figuras 38 e 39).  
                                                      
185 SCHLEE, Rosenthal Andrey. Lucio Costa: o  senhor da memória.  In:  [LEITÃO, F.  (Org.)]. Brasília 1960 2010: 
passado, presente e futuro. Brasília: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, 2009, p.14. 
186 A ESTRELA POLAR. Diamantina, Acervo do Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Diamantina ano LIII, n. 
53. 30 outubro 1955, p.2. 
101 
 
 
 
 
Figura 38: Volume posterior do mercado ainda em pau‐a‐pique durante a reforma, Diamantina, 1942. 
Fonte: IPHAN/ SO‐ Pasta 589.4 ‐ Fotos Mercado (obra). In: Campos (2009, p.279). 
 
 
Figura 39: Aspecto do volume posterior do mercado feito em alvenaria após reconstrução. Diamantina, 1943‐?. 
Fonte: IPHAN/ SO‐ Pasta 589.4 ‐ Fotos Mercado(obra). In: Campos (2009, p.280). 
 
102 
 
 
 
Como as fachadas restauradas pelo SPHAN, a  imagem de Juscelino associada à 
Diamantina deixa algumas dúvidas. No caso de ser um modo “de persuasão levado a efeito 
por meio da presença física e concreta de Kubitschek”187 interpretando um papel, a estratégia 
se encaixou perfeitamente em seu projeto, da mesma maneira que o SPHAN manteve seus 
mitos  se  pautando  em  uma  política  cultural  bem  equacionada  e  sucedida188.  Porém,  a 
construção dessas narrativas não invalida anseios pessoais genuínos. Assim como Mario de 
Andrade escreve a respeito de seu trabalho na repartição, em carta pessoal a Rodrigo de Melo 
Franco, contando que “reviravoltas e indecisões, não repare, são naturais na paixão em que 
estou de que meu  trabalho saia bom e agrade a você com o Lucio”189,  Juscelino escreve ao 
amigo  Augusto  sobre  as  dificuldades  de  seu  cargo  como  prefeito  de  Belo  Horizonte, 
destacando o fato de ser alguém que “nasceu em meio às emanações de cidade semilendária e 
tradicional”190. 
Para além dessas questões, a  relação entre  Juscelino Kubitschek e o SPHAN  se 
afirmou,  após  os  anos  1930,  como  de  respaldo mútuo. O  ex‐presidente  não  interviu  nos 
pedidos que recebeu sobre a demolição das casas no Beco do Mota e também o SPHAN não se 
opôs às  realizações modernas no perímetro histórico propostas pelo governador. Servia ao 
político, mas também à instituição, que afirmava mais uma vez qual vanguarda se adequava 
as suas propostas.  
Quando a polêmica sobre o local de construção da sede dos Correios foi encerrada 
e um terreno delimitado, o projeto proposto, seguindo os padrões da empresa em linhas art‐
déco191  (Figura 40), esbarrou nos pressupostos estéticos do Serviço que  recomendou que o 
                                                      
187 SIMÕES, Josanne Guerra. Sirênico Canto: Juscelino Kubitschek e a construção de uma imagem. Op. cit. p. 66. 
188 RUBINO, Silvana. As fachadas da história: os antecedentes, a criação e os trabalhos do Serviço do Patrimônio 
Histórico e Artístico Nacional, 1937‐1968. Op. Cit., p. 75. 
189 ANDRADE, Mário de. Cartas de trabalho: correspondência com Rodrigo Mello Franco de Andrade (1936‐1945). 
Brasília, DF: Ministério da Educação e Cultura/Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Fundação 
Nacional Pró‐Memória, 1981. 191 p., il. (Publicações da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n. 
33). pg 180. 
190 KUBITSCHEK, Juscelino. Correspondência a Augusto, 09/03/1941, Palace Hotel Poços de Caldas, In. MEMORIAL 
JK, 016/A.C. 
191 Cf. REIS, Márcio Vinicius. O art déco na Obra Getuliana. Moderno antes do modernismo. 2014. Tese (Doutorado 
em  História  e  Fundamentos  da  Arquitetura  e  do  Urbanismo)  ‐  Faculdade  de  Arquitetura  e  Urbanismo, 
Universidade de São Paulo, São Paulo. 
103 
 
 
 
novo edifício “tivesse aspecto exterior que não contrastasse com o das edificações locais”192. O 
SPHAN  realizou  um  novo  projeto  (Figura  41),  que,  pelos  seus  princípios,  mantinha  “a 
harmonia  e  o  encanto  antigo” do  conjunto urbano,  afirmando  não permitir  “prédios  com 
fachadas  obedecendo  à  arte  nova  porque  tais  construções  desfigurariam  por  completo 
Diamantina”193.  Por  outro  lado,  as  intervenções  projetadas  por  Niemeyer,  segundo  a 
repartição,  se  encaixavam  na  premissa  de  Lucio Costa  de  que  “a  boa  arquitetura  de  um 
determinado período vai  sempre bem  com  a de qualquer período  anterior,  ‐  e  o que não 
combina com coisa nenhuma é a falta de arquitetura.194 
 
Figura 40: projeto elabora pelo Departamento de Correios e Telégrafos para Diamantina, c. 1942. 
Fonte: ACI/RJ. In: Gonçalves (2010, p. 111). 
 
Figura 41: projeto elabora pelo SPHAN, c. 1942. 
Fonte: ACI/RJ. In: Gonçalves (2010, p. 111). 
                                                      
192  ANDRADE,  Rodrigo  M.  F.  de.  Termo  de  declaração,  em  10/08/1942.    ACI/RJ‐SO  n.480,  Cx.105.  Apud. 
GONÇALVES, Cristiane  Souza.  Experimentações  em Diamantina. Um  estudo  sobre  a  atuação do  SPHAN  no 
conjunto urbano tombado 1838‐1967. Tese de Doutorado– FAUUSP, São Paulo: 2010. p.110. 
193 Idem 
194 COSTA, Lucio. Parecer apresentado a Rodrigo Melo Franco de Andrade sobre o projeto de Oscar Niemeyer para 
a construção do Hotel de Ouro Preto. ACI/RJ‐Sério Personalidades/Lucio Costa. Pasta 12, Cx.148. 
104 
 
 
 
Quando a arquitetura moderna entra na equação que envolve Diamantina, vem 
para  “transformar  a  imagem  em  concretude”195  e  fixa‐la  na  posteridade.  Kubitschek  era 
consciente deste efeito:  
Já a Diamantina não tem por que doer‐se da perda da pretérita grandeza. Já 
não há de se debruçar sobre o passivo, evocando, com nostalgia, os dias idos. 
O magnifico ressurgimento do presente restaura‐lhe o prestígio, devolve‐lhe a 
hegemonia de cidade que gerou cidades, assegura‐lhe novos  triunfos, novas 
riquezas. Rodovias, linhas aéreas, fábricas, escolas, museu, biblioteca, ousada 
arquitetura moderna, que  realça, pelo contraste, a beleza dos  seus  sobrados 
coloniais, trazem‐lhe vida nova, integram‐na, de modo pleno, na economia, na 
cultura, na ativa efervescência dos tempos modernos.196 
Nessa  proposta,  a  figura  profissional  do  arquiteto  ganhou  protagonismo.  Foi 
Rodrigo de Melo Franco de Andrade que sugeriu o nome de Oscar Niemeyer para Juscelino 
Kubitschek ainda nos anos 1940. O então prefeito de Belo Horizonte estava insatisfeito com o 
resultado do concurso que havia promovido para os projetos na Pampulha, elaborados “em 
estilo convencional” sem responder a beleza que “extasiava os olhos” na região. Andrade, em 
visita a Belo Horizonte acompanhado de Niemeyer, sugeriu que Kubitschek conversasse com 
o arquiteto, que possuía “impressionantes dons de originalidade”197.   
Imediatamente, providenciei para que o conduzissem ao meu gabinete. Pouco 
depois, entrava um jovem, de aspecto tímido, visivelmente constrangido por 
se  encontrar  com  o  Prefeito  da  cidade.  Expliquei‐lhe  meu  problema  e 
perguntei‐lhe  se  desejava  cooperar  comigo,  apresentando‐me  algumas 
sugestões.198 
Ao descrever as ideias que tinha em mente, Kubitschek sugere um restaurante e 
também uma igreja “sob invocação de São Francisco – o mesmo patrono do velho templo de 
                                                      
195 SIMÕES, Josanne Guerra. Sirênico Canto: Juscelino Kubitschek e a construção de uma imagem. Op. cit. p. 88. 
196 KUBITSCHEK,  Juscelino. Discurso:  solenidade  de  formatura  da  primeira  turma  de  cirurgiões‐dentistas  da 
Faculdade de Odontologia de Diamantina. 15 de dezembro de 1956. Biblioteca da Presidência da República. 
197 KUBITSCHEK, Juscelino. Meu caminho para Brasilia. Volume 2. Rio de Janeiro, RJ: Bloch, 1974, p.35. 
198 Versão preliminar do livro Meu caminho para Brasília com anotações manuscritas. Na versão final, o encontro é 
narrado suprimindo a impressão de constrangimento de Niemeyer. KUBITSCHEK, Juscelino. Meu Caminho para 
Brasília. 2º Volume. In: Biblioteca do Memorial JK. 
105 
 
 
 
Diamantina, no  interior da qual estava sepultado meu pai”199. Oscar Niemeyer observou o 
terreno com atenção e no dia seguinte apresentou seus desenhos para o conjunto, fazendo com 
que o prefeito vislumbrasse “a beleza daquelas formas arquitetônicas”200. 
Juscelino Kubitschek conta que estava “ciente da revolução que se processava na 
Europa,  liderada por Le Corbusier”201. Por mais que parecesse “imprudente  tentar  impor a 
arquitetura moderna” dentro de Minas Gerais, um estado de espírito conservador não apenas 
na esfera artística, mas também política e social, Kubitschek “julgava que o sopro renovador 
só poderia  ser benéfico  ao  conforto  e  ao bem  estar do homem”  202  e,  consciente do passo 
ousado, aceitou o projeto de Niemeyer. 
Se  lança  os  olhos  para  os  dias  de  hoje,  vê  oobservador  como  o Arquiteto 
continua ser o  intérprete das  ideias e da civilização de nossa época, de seus 
anseios democráticos e de sua aspiração de entendimento e harmonia social. A 
moderna  Arquitetura  busca  expressá‐los  pelo  uso  franco  e  natural  dos 
materiais de construção, pela supressão das partes  inúteis, pela variação na 
simplicidade, pela economia do  tempo, do espaço e do  trabalho, combinados 
com  um  senso  de  liberdade  que  suprime  a  ideia  de  confinamento.  É  uma 
Arquitetura funcional e orgânica, que se coloca a serviço do individual sem 
jamais esquecer o social. Em verdade,  [...]   é ela o retrato  fiel destes nossos 
tempos de imprevisíveis arrancadas para os caminhos do futuro.203 
Se a arquitetura colonial serviu como base para solidificar uma imagem de político 
que  valoriza  as  tradições,  a  arquitetura moderna marca  seu  percurso  como  provedor  do 
desenvolvimento e realizador democrático.  
Lucio Costa, em nota inserida em uma publicação posterior de “Razões da Nova 
Arquitetura”  afirma  que  “ser moderno  é  –  conhecendo  a  fundo  o  passado  –  ser  atual  e 
                                                      
199 KUBITSCHEK, Juscelino. Meu caminho para Brasilia. Volume 2. Rio de Janeiro, RJ: Bloch, 1974, p.36. 
200 Versão preliminar do  livro Meu caminho para Brasília com anotações manuscritas. KUBITSCHEK, Juscelino. 
Meu Caminho para Brasília. 2º Volume. In: Biblioteca do Memorial JK, p 57. 
201 Ibidem, p. 58. 
202 Idem. 
203 KUBITSCHEK, Juscelino. Discurso do Excelentíssimo Senhor Governador ao agradecer as homenagens que lhe 
foram prestadas na Escola de Arquitetura, com a  inauguração de seu busto, em bronze em 1954.  In: MATTOS, 
Anibal. Universidade de Minas Gerais. Atividades da escola de arquitetura: relatório apresentado pelo diretor. Belo 
Horizonte: Edições Arquitetura, 1955. 
106 
 
 
 
prospectivo”204. Se a partir dos anos 1920 Diamantina  é associada à  ideologia do passado, 
através da questão patrimonial, da referência para os fundamentos coloniais do modernismo 
e das intervenções dos anos 1950 há uma expansão da ideologia da cidade como protagonista 
na discussão do passado e do futuro conectados por atitudes políticas e práticas estéticas que 
envolviam  textos,  fotografias  e  arquitetura.  Uma  proposta  de  vanguarda  aplicável  nos 
pequenos municípios, grande maioria nacional com as quais os brasileiros se identificam, mas 
também em novas e grandes metrópoles, como Brasília. Em gesto análogo ao que Lucio Costa 
e Juscelino Kubitschek fizeram em Diamantina, Oscar Niemeyer traduziu em linhas os anseios 
de um progresso latente, criando os projetos necessários para o homem brasileiro moderno. 
 
 
Figura 42: Primeira Missa em Brasília, 3 de maio de 1957. 
Sabe‐se que Erich Hess também fotografou o evento (Cf. GRIECO, 2013, p.42). Autor: Mário Fontenelle, 1957. 
 
                                                      
204 COSTA, Lucio. Razões da nova arquitetura.  In: Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: 
Empresa das Artes, 1997, p. 116. 
107 
 
 
 
3. PERCURSO EM DIAMANTINA: OSCAR NIEMEYER 
Percurso pode expressar tanto o ato de caminhar pela linha que atravessa o espaço 
como um objeto arquitetônico, quanto o lugar percorrido como uma estrutura narrativa1. Nas 
suas ruas e capistranas, Diamantina demonstra não apenas as transformações e permanências 
pelas quais passou entre os anos 1920 e 1950, mas também perpassa os pontos fundamentais 
do percurso da arquitetura brasileira no período: Lucio Costa e as viagens de observação do 
conjunto  colonial,  a  atuação  do  SPHAN,  a  presença  e  atividade  política  de  Juscelino 
Kubitschek e, por fim, as construções das obras de Niemeyer. 
Oscar Niemeyer desembarcou  em Diamantina pela primeira  vez  em  1951. Em 
junho  daquele  ano,  Rodrigo  Melo  Franco  de  Andrade  enviou  um  telegrama  ao  então 
Governador  Juscelino Kubitschek avisando que Niemeyer  iria para a cidade no começo do 
mês seguinte2.   A visita estava associada aos projetos encomendados por Kubitschek e que, 
com a anuência e coordenação do SPHAN, foram desenhados pelo arquiteto.  
Seu nome começou a aparecer nas notícias diamantinenses naquele período. Na 
edição de três de junho de 1951, o jornal Voz de Diamantina publica, na coluna da Associação 
Comercial, o resultado de uma audiência com o Governador. Nela, foram discutidos quatro 
problemas:  a  construção  de  uma  estrada  asfaltada  entre  Belo Horizonte  e Diamantina,  o 
telefone urbano e interurbano para a cidade, a construção do Campo de Aviação e, por fim, o 
Hotel  de  Turismo.  Sobre  o  hotel,  consta  que  “o  projeto  já  foi  feito  pelo  grande  arquiteto 
Niemeyer”3. Nota‐se que o edifício é apenas parte de um panorama de demandas que  têm 
como cerne melhorar a comunicação de Diamantina com o país. 
Quando  chegou  ao  antigo Arraial  do Tijuco, Niemeyer  encontrou  uma  cidade 
parecida com aquela vista por Costa em 1924. Entre 1920 e 1950, a população que habitava o 
perímetro considerado urbano de Diamantina se manteve praticamente inalterada. Segundo 
os  recenseamentos,  foram  contabilizadas  pouco mais  de  seis mil  pessoas,  dados  que  se 
                                                      
1 CARERI, Francesco. Walkscapes: o caminhar como prática estética. Prefácio de Paola Berenstein Jacques, Gilles 
ATiberghien. Tradução de Frederico Bonaldo. São Paulo, SP: G. Gilli, 2013, p. 31. 
2 ANDRADE, Rodrigo M. F. Telegrama enviado ao Governador Juscelino Kubitschek em 16/06/1951. ACI/RJ‐SO 
Cx. 140 Pasta 628.4. 
3 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 44, n. 13, 03 de junho de 1951, p. 3.  
108 
 
 
 
refletem  nas  edificações:  o  número  de  prédios  também  não  apresentou  mudanças 
significativas e de 1.042 passou para 1.1574. Quantificar o núcleo onde seriam realizadas as 
intervenções torna possível compreender a importância das mesmas naquele contexto. 
No centro, a manutenção do número de edifícios também se explica pelo início das 
ações do SPHAN. Apesar da subordinação das  intervenções, na área convencionada como 
histórica,  ocorrer desde  o  início do processo  em  1938,  o primeiro documento definindo  o 
Perímetro de Tombamento só foi oficializado com a Lei Municipal nº69 em 31 de outubro de 
1949. Pouco depois, os edifícios foram projetados por Niemeyer.   
Se, para o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, tais projetos 
serviam  para  mostrar  que  estar  a  favor  da  preservação  da  cidade  não 
significava,  necessariamente,  estar  contra  as  ideias  de  “progresso”  e 
“modernidade”;  para  Juscelino Kubitschek,  eles  representariam  a  tradução 
mais perfeita de seu plano político para o estado e para o país, aplicado em sua 
cidade  natal.  Diamantina  tornou‐se,  assim,  um  território  para 
experimentações modernistas. 5 
A cidade histórica, para a qual Niemeyer estava desenhando, era retratada pelo 
fotógrafo Assis Horta. Complementando as questões levantadas por Erich Hess e participando 
do cenário local que  já contava com Chichico Alkmim, Horta foi, desde 1937, o profissional 
diamantinense  contratado  pelo  SPHAN  para  registrar  as  demandas  do  patrimônio  na 
localidade6.    É  seu  o  panorama  onde  podemos  observar  Diamantina  pouco  antes  das 
intervenções modernas, com os terrenos que receberiam os projetos ainda vagos: 
                                                      
4 Em 1920, a população provável na sede municipal era de 6252 pessoas. Em 1950, 6386 pessoas. Porém, os dados 
de 1950 fazem uma diferenciação entre urbano, suburbano e rural. Como não se conhece ao certo os perímetros 
considerados nos  recenseamentos,  ressalta‐se que,  em  1950, para  além das  6386 pessoas  e  1157  edificações na 
localização urbana, existiam também outros 3791 habitantes e 903 edificações na área suburbana. Acredita‐se que 
oque era considerado área urbana é próximo ao perímetro tombado pelo SPHAN e o suburbano as adjacências 
próximas. Vale ressaltar também que o Município de Diamantina era composto por vários distritos e mais de 80% 
da população habitava a área rural. Assim, em 1950, o município possuía cerca de 56 mil habitantes. Dados com 
referência  no  Annuario  Estatistico  de  Minas  Geraes  –  Recenseamento  de  1920< 
http://memoria.org.br/pub/meb000000468/anuario1921mg4/anuario1921mg4.pdf> 
e  no  no  Anuário  Estatístico  de  Minas  Gerais  –  Recenseamento  de  1950 
<http://memoria.org.br/pub/meb000000468/anuario1950mg/anuario1950mg.pdf> Acesso em 10 jan. 2019. 
5 GONÇALVES, Cristiane Souza. Experimentações  em Diamantina. Um estudo  sobre a atuação do SPHAN no 
conjunto urbano tombado 1838‐1967. Tese de Doutorado– FAUUSP, São Paulo: 2010, p.158. 
6 Contratado pelo próprio Rodrigo M. F. de Andrade quando este, na visita antes do tombamento, procurou alguém 
que trabalhasse com fotografia para ser assistente do Serviço em Diamantina. Assis Horta, então com 19 anos, tinha 
acabado de abrir o “Photo Assis” e se ofereceu para a função. Prestou serviços ao SPHAN como freelancer até 1945, 
109 
 
 
 
 
Figura 43: Panorama de Diamantina. 1948. Autor: Assis Horta. Fonte: Acervo Museu do Diamante. Em vermelho, alterações 
da autora destacando a futura localização dos projetos de Oscar Niemeyer. 
 
As  obras  construídas  se  aproximam  gradualmente  do  tecido  histórico:  a  Sede 
Social do Diamantina Tênis Clube fica no  limite da área protegida, mas fora dela; o Grupo 
Escolar  Professora  Júlia  Kubitschek  também  está  no  limiar,  porém  dentro  do  perímetro 
tombado; a Faculdade de Odontologia possui uma localização mais privilegiada e o Hotel de 
Turismo é o que assume uma posição central de destaque (Figura 44).  
                                                      
quando  foi  contratado oficialmente  como  funcionário do Patrimônio. Suas  atribuições  incluíam não  apenas os 
levantamentos  fotográficos, mas  também medições, pesquisas nas documentações das ordens  religiosas e até o 
desenvolvimento de croquis para os processos de  tombamento.   Cf. SILVA, Cleber Soares da. O olhar de Assis 
Horta: Tradição e dignidade em retratos de operários. 308 f. Dissertação (Mestrado) ‐ Curso de Pós‐graduação em 
Artes, Cultura e Linguagens, Instituto de Artes e Design, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2017. 
Disponível em: <https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/6585>. Acesso em: 03 jan. 2019. 
110 
  
 
Figura 44: Mapa de Diamantina no séc. XX com destaque para as obras de Niemeyer. Fonte: Elaborado pela autora (2019) 
110 
 
 
 
 
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111 
 
 
 
Lucio Costa, em 21 de outubro de 1953, assina estar de acordo com as informações 
passadas em um documento, enviado por José Souza Reis, com as atualizações dos projetos 
em Diamantina: 
Localização das novas construções do ponto de vista da DPHAN. 
a) Grupo Escolar 
Parece‐nos  bem  localizado,  num  terreno  de  encosta  e  com  o  necessário 
desafogo. A excelência do projeto, que está sendo executado com apuro, deverá 
fazer dessa construção mais um elemento de interesse para a cidade. 
b) Hotel 
A localização do prédio é mais central, mas o terreno, também de encosta, é 
bastante amplo. 
c) Clube de Esportes 
Será construído um novo prédio, projetado pelo Oscar Niemeyer, no terreno 
do atual clube, fora da zona tombada. 
d) Escola de Odontologia 
Está sendo iniciada uma construção de volume considerável, dentro da zona 
tombada. Informou‐nos o Dr. Brandão Costa que só conseguiu obter o projeto 
agora, depois de muita insistência junto aos responsáveis. 
O  arquiteto  Oscar  Niemeyer  recebeu  do  Governador  a  incumbência  de 
modificar o projeto, medida essa de grande interesse para a DPHAN.7  
O informativo demonstra a anuência de Costa, a recorrência do nome de Niemeyer 
nas construções do período que eram de interesse do SPHAN e a onipresença de Kubitschek. 
É um indicativo da relação dos três nomes em Diamantina e das questões que vem a seguir. 
As especificidades dos projetos já foram analisadas por Danilo Matoso Macedo8 e por Bruno 
                                                      
7 REIS, José de Souza. Informação n.245 ao diretor, Rodrigo Melo Franco de Andrade, em 19/10/1953. ACI/RJ‐SO, 
Pasta 482, Cx. 106. 
8 Cf. MACEDO, Danilo, A Matéria da  Invenção: Criação e construção das obras de Oscar Niemeyer em Minas 
Gerais. 1938‐1954, Dissertação de mestrado, Belo Horizonte: UFMG, 2002. 
112 
 
 
 
Tropia Caldas9. Caldas, ao estudar o trabalho de Oscar Niemeyer em Diamantina, descreveu 
questões projetuais e de pesquisa formal. Portanto, neste trabalho, pretende‐se apresenta‐los 
brevemente apenas como meio para elucidar novas colaborações vindas da interlocução entre 
as fontes primárias e a trajetória de Costa, Kubitschek e Niemeyer na cidade. 
A Sede Social do Diamantina Tênis Clube,  situada na Praça de Esportes,  foi 
desenhada para receber reuniões e  festas. Além da excepcionalidade por ser um programa 
voltado ao lazer, até então pouco explorado pelo arquiteto10, foi o projeto que veio de um gesto 
mais  livre. Desde  a  versão  inédita  encontrada no Arquivo Público Municipal  (Figura  45), 
expressava  o  desejo  de  transparência  e  curvas  delimitando  as  fachadas mais  extensas  do 
edifício, paralelas ao espinhaço. Na prancha desta variante, há uma breve descrição, escrita à 
mão, das intenções: 
A  solução  localiza o  clube na parte mais apropriada do  terreno de  forma a 
garantir para o mesmo ambiente amplo e agradável, assim como vista para as 
dependências  e  jardins do clube. A parte de vestiários  será  situada  junto à 
piscina constituindo um conjunto interessante com marquises, bares, etc.11 
A versão posterior, publicada por Papadaki12, conta com alterações na fachada e 
na forma como os ambientes foram dispostos (Figuras 46, 47 e 48). Se antes eram previstos dois 
volumes distantes para que um deles servisse de apoio próximo à piscina, nesta nova hipótese 
eles estariam diretamente conectados. Mais próximo desta, o projeto realizado apresenta ainda 
novas  alterações.  O  aspecto  exterior  permaneceu,  mas  o  edifício  de  apoio,  que  seria 
implantado perpendicular  ao  volume principal,  não  foi  feito.  Já  a  escada  foi  realizada de 
maneira diversa, em um lance reto. O que perdurou comum a todas as propostas foi o grande 
                                                      
9 Cf. CALDAS, Bruno Tropia. Velho Tejuco moderno: A presença da arquitetura de Oscar Niemeyer em Diamantina 
– MG. 245  f. Dissertação  (Mestrado)  ‐ Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. 
10 Segundo Caldas, seria a terceira proposição de Niemeyer para este fim, sendo que os antecessores são a Iate Clube 
da Pampulha (Belo Horizonte, 1940) e o Iate Clube Fluminense (Rio de Janeiro, 1945). Cf. CALDAS, op. cit., p. 98. 
11 Praça de Esportes. Arquivo Púbico Municipal de Diamantina – Série Plantas Diversas Antigas. Cx. 07. 
12 Niemeyer projeta, no mesmo período, o Clube Libanês de Belo Horizonte. Uma proposta muito semelhante ao 
Clube de Diamantina tanto na primeira versão, parecida com o desenho dos arquivos da prefeitura diamantinense, 
quanto a versão posterior, publicada por Papadaki. Devido à grande semelhança, muitas vezes os projetos são 
confundidos ao serem apresentadas. Para diferenciar as maquetes, por exemplo, foi adotada a estratégia de mudar 
o cenário e sabia‐se que projeto era o de Diamantina porque havia uma torre de igreja ao fundo. Cf. CALDAS, op. 
cit., p. 110‐122; PAPADAKI, Stamo. Oscar Niemeyer: Works in progress. New York: Reinhold, 1956. p. 112‐124.113 
 
 
 
terraço  do  pavimento  superior,  com  posição  privilegiada  para  vislumbrar  a  cidade  e  a 
paisagem características. Por fim, o conjunto que ainda se observa pode ser lido a partir de 
dois elementos formais: “uma laje apoiada sobre um arco e a partir dele avançando em balanço 
para ambos os  lados” e “uma abóbada  curva em  concreto apoiada  sobre um par de arcos 
perimetrais  que  chegam  independentes  até  o  solo  sobrepondo‐se  ao  primeiro  elemento  e 
cobrindo parte do terraço acima”13. 
 
                                                      
13 MACEDO, Danilo Matoso. Da matéria à  invenção: as obras de Oscar Niemeyer em Minas Gerais, 1938‐1955. 
Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2008, p. 241. 
Figura 45: Projeto da Sede Social do Diamantina Tênis Clube. Fonte: Arquivo Público Municipal de Diamantina.
114 
 
 
 
 
Figura 46: Sede Social do Diamantina Tênis Clube ‐ Térreo 
1. Entrada 2. Salão de jogos 3. Balcão 4. Sala de jantar privativa 5. Restaurante  
6. Sanitários 7. Barbearia. 8. Salas privativas de jogos  
Fonte: Papadaki (1956) 
 
Figura 47: Sede Social do Diamantina Tênis Clube ‐ Primeiro Pavimento 
9. Terraço 10. Salão 11. Bar 12. Serviço 13. Sala de leitura 14. Sanitários 
Fonte: Papadaki (1956) 
 
Figura 48: Croquis. Fonte: Papadaki (1956) 
115 
 
 
 
 
Figura 49: Sede Social em construção na Praça de Esportes. 
Fonte: Museu do Diamante. In: Caldas (2014, p.98) Autor: Assis Horta. 
 
Apesar de ser a primeira proposição elaborada por Niemeyer para Diamantina 14, 
foi aquela cuja obra mais se estendeu. Em 1955, a Sede Social do Diamantina Tênis Clube era 
anunciada  na  imprensa  diamantinense  como  “a maior  e mais  arrojada  criação  de  Oscar 
Niemeyer já conhecida na América do Norte e Europa”15, mas três anos mais tarde já surgiam 
denúncias quanto a paralisação da construção e a ausência de repasses de verbas do governo 
estadual. Ressaltava‐se que Kubitschek, então presidente da república, enviava os recursos, 
porém o governador se recusava a disponibilizá‐los e enquanto isso o edifício se degradava16. 
No  ano  seguinte,  com  tom  ainda menos  ameno  e  com  críticas direcionadas  ao 
projeto, no contexto que Brasília estava sendo concluída, a Voz de Diamantina vinculava os 
julgamentos sobre a Sede Social aos pareceres  feitos sobre a nova capital. Comentando um 
artigo  para  a  revista  “Mundo  Ilustrado”,  onde  críticos  de  arte,  citando  particularmente 
Charlotte Perriand,  contrapunham os  luxuosos  edifícios públicos a aqueles  construídos ao 
lado com falta de ar, luz e comodidades, o autor escreve:  
                                                      
14 CALDAS, op. cit., p. 99. 
15 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 52, n. 40, 02 janeiro 1955. 
16 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 52, n. 15, 26 janeiro 1958. 
116 
 
 
 
Não seria este cronista a quem faltam maiores conhecimentos no assunto, a 
pessoa indicada para criticar tal celebridade conhecida e comentada no mundo 
inteiro. Mas um exemplo frisante do que disseram os críticos de arte, é a Sede 
Social do Diamantina Tenis Clube desta cidade. Ao lado de custosas obras de 
esquadrias de alumínio, vidraçaria, plataformas, etc.,  ficaram as  instalações 
para toilete. Pobres, mal ventiladas, inadequadas, onde não se poderá colocar 
um móvel para que uma senhora possa empoar o rosto como deve. Mas como 
diz o rifão popular: “errar é humano”. E um Oscar Niemeyer não erra: quando 
muito se engana.17 
No início de 1960, as obras retomam com novo fôlego. No final daquele ano, após 
quase uma década, o projeto é concluído, mas permanece fechado e alvo de questionamentos. 
Inclusive a autoridade excessiva de Kubitschek é indagada, porque, segundo o cronista, ele 
impôs a localização e o projeto do edifício “a seu belo prazer”18. Por fim, a inauguração oficial 
aconteceu em setembro de 196219. Naquela década, o edifício teve seu auge e recebeu eventos 
sociais, bailes, cursos e exposições. 
Nos anos 1970, as notícias referentes as programações passam a ser raras e o espaço 
é desocupado e fechado. Foi o início do estado de ruina que permanece até hoje (Figura 50). 
Sem o  respaldo do perímetro protegido pelo SPHAN, a medida de proteção adotada  foi o 
tombamento municipal em 200420. 
Se  por  um  lado  a  Sede  Social  na  Praça  de  Esportes  recebe  críticas  e  ressalvas 
comuns à relação entre político e arquiteto, por outro demonstra a capacidade inventiva de 
Niemeyer dialogando com um lugar com as variáveis de Diamantina. As linhas que compõe 
o edifício contrastam com o casario, mas mantêm as proporções do conjunto. Quem olha de 
longe, percebe a curva que se apoia no terreno sem prejudicar a observação do que está além. 
Quem  está  no  edifício,  no  alto  da  ladeira,  observa  o  centro  histórico.  A  cidade  colonial 
permanece como protagonista. 
                                                      
17 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 54, n. 04, 25 outubro 1959. 
18 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 55, n. 13, 25 dezembro 1960. 
19 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 56, n. 48, 16 setembro 1962. 
20 Inscrição no Livro de Tombo 07/2004‐ Decreto n° 44 de 12 de abril de 2004. 
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Figura 50: Vista aérea de Diamantina com destaque para a Praça de Esportes, 2019.  
Fonte: Acervo Rupestre Imagens. Autor: Michel Becheleni. 
 
 
Figura 51: Vista aérea da Sede Social do Diamantina Tênis Clube na Praça de Esportes, 2019. 
Fonte: Acervo Rupestre Imagens. Autor: Michel Becheleni. 
 
118 
 
 
 
 
Figura 52: Sede Social do Diamantina Tênis Clube. Fonte: Acervo da autora, 2017. 
119 
 
 
 
Enquanto a arquitetura e as dificuldades  relacionadas ao projeto e  sua viabilização 
marcaram o clube, o programa e o atendimento a demandas sociais e econômicas seriam as 
principais  questões  associadas  aos  edifícios  educacionais  desenhados  por  Niemeyer  em 
Diamantina.  
O  Grupo  Escolar  Julia  Kubitschek21,  hoje  Escola  Estadual  Professora  Julia 
Kubitschek,  foi um dos melhoramentos anunciados por  Juscelino Kubitschek ao assumir o 
governo  estadual. A notícia no  jornal A Estrela Polar  sobre o discurso que  faz na  cidade, 
poucos meses depois da posse, conta que: 
Citou três cousas que pretende fazer em futuro próximo em Diamantina: um 
hotel de turismo, mais um grupo escolar e uma estrada de automóvel ligando 
Diamantina  à  Bahia.  A  grande massa  popular  que  aglomerava  na  praça 
aclamou  delirantemente  o  Governador  e  os  demais  visitantes,  enquanto 
estrondavam foguetes e dinamites em todos os recantos da cidade. 22 
 O  grupo  escolar  recebeu  o  nome  da  mãe  do  ex‐presidente,  professora  em 
Diamantina por mais de trinta anos. Além de uma homenagem à sua progenitora, Juscelino 
Kubitschek buscava atender às demandas do município. Ao viabilizar uma nova escola, a 
medida  atingia  diretamente  a  estatística  que  apontava  que  apenas  43%  da  população 
diamantinense com 10 anos ou mais sabia ler e escrever23.  
Num  cenário  onde  a  maioria  dos  edifícios  destinados  ao  ensino  na  cidade 
adaptavam‐se a imóveis inicialmente destinados a outros fins, construir uma escola e ainda 
propor  um  projeto moderno  reafirmava  as  transformações  pretendidas  por Kubitschek  e 
validava, em mais um programa atendido, a arquitetura como sua aliada.  
                                                      
21 Cf. BARACHO, Cláudia Elizabeth. Grupo Escolar Professora Júlia Kubitschek: modernização na arquitetura e 
nas  concepções  educacionais  em  Diamantina,  1951‐1961.  2016.  142  p.  Dissertação  (Mestrado  Profissional)  – 
Programa de Pós‐Graduação em Ciências Humanas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, 
Diamantina, 2016. 
22 A ESTRELA POLAR Apud BARACHO, op. cit., p. 83‐84. 
23 Dados com referência no Censo Demográfico de 1º VII 1950, realizado pelo InstituoBrasileiro de Geografia e 
Estatística  ‐  Conselho  Nacional  de  Estatística.  Cf.    < 
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/113/col_mono_n23_diamantina.pdf>.  Acesso  em  30  abr. 
2018.  
120 
 
 
 
Depois  da  Escola  Profissional  de  Belo  Horizonte,  de  1940,  e  do  Colégio  de 
Cataguases, de 1946, Oscar Niemeyer desenhava pela  terceira vez um  edifício  escolar24. O 
projeto da  escola de Diamantina, de 1951,  foi  realizado antes mesmo do Colégio Estadual 
Central na capital mineira, este de 1954. 
No antigo Arraial, a solução adotada pelo arquiteto apoia o edifício  
[...]  em  duas  fileiras  de  pilares  ovais  e  circulares  separadas  em  6,4m,  com 
intervalo  de  7,4m  entre  si,  configurando  um  pilotis  recuado  quase 
convencional.  A  cada  pilar  corresponde  uma  divisão  de  sala  de  aula  no 
pavimento superior e também uma mão francesa de seção variável em concreto, 
sustentando pela borda o avanço da laje de cobertura.25 
No  térreo, organizam‐se as áreas da diretoria, dos professores, de  refeições, de 
apoio e um espaço coberto para os alunos. A conexão entre os andares acontece por uma rampa 
(Figura 53).  
 
 
Figura 53: Grupo Escolar Julia Kubitschek – Plantas 
1.Entrada 2. Salão 3. Pátio coberto 4. Refeitório 5. Cozinha 6‐8. Secretaria, sala da diretoria e sala dos professores 9‐10. 
Consultório odontológico 11‐12. Consultório médico 13. Sanitários 14. Rampa 15. Corredor 16. Sala de aula 
Fonte: Papadaki (1956) 
                                                      
24 CALDAS, op. cit., p. 151. 
25 MACEDO, Danilo Matoso. Da matéria à  invenção: as obras de Oscar Niemeyer em Minas Gerais, 1938‐1955. 
Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2008, p. 281. 
121 
 
 
 
 
 
Figura 54: Grupo Escolar Julia Kubitschek ‐ Corte Transversal 
Fonte: Papadaki (1956) 
 
 
Figura 55: Grupo Escolar Julia Kubitschek ‐ Croqui 
Fonte: Papadaki (1956) 
 
 
A pedra fundamental do novo edifício foi  lançada em abril de 195326 e, um ano 
depois, as obras foram concluídas. 
Como sempre acontece, o eminente Governador do Estado aqui chegava em 
caráter particular, não só para visitar sua terra, como ainda para fiscalizar as 
diversas obras que o seu governo realiza neste Município. [...] o Grupo “D. 
Julia Kubitschek”  já  concluído,  constituindo  este um  belo prédio de  linhas 
absolutamente  modernas  e  portentosas.  As  suas  dependências  foram 
                                                      
26 No mesmo dia,  também  foi  lançada a pedra  fundamental da Sede Social do Diamantina Tênis. Cf. VOZ DE 
DIAMANTINA. Diamantina, ano 50, n. 01, 05 abril 1953.  
122 
 
 
 
percorridas pelo Sr. Governador e demais pessoas que puderam constatar o 
estilo e a amplitude de suas instalações.27 
A inauguração oficial aconteceu no dia 19 de junho de 1954. Na cerimônia, no final 
de seu discurso, Juscelino Kubitschek “prestou uma homenagem ao arquiteto Oscar Niemeyer 
e aos engenheiros que executaram a planta”28. Não há registros da presença do arquiteto no 
evento, nem de um acompanhamento mais assíduo das obras, ao contrário de Kubitschek, 
cujas visitas oficiais ou repentinas marcaram o governo estadual.  Porém, a menção do nome 
do profissional ajuda a demonstrar o significado do político de ter confiado a um arquiteto 
específico aquele trabalho.  
Não apenas Kubitschek depositava  suas aspirações  em Niemeyer. A  escola, ao 
contrário da sede social, já foi desenhada dentro do perímetro tombado, contudo o acervo do 
SPHAN não revela muito sobre o seu projeto. Sabe‐se que o Serviço acompanhou as obras, 
mas pouco registra o período entre desenho e construção. Os arquivos mais significativos são 
as fotografias feitas por Marcel Gautherot do prédio recém acabado29 (Figuras 56 e 57). 
 
 
Figura 56: Grupo Escolar Julia Kubitschek, 1956. Fonte: ACI/RJ‐SI, Pasta 04, Cx. 32. Autor: Marcel Gautherot. 
                                                      
27 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 51, n. 50, 14 março 1954, p.1. 
 
28 A ESTRELA POLAR. Diamantina, ano 52, n. 25, 27 junho 1954. 
29 Arquivo Central do IPHAN/Seção Rio de Janeiro – Série Inventário. MG Pasta 04, Cx. 32. 
123 
 
 
 
 
 
Figura 57: Pátio coberto Grupo Escolar Julia Kubitschek. Figura 49: Grupo Escolar Julia Kubitschek, 1956.  
Fonte: ACI/RJ‐SI, Pasta 04, Cx. 32. Autor: Marcel Gautherot. 
 
Em 1964, o Grupo Escolar volta para a pauta dos jornais de Diamantina. Alega‐se 
a  necessidade  de  um muro  para  evitar  os  roubos  e  danos  que  estavam  sendo  feitos  nas 
instalações, além do uso do saguão aberto para “toda sorte de sujeira”30.   Três anos depois, 
anuncia‐se que a escola não funcionaria no ano letivo corrente por falta de reparos, chegando 
ao ponto de “não poder receber os alunos, porque não oferece segurança”31. 
De modo  que, mais de 600  crianças  terão  seus  estudos  interrompidos  [...]. 
Enquanto  isso,  o magnífico prédio  que  custou milhões  ao Estado  e  que  foi 
projetado pelo  famoso arquiteto Niemeyer, a ação do  tempo vai dia a dia se 
deteriorando.  Nenhuma  providência  se  tomou  até  agora  para  a  sua 
recuperação,  pois  ninguém  se  lembra  de  nós  e  estamos  há  muito  tempo 
marginalizados [...]32 
                                                      
30 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 58, n. 14, 05 janeiro 1964. 
31 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 61, n. 20, 12 março 1967. 
32 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 61, n. 17, 19 fevereiro 1967. 
124 
 
 
 
O período político era delicado e nota‐se o abandono do edifício em um contexto 
pós‐golpe  de  1964.  Naquele  momento,  Kubitschek  estava  perdendo  sua  hegemonia  em 
Diamantina: desde o início das eleições diretas pluripartidaristas até o final dos anos 1960, o 
candidato que apoiava vencia as disputas municipais33. Com os direitos políticos cassados e 
no exílio que durou até 1967, a crise de um projeto  icônico para Kubitschek em sua cidade 
natal, e ainda relacionado à educação, é significativa. Por fim, as atividades retomam e, em 
1969, uma nota avisa: “Niemeyer ficou triste quando soube que o Grupo foi murado. Mas foi 
o remédio contra a fúria iconoclasta dos mal‐educados”34. 
Ressaltam‐se  também outras alterações ao  longo do  tempo. A rampa  interna se 
tornou  um  imenso  escorregador  que  causava  grande  alvoroço  entre  os  alunos,  até  que  o 
revestimento e o corrimão foram trocados. Além disso, um dos módulos das salas de aula era 
um bloco de sanitários no piso superior. Problemas técnicos o inutilizaram e em uma reforma 
ele passou a integrar o conjunto como mais uma sala. Porém, o vazamento principal não foi 
resolvido e, nos anos 1980, notou‐se que a infiltração estava comprometendo a estabilidade do 
conjunto. Como solução, foi construída uma fileira adicional de pilares no térreo. Ademais, 
atendendo a demandas práticas, uma biblioteca e novos sanitários  foram  improvisados no 
primeiro  andar.  Outras  necessidades  citadas  pelos  membros  da  escola  são  um  espaço 
adequado  para  as  atividades  físicas  e  um  auditório,  cujo  projeto  cogitou‐se  pedir  para 
Niemeyer em 200735.  
A Escola Estadual Professora Julia Kubitschek continua suas atividades e atende 
cerca de 500 alunos. Referência na região, o apreço da comunidade pelo  local é sentido nas 
visitas. Mantem‐se o uso original do prédio, assim  como um painel de Di Cavalcanti, que 
recebe os estudantes na área comum desde os anos 195036. Das salas de aula, a implantação do 
edifício privilegia  a vista de Diamantina. Assim, mesmo dentro de um  espaço que pouco 
lembra as construções coloniais, a referência é mantida. 
                                                      
33 Cf. MARTINS, Marcos Lobato. “Quem é rei nunca perde a majestade”? JK na política de Diamantina no período 
934‐1970. Mneme ‐ Revista de Humanidades, v. 18, n. 41, 16 ago. 2018,p. 141‐142. 
34 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 63, n. 18, 02 março 1969. 
35 Joia modernista incrustada em território barroco: Escola é presente para a cidade dos diamantes. Projeto Design, 
São Paulo, n. 334, p.62‐71, dez. 2007. 
36 CALDAS, Bruno Tropia. Velho Tejuco moderno: A presença da arquitetura de Oscar Niemeyer em Diamantina 
– MG. 245  f. Dissertação  (Mestrado)  ‐ Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, Rio de Janeiro, 2014, p. 161‐162. 
125 
 
 
 
 
Figura 58: Vista aérea da Escola Estadual Professora Julia Kubitschek, 2019. 
Fonte: Acervo Rupestre Imagens. Autor: Michel Becheleni. 
 
Figura 59: Vista aérea da Escola Estadual Professora Julia Kubitschek, 2019. 
Fonte: Acervo Rupestre Imagens. Autor: Michel Becheleni. 
 
126 
 
 
 
 
Figura 60: Escola Estadual Professora Julia Kubitschek. Fonte: Acervo da autora, 2017. 
 
 Não é tão comentado o fato que, logo no começo, o prédio foi cedido para que a 
faculdade de odontologia iniciasse suas atividades:  
127 
 
 
 
A Escola [de Odontologia] vai funcionar provisoriamente no novo edifício do 
Grupo Julia Kubitschek, no início da Avenida da Saudade, estando já bastante 
adiantados os trabalhos de construção do edifício próprio, na Rua da Glória.37 
A  Faculdade  de  Odontologia  de  Diamantina  (FAOD)  surgiu  de  uma 
reivindicação da Associação Comercial e Industrial junto ao governo estadual38. O pedido foi 
atendido por Kubitschek e, em 30 de setembro de 1953, a FAOD foi criada pela Lei Estadual 
nº990.  Não  bastavam  apenas  estradas,  o  norte  de  Minas  Gerais  carecia  que  também 
diminuíssem as distancias em outras áreas e o ensino superior se apresentava como um dos 
caminhos. Noticiava‐se a importância da iniciativa: 
À primeira vista, o fato se apresenta como o da criação de mais um instituto 
de  ensino  superior  a  colocar‐se  ao  lado  dos  já  existentes.  Contudo,  o 
estabelecimento de uma Faculdade na vasta região do norte de Minas tem um 
sentido mais amplo, dada a utilidade do seu objetivo, destinada a atender uma 
zona do Estado que até hoje não conta com nenhum instituto universitário.39 
Para a construção da sede da faculdade, foi escolhido um terreno anexo à Santa 
Casa  de Caridade  que  se  estendia  até  a  Rua  da Glória,  associando  o  tradicional  eixo  de 
educação  representado por  essa via  ao uso  relacionado  à  saúde dos  edifícios hospitalares 
existentes. Concluídos os arranjos para a disponibilização do terreno, o 2º Tenente arquiteto 
Raimundo Nonato Veloso elaborou a primeira versão do projeto40.  
Porém,  como anunciado pelo documento do SPHAN  já  citado41, o Governador 
solicita que Niemeyer interfira no projeto, fato “de grande interesse” também para o órgão de 
proteção. Assim, nos arquivos, encontram‐se os desenhos de Nonato Veloso já com alterações 
a lápis modificando, principalmente, o volume do auditório (Figura 62). 
                                                      
37 A ESTRELA POLAR. Diamantina, ano 52, n. 17, 02 maio 1954. 
38 CALDAS, op. cit., p. 168. 
39 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 52, n. 05, 02 maio 1954. 
40 O  conjunto  de  desenhos  apresentados,  assinado  pelo  arquiteto  da  Polícia Militar,  não  possuía  o  título  de 
faculdade, mas sim “Projeto do Conservatório de Música de Diamantina”. “Nesse  ínterim [entre a aquisição do 
terreno e escolha do arquiteto], iniciou‐se a terraplanagem e preparação do lote, como se fosse para a construção 
de outro grupo escolar, artifício utilizado, para que não se espalhasse a notícia da criação de uma Faculdade em 
Diamantina, evitando‐se, assim, contratempo, com os adversários políticos e o surgimento de pedidos similares 
para outras regiões do Estado” FERNANDES; CONCEIÇÃO: 2005 apud CALDAS, op. cit., p. 169‐170. 
41 REIS, José de Souza. Informação n.245 ao diretor, Rodrigo Melo Franco de Andrade, em 19/10/1953. ACI/RJ‐SO, 
Pasta 482, Cx. 106. 
128 
 
 
 
 
Figura 61: Faculdade de Odontologia/ Conservatório de Música de Diamantina ‐ Térreo. Fonte: IPHAN/ANS/RJ. In: Caldas 
(2014, p. 172) 
 
Figura 62: Faculdade de Odontologia/ Conservatório de Música de Diamantina – Primeiro Pavimento com alterações a lápis. 
Fonte: IPHAN/ANS/RJ. In: Caldas (2014, p. 172) 
 
Figura 63: Faculdade de Odontologia/ Conservatório de Música de Diamantina – Fachada lateral direita Fonte: 
IPHAN/ANS/RJ. In: Caldas (2014, p. 172) 
 
Figura 64: Perspectiva do projeto. Fonte: IPHAN/ANS/RJ. In: Caldas (2014, p. 173) 
129 
 
 
 
Não há como comprovar que as intervenções sobrepostas ao projeto original são 
de Niemeyer. No entanto, na sequência da pasta, encontra‐se um jogo de desenhos com o título 
“Faculdade de Odontologia de Diamantina: modificação do projeto” e em um deles aparece o 
escrito “Substitutivo de Oscar Niemeyer – outubro de 1953”42 (Figuras 65 a 69). 
 
       
Figura 65: Faculdade de Odontologia ‐ Térreo. Fonte: IPHAN/ANS/RJ. In: Caldas (2014, p. 181) 
 
 
 
Figura 66: Faculdade de Odontologia – Primeiro Pavimento. Fonte: IPHAN/ANS/RJ. In: Caldas (2014, p. 182) 
                                                      
42 CALDAS, op. cit., p. 171. 
130 
 
 
 
 
Figura 67: Faculdade de Odontologia – Corte com a indicação “Substitutivo de Oscar Niemeyer – outubro de 1953”. Fonte: 
IPHAN/ANS/RJ. In: Caldas (2014, p. 182) 
 
 
Figura 68: Faculdade de Odontologia – Fachada Principal. Fonte: IPHAN/ANS/RJ. In: Caldas (2014, p. 183) 
 
 
 
Figura 69: Faculdade de Odontologia – Fachada Rua da Glória. Fonte: IPHAN/ANS/RJ. In: Caldas (2014, p. 182) 
 
131 
 
 
 
Reportagens da época também anunciavam o edifício como sendo de autoria de 
Niemeyer  e  ajudam  a  comprovar  a  participação  do  arquiteto  na  intervenção.  A  Voz  de 
Diamantina, na edição 21 de novembro de 1954, escreve: 
A Faculdade de Odontologia de Diamantina [...] funciona em prédio próprio, 
também projetado por dr. Niemeyer, com policlínica, onde os alunos recebem 
instrução técnico científica, dispondo de vinte consultórios dentários dos mais 
modernos;  completo  aparelho  de  raio  X;  salas  para  aulas  teóricas,  salas 
individuais para a prática de todas as disciplinas do curso.43 
A conhecida urgência de Kubitschek para concluir seus planos e a relação cada vez 
mais consolidada entre político e arquiteto podem ter sido os fatores determinantes para que 
Niemeyer aceitasse o pedido de alterar um projeto  já em andamento. Bruno Caldas ressalta 
que  a  proposta deve  ser  compreendida de maneira  continua  ao  estudo  inicial de Nonato 
Veloso, sem que isso exclua os méritos de adaptação de Oscar Niemeyer, que além de alterar 
as plantas, modificou as fachadas e as deixou mais discretas na paisagem diamantinense44. 
O térreo se tornou mais livre com a inserção de pilotis, prevendo espaços abertos 
e fechamentos em alvenaria.  O muro de pedras demarca o acesso principal do edifício pela 
Rua da Gloria. Entre os níveis, uma grande escadaria permaneceu como elemento central do 
pátio, distribuindo o  fluxo entre as salas  localizadas nas  laterais do primeiro pavimento. O 
auditório, com planta trapezoidal mais marcada que a primeira versão, permaneceu na cota 
mais elevada do terreno com uma entrada independente voltada para a rua, mas implantado 
paralelo a via. A fachada mais extensa, com cerca de sessenta metros de comprimento, conta 
com cinco pequenas aberturas quadrangulares e um plano cego. Já a face menor possui cerca 
de vinte metros formando um prisma, com fechamento feito com tijolos alternados.45  
 
                                                      
43 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 52, n. 34, 21 novembro 1954. 
44 CALDAS, op. cit., p. 179. 
45 Ibid., p. 180‐181. 
132 
 
 
 
 
Figura 70: Vista da fachada da Rua da Glória, da fachada principal e do pátio interno. Fonte: Fernandes; Conceição: 2005 p. 
151. In: Caldas (2014, p.183) 
 
Mesmo dentro do perímetrode  tombamento, conforme a  faculdade crescia e as 
necessidades de  adaptação  surgiam,  o  edifício  sofreu drásticas  alterações  e  ampliações. O 
Instituto de Patrimônio chega a  tomar conhecimento das pretensões da faculdade nos anos 
1970.  No final de 1973, O chefe do 3º Distrito comunica que empreiteiros foram contratados 
para orçar “a construção de um prédio volumoso de ampliação daquela escola”46. O então 
diretor do IPHAN, Renato Soeiro, encaminha uma carta ao diretor da faculdade: 
[...] encareço a V. Sª., seja respetivo projeto submetido à prévia aprovação deste 
Instituto,  sob  pena  de  infringência  da  legislação  federal  de  proteção  ao 
patrimônio  histórico  e  artístico  nacional  e  de  atentado  equiparado  aos 
cometidos contra o patrimônio nacional.47 
A documentação encontrada não dá indícios quanto a continuação das discussões. 
Dos  quatro  projetos  de  Niemeyer  construídos  em  Diamantina,  a  faculdade  é  o  menos 
preservado. O crescimento e desenvolvimento da instituição, que se tornou ponto nodal não 
só para a educação, mas para o desenvolvimento da cidade e da  região, não passou pelas 
rigorosas exigências de manutenção do patrimônio.  
                                                      
46 LACERDA, Roberto. Chefe do 3º Distrito do IPHAN para o Direto Renato Soeiro. Ofício nº 347/73. 4 de dezembro 
de 1973. Arquivo Central do IPHAN/Seção Rio de Janeiro – Série Obras, Pasta 579, Cx. 198. 
47 SOEIRO, Renato. Diretor do IPHAN para o Diretor da Faculdade de Odontologia. Ofício nº 059. 9 de janeiro de 
1974. Arquivo Central do IPHAN/Seção Rio de Janeiro – Série Obras, Pasta 579, Cx. 198. 
 
133 
 
 
 
 
Figura 71: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM Campus I.  
Fonte: Acervo da autora, 2017 e Caldas, 2014. 
 
A principal permanência que se observa é o uso do edifício. Levar opções de ensino 
superior público para o norte de Minas Gerais, conhecido pela escassez de recursos, foi uma 
política adotada por Kubitschek reforçada por governantes no início do século XXI. Em 2002, 
a então Faculdade Federal de Odontologia (Fafeod), com a ampliação dos cursos ofertados, 
tornou‐se  Faculdades  Federais  Integradas  de Diamantina.  Em  2005,  foi  transformada  em 
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM e, em 2014, passou por 
nova expansão. O edifício na Rua da Glória, que recebeu a primeira turma de odontologia com 
quinze alunos, hoje, faz parte de um complexo com cinco campi da UFVJM espalhados por 
quatro cidades, somando mais de dez mil alunos. 48 
Dos quatro edifícios construídos de Oscar Niemeyer em Diamantina, o último a 
ser comentado é o Hotel de Turismo, ou Hotel Tijuco. O projeto é o mais centralizado em 
relação à área de tombamento e também o mais registrado nas documentações disponíveis no 
                                                      
48UFVJM: 65 anos de tradição em ensino. 2018. Disponível em: 
<http://www.ufvjm.edu.br/universidade/historia.html?lang=pt_BR.utf8%2C+pt_BR.UT>. Acesso em: 11 fev. 2019. 
134 
 
 
 
IPHAN. Assim, através dele, é possível lastrear com maior precisão a forma como os projetos 
se desenvolviam na tríade entre governo, patrimônio e arquiteto.  
A proposta da construção de um hotel de turismo em Diamantina vem de antes do 
governo estadual de Juscelino Kubitschek. Luis Kubitschek de Figueiredo, primo de Juscelino 
e o mesmo prefeito que havia solicitado a vinda de Lucio Costa e Rodrigo Melo Franco de 
Andrade a Diamantina em 194149, envia, em 1944, outra correspondência a Andrade: 
Com este,  tenho o prazer de passar as mãos de V. Excia., para o necessário 
parecer, dois ante‐projetos de construções que deseja esta Prefeitura realizar: 
o primeiro deles,  se  refere  a um hotel de  turismo;  a um  teatro,  o  segundo. 
Ambas as construções deverão ser feitas próximo à estação da Estrada de Ferro 
Central do Brasil, zona baldia que tive a oportunidade de mostrar ao Dr. Lucas 
Mayerhofer  e,  onde,  segundo  o  parecer  desse  técnico,  poderão  ser  feitas 
edificações em estilo moderno, visto não haver pelas imediações prédio algum 
em estilo colonial, devendo ser tido em conta, porém, um conjunto harmonioso, 
orientado  por  esse  Serviço. Apesar  disso,  solicitei  ao  arquiteto Virgilio  de 
Castro projetos não destoantes da parte colonial da cidade. Pelos “croquis” que 
anexo, poderá ser observada a localização das novas obras a serem executas.50 
No texto, chama a atenção a associação entre o distanciamento do núcleo histórico 
adensado e a possibilidade de construir um edifício em “estilo moderno”, mas subtende‐se 
que, apesar dessa opção, preferia‐se manter uma linguagem mais parecida com um arremedo 
do pré‐existente. Já o croqui mostra a possível localização do hotel de turismo (Figuras 72 e 
73), próximo à área de chegada na cidade, e o intuito de criar um núcleo de entretenimento ao 
relacionar o edifício de hospedagem com um novo teatro e com a Praça de Esportes. 
                                                      
49 FIGUEIREDO, Luiz Kubitschek. Carta do Prefeito de Diamantina para o Diretor Rodrigo de Melo Franco de 
Andrade. Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 24 de marco de 1941.  In: Arquivo Central do 
IPHAN/Seção Rio de Janeiro – Série Obras. Pasta 478, Cx. 105. 
50 FIGUEIREDO, Luiz Kubitschek. Carta do prefeito de Diamantina para o Diretor do SPHAN Rodrigo de Melo 
Franco de Andrade. 28 de julho de 1944. In: Arquivo Central do IPHAN/Seção Rio de Janeiro – Série Obras. Pasta 
478, Cx. 105. 
135 
 
 
 
 
Figura 72: Croqui do prefeito Luiz Kubitschek Figueiredo para o SPHAN indicando onde gostaria de construir o novo hotel, 
1944. Fonte: ACI/RJ – Série Obras. Pasta 478, Cx. 105. 
 
 
Figura 73: Mapa de localização do desenho enviado pelo prefeito em 1944. 
Fonte: Elaborado pela autora, 2019. 
136 
 
 
 
A documentação não tem continuidade no SPHAN, acredita‐se que as propostas 
não vão adiante. O caso pode estar relacionado com o fato que Luiz Kubitschek de Figueiredo, 
mesmo  tendo  sido  colocado  no  cargo  pela  influência  do  primo,  então  prefeito  de  Belo 
Horizonte,  se  tornou um dos  integrantes da  sua oposição  local51 e,  com  isso, perdeu  força 
política. 
A proposta de construir um hotel de  turismo para a cidade é retomada apenas 
quando  Juscelino Kubitschek  assume  como Governador  e  atende mais  uma  demanda  da 
Associação Comercial e Industrial de Diamantina. Kubitschek assume em janeiro de 1951 e em 
abril do mesmo ano iniciam‐se as correspondências no SPHAN a respeito do empreendimento. 
Rodrigo M. F. de Andrade envia um  telegrama para  João Brandão Costa52, colaborador do 
Patrimônio na cidade: 
Peço suas providências coligir remeter urgente fotografias elucidativas todos 
aspectos terreno Prefeitura Macau do Meio que Govenador Estado pretende 
utilizar construção novo hotel (ponto) Saudações 53 
Pelo  teor do pedido, pode‐se  inferir que a escolha do terreno na Rua Macau do 
Meio foi feita por Kubitschek. O  local, na memória de antigos moradores, era ”um extenso 
muro branco e pelo lado de dentro se viam belos mamoeiros, ameixas do Japão, laranjeiras de 
diversas qualidades e era a pequena chácara do Sr. Cosme Couto”54. Assim, apesar da posição 
privilegiada,  não  possuía  nenhuma  construção  expressiva  no  seu  centro,  como  é  possível 
observar  em  um  registro  aéreo  feito  por  Assis  Horta  (Figura  74).  Já  as  fotografias 
“elucidativas”  pedidas  por Melo  Franco  de Andrade,  foram  prontamente  encaminhadas. 
Quatro dias depois do pedido, Brandão Costa as envia (Figura 75). 
                                                      
51 Nas eleições de 1950, Luiz Kubitschek de Figueiredo  concorre pela UDN e perde para o  candidato do PSD, 
Lomelino Ramos Couto. Cf. MARTINS, Marcos Lobato. “Quem é rei nunca perde a majestade”? JK na política de 
Diamantina noperíodo 934‐1970. Mneme ‐ Revista de Humanidades, v. 18, n. 41, 16 ago. 2018, p. 135 ‐ 141. 
52 O advogado João Brandão, junto com o fotógrafo Assis Horta, eram os colaboradores do SPHAN em Diamantina. 
João  Brandão  era  funcionário  do Museu  do  Diamante  que,  ao  ser  incorporado  ao  SPHAN,  passou  a  ser  o 
colaborador do Seviço na cidade. Cf. GONÇALVES, Cristiane Souza. Experimentações em Diamantina. Um estudo 
sobre a atuação do SPHAN no conjunto urbano tombado 1838‐1967. Tese de Doutorado– FAUUSP, São Paulo: 2010, 
p. 109‐110. 
53 ANDRADE, Rodrigo M. F. Telegrama enviado ao Dr. João Brandão Costa em 23/04/1951. ACI/RJ‐SO Cx. 140 Pasta 
628.4.  
54 SANTOS, Luiz Gonzaga dos. Memórias de um carpinteiro. Belo Horizonte: Editora Bernardo Álvares, 1963. p.101‐
106. 
137 
 
 
 
 
Figura 74: Vista aérea de Diamantina, com alteração da autora para indicar o terreno do hotel, 1948. Fonte: ACI/RJ‐SI, Pasta 
03, Cx. 32. Autor: Assis Horta. 
 
 
Figura 75: Imagens enviadas por João Brandão Costa.  Oficío nº 42‐51 para Rodrigo M. F. de Andrade em 27/04/1951. Fonte: 
ACI/RJ‐SO Cx. 140 Pasta 628.4.   
138 
 
 
 
 
 Kubitschek, ao eleger este terreno, em detrimento daquele sugerido nos anos 1940, 
demonstra a opção por valorizar o centro histórico, ao invés de criar um novo eixo a partir da 
área de chegada da cidade. Alocar o Hotel de Turismo  tão próximo do núcleo colonial dá 
indícios do que se esperava oferecer ao visitante e que vista da cidade seria privilegiada. Além 
de ser uma estratégia política, uma vez que a obra ganharia maior visibilidade e estaria em 
maior consonância com as pretensões do SPHAN. 
A participação do governador em  todas as esferas de decisão e viabilização do 
projeto é sentida. Em  junho, uma nova correspondência a respeito do hotel é enviada, o  já 
comentado  telegrama  que  possivelmente  anuncia  a  primeira  ida  de  Oscar  Niemeyer  a 
Diamantina: 
 
Figura 76: Telegrama enviado por Rodrigo M. F. de Andrade ao Governador Juscelino Kubitschek em 16/06/1951. Fonte: 
ACI/RJ‐SO Cx. 140 Pasta 628.4. 
 
Ao  que  Kubitschek  responde:  “Muito  agradeço  presado  amigo  gentileza 
comunicação  constante  seu  telegrama  dia  15  corrente,  a  respeito  solicitação  dirigida 
Niemeyer”55.  
                                                      
55 KUBITSCHEK, Juscelino. Telegrama enviado ao Rodrigo M. F. de Andrade em 28/06/1951. ACI/RJ‐SO Cx. 140 
Pasta 628.4. 
139 
 
 
 
Concomitante às comunicações entre o Patrimônio e o governo estadual,  já era 
divulgado aos diamantinenses que Oscar Niemeyer seria o autor do projeto56. Era a segunda 
vez que Niemeyer projetava um hotel em um tecido colonial. A primeira experiência, com o 
Grande Hotel de Ouro Preto em 1938,  já  completava mais de uma década. Uma bagagem 
sentida nas propostas enviadas para Diamantina. A primeira versão elaborada pelo arquiteto 
pode ser encontrada nas pesquisas de Macedo57 e Caldas58 (Figuras 77 a 80) e comparada com 
a versão final, publicada por Papadaki (Figuras 81 a 84). 
A base do programa se manteve. No térreo: recepção, restaurante e demais apoios; 
no andar superior: vinte e quatro quartos. Porém, as diferenças das decisões de projeto entre 
as versões são notáveis. As alterações para o desenho  final  trouxeram as propriedades que 
tanto caracterizariam o edifício. O arrimo no térreo, que era uma curva com forma mais livre, 
passou a ser uma única linha reta que trouxe proporção mais adequada ao andar. No primeiro 
pavimento, os quartos  também  foram  redimensionados  e aqueles voltados para a  fachada 
principal ganharam uma varanda. Porém, a decisão que modificou a fachada e a relação do 
edifício com o exterior foi o partido estrutural.  
Em Diamantina, os calculistas dos projetos foram Werner Muller, na Sede Social 
do Diamantina Tênis Clube e no Grupo Escolar Julia Kubitschek, e Joaquim Cardozo no Hotel 
Tijuco59.  “Neste hotel, o avanço da laje da cobertura em direção à rua é sustentado por pilares 
inclinados  que  levam  cargas  até  o  solo.  De  seu  ponto  de  apoio,  surge  outro  pilar,  com 
inclinação oposta, reduzindo o vão da laje acima”60. A solução demonstra os desenvolvimentos 
estruturais que permitiam a existência de pilares em “V” numa modulação a cada 6,3 metros, 
ou seja, a cada dois dormitórios61. 
                                                      
56 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 44, n. 13, 03 junho 1951. 
57 MACEDO, Danilo. A Matéria da Invenção: Criação e construção das obras de Oscar Niemeyer em Minas Gerais. 
1938‐1954, Dissertação de mestrado, Belo Horizonte: UFMG, 2002, p.420. 
58 CALDAS, op. cit., p. 130‐132 
59 Cf, NASCIMENTO, Elisa Fonseca. “Arte e técnica na obra de Joaquim Cardozo : notas para a construção de uma 
biografia intelectual.” Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro : UFRJ/PROURB/Programa de Pós‐Graduação em 
Urbanismo, 2007; MACEDO, Danilo. Op.cit. 
60 MACEDO, op. cit., p. 457. 
61 Os “V”s do Hotel no Tijuco, criados por Niemeyer e calculados por Cardozo, seriam, segundo diversos autores, 
influência determinante na arquitetura brasileira,  começando pelo Museu de Arte Moderna do Rio de  Janeiro, 
projetado por Affonso Eduardo Reidy  três anos depois. Cf. MACEDO, op. cit, p. 457; CALDAS, op. cit. p. 146; 
BRUAND, Yves. Arquitetura  contemporânea no Brasil. Tradução de Ana Goldberger. 4.ed. São Paulo: Editora 
Perspectiva, 1999, p. 237; CAVALCANTI, Lauro. Quando o Brasil era moderno: guia de arquitetura 1928‐1960. Rio 
de Janeiro: Aeroplano, 2001, p. 186. 
140 
 
 
 
 
Figura 77: Hotel de Turismo – Primeiro estudo – Térreo. Fonte: Arquivo Danilo M. Macedo. In: Macedo (2002, p. 420). 
 
 
Figura 78: Hotel de Turismo – Primeiro estudo – Primeiro Pavimento. 
Fonte: Arquivo Danilo M. Macedo.  In: Macedo (2002, p. 420). 
 
 
Figura 79: Hotel de Turismo – Primeiro estudo – Corte Transversal. 
Fonte: Arquivo Danilo M. Macedo. In: Macedo (2002, p. 420). 
 
Figura 80: Hotel de Turismo – Primeiro estudo – Fachada frontal. 
Fonte: Superintendência do IPHAN em Minas Gerais. In: Caldas (2014, p. 132). 
141 
 
 
 
 
Figura 81: Hotel de Turismo – Térreo. Fonte: Papadaki (1956) 
 
 
Figura 82: Hotel de Turismo – Primeiro Pavimento. Fonte: Papadaki (1956) 
 
 
Figura 83: Hotel de Turismo – Croqui com corte transversal. Fonte: Papadaki (1956) 
 
 
Figura 84: Hotel de Turismo – Croqui da fachada principal. Fonte: Papadaki (1956) 
142 
 
 
 
Em 1953, o SPHAN recebe a correspondência com as atualizações das obras. Sobre 
o hotel, avisa que “encontra‐se com a estrutura adiantada” e adiciona uma informação:  
Conforme nos informou o arquiteto Oscar Niemeyer o Governador pretende 
construir em  frente ao prédio do hotel uma agência de banco e uma pensão 
para  estudantes,  pensando  fazê‐las  com  pequena  altura,  afim  de manter  o 
necessário desafogo para o hotel. Existem, no  local em apreço,  três casas de 
residência de 1 pavimento cujo aspecto, a nosso ver, carece de  importância, 
individualmente. Numa delas a fachada foi reformada.62 
É a única notícia que se teve acesso a respeito do edifício construído em frente ao 
Tijuco.  Sabe‐se que  as  obras  ocorreram  concomitantes  as do hotel  e,  à  revelia da  conduta 
adotada pelo Patrimônio em outras situações, as três casas foram demolidas. No lugar delas, 
ergueu‐se a construção de um pavimento que, apesar de tentar mimetizar sua cobertura ao 
utilizar as mesmas telhas do casario pré‐existente, se destaca devido as proporções da área que 
abrange. Além disso,  a vista da  construção pela Rua Macau de Baixo  realça os  elementos 
modernos do projeto63. Niemeyer, em suas lembranças, num dos poucos comentários feitos a 
respeito das obras  em Diamantina, diz:  “Para  tudo  JK me  convocava,  já  era  seu  arquiteto 
preferido. E outras obras, por ele programadas, começaram a surgir pelo estado [...] o Banco 
do Brasil, em Diamantina, na sua cidade natal, etambém  lá, o clube, a escola e o hotel”64. 
Porém, com a ausência de documentações, não se pode afirmar quem é o autor.  
Por fim, o Hotel de Turismo de Diamantina foi oficialmente inaugurado no dia 25 
de março de 1956: 
Deverá ser inaugurado hoje o Hotel de Turismo de Diamantina [...] instalado 
em prédio próprio, projetado por Oscar Niemeyer e construído pelo Governo 
Estadual.  Dotado  de  luxuosos  apartamentos,  de  moderna  instalação, 
                                                      
62 REIS, José de Souza. Informação n.245 ao diretor, Rodrigo Melo Franco de Andrade, em 19/10/1953. ACI/RJ‐SO, 
Pasta 482, Cx. 106. 
63 Na Figura 86, imagem aérea feita do hotel e seu entorno por Michel Becheleni, o edifício destaca‐se ao centro. É 
possível observar a fachada branca para a Rua Macau de Baixo e a estrutura em pilotis. 
64 NIEMEYER, Oscar. As curvas do tempo: memórias. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Revan, 1998, p.109. 
143 
 
 
 
ricamente decorado e mobiliado [...] está assim habilitado o Hotel de Turismo 
para receber os mais exigentes turistas nacionais ou estrangeiros.65 
Apesar de já contar com opções hoteleiras, como o Grande Hotel e o Hotel Roberto, 
a construção de um novo edifício significava que a cidade estava “aparelhada” como qualquer 
outro destino mais conhecido. Dotada de “todos os requisitos modernos”, trazia a expectativa 
que Diamantina  passaria  a  “ocupar  lugar  de  relevo  no  quadro  das  atrações  turísticas  do 
País”66. 
Constam, nos arquivos do SPHAN, registros do hotel recém‐concluído feitos por 
Marcel Gautherot: 
 
 
Figura 85: Hotel Tijuco, c.1956. 
Fonte: ACI/RJ‐ SI, Pasta 03, Cx. MG 032. Autor: Marcel Gautherot. 
 
Cerca de dez anos depois, quando a estrada de Curvelo a Diamantina termina de 
ser asfaltada, o hotel passa por reparos “pela terceira ou quarta vez” e a nota publicada na Voz 
                                                      
65 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 54, n.32, 25 de março de 1956, p.1. 
66VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 54, n.53, 19 de agosto de 1956, p.2. 
144 
 
 
 
de Diamantina pede agilidade da Hidrominas ‐ Águas Minerais de Minas Gerais, a instituição 
pública que administrava o hotel67. 
Em 1972, uma nova notícia é veiculada: o Hotel de Turismo passaria a chamar 
“Hotel Tijuco”. 
Visando prestar uma homenagem à origem e ao povo da cidade de Diamantina, 
de  tão  acentuadas  tradições  históricas,  a  direção  da Hidrominas  resolveu 
mudar o nome do Hotel de Turismo para Hotel TIJUCO [...] 68. 
No ano seguinte, o edifício passa por uma remodelação: 
Não  se  concebe  turismo  sem bons hotéis  e bons  restaurantes. Diamantina, 
partindo para a exploração desta “indústria sem chaminés” [...] já os possui. 
O Hotel Tijuco passou ultimamente por uma grande remodelação, após quase 
dois meses de intensa reforma.   [...] O Hotel conta agora com um belíssimo 
pátio  de  estacionamento,  telefones  nos  apartamentos,  portas  de  sucupira, 
fechaduras executivas, móveis no hall principal, reforma geral de toda a área 
ajardinada, além da pintura em todo o prédio.69 
Dos  projetos de Niemeyer  em Diamantina,  nota‐se  que  o  hotel  foi  aquele  que 
recebeu  com  maior  assiduidade  manutenções  e  que  figurou  em  todas  as  décadas, 
independente do governo, como um investimento positivo que trazia como retorno o turismo. 
Fato  comprovado  pelo  teor  da  notícia  quando,  em  1989,  anuncia‐se  a  sua  venda  para  a 
iniciativa  privada:  “A  Hidrominas  está  pretendendo  dispor  de  quatro  hotéis  de  sua 
propriedade, entre eles os dois mais lucrativos o Grande Hotel de Ouro Preto e o Tijuco de 
Diamantina”70. Dois meses depois, a venda é confirmada: “Os novos proprietários são os Srs. 
José Hildebrando, José Tadeu Rocha e Geraldo Alves Coelho”71.  
                                                      
67 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 63, n.9, 01 de dezembro de 1968, p.4. 
68 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 66, n.30, 28 de maio de 1972, p.2. 
69 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 69, n.10, 02 de dezembro de 1973, p.1. 
70 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 84, n.6, 23 de abril de 1989, p.2. 
71 O hotel pertence à mesma sociedade, a qual somaram‐se os nomes de Marília Andrade Coelho e de Carla Maria 
Ramos Khouatir. Cf. CALDAS, op. cit., p. 127; VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 84, n.8, 25 de junho de 
1989, p.1. 
145 
 
 
 
 
Figura 86: Vista aérea de Diamantina com destaque para o Hotel Tijuco, 2019. 
Fonte: Acervo Rupestre Imagens. Autor: Michel Becheleni. 
 
Figura 87: Vista aérea do Hotel Tijuco, 2019. 
Fonte: Acervo Rupestre Imagens. Autor: Michel Becheleni. 
 
146 
 
 
 
 
Figura 88: Hotel Tijuco. Fonte: Acervo da autora, 2018. 
147 
 
 
 
O Hotel Tijuco continua aberto para os hóspedes e entusiastas da cidade. Das suas 
varandas, é possível observar um panorama de Diamantina que se estende do centro histórico 
à Serra dos Cristais72, vislumbrando ainda o pico do Itambé. Dos edifícios, a Igreja de Nossa 
Senhora do Amparo  aparece  ao  centro. No  canto direito,  as  torres da Catedral de Wasth 
Rodrigues, seguidas, à esquerda, pela da Igreja de Nossa Senhora do Carmo mais ao fundo e 
pelo ornamento na ponta da torre da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim. Um observador mais 
atento, nota também o Mercado e parte de seus arcos. Elementos costurados pelo casario.  
Ao apoiar‐se no balcão, com seu muxaribi azul, não há como  ignorar o Grande 
Hotel de Ouro Preto como um antecedente direto do Hotel Tijuco. Sobre a experiência prévia 
de Niemeyer ao desenhar uma intervenção numa cidade histórica, Lucio Costa disse:  
O projeto do Oscar Niemeyer Soares tem pelo menos duas coisas de comum 
com  elas  [as  velhas  construções]:  beleza  e  verdade.  [...]  ao  lado  de  uma 
estrutura como essa tão leve e nítida, tão moça, se é que posso dizer assim, os 
telhados velhos e despencando uns sobre os outros, os rendilhados belíssimos 
das portadas de S. Francisco e do Carmo, a casa dos Contos, pesadona, com 
cunhais de pedra do Itacolomi, tudo isso que faz parte desse pequeno passado 
para nós já tão espesso [...] parecerá muito mais distante, ganhará mais um 
século, pelo menos, em vetustez. E as duas grandes sombras, cuja presença o 
Manuel sentiu tão bem, avultarão – lendárias, quase irreais. 73  
Para  além  dos monumentos  citados,  se  o mesmo  observador  que  estava  em 
Diamantina se descola a Ouro Preto e observa a cidade por outra varanda, desenhada pelo 
mesmo arquiteto, e sua mirada se dirige para uma posição semelhante de quando estava no 
Tijuco, verá as torres da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar e a Igreja de São José, em 
evidência, à direita. (Figura 89) 
                                                      
72 O Conjunto Paisagístico da Serra dos Cristais no município de Diamantina foi tombado pelo Iphan, Processo de 
Tombamento nº 1.367‐T‐9.  
73 COSTA, Lucio. Parecer apresentado a Rodrigo Melo Franco de Andrade sobre o projeto de Oscar Niemeyer para 
a construção do Hotel de Ouro Preto. ACI/RJ‐Sério Personalidades/Lucio Costa. Pasta 12, Cx.148. 
148 
    
 
Figura 89: (Acima) Panorama visto da varanda do Hotel Tijuco. Fonte: Acervo da autora, 2018. 
(Abaixo) Panorama visto da varanda do Grande Hotel. Fonte: Acervo do Grande Hotel de Ouro Preto. 
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149 
 
 
 
Embora os grandes templos se destaquem em Ouro Preto, e apesar da frequente 
associação  da  figura  de Niemeyer  a Aleijadinho,  quando  o  arquiteto  desenha  o  primeiro 
santuário de vanguarda do país, na Pampulha,  
[...] prefere as capelas dos primeiros arraiais como motor de inspiração peloseu 
alinhamento  com  as  correntes  que  viam  na  arquitetura  anônima  ecos  das 
funcionalidades e despojamentos vanguardistas, mas também porque ali era 
possível remontar a um ato fundacional.74 
 
 
 
 
Figura 90: Comparação de dimensões e medidas da Capela do Padre Faria e Igreja da Pampulha com a Igreja de São 
Francisco de Assis de Ouro Preto. Fonte: A. Benoit e R.U. Frajndlich, 2019. 
 
 
 
                                                      
74 BENOIT, A.; FRAJNDLICH, R.U. A extinta pureza: a igreja da Pampulha e as capelas de Ouro Preto. Oculum 
Ensaios, v.16, n.2, p.291‐310, 2019. http://dx.doi.org/10.24220/2318‐0919v16 n2a4129 
150 
 
 
 
 
 
 
Figura 91: Comparação de dimensões e medidas da Capela do Padre Faria e Igreja da Pampulha. 
 Fonte: A. Benoit e R.U. Frajndlich, 2019. 
 
A  atenção  para  as  obras  de  pequena  escala  constata  um  discurso  alinhado  a 
valorização  que  Lucio  Costa  dava  aos  vilarejos  e  seus  “incultos  pedreiros”75,  uma 
representação  na  qual  Diamantina  é  expoente.  Assim  como  as  capelas  da  antiga  capital 
mineira, as maiores igrejas do Arraial do Tijuco foram construídas com menores proporções. 
É o caso da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Ao utilizar a comparação elaborada por Benoit 
e Frajndlich (Figuras 90 e 91), na qual é possível perceber como as dimensões da Igreja de São 
Francisco de Assis da Pampulha dialogam mais com a Capela do Padre Faria do que com a 
Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, e associá‐la à  Igreja do Rosário, única em 
Diamantina que, assim como a capela ouro‐pretana e o templo moderno, possui torre lateral à 
direita separada do corpo da igreja, a evidência fica clara (Figura 92). 
 
                                                      
75 Cf. COSTA, Lucio. Documentação Necessária. Revista do Serviços do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 
Rio de Janeiro, n. 1, p.31‐40, 1937. 
151 
 
 
 
 
Figura 92: Comparação das dimensões da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Diamantina, com a Capela do Padre Faria, 
em Ouro Preto, e a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte. Fonte: Elaborado pela autora (2019), com base em Benoit e 
Frajndlich (2019) e Fundação João Pinheiro (2006). 
 
O  desenho  também  ajuda  a  dimensionar  a  afirmação  que  os  templos 
diamantinenses se misturam ao casario e a compreender o impacto causado pelo projeto de 
José Wasth Rodrigues para a Catedral em 1932.  
Ao  pensarmos  que  os monumentos  de  destaque  do  período  colonial  eram  as 
igrejas, os monumentos modernos, para dialogarem com o tecido histórico sem competirem 
com ele, também deveriam estar mais próximos da escala das capelas da antiga capital mineira 
ou ainda das igrejas de Diamantina. Quanto mais respeitassem essa hierarquia, mais inseridos 
estariam os projetos (Figura 93). 
Oscar  Niemeyer,  na  década  de  1950,  ao  novamente  intervir  numa  cidade 
patrimonial,  revalida  o  que  Lucio Costa  viu  nos  anos  1920  e  afirmou  nos  anos  1930. As 
pequenas casas, consequentemente as pequenas igrejas que se confundem nesse meio, seriam 
o  caminho  para  a  interlocução  entre  passado  e  presente. O  ato  fundacional  estaria mais 
próximo delas. Assim como havia feito no edifício religioso na Pampulha, era com elas que era 
preciso dialogar ao projetar em Diamantina. 
152 
 
 
 
 
 
 
Figura 93: Comparação de dimensões da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e do Hotel Tijuco (vermelho), em Diamantina, 
com a Capela do Padre Faria e o Grande Hotel de Ouro Preto (azul). Fonte: Elaborado pela autora (2019), com base em 
Macedo (2008), Frajndlich e Benoit (2019) e Fundação João Pinheiro (2006). 
 
A interlocução dos edifícios com a cidade é sentida ao observamos um panorama 
feito a partir da torre da Igreja de Nossa Senhora do Amparo. O registro, feito por Assis Horta 
em 1954, nos permite ver como tanto o hotel, na extrema direita da imagem, quanto a Igreja 
do Rosário, na extrema esquerda, se diluem no casario. Ao refazer a fotografia em 2018, nota‐
se o mesmo cenário (Figura 94). 
 
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Figura 94: (Acima) Panorama visto da torre da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, 1954.  
Fonte: Catálogo da exposição “Retratos” realizada no Palácio das Artes em Belo Horizonte (2015). Autor: Assis Horta. 
(Abaixo) Panorama visto da torre da Igreja de Nossa Senhora do Amparo, 2018. Fonte: Acervo da autora.  
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No entanto, para melhor perceber os projetos e suas escalas, é necessário caminhar 
por Diamantina. Um ato feito pelos  três personagens. Foi percorrendo suas ruas que Lucio 
Costa encontrou os vestígios arcaicos da arquitetura brasileira que ansiava descobrir. Em uma 
carta  enviada  pela  sua  irmã  é  possível  perceber,  além  da  face  jovem  do  arquiteto,  as 
expectativas anunciadas: 
As manhãs de Diamantina já te foram apresentadas ou só conheces meio dia 
em diante? O sol é redondo? Frio, quente? A lua é igual a daqui? Ou é feia, 
antiga, colonial ou bangalosa?  [...] Lucio  já vistes  tijolos azuis, portões em 
ruínas,  casas  demolidas,  já  encontrastes  os  fósseis  de  arquitetura 
antediluviano?76 
No último dia de sua viagem em 1924, Lucio Costa escreve no verso do recibo do 
hotel: “Como é triste partir. Partir est mourir um peu... Adeus Diamantina...”77. O arquiteto fala 
sobre o passeio  final, quando caminha pela cidade e vê o entardecer da  torre da  igreja do 
Carmo.  
Juscelino Kubitschek, em anotações feitas à mão numa versão preliminar de Meu 
caminho para Brasília, escreve sobre as ruas do antigo arraial “pelas quais ainda hoje, e com 
frequência, costumo caminhar, as vezes com os meus próprios passos e sempre com a minha 
saudade”78. Quando relata o dia que parte pela primeira vez para Belo Horizonte, fala sobre a 
visão que  teve ao percorrer a  íngreme subida para a estação  ferroviária: “Voltava‐me para 
contemplar a cidade [...] Mal eu podia distinguir, por entre as abertas do nevoeiro, o perfil 
severo das igrejas, destacando‐se, como exóticos altos‐relevos, no cenário do casario, que era 
um telão cinzento, unindo céu e terra”79. 
Na  trajetória de Costa e Kubitschek em Diamantina, essa perspectiva  fica clara. 
Fotografias, discursos e arquitetura se manifestando pela relação estreita com capistranas e 
becos.  Por  mais  ingênuas  que  demonstrem  ser,  as  memórias  de  um  passado  autêntico 
                                                      
76 COSTA, Magda Ribeiro da. Carta para Lucio Costa.   Diamantina, 1924. Acervo Casa de Lucio Costa: VI.A.02‐
01397. Disponível em: < http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/17282883>. Acesso em: 16 jun 2018. 
77 COSTA, Lucio. Verso do recibo do Hotel Roberto. Diamantina, 1924. Acervo Casa de Lucio Costa. Disponível em: 
<http://www.jobim.org/lucio/handle/2010.3/2888>. Acesso em: 15 maio 2017. 
78 KUBITSCHEK,  Juscelino. Versão preliminar do  livro Meu caminho para Brasília com anotações manuscritas. 1º 
Volume. In: Biblioteca do Memorial JK. 
79 KUBITSCHEK, Juscelino. Meu caminho para Brasilia. Volume 1. Rio de Janeiro, RJ: Bloch, 1974, p.57‐58. 
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diamantinense  ganhariam  importância  ao  serem  inseridas  no  meio  das  justificativas  da 
construção de projetos públicos. 
Oscar Niemeyer elabora a primeira proposta para o Hotel de Turismo tendo como 
base apenas as fotografias e os dados enviados pelo SPHAN, mas a versão definitiva feita após 
a visita ganha novas proporções eos elementos que caracterizariam o edifício. Caminhar pela 
cidade  também mudou  seu  jeito de vê‐la. O projeto  recebeu  aberturas mais generosas,  se 
debruçando na paisagem para que fosse possível vislumbrar a amplitude do panorama.  Em 
outubro de 1953, o arquiteto percorre Diamantina mais uma vez:  
Niemeyer, na cidade. Desde sexta‐feira última encontra‐se em Diamantina, 
inspecionando  as  obras  do  Hotel  de  Turismo  e  do  Grupo  Escolar  Julia 
Kubitschek,  cujas  plantas  revolucionárias  são  de  sua  autoria,  o  famoso  e 
internacional arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer.80 
Datam  deste mesmo mês  o  documento  com  as  atualizações  das  intervenções, 
veiculado  no  SPHAN  por  José  Souza Reis81,  e  os  desenhos de  alteração  da  Faculdade  de 
Odontologia82, indicando uma participação ativa do arquiteto junto as iniciativas do Serviço 
em Diamantina também como integrante do seu quadro. A experiência de estar na cidade era 
produtiva.   
Os projetos da década de  1950  aproximaram da prática  a  ideia de Diamantina 
como gênese e concretização das postulações da arquitetura moderna, reafirmando um trajeto 
histórico. Pode‐se encontrar os meandros do caminho que conectou a arquitetura colonial à 
moderna não só numa linha temporal, mas também podemos vê‐los expressos no traço que 
preservou o  local de chegada na cidade e seu passeio até o centro  tombado, passando por 
intervenções da metade do século XX. 
Quem chega à Diamantina hoje desembarca na rodoviária, construída em frente 
da antiga estação de trem83. Portanto, seja nos anos 1920 ou no período pós 1950, o ponto de 
                                                      
80 VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 51, n.29, 18 de outubro 1953. 
81 REIS, José de Souza. Informação n.245 ao diretor, Rodrigo Melo Franco de Andrade, em 19/10/1953. ACI/RJ‐SO, 
Pasta 482, Cx. 106. 
82 Como  comentado, embora não assinada pelo arquiteto, a versão encontrada no Arquivo Noronha Santos/RJ 
apresenta escrito em uma das pranchas “Substitutivo de Oscar Niemeyer – Outubro de 1953 – FACULDADE DE 
ODONTOLOGIA DE DIAMANTINA – MODIFICAÇÃO DO PROJETO”. Cf. CALDAS, op. cit., 171‐183. 
83 A polêmica sobre a construção do edifício da rodoviária se estende pelo final da década de 1950 e por toda a 
década de 1960. Por fim, a rodoviária foi construída ocupando parte do Largo Dom João, sendo inaugurada em 
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partida do percurso se mantém. Um caminho possível para guiar o visitante (Figura 89) parte 
dali e segue em direção ao Largo Dom João para então descer, à direita, a Rua São Francisco, 
passando pela Sede Social do Diamantina Tênis Clube e, mais a  frente, pela antiga casa de 
Kubitschek. Ainda  na  lendária  via,  alguns metros  abaixo  da Casa  de  Juscelino84,  inicia  o 
perímetro definido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1999. A Rua 
São Francisco  termina na  igreja de mesmo nome e na Praça JK, que possui uma estátua do 
político desde 195885. O trajeto insere o viajante no centro histórico e, na praça que homenageia 
o ex‐presidente, virando à esquerda na Rua Macau do Meio, ele encontra um possível destino: 
o Hotel Tijuco. (Figura 95 a 97)  
O hotel é o lugar simbólico onde termina o percurso. O caminho não é aleatório. 
Ao  decidir  alocar  o  hotel  numa  posição  central,  Juscelino  Kubitschek  reafirma  o  núcleo 
colonial existente e as vias que levavam a ele. Uma opção diferente da observada na Pampulha, 
quando optou por criar um novo eixo para Belo Horizonte. No entanto, em ambos os casos, o 
político estava atento à oportunidade de exprimir materialmente o testemunho de um período:  
O homem público que busca, nas lições da história, diretrizes capazes de lançar 
sobre  o  futuro  a  luz  da  experiência  das  gerações  que  se  sucederam,  pode 
perfeitamente acompanhar, pelos testemunhos que a Arquitetura semeou do 
decurso das idades, através de edifícios e monumentos, o que tem sido a marcha 
dos homens e dos povos sobre a terra.86 
                                                      
janeiro de 1971 e está no mesmo local até hoje. Já a estação de trem, com a desativação da linha férrea, se tornou 
ociosa e passou a funcionar como sede do Corpo de Bombeiros. Cf. VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina, ano 65, 
n. 14, 03 janeiro 1971, p1. 
84 A Casa de Juscelino, localizada na Rua São Francisco 241, no mesmo endereço e imóvel onde Kubitschek passou 
a juventude, é um museu dedicado a resguardar e divulgar a memória do ex‐presidente. 
85  A  estátua  foi  inaugurada  no  dia  11  de  abril  de  1958  com  a  presença  do  então  presidente.  Cf.  VOZ  DE 
DIAMANTINA. Diamantina, ano 52, n.26, 13 abril 1958, p.1. 
86 KUBITSCHEK, Juscelino. Discurso do Excelentíssimo Senhor Governador ao agradecer as homenagens que lhe 
foram prestadas na Escola de Arquitetura, com a  inauguração de seu busto, em bronze em 1954.  In: MATTOS, 
Anibal. Universidade de Minas Gerais. Atividades da escola de arquitetura: relatório apresentado pelo diretor. Belo 
Horizonte: Edições Arquitetura, 1955. 
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Figura 95: Mapa do percurso. Fonte: Elaborado pela autora (2019). 
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Figura 96: Vistas aéreas de Diamantina com destaque para o percurso proposto, 2019.  
Fonte: Acervo Rupestre Imagens. Autor: Michel Becheleni com modificações da autora em vermelho, 2019. 
 
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Figura 97: Desenho do percurso da rodoviária ao Hotel Tijuco. 
Vista observada dos dois lados da rua em relação ao pedestre que passa no meio da via. O desenho foi realizado com base em imagens de 2016, mas em 2107 foi realizada uma intervenção 
na Praça de Esportes que tornou novamente visível, para quem passa na R. São Francisco, o edifício da Sede Social. Fonte: Acervo da autora, 2017. 
 
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Para Oscar Niemeyer  os  projetos  em Diamantina  também  representaram  uma 
nova oportunidade de desenhar um conjunto de obras em diálogo. Nesse sentido, a última 
experiência antes de Brasília. As obras da capital federal são consideradas por ele os marcos 
de uma etapa profissional caracterizada “por uma procura constante de concisão e pureza”87. 
Em Depoimento, o arquiteto ainda afirma que passaram a lhe interessar  
[...] as soluções compactas, simples e geométricas; os problemas de hierarquia 
e de caráter arquitetônico; as conveniências de unidade e harmonia entre os 
edifícios  e,  ainda,  que  estes  não  mais  se  exprimam  por  seus  elementos 
secundários, mas pela própria estrutura, devidamente integrada na concepção 
plástica original. 88 
O discurso se alinha com as descobertas de Lucio Costa em relação à pureza de 
Diamantina. Em “Ingredientes da concepção urbanística de Brasília”, Costa anunciou que o 
antigo arraial foi um dos precedentes da capital89. O arquiteto deixa de fora as teorias europeias 
e os  congressos  internacionais e  cita alguns pontos: os eixos e as perspectivas de Paris, os 
grandes gramados ingleses, os terraplenos e arrimos chineses, as autoestradas e os viadutos 
americanos e – Diamantina. Ora,  se no mesmo  texto afirma que Brasília é uma  concepção 
“original,nativa e brasileira” e o único elemento nacional na lista é a cidade mineira, pode‐se 
inferir que ele “não apenas reforça a ideia da originalidade nativa, mas também a do gênio 
nacional,  capaz  de  –  com  base  em  simples  experiências  perceptivas  e  de  determinadas 
condições  materiais,  sociais  e  temporais  locais  –  dar  as  respostas  mais  criativas  e 
surpreendentes”90. 
Gorelik, ao comentar Brasília, ressalta que o plano da cidade era autoconsciente de 
sua capacidade simbólica e teve a virtude de conseguir “por meio da pura radicalidade estética 
associada à mitologia política” uma identificação que as cidades obtém apenas através de uma 
                                                      
87 NIEMEYER, Oscar. Depoimento. In: Depoimento de uma geração: arquitetura moderna brasileira. Coautoria de 
Alberto Xavier. São Paulo, SP: CosacNaify, 2003. p. 238. 
88 Ibid., p. 239. 
89 “3º ‐ A pureza da distante Diamantina dos anos vinte marcou‐me para sempre. ”. “Ingredientes” da concepção 
urbanística de Brasília.  In: COSTA, Lucio. Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed. São Paulo, SP: Empresa 
das Artes, 1997. p.282. 
90 SCHLEE, Rosenthal Andrey. Lucio Costa: o  senhor da memória.  In:  [LEITÃO, F.  (Org.)]. Brasília 1960 2010: 
passado, presente e futuro. Brasília: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, 2009. p.14. 
161 
 
 
 
longa  “sedimentação  histórico‐cultural”91.  O  alumbramento  provocado  por  Brasília  vem 
primeiro pela monumentalidade de seus eixos que de seus edifícios. 
Em Diamantina,  não  distante  do Hotel  Tijuco,  no  outro  sentido  da  Praça  JK, 
subindo pela Rua Direita no espaço próximo a catedral, Juscelino Kubitschek fez um discurso 
após ser eleito presidente92:  
Há 10 meses, passei a morar a bordo do avião que hoje me trouxe a esta cidade. 
[...] Mais de 200.000 quilômetros viajei pelo Brasil. Mais de cinco voltas à 
Terra, dei no decurso destes 10 meses,  falando a todo o povo brasileiro. [...] 
contei a história singela de um diamantinense que nascera nestas ruas velhas, 
à sombra destes lares seculares [...]93 
Quando  Kubitschek  desembarca  em  Diamantina  para  a  ocasião  do  discurso 
mencionado, não é no projeto previsto por Oscar Niemeyer. O aeroporto, última proposta do 
arquiteto para o antigo Arraial do Tijuco, não foi construído94. Porém, é interessante como a 
figura do avião, da vista superior, pode representar a tomada de conhecimento de um lugar. 
Dos passeios aéreos de Le Corbusier nas cidades brasileiras, até o traçado de Lucio Costa para 
Brasília, no desenho próprio que cria no planalto. Contudo, talvez a chave de Diamantina está 
em não ser feita para ser vista de cima, mas sim para ser vista do chão. É dessa maneira que 
permite uma tangibilidade direta das descobertas que proporciona para aqueles que a visitam.  
 
 
   
                                                      
91 GORELIK, Adrian. Das vanguardas a Brasília: cultura urbana e arquitetura na América Latina. Belo Horizonte, 
MG: Editora da UFMG, 2005, p.155. 
92 Acredita‐se que o discurso foi realizado na Praça Conselheiro Matta pois Juscelino menciona edifícios do local: 
”[a multidão] está aqui, diante de um prédio que é hoje a Prefeitura municipal, mas que era, no tempo da minha 
infância, a sede do Grupo Escolar”.  In: KUBITSCHEK,  Juscelino. O discurso de Diamantina. Rio de  Janeiro, RJ: 
[s.n.], 1956. p. 14. 
93 KUBITSCHEK, Juscelino. O discurso de Diamantina. Rio de Janeiro, RJ: [s.n.], 1956. p. 17‐18. 
94 Cf. Revista Habitat. Projeto para o aeroporto de Diamantina. São Paulo, n.20, março, 1955; CALDAS, op. cit. p. 
188‐200. 
 
162 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A  relação  ideológica  que  procurou‐se  estabelecer  através  das  experiências 
vanguardistas e a tradição barroca nacional entre os anos 1920 e 1930 teve Minas Gerais como 
o local excelente de uma arte que se encaixava no resgate de um Brasil autêntico e que era vista 
como  plena  de  forças  latentes,  invisíveis  até  então  para  olhares  não  cativados  por  uma 
pretensão inovadora. “São degraus da arte de meu país / Onde ninguém mais subiu”, como 
escreveu Oswald de Andrade. Não bastava descobrir o barroco: era necessário descobrir o viés 
moderno imanente em suas ilações, o que se colocava como desafio inédito.  
Diamantina  é  um  ponto  particular  dentro  desse  quadro. Não  foi  destino  dos 
vanguardistas paulistas na conhecida excursão dos anos 1920, nem tinha exemplares das obras 
de figuras lendárias que atraíam aficionados em busca de relíquias. Não obstante, é fulcral na 
constituição do moderno por  razões  específicas:  foi o destino de Lucio Costa  em  1924, na 
conhecida  viagem  que  o  apresentou  o  colonial.  Igualmente,  foi  berço  de  nascimento  e 
formação  de  Juscelino  Kubitschek,  político  de  importância  reconhecida  na  promoção  de 
experiências arquitetônicas centrais no país.  
Se é consenso que era preciso inventar Diamantina, é verdade que essa invenção 
demandava duas  vertentes:  uma  ideológica  e  outra  prática. Ao  suscitar  os  pontos  nodais 
comumente  associados  à  história  da  cidade  e  sua  relação  com  as  vanguardas,  questões 
objetivas foram descritas e analisadas. A excursão de Costa passa a ser vista em um panorama 
mais amplo, afirmando factualmente seu caráter transformador e permanente na trajetória do 
arquiteto. Já a composição da figura pública de Kubitschek ganha espessura ao ser lastreada 
pela arquitetura patrimonial e moderna em seu berço natal. Fechando o arco, tem‐se as obras 
de Niemeyer, narradas através de dados que concatenaram os eventos e meandros de suas 
construções. Não bastariam cartas, depoimentos, artigos, desenhos e descrições legendárias da 
cidade  sem  que  ela  própria  passasse  por  transformações  tangíveis.  Para  viabilizá‐las, 
articulações  políticas  eram  necessárias.  Kubitschek  teve  um  papel  fundamental  como 
estadista, mas o principal  locus desse nexo  foi o  Iphan. O Serviço de Patrimônio catalisava 
decisões e criou uma  instância moderadora paralela às particularidades governamentais da 
cidade  e  do  país.  Para  isso,  todo  o  seu  aparelho  foi  utilizado:  especialistas,  fotógrafos, 
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pareceristas  e  arquitetos. De  Costa  e Niemeyer  a  Eric Hess  e Assis Horta,  uma  rede  foi 
mobilizada entre os anos 1930 e 1950 para dar o  tom de como Diamantina entraria para a 
história como um dos berços excelentes das vanguardas brasileiras.  
Neste  quadro,  a  excepcionalidade  de  Costa,  Kubitschek  e  Niemeyer  está  na 
pertinência que tiveram em criar e pautar categorias pelas quais a cidade poderia ser lembrada.  
Lucio Costa dá a Diamantina a noção de  alumbramento, um  local  cuja distância 
garantiria  uma  autenticidade  que  imediatamente  servia  de  testemunho  das  atemporais 
qualidades da construção brasileira. Decorre desse caráter de epifania no seu encontro com o 
Arraial a exaltação da pureza de suas estruturas, sem a qual não seria possível que o carioca 
sustentasse  a  sua  proposta  de  vanguarda,  que  até  hoje  é  reconhecida  como  basilar  na 
constituição da arquitetura moderna brasileira.  
Juscelino Kubitschek, por sua vez, conseguiu ampliar horizontes nessa elaboração. 
Seus  discursos  afirmam  uma  imagem  virtuosa  de  Diamantina  e  também  do  homem 
diamantinense, figura exemplar do brasileiro que tem uma origem lendária, mas que vive longe 
das capitais e que assim tem posição privilegiada para ver os problemas esquecidos do país. 
As  fronteiras  rompidas  por  vias  e  projetos  e  a  ambição  do  progresso  balanceada  com  a 
possibilidade de manter tradições, ou seja, a ideia de conciliação entre pretensões inovadoras e 
passado autêntico, afirmam essa construção.   
Oscar Niemeyer é o mestre de obras desse edifício. Sua relação com Diamantina, 
nos anos 1950, é tão protocolar quanto foicom outras cidades em que construía intensamente: 
Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, entre outras. Entretanto, seria apressado caracterizar 
a contribuição do arquiteto como ausente de compromissos. Seu afinamento com o Iphan e a 
aferição de escalas de seus edifícios com o entorno tombado demonstram o cuidado com que 
buscava associar suas obras modernas. A implantação decorosa dos prédios, além do ressalto 
de visuais consagrados do arraial, consolida a existência de um percurso moderno na cidade, no 
qual o caminhante pode livremente percorrer os limites de tempos. 
No entanto, as obras são mais caras a Diamantina que a Niemeyer, que pouco as 
destaca em seus relatos. É evidente que, ao final das contas, o mais divulgado exemplo dessas 
categorias, associadas pelos três protagonistas à construção de um conjunto de intervenções, 
é a capital federal do país, Brasília.  
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As qualidades comuns são nítidas, desde o percurso até a monumentalidade que 
se sobressai da relação de edifícios que, embora plasticamente expressivos, são de pequena 
escala. Os defeitos,  também:  se Brasília  tem no plano piloto  e  sua  relação  com  as  cidades 
satélites dicotomias cruéis, é interessante lembrar que Diamantina é maior do que seu centro 
histórico e nada além do perímetro tombado e seu entorno imediato recebeu tanta qualidade, 
cuidado e atenção urbanística ao longo da segunda metade do século XX. 
Reafirma‐se o aspecto modelar do vilarejo mineiro como testemunha da associação 
entre  ideologia, preservação histórica, pretensões modernizantes, governo e arquitetura. Se 
Minas Gerais foi uma escolha dos modernistas, o antigo Arraial do Tijuco foi uma escolha feita 
por Costa e Kubitschek dentro de Minas. Não por acaso, a nova capital foi projetada por um 
funcionário do órgão de proteção do patrimônio histórico, capaz de compreender Diamantina 
como uma alegoria moderna e política.  
Ao que o percurso no antigo arraial acrescenta: uma iniciativa de conciliação entre 
vanguarda e passado demanda um  longo, coordenado e  intensivo processo de construção. 
Diamantina consolida esse debate e aponta para a complexidade da modernidade brasileira e 
suas cidades.  
 
   
 
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VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Propriedade da Associação do Pão de Santo Antônio, 
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VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Semanário independente protetor da ʺObra do Pão de 
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VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Propriedade da Associação do Pão de Santo Antônio, 
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VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Propriedade da Associação do Pão de Santo Antônio, 
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VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Propriedade da Associação do Pão de Santo Antônio, 
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VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Propriedade da Associação do Pão de Santo Antônio, 
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VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Propriedade da Associação do Pão de Santo Antônio, 
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VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Propriedade da Associação do Pão de Santo Antônio, 
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VOZ DE DIAMANTINA. Diamantina: Propriedade da Associação do Pão de Santo Antônio, 
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WARCHAVCHIK, Gregori. Acerca da arquitetura moderna. Jornal Correio da Manhã, Rio de 
Janeiro, 1 de novembro de 1925. 
WISNIK, Guilherme. “Plástica e anonimato: modernidade e tradição em Lucio Costa e Mário 
de Andrade”. Novos estudos. ‐ CEBRAP [online]. 2007, n.79, p.169‐193. 
WISNIK, Guilherme (org.). O risco — Lucio Costa e a utopia moderna.Rio de Janeiro: Bang 
Bang,2003. 
 
 
 
177 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXO A 
VIAJANTES DOS ANOS 1920: Desenhos de Diamantina 
 
Compilação dos desenhos de Diamantina elaborados por Lucio Costa,  
José Wasth Rodrigues e Alfredo Norfini. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LUCIO COSTA
 1924
FONTES DOS DESENHOS DE LUCIO COSTA 
 
Imagens I e III: COSTA, Lucio. Lucio Costa: registro de uma vivencia. 2a. ed São Paulo, SP: Empresa das 
Artes, 1997
Imagem II: MARIANO FILHO, José. Influências muçulmanas na architectura tradicional brasileira. Rio de 
Janeiro: Editora A Noite, 1943.
Imagens IV a XXII: Lucio Costa: desenhos da juventude. Organização J. D. Vital – Belo Horizonte: CBMM, 
2001.
Imagem I: Igreja de Nossa Senhora do Carmo
Imagem II: Beco da Tecla
Imagem III: Colégio Nossa Senhora das Dores
Imagem IV
Imagem V: Janela, Igreja do Carmo
Imagem VI: Porta, Igreja do Carmo
Imagem VII
Imagem VIII: Púlpito, Igreja do Carmo
Imagem IX: Balaústres, Igreja do Carmo
Imagem X: Coroamento das portas internas e vários estudos de suporte de lan-
ternas, Camara Municipal
Imagem XI: Fechaduras, Colégio Nossa Senhora das Dores e Grupo Escolar 
Matta Machado
Imagem XII: Estudo de beirais
FONTE DOS DESENHOS DE JOSÉ WASTH RODRIGUES 
 
RODRIGUES, José Wasth. Documentário Arquitetônico: relativo à antiga construção civil no Brasil. Belo 
Horizonte; São Paulo: Editora Itatiaia; EDUSP,
JOSÉ WASTH RODRIGUES
 1919 e 1930
Imagem XIII: Colégio de Nossa Senhora das Dores
Imagem XIV:Rua da Quitanda
Imagem XV: Casa de Chica da Silva
Imagem XVI: Casa do pintor Laporte
Imagem XVII: Velho casarão
Imagem XVIII: Beco da Tecla
Imagem XIX: Chafariz
Imagem XX: Painel de um teto de uma casa do XIV
Imagem XXI: Diversos beirais pintados
Imagem XXII: Muxarabi da Rua da Quitanda e sacada torneados
Imagem XXIII: Detalhes
Imagem XXIV: Ornamentação nos Vidros
Imagem XXV: Espelhos de Fechaduras
Imagem XXVI: Grades de Ferro Forjado
FONTE DOS DESENHOS DE ALFREDO NORFINI 
 
ANAIS DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL: Documentário Iconográficode Cidades e Monumentos do Bra-
sil. Aquarelas e Desenhos de A. Norfini e Texto de Gustavo Barroso. Rio de Janeiro: Ministério da Educação 
e Cultura, v. 7, 1953.
ALFREDO NORFINI
 1921
Imagem XXVII: Casa Colonial
Imagem XXVIII: Igreja de Nossa Senhora do Rosário
Imagem XXIX: Rua da Quitanda
Imagem XXX: Casa de Chica da Silva/ do Contratador João 
Fernandes
Imagem XXXI: Aldrabas dos portões do quintal da Casa de Chica 
da Silva
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C
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19
24
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21
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AL
 
213 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXO B 
Registros fotográficos aéreos atuais de Diamantina com destaque 
 para os projetos de Oscar Niemeyer. 
REGISTRO FOTOGRÁFICO AÉREO 
SEDE SOCIAL DO DIAMANTINA TÊNIS CLUBE - PRAÇA DE ESPORTES
PERÍODO: Julho de 2019
FONTE: Acervo Rupestre Imagens 
AUTOR: Michel Becheleni
REGISTRO FOTOGRÁFICO AÉREO 
ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA JULIA KUBITSCHEK
PERÍODO: Julho de 2019
FONTE: Acervo Rupestre Imagens 
AUTOR: Michel Becheleni
REGISTRO FOTOGRÁFICO AÉREO 
HOTEL TIJUCO
PERÍODO: Julho de 2019
FONTE: Acervo Rupestre Imagens 
AUTOR: Michel Becheleni

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