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FÍSICA GERAL E EXPERIMENTAL II Mauro Noriaki Takeda , 2 SUMÁRIO 1 TERMOMETRIA .............................................................................................................. 3 2 CALORIMETRIA ............................................................................................................ 17 3 TERMODINÂMICA ........................................................................................................ 34 4 MOVIMENTO ONDULATÓRIO...................................................................................... 52 5 ELETRICIDADE I ............................................................................................................ 72 6 ELETRICIDADE II ........................................................................................................... 84 , 3 1 TERMOMETRIA Olá, aluno! No dia a dia, é comum a utilização dos termos “temperatura” e “calor” com o mesmo significado. No entanto, em Física, esses dois termos apresentam significados diferentes. Veremos que os conceitos de “quente” e “frio”, baseados no sentido do tato, estão associados à temperatura. Um corpo quente está em uma temperatura mais elevada ao passo que um corpo frio está em uma temperatura mais baixa. Por sua vez, calor é a transferência de energia devido à diferença de temperatura, e essa variação de temperatura provoca a variação das dimensões de sólidos e líquidos, ou seja, a dilatação ou a contração. 1.1 Temperatura e Lei Zero da Termodinâmica É comum associarmos o conceito de temperatura com o grau de calor ou frio de um corpo. Também é familiar a ideia de que se colocarmos em contato dois corpos com temperaturas iniciais diferentes, eles atingirão uma temperatura intermediária entre o quente e o frio. Por exemplo, se colocarmos água quente e água fria em uma bacia, a temperatura da mistura atingirá o equilíbrio entre quente e frio. Se colocarmos dois corpos em um recipiente isolado do meio exterior de tal maneira que formem um sistema isolado, e se os corpos estiverem com temperaturas diferentes, a energia poderá ser trocada através do calor ou radiação eletromagnética. Corpos que conseguem trocar energia entre si estão em contato térmico. Essa troca de energia ocorre até que os corpos atinjam o equilíbrio térmico, que é a situação em que os corpos param de trocar energia. Agora, podemos utilizar essas ideias para formar uma definição formal de temperatura. Queremos determinar se dois corpos A e B que estão em contato térmico estão em equilíbrio térmico. Utilizando um terceiro corpo C, no caso, um termômetro (dispositivo utilizado para medir a temperatura), medimos a temperatura do corpo A, em seguida a temperatura do corpo B. Se as duas temperaturas forem iguais, dizemos que eles estão em equilíbrio térmico e não há troca de energia entre , 4 eles. Quando o terceiro corpo C (termômetro) mediu a temperatura dos corpos A e B, este estava em equilíbrio térmico com eles. Esses resultados podem ser resumidos em uma afirmação conhecida como Lei Zero da Termodinâmica que diz: Se os corpos A e B estão separadamente em equilíbrio térmico com um terceiro corpo, C, então A e B estão em equilíbrio térmico um com o outro. 1.1.1 Termômetros O dispositivo utilizado para medir a temperatura dos corpos ou de um sistema que esteja em equilíbrio térmico com ele é chamado de termômetro. O termômetro comum utilizado no cotidiano geralmente apresenta mercúrio ou álcool, que se expande com o aumento da temperatura, permitindo relacionar a altura do líquido com a temperatura. Para determinar uma escala termométrica, são necessários dois pontos fixos. Esses pontos fixos devem ser possíveis de serem reproduzidos e manterem a temperatura constante. Um dos sistemas em que isso é possível é a mistura de gelo e água, sendo o primeiro ponto fixo chamado de ponto do gelo. O segundo ponto fixo é a mistura de água e vapor de água, chamado de ponto do vapor. , 5 1.1.2 Escala Celsius A escala Celsius define para o ponto do gelo o valor de 0 oC (lê-se: zero graus Celsius) e para o ponto do vapor o valor de 100 oC (lê-se: cem graus Celsius). Marcados esses dois pontos na coluna de líquido no termômetro, divide-se o comprimento entre essas duas marcas em 100 partes iguais. Cada uma dessas partes corresponde a 1 oC. A escala Celsius é utilizada no dia a dia na maioria dos países do mundo. Representaremos a temperatura na escala Celsius como tC. 1.1.3 Escala Fahrenheit Essa escala define para o ponto do gelo a temperatura de 32 oF (lê-se: trinta e dois graus fahrenheit), e para o ponto do vapor 212 oF (lê-se: duzentos e doze graus fahrenheit). O intervalo entre as duas marcas é dividido em 180 partes iguais. Cada divisão corresponde a 1 oF. Essa escala é a mais comum nos Estados Unidos. Representaremos a temperatura na escala Fahrenheit como tF. , 6 1.1.4 Escala Kelvin A escala Kelvin é a medida da temperatura termodinâmica que é uma das sete unidades de base que constitui o Sistema Internacional de Unidades (SI). Quando medimos a temperatura de um corpo, vemos que teoricamente não existe um limite superior para essa temperatura, porém, estudos realizados em laboratórios do mundo mostraram que existe um limite inferior. Essa temperatura é chamada de zero absoluto, e lhe é atribuído o valor de 0 K (lê-se: zero kelvin). Desse modo, a escala Kelvin também é chamada de escala absoluta. Nessa escala, a temperatura da água com gelo corresponde a 273,15 K (lê-se duzentos e setenta e três vírgula quinze kelvin; observe que não há o símbolo de grau e o termo grau como nas outras escalas). A temperatura da água com vapor corresponde a 373,15 K (lê-se trezentos e setenta e três vírgula quinze kelvin). O intervalo da coluna de líquido é dividido em 100 partes iguais, ficando cada parte correspondente a 1 K. Utilizaremos a notação T para indicar a temperatura na escala Kelvin. 1.1.5 Conversão entre as escalas Celsius, Fahrenheit e Kelvin Definidas as escalas Celsius, Fahrenheit e Kelvin, podemos determinar a relação entre elas. , 7 1.1.5.1 Relação entre as escalas Celsius e Fahrenheit Observe que quando o termômetro na escala Celsius indica uma temperatura tC para um corpo, um termômetro na escala Fahrenheit indica uma temperatura tF para o mesmo corpo, embora a temperatura seja a mesma. A relação entre essas escalas é determinada pela equação: Na qual: tC é a temperatura na escala Celsius tF é a temperatura na escala Fahrenheit Adotando o mesmo procedimento entre as escalas Celsius e Kelvin, obtemos a relação: Na qual: T é a temperatura na escala Kelvin Observe que para a escala Kelvin somente a letra T já indica que é a temperatura na escala Kelvin. Exemplo: Há uma classe de metais e compostos cuja resistência diminui para zero quando estão abaixo de uma determinada temperatura, conhecida como temperatura crítica. Esses materiais são conhecidos como supercondutores. O mercúrio é um supercondutor a , 8 temperaturas inferiores a 4,15 K. Determine essa temperatura nas escalas Celsius e Fahrenheit. Resolução Para converter de Kelvin para Celsius, podemos utilizar a equação: Obtendo a temperatura na escala Celsius, é possível determinar a temperatura na escala Fahrenheit por meio da equação: 1.2 Dilatação linear Quando estudamos os termômetros, vimos que para construir uma escala podemos utilizar uma propriedade dos corpos que é o aumento de volume com o aumento da temperatura. Essa propriedade que é a dilatação térmicatem papel importante em várias aplicações na engenharia, como por exemplo: , 9 Quando um engenheiro projeta edifícios, pontes, ferrovias, estradas de concreto, ele deve incluir as junções de expansão térmica para evitar problemas causados pelas alterações dimensionais decorrentes das variações de temperatura. Os átomos que constituem o sólido dão origem a uma estrutura chamada de rede cristalina do sólido. Esses átomos encontram-se em constante vibração em torno de uma posição de equilíbrio. Com o aumento da temperatura, há um aumento da agitação desses átomos, provocando a mudança na distância média entre eles, ou seja, o afastamento maior da posição de equilíbrio, acarretando a dilatação térmica. Tomando uma barra metálica que se encontra a certa temperatura, ao aquecê-la, esta sofrerá um aumento em suas dimensões. Considerando que o comprimento é predominante em relação à largura e altura, vamos considerar a dilatação ocorrendo na dimensão predominante, ou seja, o comprimento, embora a dilatação ocorra também nas outras dimensões. Junta de dilatação entre dois blocos de um prédio. Junta de dilatação em pontes e viadutos. , 10 Experimentalmente, observa-se que a variação do comprimento é dada pela equação: Na qual: é a variação do comprimento é o comprimento inicial é o coeficiente de dilatação linear é a variação de temperatura A unidade do coeficiente de dilatação linear é o ⁰C‒1 ou . Como , podemos escrever a equação assim: Na qual: L é o comprimento final Exemplo: Um trilho de aço tem comprimento de 20 m à temperatura de . Qual a variação de comprimento sofrido pela barra quando a temperatura atinge ? Dado Ou: , 11 1.3 Dilatação superficial Da mesma maneira que analisamos a dilatação linear, podemos fazer para a dilatação superficial. Tomando uma chapa metálica que se encontra a certa temperatura, ao aquecê-la, esta sofrerá um aumento em suas dimensões. Considerando que o comprimento e a largura são predominantes em relação à altura, podemos considerar a dilatação ocorrendo no comprimento e na largura, consequentemente há uma variação em sua área. A variação da área é dada pela equação: Na qual: é a variação da área é a área inicial é o coeficiente de dilatação superficial é a variação de temperatura O valor de para um determinado material é dado por: Como podemos escrever a equação assim: Na qual: A é a área final Exemplo: Uma placa de concreto apresenta área de 4 m2 quando a temperatura é de 15 ⁰C. Determine a área da placa quando esta sofre um aquecimento até a temperatura de 45 ⁰C. Dado , 12 1.4 Dilatação volumétrica dos sólidos De maneira análoga à dilatação linear e à dilatação superficial, podemos definir a dilatação volumétrica dos sólidos. Considere um corpo de volume Vo que se encontra a certa temperatura. Ao aquecê-lo, este sofrerá um aumento em suas dimensões. Como a dilatação ocorre nas três dimensões, consequentemente há uma variação em seu volume. A variação do volume é dada pela equação: Na qual: é a variação do volume é o volume inicial é o coeficiente de dilatação volumétrico é a variação de temperatura O valor de para um determinado material é dado por: , 13 Como , podemos escrever a equação assim: Na qual: V é o volume final. Exemplo: Um recipiente de vidro tem a 20 C volume de 1000 cm3. Qual será a variação de volume sofrida pelo recipiente quando aquecido até 100 C? Dad 1.5 Dilatação dos líquidos Os líquidos dilatam analogamente aos sólidos que acabamos de estudar. Os líquidos não apresentam forma própria e assumem a forma do recipiente que os contêm. Por isso, para os líquidos, estudamos apenas a dilatação volumétrica. Nesse sentido, para os líquidos são tabelados apenas os valores dos coeficientes de dilatação volumétrica. Como o líquido está contido em um recipiente, quando aquecemos o conjunto, além de o líquido sofrer dilatação, o recipiente também sofrerá. Desse modo, a dilatação do líquido que observamos é chamada de dilatação aparente, pois há também o aumento , 14 da capacidade do recipiente. A dilatação real do líquido é maior que a dilatação aparente que observamos. A dilatação real corresponde à soma da dilatação aparente com a dilatação do recipiente, ou seja: Como , temos: Ou seja: 1.5.1 O comportamento incomum da água Geralmente, os líquidos aumentam de volume com o aumento da temperatura. A água, no entanto, tem um comportamento diferente. Acima de 4 oC, ela se dilata com o aumento da temperatura, e para temperaturas de 0 oC a 4 oC ela se contrai com o aumento da temperatura atingindo a 4 oC o valor máximo da densidade de 1000 kg/m3. Isso explica o fato de que em regiões geladas a água dos lagos se congela na superfície e não nas profundezas. Quando a água da superfície vai esfriando chegando próximo de 4 oC, sua densidade aumenta fazendo com que ela desça e a água que está no fundo em uma temperatura um pouco maior tende a subir para a superfície, pois sua densidade é menor. Quando a temperatura da superfície fica abaixo de 4 oC, a densidade da água passa ser menor do que a água que está no fundo a 4 oC fazendo com que eventualmente a água da superfície congele. Exemplo: Um frasco de vidro, com coeficiente de dilatação volumétrica de 27.10‒6 oC‒1, encontra-se completamente preenchido com 500 ml de um líquido desconhecido à temperatura de 20 oC. Ao aquecermos o conjunto até 120 oC, 25 ml de líquido , 15 transbordam para fora do recipiente. Determine o coeficiente de dilatação aparente; o coeficiente de dilatação real do líquido; e a dilatação real sofrida pelo líquido. °C‒1 °C‒1 Conclusão do Bloco 1 Neste bloco, vimos que a temperatura tem relação com a sensação de quente e frio e é medida com um aparelho chamado termômetro, que utiliza a aplicação da Lei Zero da termodinâmica para determinar a temperatura de um corpo. A Lei Zero da Termodinâmica afirma que se dois corpos A e B estão separadamente em equilíbrio térmico com um terceiro corpo C, então A e B estão em equilíbrio térmico entre si. Estudamos também as escalas termométricas que estão em uso atualmente, e que a escala Kelvin é a adotada pelo SI para medida de temperatura. A escala Kelvin apresenta o zero absoluto e é chamada de escala absoluta. Na sequência, aprendemos as equações de conversão entre as escalas Celsius, Fahrenheit e Kelvin. Quando há o aumento da temperatura, ocorre a expansão dos corpos sólidos e líquidos, fator que deve ser levado em conta pelos engenheiros na elaboração e , 16 execução de um projeto. A expansão dos sólidos pode ser estudadade acordo com a dimensão predominante que o corpo apresenta, sendo linear, superficial e volumétrica, enquanto os líquidos apresentam a chamada dilatação aparente, devido à dilatação que ocorre também com o recipiente que os contêm. REFERÊNCIAS HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de física: gravitação, ondas e termodinâmica. 10. ed. São Paulo: LTC, 2016. v. 2. TIPLER, Paul Allen; MOSCA, Gene. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. v. 1. YOUNG, Hugh D.; FREEDMAN, Roger A. Física II: termodinâmica e ondas. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley, 2008. SERWAY, Raymond A.; JEWETT JR, John W. Princípios de física: oscilações, ondas e termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. v. 2. , 17 2 CALORIMETRIA Quando colocamos uma xícara de café quente sobre a mesa, a temperatura do café irá diminuir até atingir o equilíbrio térmico com o ambiente. Essa variação da temperatura ocorre em decorrência da transferência de energia térmica do café para o ambiente por causa da diferença de temperatura entre objeto e ambiente. O calor Q que corresponde à quantidade de energia transferida está relacionado com a variação de temperatura, com o calor específico e com a massa, e consequentemente com a capacidade térmica do objeto. Além desses conceitos relacionados ao calor, neste bloco, iremos conhecer as três fases da matéria. Estudaremos que se a quantidade de calor transferida Q provocar mudança de fase, essa transferência produz três efeitos: variação da temperatura até a substância atingir a temperatura de mudança de fase, mudança de fase, e variação da temperatura da substância na nova fase. Por fim, conheceremos as unidades de medida para a energia térmica. 2.1 Calor Se pegarmos uma garrafa de água gelada na geladeira e colocarmos sobre uma mesa, a temperatura da água aumenta até ficar igual à do ambiente. Do mesmo modo, se pegarmos uma xícara de café quente e deixarmos sobre uma mesa, a temperatura do café irá diminuir até que os dois estejam em equilíbrio térmico. Essa variação de temperatura ocorre por causa da mudança da energia térmica do sistema em decorrência da troca de energia do sistema com o ambiente. O mecanismo de transferência de energia entre um sistema e seu ambiente em virtude da diferença de temperatura entre eles é chamado de calor e é representado pela letra Q. Portanto, calor é a energia térmica transferida entre corpos com temperaturas diferentes. Observe que o calor sempre flui do corpo de maior temperatura para o corpo de menor temperatura. Se os corpos estiverem em equilíbrio térmico, não há diferença de temperatura. , 18 Quando a temperatura do sistema (TS) é maior que a temperatura do ambiente (TA), o sistema perde energia em forma de calor e Q < 0 Quando a temperatura do sistema (TS) é igual à temperatura do ambiente (TA), não há transferência de energia e Q = 0. Quando a temperatura do sistema (TS) é menor que a temperatura do ambiente (TA), o sistema recebe energia em forma de calor e Q > 0. 2.1.1 Unidades No início dos estudos da termodinâmica, antes que os pesquisadores entendessem que o calor é energia transferida, ele era definido em termos de capacidade de aumentar a temperatura da água. Desse modo, a caloria (cal) foi definida como a quantidade de energia transferida necessária para aquecer 1 g de água de 14,5 oC para 15,5 oC. No sistema inglês, a unidade de calor era a unidade térmica britânica (BTU – British Termal Unit), que era definida como a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de 1 lb de água de 63 oF para 64 oF. Como calor é energia transferida, no SI, a unidade de calor deve ser a mesma da energia, ou seja, joule (J). Atualmente, a caloria é definida como sendo exatamente igual a 4,1868 J. Essa definição é conhecida como equivalente mecânico do calor. Desse modo: 1 cal = 4,1868 J 1 cal = 3,968 . 103 BTU Como a caloria é uma unidade muito pequena, é costume utilizar o múltiplo quilocaloria (kcal). 1 kcal = 103 cal , 19 A caloria usada pelos nutricionistas para descrever o conteúdo de energia dos alimentos é grafada com C maiúsculo, Caloria (Cal), e é equivalente a uma quilocaloria (kcal). 1 Cal = 1 kcal 2.2 Calor específico Quando pegamos duas massas iguais de duas substâncias diferentes à mesma temperatura, como por exemplo, água e ferro, e colocamos para aquecer, observamos que o ferro necessita de menos calorias que a água para atingir a mesma temperatura final. Desse modo, podemos inferir que cada substância necessita de uma quantidade de energia por unidade de massa para variar sua temperatura de 1 oC. Essa quantidade de energia é chamada de calor específico, representada com a letra c minúscula. Portanto, calor específico representa a quantidade de calorias necessárias para elevar a temperatura em 1 oC de uma massa de 1 g de determinada substância. Por exemplo, a água apresenta calor específico de 1 cal/g . oC, significando que é necessária 1 cal para elevar a temperatura de 1 g de água de 1 oC. Assim, o calor específico de uma substância é definido como: Sendo: c é o calor específico Q é a quantidade de calor m é a massa t é a variação de temperatura A unidade de calor específico pode ser a cal/g . oC, ou no SI, J/kg . K. , 20 2.2.1 Capacidade térmica de um corpo Se pegarmos dois corpos com duas massas diferentes constituídos de uma mesma substância à mesma temperatura, como por exemplo, duas massas diferentes de água (corpo A e B) e aquecermos ambos os corpos, observamos que o corpo de maior massa necessita de transferência de quantidade maior de energia do que o corpo de menor massa para atingir a mesma temperatura final. Apesar de os corpos serem constituídos da mesma substância, ou seja, terem o mesmo calor específico, são necessárias diferentes quantidades de calor para sofrerem a mesma variação de temperatura. Desse modo, é necessário definir a grandeza física capacidade térmica, representada pela letra C maiúscula. A capacidade térmica é definida como a quantidade de calor que um corpo precisa para variar sua temperatura de uma unidade, ou seja: na qual: C é a capacidade térmica Q é a quantidade de calor t é a variação de temperatura Lembrando que o calor específico é dado por: Já que corresponde à capacidade térmica C, podemos escrever: A unidade de capacidade térmica pode ser dada em cal/ oC, ou no SI, J/K. Exemplo Para aquecer 400 g de certa substância de 25 oC para 75 oC, foram necessárias 5000 calorias. Determine a capacidade térmica do corpo e o calor específico da substância que constitui o corpo. , 21 2.3 Calor sensível Calor sensível é aquele que provoca uma variação da temperatura de um corpo, no entanto, sem provocar a mudança de estado, podendo, contudo, alterar as suas dimensões através do processo de dilatação térmica. Experimentalmente, verifica-se que o calor sensível é diretamente proporcional à massa do corpo, da variação da temperatura e do calor específico da substância, ou seja: Quando a energia flui para dentro do sistema, a temperatura aumenta, portanto t será positivo (t > 0), e consequentemente Q será positivo (Q > 0). Quando a energia flui para fora do sistema, a temperatura diminui, e t será negativo (t < 0), portanto Q será negativo (Q < 0). Exemplo Determinada massa de água, que ao receber calor continuamente de uma fonte calorífica à razão de 150 cal/s, tem suatemperatura aumentada de 20 oC para 60 oC em 4 minutos. Sendo o calor específico sensível da água 1,0 cal/g oC, determine a massa de água em gramas. , 22 Resolução: A quantidade de calor recebida em 4 min é de: t = 4 min = 240 s Q = 150 . 240 Q = 36000 cal 2.3.1 Equilíbrio térmico Considere que vários corpos com temperaturas diferentes são colocados em um ambiente termicamente isolado, ou seja, que não há troca de energia com o meio exterior. O recipiente que é um bom isolante térmico e contém esse sistema é chamado de calorímetro. 2.3.1.1 Calorímetro Recipiente de parede adiabática, que não permite a troca de calor com o ambiente externo e é utilizado em procedimentos da calorimetria. Como os corpos apresentam temperaturas diferentes entre si, ocorrem trocas de calor até que haja um equilíbrio térmico dentro desse sistema, ou seja, até que a temperatura final seja igual para todos os corpos envolvidos. Como o sistema é isolado, a energia térmica total deverá ser constante, ou seja, a quantidade de calor cedida deverá ser igual à quantidade de calor absorvida. Portanto: Ou: Ou ainda: , 23 E: Temos que: é a soma da quantidade de calor no sistema. é a quantidade de calor cedida ou absorvida. Exemplo Um lingote de metal de 0,05 kg é aquecido a 200,0 oC e depois colocado em um calorímetro contendo 0,4 kg de água inicialmente a 20,0 oC. A temperatura final de equilíbrio do sistema misturado é 22,4 oC. Determine o calor específico do metal. Resolução: oC cal/g . oC oC Observe que no enunciado não há troca de calor com o calorímetro, portanto, a troca de calor ocorre somente entre o metal e a água. cal/g . oC , 24 Como 1 cal = 4,1868 J e 1 g = 0,001 kg, efetuando as conversões de unidades, temos: 2.4 Calor latente e mudança de fase Vimos que quando ocorre transferência de energia entre uma amostra e sua vizinhança há variação da temperatura da amostra. Porém nem sempre ocorre a variação da temperatura e a amostra muda de fase (ou estado). A substância pode existir em três estados principais: sólido, líquido e gasoso. No estado sólido, os átomos ou moléculas formam uma estrutura rígida por meio da atração mútua; no estado líquido, o material não apresenta estrutura rígida, escoa através de um cano e apresenta a forma do recipiente que o contém; e no estado gasoso, os átomos e as moléculas apresentam energia maior e o material apresenta o volume e a forma do recipiente que o contém. A nomenclatura das transformações de uma fase para outra estão apresentadas na figura a seguir. Fonte: autor. Fusão é a passagem do estado sólido para o estado líquido, fornecendo energia ao sólido. fusão solidificação vaporização condensação sólido líquido gasoso sublimação , 25 Solidificação é a passagem do estado líquido para o estado sólido, retirando energia do líquido. Vaporização é a passagem do estado líquido para o gasoso, fornecendo energia ao líquido. Condensação é a passagem do estado gasoso para o líquido, retirando energia do gás. Su lima o é a passagem do estado s lido diretamente para s ou apor, como ocorre com o di ido de car ono s lido (gelo seco). O calor latente, representado pela letra L, corresponde à quantidade de energia por unidade de massa que deve ser transferida na forma de calor para que a amostra mude de fase. Ela é definida como: Ou a quantidade de calor que uma substância precisa ganhar ou perder para mudar de fase é determinada pela expressão: O valor de L depende da substância e de qual mudança de fase é considerada. Desse modo, é comum diferenciar o calor latente para as mudanças de fase em: Lf → Calor latente de fusão; LV → Calor latente de vaporização; LS → Calor latente de solidificação; LC → Calor latente de condensação. Tabela – Calor latente de fusão e vaporização Substância Ponto de fusão (°C) Calor latente de fusão (cal/g) Ponto de vaporização (°C) Calor latente de vaporização (°C) Água 0 80 100 540 Álcool etílico 114 25 78 204 Oxigênio 219 3,3 183 51 , 26 Exemplo 1 Determine a quantidade de calor necessário para transformar um cubo de gelo com 50 g que se encontra a 0 oC em água a 0 oC. Resolução: Como se trata de uma fusão, o calor é latente. Portanto, consultando a tabela, temos para o calor latente de fusão L = 80 cal/g, logo: Exemplo 2 Que quantidade de calor deve absorver uma amostra de gelo de massa m = 200 g a –10 oC para passar ao estado gasoso a 120 oC? Construa o gráfico de temperatura versus energia adicionada. Dados: Calor específico do gelo = calor específico do vapor = 0,5 cal/g . oC Calor específico da água = 1 cal/g . oC Calor latente de fusão = 80 cal/g Calor latente de vaporização = 540 cal/g Resolução: Os processos envolvidos para atingir o objetivo da questão estão identificados de A a E na figura a seguir. Gelo ‒10 oC Gelo 0 oC Água 0 oC Água 100 oC Vapor 100 oC Vapor 120 oC A B C D E , 27 Processo A: é necessário aumentar a temperatura do gelo de 10 oC para 0 oC para que ela possa sofrer mudança de fase (fusão), portanto, trata-se de calor sensível, logo, a quantidade de calor será: Processo B: o gelo que se encontra a 0 oC deve sofrer fusão e se transformar em água a 0 oC, ou seja, trata-se de calor latente e a quantidade de calor será: Processo C: a temperatura da água deve ser aumentada de 0 oC para 100 oC para que ela possa sofrer mudança de fase (vaporização), portanto, trata-se de calor sensível e a quantidade de calor será: Processo D: a água que se encontra a 100 oC deve sofrer vaporização e transformar-se em vapor a 0 oC, ou seja, trata-se de calor latente e a quantidade de calor será: Processo E: a temperatura do vapor deve ser aumentada de 100 oC para 120 oC para que ela atinja a temperatura final proposta no enunciado; portanto, trata-se de calor sensível e a quantidade de calor será: , 28 A quantidade de calor que deve ser absorvida é de: A curva de aquecimento será: 2.5 Mecanismos de transferência de calor Para que o processo de transferência de energia ocorra no interior de um sistema ou quando existe um contato entre dois sistemas, é necessário que haja um gradiente de temperatura. Esse processo em que a energia é transferida é chamado de transferência de calor. O estudo da transferência de calor é feito através de três mecanismos conhecidos para a transmissão: condução, convecção e radiação. , 29 2.5.1 Condução A condução é o processo em que o calor flui de uma região de maior temperatura para uma região de menor temperatura dentro de uma substância ou entre substâncias (sólida, líquida ou gasosa) que estão em contato físico direto. Na condução, a energiacinética dos átomos e moléculas é transferida através de colisões entre átomos e moléculas vizinhas fazendo aumentar a energia cinética das moléculas de menor energia cinética até atingirem o equilíbrio térmico. A condutividade (capacidade das substâncias de conduzir calor) varia de acordo com a substância. Geralmente, os sólidos são melhores condutores que os líquidos e estes por sua vez são melhores condutores que os gases. Os metais são ótimos condutores de calor enquanto o ar é um péssimo condutor de calor. 2.5.2 Convecção O processo de transmissão de calor chamado de convecção ocorre em fluidos (líquidos e gases). O processo de transferência do calor de uma região para outra é feito através do movimento do próprio fluido. A convecção ocorre devido à diferença de densidade do fluido. O calor conduzido da superfície para o fluido adjacente à superfície torna este mais quente, e por consequência, menos denso que o fluido que se encontra adjacente. O fluido mais denso tende a descer e o fluido mais quente tende a subir, e o fluido mais frio é aquecido pela superfície e o processo se repete. , 30 O processo da convecção é responsável pelo aparecimento de correntes de ar nas regiões litorâneas. O calor irradiado pelo sol aquece a costa continental e a água do oceano. O calor específico da água é muito maior que a da terra, por consequência, a temperatura da superfície da terra aumenta mais rápido que a da superfície da água do oceano. Essa diferença na temperatura faz com que a região próxima da terra fique com pressão menor do que a pressão próxima da superfície da água, assim as correntes de convecção sopram do oceano para a costa (brisa marítima). Disponível: http://www.smg.gov.mo/www/dm/learnmet/p_lsbreeze.htm. Acesso em: 28 jun. 2019 http://www.smg.gov.mo/www/dm/learnmet/p_lsbreeze.htm , 31 À noite, a temperatura da terra abaixa mais rápido do que a do oceano e consequentemente a pressão próxima à superfície da água torna-se menor do que a pressão próxima da terra. Assim, as correntes de convecção passam a soprar da terra para o oceano (brisa terrestre). Disponível: http://www.smg.gov.mo/www/dm/learnmet/p_lsbreeze.htm. Acesso em: 28 jun. 2019 2.5.3 Radiação A radiação é o processo de transmissão de calor através de ondas eletromagnéticas. Diferentemente da condução e da convecção, a radiação pode se dar através de um meio qualquer e no vácuo. Como a radiação é a única que ocorre no vácuo, é através dela que a Terra recebe a energia do sol (ver figura a seguir). Para uma determinada temperatura, as superfícies emitem energia em uma ampla faixa de comprimentos de onda, estando entre as frequências de 1011 Hz a 4 . 1014 Hz. A temperatura e as características da superfície emissora influenciam na quantidade de energia emitida em cada comprimento de onda. http://www.smg.gov.mo/www/dm/learnmet/p_lsbreeze.htm , 32 Conclusão do Bloco 2 Neste bloco, vimos que a calorimetria é a análise realizada em fenômenos que envolvem trocas de calor usando um instrumento chamado calorímetro que é um recipiente com paredes adiabáticas. Estudamos o calor específico que é uma característica da substância e representa a quantidade de energia que é necessária por unidade de massa por unidade de temperatura, e a capacidade térmica que é uma característica do corpo que corresponde à quantidade de energia por unidade de temperatura. O calor sensível representa a quantidade de energia absorvida ou cedida por um corpo e que provoca a variação da temperatura sem provocar a mudança de fase, e quando temos dois ou mais corpos com temperaturas diferentes em contato ou próximos, há troca de calor até que se atinja o equilíbrio térmico. Vimos o calor latente que corresponde à energia por unidade de massa em uma mudança de fase, e essas mudanças de fases são chamadas de fusão, solidificação, vaporização, condensação e sublimação. , 33 Também estudamos os mecanismos de transferência de calor, a saber: condução, convecção e radiação. REFERÊNCIAS HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de física: gravitação, ondas e termodinâmica. 10. ed. São Paulo: LTC, 2016. v. 2. TIPLER, Paul Allen; MOSCA, Gene. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. v. 1. YOUNG, Hugh D.; FREEDMAN, Roger A. Física II: termodinâmica e ondas. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley, 2008. SERWAY, Raymond A.; JEWETT JR, John W. Princípios de física: oscilações, ondas e termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. v. 2. , 34 3 TERMODINÂMICA A termodinâmica sob o ponto de vista macroscópico descreve o estado de um sistema em função das variáveis de estado, pressão, volume, temperatura e energia interna. O estudo da termodinâmica abrange o armazenamento, a transferência e a transformação de energia. Através de processos físicos, podemos adicionar ou retirar energia de uma massa. Por exemplo, a queima da gasolina em um cilindro de motor de um carro aumenta a temperatura e a pressão dentro do cilindro de maneira muito rápida. Nesse caso, estão envolvidos dois tipos de processos termodinâmicos: a energia química contida na gasolina é liberada na forma de calor quando da sua combustão e o pistão é movimentado devido à pressão realizando trabalho. Pensando em energia na termodinâmica, ela não só pode aumentar a temperatura, mas pode diminuir a temperatura, o que ocorre num sistema de refrigeração. Os engenheiros de várias áreas como engenheiros mecânicos, químicos e civis utilizam a termodinâmica, como por exemplo, no projeto de sistemas de potência. 3.1 Transformações gasosas As variáveis de estado, volume, temperatura e pressão podem sofrer alterações ao mesmo tempo em uma transformação. São chamadas transformações gasosas os experimentos realizados em sistemas fechados, ou seja, aqueles em que a massa de um gás ideal se mantém fixa não ocorrendo a troca de massa com o ambiente, mas podendo ocorrer a troca de calor. O processo ocorre mantendo-se constante uma das variáveis e variando as outras duas e verificando a relação entre essas duas variáveis. As transformações gasosas ocorrem mantendo a temperatura constante, mantendo a pressão constante, e o volume constante. 3.1.1 Lei de Boyle-Mariotte Essa lei é relativa à transformação isotérmica que é aquela em que a temperatura é mantida constante e ocorre a variação do volume e da pressão. , 35 Nessa lei, a relação entre o volume e a pressão é que se aumentarmos a pressão sobre um gás o volume diminui e se diminuirmos a pressão o volume aumenta, ou seja, essas duas grandezas são inversamente proporcionais. Essa relação pode ser escrita como: Ou: A representação gráfica de uma transformação isotérmica é uma curva chamada de isoterma. Temperaturas diferentes resultam em diferentes isotermas. , 36 Exemplo Um gás ideal contido em um recipiente ocupa 6 litros à pressão de 300 Pa. Ao sofrer uma transformação isotérmica, passa a ocupar um volume de 9 litros. Qual será a pressão exercida pelo gás dentro do frasco? Resolução: 3.1.2 Lei de Gay-Lussac Nessa lei, a pressão é mantida constante, ocorrendo a variação do volume e da temperatura. Portanto, há uma transformação isobárica. , 37 Nessa lei, a relação entre o volume e a temperatura é que se aumentarmos a temperatura de um gás, o volume aumenta, e se diminuirmos a temperatura, o volume diminui. Ou seja, essas duas grandezas são diretamente proporcionais. A representação gráfica de uma transformação isobárica é uma reta. Essa relação pode serescrita como: A temperatura deve ser na escala absoluta (escala kelvin). Exemplo Um gás que se encontra no estado 1 apresenta volume de 15 L, à pressão de 5 atm e temperatura de 295 K. Determine o volume desse gás em um estado 2 se a temperatura for dobrada mantendo a pressão constante. Resolução: , 38 3.1.3 Lei de Charles Essa lei refere-se à transformação isovolumétrica, ou seja, que mantém o volume constante e a pressão e a temperatura sofrem variação. Nessa lei, a temperatura e a pressão são grandezas diretamente proporcionais. Portanto, quando há um aumento da temperatura, ocorre um aumento da pressão, e quando diminui a temperatura, diminui a pressão. Essa relação pode ser escrita como: A temperatura deve ser na escala absoluta (escala kelvin). Exemplo Calibrou-se um pneu com pressão de 2,0 atm, quando a temperatura do pneu era de 27 °C. Depois de se ter rodado um certo tempo com esse pneu, mediu-se novamente sua pressão e verificou-se que agora era de 2,2 atm. Supondo a variação de volume do pneu desprezível, determine a temperatura em que se encontra o pneu. , 39 Resolução: T1 = 27 °C T1 = 27 + 273 = 300 K Ou: 330 = T2 + 273 T2 = 330 273 T2 = 57 °C 3.2 Lei geral dos gases perfeitos Podemos reunir as três leis vistas anteriormente em uma equação mais geral que permite prever o que acontece com variações simultâneas de volume, pressão e temperatura dos gases, e só vale para massa constante de um determinado gás. Essa equação é chamada de equação geral dos gases perfeitos e é escrita como: Ou: Unidades usadas: Volume – pode ser qualquer unidade de volume desde que V1 e V2 estejam na mesma unidade. Pressão – pode ser em qualquer unidade de pressão desde que p1 e p2 estejam na mesma unidade. Temperatura – deve ser obrigatoriamente na escala absoluta ou kelvin. , 40 Exemplo: Vinte litros de gás hidrogênio foram medidos a 27 oC e 700 mmHg. Qual o volume do gás a 87 oC e 600 mmHg? T1 = 27 oC T1 = 27 + 273 = 300 K T2 = 87 oC T2 = 87 + 273 = 360 K 3.2.1 Equação de Clapeyron Como vimos, a equação geral dos gases perfeitos vale para uma massa fixa de um determinado gás. Clapeyron desenvolveu uma equação que relaciona as variáveis de estado com o número de mols que compõe um gás através da expressão: em que: p é a pressão V é o volume n é o número de mols R é a constante universal dos gases perfeitos T é a temperatura (kelvin) De acordo com as unidades utilizadas, o valor de R deve ser: , 41 Ou: 3.3 Primeira lei da termodinâmica Em uma transformação gasosa, pode ocorrer troca de energia com o meio ambiente sob a forma de calor e trabalho. Em consequência dessas trocas energéticas, a energia interna do gás pode sofrer um aumento, uma diminuição ou se manter constante. Assim, a primeira lei da termodinâmica é uma Lei da Conservação da Energia. Se considerarmos que o sistema é submetido a uma variação infinitesimal em seu estado, de maneira que uma pequena quantidade de energia dQ seja transferida por calor e uma quantidade pequena de trabalho d seja realizada sobre o sistema, a energia interna, por conseguinte, irá mudar de uma pequena quantidade dU. Logo, podemos expressar a primeira lei da termodinâmica para os processos infinitesimais como: Ou ainda, podemos enunciar a primeira lei da termodinâmica como: a variação da Energia interna ΔU de um sistema é igual à diferença entre a quantidade de calor Q trocada com o meio ambiente e o trabalho realizado durante a transformação. Ou: Aplicando a primeira lei da termodinâmica a alguns casos especiais, temos: Processos adiabáticos: Como não há troca de calor com o meio, temos Q = 0, portanto: Processos a volume constante: Nesse processo, como não há variação do volume, o trabalho , temos: , 42 Processos cíclicos: No processo cíclico, retorna-se ao ponto inicial. Portanto, não há variação da energia interna . Logo: 3.3.1 Energia interna Considere um gás monoatômico e que a energia interna U do gás corresponde à soma das energias cinéticas de translação dos átomos. A energia cinética de translação média de um átomo depende da temperatura do gás e é dada por: Onde , sendo R a constante universal dos gases e NA é o Número de Avogadro. Número de Avogadro é o número de átomos existentes em um átomo-grama de qualquer substância, e vale . E a energia interna total U para n mols de um gás ideal monoatômico é dada por: 3.3.2 A distribuição de velocidades das moléculas A distribuição de velocidades de Maxwell P(v), dada pela equação: é uma função tal que P(v)dv é a fração de moléculas com velocidades no intervalo dv na área em volta da velocidade v. M é a massa molar. As medidas da distribuição de velocidades das moléculas de um gás são: , 43 Velocidade média (vmed) É determinada por: Cuja integral resulta em: A média dos quadrados das velocidades, (v2)med , pode ser calculada usando a equação: E obtemos para a integral: Velocidade média quadrática (vrms) A velocidade média quadrática é a raiz quadrada de (v2)med, ou seja: Velocidade mais provável (vp) A velocidade mais provável é a velocidade para a qual P(v) é máxima. Para calcular vP, fazemos dP/dv = 0, que resulta em: É mais provável que uma molécula tenha uma velocidade vp do que qualquer outra velocidade, mas algumas moléculas têm velocidades muito maiores que vp. 3.4 Trabalho realizado numa transformação termodinâmica , 44 O trabalho que um gás realiza ao se expandir ou se contrair de um volume V1 para um volume V2 é dado por: É necessário calcular a integral porque a pressão p pode variar com a variação do volume V durante o processo. Se a pressão for constante, a integral fornece: De acordo com a equação, observamos que quando o gás é comprimido, dV é negativo e o trabalho realizado sobre o gás é positivo. Quando o gás sofre expansão, dV é positivo e o trabalho realizado sobre o gás é negativo. Se o volume permanece constante, o trabalho realizado sobre o gás é zero. Essa observação nos leva ao seguinte resumo: Quando o gás se expande (ΔV > 0) e temos > 0, dizemos que o gás realiza trabalho. Quando o gás sofre contração (ΔV < 0) e temos < 0, dizemos que o trabalho foi realizado sobre o gás. Quando o volume do gás não sofre variação (ΔV = 0), temos = 0. Se a pressão não é constante, o trabalho realizado por um gás pode ser calculado através da área do gráfico pressão x volume. A área numericamente corresponde ao trabalho . , 45 Exemplo O gráfico a seguir ilustra uma transformação onde 200 mols de gás ideal monoatômico recebem do meio exterior uma quantidade de calor igual a 900 kJ. Dado R = 8,317 J/mol . K. Determine: a) o trabalho realizado pelo gás; b) a variação da energia interna do gás; c) a temperatura do gás no estado B. Resolução: a) O trabalho numericamente corresponde à área, que nesse caso é a área do trapézio delimitado pelospontos 1, A, B e 2 que pertencem aos vértices do mesmo. b) Q = 900 kJ = 9 . 105 J c) , 46 3.5 Segunda lei da termodinâmica A segunda lei da termodinâmica trata do rendimento das máquinas térmicas e tem maior aplicação na construção de máquinas térmicas e utilização na indústria. As máquinas térmicas foram os primeiros dispositivos mecânicos a serem utilizados em larga escala na indústria, por volta do século XVIII. Uma máquina térmica é um dispositivo que recebe energia por calor, e operando em ciclo, transforma uma fração dessa energia em trabalho, como por exemplo, ao girar um eixo, transforma a energia que entra em energia mecânica que irá realizar trabalho. Como o calor flui naturalmente no sentido de um corpo com temperatura mais alta para outro corpo com temperatura mais baixa, o calor não flui espontaneamente de uma temperatura menor para uma temperatura maior. Para que esse fluxo ocorra, é necessária a atuação de um agente externo realizando trabalho sobre o sistema. Dessa maneira, não é possível construir uma máquina térmica que operando em um ciclo termodinâmico converta toda quantidade de calor recebido em trabalho. Portanto, é impossível obter um dispositivo térmico que tenha um rendimento de 100%, ou seja, sempre uma quantidade de calor não se transforma em trabalho. O trabalho realizado por uma máquina térmica é a diferença entre o calor cedido da fonte quente e o calor recebido pela fonte fria, ou seja: Reservatório quente a Tq Máquina térmica Reservatório frio a Tf Energia |Qq| entra na máquina Energia |Qf| sai do motor Qq Qf Máquina realiza trabalho , 47 Em que: Qq é o calor que entra na máquina Qf é o calor que sai do motor Utiliza-se o valor absoluto das quantidades de calor, pois, em uma máquina cujo objetivo é o resfriamento, esses valores serão negativos. Podemos calcular o rendimento de uma máquina térmica sabendo quanto de trabalho ela produz e quanto de calor é fornecido pela fonte quente através da equação: Observe que o rendimento sempre resulta num valor entre zero e 1. Multiplicando por 100 esse resultado, obtemos o rendimento em termos de percentagem. 3.5.1 Máquina de Carnot Entre todas as máquinas térmicas, a máquina de Carnot é a que consegue utilizar o calor com maior eficiência para realizar trabalho. Ele demonstrou que qualquer máquina térmica que opere entre duas fontes na escala kelvin atingirá seu rendimento máximo se seu funcionamento ocorrer a partir de processos reversíveis. Denomina-se processo reversível aquele que após ter ocorrido em um sentido, também pode ocorrer em sentido contrário e retornar ao estado inicial. O ciclo de Carnot pode ser representado pelas etapas apresentadas no gráfico a seguir. , 48 O gás sofre uma expansão isotérmica de A até B que ocorre quando o gás absorve a quantidade de calor Q de uma fonte quente. O gás sofre uma expansão adiabática (sem trocas de calor com o meio) de B até C. O gás sofre uma compressão isotérmica de C até D e libera uma quantidade de calor Q para a fonte fria. O gás sofre uma compressão adiabática (sem troca de calor) de D para A retornando à condição inicial. A máquina térmica que opera segundo o ciclo de Carnot é uma máquina de Carnot. Na máquina de Carnot, a quantidade de calor que é fornecida pela fonte quente e a quantidade cedida à fonte fria são proporcionais às suas temperaturas absolutas, ou seja: Assim, o rendimento de uma máquina de Carnot é: , 49 Exemplo Determine o rendimento de uma máquina de Carnot que opera entre as temperaturas de 27 oC e 427 oC Resolução: Tf = 27 oC = 300 K Tq = 527 oC = 800 K Multiplicando por 100, temos: 3.5.2 Entropia Em termodinâmica, a entropia é uma grandeza que mede o grau de desordem das partículas em um sistema físico. É utilizada a letra S para representar essa grandeza. Um exemplo que ilustra o conceito de entropia é um bloco de gelo derretendo. Depois do derretimento, a água não volta a ser gelo através de um processo natural. A água no estado líquido apresenta entropia maior que no estado sólido, pois suas moléculas encontram-se mais espaçadas e com maior energia. , 50 Quando um processo físico ou químico acontece espontaneamente, a entropia do sistema aumenta, isto é, o sistema fica menos organizado ou mais aleatório. Se considerarmos a agitação como a desordem do sistema, concluímos que: quando um sistema recebe calor, Q > 0, sua entropia aumenta; quando um sistema cede calor, Q < 0, sua entropia diminui; se o sistema não troca calor, Q = 0, sua entropia permanece constante. Quando vamos calcular variação da entropia para um processo finito, devemos observar que T normalmente não é constante. Se dQ é a energia reversivelmente transferida pelo calor quando o sistema está à temperatura T, a variação da entropia em um processo arbitrário reversível entre os estados inicial (i) e final (f) é: em que Q é a energia transferida do sistema ou para o sistema na forma de calor durante o processo, e T é a temperatura do sistema em kelvin. No caso de um processo isotérmico reversível, a expressão da variação de entropia se reduz a: Olhando para a natureza como um sistema, observamos que o Universo está constantemente recebendo energia, porém, não tem capacidade de cedê-la, o que nos leva a concluir que a entropia do Universo está aumentando conforme o tempo passa. , 51 Conclusão do Bloco 3 Neste bloco, vimos as transformações gasosas passando pela transformação isotérmica, isobárica e isovolumétrica. Aprendemos a equação geral dos gases e a equação de Clapeyron. Estudamos a primeira lei da termodinâmica em que a variação da Energia interna ΔU de um sistema é igual à diferença entre a quantidade de calor Q trocada com o meio ambiente e o trabalho realizado durante a transformação. Vimos as medidas da distribuição de velocidades das moléculas de um gás. Estudamos a segunda lei da termodinâmica, o trabalho realizado pelas máquinas térmicas e o rendimento delas. Estudamos o ciclo de Carnot, a máquina de Carnot, e o rendimento para essa máquina em função das temperaturas da fonte fria e quente. Por fim, falamos da entropia e a variação dela nos sistemas. REFERÊNCIAS HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de física: gravitação, ondas e termodinâmica. 10. ed. São Paulo: LTC, 2016. v. 2. TIPLER, Paul Allen; MOSCA, Gene. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. v. 1. YOUNG, Hugh D.; FREEDMAN, Roger A. Física II: termodinâmica e ondas. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley, 2008. SERWAY, Raymond A.; JEWETT JR, John W. Princípios de física: oscilações, ondas e termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. v. 2. , 52 4 MOVIMENTO ONDULATÓRIO O movimento ondulatório pode ser definido como a propagação de uma perturbação pelo espaço, como o pulso de onda que é uma perturbação. Uma onda mecânica necessita de um meio material para se propagar, como a onda sonora ou a onda em uma corda, que necessitam do ar ou material sólido. A onda eletromagnética não necessita de um meio para se propagar, pois é uma perturbação eletromagnética que se propaga pelo meio material ou novácuo (espaço vazio), como as ondas de rádio, raio-X, micro-ondas, luz. , 53 Observando a figura a seguir, podemos ver que durante a propagação do pulso na corda não ocorre o transporte de massa, pois as partículas do sistema continuam em suas posições originais mesmo com a passagem do pulso. No entanto, há o transporte de energia ao longo da corda, pois cada porção da corda recebe um incremento de energia potencial durante a passagem do pulso. Portanto, o movimento ondulatório não transporta matéria, somente energia. 4.1 Característica do movimento ondulatório As ondas são classificadas de acordo com: A. Natureza: Onda mecânica: necessita de um meio material para se propagar. Exemplo: ondas sonoras. Onda eletromagnética: não precisa de um meio material para se propagar. Exemplo: raio-X, ondas de rádio, luz. B. Direção de vibração: Onda transversal: vibra perpendicularmente à propagação. Exemplo: ondas do mar, ondas em cordas. , 54 Onda longitudinal: vibra de acordo com a propagação. Exemplo: ondas sonoras. 4.1.1 Elementos de uma onda Frequência – é o número de oscilações completas da onda na unidade de tempo. É representada pela letra f e a unidade de frequência no SI é o hertz (Hz), que corresponde ao inverso do segundo (1/s). Período – é o tempo necessário para que a onda realize uma oscilação completa. Representado com a letra T cuja unidade de medida no SI é o segundo (s). A relação entre período e frequência é: e f , 55 Cristas – são as elevações da onda, na figura a seguir corresponde aos picos. Vales – são as depressões, na figura a seguir correspondem à parte mais baixa. Amplitude: é a maior distância das partículas do meio em relação às respectivas posições médias. Na figura a seguir, corresponde à distância entre o eixo da onda e a crista, ou entre o eixo da onda e o vale. Comprimento de onda: é definido como a distância entre duas cristas ou entre dois vales consecutivos, ou a distância percorrida pela onda em um ciclo completo. É representado com a letra grega lâmbda (). Velocidade de propagação da onda: é a velocidade com que a perturbação se propaga no meio e depende das propriedades do meio. As ondas eletromagnéticas diminuem sua velocidade quando atravessam meios mais densos, enquanto ondas sonoras têm comportamento inverso. Quanto mais denso for o meio, maior será sua velocidade. Podemos determinar a velocidade de propagação de uma onda conhecendo o seu comprimento de onda e período ou a frequência através da equação: Como f = 1/T, temos: , 56 Exemplo Uma onda de água aproxima-se de um píer com velocidade de 1,8 m/s. Se o comprimento da onda é de 1,5 m, com que frequência a onda atinge o píer? Resolução: 4.2 Movimento harmônico Vamos considerar um bloco de massa m preso à ponta de uma mola, com o bloco livre para se mover na vertical, sem atrito, como modelo de movimento harmônico simples (MHS). , 57 Quando a mola se encontra em repouso na posição x = 0, onde a mola não está nem esticada nem comprimida, ela encontra-se na posição de equilíbrio do sistema. Se tirarmos da posição de equilíbrio, o sistema irá oscilar para cima e para baixo. Chamamos de movimento harmônico todo movimento que se repete a intervalos regulares e aquele que é do nosso interesse é chamado de movimento harmônico simples (MHS). Quando o bloco é deslocado para a posição x ou x, a mola exerce uma força sobre o bloco dada pela lei de Hooke: Quando o bloco é deslocado da posição de equilíbrio e liberado, ele fica sujeito a uma força resultante, e consequentemente, a ação de uma aceleração. Aplicando a segunda lei de Newton ao movimento do bloco, temos: , 58 Como: Podemos escrever: Para tornar a solução da equação diferencial numa forma mais simples, vamos chamar a razão de , assim temos: Que tem como solução a função cosseno: A função x(t) representa a posição em função de tempo, na qual A é a amplitude do movimento que é o valor máximo da posição da partícula na direção x, positiva ou negativa. A constante é a frequência angular, cuja unidade é o radiano por segundo. O ângulo é o ângulo de fase inicial. A função v(t) que representa a velocidade para qualquer instante de tempo pode ser determinada fazendo a derivada da função x(t), ou seja: Cuja derivada é: A frequência angular vale: O tempo necessário para a partícula completar um ciclo completo de seu movimento é o período T, dado por: , 59 E como a frequência é o inverso do período, temos: Ou: Exemplo Um corpo de massa m é pendurado em uma mola e posto a oscilar. O período da oscilação é medido e registrado como T. O corpo de massa m é removido e substituído por outro de massa 2 m. Quando esse corpo é posto a oscilar, qual é o período do movimento? Resolução Para a primeira situação com massa m, temos período T, ou seja: Para a segunda situação com massa 2 m, o no o período ser T’, ou seja: Dividindo a segunda equação pela primeira equação membro a membro, temos: Simplificando 2, temos: Elevando ambos os membros ao quadrado: , 60 Extraindo a raiz quadrada de ambos os membros: 4.2.1 Ressonância Todo sistema físico possui uma ou mais frequências naturais de vibração que são características do sistema. Como por exemplo, quando o vento sopra com frequência constante sobre uma ponte, se a frequência natural de oscilação do sistema e as excitações constantes sobre ele estiverem sob a mesma frequência, a energia do sistema sofrerá um aumento, fazendo com que a ponte vibre com amplitudes cada vez maiores. O diapasão da esquerda da figura a seguir passa a vibrar com a frequência própria de vibração após sofrer uma excitação através do martelo. A caixa de ressonância irá transferir energia através da vibração para o diapasão da direita. Como os dois diapasões têm a mesma frequência própria de vibrar, o diapasão da direita passa a vibrar também devido ao fenômeno da ressonância. , 61 Uma situação desastrosa pode ocorrer quando a frequência natural de uma construção for igual à frequência do tremor de terra ou as turbulências geradas pelo vento estiverem na mesma frequência natural da construção. Se isso ocorrer, as vibrações de ressonância da construção podem atingir uma amplitude suficientemente grande para provocar um colapso. 4.3 Ondas em uma corda Uma onda que se propaga em uma corda esticada é a mais simples das ondas mecânicas. Se pegarmos uma corda longa tensionada, que tenha uma extremidade livre e a outra extremidade fixa, e balançarmos a extremidade livre, um pulso se forma e se propaga ao longo da corda com velocidade definida. À medida que o pulso se desloca, cada segmento da corda que é perturbado move-se em uma direção perpendicular à da propagação. Uma perturbação como essa, na qual os elementos do meio perturbado se movem perpendicularmente à direção da propagação, é chamada onda transversal. , 62 Agora, se pegarmos a extremidade livre de uma mola enquanto a outra extremidade encontra-se fixa e movimentarmos a mão para trás e para frente uma vez para criar um pulso longitudinal, conforme o pulso passa, o deslocamento das espirais é paralelo à direção da propagação. Esse movimento é chamado de onda longitudinal. Asondas transversais e as ondas longitudinais são chamadas de ondas progressivas quando estas se propagam de um lugar para outro, como no caso das ondas na corda ou na mola. Atenção: quem se propaga é a onda e não o meio material (corda ou ar) onde a onda se movimenta. 4.3.1 Função de onda Quando o pulso desloca-se para a direita, podemos representar a posição y para todos os valores x e t, medidos em uma estrutura estacionária com origem em O, como: Quando o pulso se desloca para a esquerda, a posição y pode ser descrita por: A função y é dependente das duas variáveis x e t. De modo geral, é escrita como y(x, t), que se lê “y como função de x e t”. Podemos representar a função da onda na forma que mostra a natureza periódica de y como função senoidal. , 63 Supondo que a posição vertical é zero em x = 0 e t = 0, podemos escrever a equação de forma mais compacta como: Observe que nessa equação o número de onda é: Podemos incluir uma constante de fase na equação que é determinada a partir das condições iniciais, passando a ser escrita como: 4.3.2 Velocidade da onda em uma corda esticada A velocidade de uma onda em uma corda esticada não depende de propriedades da onda (frequência e amplitude), mas das propriedades da corda como o módulo da tensão na corda (F), e da sua densidade linear (µ). Desse modo, a velocidade é determinada pela equação: A massa específica linear µ da corda é a massa de um elemento da corda, ou seja, a razão entre a massa total m da corda e o comprimento L, portanto: Exemplo Uma onda senoidal progressiva em uma direção positiva tem amplitude de 15,0 cm, comprimento de onda de 40,0 cm e frequência de 8,00 Hz. A posição vertical do elemento no meio em t = 0 e = 0 também é de 15,0 cm. Com base nessas informações: a) Encontre o número de onda k, o período T, a frequência angular , e a velocidade v da onda. b) Determine a constante de fase e escreva uma expressão geral para descrever a função de onda. , 64 Resolução a) Número de onda Período Frequência angular Velocidade da onda b) Constante de fase , 65 Função de onda Ou: 4.4 Ondas sonoras, intensidade do som Nós vimos que as ondas mecânicas podem ser transversais e longitudinais e que nas longitudinais as oscilações ocorrem na direção de propagação da onda. Como exemplo de ondas longitudinais, há as ondas sonoras no ar. Porém, as ondas sonoras se propagam através de qualquer meio material e sua velocidade depende das propriedades desse meio. A temperatura do meio influencia na velocidade do som. Para o ar, a propagação do som apresenta a relação entre a velocidade da onda e a temperatura do ar através da equação: na qual: 331 m/s é a velocidade do som a 0 oC tC é a temperatura do ar na escala Celsius Para a temperatura de 20 oC, a velocidade do som no ar será de: , 66 A generalização da equação usada para calcular a velocidade de uma onda transversal em uma corda é: Pode ser efetuada substituindo a massa específica linear da corda µ pela massa específica do ar ρ, e a tra o na corda F pelo m dulo de elasticidade olumétrica B, portanto: que fornece a velocidade do som em um meio com módulo de elasticidade volumétrico B e massa específica ρ. Módulo de elasticidade volumétrico é a propriedade que determina o quanto um elemento de um meio muda de volume quando é submetido a uma pressão. 4.4.1 Intensidade do som O que nos permite caracterizar se um som é forte ou fraco é a intensidade do som e está relacionada com a energia que a onda sonora transfere. A intensidade sonora é definida como o fluxo de energia por unidade de área, ou seja: Mas a potência é a taxa de transferência da energia da onda sonora, portanto: E a intensidade sonora corresponde à potência sonora recebida por unidade de área de uma superfície, assim: No Sistema Internacional, a unidade de I é o watt por metro quadrado: A intensidade sonora capaz de sensibilizar o aparelho auditivo tem um valor mínimo e depende da frequência do som e varia de pessoa para pessoa. Para um ouvido normal, esse valor mínimo é de . , 67 4.4.2 Nível sonoro O ouvido humano só consegue captar vibrações com frequências compreendidas entre 20 Hz e 20000 Hz. Apesar de conseguir captar sons com frequências compreendidas nesse intervalo, só é possível captá-los se a intensidade sonora desses sons for suficientemente forte. Determina-se o Nível Sonoro produzido para estabelecer se o som produzido por uma fonte sonora é forte ou fraco. O nível sonoro faz a relação entre a intensidade sonora de um som com o valor mínimo da intensidade sonora que conseguimos ouvir. Essa relação é obtida através da equação: A unidade de medida do nível sonoro é o Bel (B), mas essa unidade é grande e é comum utilizar o decibel (dB), que corresponde a um décimo do Bel. Exemplo Muitos músicos veteranos de rock sofrem de perda aguda da audição por causa dos altos níveis sonoros a que foram submetidos durante anos. Atualmente, muitos músicos de rock usam proteções especiais nos ouvidos durante as apresentações. Se um protetor de ouvido diminui o nível sonoro em 20 dB, qual é a razão entre a intensidade final If e a intensidade inicial Ii? Resolução: Para o nível sonoro final, temos: Para o nível sonoro inicial, temos: A diferença entre os níveis sonoros é: , 68 Aplicando a identidade dos logaritmos, podemos escrever a equação como: Como o nível sonoro diminui de 20 dB, esse nível sonoro será negativo, portanto: Aplicando o antilogaritmo em ambos os membros da equação, temos: Isso significa que a intensidade sonora final é 100 vezes menor que a intensidade inicial. 4.5 Ondas eletromagnéticas As ondas eletromagnéticas são aquelas que resultam da interação entre um campo elétrico e um campo magnético. Ao contrário das ondas mecânicas que necessitam de um meio material para se propagarem, as ondas eletromagnéticas não precisam desse meio para se propagarem, ou seja, elas se propagam no vácuo. As ondas eletromagnéticas se propagam no vácuo com a velocidade de 299.792.458 m/s. Essas ondas apresentam as seguintes características: Os campos elétrico e magnético são perpendiculares à direção de propagação da onda. O campo elétrico é perpendicular ao campo magnético. , 69 Os campos variam sempre na mesma frequência e estão em fase. As ondas eletromagnéticas são as ondas de rádio, micro-ondas, infravermelho, luz visível, raios ultravioleta, raios-X e raios gama. Colocando essas ondas em um espectro de ondas eletromagnéticas no sentido da esquerda para a direita e do maior comprimento de onda para o menor comprimento de onda, temos mais à esquerda as ondas de rádio de grandes comprimentos de onda e consequentemente baixas frequências. Em seguida, temos as micro-ondas e na sequência vem o infravermelho localizadoao lado da luz visível. No centro do espectro eletromagnético, temos a luz visível, e em seguida vem o raio ultravioleta. Na sequência, temos o raio , e por último, temos os raios gama que apresentam alta energia e frequência. , 70 Conclusão do Bloco 4 Neste bloco, falamos sobre os movimentos ondulatórios e vimos também as características do movimento ondulatório como período, frequência, amplitude e comprimento de onda. , 71 Estudamos o movimento harmônico e falamos sobre o fenômeno da ressonância e deve ser dada uma atenção a esse fenômeno pelos engenheiros para evitar um colapso em sua obra inviabilizando o projeto. Estudamos também as ondas em cordas e vimos que se trata de uma onda mecânica transversal e de que maneira a sua posição e velocidade variam. Vimos também as ondas sonoras que são ondas mecânicas longitudinais e a intensidade sonora cujo valor em dB determina se o som está no limiar da audição. E finalmente, mas não menos importante, estudamos as ondas eletromagnéticas. REFERÊNCIAS HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de física: gravitação, ondas e termodinâmica. 10. ed. São Paulo: LTC, 2016. v. 2. TIPLER, Paul Allen; MOSCA, Gene. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. v. 1. YOUNG, Hugh D.; FREEDMAN, Roger A. Física II: termodinâmica e ondas. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley, 2008. SERWAY, Raymond A.; JEWETT JR, John W. Princípios de física: oscilações, ondas e termodinâmica. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014. v. 2. , 72 5 ELETRICIDADE I Nesta unidade, iremos estudar a natureza da carga elétrica e que a carga elétrica se conserva. Também iremos ver como os objetos tornam-se eletricamente carregados e discutiremos as propriedades básicas da força eletrostática e a aplicação da lei de Coulomb para determinar a força elétrica entre as cargas. Em seguida, será abordado o conceito de campo elétrico gerado por uma carga elétrica e os efeitos deste campo sobre outras partículas carregadas. Veremos que o eletromagnetismo, que é a combinação de fenômenos elétricos e magnéticos, está presente nos computadores, televisores, celulares, rádios, lâmpadas, ou seja, nos aparelhos eletroeletrônicos, e também em fenômenos naturais como o relâmpago. Serão abordados o conceito e a importância do potencial elétrico e a capacidade de armazenamento de carga em um corpo medida através de sua capacitância. 5.1 Carga elétrica Por volta de 600 a.C., os gregos descobriram que ao atritar o âmbar com pele de animal, o âmbar adquiria a propriedade de atrair objetos leves como pedaços de palha ou pena. Mais tarde, por volta de 1600, descobriu-se que essa propriedade não era exclusiva do âmbar, e como o âmbar em grego é chamado de eléktron, o fenômeno passou a ser chamado de fenômeno elétrico, ou seja, fenômeno semelhante ao que ocorre com o âmbar. Benjamin Franklin observou que existiam dois tipos de eletricidade, que chamou de positiva e negativa. A explicação para esse fenômeno é possível atribuindo-se ao próton e ao elétron a propriedade chamada de carga elétrica. Desse modo, foi atribuída ao próton carga positiva e para o elétron carga negativa. Os corpos quando estão no estado neutro apresentam a mesma quantidade de prótons e de elétrons tornando-os eletricamente neutros. Quando fazemos o atrito do âmbar com pele de animal, ocorre uma transferência de elétrons de um corpo para o outro. Nesse caso, a pele de animal perde elétrons e o âmbar ganha elétrons, tornando-se um corpo carregado eletricamente ou eletrizado. Como a pele de animal perdeu elétrons, ficou com , 73 excesso de prótons e eletrizada positivamente, enquanto o âmbar ganhou elétrons ficando com excesso de elétrons e eletrizado negativamente. Podemos verificar experimentalmente que cargas elétricas de mesmo sinal se repelem e de sinais diferentes se atraem. 5.1.1 Condutores e isolantes A classificação de um material é feita de acordo com a facilidade que os elétrons apresentam de se movimentarem no interior dele. Condutores – são os materiais onde as cargas elétricas movem-se com facilidade. Além dos metais, como o cobre, que são bons condutores de eletricidade, podemos citar o corpo humano e a água da torneira. Isolantes – são os materiais que não permitem o movimento das cargas elétricas, como por exemplo, a borracha, o vidro e a madeira seca. 5.1.2 Processos de eletrização Atrito – quando fazemos o atrito entre dois corpos constituídos de materiais diferentes, um deles irá perder elétrons e o outro irá ganhar elétrons, ficando ambos eletrizados. Quem ganha elétrons irá ficar eletrizado com carga negativa e quem perde elétrons irá ficar eletrizado com carga positiva. Contato – entre um corpo eletrizado e outro corpo eletricamente neutro irá ocorrer a transferência de parte da carga do corpo eletrizado para o corpo neutro. Afastando-se os dois corpos, eles ficarão carregados com cargas de mesmo sinal. Essa transferência ocorre também entre dois corpos carregados com quantidades diferentes de carga elétrica. Indução – na aproximação de um bastão eletrizado com carga negativa de outro corpo neutro isolado sem tocá-lo, irá ocorrer o fenômeno da indução onde as cargas positivas do corpo neutro irão ser atraídas pelas cargas , 74 negativas do outro corpo e as cargas negativas serão repelidas, ficando o corpo neutro com concentração maior de cargas positivas de um lado e de cargas negativas do outro lado, no entanto permanecendo neutro. Fazendo a ligação do corpo neutro com a terra através de um fio condutor, alguns elétrons irão escoar para a terra. Retirando-se a ligação com a terra e afastando o corpo eletrizado, este, que estava neutro, passa a ser eletrizado com carga positiva. 5.1.3 Quantidade de carga elétrica Podemos determinar a quantidade de carga elétrica que um corpo eletrizado apresenta multiplicando a quantidade de partículas (prótons ou elétrons) que o corpo apresenta em excesso pelo valor da carga elementar, ou seja: A car a elementar “e” corresponde ao alor a soluto da car a elétrica de um pr ton ou de um elétron e vale 1,60 . 10‒19 C. Portanto, para o próton, esse valor é de +1,60 . 10‒19 C, e para o elétron, é de ‒1,60 . 10‒19 C. A unidade de carga elétrica no SI é o coulomb (C). Os submúltiplos do coulomb são: milicoulomb = mC = 10‒3 C microcoulomb = µC = 10‒6 C nanocoulomb = nC = 10‒9 C picocoulomb = pC = 10‒12 C 5.2 Lei de Coulomb Coulomb determinou experimentalmente quanto valia a força de interação entre duas partículas carregadas. Ele chegou à conclusão de que a força era diretamente proporcional ao valor das cargas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre as partículas carregadas. Introduzindo uma constante de proporcionalidade, podemos escrever a equação como: , 75 Onde r é a distância entre as partículas e k é a constante eletrostática, e vale . Para efeito de cálculos, iremos utilizar o valor de . Cargas de mesmo sinal se repelem e cargas de sinais contrários se atraem. Desse modo, podemos trabalhar com o valor absoluto das cargas. Muitas vezes, a constante k é escrita na forma: Ficando a equação da lei de Coulomb expressa pela equação: E a permissividade do vácuo . A força é uma grandeza vetorial e a força eletrostática exercida por q1 sobre q2 é representada na forma vetorial como: Onde é um vetor unitário dirigido a partir de q1 para q2. A representação gráfica é necessária para representar a direção de . Considere que n partículas carregadas estão presentes
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