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ativas-entenda-como-elas-favorecem-a-aprendizagem
Publicado em NOVA ESCOLA 27 de Julho | 2018
Pesquisa Aplicada
Metodologias ativas:
entenda como elas
favorecem a
aprendizagem
Gamificação, sala de aula invertida, design thinking,
project learning. Entenda por que isso funciona mesmo
Priscilla de Albuquerque Tavares
Crédito: Getty Images
Ouvimos com frequência termos como design thinking, problem, project e
team based learning, gamificação e sala de aula invertida para caracterizar
modelos de ensino que têm como objetivo fazer com que o aluno exerça um
papel ativo, de protagonista, em seu processo de aprendizagem. À medida em
que se contrapõem à metodologia tradicional de ensino, aquela em que o
aluno é visto como alguém que recebe passivamente o conhecimento
transmitido pelo professor, as chamadas metodologias ativas de ensino-
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aprendizagem vêm ganhando popularidade. Mas, afinal, como são esses
modelos e como eles favoreceriam a aprendizagem?
Estes modelos diferem quanto à estrutura, mas todos eles se baseiam na ideia
de que, para aprender de fato, é preciso bem mais do que assistir às aulas
expositivas e reproduzir exercícios. Ao colocar os estudantes em um ambiente
colaborativo e participativo, no qual eles trabalham em grupos para resolver
problemas concretos, produzir artefatos, desenvolver conteúdos, participar de
um debate, vencer as etapas de um jogo etc., a escola seria capaz de
proporcionar as bases para o aprendizado profundo e efetivo.
LEIA MAIS: Qual aluno queremos formar?
Em outras palavras, neste novo ambiente, o aluno seria capaz de utilizar os
modelos, teorias e instrumentos aprendidos para propor soluções inovadoras
para problemas complexos e desconhecidos. Neste caso, a escola estaria
formando habilidades de investigação, reflexão e autonomia na busca por
conhecimento, assim como pensamento crítico e aptidão para resolução de
problemas. A escola ainda estaria estimulando o desenvolvimento de
habilidades de comunicação, trabalho em grupo, resiliência, colaboração,
responsabilidade, pró-atividade, entre outas. Além de mudar a estrutura e a
dinâmica da sala de aula, a implantação de metodologias ativas de
aprendizagem exigem novas formas de avaliação, que enfoquem menos a
memorização e na reprodução e que valorizem mais o domínio do conteúdo
aplicado a novas situações.
Quais são os mecanismos das metodologias ativas de aprendizagem que
favorecem o aprendizado?
Há correntes da neurociência e da psicologia da educação que argumentam
que a construção do conhecimento, a retenção de informações na memória de
longo prazo e o acesso e utilização delas para compreender fenômenos e
resolver problemas seriam favorecidos pela forma como estas informações
são apresentadas ao cérebro, ou seja, como são ensinadas.
Um elemento bastante enfatizado é a contextualização: quando o conteúdo
teórico está inserido na compreensão de um fenômeno real, ele pode ser
acessado mais facilmente sempre que o indivíduo se deparar com uma
situação parecida (Godden e Baddeley, 1975; Prawat, 1989). Além disso, o
cérebro retém e utiliza com mais facilidade o conhecimento que ele quis obter.
Desta forma, a motivação para o aprendizado seria outro elemento essencial,
desencadeado pela curiosidade epistemológica, isto é, a curiosidade crítica. A
falta de parte da informação necessária para compreender completamente
um fenômeno ou solucionar um desafio aumenta o desejo do estudante em
obtê-la e facilita a integração do novo conhecimento com o conhecimento
prévio (Battig, 1979; Kitchner, 1983; Spiro et. al., 1988). Finalmente, o adequado
ambiente de aprendizagem e o estímulo ao exercício de determinadas
atividades seriam gatilhos para processos cognitivos eficazes.
/base/conteudo/2/bncc-e-suas-competencias-qual-aluno-queremos-formar
LEIA MAIS: Conheça as competências gerais da BNCC
Quando um grupo de alunos é desafiado a resolver um problema, por
exemplo, os processos cognitivos de tentativa-e-erro e elaboração (ou
raciocínio elaborado) seriam utilizados para: experimentar diferentes soluções
a partir de pré-concepções; distinguir as soluções eficazes daquelas
malsucedidas; confrontar o conhecimento prévio imperfeito com o novo
conhecimento adquirido; elaborar novas soluções para dar conta de
modificações na situação inicialmente apresentada.
Esses processos também podem ser desencadeados, por exemplo, a partir da
elaboração de um projeto em grupo. Tendo um objetivo bem definido, os
alunos devem estabelecer as tarefas a serem desenvolvidas em cada etapa,
delegar funções e responsabilidades e definir critérios para avaliação dos
resultados. O êxito desse trabalho dependeria ainda da colaboração entre os
pares (discussão, suporte mútuo) e da autorregulação do grupo
(planejamento, divisão e monitoramento das tarefas) que também
favoreceriam o aprendizado (Gagné, 1962; Newell e Simon, 1972; Bransford,
1979; Leahey e Harris, 2000).
No próximo artigo, da semana que vem, irei abordar alguns estudos que visam
medir os efeitos da aprendizagem ativa sobre o aluno e algumas evidências
que temos até o momento.
Você sabe aplicar metodologias ativas em suas aulas? Aprenda hoje e
coloque seu aluno no centro da aprendizagem
Para saber mais:
Battig, W. F. (1979). Are the important “individual differences” between or
within individuals? Journal of Research in Personality, 13, 546-558.
Brandsford, J. D. Human Cognition: Learning, Understanding and
Remembering. Belmont, California: Wadsworth. 1979.
Gagné, R. M. (1962). The acquisition of knowledge. Psychological Review, 69,
355-365.
Godden, D., & Baddeley, A. (1975). Context-dependent memory in two natural
environments: On land and underwater. British Journal of Psychology, 66, 325-
332.
Kitchner, K. S. (1983). Cognition, metacognition, and epistemic cognition: The
three-level model of cognitive processing. Human Development, 26, 222-232.
Leahey, T. H.; Harris, R. J. Learning and Cognition. Pearson, 5th edition. 2000.
Newell, A., & Simon, H. A. (1972). Human problem solving. Englewood Cliffs, NJ:
Prentice Hall.
/base/97/competencias-gerais
https://cursos.novaescola.org.br/curso/11274/metodologias-ativas-na-educacao-basica/resumo
Prawat, R. (1989). Promoting access to knowledge, strategies, and disposition in
students: A research synthesis. Review of Educational Research. 59(1), 1-41.
Spiro, R. J., Coulson, R. L., Feltovich, P., & Anderson, D. K. (1988). Cognitive
flexibility theory: Advanced knowledge acquisition in ill-structured domains. In
Tenth Annual Conference of the Cognitive Science Society (pp. 375-383).
Hillsdale, NJ: Erlbaum.
Priscilla Albuquerque Tavares é doutora em Economia pela Fundação
Getulio Vargas (FGV), Mestre e Bacharel em Economia pela Universidade de
São Paulo (USP). É professora da Escola de Economia de São Paulo, da FGV,
pesquisadora na área de Economia da Educação e autora de diversos artigos
que avaliam impactos de políticas educacionais no Brasil.

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