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A BOA FÉ EM CONTRATOS CORPORATIVOS NA PESPECTIVA BRASILEIRA

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Project Study Paper
A Discussion of the Legal Principle of Good Faith in Contract Law and Its Connection to European Union Law
Submitted by: Lucianne Keijok Spitz Costa
Course: LLM03c_Brazil
Instructor: Prof. Dr. Arnold Rainer
Closing date: May 22, 2018.
A Discussion of the Legal Principle of Good Faith in Contract Law and Its Connection to European Union Law
TABLE OF CONTENTS
1. Introdução									3
2. A Boa-fé 									5
2.1 conceito									5
2.2 Histórico da Boa-fé
2.3 A boa-fé enquanto conceito jurídico indeterminado		8
2.4 A boa-fé e os Tribunais superiores
3. A categoria dos contratos corporativos				9
4. A Função empresarial segundo a ótica brasileira			10
5. A boa-fé e contratos corporativos					12
5.1 Consequência da falta de boa-fé na formação dos contratos
6. A função da boa-fé em contratos corporativos			14
7. Conclusão 									17
8. Referencias 								19
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa trazer para conhecimento a ética vista pela ótica do ordenamento jurídico brasileiro, onde o mesmo se encontra expressamente descrito no Código Civil de 2002. O legislador colocou a ética como em um patamar elevado, onde o mesmo foi descrito em vários pontos da legislação. A conduta ética é exigida pelas partes que integram uma relação jurídica.
Nos tempos mais antigos, onde as relações comerciais eram feitas sem nenhuma regra ou principio, os comerciantes mais fortes e famosos acabavam que por impor as condições que eles julgavam boas para os mesmos sobre a outra parte, que na maioria das vezes, eram comerciantes menores.
E através do direito e alguns princípios criados para as relações de comércios e empresariais, esse desequilíbrio no momento da realização dos negócios foi mudando de figura, a ponto de fazer com que esses contratos firmados ficassem cada vez mais equilibrados.
Essa igualdade contratual imposta pela justiça, fez com que os empresários e comerciantes deixassem de lado a personalidade individualista e adotassem uma postura mais preocupada com as relações jurídicas sociais, que trariam benefícios para todos. 
Através dessa atitude de igualdade contratual que foi trazida e imposta pela justiça, que se criou o principio da boa-fé. E a partir daí, essa atitude passou a ser adotada nas mais diversas relações contratuais, empresariais, comerciais e até de trabalho, e foi assim, que o principio da boa-fé assumiu um papel importantíssimo a fim de atingir os objetivos contratuais. 
O principio da boa-fé traz em seu conceito uma norma de conduta a ser seguida pelos contratantes, essa norma impõe uma postura de lisura e lealdade, devendo respeitar aos legítimos interesses da contraparte, devendo assim, agirem de acordo com os padrões socialmente reconhecidos e a aplicação deve ser observada e seguida em todos os tipos de contratos, sejam eles os empresariais, comerciais ou trabalhistas. 
Desta forma, o código civil de 2002, trouxe a obrigação das partes de manter esse principio em todos os estágios dos contratos firmados, antes, durante e depois, a fim de resguardar ambos.
O empresário, segundo o Código Civil em seu art. 966, é “aquele que exerce profissionalmente atividade organizada para a produção e circulação de bens e serviços”, e a atividade empresarial parte da idéia de quatro princípios, sendo eles: lucro, risco, especulação e profissionalismo.
Essas características atípicas do Direito Empresarial, como os princípios próprios e com fundamentos diferenciados, fazem com que seja visto de forma material sendo diferente dos outros ramos jurídicos, principalmente se falando de uma autonomia particular seguida por ele utilizado por ele nos contratos derivados de uma atividade econômica.
Portanto, a intenção inicial do trabalho é mostrar como o ordenamento jurídico brasileiro lida com o principio da boa-fé nos contratos corporativos. O artigo não tem pretende estudar os critérios de aplicação da boa-fé nos contratos empresariais, e demonstrar que o uso indiscriminado do mesmo nas mais diversas relações jurídicas deste principio pode vir a trazer riscos para as relações futuras.
2. Princípio da Boa fé
2.1 Conceito
A criação da constituição federal de 1988 trouxe como objetivo primordial do Estado Democrático de Direito a construção de uma sociedade livre, igualitária, justa e solidaria (art. 3º, inciso I), baseada na livre iniciativa e nos valores da dignidade humana. 
Com esse modelo de estado adotado, o mesmo conferiu aos cidadãos o livre direito de contratar, impor limites e deveres a serem observados por aquele que contratou, para que o negocio jurídicos privado que tenha sido firmado atinja seu fim especifico, desde que dentro dos padrões instituídos pela Constituição Federal de 1988.
Desta forma, trouxe a sociedade uma nova forma de se fazer contrato, onde não importava apenas os desejos das partes e sim, os efeitos trazidos para a sociedade a partir deste negocio jurídico. Parte-se do principio de que o indivíduo tem sua liberdade concedida pelo estado, então, o mesmo tem o direito de limitar essa liberdade a partir do uso arbitrário dessa liberdade, tais como a “função social do contrato”.
	A boa-fé objetiva é um dos princípios gerais utilizados no contrato, onde deve ser xobservada a aplicação do mesmo antes, durante e depois da realização do negocio jurídico. É uma norma de conduta onde fixa que o comportamento das partes do contrato hajam de forma ética priorizando a confiança, honestidade e lealdade, onde mesmo que as partes não ajustem especificadamente, esses padrões devem ser seguidos e observados para que o contrato tenha uma realização justa e alcance também o objetivo constitucional.
	O código civil introduziu em seu texto a pouco tempo o principio da boa-fé. Cícero, um dos juristas políticos romanos considerava a boa-fé como o fundamento principal do direito, pois trazia consigo a sinceridade e a lealdade das partes. Cícero dizia “a fim de que de vós e vossa fé eu não receba perdas e danos”, e acrescentava “como se age entre pessoas honestas, e sem nenhuma fraude”.
Para Paulo Lôbo[footnoteRef:1]: [1: LÔBO, Paulo. Contratos. São Paulo: Editora Saraiva. 2012.] 
A boa-fé objetiva, em nosso sistema, tem suas raízes mais remotas na experiência da fides (...) consistia, como disse Cícero, no dever de honestidade, e, também, na confiança de uma parte sobre a retidão de conduta da outra. A boa-fé, no direito alemão, é denominada treu un glauben, termos que significam lealdade e confiança.
Na visão do doutrinador Ricardo Lupion:
...Pode-se afirmar que a boa-fé objetiva representa o dever de agir de acordo com os padrões socialmente reconhecidos de lisura e lealdade. São esses padrões que traduzem confiança necessária à vida de relação e ao intercâmbio de bens e serviços. Consequentemente é dever de cada parte agir de forma a não defraudar a confiança da contraparte, indispensável para a tutela da segurança jurídica, para a garantia da realização das expectativas legítimas das partes. Quando a lei impõe a quem se obrigou a necessidade de cumprir o compromisso, está apenas protegendo, no interesse geral, a confiança que o credor legitimamente tinha em que o seu interesse particular fosse satisfeito.[footnoteRef:2] [2: LUPION, Ricardo. Boa-fé objetiva nos contratos empresariais: contornos dogmáticos dos deveres de conduta. Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2011. p. 50.] 
	Ou seja, o principio da boa-fé não pode ser usado de forma que proteja uma parte para tirar vantagem em cima de outra, sendo assim a garantia e segurança jurídica para a realização dos desejos e deveres de ambos, visando proteger a relação negocial, contratual ou empresarial, de acordo com os valores jurídicos impostos e julgados corretos pela sociedade, preservando assim a expectativa social de não ser surpreendido por um agende desconhecido de tal contrato.
	Como visto anteriormente, o conteúdo desse principio não foi definido pela legislação, até porque, com o aumento significativo de casos, ficou impossível a fixação de um conteúdo sem que tenha-se ciência total de cada caso.Nas palavras de Luiz Felipe Amaral Calabró:
o conceito de boa-fé objetiva, bem como a limitação dos deveres dela derivados, não foram taxativamente definidos pela Lei. O legislador preferiu que o conteúdo da boa-fé objetiva fosse delimitado de acordo com cada caso concreto.[footnoteRef:3] [3: CALABRÓ, Luiz Felipe Amaral. As obrigações e seus deveres anexos, analisados à luz da boa-fé objetiva: mandamento e sanção. p.96-97] 
	Através da flexibilização do conteúdo normativo, a interpretação do termo boa-fé se expande e acaba que por permitir que a lei seja aplicada em diversos casos independente das peculiaridades que os envolvam. Assim, muito embora a imprecisão do conceito de boa-fé “cujo conteúdo é dirigido ao juiz, para que este tenha um sentido norteador no trabalho de hermenêutica”[footnoteRef:4] ela será um “parâmetro corretivo das normas legais, justificando o afastamento de uma regra quando esta conduza a um resultado inconciliável com a ideia de lealdade”[footnoteRef:5]. [4: VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. V. 2. São Paulo: Atlas, 2003, p. 379.] [5: FRITZ, Carolina Nunes. A boa-fé objetiva na fase pré-contratual. A responsabilidade pré-contratual por ruptura nas negociações. Curitiba: Juruá, 2008, p. 96.] 
	Acrescentado o já dito anteriormente, o doutrinador Gustavo Tepedino lembra que este principio funciona como elo entre o direito contratual e os princípios constitucionais, tendo três funções do ponto de vista técnico (i) função interpretativa dos contratos; (ii) função restritiva do exercício abusivo de direitos e (iii) função criadores de deveres anexos à prestação principal, nas fases pré-negocial, negocial e pós negocial[footnoteRef:6]. [6: TEPEDINO, Gustavo. Novos princípios contratuais e teoria da confiança, p. 13,] 
O principio da boa fé está expressamente elencado no Código Civil em seu artigo 113, que diz “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. E limitou o exercicio de tal direito em seu artigo 187 “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestadamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé e pelos bons costumes”. Da mesma forma, indicou em seu artigo 422[footnoteRef:7] que “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato como em sua execução, os princípio de probidade e boa-fé”[footnoteRef:8]. [7: Ao comentar esse artigo de lei, o autor Carlos Roberto Gonçalves expressa que “A probidade, mencionada no art. 422 do Código Civil, retrotranscrito, nada mais é senão um dos aspectos objetivos do princípio da boa-fé, podendo ser entendida como a honestidade de proceder ou a maneira criteriosa de cumprir todos os deveres, que são atribuídos ou cometidos à pessoa. Ao que se percebe, ao mencioná-la teve o legislador mais a intenção de reforçar a necessidade de atender ao aspecto objetivo da boa-fé do que estabelecer um novo conceito”. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Contratos e Atos Unilaterais. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. v. 03.] [8: BRASIL. Código Civil (2002). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 de janeiro de 2002.] 
	Desta forma, o principio da boa-fé veio para dizer de que forma e o que será feito em cada prestação. Transformando-se assim, em uma norma chave, que ainda que não esteja indicada expressamente nos contratos firmados, servirá de diretrizes para o sistema jurídico.
	Nesse contexto, a boa-fé subjetiva (como o próprio nome diz) pode ser entendida como o estado de consciência do indivíduo participante da relação jurídica, por outro lado, a boa-fé objetiva é um modelo de conduta social a ser seguida por todos, cujo parâmetro é a conduta do homem honesto e leal.
2.2 Histórico da Boa-fé
De acordo com alguns juristas, a origem da expressão boa-fé se encontra no Direito Romano “bona fides”, que trouxe como conceito inicial o dever de adimplemento das obrigações.
Porém, a boa-fé ganha visibilidade no direito germânico, que foi onde ela passou a ser vista no âmbito dos contratos, onde, a mesma tinha o intuito de que fossem visto e elencado a necessidade de se ter visualmente o interesse da outra parte. No artigo 242[footnoteRef:9] do Código Civil Germânico que a boa-fé trouxe a boa-fé uma cláusula geral que flexibilizou o sistema que era fechado. [9: § 242: O devedor está adstrito a cumprir a prestação tal como a exija a boa-fé, com consideração pelos costumes do tráfego.] 
No século XIX foi dado o fim do individualismo, e o inicio do paradigma do dirigismo contratual, que trouxe em sua bagagem alguns conceitos, entre eles, o interesse publico, a ordem publica, a função social e a boa-fé.
Na 2ª Guerra Mundial, os conceitos se modificam a modo que os mesmos passam a ser mais voltada a dignidade humana, transformando assim o ordenamento que acreditava ser obrigado a prever tudo, onde o juiz deixa de ter apenas a função de “traduzir a lei” e passa a ser o diretor do processo, onde não cabe mais a ele ser um ditador da lei[footnoteRef:10]. [10: Cf. GOMES, Sérgio Alves. Possibilidades da hermenêutica constitucional na construção do Estado Democrático de Direito. Tese de Doutorado – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2006.] 
Com a evolução obtida no direito privado principalmente ao que se refere aos contratos, a boa-fé passa ser algo consensual entre as partes, trazendo assim, sustento entre as partes, ou seja, como diz Leandro Alegría “a medida que los problemas surgen La inegotable virtud jurígena Del principio de buena fe brinda soluciones nuevas”[footnoteRef:11]. [11: Apud RUBIO, Delia Matilde Ferreira. La buena fe: el principio general en el derecho civil. Madrid: Editorial Montecorvo, 1984, p. 11.] 
Segundo Lucinete Cardoso de Melo, as clausulas gerais trazem rejeição a indicação de conceitos perfeitos e acabados, já que sua função é permitir mobilidade para capturar, em uma mesma hipótese, uma ampla variedade de casos resolvidos por via jurisprudencial e não legal.[footnoteRef:12] [12: MELO, Lucinete Cardoso de. O princípio da boa-fé objetiva no Código Civil . Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n. 523, 12 dez. 2004. Disponível em:.......... . Acesso em: 14 dez. 2004.] 
Também nesse sentido, Judith Hofmeister esclarece
“as cláusulas gerais constituem o meio legislativamente hábil para permitir o ingresso, no ordenamento jurídico, de princípios valorativos, expressos ou ainda inexpressos legislativamente, de standards, máximas de conduta, arquétipos exemplares de comportamento, das normativas constitucionais e de diretivas econômicas, sociais e políticas, viabilizando a sua sistematização no ordenamento positivo.”[footnoteRef:13] [13: MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado: sistema e tópica no processo obrigacional. 1 ed., 2. tir., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 274.] 
No antigo Código Civil, era fruto do Estado Liberal e do positivismo jurídico e existia nele um rigor formal excessivo e quase nenhuma referencia a boa-fé. 
João Hora Neto afirma
“O Código Civil de 1916, produto do Estado liberal, é conhecido como a constituição do direito privado, cujos postulados básicos (igualdade e liberdade formais, segurança jurídica, completude e neutralidade) colocaram à disposição do magistrado um prontuário completo a ser aplicado para cada caso, de maneira infalível.”[footnoteRef:14] [14: HORA NETO, João. O princípio da função social do contrato no Código Civil de 2002. Revista de direito privado. São Paulo: Revista dos tribunais, n. 14, p. 38-48, abr. – jun. 2003, p 38.] 
	Porém, já no Código Civil vigente (2002), dá ao juiz o direito e o poder de suprir as lacunas necessárias, resolver os conflitos onde e quando precisarem desde que estejam em conformidade com os valores éticos sociais.
	O direito privado teve grandes inovações com a Constituição Federal de 1988, pois, tratou de princípios que antes eram citados apenas pelo Código Civil, a fim de integrar a Lei Fundamental a lei ordinária. Essa atitude foi chamadade “Constitucionalização do Direito Civil”, ou pelas palavras de Amaral “direito civil materialmente contido na Constituição”[footnoteRef:15]. [15: ] 
O direito civil em seu âmbito privado também está sofrendo mudanças no sentido de desagregação em ramos jurídicos autônomos, isto ocorre pois, as relações jurídicas estão ocorrendo com maior complexidade, dessa forma, o Código Civil deixou de ser o centro do ordenamento privado e em relação a eles, passa a existir leis especiais denominadas microssistemas jurídicos que contem em seu dispositivo seus princípios próprios que são capazes de regular sobre matérias até então contidas no diploma principal.
	Os microssistemas, conforme dito anteriormente, são as leis que acompanham as necessidades sociais, onde se é possível escapar do rigorismo do antigo Código Civil, traz ao ambuto jurídico uma modernização legislativa tanto civil, quanto constitucional, sendo capaz de trazer para as relações jurídicas uma igualdade material e o equilíbrio, como por exemplo, o Códifo de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11 de Setembro de 1990).
	O direito é essencial na busca pelo equilibro nas relações contratuais, trazendo a possibilidade do estado de intervir quando necessário e automaticamente a certeza e estabilidade às relações econômicas, contando com uma ferramenta importantíssima para isso, a boa-fé objetiva.
	Segundo Arnoldo Wald
“Trata-se de incluir nos contratos, em virtude da interpretação e da construção, deveres secundários ou derivados de informação, conselho e até cooperação, assim como a proibição de certas omissões. Cria-se, assim, um dever de lealdade na contratação e na execução do contrato que está vinculado basicamente às noções de confiança e de equilíbrio. Confiança entre as partes contratantes, que devem ter e manter, uma em relação à outra, o comportamento do bom pai de família e até, conforme o caso, do parceiro sério, diligente e confiável, sob pena de responsabilidade se uma delas não corresponder à expectativa da outra.[footnoteRef:16]” [16: ] 
	A inovação pode ser encontrada no Código Civil em seus artigos 113, 187 e 422.
	Nesse novo contexto, as pessoas do contrato são chamadas de probos, e não devem ganhar vantagem, já que, as expectativas é a razoabilidade dos negócios, não deixando assim que os contratos fiquem desproporcionais para nenhuma das partes, segundo as leis de livre economia elencadas na Constituição Federal em seu artigo 170, IV[footnoteRef:17]. [17: ] 
	Assim, os contratos devem ser vistos como uma parceria, na qual ambas as partes tem o dever de agir conforme o princípio da boa-fé, a fim de evitar qualquer dificuldade que possa acontecer não só no período do contrato, mas também, antes e depois.
2.3 A boa-fé quanto conceito jurídico indeterminado
O novo Código traz a boa-fé como um conceito jurídico indeterminado, ou seja, segundo Amaral é 
“aquele cujo o conteúdo e extensão são em lagra medida incertos, ou, noutra formulação, que não permitem comunicacoes claras quanto ao seu conteúdo, seja por polissemia, vaguidade, ambigüidade, porosidade ou esvasiamento”[footnoteRef:18]. [18: AMARAL, Diogo Freitas. Curso de direito administrativo. Coimbra: Almedina, 2002, p. 106.] 
Desta forma, esse conceito jurídico indeterminado, faz com que, as clausulas gerais, sejam preenchidos através por doutrinas e jurisprudência. E o principio da boa-fé, se enquadra nesta categoria, assim como aconteceu no exterior, que os limites e conteúdo deste principio foram criados através de jurisconsultos e juízes.
O Professor Pais de Vaconcelos, completa sobre o tema
“o juízo de boa-fé é sempre profundamente moral e a sua realização enfrenta as mesmas dificuldades de concretização de todos os juízos éticos. O seu critério material é um dado extrajurídico. Constitui uma das janelas do sistema”[footnoteRef:19]. [19: VASCONCELOS, Pedro Pais de; Contratos atípicos. Coimbra: Almedina, 1995, p. 65.] 
Apesar do Código não trazer o conteúdo do principio da boa-fé, é importante ressaltar que a clausula geral da boa-fé não muda conforme o caso, não tendo assim, para cada caso, uma solução diferente das demais.
O principio da boa-fé, tem critérios que o caracterizam objetivos. Ou seja, o recurso à boa-fé não traz nenhuma concessão à arbitrariedade, porque impõe um criteiro objetivo.
Apesar de o legislador ter deixado para a doutrina e a jurisprudência o dever de fixar o conteúdo material do principio da boa-fé, não traz ao interprete o direito de modificar a sua decisão baseadas nos casos concretos, ou seja, ele não deve usar de forma diferente o principio da boa-fé.
Assim, é de extrema necessidade que se fosse fixado o conteúdo a ser utilizado pela boa-fé, ainda que tenha sido em termos doutrinários, a fim, de que aqueles que forem utilizar de um contrato seja ele de qual espécie for, saibam das obrigações a que estão sujeitos através da clausula geral da boa-fé, não sendo possível alegar posteriormente desconhecimento de tal principio.
2.4 Boa-fé objetiva x Boa-fé subjetiva
2.5 A boa-fé e os Tribunais Superiores
Com a Constituição da República (de 1988) traz para o Superior Tribunal Federal uma competência relacionada e voltada para o controle constitucional das leis, atos e decisões. Porém, a constitucionalidade das leis brasileiras não tem uma análise feita anteriormente fora do Poder Legislativo.
Ao Superior Tribunal de Justiça (hierarquicamente fica abaixo do Supremo Tribunal Federal) fica a tarefa de recurso especial examinar questões de direito, e não repetindo questões já decididas anteriormente por tribunais inferiores.
Ocorre que, dificilmente devido ao fato da boa-fé ser uma questão de fato, dificilmente será uma matéria levada aos dois tribunais superiores. Porém, é possível que isso aconteça, caso, com muita insistência e esperteza, conste um problema de qualificação jurídica na matéria decidida na instancia inferior.
3. A CATEGORIA DOS CONTRATOS CORPORATIVOS
Os contratos corporativos são aqueles que assumem a condição de empresários e sua atividade seja voltados para a própria pratica empresaria, desenvolvidas por ambos. Essa categoria de contrato não tem nada de novo no ordenamento jurídicos brasileiro, que eram elencadas no Código comercial pelos artigos 121 e seguintes.
	Os contratos empresariais têm como finalidade o lucro bilateral, ou seja, a obtenção de vantagens/lucros é o que traz forma a figura do empresário, pois essa é a finalidade desenvolvida por eles.
	Para que o empresário constitua lucro a partir dos seus contratos, ele procederá com os cálculos necessários, de forma todos os gastos de tal contrato sejam computados[footnoteRef:20] que seja possível que ele tenha precisão das vantagens e desvantagens de tal negocio. [20: MIGUEL, Paula Castello. Contratos entre empresas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 96.] 
	Quando a empresa é gerida e constituída por pofissionais, esses deverão desempenhar atividades de forma continua, habitual além de que esses saibam atuar no mercado. Porém, é normal que tais sujeitos necessitem de assessoramento jurídico especializado para que sejam orientados.
	Dessa forma, faz com que o empresário, de acordo com o ordenamento jurídico, não possa alegar desconhecer os bens e serviços que são disponibilizados pela sua empresa para o mercado, ou seja, ocorre a presunção de “hipersuficiência” dos agentes[footnoteRef:21]. [21: ZANCHIM, Kleber Luiz. Contratos Empresariais: categoria: interface com contratos de consumo e paritários- revisão judicial. São Paulo: Quartier Latin, 2012, p. 77. ] 
	Então, vale lembrar que o empresário exerce atividade econômica em prol da obtenção de lucros, e cabe a ele aguentar os riscos inerentes de tais atividades a ele exercidas. 
	Quando este empresário estabelece relações jurídicas com outro empresário, o risco contratual surge de forma automática para o titular da empresa. Para esse risco é !probabilidade de, independentemente da vontade das partes, determinado evento impactar a relação entre as prestações delas”[footnoteRef:22]. [22: ZANCHIM,Kleber Luiz. Contratos Empresariais: op. Ct., p. 134.] 
Na verdade, a própria contratação pode trazer riscos, e não se pode esquecer que o próprio contrato destina esses riscos, deixando possível que eles sejam repartidos pelos agentes econômicos. 
Dessa forma, se conclui resumidamente que a lógica do mercado, inerente ao campo interempresarial, é um fator a ser considerado na interpretação das obrigações mercantis, e consequentemente na incidência da boa-fé objetiva sobre estas[footnoteRef:23]. [23: OLIVEIRA, Rafael Mansur. A Boa-Fé Objetiva nas Relações Empresariais: Parâmetros para o controle da atividade do interprete. R.EMERJ, Rio de Jaeiro, v.18, n. 71, 2015, p. 166.] 
4. A FUNÇÃO EMPRESARIAL SEGUNDO A OTICA BRASILEIRA
Na teoria, segundo o Código Civil Brasileiro de 2002, em seu art. 966, o empresário é considerado “empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços.”
O risco da atividade empresarial, assim como em qualquer contrato, devido ao fato de que para tal atividade obter o sucesso esperado, fatores externos e internos podem influenciar, porém, um dos fatores que mais se faz necessário é a qualidade de gestão do negócio. Isso sem falar no profissionalismo necessário de todos que compõe o quadro desta atividade empresarial e o dever de diligências dos superiores a seus subordinados.
É por isso que o empresário não pode alegar desconhecimento de algum fator para anular uma relação jurídica (contrato) iniciada a partir de sua gestão, ou no caso, má-gestão. Esperando-se assim de um cuidado elevado além de ser necessário uma experiência exigida para uma boa e correta administração dessas atividades empresariais.
É visível que os contratos corporativos são inseridos constantemente em uma atmosfera de rivalidade e concorrência. Dessa forma, o sucesso de uma empresa e o aproveitamento de oportunidades feitos pela mesma, juntamente com a boa gestão exercida pelo empresário, não caracterizam ato ilícito do mesmo, sendo protegida pelo direito brasileiro.
Porém, essa forma de agir da atividade empresarial, não transfere a ela o direito de abandono dos deveres de informação, cooperação, solidariedade entre outros. Entretanto, atraem uma conduta diferente das aplicadas em outros tipos de contrato, como de trabalho e de consumo, pois, nos contratos empresariais, os padrões de conhecimento, organização e profissionalismo são mais altos.
Segundo o entendimento do jurista Gustavo Tepedino:
“Assim, enquanto no exemplo da compra e venda de um automóvel exige-se que o vendedor forneça ao comprador toda a informação relevante acerca do veículo e qualquer outro dado relacionado à função social e econômica, a aquisição de controle de uma determinada sociedade, por outro lado, envolve normalmente uma avaliação dos riscos e passivos da sociedade (due diligence) pela própria empresa adquirente, o que, se não isenta o alienante do seu dever de informação, reduz evidentemente sua intensidade”[footnoteRef:24]. [24: TEPEDINO, Gustavo; SCHEIBER, Anderson. A boa fé objetiva no Código de Defesa do Consumidor e no novo Código Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 43.] 
Ou seja, é esperado que o empresário seja o homem probo e leal na qual se pede o principio da boa-fé, mas que também seja capaz de avaliar as oportunidades para seu negocio, além de assumir os riscos típicos de sua atividade empresarial. Por isso, não se é possível que o mesmo alegue desconhecimento de tal fato para desfazer um negocio jurídico que não lhe é tão favorável quanto previa ou por arrependimento, não sendo possível assim, se utilizar de forma errônea da boa-fé.
5. A BOA-FÉ E CONTRATOS CORPORATIVOS
Desde o mundo romano existe as negociações mercantis, e desde ai, já se era possível visualizar a boa-fé como fator importante para as relações comerciais. A boa-fé era utilizada de forma em que ela agregava aos contratos o seu conteúdo econômico. Na Idade Média, a boa-fé foi um pouco subjetivada.
Apesar disso, a boa-fé permaneceu no âmbito jurídico alemão, através do direito comercial, e assim, também ocorreu no direito brasileiro, que ingressou a boa-fé através do Código Comercial de 1850, apesar de o dispositivo que a aplicava não teve nenhuma eficácia social[footnoteRef:25]. [25: A primeira referencia legislativa à boa-fé objetiva constava do Código Comercial de 1850, que assim era redigido: “Art. 131 – Sendo necessário intermpretar as clausulas do contrato, a interpretação, alem das regras sobreditas, será regulada sobre as seguintes bases: 1 – a inteligência simples e adequada, que for mais conforme à boa-fé, ao verdadeiro espírito e natureza do contato, deverá sempre prevalecer à rigorosa e restrita significação das palavras”. O preceiro, que trazia a boa-fé de forma muito mais restrita do que é empregada hoje, teve aplicação insignificante pelos tribunais como assinalam: TEPEDINO, Gustavo; SCHIREIBER, Anderson. “A boa-fé objetiva”..., p. 29-30. ] 
Apesar desse fator histórico, a boa-fé não é vista em grande quantidade no direito comercial. Ela é encontrada de forma mais clara e os estudos mais aprofundados sobre o tema se da através das relações empresariais. Não sendo aceito que a boa-fé seja aplicada igualmente as relações comerciais e empresariais.
O principio da boa-fé (como já dito anteriormente) tem como objetivo principal que as relações contratuais sejam feitas da forma considerada honesta pela sociedade, e que esses atos sejam reconhecidos socialmente, trazendo consigo a ideia de lealdade.
E a Constituição Federal de 1988 com p intuito de proteger os valores sociais[footnoteRef:26], não abandona a livre iniciativa como principio da ordem econômica nacional. Ou seja, o estado decidiu que a produção será feita pela iniciativa privada, deixando expressamente dito em quais casos o Estado atua na atividade econômica de forma direta (art. 173 da CF 1988). [26: A Constituição Federal de 1988, traz expressamente no seu art. 1º, nos incisos III e IV, os fundamentos de: “III- a dignidade da pessoa humana. IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.”, demonstrando o interesse e a necessidade de proteger os valores sociais no Estado Democrático de Direto.] 
José Afonso da Silva diz:
Em primeiro lugar quer dizer precisamente que a Constituição consagra uma economia de mercado, de natureza capitalista, pois a iniciativa privada é um princípio básico da ordem capitalista. Em segundo lugar significa que, embora capitalista, a ordem econômica dá prioridade aos valores do trabalho humano sobre todos os demais valores da economia de mercado[footnoteRef:27]. [27: SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 24 ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p.
788.] 
	Ou seja, para promover o crescimento da nação, o Estado decidiu que a atividade privada seria a principal nos meios de produção, trazendo assim a possibilidade de que todos os cidadãos possam ter um salário digno através de seu trabalho, obtendo assim, de forma digna o seu sustento educacional e seu crescimento social.
	Dessa forma, o ordenamento jurídico optou pelo “modelo econômico de bem estar”[footnoteRef:28], tirando de vista uma posição liberal, pois, quando o Estado coloca o cidadão como o próprio desenvolvedor do seu sucesso através de seu trabalho, o mesmo assume a posição de regulador do mercado. [28: GRAU. Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição Federal de 1988. 3 ed. São Paulo:
Malheiros, 2000, p. 37.] 
	Assim, a Constituição traz a livre iniciativa, ou seja, em que o próprio cidadão tem a autonomia para escolher a forma de desenvolver suas atividades na produção, circulação e distribuição de suas riquezas, mas, cabe a ela a corrigir os desvios e condutas que fogem do seu objetivo.
	Acontece que, as interferências do estado de bem-estar social, podem extinguir justamente os princípios que justificam a atividade empresarial, pois, a função primordial de uma empresa vai muito além de realizar os objetivos inscritos na lei constitucional e contribuir para obom funcionamento estatal.
6. AS FUNÇÕES DA BOA-FÉ NAS RELAÇÕES CORPORATIVAS
Não é possível contestar a função e a necessidade do principio da boa-fé nos contratos empresariais. O Código Civil de 2002 trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro a unificação do direito obrigacional, o que fez com que as relações civis e comerciais passassem a ser submissas deste principio.
Desta forma, as relações empresariais também devem ser cumpridas conforme a boa-fé, seguindo um modelo de conduta leal e honesta. Nas relações interpresariais
“agir de acordo com a boa-fé significa adotar o comportamento jurídico e normalmente esperado dos ‘comerciantes cordatos’, dos agentes econômicos ativos e probos em determinado mercado (ou ‘em certo ambiente institucional’), sempre de acordo com o direito”[footnoteRef:29]. [29: FORGIONI, Paula A. Teoria Geral dos Contratos Empresariais, 2. Ed.. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 120.] 
	Ou seja, devido ao fato de os padrões de conhecimento dos contratantes serem mais altos nesse tipo de contrato, faz com que eles tenham de agir conforme as especificidades dos contratos empresariais.
	Para esclarecer melhor de forma integrativa sobre o uso da boa-fé, no art. 113 do Código Civil,liga a boa-fé ao uso do lugar da celebração do contrato. Pode-se entender então que o artigo faz remissão a boa pratica dos negócios.
	Algumas ações surgem de forma espontânea desses contratos empresariais, e acabam que se destacar por sua capacidade para resolver problemas advindos da tradição mercantil, se tornando ações renovadas e utilizadas pelos comerciantes e firmadas pela jurisprudência.
	E a partir daí, essas novas ações passam a ser de conhecimento dos empresários e acabam que por ter como base as suas condutas a partir delas, esperando que as demais partes também se comportem de tal forma, ampliando assim a segurança nas transações.
	Conforme dito anteriormente, o direito empresarial se baseia na liberdade dos agentes, que trazem a seu meio, algumas condutas que em outras áreas seriam inadmissíveis. Por isso, não é muito comum que uma conduta seja considerada abusiva nas relações empresariais, que faz com que a liberdade de contrato seja comum nesse ponto do direito. 
	Atualmente, o abuso do direito é visto como a “desconformidade do exercício de posicoes jurídicas em relação aos seus fundamentos teológicos e axiológicos”[footnoteRef:30], baseados nos valores constituídos através da Constituição Federal. A autonomia privada passou a ser limitada modificando assim os seus valores existenciais. [30: Capena, Heloísa. “O abuso do Direito no Código de 2002: relarivização de direitos na ótica civil-constitucional.” In: TEPEDINO, Gustavo(coord.). O Códifo Civil na Perspectiva Civil-Constitucional: PARTE GERAL. Rio de Janeiro: Renovar, 2013, P. 425-426.] 
	Acontece que nas relações interempresariais, que tem o objetivo de lucro, são regidas pela ótica patrimonial. Dessa forma, quando os operadores dessas relações recorrem a lei para que sejam definidos os limites axiológicos ao exercício do direito, percebem-se que as regras e valores ligados a pessoa humana, não estão presentes nesse tipo de relação.
	Ou seja, já que não existe a necessidade de respeito aos valores da pessoa humana, já que os valores são meramente patrimoniais, é possível que se conceda a maior liberdade para a atuação dos empresários, onde os parâmetros usados para aferir o abuso de suas condutas são menos rígidos. Essa liberdade mais ampla dirigida ao campo empresarial, não significa que os mesmos podem deixar o principio da boa-fé de lado, restando ainda a necessidade da utilização do mesmo no campo comercial. 
	Alem dos deveres dos empresários para com o momento do contrato, também há a necessidade de falar dos deveres impostos aos administradores da sociedades empresariais, mais especificamente, o dever de diligencia, trazidos no art. 1011 do Código Civil. Ou seja, cabe ao empresário, o dever da boa-fé de cuidado e proteção com a outra parte do contrato e também o dever do mesmo de agir de maneira reta e cuidadosa devido ao poder de diligência.
	Existem normas que o ordenamento jurídico reconhece como sendo alheia a vontade das partes, e essas, são impostas no negocio no momento de sua celebração. É bom que as partes estejam cientes de que o principio da boa-fé irá trabalhar em Cida do controle de conduta deles próprios, de forma em que, se houver algum erro, cabe ao agente que errou assumir e arcar com a consequência deste erro, e não a outra parte ter algum tipo de prejuízo por causa disso. Por isso, é tão importante que no direito empresarial, a boa-fé não seja usada de forma a permitir atitudes diferentes das permitidas pelo próprio mercado.
7. CONCLUSÃO
Como vimos ao longo do trabalho, apesar do principio da boa-fé só ter sido fixado no ordenamento jurídico brasileiro a pouco tempo, através do código civil, essa pratica é comum a muitas décadas. Por ser uma clausula geral, o principio pode ser tratado de diversas formas, porém, depende de um caso concreto para ser aplicado com perfeição.
É necessário que se tenha uma ampla interpretação sobre essa principio pelos agentes, como fazem os próprios magistrados estão aplicando-o de forma ampla em suas decisões, nos mais diversos ambitos do direito. 
Devido ao fato do empresário estar visando os lucros, e com isso, nos contratos feitos por ele englobar os interesses econômicos, a lógica de mercado e outros fatores influenciáveis, se faz necessário que na esfera empresarial, o agente haja com uma conduta perfeita, além de não poder julgar desconhecimento do principio da boa-fé.
Porém, apesar disso, é necessário que seja observado também ao ser utilizado este princípio como aponta a doutrina, por exemplo, a fase em que a relação obrigacional se encontra, também a duração do vinculo e o objeto do contrato.
Dessa forma, cabe ao interprete garantir que esses elementos sejam observados no momento de visualizar em um caso concreto a operatividade do principio da boa-fé. 
Dessa forma, pode-se concluir que o papel principal exercido pelo principio da boa-fé no direito privado se dá na construção de um negócio baseado na ética e na solidariedade entre as partes.
Ocorre que, o princípio da boa-fé, ao longo dos anos, está aumentando em números de casos aplicados, podendo assim, ver que o mesmo está sendo utilizado de forma indiscriminada pelos agentes e também pelos empresários, que faz com que os magistrados estão sendo influenciados na elaboração das decisões e teorias decorrentes da boa-fé.
Então, podemos concluir que esse princípio, quando aplicado de forma correta, traz segurança para os negócios jurídicos e também para o ordenamento jurídico, pois compõe as normas legitimas de interpretação da lei e também a aplicação das clausulas contratuais.
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