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1 Raimundo Rajobac (Org.) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL DEPARTAMENTO DE MÚSICA PORTO ALEGRE 2013 SIMPÓSIO DE ESTÉTICA E FILOSOFIA DA MÚSICA SEFiM/UFRGS Anais 2 Raimundo Rajobac (Org.) SIMPÓSIO DE ESTÉTICA E FILOSOFIA DA MÚSICA SEFIM/UFRGS 1ª Edição ISBN: 978-85-66106-05-3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Departamento de Música Porto Alegre 2013 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Reitor Carlos Alexandre Netto Vice-Reitor Ruy Vicente Oppermann Pró-reitor de pesquisa José Carlos Frantz Pró-reitora de extensão Sandra de Deus Diretor do Instituto de Artes Alfredo Nicolaiewsky Chefe do Departamento de Música Luciana Prass Coordenador do Programa de Extensão do DEMUS Raimundo Rajobac 4 Comissão Científica do SEFiM Coordenação: Raimundo Rajobac – UFRGS Fernando Gualda – UFRGS Fernando Lewis de Mattos – UFRGS Gerson Luís Trombetta – UPF Gleison Juliano Wojciechowski – UPF Gustavo Frosi Benetti – UFBA Lia Vera Tomás – UNESP Manuela Toscano - FCSH/UNL Marilia Raquel Albornoz Stein – UFRGS Mário Rodrigues Videira Junior – USP Yara Borges Caznok - UNESP Diagramação e Revisão: Martin Weiler e Raimundo Rajobac 5 S612a Simpósio de Estética e Filosofia da Música (1. : 2013 : Porto Alegre, RS) I Simpósio de Estética e Filosofia da Música. Anais do SEFiM, 17 a 18 de outubro de 2013 [recurso eletrônico] / Organização de Raimundo Rajobac ... [et. al]. – Porto Alegre : UFRGS, 2013. Modo de Acesso: http://www.ufrgs.br/esteticaefilosofiadamusica ISBN: 978-85-66106-05-3 (E-book) 1. Música e Filosofia. 2. Estética da Música. 3. . Filosofia da Música. 4. Música : História e formação. I. Rajobac, Raimundo, org. II. Título. CDU 78:061.3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Mara R. B. Machado, CRB10 / 1885 6 SUMÁRIO I ESTÉTICA E FILOSOFIA DA MÚSICA Trabalhos Completos MÚSICA E IMAGINAÇÃO EM “LIÇÕES SOBRE A CONSCIÊNCIA IMANENTE DO TEMPO” DE HUSSERL __________________________________ 18 José Luiz Furtado A PERCEPÇÃO COMO FORMA DE INICIAÇÃO AO PROCESSO DE INFLUÊNCIA DA MÚSICA NAS PESSOAS _______________________________ 27 Jonny Rosa da Silva Crispim Eliane Leão EDUCAÇÃO: O CAMPO MAIOR DE APLICAÇÃO DA PESQUISA EM MÚSICA ________________________________________________________________________ 44 Marcos Câmara de Castro GUILHERME DE MELLO E A MUSICA NO BRASIL: PANORAMA IDEOLÓGICO E SISTEMAS FILOSÓFICOS SUBJACENTES _______________ 54 Gustavo Frosi Benetti A MUSICALIDADE EXTRA MUSICAL OU A EXTRA MUSICALIDADE MUSICAL DE RICARDO RIZEK __________________________________________ 65 Paulo José de Siqueira Tiné MONTEVERDI, 1638: ÉTHOS, PÁTHOS E O PÍRRICO COMO TÓPOS RÍTMICO NA CRIAÇÃO DO STILE CONCITATO __________________________ 75 Vicente Casanova de Almeida O PAPEL DA “DIFERENÇA” PARA UMA ESCUTA-PENSAMENTO _________ 92 Amanda Veloso Garcia A MÚSICA DE W. A MOZART (1756-1791): O EQUILÍBRIO ENTRE FORMA E CONTEÚDO E ANÁLISE RETÓRICO-MUSICAL _________________________ 103 Igor Daniel Ruschel MÚSICA COMO CRÍTICA SOCIAL: TRÊS EXEMPLOS DISTINTOS NA HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL ___________________________________ 113 Igor Daniel Ruschel SECOS E MOLHADOS NO BRASIL DOS ANOS 70: A ARTE NO ESPAÇO DO ENTRE, O GOZO E O SUPLÍCIO ________________________________________ 123 Sabrina Ruggeri O SENTIDO DA MÚSICA NO PENSAMENTO DE MARTIN HEIDEGGER __ 134 José Eduardo Costa Silva LINGUAGEM E ESCUTA MUSICAL ONTOLÓGICA ______________________ 151 Vagner Geraldo Alves LÉVI-STRAUSS: MITOS EM MELODIAS ________________________________ 166 Betania Maria Franklin de Melo 7 UM CONCERTO NO GRANDE HOTEL ABISMO: O DIÁLOGO ARTÍSTICO DE THOMAS MANN E ADORNO EM DOUTOR FAUSTO _____________________ 185 Kaio Felipe SOBRE O CONCEITO DE FETICHISMO NA MÚSICA NA OBRA DE CRÍTICA MUSICAL DE T. W. ADORNO. __________________________________________ 199 Jéssica Raquel Rodeguero Stefanuto Ari Fernando Maia WALTER BENJAMIN E A OBRA DE ARTE: A REPRODUTIBILIDADE E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA A PRÁTICA E ENSINO MUSICAL _____________ 212 Tiago de Lima Castro COMPÊNDIO MUSICAL DE DESCARTES: CLAREZA E DISTINÇÃO NA ESTÉTICA _____________________________________________________________ 222 Tiago de Lima Castro João Epifânio Regis Lima ESTÉTICA E MODERNIDADE: A ARTE MUSICAL DE ASTOR PIAZZOLLA 239 Antonio Rago Filho A HISTÓRIA ENQUANTO FUNDAMENTO DA AUDIÇÃO MUSICAL E A MÚSICA COMO AFIRMAÇÃO DO REAL NO SEGUNDO NIETZSCHE _____ 254 Felipe Thiago dos Santos O PROCESSO DE EMERGÊNCIA MUSICAL: UM ESTUDO SOBRE AS PERSPECTIVAS NATURAIS E SOCIAIS DO COMPORTAMENTO MUSICAL _______________________________________________________________________ 268 Felipe Pacheco FETICHES E FE(I)TICHES: A CRÍTICA DE THEODOR ADORNO À INDÚSTRIA CULTURAL SOB A ÓTICA DA ANTROPOLOGIA SIMÉTRICA DE BRUNO LATOUR ______________________________________________________ 286 Fernando Nicknich BEETHOVEN E NIETZSCHE: UMA MÚSICA HEROICA PARA UMA FILOSOFIA TRÁGICA __________________________________________________ 298 Francisco Gleydson Lima da Silva O BELO QUE NÃO SE VÊ ______________________________________________ 317 Francisco Gleydson Lima da Silva BELEZA, ORDEM E PROGRESSO: RELAÇÕES POSSÍVEIS ENTRE O POSITIVISMO E O SISTEMA TONAL ___________________________________ 326 Gleison Juliano Wojciekowski Gerson Luís Trombetta ADORNO: A DIALÉTICA DA EXPRESSÃO NA MÚSICA TONAL __________ 339 Philippe Curimbaba Freitas O PROBLEMA DAS GRANDES FORMAS AUTÔNOMAS NOS PRIMEIROS ENSAIOS DE ADORNO SOBRE SCHOENBERG E BERG _________________ 357 Igor Baggio 8 EMBASAMENTO FILOSÓFICO PARA UMA DERIVAÇÃO CONCEITUAL DA ANÁLISE SCHENKERIANA ____________________________________________ 375 Ivan Chiarelli Monteiro DISCÍPULOS DO CAOS: DO BLACK METAL COMO REPRESENTAÇÃO DA ESTÉTICA PÓS-MODERNA ____________________________________________ 389 Jonivan Martins de Sá EDUCAÇÃO DA SENSIBILIDADE ESTÉTICA E MULTIDIMENSIONALIDADE: SENTIDOS DA EXPERIÊNCIA DA MÚSICA NAS ‘FILOSOFIAS’ DA EDUCAÇÃO MUSICAL __________________________ 402 Luís Fernando Lazzarin POR UMA FENOMENOLOGIA DA PERCEPÇÃO MUSICAL ______________ 416 Pedro Carneiro O BRASIL NA MÚSICA: REFLEXÕES SOBRE A IDENTIDADE CULTURAL BRASILEIRA NA PRODUÇÃO MUSICAL DO SÉCULO XX ________________ 425 Potiguara Curione Menezes DISCURSO E CONTEÚDO: DESDOBRAMENTOS DAS CONTRADIÇÕES NA TRAJETÓRIA DO MODERNO EM MÚSICA. _____________________________ 441 Potiguara Curione Menezes A REFLEXÃO SOBRE A ESTÉTICA MUSICAL NO SÉCULO XX COMO UM SETOR IMPORTANTE DA REFLEXÃO FILÓSOFICA EM GERAL _________ 450 Rachel Louise Eckert ADORNO E BENJAMIN: CINEMA E MÚSICA COMO PRÁXIS REVOLUCIONÁRIA ____________________________________________________ 458 Robson da Rosa Almeida ÓPERA FRANCESA: A TRAGÉDIA LÍRICA, A DANÇA, “QUERELLE DES BOUFFONS” E ILUMINISMO ___________________________________________ 469 Rodrigo Lopes A SOCIEDADE E O ENSINO DA MÚSICA _______________________________ 481 Rodrigo Marcelo Sabbi Gleison Juliano Wojciekowski INTRODUÇÃO À PROBLEMÁTICA DE UMA ESTÉTICA MUSICAL KANTIANA ____________________________________________________________ 496 Victor Di Francia Alves de Melo A NOVA ESCRITA PARA CRAVO OBBLIGATO NA FRANÇA NO INÍCIO DO SÉCULO XVIII COM BASE NAS PIÈCES DECLAVECIN EN CONCERT DE JEAN-PHILIPPE RAMEAU _____________________________________________ 508 María Eugenia Linardi POÉTICAS E ESTÉTICAS MUSICAIS: DE PITÁGORAS PARA ALÉM DE JOHN CAGE ___________________________________________________________ 520 Dilmar Miranda 9 A ESCRITA PARA PERCUSSÃO DOS COMPOSITORES DO GRUPO MÚSICA NOVA _________________________________________________________________ 539 Ricardo de Alcantara Stuani ANÁLISE SHENKERIANA DO SEGUNDO MOVIMENTO DA SÉTIMA SINFONIA DE BEETHOVEN (TEMA A) _________________________________ 553 Ricardo De Alcantara Stuani SOBRE TRAGÉDIA, MÍMESIS, DEVIR-ANIMAL E XAMANISMO. REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS MUSICAIS E MITOS A PARTIR DE O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA. _________________________________________ 563 Marcelo Villena A FORMAÇÃO MUSICAL NA PAIDÉIA PLATÔNICA _____________________ 573 Maria Teresa De Souza Neves ASPECTOS ESTÉTICOS DA MÚSICA SEGUNDO AS LEITURAS DOS LIVROS “ESTÉTICA MUSICAL” DE CARL DAHLHAUS, “ESTÉTICA MUSICAL” DE ENRICO FUBINI E “BELO MUSICAL” DE EDUARD HANSLICK. _________ 579 Mayki Fabiani Olmedo EMOÇÃO E SOM – AS OBSERVAÇÕES ESTÉTICAS DE RUDOLF HERMANN LOTZE SOBRE A MÚSICA. _____________________________________________ 589 Thomas Kupsch Resumos Expandidos A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA E O RITMO NO “DE MUSICA” DE SANTO AGOSTINHO___________________________________________________________ 598 Sérgio Ricardo Strefling A REFUTAÇÃO À TEORIA MUSICAL NO CONTRA OS MÚSICOS DE SEXTO EMPÍRICO _____________________________________________________________ 602 Sarah Roeder A PARTICULAR DIREÇÃO DE TEMPO E A COMPREENSÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO EM CONSTRUÇÕES ESPELHADAS _________________________ 606 Silvia Maria Pires Cabrera Berg Sara Lima da Silveira Costa CHORO E MODERNISMO: QUESTÕES SOBRE A APROPRIAÇÃO DA MÚSICA POPULAR URBANA. __________________________________________ 610 Renan Moretti Bertho ENSAIO SOBRE MÚSICA, TEMPO E RELATIVIDADE ___________________ 615 Lucas Eduardo da Silva Galon NIETZSCHE, DELEUZE E A REVOLUÇÃO DAS IMAGENS VISUAIS E SONORAS _____________________________________________________________ 619 Luame Cerqueira 10 SOBRE SILÊNCIO (MUSICAL): JOHN CAGE E A PROPOSTA DE UMA NOVA MÚSICA PARA NOVOS OUVIDOS ______________________________________ 622 Larissa Couto Rogoski Gledinélio Silva Santos A MISSA EM SI MENOR DE JOHANN SEBASTIAN BACH: A POÉTICA E O TRÁGICO ______________________________________________________________ 626 Katia Regina Kato Justi A DIMENSÃO METAFÍSICA DA MÚSICA _______________________________ 630 João Augusto R. Mendes Jorge Augusto de Serpa Mendes ARTE COMBINATÓRIA E MÚSICA EM LEIBNIZ ________________________ 634 Fabrício Pires Fortes POSMODERNIDAD MUSICAL EN EL 3ER. MOVIMIENTO DE LA SINFONIA (1968) DE L. BERIO ____________________________________________________ 637 Edgardo J. Rodríguez REFLEXÕES ACERCA DE ARTHUR SHOPENHAUER E A VISÃO PLATÔNICA DA ARTE _________________________________________________ 642 Caio Miguel Viante ONTOLOGIA DA MÚSICA ______________________________________________ 645 João Fernando de Araujo “A FILOSOFIA DA COMPOSIÇÃO” DE EDGAR ALLAN POE: APLICAÇÃO DA METODOLIGIA EM UMA CANÇÃO POPULAR DO SÉCULO XXI _________ 649 Raquel de Moraes Pianta MÚSICA E ESPIRITUALIDADE: UMA APROXIMAÇÃO A PARTIR DO CAMPO DA EDUCAÇÃO ________________________________________________________ 653 Bárbara Burgardt Casaletti A MUSICALIDADE NO PENSAMENTO DE HEIDEGGER ________________ 657 Wagner Bitencourt EXISTE “AURA” MUSICAL NUMA ERA DE REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA DA ARTE? _____________________________________________________________ 660 Cintya Fernanda Morato Soares Rafael Trentin Scremin SOBRE A EPISTEMOLOGIA DA MÚSICA DE HELMHOLTZ: IDEAÇÃO ATIVA E INFERÊNCIAS INCONSCIENTES NA PERCEPÇÃO TONAL ___________ 664 Lucas Carpinelli Resumos INTERPRETAÇÃO E PERFORMANCE MUSICAL PELA HERMENÊUTICA FILOSÓFICA DE HANS-GEORG GADAMER _____________________________ 669 Danton Oestreich 11 “PARCIAL, APAIXONADA, POLÍTICA”: CHARLES BAUDELAIRE E SUA CRÍTICA MUSICAL ____________________________________________________ 671 Danilo Pinheiro de Ávila José Adriano Fenerick MPB, INDÚSTRIA CULTURAL E CULTURA POPULAR: ADORNO CONTRA ADORNO ______________________________________________________________ 673 Luciana Molina Queiroz A MÚSICA COMO TRADUÇÃO E REVELAÇÃO FILOSÓFICA NA OBRA DE ADORNO ______________________________________________________________ 675 Lucyane De Moraes A TRANSMISSÃO DE VALORES MORAIS PELO MEIO MUSICAL ________ 677 Halley Chaves da Silva Augusto Matheus Vasconcellos de Araújo NOTAS SOBRE A MÚSICA FOLCLÓRICA RIO-GRANDENSE _____________ 679 Gabriela Nascimento Souza Manoela Nascimento Souza FILOSOFIA DA MÚSICA COMO VERDADEIRA FILOSOFIA: A METAFÍSICA DA MÚSICA DE ARTHUR SCHOPENHAUER ____________________________ 681 Luan Corrêa da Silva O LÓGOS DA MÚSICA NO FILEBO DE PLATÃO _________________________ 683 Leonardo Marques Kussler CONSTRUINDO A TRADIÇÃO: MÚSICA E RECEPÇÃO NO PÓS-GUERRA 684 João Gabriel Rizek DA MÚSICA, DE MIL PLATÔS: A INTERCESSÃO ENTRE FILOSOFIA E MÚSICA EM DELEUZE E GUATTARI ___________________________________ 686 Henrique Rocha de Souza Lima A AUTONOMIA ESTÉTICA COMO BASE DA FORMAÇÃO SUPERIOR EM MÚSICA: UM MODELO EM CRISE? _____________________________________ 688 Flavio Barbeitas O ENIGMA DE WITTGENSTEIN: ESTÉTICA E ESTATÍSTICA ____________ 690 Christian Benvenuti ROUSSEAU E A QUERELA DOS BUFÕES _______________________________ 693 Angélica Romeros de Almeida O CONCEITO DO BELO EM MIKEL DUFRENNE ________________________ 695 Adrio Schwingel TEORIA MUSICAL VERSUS PRÁTICA INTERPRETATIVA? CORRELAÇÃO ENTRE VARIAÇÃO DA DIVISÃO RÍTMICA E TEMPO METRONÔMICO SUGERE QUE A TEORIA E A PRÁTICA NÃO SÃO SUFICIENTES PARA JUSTIFICAR ESCOLHAS INTERPRETATIVAS __________________________ 696 Leandro Serafim Fernando Gualda 12 A MAGIA MUSICAL NO SILÊNCIO DAS SEREIAS _______________________ 698 Gabriela Nascimento Souza ONTOLOGIA E LINGUAGEM DA MÚSICA: REFLEXÕES SOBRE OS PRINCÍPIOS CONCEITUAIS DA LINGUAGEM MUSICAL ________________ 700 Adriano Bueno Kurle O ELEMENTO DRAMÁTICO NO “ELEVAZIONE” DE DOMENICO ZIPOLI: UMA PROPAGANDA EM DEFESA DO CATOLICISMO ___________________ 702 Adilson Felicio Feiler DA GENIALIDADE À DECADÊNCIA: NIETZSCHIANAS ACERCA DO ARTISTA RICHARD WAGNER __________________________________________ 704 João Eduardo Navachi da Silveira MÚSICA: HOBBY, PROFISSÃO OU NEGÓCIO? A MÚSICA NO MUNDO REAL E IMAGINÁRIO DA SOCIEDADE _______________________________________ 706 Bruna Repetto ESTÉTICA MUSICAL NA MPB __________________________________________ 707 Fernando Henrique Machado Ávila A MAVIOSIDADE DA MÚSICA DO UNIVERSO: A COSMOVISÃO PITAGÓRICO-PLATÔNICA DO COMENTÁRIO AO SONHO DE CIPIÃO, DE MACRÓBIO (SÉC. V) ___________________________________________________ 708 Ricardo da Costa II EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS E EDUCAÇÃO MUSICAL Trabalhos Completos O ENSINO DA MÚSICA: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA A PARTIR DO CHORO E SUA INSTRUMENTAÇÃO _______________________________________________________________________ 712 Mateus Pasquali COMPOSIÇÃO MUSICAL COMO ATIVIDADE DIDÁTICA: ESCUTA ALTERITÁRIA BAKHTINIANA COMO ATO COGNITIVO-ESTÉTICO-ÉTICO - EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS EM EDUCAÇÃO MUSICAL ________________ 721 Liana Arrais Serodio EXPERIÊNCIAS SONORAS: A MUSICALIDADE MARCADA PELA PERCEPÇÃO E DESCOBERTA__________________________________________ 736 Édina Regina Baumer Halbertina Roecker Wiggers A TEORIA DA FORMATIVIDADE VOLTADA PARA O PROCESSO INVENTIVO EM SALA DE AULA POR UMA ESTÉTICA DO FAZER _______ 750 Sara Cecília Cesca Jorge Luiz Schroeder 13 CAPOEIRA ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES PARA UMA EDUCAÇÃO ÉTICO- ESTÉTICA _____________________________________________________________ 759 Fernando Campiol Placedino ResumosExpandidos IDENTIDADE E EDUCAÇÃO MUSICAL NAS SÉRIES INICIAIS: CHAMADAS MUSICAIS _____________________________________________________________ 769 Artur Costa Lopes Claudia Helena Alvarenga EXPERIÊNCIA ESTÉTICA E APRENDIZAGEM MUSICAL EM MUSICOTERAPIA A PARTIR DO MÉTODO ORFF _______________________ 773 Melyssa Woituski ESTÉTICA DO RAP E EDUCAÇÃO MUSICAL ___________________________ 777 Edson Ribeiro Biondo Júnior DO ASCETISMO ENTRE ESTUDANTES DE MÚSICA À INTUIÇÃO EM BERGSON _____________________________________________________________ 781 Vânia Beatriz Müller A METODOLOGIA DE ENSINO DO CLARINETE EM BELÉM DO PARÁ: UM ESTUDO SOBRE AS PRÁTICAS DE ENSINO DE DUAS INSTITUIÇÕES LOCAIS E SUAS CONTRIBUIÇÕES À PROFISSIONALIZAÇÃO ___________ 785 Herson Mendes Amorim Resumos AUDIAÇÃO E ESTUDO CONSCIENTE: UMA FERRAMENTA PARA APRIMORAMENTO DA PERFORMANCE MUSICAL DE ESTUDANTES DE FLAUTA TRANSVERSAL _______________________________________________ 791 Tilsa Isadora Julia Sánchez Hermoza TEORIA DELLA FORMATIVITÀ: UM INSTRUMENTO FILOSÓFICO DESTINADO À REFLEXÃO DO PROCESSO ARTÍSTICO EM SALA DE AULA _______________________________________________________________________ 794 Sara Cecília Cesca Lucas Eduardo da Silva Galon PERFORMANCE EXPERIMENTAL, CONFLUÊNCIAS E CONVIVÊNCIAS 796 Fernando Maia Assunção Samuel Cavalcanti Correia INFLUÊNCIA DA PRÉ-DEFINIÇÃO DE CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO NA APRECIAÇÃO DA EXECUÇÃO MUSICAL RESULTA EM NECESSIDADE DE BUSCAR VALIDADE ECOLÓGICA NA CRIAÇÃO DE NOVOS MÉTODOS _ 798 Estela Kohlrausch Fernando Gualda 14 SEMELHANÇAS ENTRE A PROPOSTA EDUCACIONAL DE SCHAFER E KOELLREUTTER ______________________________________________________ 800 André Luiz Greboge EDUCAÇÃO MUSICAL COMO EXPERIÊNCIA ESTÉTICA: UMA INVESTIGAÇÃO A PARTIR DE ARTHUR SCHOPENHAUER _____________ 802 Thaís Nascimento MULHERES EM BANDAS DE MÚSICA: FATOS ESTÉTICOS E SOCIAIS NO NORDESTE DO BRASIL E NORTE DE PORTUGAL ______________________ 803 Marcos dos Santos Moreira O GESTO NA AUDIÇÃO ATIVA DO MÉTODO ORFF/WUYTACK __________ 805 André Luiz Greboge III ESTÉTICAS, ARRANJOS E COMPOSIÇÕES DE TODAS AS HARPAS À KORA: MALI E ISLÂNDIA NO GLASTONBURY FESTIVAL _____________________________________________________________ 807 Wellington Marçal de Carvalho ELABORAÇÃO DE ARRANJOS PARA CONTRABAIXO ACÚSTICO SOLISTA EM COLABORAÇÃO COM O VIOLÃO NO CONTEXTO ESTÉTICO DE OBRAS BRASILEIRAS _________________________________________________________ 809 Gadiego Carraro UMA ESTÉTICA DO SUBLIME NO PROCESSO COMPOSICIONAL DE SONATINA PARA PIANO E FAGOTE ___________________________________ 811 Willian Fernandes de Souza SONATAS D´APRÈS SCHUBERT/BRAHMS: UMA LEITURA RIZOMÁTICA DO FLUXO DE CONSCIÊNCIA _____________________________________________ 832 Yuri Behr Kimizuka DANÇA COM LOBOS ___________________________________________________ 840 João Francisco de Souza Corrêa AS SÚPLICAS DO CARGUEIRO NEGRO ________________________________ 861 Arthur Vinícius MILONGA NOVA ______________________________________________________ 881 Gadiego Carraro SÍNTESE ABSOLUTA __________________________________________________ 891 Halley Chaves da Silva José Liduino Pitombeira de Oliveira MISANTROPIA ________________________________________________________ 895 Igor Mendes Krüger BANDA DE UM HOMEM SÓ: MEMORIAL DESCRITIVO DE COMPOSIÇÃO PARA O DISCO CONCEITUAL OLHAR. FAIXA 1: “MISANTROPIA” _______ 908 Igor Mendes Krüger 15 METAGON – TEMPO MUSICAL ESPIRAL _______________________________ 931 Luigi Antonio Irlandini A MÚSICA NÃO PODE SER ERUDITA SONETO CONCRETO SOBRE COMPOSIÇÃO PLANIMÉTRICA MONTAGEM DE FRAGMENTOS DE H. J. KOELLREUTTER & ADONIRAM BARBOSA _____________________________ 947 Antonio Herci Ferreira Júnior COTA ZERO: UM ESQUEMA SUMÁRIO _________________________________ 960 Claudia Helena Alvarenga Tarso Bonilha Mazzotti IMAGENS DO SERTÃO PARA CLARINETA EM Bb E VIOLÃO ____________ 970 Marcelo Alves Brazil SIBÉRIA _______________________________________________________________ 986 Paulo José de Siqueira Tiné QUEM VEM LÁ?! METALINGUAGEM, AGONISMO E HIBRIDAÇÃO CULTURAL COMO MARCAS DIFUSAS DE UM PROCESSO CRIATIVO __ 1033 Paulo Rios Filho CATÓLICOS LIMIARES: A OBRA E BREVES CONSIDERAÇÕES ________ 1072 Samuel Cavalcanti Correia 16 I ESTÉTICA E FILOSOFIA DA MÚSICA 17 I TRABALHOS COMPLETOS 18 MÚSICA E IMAGINAÇÃO EM “LIÇÕES SOBRE A CONSCIÊNCIA IMANENTE DO TEMPO” DE HUSSERL José Luiz Furtado josefurtado1956@hotmail.com Professor Associado do Departamento de Filosofia da UFOP Resumo: A fenomenologia de Husserl apresenta uma nova concepção da percepção sensível revelando o papel constituiente da subjetividade compreendida em sentido transcendental. Em as "Lições sobre a consciência imanente do tempo" o filósofo toma a música exemplarmente para referendar sua análise da sensibilidade. Nosso trabalho versa sobre a reflexão do fundador da fenomenologia sobre a música, ou melhor, sobre a musicalidade da música. Palavras-chave: Husserl. Fenomenologia. Música. Tradicionalmente a imaginação foi considerada uma faculdade intermediária entre a percepção, de natureza empírica, e a universalidade dos conceitos, como ideia, por exemplo, em Kant. Husserl ocupar-se-á da imaginação em sentido estético, ou seja, referida a objetos – obras de arte e sinais de toda sorte - cuja função consiste em representar, ou, em linguagem fenomenológica, presentificar outras realidades que não estão contidas neles próprios. Mas a análise fenomenológica da imaginação não escapará do primado ontológico da percepção estabelecido por Husserl como um dos corolários principais da fenomenologia. “A razão é intuição que se propõe reduzir todo entendimento à intuição”, afirma Husserl.1 Mas a forma mais plena e originária de intuição é a percepção sensível, de modo que a imaginação estará condenada a ocupar um lugar secundário na hierarquia dos modos de consciência, como já ocorria na tradição filosófica anterior, seja nas correntes empiristas ou racionalistas. Primeiramente imaginação será definida por Husserl a partir dos conceitos de “presentificação” e “neutralização”. Através da imaginação a consciência intencional presentifica, ou torna “quase” presente, um objeto, a imagem retirando-lhe, no entanto, o caráter tético da existência por ele possuído em sua percepção sensível. De fato a percepção nos dá o objeto em “carne e osso”. Desta forma a imaginação depende da percepção e lhe é inferior pois só a percepção constitui uma doação propriamente falando originária, enquanto a imaginação é derivada da primeira. Não podemos imaginar oque quer que seja senão a partir do mundo da percepção. 1 A Ideia da fenomenologia. Trad. Artur Mourão. Porto: Edições 70, 1985, p. 92, grifo nosso. mailto:josefurtado1956@hotmail.com 19 Pois bem nas Ideias I, principalmente no § 111, Husserl, tomando como exemplo a gravura de Dürer intitulada “O cavaleiro, a morte e o diabo”, e mediante uma análise que nos faz recordar a de Heidegger, em “A origem da obra de arte”2, afirma que, primeiramente, a gravura se apresenta como uma coisa mundana qualquer. Ou seja, como objeto material existente aí diante de mim no mundo, que eu posso tocar ou mudar de lugar, por exemplo.3 Para que possamos percebê-la propriamente como uma obra de arte é necessário neutralizar o caráter tético da sua existência, ou seja, a fé perceptiva que acompanha toda percepção sensível de um objeto. Como Kant já havia assinalado na “Crítica do juízo”, a percepção estética é desinteressada na medida em que se desliga da posição de existência do objeto dirigindo-se somente à sua pura forma sensível. A percepção de um trigal tanto pode suscitar a imaginação dolucro que trará ao seu proprietário, quanto o prazer de contemplar sua forma amarelada brilhando sob o sol se submeto a percepção a uma neutralização. Na medida, pois em que a existência do objeto percebido é neutralizada surge no meu campo visual agora, uma irrealidade que constitui precisamente a obra como tal. Enquanto percebo a obra, não mais vejo o quadro, do mesmo modo como quem vê os olhos do outro nada percebe do seu olhar. Ela não perde, entretanto – o que constitui a meu ver uma das maiores dificuldades da compreensão dos fenômenos estéticos - seu caráter sensível. A irrealidade da obra não significa absolutamente que ela seja de natureza conceitual ou ideal, que no fundo constitui a concepção de Hegel da arte como “ideia sensível”. A neutralização apenas significa que a obra não indica - e nós não podemos dizê-lo - onde se situa o que ela representa. O paradoxo consubstancial ao elemento estético reside no fato dele nos dar a ver e entender mais do que nos seria dado ver e entender através das linhas, cores e superfícies, por exemplo, de que é feita uma pintura. Paradoxo descrito por Merleau-Ponty, a propósito de um quadro: “vejo segundo ou com ele mais do que ele próprio”.4 Assim podemos dizer da audição de uma sinfonia que ela emana ou emerge dos sons que ouvimos, e que eles operaram a presentificação de uma irrealidade.5 Nem podemos dizer que a melodia seja um ser, pois nesse caso deveríamos reduzi-la aos sons dos instrumentos, nem que ela seja um não ser. Em sua pura aparência neutralizada ela se apresenta como uma irrealidade. Na obra de arte, escreve Hegel, segundo a terminologia que lhe é própria, “o espírito não busca nem a materialidade concreta ... nem os conceitos universais puramente ideais”. 2 A origem da obra de arte. Porto: Edições 70, 1998. 3 Idées Directrices pour une phénomélogie; introduction générale a la phénoménologie pure. Tradução, introdução e notas por Paul Ricouer. Paris: Gallimard, 1950 4 A linguagem indireta e as vozes do silêncio. São Paulo: Abril, 189, p. 188. 5 Platão já havia apontado para este fenômeno. A obra de arte, por exemplo uma estátua, é e não é o que ela representa ou dá ver. Podemos perfeitamente compreender que se trata de uma estátua de Apolo, mas ao mesmo tempo sabemos que não se trata de Apolo em carne e osso. A estátua representa o que o ser Apolo não é. 20 A obra de arte é um fenômeno que não presentifica o que efetivamente ela dá a ver. A sua significação não surge dos elementos materiais de que é feita mas da forma sensível que os reúne em um todo, ou seja, da disposição espacial e temporal que o artista logra consumar através deles. “Uma melodia não é uma simples soma ou junção sequencial de notas, nem um filme uma soma de imagens”6. Contrapondo-se surpreendentemente a essa intuição fundamental Husserl, como demonstrou Maria Saraiva7, aplica de modo ambíguo, a noção de presentificação por analogia, à atitude artística, principalmente no § 111 das Ideias I intitulado “modificação de neutralidade e imaginação”. No texto citado o quadro será considerado um objeto imagem a servir de mediação entre a consciência e o objeto representado e julgado a partir de uma relação de semelhança que em tudo recorda a mimesis platônica. Sigamos o texto que se refere à gravura já citada de Dürer. “Temos uma consciência perceptiva na qual nos aparece em traços negros as figuras incolores do Diabo, da Morte de Cavaleiro. Não é para eles enquanto objeto que nos dirigimos na contemplação estética; somos enviados para as realidades retratadas, mais precisamente desenhadas, à saber, o cavaleiro em carne e osso etc”.8 No trecho citado, através do conceito de presentificação9 por analogia Husserl “canoniza o ideal de imitação que animou a arte realista”. Segundo Saraiva10 “o primado da percepção pesa ainda demasiadamente” sobre Husserl e “segundo esta perspectiva “o artista não se afasta do real senão para imitá-lo e o espectador não contempla senão para regressar ao real“. Se, seguindo o fenômeno das presentificação a análise da obra de arte nos conduz diretamente a reavivar o falso conceito de arte como figuração do real, as análises que partem do fenômeno correlato da neutralização nos conduzem por uma via mais próxima à essência da arte e mais distante da percepção sensível.11 6Maria Del Carmen López. El arte como racionalidad liberadora, Madrid, Ediciones UNED, 2000, p. 53. 7 A concepção da obra de arte em Husserl. Coimbra: Centro de estudos fenomenológicos, 1965. A redação deste artigo deve mais do que eu poderia avaliar aqui a este texto da Maria Saraiva. 8 Ideias I, op. Cit. p. 18. 9 Veja-se a seguinte passagem das Ideias I: “Nos atos de intuição imediata obtemos a intuição da própria coisa ... não tomamos consciência de nenhuma coisa em relação à qual o que é percebido serviria de signo ou imagem-retrato”. Dizemos assim que a percepção nos dá o objeto em carne e osso enquanto a lembrança ou a imaginação “presentificam” o que elas visam. “A percepção de uma coisa não presentifica o que não se encontra presente, como se a percepção fosse uma lembrança ou imaginação; ela apresenta, ela apreende a coisa mesma em sua presença corporal”. (parágrafo 43, p. 140). 10 Op. cit. p. 15. 11 O conceito de neutralização ou neutralidade aplicado à imagem não deixa de ser problemático como Daniel Giovannangeli já havia assinalado (La passion de l`origine, Paris, Galilée, 1995), porque difere de neutralização da posição de existência na “epoke”. A redução depende de um ato intencional que pode ser aplicado a qualquer consciência ou fenômeno. No caso da imagem estética a neutralização diz respeito imediatamente ao conteúdo noemático, por sua irrealidade. 21 Evidentemente toda fruição estética começa com a percepção sensível de um objeto físico: o mármore da estátua, os sons de uma melodia, a tela sobre a qual se pintou um quadro. Mas a percepção sensível, uma vez neutralizada, permaneceria ainda uma percepção normal? A gravura de cobre, objeto primeiro de uma “percepção normal cujo correlato é a coisa “placa gravada”12 permaneceria a mesma? Dando a palavra Husserl: “a consciência que permite desenhar e mediatiza esta operação, a consciência o retrato é um exemplo desta modificação por neutralização da percepção. Este objeto retratado, que desenha outra coisa, não se oferece nem como ser nem como não ser, nem sob nenhuma outra modalidade posicional; ou, acima de tudo, a consciência o toma como ente, mas como um quase-ente segundo a modificação de neutralização do ser”.13 Assim o quadro coisa, a tela e todos os elementos constituintes do “substrato material da obra”14, ou a gravura em cobre desparece simplesmente com a neutralização através da qual surge a obra como um quadro cuja superfície se abre como uma “janela”. Antes de prosseguir, digamos ainda uma palavra esclarecedora sobre a neutralização e o caráter dóxico da percepção sensível e do juízo. Os atos de percepção e de juízo não sofrem qualquer tipo de modificação quando são neutralizados. A neutralização atinge apenas os objetos intencionais dos respectivos atos de consciência. Na percepção normal a coisa percebida solicita imediatamente nossa adesão à sua existência. Esta crença dóxica toma parte essencial em nossa vida cotidiana e não cessa de ser escandaloso ver os professores de filosofia negarem a existência real do mundo (como se ela precisasse de prova) e, fora da sala de aula, fugirem afobadamente, ao atravessar a rua, da frente dos automóveis, não lhes ocorrendo, nem por um centésimo de segundo, duvidar da existência real do veículo ameaçador. Mesmo porque a sala de aula de filosofia nos permite arroubos de inteligência e imaginação que a vida cotidiana limita. Noentanto na neutralização o conteúdo - por exemplo de uma proposição categórica - me é indiferente. Isto é inclusive necessário se pretendo examinar sua forma sintática ou lógica. Do mesmo modo, no tocante à percepção normal, se a neutralizo continuo visando qualquer coisa – pois toda consciência é consciência de – e qualquer coisa efetivamente presente, pois o objeto da percepção é uma presença. Mas esta presença perde em meu campo visual seu caráter de presença de uma coisa real. Ela é apenas uma coisa visível e vista sob talou qual aspecto. O sentido noemático permanece o mesmo mas perde a força de realidade que acompanha normalmente as percepções na vida cotidiana. Podemos então pensá-la como uma espécie de irrregionalização – objetividade noemática extrínseca tanto ao mundo como à consciência - ou “coincidência imediata com o mundo em seu aparecer” (p. 38). 12 Op. cit. p. 373. 13 Ibidem. 14 Cf. HENRY, M. Voir Le invisible. Paris: Vrin, 1988. 22 Assim ao abandonarmos, pela neutralização, a atitude perceptiva normal, a pura aparência, as notas de uma canção, libertas da sua função de significar uma realidade ou de indicar uma existência – como o barulho de uma motocicleta – cessarão de ser percebidas propriamente como o que são realmente, ou seja sons emitidos por determinados instrumentos. Elas funcionarão como índices de outras realidades. Esse é, no entanto, um primeiro passo, uma primeira neutralização. O quadro já não é mais uma coisa existente diante de mim, mas o análogo de outra coisa. Sei que o retrato não é a própria pessoa retratada, que ela não está ali na imagem que, no entanto a presentifica. A pessoa não está ali: ela está espelhada em sua imagem, em representação. Por este motivo os primeiros selvagens a entrarem em contato com a fotografia, temeram que ela lhes roubassem a alma ou rosto, quando não a vida. Subsiste, pois ainda a relação da percepção com sua exterioridade, a saber, o mundo da existência, pois sei que o retrato não é (juízo de existência) o que ele representa. Mas ele não representa que é uma representação.15 Daí a necessidade de uma segunda neutralização ou se si quer, redução. Através dela me reporto não mais ao que a representação presentifica mas o que nela e por ela própria é percebido. O importante não é mais o que a figura desenhada ou pintada na superfície da tela retrata, mas sua simples aparência, digamos assim, imanente. As figuras de Durer não mais me conduzem a pensar um diabo ou um cavaleiro reais, e a obra de arte, neste caso perdida como 15 Assim , para citar um exemplo, o representado, em Merleau-Ponty, é "en soi non rapporté à ce qui seul lui donne sens: la distance, l'écarte, la trasncendance, la chair".(Le visible et l'invisible. Op. cit., p. 306). O notável do problema da representação em geral é que o representado pode, em sua presentificação como signo, ser também representante do que ele significa. "Dans la représentation symbolique par signe ... nous avons l'intuition ... d'une chose (o representante,JLF) avec la conscience qu'elle dépeint ou indique par signe une outre chose"(Husserl, Idées, op. cit., § 43, p. 79). Todo o problema da psicanálise e da constituição do sujeito foi comumente assentado sobre essa estrutura representativa e por sua realização privilegiada na linguagem. De fato, como escreve Foucault, a representação é "em sua essência própria ... ao mesmo tempo indicação e aparecer; relação a um objeto e manifestação de si"(Les Mots et les choses. Paris: Gallimard, 1966, p. 79). Como tal a representação é simplesmente o fenômeno, uma vez que toda presença sensível implica o aparecimento de um objeto e os elementos sensíveis que constituem sua aparência. "O representante, escreve Jean Wahl, essas linhas, essas cores, é inteiramente transparente, não tem outro conteúdo senão o representado (essa face); e entretanto ele tem alguma coisa que só pertence a ele, que, bem que não seja um conteúdo, especifica-o como representante de um outro: nele deve-se manifestar seu poder representativo"(Estruturalismo e filosofia, op. cit., p. 56-57). Evidencia-se aqui a confusão na qual a problemática se instala sempre que se quer elucidar a representação a partir do contéudo transcendente da aparência que ela exibe, pois o que não é "conteúdo" da representação e que se manifesta no representante da representação como seu próprio poder representativo é justamente seu aparecer como tal. Linhas, cores, etc., não podem representar um rosto ou qualquer coisa que seja, senão se são eles mesmos, aparência. É inútil situar na estrutura do signo e no seu poder de representar "a relação que o liga ao que ele significa"(Foucault, op. cit., p. 78), ou seja, no fato de, em geral, o representante representar que ele representa o representado, a estrutura ontológica suscetível de exibir a essência da representação. O que é representado pela representação é sempre qualquer coisa de ôntico. 23 realidade mundana não mais apela à imaginação presentificante, nos convidando a explorar as dimensões de uma nova espécie de percepção, ou seja, a percepção propriamente falando, estética de uma irrealidade. Pois bem Husserl irá, nas Ideias II preparar o campo para uma melhor compreensão do que vem a ser a essência do objeto estético, isto é, da obra de arte. Nas Ideias I a tela oferece-se à nossa percepção dentro de uma moldura, suspensa numa parede16 enquanto nas Ideias II o quadro aparece circundado por um mundo natural, pertencendo ao conjunto dos “objetos espiritualizados” opostos aos objetos materiais estudados pelas ciências naturais. Os objetos espirituais, ao contrário dos naturais, devem ser compreendidos e não explicados. Ou seja, devemos compreende-los em seu ser para nós, compreender sua significação que, segundo uma intuição extremamente fecunda de Husserl, se encontra integralmente incorporada em suporte corporal. A linguagem e fala, por exemplo, não meramente meios materiais de que o pensamento se serviria para expressar-se, exteriorizando-se. Se assim fosse, dirá Merleau-Ponty17 poderíamos, apreender de um lado, puros pensamentos independentes e claros para si mesmos e, de outro as palavras necessárias para sua expressão. Mas na verdade isto é impossível. Estar de posse de meus pensamentos é já, imediatamente, tê-los articulados como linguagem e todos sabemos como é difícil falar sem pensar em nada, ou seja, nas palavras que, no entanto, deveríamos empregar de forma absolutamente aleatória. Por isso ouvimos o sentido das palavras que nos são pronunciadas e não a sonoridade da voz que as articula. Através da leitura habito imediatamente o sentido do texto porque minha compreensão não está orientada primariamente para a materialidade das letras e signos do papel. O mesmo é válido para a experiência do outro. Sartre dizia que quando gostamos de alguém não vemos comumente a cor dos seus olhos, mas a expressão do olhar. Através da percepção do corpo do outro vivemos compreensivamente a significação de uma existência, apreendemos a doçura de um caráter ou a fortaleza de uma personalidade. Mas embora o corpo do outro seja também uma corporeidade espiritualizada, na medida em que se trata de substrato expressivo de uma existência Husserl afirma que não podemos transpor por analogia, este esquema para a obra de arte. A face risonha do outro é a própria concretização da alegria, a felicidade encarnada aqui e agora. O corpo do outro é uma existência que não pode ser de nenhuma forma “neutralizada” pela percepção. Aprofundando a análise dos objetos espirituais Husserl chama a atenção para o fato de o sentido espiritual pertencera uma esfera puramente ideal sem qualquer relação com a existência, embora em alguns casos essa relação possa existir em maior ou menor medida. Nas Ideias II escreve: “Em muitos casos temos uma natureza real, um ser dotado de existência como base do sentido 16 Cf. SARAIVA, M. op cit. p. 21. 17 Phénoménologie de la perception. Paris: Gallimard, 1966, p. 78. 24 espiritual, em muitos outros temos uma irrealidade física (“ein physisch Unwirkliches”), desprovida de existência”.18 Entre os primeiros estão os objetos de uso e suas significações valorativas para nós, ao segundo grupo – o das “irrealidades físicas” - pertencem as obras de arte em geral. Enquanto a significação de uma colher, por exemplo, pode ser lida diretamente em sua forma material – a sua serventia – a percepção sensível normal pode servir aí como forma da apreensão do seu ser sem necessidade de nenhuma neutralização. Mas no caso da obra de arte o que permite sua apreensão espiritual é “uma irrealidade física”. O quadro coisa física, o suporte material da obra de arte como tal é irrealizado pela percepção estética suporte físico irrealizado: o corpo sensível da imagem não é a imagem desenhada no quadro suspenso na parede, mas o objeto transcendente que através – das cores e linhas no caso de um quadro, dos sons no caso da música - e para além dela o olhar constitui.19 Irrealizada ao perder seu estatuto de obra do mundo, por seu turno as manchas coloridas do quadro são irrealizadas também, ao transformarem-se no corpo irreal da obra de arte. O quadro suspenso na parede, uma vez irrealizado pela neutralização faz surgir a obra de arte. O quadro obra de arte não tem um corpo sensível real, mas em vez dele, um suporte físico irrealizado. Este suporte irreal não é evidentemente a moldura ou mesmo a tela. São as manchas coloridas de tinta, os traços da gravura, o ritmo da dança, a harmonia musical da sinfonia. Desta forma, não só a obra perde seu estatuto de coisa mundana mas também seus elementos. As palavras de um poema expressam uma imagem poética. A pedra no caminho nada me informa sobre a natureza dos caminhos ou dos obstáculos que neles podem surgir e as manchas coloridas da tela cessam de serem percebidas como tais. Em “Lógica formal e transcendental” Husserl retoma o problema e propõe- se considerar em conjunto, de um modo extremamente fecundo, a linguagem e as obras de arte. Primeiramente Husserl chama a atenção para a o processo de constituição das significações como unidades ideais. Assim como a mesma coisa pode ser percebida ou visada através de inesgotáveis perspectivas diferentes, também uma significação pode ser expressa a partir de uma diversidade de atos de fala. Há sempre mais ou menos do que queríamos dizer em tudo que dizemos; 18 Husserliana IV, p. 239. Citado por SARAIVA, p. 34. Sobre a idealidade da linguagem afirma Husserl que ela possui “a objetividade das objetividades do mundo que denominamos espiritual ou mundo da cultura e não a objetividade da simples natureza psíquica. ... assim distinguimos igualmente a própria gravura das suas milhares de reproduções; e a gravura, a própria imagem gravada, nós vemos a partir de cada reprodução e ela é dada em cada reprodução do mesmo modo como um ser ideal idêntico” (Logique formelle et transcendentale. Paris: PUF, 1965). 19 A dificuldade extrema da compreensão desse fenômeno absolutamente essencial reside na impossibilidade de perceber puramente o desenho ou a pintura sem perceber ao mesmo tempo (no caso de uma pintura figurativa em perspectiva, por exemplo) a sua profundidade imaginária. A percepção, neste caso, não pode ser “neutralizada”. Vemos, por assim dizer, através das pinturas e com elas. 25 e se não podemos separar os pensamentos das formulações que os exprimem, muito menos podemos fazê-los coincidir completamente. A idealidade das expressões linguísticas não se refere pois apenas às significações que elas visam, atingindo a linguagem no seu próprio corpo, tornando-a, afirma Husserl, uma “corporeidade espiritual”.20 “A própria palavra, a própria proposição gramatical, é uma unidade ideal que não se multiplica nas suas milhares de reproduções”. Dá- se então, na palavra, a encarnação de um sentido espiritual em um substrato material, como a harmonia de uma música em suas notas. Ao falarmos nossos pensamentos se “com-fundem” com as palavras insuflando-lhes a alma do sentido e da significação. A propósito da música diz Husserl que “apesar de ser composta de sons a sonata é uma unidade ideal”. Mas o notável é que, frisamos uma vez mais, Husserl estende essa idealidade aos próprios sons através dos quais a música se expressa. “Seus sons, afirma, não são de forma alguma os sons que estuda a física, ou mesmo os sons da percepção sensível auditiva, os sons enquanto coisas sensíveis. Estes não existem realmente a não ser na sua reprodução efetiva e na sua percepção”.21 De fato a mesma nota do real, o som como coisa sensível, emitida diversas vezes durante a sinfonia será diversamente percebida conforme as notas que a precedem e sucedem. Assim uma coisa são os sons em geral como coisas mundanas, outra os sons de um instrumento que interpreta uma melodia, uma coisa o domínio da existência física na ponta de nossas percepções normais, outra a fluição estética dirigida aos objetos espiritualizados que compõe as obras de arte. 22 Em resumo o elemento significativo que primitivamente era pensado ou podia sê-lo à parte do seu suporte físico ou material será posteriormente 20 “... Enquanto expressões preenchidas por um sentido, como unidades concretas, as formações de linguagem contem ao mesmo tempo um corpo constituído pela linguagem e um sentido expressado, mas isto concerne também às formações de linguagem desde o ponto de vista da sua própria corporeidade que é por assim dizer uma corporeidade espiritual”. (Idem, p. 19. Grifado por Husserl) 21 Logique, op. Cit. p. 18. 22 O caráter constituinte da percepção fica claro, talvez melhor do que a propósito de qualquer outro exemplo, no caso da percepção musical. De fato, as notas de uma canção são sucessivas, de modo que não seria possível perceber uma melodia se de alguma forma as notas anteriores e futuras não fossem conjuntamente apreendidas com as notas atuais. De modo nenhum a percepção melódica poderia ser “explicada”, por isso como efeito provocado em nós pelos sons da melodia uma vez que nem as notas passadas, nem as futuras são sons, ou seja, fenômenos físicos. Elas constituem duas formas de não ser ou irrealidades: o que ainda não é e o que já não é mais. Fica claro então o papel ativo, ou seja a espontaneidade da consciência em sentido constituinte. Como afirma IVONNE PICARD: “a melodia se desfaz à medida que se faz, não se apresenta nunca com evidência cega, sua unidade não pode ser total, sendo sempre indicada e nunca possuída”. (El tiempo em Husserl y em Heidegger. Buenos Aires: Editorial Nova, 1959, p. 35). A audição das notas e sons tocados pela orquestra é a experiência da melodia que no entanto, funciona como uma espécie de horizonte regulador da própria experiência atual que só assim é uma percepção estética. “A melodia em sua totalidade, afirma Husserl, se presentifica enquanto ressoa, enquanto ressoam os sons que a integram, quer dizer, enquanto são pensados em um só nexo apreensivo. E só terá passado depois de terminado o último som”. (Fenomenología de la conciencia Del tiempo inmanente. Buenos Aires: Nova, 1959, p. 86). 26 totalmente encarnado na base física, de maneira a transformar esta na sua própria materialidade, em “corporeidade espiritual”. Desaparece assim da consideração estética husserliana a noção de presentificaçãoe juntamente com ela a falsa Ideia da obra arte como imitação platônica. Isto permitirá a concepção da autonomia do universo estético, tornando-se a obra doravante portadora de um sentido imanente, de uma espiritualidade encarnada que transfigura seu suporte material de tal modo a eliminar, pelo menos nesse campo das análises fenomenológicas, o primado da percepção. BIBLIOGRAFIA GIOVANNANGELI, D. La passion de l`origine, Paris, Galilée, 1999. HENRY, M. Voir Le invisible. Paris: Vrin, 1988. HUSSERL, E. Logique formelle et transcendantale. Trad. Suzanne Bachelard, Paris: PUF, l965 _________. A Ideia da Fenomenologia. Porto: Edições 70, 1987. _________. Idées Directrices pour une phénomélogie: introduction générale a la phénoménologie pure. Tradução, introdução e notas por Paul Ricouer. Paris: Gallimard, 1950. __________. Fenomenología de la conciencia del tiempo inmanente. Trad. Otto E. Langfelder. Buenos Aires: Editorial Nova, 1959. LÓPEZ, Maria Del Carmen. El arte como racionalidad liberadora, Madrid, Ediciones UNED, 2000. SARAIVA, M. A concepção da obra de arte em Husserl. Coimbra: Centro de estudos fenomenológicos, 1965. 27 A PERCEPÇÃO COMO FORMA DE INICIAÇÃO AO PROCESSO DE INFLUÊNCIA DA MÚSICA NAS PESSOAS Jonny Rosa da Silva Crispim jonny_rsc@hotmail.com; jonnybatera2.0@gmail.com Performer de bandas – Aluno da UFG Dra. Eliane Leão elianewi2001@gmail.com Professora da Universidade Federal de Goiás Resumo: Este trabalho investigou se a percepção musical é a forma de iniciação ao processo de escuta, se a influência da música nas pessoas passa pelo entendimento da mesma; e se o jovem escuta e entende a música que ouve. Questiona a importância da educação musical para o sujeito. A primeira parte contextualiza a importância da música e, a segunda, trata-se da pesquisa realizada com alunos do 9º do ensino fundamental e alunos do 1º, 2º e 3º Anos do ensino Médio. Consiste de um estudo de Metodologia Quantitativa, que pela utilização de questionários, a partir da audição de (03) três músicas, resultou em dados que foram analisados quanto à frequência das respostas obtidas. O público alvo, jovens de 14 a 19 anos, respondendo aos questionários, possibilitaram a investigação. Concluiu-se que o analfabetismo musical resulta da falta de percepção musical e leva ao não entendimento da música que é ouvida. Os autores indicam que o fortalecimento da Educação Musical no país é o maior desafio para os educadores. Palavras-chave: Analfabetismo Musical, Percepção Musical, Influência da Música, Filosofia da Educação Musical. INTRODUÇÃO A proposta desta pesquisa foi investigar a influência da música na vida das pessoas e como a educação musical pode ajudar no entendimento musical. Teve como objetivo geral entender se a percepção musical é a forma de iniciação ao processo de escuta e se a influência da música nas pessoas passa pelo entendimento da mesma; investigando, através dos dados coletados, se o jovem escuta e entende a música que ouve. Os objetivos específicos foram investigar: 1 - Se a percepção musical, como forma de iniciação ao entendimento da música ouvida, pode ajudar no trabalho de conscientização do jovem; 2 - Como a educação musical influencia no processo de assimilação das composições analisadas; 3 – O que influencia a compreensão da música que se ouve; 4 – A importância da música para a sociedade, sob a perspectiva do jovem; 5- Se o Analfabetismo Musical tem efeitos na compreensão que o jovem tem da música que ouve; 6 – A diferença entre ouvir e escutar. A primeira parte da pesquisa contextualiza a importância da música; e a segunda parte, trata da pesquisa realizada com mailto:jonny_rsc@hotmail.com mailto:elianewi2001@gmail.com 28 alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e com alunos do 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio, do Colégio Estadual Pedro Xavier Teixeira, em Goiânia. Trata-se de um estudo de Metodologia Quantitativa que, pela utilização de questionários, a partir da audição de (03) três músicas, resultou em dados que foram analisados quanto à frequência das respostas obtidas. O público alvo, jovens de 14 a 19 anos, respondendo aos questionários, possibilitaram a investigação. Inicialmente, estes jovens responderam a questionários específicos que continham perguntas sobre a música e o cotidiano do jovem participante, sobre os estilos musicais, o estilo de vida e a opinião do entrevistado sobre o tema proposto. Do resultado destas respostas pôde-se elaborar o Perfil dos Sujeitos Participantes. Depois, a continuação da coleta de dados foi feita utilizando outras questões (perguntas), a partir da vivência e/ou participação de uma Sessão de Audição de (03) três peças do estilo musical “Rock Brasileiro”, de (03) três épocas diferentes (décadas de 1980, 1990 e 2000). Os dados resultantes foram tabulados e analisados, e esta fase levou `a conclusão final. Este estudo apresenta, além desta Introdução, tópicos tais como: A importância da música para a sociedade; Escutar e ouvir; Importância da Educação Musical; Metodologia; Apresentação dos dados e suas respectivas análises; Conclusões Finais; e Referências. A partir da análise dos dados conclui-se que o analfabetismo musical é a falta de percepção musical, pois sem atenção e sem a percepção do que está acontecendo musicalmente, o sujeito não consegue extrair da música o máximo que ela pode lhe proporcionar. Para trabalhar a conscientização através da música precisa-se primeiramente conseguir fazer os ouvintes perceberem o que estão escutando. Os resultados indicam que o ouvinte analfabeto musical ouve uma música e não a escuta, ele não consegue distinguir instrumentos, entender o tema da letra; não consegue dizer se a música é bem elaborada ou se tem uma estrutura ou forma simples ou complexa. Essa pesquisa tenta afirmar a importância da educação musical; e indica a percepção musical como o primeiro passo que possibilita o processo de influência da música nas pessoas. A hipótese desta pesquisa foi a de que o ser humano só percebe da música o que dela entende; e que somente ouvir música não quer dizer que se escutou a peça com os seus significados, prestando atenção `a sua composição, `a forma e com atenção. Sabe-se que o não conhecimento musical leva `a uma interpretação equivocada do que a música comunica e que este analfabetismo musical interfere na apreciação. A partir destes aspectos é que se faz importante ensinar música nas escolas: para acabar com o analfabetismo musical e promover a melhor apreciação musical e a cognição musical. Essa pesquisa enfocou como tema principal o papel da música na vida do ouvinte e o que este jovem entende/escuta a partir do que ouve. Torna-se também importante investigar o processo de mudança de comportamento que a música pode causar no jovem, se entendendo o que escuta ou não. Pergunta-se se o entendimento da música ouvida, com os seus detalhes 29 e, além dela, a letra podem influenciar o jovem; e de que maneira ou medida. Como informar esse jovem sobre o que ouve para ajudá-lo a se transformar num cidadão mais crítico e uma pessoa melhor para sociedade? O ensino da música pode ajudar o jovem a entender o que ouve e a escolher melhor suas preferências musicais? Estas são as perguntas principais que foram respondidas com a análise dos dados. Para Amaral: “A música está presente na vida das pessoas, sendo utilizada de diversas formas e com diferentes objetivos” (2013, p.163). O autor comenta que o rock brasileiro surgiu através da grande influência da cultura norte-americana sobre o Brasil; e que o rock apareceu como uma febre e dura até hoje com muita força e grande influência sobre quem o ouve. A música tem um grande poder de influenciar as pessoas, assim, passa a ser um recurso importante para se ter em mãos no trabalho de propagaçãoe conscientização de temas que são diários na vida do jovem (drogas, sexo, violência, alcoolismo, entre outros). Os jovens têm a tendência de se agruparem e se manifestarem em sociedade, ouvindo certos estilos musicais, usando tipos de roupas diferentes, andando com pessoas que ouvem as mesmas músicas e que têm costumes diferentes das que ouvem outros estilos. Observa-se os exemplos dos góticos, que não se vestem como os punks, que por sua vez, também são diferentes dos emos (estes, aqui citados como praticantes de gênero musical ligado ao rock, caracterizados pela musicalidade com características melódicas e expressivas, utilizando `as vezes letras confessionais). A partir destas observações, parece ficar evidente que cada música ou estilo musical têm influência sobre os seus ouvintes. O objetivo dessa pesquisa foi mostrar que a música é ouvida em vez de escutada e tem o poder de comunicar e transformar as pessoas, seja fazendo o jovem refletir antes de agir, ou até mesmo mudando sua postura diante situações diversas. Tanto a pessoa que toca quanto a que é somente ouvinte de um estilo, tem o seu comportamento diferente dos outros que são de gostos diferentes. Cada ouvinte interpreta e entende a música como pode. E assim, foi investigado se as bandas que trabalham com essa proposta de mudança de comportamento, de conscientização do ouvinte podem influenciar no comportamento dos jovens. A percepção musical foi o primeiro caminho para se chegar a essa proposta. Se o individuo não consegue perceber os instrumentos que estão sendo tocados, o que a letra da música diz; se não sabe sobre a organização da música, tanto a de uma música simples quanto uma complexa, como é que a música pode influenciar? Pensa-se que se o individuo não entende o que ouve, resulta que o processo de conscientização não se realiza, pois que este é um processo cognitivo que pede a atenção do ouvinte. MOTIVAÇÃO O interesse por esse tema foi despertado quando da participação do 30 pesquisador principal em eventos jovens, onde se percebeu uma influência muito grande de bandas de rock do cenário nacional. Observou-se que muitos jovens amigos, deste ciclo de convivência, entravam em contato com letras que tratavam de temas corriqueiros (do dia a dia do jovem brasileiro) de forma simples o objetiva. Notou-se que vários amigos que ouviam essas bandas podiam ter atitudes diferentes de outros jovens que não tinham contato com essas propostas. Essas observações levaram à hipótese de que a arte é capaz de transformar o comportamento das pessoas; e, através dessa pesquisa, investigou- se a proposta de indicar se pode ajudar a formar o caráter dos jovens, de forma mais fácil e divertida; e se a arte das bandas de rock, por exemplo, pode moldar o jovem e transformá-lo em uma pessoa melhor. A percepção musical, como forma de iniciação ao entendimento do que a música ouvida significa, foi o primeiro passo que engendrou uma análise mais aprofundada sobre o tema. JUSTIFICATIVA, OBJETIVO GERAL E OBJETIVOS ESPECÍFICOS Esta pesquisa se justificou, inicialmente, como forma de detectar os aspectos importantes da influência da música e da letra no ouvinte; proposta através de uma sessão de coleta de dados que utilizaria a escuta musical e as subsequentes respostas a questionário, através da audição de 3 músicas. Os objetivos específicos foram: 1 - Investigar como a percepção musical como forma de iniciação ao entendimento da música ouvida pode ajudar no trabalho de conscientização do jovem; 2 - Investigar como a educação musical influencia no processo de assimilação das composições analisadas; 3 – Investigar o que influencia a compreensão da música que se ouve; 4 – Investigar a importância da música para a sociedade, sob a perspectiva do jovem; 5- Investigar se o Analfabetismo Musical tem efeitos na compreensão que o jovem tem da música que ouve; 6 – Investigar a diferença entre ouvir e escutar. METODOLOGIA Trata-se de um estudo de Metodologia Quantitativa, que pela utilização de questionários, a partir da audição de (03) três músicas, resultou em dados que foram analisados quanto `a freqüência das respostas obtidas. O público alvo foram jovens de 14 a 19 anos, que respondendo aos questionários possibilitaram a investigação. Inicialmente, estes jovens responderam a questionários específicos que continham perguntas sobre a música e o cotidiano do jovem participante, sobre os estilos musicais, o estilo de vida e a opinião do entrevistado sobre o tema proposto. Do resultado destas respostas pôde-se elaborar o Perfil dos Sujeitos Participantes. Depois, a continuação da coleta de dados foi feita utilizando outras questões (perguntas), a partir da vivência e/ou participação de uma Sessão de Audição de (03) três peças do estilo musical “Rock Brasileiro”, de (03) três épocas 31 diferentes (décadas de 1980, 1990 e 2000). Os dados resultantes foram tabulados e analisados, e esta fase levou `a conclusão final. A IMPORTÂNCIA DA MUSICA NA VIDA DO SER A música é uma importante recurso no processo de socialização do individuo. Ela gera sensações diversas e está presente no dia a dia das pessoas, tendo assim um papel fundamental para a vida do ser humano. Segundo Da Silva, 2003: A música é um fator muito importante na vida do individuo. Todos ouvem, apreciam, compartilham, mas poucos sabem de sua importância e em que ela pode contribuir. Ela nos traz alegria e tristeza, sensação de vitória, recordações e saudades, é lazer. A música é algo que nos toca. É importante na vida dos seres humanos. Sendo assim, a música possui um papel fundamental no processo de socialização (Da SILVA, 2003, p.8). A música está presente em todos os momentos da vida do ser humano. É tocada em vários lugares e em várias situações, como em uma trilha sonora de um filme e no carro de som, através de divulgação de anúncios e propagandas. Cita-se ainda Da Silva: Para tanto, não é mero acaso que a música é empregada nos diversos campos da atuação humana. Ela está presente em filmes, anúncios públicos, telejornais, desenhos animados, programas eletrônicos e novelas, dentre outros. E nos mais variados eventos, do baile de carnaval ao velório. A música está nas ruas, praças, lojas, repartições públicas e privadas, supermercados, academias, escolas, aeroportos, bares, lanchonetes, restaurantes, consultórios médicos, igrejas, (ibid., 2003, p.8). A música relaxa o individuo ao mesmo tempo em que pode deixá-lo em estado de alerta, pode transmitir uma mensagem ou ser usada só para dançar. Por estar presente em boa parte da vida do ser humano; e ela tem o poder de ajudar na conscientização dos jovens adolescentes. Mesmo com essa força a música ainda ocupa o último lugar nos pensamentos dos tomadores de decisão em relação ao que ensinar, nas tomadas de decisões sobre a educação. A educação musical deve estar influenciando sim, na formação do individuo, uma vez que ela trata de temas relacionados ao ser humano e está presente na vida cotidiana de todos em sociedade. Por ser escrita, executada e ouvida, a música oferece uma opção a mais para a realização da conscientização. O ser humano ouve uma música e tem sensações diversas através da peça. A música excita ao mesmo tempo em que pode acalmar, eleva os pensamentos ao mesmo tempo em que polui a mente. Com 32 isso, ela pode colocar o individuo em um momento de reflexão sobre suas atitudes passadas, suas decisões atuais e as novas ideias. Promove o poder ao homem de se elevar e, ao mesmo tempo, o de cair em depressão. Mediante as várias experiências que pode nos ocorrer a partir da audição musical, cita-se a que leva `a reflexão sobre um tema específico, ou até mesmo a que nos reporta `a lembranças e `a várias outras situações. O outro aspecto da questão é a ausênciada influência da música na vida do ser. Mais preocupante é a presença da música em sociedade, mas que não é percebida como tal. Isso resulta na situação em que a música, mesmo soando em todos os espaços, não é percebida. Colabora para isso um fenômeno chamado Analfabetismo musical. Em se tratando de um fator negativo, este analfabetismo atrapalha a percepção do conteúdo musical e faz com que o aluno não tenha consciência dos estímulos musicais que acontecem ao seu redor. Não escuta ao que se passa à sua volta. Esta questão do analfabetismo musical talvez seja o aspecto mais importante para ser discutido na atualidade. A filosofia da educação musical há muito trata de temas como: 1 – Por que uma filosofia da educação musical?; 2 – Visões alternativas sobre arte para a fundamentação desta filosofia; 3 – A arte e os sentimentos; 4 – A criação artística; 5 – O significado da arte; 6 – Experimentando arte; 7 – Experimentando música; 8 - A filosofia em ação; e 9 – A filosofia para a transformação da educação musical. Estes temas também são abordados pela Psicologia da Música, que explica como o sujeito aprende música, e por que não aprende, entre outros aspectos. No entanto, nosso foco é discutir por que no ambiente educacional a educação musical não está cumprindo o seu papel de erradicar o analfabetismo musical, dando ao cidadão a oportunidade de entender a música que ouve, de escutar a música que ouve. Reimer (1970) indica que enfrentamos um paradoxo e devemos nos preparar para melhorar nossa prática se quisermos sobreviver como profissionais. Segundo ele: Nós temos nos tornado mais seguros nas escolas, mais conscientes de nossas habilidades, mais sofisticados em pesquisa, mais influenciados pela educação profissional, mais preparados como especialistas em música, mais capazes de justificar nossa importância com argumentos filosóficos. [...] No entanto, temos profunda consciência de nossas deficiências em várias áreas, e de nosso status secundário na educação (REIMER, 1970, p.241). Outro paradoxo, segundo o autor, é que temos que melhorar nossas ações como professores de uma disciplina específica se quisermos sobreviver no ambiente educacional. Esta afirmação nos remete às nossas responsabilidades na confecção e proposição de currículos adequados à realidade brasileira. Como fazer 33 com que nossos alunos apreciem a música que conhecem e aprendam a conhecer a música que ignoram? Como levar o sujeito a escuta a música que ouve? ESCUTAR E OUVIR A diferença entre escutar e ouvir faz parte das melhores discussões e debates entre os professores de percepção, harmonia, improvisação e performance. É preocupação do educador musical por ocasião do planejamento das aulas de musicalização e educação musical. Ensina-se `a criança, ao jovem e ao adulto a prática da escuta dos ritmos, dos sons, dos instrumentos, das estruturas musicais, das melodias, das harmonizações e dos repertórios musicais. Tudo depende da habilidade de percepção e este é o objetivo da educação musical. Para isso existem as aulas específicas de ensino de música. O ouvido está ligado diretamente `a parte do cérebro que regula a vida e além disso é formado muito antes dos olhos. Apesar desta hierarquia formativa que demonstra que o feto ouve antes de escutar, na vida adulta, deixa-se de lado a audição para dar-se mais importância `a visão. Com isso tem-se um empobrecimento da audição, que é infelizmente um estímulo ao ouvir sem escutar. A seguir, algumas citações dos autores Rosa (2000) e Ferreira (2000) que distinguiram ouvir de escutar: Para Rosa (2000), Escutar: (v.t.d.) é: 1. Tornar-se atento para ouvir; 2. Perceber; 3. Dar ouvidos a; 4. (V.i). Prestar atenção para ouvir alguma coisa; enquanto Ouvir: (v.t.d) é: 1. Perceber os sons pelo sentido da audição; escutar; 2. Tomar o depoimento de; 3. (V.t.i) Perceber as coisas pelo sentido da audição; 4. Levar descompostura. Segundo Ferreira (2000), Escutar: (v.t,d) é: 1.Tornar-se ou estar atento para ouvir; 2. Ouvir; 3. Atender os conselhos de; 4. Prestar atenção para ouvir alguma coisa, enquanto Ouvir: (v.t.d) é: 1. Perceber, entender (os sons) pelo sentido da audição; escutar; 2. Ouvir os sons de; 3. Dar atenção a; atender, escutar; 4. Inquirir (o réu, as testemunhas, etc.); 5. Escutar os conselhos ou razões de; 6. Perceber pelo sentido da audição. Pode ser observado a partir das definições listadas acima que ouvir sem escutar não é a forma ideal de se perceber as coisas ao redor. Ouvir é apenas o ato de sentir as ondas sonoras e escutar é ouvir prestando atenção; é estar atento aos sons e não apenas ouví-los por eles terem sido emitidos. A audição depende muito do contexto em que a música está sendo executada/tocada. Dentro de um elevador, na exposição a uma propaganda ou até mesmo em uma sala de espera, não há contexto adequado para a recepção/percepção do que a música pode oferecer. De maneira distraída, o ouvinte não escuta o que ouve. Seus pensamentos têm seu foco de atenção em outros objetivos ou estímulos que não o musical, que provavelmente não têm ligação com a música que está sendo tocada. 34 Há também, na área de propagandas, exemplo de empresas que tentam vincular a música a seus produtos. O público começa a não ter a necessidade de ouvir a música e se concentrar; ele ao ouvir, começa a fazer ligações do que ouve com os produtos e marcas. Muito diferente é o esforço que os ouvintes têm que fazer ao ir a um concerto. Se não prestarem atenção na música e sem a utilização da percepção não haverá receptividade ao que está sendo tocado. Se ouvirem de uma canção somente a letra da melodia, resulta que não escutaram a música em sua totalidade. RELEVÂNCIA DA EDUCAÇÃO MUSICAL No século XXI, no Brasil, o ensino da música já é obrigatório nas escolas. Este fato coloca a música em papel de destaque no futuro da educação brasileira. Sabe-se que a música exerce muitas influências na vida do ser e uma delas é o desenvolvimento da inteligência (LEAO, 2001). Para a autora, a música influencia a aprendizagem: Falava-se [...] dos estudos e das pesquisas que tinham a situação musical como elemento estratégico para investigar a cognição. Tais estudos, [...] mostravam a importância que era dada `a influência da música nos estudos da escrita, da leitura, do desenvolvimento infantil, e no ensino-aprendizagem de várias disciplinas do currículo (LEAO, 2001, p.35). Ouvir música não é uma atividade passiva. Depende de conhecimento. A educação musical deve começar desde muito cedo, para que a compreensão dos elementos musicais possa se desenvolver organicamente, assim como acontece com a compreensão da linguagem falada. Aprender música depende do desenvolvimento cognitivo musical de cada um. Leva `a aprendizagem musical, que se faz de várias formas. Torna-se antes uma necessidade que um luxo. Quando se trata do domínio de um instrumento, este não é condição essencial para se ter a capacidade de compreender ou concentrar-se em uma peça musical. Dominar um instrumento trata-se de outra habilidade que envolve o aprendizado das técnicas do mesmo. Mas o aprendizado musical facilita o aprendizado do instrumento. A capacitação em percepção, em ritmo, em audição atenta, em instrumento e em apreciação; não se esquecendo da improvisação, criação e harmonização que levam à escuta que se espera de um ser musicalizado. Para se ter uma educação musical adequada, teria que se começar a partir da educação infantil, para se conseguir formar cidadãos conscientes do próprio gosto musical e aptos a compreender o que se ouve. A linguagem falada é desenvolvida pelo individuo através dos anos e de seus estudos e treinos sobre ela. A pessoa aprende a falar e vai aprendendo palavras novas, estudando e 35 aprendendo mais coisas sobre o conteúdo. Nocaso de brasileiros, a língua portuguesa. A aprendizagem da língua materna torna o brasileiro apto a entender o que os outros falam; e a falar e expor opiniões e ideias para outras pessoas. A música também comunica, mas com uma linguagem própria. Diferentemente da língua materna, ela não pode ser traduzida para outras linguagens, outras línguas. Se o que a música contém for identificado por aquele que a ouve, ela é entendida. Será entendida se forem entendidos os elementos que a constituem: a sua estrutura, a sua modalidade e as suas regras. Será entendida se forem identificados os instrumentos que a executaram, a época em que foi composta, seu ritmo e sua agógica, ou mais, sua dinâmica. Em outras palavras, é preciso cognição de seus conteúdos para ser entendida. Ouvir simplesmente não leva a nada, não leva `a escuta. No entanto, ela pode causar sensações e reações no ouvinte. Pode causar sentimentos de apreciação ou rejeição e estes consistem em outro tema a ser discutido. Não se pode negar que tem o seu papel como meio de comunicação e interação entre as pessoas. No caso desta pesquisa, sob a perspectiva da importância que é dado ao desenvolvimento da cognição musical, sabe-se que é através da educação musical que se tem a oportunidade de aperfeiçoar o entendimento sobre o assunto. Há muito a ser aprendido através da música e o sistema educacional não pode mais deixar essa área de conhecimento de lado. Entendeu-se, no momento em que esta pesquisa estava sendo feita, que a atual forma de educação musical nas escolas de ensino regular é deficiente e deixa muito a desejar. Muitas vezes ouve-se relatos de professores que não aguentam mais serem “usados” somente para treinarem suas turmas para cantarem no dia das mães ou cortarem bandeirolas para as festas juninas. A educação musical se resume em ensaios para apresentações em datas comemorativas e o ensino dos conteúdos musicais não estão sendo priorizados. A habilidade de ouvir diferentes vozes ao mesmo tempo, compreendendo a fala de cada uma delas, separadamente; a capacidade de lembrar-se de um tema que fez sua primeira aparição antes de se submeter a um longo processo de transformação e agora reaparece sob uma luz diferente; e, por fim, a competência auditiva necessária para reconhecer as variações geométricas do tema de uma fuga e as diferentes tonalidades são todas as qualidades que reforçam o conhecimento. Essas habilidades, entre outras tantas que se adquirem quando se estuda música, podem vir a transformar o individuo em uma pessoa capaz de escutar vários pontos de vista; se tornar mais flexível para entender o outro, entender seu lugar na sociedade; ver mais as semelhanças nas pessoas em vez das diferenças. Somente a pesquisa vai destacar todas as possibilidades que tem a música na transformação do ser, levando `a universalização da educação musical. Esta é a proposta que está sendo feita neste capítulo: mostrar a importância da educação musical. 36 METODOLOGIA A pesquisa foi realizada no Colégio Estadual Pedro Xavier Teixeira com alunos de 9º ano do ensino fundamental, 1º, 2º e 3º Anos do ensino médio. Foram escolhidos 12 alunos de cada série, em uma faixa etária de 14 a 19 anos, submetidos à audição de três peças na seguinte ordem: Papo Reto – Charlie Brown jr – 2002; Pelados em Santos – Mamonas Assassinas – 1995; Que País é Esse – Legião Urbana – 1987. Foi entregue a cada sujeito, um questionário com perguntas sobre as músicas, respondido individualmente e sem consulta. O questionário usado no Projeto Atual foi baseado em um Projeto Piloto realizado com alunos da EMAC – UFG. O projeto foi realizado da seguinte forma: Audição livre das peças com liberdade para exposições de impressões sobre as mesmas. Através do relato das impressões dos alunos da EMAC-UFG foram retiradas as ideias para a formação das perguntas do questionário. Para o projeto piloto foram escolhidos 4 alunos do curso de Música – Licenciatura e através de discurso e anotações obtivemos suas impressões sobre as músicas. PROJETO ATUAL O questionário aplicado aos alunos de 9º ano do ensino fundamental ao 3ºano do ensino médio, utilizado nesta pesquisa, tendo como base o projeto piloto especificado acima, contem as seguintes perguntas: QUESTIONÁRIO: Sobre você: Idade: Escolaridade: Tem alguém da família que toca algum instrumento: Teve aula de música: Estilos musicais que você gosta: Instrumento musical que você mais gosta: Sobre a Música I, II e III, foram perguntadas as questões: Qual o tema dessa música?; Quais instrumentos você percebe?; Você sabe de qual década é essa música?; O ritmo e a letra estão em conformidade, eles dizem a mesma coisa?; Qual a importância dessa música para a sociedade?; Sobre a estrutura da música, na sua opinião é uma estrutura simples ou bem elaborada musicalmente? PREPARAÇÃO DOS DADOS Para a organização dos dados coletados pelos instrumentos descritos acima, visando a análise, preparou-se: uma Tabela de símbolos referenciais para 37 tabular os dados, uma Tabela de respostas obtidas, uma Legenda de quantidade de respostas; e as critérios a serem usados como as respostas esperadas. APRESENTAÇÃO DE DADOS E SUAS RESPECTIVAS ANÁLISES Este capítulo trata da análise dos dados coletados que tiveram tratamento estatístico, depois de tabulados pelo pesquisador. Primeiramente, apresenta os resultados e/ou análises das tabelas, seguidas pelas apresentações das mesmas; ou seja, antes de cada tabela, um comentário do pesquisador. Após este procedimento, segue-se uma avaliação do pesquisador sobre o que foi detectado da análise dos dados das tabelas. ANÁLISE GLOBAL DAS RESPOSTAS APRESENTADAS Analisados os dados pôde-se notar, primeiramente, a descrição dos sujeitos participantes, e/ou o PERFIL DOS SUJEITOS. Os participantes representam uma amostra da escola observada, ou seja, participam deste estudo de caso, mas não são representantes de toda a população de todos os estudantes de Goiânia. Os resultados consistem somente de um indicativo do que pode estar acontecendo no comportamento da população como um todo. São distribuídos em quatro séries, que são: 9º Ano do ensino fundamental; 1º, 2º e 3º Ano do ensino médio; com doze sujeitos em cada série, totalizando 48 sujeitos. Os 48 sujeitos deram respostas consideradas válidas e estas foram comparadas com as respostas esperadas pelos pesquisadores, segundo o critério desta pesquisa. Para definir o perfil dos sujeitos foram observados a idade, a série, preferência pelos estilos musicais, os instrumentos que mais gostam; e além destas, deram informações sobre a existência de parentes músicos na família e se tiveram aula de música. Através da análise dos dados e observações realizadas durante o processo, conclui-se que o público alvo da pesquisa se interessou pelo estilo musical proposto (rock), que foi citado por 12, designando 9,16% dos sujeitos; constituindo o terceiro estilo musical que os alunos mais gostaram. Com isso, observou-se uma simpatia dos sujeitos pelos temas e envolvimento dos alunos na pesquisa. A maioria dos alunos não tem influência musical em casa exercida através de parentes que toquem algum tipo de instrumento e com isso, pensa-se que o interesse dos alunos sobre os conteúdos musicais podem vir a ser menores do que os dos alunos que têm músicos na família. Pensa-se que as aulas de música ajudam no desenvolvimento cognitivo do aluno e 52,1% (25) dizem já terem participado de aulas de música. Mesmo com mais da metade dos alunos já tendo estudado música obteve-se muitas respostas erradas no questionário, começando com os instrumentos, em que nenhum aluno percebeu a voz como instrumento musical. Como não é algo que se pode manusear como objeto, a voz por ser emitida pelo músico, inerente ao corpo, gera 38
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