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INTRODUÇÃO 
O ambiente de negócios é constantemente impactado pelo Direito, 
por vezes pela geração de barreiras para que determinados acordos sejam 
celebrados ou pela criação de liability ao business em decorrência de ações 
tomadas. Em outras ocasiões, contudo, o Direito oferecerá proteção aos 
agentes econômicos e até reduzirá os custos de transação. 
É fato, portanto, que o desenvolvimento e a condução de um 
negócio, em qualquer lugar do mundo – não sendo diferente no 
Brasil –, estarão sempre sob as influências, ora positivas ora negativas, 
do Direito. Daí a importância de se compreender, em linhas gerais, 
como isso acontece, quais os principais pontos de contato entre esses 
dois campos e como, na qualidade de gestor, prevenir e mesmo se 
aproveitar das “regras do jogo” impostas pela lei, pelos juízes e pelos 
demais agentes do poder público. 
Após esse breve olhar para o Direito, em uma visão voltada para o 
negócio, o aluno desenvolverá uma consciência crítica básica e holística 
de temas de grande relevância para a sua atuação no mercado, sendo, com 
isso, capaz de realizar tomadas de decisão mais orientadas, atentando para 
as repercussões no mundo jurídico. 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO DIREITO EMPRESARIAL: OS IMPACTOS DO DIREITO NO SETOR 
ECONÔMICO ........................................................................................................................................................ 7 
OS IMPACTOS DO DIREITO NO SETOR ECONÔMICO ..............................................................................7 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA .............................................8 
LIMITES DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA ...................................................................... 13 
TIPOS DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA ......................................................................... 16 
A DICOTOMIA ENTRE DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO ............................................................ 17 
MÓDULO II – OS CONTRATOS E O DIREITO DO CONSUMIDOR ................................................................ 21 
CONCEITO ....................................................................................................................................................... 21 
Princípios gerais do Direito dos contratos .................................................................................. 24 
Elementos para a formação dos contratos ................................................................................. 32 
Extinção dos contratos ................................................................................................................... 35 
DIREITO DO CONSUMIDOR ......................................................................................................................... 37 
Direitos básicos do consumidor ................................................................................................... 38 
Responsabilidade civil do fornecedor de produtos ou serviços ............................................. 44 
MÓDULO III – SOCIEDADES EMPRESÁRIAS E PROPRIEDADE INTELECTUAL ........................................... 47 
TIPOS SOCIETÁRIOS ...................................................................................................................................... 48 
Sociedade Limitada – Ltda. ............................................................................................................ 48 
Sociedades Anônimas – S.A. .......................................................................................................... 50 
DEVERES E RESPONSABILIDADES DOS ADMINISTRADORES ............................................................... 51 
PROPRIEDADE INDUSTRIAL ........................................................................................................................ 55 
Noções gerais ................................................................................................................................... 55 
Marcas .................................................................................................................................................. 56 
Patentes ............................................................................................................................................... 62 
Concorrência desleal ........................................................................................................................ 64 
Direito autoral .................................................................................................................................... 68 
MÓDULO IV – REGULAÇÃO DOS MERCADOS ............................................................................................... 73 
REGULAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA ............................................................................................... 73 
Agências reguladoras ..................................................................................................................... 75 
DEFESA DA CONCORRÊNCIA ...................................................................................................................... 79 
Sistema nacional de defesa da concorrência ............................................................................. 79 
Cade ................................................................................................................................................... 81 
Atos de concentração econômica ................................................................................................ 82 
Práticas restritivas verticais ........................................................................................................... 83 
Cartel ................................................................................................................................................. 84 
 
 
MÓDULO V – DIREITO TRIBUTÁRIO E DIREITO DO TRABALHO ............................................................... 87 
CONCEITO DE TRIBUTO E SUAS ESPÉCIES ............................................................................................... 87 
Finalidade dos tributos ................................................................................................................... 88 
Limites ao poder do Estado de tributar ...................................................................................... 89 
Limites constitucionais ao poder de tributação ......................................................................... 89 
Obrigações tributárias .................................................................................................................... 91 
Sujeitos da relação tributária ........................................................................................................ 92 
Crédito tributário ............................................................................................................................. 93 
DIREITO DO TRABALHO ............................................................................................................................... 95 
Princípios fundamentais ................................................................................................................ 95 
Direitos básicos ............................................................................................................................. 100 
Requisitos do contrato de trabalho ........................................................................................... 101 
Tipos de contratos ........................................................................................................................ 103 
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 105 
PROFESSOR-AUTOR ...........................................................................................................................109 
 
 
 
Neste módulo, veremos que a interferência do Estado na economia varia de acordo com o 
modelo adotado naquele momento histórico, podendo ser mais ou menos interventivo. De todo 
modo, é fundamental perceber que o Direito está sempre presente, qualquer que seja a ordenação das 
forças econômicas. [...] há, pois, entre Economia e Direito uma interação constante1, como diz o 
professor Miguel Reale. 
Dessa forma, cabe-nos identificar as regras legais que incidem sobre os negócios, tirando 
proveito dos efeitos positivos – por exemplo, a segurança conferida pelas leis em relação aos 
contratos, fruto do Direito Civil, ou as restrições relativas ao excesso de poder econômico, oriundas 
do Direito Concorrencial – e evitando prejuízos ao business a partir da compreensão dos limites 
impostos pelo Direito. 
Os impactos do Direito no setor econômico 
A intervenção do Estado na vida dos agentes econômicos tem como intuito colocar freios aos 
excessos do poder de liberdade dos indivíduos. Em outras palavras, sob o ponto de vista econômico, 
a intervenção busca corrigir falhas de mercado (monopólio, assimetria de informação, etc.), uma vez 
que a ideia de autorregulamentação, de Adam Smith, não funcionou. A intervenção do Estado no 
âmbito da liberdade de iniciativa dos agentes privados poderá acontecer em diversos campos. Por 
exemplo, pode-se dar por meio de medidas de cunho fiscal, regulatório ou trabalhista. 
Desse modo, a interferência estatal – que ocorre via legisladores (legislativo), agentes 
administrativos (executivo) e juízes (judiciário) – incide no campo privado, com vistas a proteger e 
 
1 Reale, Miguel. Lições preliminares de Direito. p. 19-20. 
MÓDULO I – INTRODUÇÃO AO DIREITO 
EMPRESARIAL: OS IMPACTOS DO DIREITO NO 
SETOR ECONÔMICO 
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corrigir as desigualdades econômicas resultantes de alguns negócios entre agentes econômicos, bem 
como orientar o desenvolvimento econômico no sentido de aumentar o bem-estar coletivo. 
Nessa perspectiva, a vontade dos agentes econômicos – antes vista como elemento exclusivo 
de configuração de negócios entre particulares, blindados em relação às interferências externas – 
é entendida como suporte fático em conjunto e nos contornos permitidos pelo ordenamento 
jurídico (conjunto de leis, princípios e normas em geral). A vontade deixa de ser fonte exclusiva 
dos negócios, passando a concorrer com fontes diversas: as leis, o juiz e a autoridade 
administrativa2. 
Tudo isso, com efeito, gera um grande impacto no setor econômico, que se vê obrigado a 
atuar com uma liberdade limitada, dentro de um quadrante de regras do Direito. 
A seguir, veremos como as mudanças no modelo de Estado interferiram no Direito e como 
este, por sua vez, aumentou e diminuiu o espaço de liberdade dos agentes econômicos. 
 
Evolução histórica da intervenção do Estado na economia 
Na época em que os Estados adotavam um modelo político, econômico e jurídico do tipo 
liberal, as regras dos negócios se limitavam, basicamente, àquelas definidas pelos próprios agentes 
econômicos. Desse modo, havia uma máxima liberdade na sua estipulação, além de pouca 
interferência do Estado na economia. 
A vontade humana, autônoma, era o centro gravitacional da sociedade liberal, de forma que 
competia ao Estado apenas assegurar que ela fosse respeitada: pela autonomia da vontade, o sujeito 
de direito contrata se quiser, com quem quiser e na forma que quiser.3 Nesse sentido, a lei servia de 
garantia contra o arbítrio da atividade estatal. Desse modo, a autoridade do Estado, que na época 
feudal era tida como fonte de opressão aos direitos e às garantias individuais, estava limitada, de 
forma a conferir liberdade e autonomia aos indivíduos. Cada sujeito podia perseguir o seu interesse 
individual em relações econômicas de livre escolha com outros sujeitos privados. 
 
 
2 Cfr. Enzo Roppo (Roppo, Enzo. O Contrato, p. 140): Normas legais, decisões jurisdicionais e procedimentos das autoridades 
administrativas são, portanto, os agentes típicos das limitações impostas à liberdade contratual dos particulares. Conjuntamente 
com a vontade das partes, que exprime o respectivo de autonomia, eles constituem as fontes do regulamento contratual. [...] 
Registre-se, assim, em sede de determinação do conteúdo do contrato, uma dialéctica entre fontes de tipo diverso, que pode, por 
comodidade, simplificar-se, em uma contraposição entre a fonte ‘voluntária’ (que exprime e realiza a liberdade contratual – e 
económica – dos particulares) e as outras fontes, diversas da vontade das partes. 
3 Coelho, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 3, p. 8. 
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É nesse contexto que surgem as teorias econômicas – laissez-faire e invisible hand são 
certamente as mais importantes –, que pregavam a ideia de que o mercado e as leis que dele 
naturalmente – leis econômicas, de oferta e demanda, especialmente – seriam suficientes para 
regular todas as situações, sem a necessidade da intervenção estatal.4 
Acontece que, ao longo de sua história, a sociedade liberal foi sofrendo transformações 
estruturais, especialmente no modo com o qual os agentes privados operavam no livre mercado. 
Em seus primórdios, se os negócios jurídicos eram celebrados por pessoas humanas, com a evolução 
dos tempos, esse modelo acabou sendo superado por uma nova realidade, fruto da constituição de 
sociedades. Essa concentração alterou os mecanismos decisórios do mercado, até então, 
marcadamente dominados pela vontade livre dos indivíduos, e gerou uma situação de distorções 
entre os particulares. 
Nessa esteira, o desequilíbrio socioeconômico entre os contraentes fez acentuar uma realidade 
não pensada ou dissimulada à época da Revolução Burguesa: a de que a igualdade meramente 
formal permite a celebração de contratos substancialmente injustos5. 
De acordo com o professor Menezes Leitão, o liberalismo económico exigia um forte 
abstencionismo do Estado, que se deveria limitar a assegurar as liberdades de comércio e de indústria, 
não podendo assim impor restrições baseadas nos direitos do contraente débil (‘laissez faire’, ‘laissez passer’, 
‘laissez contracter’). 
Na sequência dos acontecimentos, em particular a partir da Revolução Industrial, o que 
se viu foi a ampliação das desigualdades de forças entre os agentes econômicos. Acompanhado 
da forçosa abstenção do Estado em relação à esfera do domínio privado, tal desigualdade se 
tornou campo fértil para a subversão das ideologias emanadas da autonomia privada e da 
liberdade contratual. 
 
4 Roppo (Roppo, Enzo. Op. cit., p. 37) faz apontamentos nessa direção: as teorias económicas então prevalentes – traduzidas 
no plano prático na directiva do laissez-faire, laissez-passer – pretendiam, de facto, que o bem estar colectivo podia conseguir-
se da melhor forma, não já com intervenções autoritárias do poder público, mas só deixando livre curso às iniciativas, aos 
interesses, aos egoísmos individuais dos particulares, que o mecanismo do mercado e da concorrência – a ‘mão invisível’ de 
Adam Smith – teria automaticamente coordenado e orientado para a utilização óptima dos recursos, para o máximo 
incremento da ‘riqueza da Nação’. E. Gounot (apud Prata, Ana, A tutela constitucional da autonomia da vontade, p. 12, nota 
8) dá o tom dos anseios e da compreensão de liberdade e economia daquele tempo: indivíduos livres e independentes, 
senhores absolutos da sua atividade e dos seus bens, unidos entre si apenas por relações contratuais de trocas, eis o que é 
para os economistas a sociedade. E, segundo eles, do conjunto destas livres convenções, em que cada um não prossegue senão 
o seu interessepróprio, deste choque dos egoísmos individuais devem surgir infalivelmente, em virtude das leis naturais, não 
apenas o máximo de riquezas, mas a ordem, a felicidade e a harmonia social. 
5 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito das obrigações, p. 24). Também anota Roppo (ROPPO, Enzo. Op. cit., p. 38) 
que a disparidade de condições económico-sociais existente, para além do esquema formal da igualdade jurídica abstracta dos 
contraentes, determina, por outras palavras, disparidade de ‘poder contratual’ entre partes fortes e partes débeis, as primeiras 
em condições de conformar o contrato segundo os seus interesses, as segundas constrangidas a suportar a sua vontade, em 
termos de dar vida a ‘contratos substancialmente injustos’. Igualmente, Thiago Luís Santos Sombra (A eficácia dos direitos 
fundamentais nas relações jurídico-privadas, p. 51) destaca que ao Estado Liberal competia tão-somente assegurar a proteção 
da vontade criadora das partes, bem como conferir guarida aos efeitos jurídicos por elas desejados, sem a intenção de 
investigação da real situação econômica e social de cada contratante. 
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A constatação de que as premissas que alicerçavam o liberalismo estavam equivocadas é 
apresentada por Keynes, no texto the end of laissez-Faire6 da seguinte forma: de modo algum, é 
verdade que os indivíduos possuam, a título necessário, uma ‘liberdade natural’ no exercício das suas 
atividades económicas. [...] O mundo ‘não’ é de modo algum governado pela Providência de maneira a 
fazer sempre coincidir o interesse particular com o interesse geral. E ele também não está organizado cá 
em baixo de maneira tal que os dois acabem por coincidir na prática. Não é de todo correcto deduzir dos 
princípios da economia política que o interesse pessoal devidamente esclarecido opere sempre em favor do 
interesse geral. 
Diante dessa situação, o Estado do tipo liberal encontrou sua crise na constatação de abuso 
de uma parte sobre a outra. É, especialmente, face a um cenário de extrema exploração do operário 
nas relações privadas que o modelo se esgota, haja vista a necessidade de intervenção do Estado 
nessas relações, impedindo os abusos contidos nas pretensamente livres estipulações de vontade7. 
Com isso, passa-se a um novo modelo político-econômico, conhecido como Estado Social. Ele 
surge como resposta do capitalismo aos ensaios revolucionários do socialismo, em franca expansão 
nos países continentais, como Alemanha e Itália, diante dos excessos impostos pelo liberalismo. 
Nesse novo modelo, o poder público assume novas funções, passando a intervir no domínio 
econômico e social8, a fim de oferecer condições de vida dignas à classe dominada. 
 
 
6 KEYNES, John Maynard. Apud PRATA, Ana. Op. cit., p. 35, nota 46. A doutrina de Keyne (keynesianismo) surgiu como 
salvadora, impactando o mundo ocidental entre 1950 e 1970. 
7 Ivan Simões Garcia (GARCIA, Ivan Simões. Liberdade e trabalho: aporte crítico para a teoria contratual do direito do 
trabalho, p. 411) faz a seguinte e pertinente observação: A abstrata categoria da liberdade de contratar, no entanto, sucumbe 
à necessidade de se travestir a desigualdade material de igualdade jurídico-contratual gerada pela proteção conferida pelas regras 
do Estado ao trabalhador. A lei que ‘protege’ é a mesma que cristaliza a desigualdade na subordinação. Com efeito, o empregado 
é absolutamente livre para ceder ao seu empregador o direito de mandar no seu trabalho assim como é livre para deixar o seu 
empregador estabelecer unilateralmente o preço de sua força de trabalho. 
8 BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social, p. 208. Já André de Laubadère (LAUBADÈRE, André de. Apud Ana Prata, 
p. 46, nota 60), explicando o sentido da palavra intervenção, acaba por nos orientar no tocante aos novos desígnios da atuação 
estatal: designa simultaneamente as medidas tomadas pelas pessoas públicas relativamente aos agentes económicos privados, às 
empresas privadas [...] e, por outro lado, esta forma de intervenção que é o assumir das atividades económicas pelas próprias pessoas 
públicas, ou, dito de outra maneira, a gestão daquilo que correntemente se chama de sector público, industrial e comercial (empresas 
públicas). Maria João Estorninho (ESTORNINHO, Maria João. A fuga para o direito privado: contributo para o estudo da actividade 
de direito privado da administração pública, p. 37) em relação a esse alargamento do espectro de atuação estatual, destaca 
que a questão de saber quais são exactamente as funções da Administração torna-se agora especialmente complexa, porque em 
bom rigor a Administração Pública tende a ocupar-se praticamente de tudo, desenvolvendo a sua actividade em todos os sectores da 
vida económica e social. 
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A professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro9 explica essa alternância de modelo da 
seguinte forma: 
 
No período do Estado Liberal, o interesse a ser protegido era aquele de feição 
utilitarista, inspirado nas doutrinas contratualistas liberais do século XVIII e 
reforçadas pelas doutrinas de economistas como Adam Smith e Stuart Mill. O 
Direito tinha que servir à finalidade de proteger as liberdades individuais 
como instrumento de tutela do bem-estar geral, em sentido puramente 
material. Com a nova concepção do Estado de Direito, o interesse público 
humaniza-se, à medida que passa a preocupar-se não só com os bens materiais 
que a liberdade de iniciativa almeja, mas também com valores considerados 
essenciais à existência digna; quer-se liberdade com dignidade, o que exige 
atuação do Estado para diminuir as desigualdades sociais e levar a toda a 
coletividade o bem-estar social. 
 
Sendo assim, o Estado, que era necessariamente absenteísta, relativamente ao setor 
econômico e às relações privadas, passou a atuar de modo a garantir o bem-estar dos cidadãos, 
seja intervindo em setores da economia, seja corrigindo desequilíbrios oriundos dos negócios 
entre agentes econômicos. 
Conforme explica o professor Paulo Bonavides10, em sua nova formatação, o Estado intervém 
na economia como distribuidor, dita o salário, manipula a moeda, regula os preços, combate o 
desemprego, protege os enfermos, dá ao trabalhador e ao burocrata casa própria, controla as profissões, 
compra a produção, financia as exportações, concede o crédito, institui comissões de abastecimento, provê 
necessidades individuais, enfrenta crises econômicas, coloca na sociedade todas as classes na mais estreita 
dependência de seu poderio econômico, político e social, em suma, estende sua influência a quase todos os 
domínios que dantes pertenciam, em grande parte, à área da iniciativa privada. 
Ocorre que a sobrecarga de funções admitidas pelo Estado trouxe consequências indesejáveis 
ao modelo, como o inchaço da máquina administrativa, o crescimento das despesas públicas a um 
nível incompatível com a arrecadação, a elevação da inflação, o aumento da corrupção estatal, etc., 
que culminaram com o desemprego generalizado e o não cumprimento das prestações 
assistencialistas programadas, de certo modo, prometidas à população pelo Estado. 
Consequentemente, a legitimidade do Poder Público para executar todas as tarefas a que se propôs 
passou a ser questionada pela população, em verdadeira crise do sistema. 
 
 
9 Parcerias na administração pública: concessão, permissão, franquia, terceirização e outras formas, p. 25-26. 
10 BONAVIDES, Paulo. Do Estado liberal ao Estado social, p. 208. 
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Desse modo, o modelo de Estado interventor e provedor encontrou seu fim na verificação de 
que o excessivo intervencionismo estatal era igualmente prejudicial, seja por não ser capaz de 
conceder às classes dominadas os serviços assistenciaisprogramados nas Constituições, seja por não 
conseguir desempenhar, a contento, os serviços retirados da iniciativa privada. O Estado se tornou 
ineficiente, sobretudo, face a um novo quadro econômico mundial imposto pela globalização. Além 
disso, com a derrocada da ideologia socialista, superada pelo modelo capitalista, a manutenção do 
welfare state deixou de ser uma necessidade, como resposta de contenção aos movimentos 
revolucionários. Com isso, o tamanho do Estado precisou ser redimensionado, devolvendo à 
iniciativa privada atividades antes realizadas por ela e, por conseguinte, algum espaço, se bem que 
ponderado, de liberdade para tanto. 
O novo modelo de Estado pós-Guerra Fria, chamado reliberalizante11, passou a prescrever 
não um exato retorno ao Estado Liberal, mas um restabelecimento do prestígio ao voluntarismo 
dos agentes econômicos de modo controlado, respeitando-se os direitos e garantias individuais. Esse 
seria o modelo adotado a partir do final do século XX, com a confirmação da hegemonia da 
ideologia capitalista de valorização do lucro e, desse modo, com o intuito de se retornar às feições 
liberalistas tanto quanto possível, tendo em conta não apenas que o excesso de intervenção estatal 
na ordem econômica – e mesmo diretamente nas relações entre particulares se mostrou ineficaz, 
gerando arrefecimento do setor econômico e forte restrição às liberdades dos particulares – mas 
também que o tráfico comercial na sociedade contemporânea deixou de ser tal como era antes. 
De todo modo, é importante perceber que, a despeito da premente necessidade de ampliação 
da liberdade de iniciativa, cabe ao Estado se manter fortemente atuante, seja para defender bens 
comuns, como o meio ambiente, seja para evitar abusos às classes economicamente mais fracas, seja, 
ainda, para garantir a continuidade do sistema, freando operações que possam prejudicar a livre 
concorrência. Dessa forma, continuam radiando direitos de proteção com bastante intensidade 
sobre a liberdade negocial, resultando em uma compressão ainda considerável da moldura 
voluntarista dos operadores econômicos. 
Na sequência, vejamos os limites dessa intervenção de forma resumida. 
 
 
 
11 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit., vol. 3, p. 17. 
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Limites da intervenção do Estado na Economia 
Em princípio, é importante que se tenha em mente que a atual Constituição Federal 
brasileira, editada em 1988, estabeleceu a livre iniciativa como norte de organização da economia. 
Como explica o professor Tercio Sampaio12, isso significa que: 
 
já no preâmbulo da Constituição de 1988, o constituinte fez inserir a 
‘liberdade como um dos valores supremos do Estado Democrático de Direito’. 
Ao instituí-lo, ela é afirmada como um dos pilares de uma sociedade fraterna. 
Os mais autorizados intérpretes da Constituição de 1988 têm chamado a 
atenção para a importância da inserção no ordenamento constitucional 
brasileiro, pela primeira vez, do conceito de livre iniciativa como ‘fundamento’ 
da ordem econômica (art. 170) e não como um princípio, que estaria no 
mesmo patamar daqueles princípios previstos nos incs. I a IX do art. 170 
(função social da propriedade, soberania nacional, defesa do consumidor, pleno 
emprego, defesa da concorrência etc.). Mais do que isso, a Constituição coloca 
a livre iniciativa como um fundamento da própria República (art. 3o) (Reale, 
1990, p. 19). Ao fazê-lo, a Constituição consagrou o mercado e a dinâmica 
dos agentes privados como a força motriz por excelência da economia, na crença 
consistente de que as soluções geradas pelos agentes privados sobre o quê, como 
e quanto produzir são as mais aptas à produção de bem-estar (Nusdeo, 2001, 
p. 113-121). Note-se que a atuação do Estado passa a ter um caráter negativo, 
isto é, de identificação e colocação dos limites aos agentes privados. Sendo assim, 
não exerce orientações positivas sobre os negócios, o que somente poderia ser 
indicativo, mas jamais determinante para as empresas (art. 174, ‘caput’), 
restringindo-se a apontar quais ações ou operações privadas não serão aceitas 
quando essas ofenderem ou ameaçarem interesses públicos relevantes como a 
saúde, a livre competição, a segurança, o meio ambiente, o pleno emprego etc. 
As orientações positivas sobre a organização dos negócios, dentro da lei devem 
partir sempre dos próprios agentes, por força da livre iniciativa que 
fundamenta e informa todo o sistema econômico. 
 
Em outras palavras, são os agentes econômicos os responsáveis, regra geral, por orientarem os 
seus negócios, com base no conceito fundante da organização econômica brasileira da livre 
iniciativa. Diz-se regra geral porque, em determinadas situações, por meio das fontes impositivas 
(lei, autoridade pública e juiz), o Estado determinará o que o particular deve fazer, por exemplo, 
 
12 FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Direito constitucional: liberdade de fumar, privacidade, estado, direitos humanos e outros 
temas. p. 221-222. 
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quando determina que uma empresa precisará vender algumas marcas para uma fusão (aprovação 
com restrições), ou quando determina que uma empresa tenha alguns funcionários portadores de 
deficiência em seus quadros, ou quando determina que a empresa é proibida de fazer distinção entre 
consumidores, obrigando-a a contratar mesmo com quem ela, grosso modo, não tenha interesse. 
De toda forma, no mais das vezes, será o agente econômico que ditará os movimentos do seu 
negócio, apenas cuidando para não ultrapassar as limitações impostas pelo Estado. Uma vez cruzada 
a barreira do que não convém ao particular fazer, caberá ao Estado atuar. 
Diante disso, é importante entender, como disse o professor Tércio, quando o Estado irá 
intervir, restringindo essa liberdade de os particulares desenvolverem os seus negócios. Uma forma de 
compreender isso é buscando responder a seguinte pergunta: qual é o limite da intervenção estatal? 
A resposta é que as medidas interventivas do Estado devem ser proporcionais e razoáveis, 
sendo esses princípios densificados por três parâmetros (ou elementos): a intervenção deve ser 
adequada, necessária e proporcional (em sentido estrito). 
O professor Alexandre Aragão explica essa ideia dizendo que: 
 
(a) a restrição à liberdade do mercado deve ser apropriada à realização 
dos objetivos sociais perquiridos – elemento adequação dos meios aos 
fins. Ex.: o tabelamento interno de preços não é o meio adequado para 
controlar o aumento de preços de produtos encarecidos em razão da alta 
do valor da matéria-prima importada (...). (b) O Estado deve impor a 
menor restrição possível, de forma que, dentre as várias medidas aptas 
a realizar a finalidade pública, opte pela menos restritiva à liberdade 
de mercado – elemento necessidade. Ex.: se o Estado pode assegurar o 
bem-estar da coletividade simplesmente ordenando determinada 
atividade privada, não deve titularizá-la como serviço público, 
excluindo-a do âmbito da iniciativa privada. (c) A restrição imposta ao 
mercado deve ser equilibradamente compatível com o benefício social 
visado, isto é, mesmo que aquela seja o meio menos gravoso, deve, em 
uma relação decreto-legislação racional, tendo em vista a finalidade 
pública almejada, ‘valer a pena’ – proporcionalidade em sentido estrito. 
O Estado não pode, por exemplo, qualificar determinada atividade 
relativamente supérflua como serviço público, mesmo que, suponhamos, 
essa seja a forma menos gravosa para realizar a finalidade pública. Os 
benefícios a serem obtidos ‘não compensariam’ a restrição que a 
qualificação como serviço público imporia aos particulares interessados 
em explorar livremente a atividade.13 
 
13 ARAGÃO, Alexandre Santos de.Agências reguladoras e a evolução do Direito Administrativo Econômico, 3. ed. revista e 
atualizada, Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 132-134. 
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Em outras palavras, a atividade de intervenção na economia promovida pelo Estado 
encontrará seu limite na proporcionalidade e na razoabilidade da medida, não podendo restringir a 
liberdade de um agente econômico se essa não for uma medida que surta efeitos, que, mesmo 
surtindo efeitos, seja a que menos prejudique e, ainda que surta efeitos e seja a menos prejudicial, 
que traga benefícios superiores aos custos impostos à sociedade. 
Como alertam os professores Nelson e Rosa Nery, em obediência ao modelo econômico 
adotado pela Constituição Federal, cabe ao Estado exercer sua política de controle e fiscalização, com 
o limite de intervenção mínima, o que significa tomar medidas razoáveis e proporcionais, sempre no 
sentido de preservar o direito de propriedade, a livre iniciativa e a atividade econômica. Caso haja mais 
de um caminho legítimo para que o Estado possa exercer sua atividade controladora e reguladora, deve 
necessariamente optar pela via menos gravosa para a atividade econômica. Incide, também, nas questões 
relativas à ordem econômica, a máxima da proibição de excesso. 14 
Em uma de suas parcelas, a livre iniciativa é representada pela livre concorrência. Nesse 
sentido, a livre concorrência pode indicar a possibilidade de uma empresa atuar livremente entre os 
diversos concorrentes, optando, discricionariamente, pelas estratégias e pelos preços que empregará, 
tendo em conta o posicionamento dos demais competidores no mercado. Nesse caso, não 
encontrando o Estado motivos razoáveis para intervir, permitirá que um agente atue livremente, 
desempenhando suas atividades econômicas e explorando o mercado livremente, sem intervenção 
injustificada pelo Estado. 
No módulo 4, ao tratar de defesa da concorrência, veremos que a livre concorrência pode ser 
entendida em outro sentido, isto é, pode-se entender livre concorrência não como a liberdade que 
o agente tem de optar pelas estratégias mercadológicas que melhor lhe convier, atuando em 
concorrência com outras empresas, mas como uma garantia oferecida pelo Estado a todos os 
particulares de que a competição existirá. Nesse segundo sentido, a livre concorrência significará a 
preservação da possibilidade de pluralidade de empresas no mercado. 
Aqui, a livre concorrência acaba por ser antagônica à ideia de livre iniciativa, já que o Estado 
poderá intervir e limitar a atuação de determinado particular para assegurar, por exemplo, o ingresso 
de um outro player no mercado. Desse modo, será uma intervenção razoável e proporcional, 
dependendo da situação, na medida em que a concentração de um setor poderá causar prejuízos ao 
mercado e a todos os seus personagens. 
No Brasil, o modelo econômico adotado é o de economia de mercado, já o modelo jurídico 
é o da livre iniciativa. Desse modo, a intervenção do Estado brasileiro na economia se dará em 
termos específicos e restritos, ficando a cargo dos agentes econômicos o papel de protagonista. 
Como define o professor Luís Roberto Barroso,15 o mercado, enquanto mecanismo de coordenação e 
organização dos processos econômicos e que pressupõe o reconhecimento do direito de propriedade dos bens 
de produção e a liberdade de iniciativa, é mantido no intervencionismo como o princípio regulador da 
 
14 JUNIOR, Nelson Nery e NERY, Rosa Maria de Andrade. Constituição Federal comentada e legislação constitucional, p. 640. 
15 FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Congelamento de preços: tabelamentos oficiais (parecer), p. 76/77. 
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economia. Distinto do intervencionismo é, neste sentido, o dirigismo econômico, próprio das economias 
de planificação compulsória, e que pressupõe a propriedade estatal dos meios de produção, a coletivização 
das culturas agropecuárias e o papel do Estado como agente centralizador das decisões econômicas de 
formação de preços e fixação de objetivos. 
 
Tipos de intervenção do Estado na economia 
Vimos que o modelo de organização da economia ditado pela Constituição Federal permite 
e, mais do que isso, impõe que o Estado intervenha na economia quando necessário. No entanto, 
quais são as formas possíveis dessa interferência estatal? 
Alguns professores dividem em mais ou menos categorias. Segundo o professor Eros Roberto 
Grau16, o Estado poderá autuar sobre a economia: 
� prestando, ele próprio, serviços considerados públicos; 
� por absorção ou participação; 
� por direção e 
� por indução. 
 
Já para o ministro do Supremo Tribunal Federal e professor Luís Roberto Barroso17, são três 
os mecanismos de intervenção estatal no domínio econômico: 
a) a atuação direta, que se subdividiria em intervenção por serviço público e intervenção por 
atividade econômica; 
b) o fomento e 
c) a disciplina. 
 
O professor Celso Antônio Bandeira de Mello18 também divide as modalidades de 
interferência do Estado na ordem econômica em três: 
a) o poder de polícia; 
b) os incentivos e 
c) a atuação empresarial. 
 
Para simplificar, vamos examinar três formas de intervenção do poder público no domínio 
econômico, divididas em atuação por indução, atuação por direção e atuação estatal direta. 
A atuação interventiva do Estado por indução, também conhecida como fomento, não 
determina nenhuma conduta específica ao operador econômico. Trata-se de uma interferência com 
 
16 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988, p. 123/124. 
17 BARROSO, Luís Roberto. A ordem econômica constitucional e os limites à atuação estatal no controle de preços, p. 47-83. 
18 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, p. 641. 
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vistas a oferecer incentivos e estímulos ao particular, buscando a realização e o alcance de interesses 
do próprio Estado. Os exemplos mais comuns são os empréstimos subsidiados, as isenções 
tributárias ou a utilização da extrafiscalidade de alíquotas, visando estimular investimentos em 
determinado setor. 
Por exemplo, pense no período em que o governo federal optou por reduzir a zero a alíquota 
do imposto incidente sobre os produtos da chamada linha branca. Ou quando governos, tentando 
atrair investidores, oferecem condições fiscais mais benéficas para um determinado setor, 
incentivando a instalação de uma planta fabril em seu Estado ou Município (falaremos sobre isso no 
módulo relativo ao Direito Tributário). Essa é a modalidade de intervenção estatal na economia mais 
branda, já que não limita a liberdade do agente econômico, apenas tenta induzi-lo. 
A atuação por direção ou disciplina – prevista no art. 173, § 4o, da CRFB – já passa a ter um 
grau maior de ingerência na vida das empresas, já que o poder público obriga os particulares a agir de 
modo determinado, criando normas de conduta para desempenho da atividade econômica, 
fiscalizando a conformidade com essas normas e, no caso de descumprimento, punindo o agente 
econômico. Falaremos bastante sobre essa segunda forma de intervenção estatal no módulo 4, quando 
formos analisar a regulação dos mercados, especialmente quando estudarmos as agências reguladoras. 
A terceira modalidade de atuação – prevista no art. 173, caput da Constituição Federal – é a 
de que o Estado atua de forma direta na economia, prestando a atividade, seja ela considerada um 
serviço público, cujo titular é mesmo o poder público, seja ela considerada uma atividade 
econômica, também desempenhada pelos particulares, na qual a participação do Estado será em 
modelo de competição com os agentes privados. Somente poderá ocorrer quando presenteimperativo de segurança nacional ou relevante interesse coletivo, haja vista que essa é a forma de 
intervenção do poder público sobre a ordem econômica mais intensa. 
 
A dicotomia entre Direito Público e Direito Privado 
Considerando que já estudamos que o Estado irá interferir na atividade econômica, é 
importante aprender por quais meios isso será feito. Nisso está a importância de compreender que 
o Direito se divide, inicialmente, em dois ramos: Direito Público e Direito Privado. Tal divisão é 
feita desde os romanos, que utilizavam a utilidade pública ou particular da relação como critério. 
Nesse sentido, o Direito Público era aquele a respeito das coisas do Estado, e o Direito Privado era 
referente ao interesse individual. 
 
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O professor Gustavo Tepedino19 explica, já em uma perspectiva moderna, que é por meio da 
dicotomia entre direito público e direito privado [que] mantém-se, de um lado, o direito público e as 
razões de Estado que o motivam; e, de outro, o direito privado, terreno fértil para o desenvolvimento da 
vontade individual, sem grandes ingerências – a não ser as imprescindíveis – por parte do Estado. 
Nesse sentido, veja que a sociedade se divide em Estado – titular e executante do interesse 
público –, e sociedade civil, compreendida pelo conjunto dos sujeitos privados. Conforme Francesco 
Galgano20, essas são as premissas para uma correspondente decomposição do direito, à qual se prestavam 
os conceitos romanistas de ‘ius provatum’ e de ‘ius publicum’: o direito privado podia ser olhado como sendo 
o direito regulador da sociedade civil, o direito público como o direito regulador do Estado. 
Como vimos acima, o problema é que a concepção de interesse público foi bastante 
expandida21, de maneira que passou a ser complicado fazer a divisão entre Direito Público e Direito 
Privado. Como adverte o professor Miguel Reale, o Estado cobre, atualmente, a sociedade inteira, 
visando a proteger a universalidade dos indivíduos, crescendo, dia a dia, a interferência dos poderes 
públicos, mesmo fora da órbita dos Estados socialistas, ou, para melhor dizer, comunistas, onde se apagam 
cada vez mais as distinções entre o que cabe ao Estado e o que é garantido permanentemente aos cidadãos 
como tais.22 
Desse modo, não é mais possível estabelecer uma distinção entre esses sistemas de Direito tal 
como era feito no passado. É preciso encontrar outros critérios para a separação desses ramos. O 
professor Miguel Reale23 apresenta o seguinte modelo: 
 
A nosso ver, a distinção ainda se impõe, embora com uma alteração 
fundamental na teoria romana, que levava em conta apenas o elemento do 
interesse da coletividade ou dos particulares. Não é uma compreensão errada, 
mas incompleta. É necessário, com efeito, determinar melhor os elementos 
distintos e salientar a correlação dinâmica ou dialética que existe entre os dois 
sistemas de Direito [...] Há duas maneiras complementares de fazer-se a 
distinção entre Direito Público e Privado, uma atendendo ao conteúdo; a outra 
com base no elemento formal, mas sem cortes rígidos, de conformidade com o 
seguinte esquema, que leva em conta as notas distintivas prevalecentes. 
 
 
19 TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. Tomo II, p. 377. 
20 GALGANO, Francesco. Apud PRATA, Ana. Op. cit., p. 28. 
21 Enzo Roppo (ROPPO, Enzo. Op. cit., p. 342) explica que é, de facto, verdade que a extraordinária expansão da intervenção 
pública nas atividades económicas privadas (um fenómeno que atingiu, no nosso século, a generalidade dos países ocidentais) 
determina uma correspondente dilatação da ingerência dos órgãos administrativos no exercício da autonomia contratual, e que 
este processo corresponde a uma linha de tendência provavelmente irreversível; donde poderia retirar-se a conclusão de que o 
papel do contrato está destinado a ser, cada vez mais, comprimido e circunscrito, pelo multiplicar-se das funções e dos poderes 
da intervenção da administração pública. 
22 REALE, Miguel. Op. cit., p. 339. 
23 REALE, Miguel. Op. cit., p. 340. 
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A seguir, vejamos o esquema oferecido pelo professor para facilitar a compreensão: 
 
 
 
(Miguel Reale, Lições preliminares de Direito, p. 340) 
 
Desse modo, fará parte do sistema de Direito Público quando a norma tiver como foco o 
atendimento, de maneira imediata e de modo prevalente, de um interesse coletivo, de caráter geral, 
como são evidentes as regras imperativas do Direito Penal, cuja função é atender, imediata e 
preponderantemente, um interesse de toda a sociedade. 
Por outro lado, note que o Direito Civil, ao apresentar, por exemplo, disposições sobre 
relações jurídicas entre dois sujeitos, dois agentes econômicos, tem como foco imediato o interesse 
particular. Além disso, nessa relação, o Estado aparece coordenando os dois sujeitos, de forma que 
o Direito Civil é parte do sistema de Direito Privado. 
O mesmo acontecerá com o Direito da Propriedade Intelectual, o Direito Societário e o Direito 
do Consumidor. Nessas áreas do Direito, apesar de haver normas imperativas, cuja observância e 
cumprimento não sejam meras sugestões do Estado ao particular, mas sim uma imposição, como regra 
geral, o seu conteúdo pode ser ajustável, negociável entre as partes, prevalecendo o interesse particular. 
Nesse sentido, o Estado se coloca em uma posição de coordenação. 
Por outro lado, por exemplo, o Direito Administrativo e o Direito Tributário estão 
eminentemente inseridos no Direito Público, já que visam ao interesse da população. Explicando 
de um modo muito simplório, o Direito Administrativo dispõe sobre a forma de funcionamento 
do Poder Executivo, e o Direito Tributário, sobre as relações entre o fisco e os contribuintes. 
 
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Quanto ao Direito do Trabalho, embora exista uma grande discussão doutrinária sobre onde 
ele se situa, é possível considerá-lo parte do ramo de Direito Público. Isso ocorre porque, ao se 
constituir como sistema de regras voltadas à disciplina das relações entre empregadores e 
empregados, nota-se uma participação do Estado interferindo na sua qualidade fundamental de 
poder soberano, estabelecendo o equilíbrio entre as partes interessadas e impondo soluções a que os 
particulares estão todos sujeitos. Tais vínculos são de subordinação, e não de coordenação.24 
 
24 REALE, Miguel. Op. cit., p. 349/350. No entanto, há quem diga que o Direito do Trabalho representa um terceiro gênero, 
híbrido, entre Direito Público e Direito Privado. Há, ainda, os que o consideram parte do Direito Privado, por regular as 
relações jurídicas entre particulares. O tema será melhor abordado no módulo 5. 
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É muito recorrente no ambiente de negócios o uso do termo “contrato”, mas esse termo 
apresenta diferentes significados. Por isso, o módulo trará inicialmente uma explicação sobre o que 
são realmente os contratos. Em seguida, considerando que a celebração de contratos é uma realidade 
às vezes até mesmo diária para algumas empresas, serão apresentados alguns conceitos relevantes e 
essenciais impostos pelo Direito, garantindo a formação válida e eficaz dos contratos. Na sequência, 
serão tratados os efeitos, as obrigações e os limites estabelecidos pela ordem jurídica. 
Na segunda parte deste módulo, a abordagem será sobre as noções relacionadas ao Direito do 
Consumidor, já que, especialmente para os administradores de empresas que atuam no ramo dos 
bens de consumo, a compreensão das dimensões dos direitos básicos do consumidor será 
fundamental para o sucesso ou insucesso da empresa. 
O último ponto que será abordado refere-se à responsabilidadeque o Código de Defesa do 
Consumidor imputa aos fornecedores de produtos e serviços em relação aos consumidores. Saber a 
abrangência e os limites dessa responsabilidade permitirá que o gestor de um negócio faça a tomada 
de decisões de modo diligente, escolhendo de forma consciente o grau de risco a ser assumido. 
 
Conceito 
A fim de apresentar noções gerais básicas que permitam a compreensão do que são os 
contratos, a despeito do seu uso já recorrente no ambiente de negócios, é fundamental começar o 
conteúdo deste módulo apresentando a definição de contrato. Nesse sentido, é interessante ver 
como o contrato pode ser entendido de duas formas distintas, mas intrinsecamente relacionadas. 
MÓDULO II – OS CONTRATOS E O DIREITO DO 
CONSUMIDOR 
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A primeira é a forma corrente, usual, a forma como falamos, no dia a dia, para nos referirmos 
a uma negociação. Grosso modo, é algo atrelado a uma relação econômica sem um maior cuidado 
com tecnicismos. 
Como explica o professor Enzo Roppo: 25 
 
De facto, falar de contrato significa sempre remeter – explícita ou 
implicitamente, directa ou mediatamente – para a ideia de operação económica. 
Como demonstração, basta reflectir sobre um certo uso da linguagem comum. 
No âmbito desta, a palavra ‘contrato’ é, as mais das vezes, empregue para 
designar a operação económica ‘tout court’, a aquisição ou a troca de bens e de 
serviços, o ‘negócio’ em suma, entendido, por assim dizer, na sua materialidade, 
fora de toda a formalização legal, de toda a mediação operada pelo direito ou 
pela ciência jurídica. É o que acontece, por exemplo, quando se usam expressões 
correntes, do gênero: ‘concluí um contrato muito vantajoso, que me permitirá 
ganhar alguns milhões’ ou então: ‘com o contrato Fiat-Citroën esperava-se 
acelerar o processo de integração e concentração monopolista a nível europeu, no 
sector da produção automóvel’. O contexto em que proposições similares são 
formuladas é, evidentemente, de molde a atribuir à palavra ‘contrato’ um 
significado que prescinde de qualquer qualificação jurídica pontual, colocando-
se, ao invés, no plano da fenomenologia económico-social – como sinônimo, 
justamente, de operação económica. 
 
Nesse sentido, também o professor Venosa26 diz que os contratos são negócios em massa, já se 
referindo ao novo modelo dos negócios, celebrados em escala, em uma economia de massa, para 
uma sociedade de consumo. 
Em uma segunda forma de se conceituar, contrato significa coisa mais técnica, com definição 
específica no mundo do Direito. Contrato é a contração de um negócio jurídico entre duas ou mais 
pessoas, previsto em códigos e leis, ou autorizado por esses, gerando efeitos jurídicos. 
Em outras palavras, como já dizia Enzo Roppo27, ‘contrato’ é um ‘conceito jurídico’: uma 
construção da ciência jurídica elaborada (além do mais) com o fim de dotar a linguagem jurídica de um 
termo capaz de resumir, designando-os de forma sintética, uma série de princípios e regras de direito, 
uma disciplina jurídica complexa. 
O professor brasileiro Orlando Gomes28 explica que contrato é, assim, o negócio jurídico 
bilateral, ou plurilateral, que sujeita as partes à observância de conduta idônea à satisfação dos interesses 
 
25 ROPPO, Enzo. Op. cit., p. 8. 
26 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. p. 363. 
27 ROPPO, Enzo. Op. cit., p. 7. 
28 GOMES, Orlando. Contratos, p. 10. 
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que regularam. Já Maria Helena Diniz29 define contrato como o acordo de duas ou mais vontades, na 
conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as 
partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial. 
No entanto, embora o contrato possa ser definido em uma acepção técnica e em outra não 
técnica, fato é que uma coisa está atrelada a outra, uma vez que a formalização jurídica nunca é 
construída (com os seus caracteres específicos e peculiares) como fim em si mesma, mas sim com vista e em 
função da operação económica, da qual representa, por assim dizer, o invólucro ou a veste exterior, e 
prescindindo da qual resultaria vazia, abstracta, e, consequentemente, incompreensível, como bem 
destaca Enzo Roppo30 mais uma vez. 
Desse modo, a conceituação jurídica de contrato nada mais é do que a forma instrumental 
por meio da qual o contrato – entendido como operação econômica, negócio – será realizado. De 
acordo com Venosa,31 o contrato torna-se hoje, portanto, um mecanismo funcional e instrumental da 
sociedade em geral e da empresa. 
Em relação ao conceito de contrato, também é importante mencionar a mudança sofrida em 
sua noção, em razão das transformações na sociedade e nos métodos dos negócios. Como falamos 
no módulo 1, um dos fatores que levaram o Estado do tipo liberal a ser superado por um modelo 
social foi a constituição de sociedades. Com a concentração de poder de mercado nas mãos das 
sociedades, houve uma alteração nos mecanismos decisórios e gerou-se uma situação de distorções 
entre os atores econômicos. 
A constituição de sociedades influenciou bastante a forma como os contratos passaram a ser 
celebrados. Se antes havia uma liberdade maior, já que os acordos de negócios eram feitos entre dois 
particulares em igualdade de condições, na sequência, o Estado passou a impor limitações. Com 
isso, o Estado passou a intervir nas negociações entre agentes privados para evitar que um – muito 
mais forte em relação ao outro – tirasse proveito da situação injustamente.32 
Também o desenvolvimento econômico trouxe maior complexidade para a vida social e para 
os negócios, exigindo que os contratos passassem a ser formados em massa, em vez de 
individualmente. Nesse sentido, é sintomático o surgimento no mercado de contratos de conteúdo 
padronizado, cujas cláusulas já são preestabelecidas por uma das partes, a mais forte da relação. Aliás, 
hoje em dia, o fenômeno das cláusulas contratuais gerais se alastrou irremediavelmente pelo mundo 
e para os mais diversos campos econômicos, como o dos seguros, o dos transportes, o de compra e 
venda de mercadorias em geral, bem como de fornecimento de serviços. 
Por esse modelo, compete à contraparte tão somente decidir se aceita ou não se submeter àqueles 
termos prefixados, em bloco, aceitando todas as previsões lá contidas e alcançando o objeto pretendido, 
ou rejeitando-as, igualmente em conjunto e, consequentemente, restando impedida de alcançá-lo. 
 
29 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 30. 
30 ROPPO, Enzo. Op. cit., p. 9. 
31 VENOSA, Sílvio de Salvo. Op. cit., p. 364. 
32 Veremos este ponto com mais detalhes a seguir, quando tratarmos dos princípios gerais dos contratos. 
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No fundo, as cláusulas contratuais gerais representam uma nova dinâmica de contratação do 
mercado. No entanto, nessas condições, é de se esperar que, no mais das vezes, verifiquem-se 
potenciais riscos de abuso de uma das partes sobre a outra. Por essa razão, surge a necessidade de 
limitação à liberdade contratual, a fim de conter os abusos que tal prática pode apresentar, até 
mesmo, entre empresários. 
Aqui, cabe um parêntese para esclarecer um ponto relevante: cláusulas contratuais gerais e 
contrato de adesão não significam a mesma coisa. As cláusulas contratuais gerais são uma técnica 
de redação das cláusulas contratuais, feitas em bloco, para serem replicadas com as diversas partes 
com quem a empresa que as elaborou irá contratar. Já o contrato de adesão é uma modalidade 
negocial, que, na prática, acaba por ser uma modalidade não negocial e impositiva, já que não dá 
margem à discussão doconteúdo dos contratos. 
Normalmente, os contratos de adesão são feitos com cláusulas contratuais gerais, mas pode 
acontecer de uma empresa desenvolver as cláusulas de um contrato, especificamente, para fechar 
um acordo comercial com uma outra empresa, sem que esse conteúdo tenha sido desenvolvido para 
reutilização incontáveis vezes. No entanto, repare que, se a empresa que está elaborando o contrato 
não permitir que a outra parte, ainda que seja outra empresa, discuta os termos do contrato e altere 
o teor das cláusulas, estaremos diante de um contrato de adesão. 
Por que isso é importante, afinal? Como dissemos, não é só com consumidores que são 
celebrados contratos de adesão. Dessa forma, o próprio Código Civil brasileiro prevê que o aderente 
poderá ser beneficiado em casos em que a contratação se der por adesão: 
 
Art. 423: Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou 
contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. 
Art. 424: Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a 
renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio. 
 
Nesse sentido, um gestor de uma empresa precisa estar bastante atento ao elaborar contratos 
de adesão, mesmo quando a outra parte é uma empresa, já que poderá ver esse contrato questionado 
na Justiça e, eventualmente, deparar-se com uma mudança forçada do negócio. 
Agora, vejamos os princípios gerais do Direito dos contratos, que também mudaram com 
todas essas alterações econômicas e sociais, dando nova cara aos contratos. 
 
Princípios gerais do Direito dos contratos 
Estudando o Direito Privado e, em especial, o direito dos contratos, é possível conhecer 
diversos princípios. Aliás, hoje em dia, é recorrente o estudo dos princípios (e a famosa teoria dos 
princípios), a distinção entre princípios e regras, e o discurso de que estamos em uma espécie de era 
dos princípios. Se avaliarmos as decisões e, individualmente, os votos proferidos pelos Ministros do 
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Supremo Tribunal Federal33 e do Superior Tribunal de Justiça34, ficaremos surpresos com a 
quantidade de novos princípios, alguns até bem curiosos, utilizados como fundamento. 
Desse modo, para simplificar, ficaremos apenas com poucos, os básicos, para uma visão inicial 
da questão. 
Primeiramente, vamos tratar da liberdade contratual, que decorre de um princípio maior 
conhecido como autonomia da vontade ou, mais modernamente, autonomia privada, justamente 
em razão das tantas alterações de que acabamos de falar. A autonomia da vontade significa o poder 
dos indivíduos de atuar, bem como de suscitar efeitos reconhecidos e protegidos pela ordem 
jurídica, pelo Direito. No exercício desse poder, toda pessoa capaz tem aptidão para provocar o 
nascimento de uma obrigação.35 
Nesse sentido, trata-se de um poder amplo, cujos reflexos se irradiam para diversos campos 
do Direito, inclusive, e de forma bastante evidente e relevante, nos contratos, recebendo a 
denominação de liberdade contratual36. Tal liberdade contratual é uma modalidade mais reduzida 
da autonomia da vontade, que confere poderes aos sujeitos privados para criar vínculos jurídicos 
com outros indivíduos segundo seus próprios interesses. 
A liberdade contratual é composta por algumas faculdades distintas. Segundo Orlando 
Gomes37, algumas faculdades são: 
1. a liberdade de contratar ou deixar de contratar; 
2. a liberdade de negociar e determinar o conteúdo do contrato; 
3. a liberdade de celebrar contratos atípicos; 
4. a liberdade de escolher o outro contratante; 
5. a liberdade de modificar o esquema legal do contrato; 
6. a liberdade de agir por meio de substitutos e 
7. a liberdade de forma. 
 
 
 
33 Corte constitucional e última instância da Justiça. Fica a cargo do STF analisar discussões com fundamento nas previsões 
contidas na Constituição Federal, além de alguns casos específicos, por conta do tão falado foro privilegiado. 
34 Tribunal responsável por julgar, em última análise, discussões envolvendo leis que estão abaixo da Constituição Federal 
em uma escala hierárquica. Também é conhecido como o Tribunal da Cidadania. 
35 De acordo com Menezes Leitão (Leitão, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito das Obrigações, p. 19), em sentido literal, a 
expressão ‘autonomia privada’ (do grego ‘auto’, proprio e ‘nomos’, regra) consiste na possibilidade que alguém tem de estabelecer 
as suas próprias regras. [...] A autonomia privada é assim a possibilidade de alguém estabelecer efeitos jurídicos que se irão 
repercutir na sua esfera jurídica. 
36 Para Menezes Cordeiro (Cordeiro, António Menezes. Tratado de direito civil português, tomo I, p. 393) a autonomia privada 
é um instituto geral de todo o Direito privado. Ela pode ser apresentada como liberdade ou autonomia contratual ou como 
liberdade ou autonomia negocial, quando tenha em vista a celebração de contratos ou de negócios. Trata-se, porém, da mesma 
realidade, que vale igualmente como princípio que a sustenta. 
37 GOMES, Orlando. Novos temas de direito civil, p, 81. 
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Outros autores jurídicos38 também já explicaram como entendem que a liberdade contratual 
se decompõe, sendo as mais comuns: 
� a liberdade de escolher se quer ou não contratar; 
� a liberdade de escolher com quem contratar e 
� a liberdade de escolher como contratar. 
 
Vejamos que, a despeito das faculdades ou liberdades que os agentes econômicos terão para 
celebrar contratos entre si, uma coisa é comum entre todas elas: a vontade. É a vontade de fazer ou 
não fazer que ditará os contratos. Por exemplo, se uma empresa não quiser, de acordo com as 
liberdades conferidas a ela, ela não contratará alguém ou não contratará com essas ou aquelas 
cláusulas comerciais, ou não contratará com esse ou aquele parceiro comercial ou consumidor. 
Assim será, desde que respeitados alguns limites impostos pela lei, pelos órgãos administrativos 
do poder público ou pelo juiz, em caso de uma questão contratual ser levada ao juiz, para que ele 
decida o conflito. Por exemplo, a lei pode estabelecer limites à escolha entre contratar e não contratar, 
para evitar ou corrigir situações de abuso de poder econômico ou de posição dominante no mercado, 
e, em geral, práticas que resultem em infração à ordem econômica. 
Nesse sentido, como veremos mais adiante, repare que o nosso Código de Defesa do 
Consumidor prevê, entre as práticas abusivas vedadas ao fornecedor de produtos ou serviços, a 
recusa de venda para quem se disponha a adquirir mediante pronto pagamento (art. 39, IX, CDC). 
Vale lembrar que existem casos em que a lei proíbe ou dificulta a contratação, como é o caso da 
contratação de trabalho infantil, de empréstimos em salas de jogos ou a venda de bens de pais a 
filhos. Por essa razão, é muito relevante conhecer as regras postas pelo Direito dos contratos, a fim 
de saber quais são os direitos e os deveres de uma empresa em uma relação com terceiros e os limites 
impostos pelo Direito. 
O próximo princípio analisado será um princípio moderno, que surgiu como contraponto a 
um princípio do liberalismo, o princípio pacta sunt servanda39. O princípio do equilíbrio contratual 
exige que os contratantes realizem negócios jurídicos ou contratos justos, garantindo que haja um 
equilíbrio entre as obrigações assumidas por cada um deles. Será por meio dele que, muitas vezes, 
o Estado intervirá nos contratos entre agentes econômicos, assegurando a proteção da parte mais 
fraca contra um abuso do poder negocial do contratante mais forte. 
Desse modo, o balanceamento das prestações contratuais (obrigações) deverá ser observado 
pelos contratantes. O equilíbrio deverá permanecer desde a fase das negociações e, obviamente, 
também no curso da execução do contrato, de modo que, ao longo de toda arelação contratual, 
nenhuma das partes sofra prejuízos injustos. 
 
38 Ferreira de Almeida (ALMEIDA, Carlos Ferreira de. Os direitos dos consumidores, p. 13) fala em uma tripla escolha livre na 
vida negocial, definida como a possibilidade de 1) contratar ou não contratar; 2) escolher a outra parte; 3) determinar o 
conteúdo das obrigações assumidas. Em suas palavras, isso corresponde às normas de comportamento racionais pressupostas 
pela concorrência exercida no mercado pelos agentes económicos livres. 
39 Desde Napoleão, diz que os contratos fazem lei entre as partes. 
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Para exemplificar, vejamos a afirmação do Ministro do Superior Tribunal de Justiça Paulo 
de Tarso Sanseverino no julgamento de um caso em que se discutia o equilíbrio de um contrato, a 
respeito dos momentos em que se vislumbra uma grande carga de justiça contratual:40 
 
a) ao tempo da celebração do contrato, pela preservação do sinalagma genético 
da relação obrigacional, adotando-se o instituto da lesão (art. 157 do CC) 
como forma de combate à elevada desproporção entre as prestações; b) ao tempo 
da execução do contrato, assegurando-se o sinalagma funcional, que pode ser 
perturbado por acontecimentos extraordinários, que minam a 
correspectividade das obrigações, instalando um dos contratantes em posição de 
onerosidade excessiva. 
 
Por isso, é muito importante que os gestores de uma empresa estejam atentos a esse aspecto da 
relação contratual. Ao vislumbrar um desequilíbrio, o Poder Judiciário poderá, corretivamente, 
garantir uma readequação das obrigações e dos direitos conferidos a cada um dos contratantes, 
libertando a parte em situação de onerosidade excessiva daquele dever contratual, afastando, de modo 
pontual, determinadas cláusulas, ou estipulando uma lógica do contrato mais justa e equânime. 
No entanto, há de se ressalvar que não é qualquer situação de desequilíbrio ou mesmo de 
prejuízo a uma das partes que autorizará o juiz a resolvê-lo ou modificá-lo. Como adverte Menezes 
Cordeiro41, a simples ocorrência de desequilíbrio contratual não é, em si, injusta: se uma pessoa pode 
doar (940/1) também pode, por maioria de razão, firmar contratos que a prejudiquem; necessário é, 
porém, que o faça livremente, conhecendo e querendo as consequências. 
Como exemplo, considere as hipóteses em que as circunstâncias que levaram à celebração de 
contrato se alteraram durante a relação contratual. O que fazer? Se uma das partes se sentir 
prejudicada, o juiz poderá resolver, ou seja, extinguir a relação? Poderia o juiz também modificar as 
condições do contrato para recobrar o equilíbrio do contrato, levando em consideração os direitos 
e as obrigações de cada uma das partes? 
Antes de responder, é importante notar que, nos artigos 478 a 480, o Código Civil brasileiro 
trata, expressamente, da resolução por onerosidade excessiva.42 Nesse sentido, percebe-se que haverá 
situações em que o juiz poderá interferir no contrato, resolvendo-as ou modificando-as. No entanto, 
isso não ocorre em qualquer situação. O Código Civil exige que haja uma onerosidade excessiva 
 
40 BRASIL, STJ, AgRg no REsp 941.781/MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgamento em 30/09/2011. 
Disponível em <www.stj.jus.br>. Acesso em: nov. 2013. 
41 Cordeiro, António Menezes. Tratado de direito civil, vol. II, p. 224, nota 692. 
42 Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, 
com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a 
resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. 
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato. 
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, 
ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. 
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para uma das partes, uma extrema vantagem para a outra, e que ambas decorram de acontecimento 
extraordinário e imprevisível. 
A seguir, vejamos dois exemplos do STJ: no primeiro43, uma decisão em que o Tribunal 
negou o pedido de ajuste do contrato, por não entender que o caso merecia uma intervenção 
externa, modificando o que foi acertado entre a empresa Rodrimar S/A Transportes Equipamentos 
Industriais e Armazéns Gerais, e a Companhia Docas do Estado de São Paulo – CODESP: 
 
1. Esta Corte Superior sufragou o entendimento de que a intervenção do Poder 
Judiciário nos contratos, à luz da teoria da imprevisão ou da teoria da onerosidade 
excessiva, exige a demonstração de mudanças supervenientes nas circunstâncias 
iniciais vigentes à época da realização do negócio, oriundas de evento imprevisível 
(teoria da imprevisão) ou de evento imprevisível e extraordinário (teoria da 
onerosidade excessiva). 2. Na hipótese vertente, o Tribunal a quo ressaltou, 
explicitamente, que não pode ser reconhecida a imprevisão na hipótese vertente, 
em virtude de o recorrente ter pleno conhecimento do cenário da economia 
nacional, tendo, inclusive, subscrito diversos aditivos contratuais após os momentos 
de crise financeira, razão pela qual não seria possível propugnar pelo imprevisto 
desequilíbrio econômico-financeiro. 
 
Já no segundo44, o Superior Tribunal de Justiça, entendendo estar diante de situação que se 
enquadrava nos parâmetros do Código Civil, determinou a modificação no contrato firmado, em 
que pese ter sido firmado entre duas empresas, o Banco Santander Noroeste S/A e a Rawplastic 
Plásticos LTDA.: 
 
1- Tendo em vista a onerosidade excessiva havida em decorrência da 
mudança na política cambial do país, nos contratos de arrendamento 
mercantil com previsão de reajuste das prestações com base na variação 
cambial do dólar, o reajuste das prestações, a partir de janeiro de 1999, 
deverá ser feito pela metade da variação cambial, nos termos do REsp 
472.594/SP, julgado pela Segunda Seção. 
 
Diante disso, é importante que se tenha bastante presente nos negócios tanto o direito de 
pedir a revisão ou extinção de um contrato, quanto as circunstâncias que serviram de base para a 
tomada de decisão se modificar em função de evento imprevisível e extraordinário, gerando um 
 
43 BRASIL – STJ – AgInt no REsp 1316595/SP, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, 4a Turma, julgado em 07/03/2017, DJe 
20/03/2017. 
44 BRASIL – STJ – AgRg no REsp 1260016/SP, Rel. Ministro Sidnei Beneti, 3a Turma, julgado em 17/11/2011, DJe 05/12/2011. 
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peso, um desequilíbrio excessivo, quando o dever de estar em relação nas quais a outra parte não 
esteja, por razões alheias a sua vontade, em extrema desvantagem. 
Na sequência, passaremos a falar do princípio da boa-fé objetiva, talvez, o princípio do direito 
dos contratos mais relevante atualmente. 
O princípio da boa-fé objetiva está previsto, expressamente, no Código Civil em três artigos, 
possuindo 3 importantes funções: 
1. quando o Código, no art. 113, diz que os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme 
a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração a boa-fé têm a função interpretativa dos contratos; 
2. quando o art. 187 estabelece que também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao 
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela 
boa-fé ou pelos bons costumes, sobressai a função limitadora de direitos, e 
3. a terceira função da boa-fé objetiva, a função de criação de deveres acessórias, de 
comportamento, podeser encontrada no art. 422: os contratantes são obrigados a guardar, 
assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 
 
Nesse sentido, a boa-fé objetiva concede ao juiz o poder de se intrometer nos contratos, 
interferindo no seu conteúdo, a despeito da vontade das partes. Nesse sentido, o professor Menezes 
Leitão45 diz que a boa-fé concretiza-se assim em regras impostas do exterior, que as partes devem observar 
na actuação do vínculo obrigacional, podendo servir para complementação do regime legal das obrigações, 
através de uma valoração a efectuar pelo julgador. 
Em relação à terceira função, ela impõe aos contratantes o dever de agir com lealdade, 
honestidade, probidade, zelo, e sem abuso ou intenção de causar desvantagem excessiva à outra 
parte. O princípio da boa-fé objetiva se traduz em um modelo de comportamento para nortear as 
empresas em seus negócios com terceiros. 
Além disso, ao estipular os padrões de comportamento das partes46, o princípio em questão 
representa um limitador do exercício de direitos que sejam contrários ao que ele prevê, delimitando 
os espaços de liberdade contratual de outra forma. No entanto, ressalte-se que esse princípio 
influencia de modo distinto, exigindo mais ou menos dos contratantes, dependendo das 
particularidades da contratação. 
De todo modo, como visto, a boa-fé objetiva deve guiar o comportamento das partes não só 
na execução dos negócios mas desde a primeira aproximação entre elas, sendo observado mesmo 
depois de terminado o contrato, como explica Anderson Schreiber:47 
 
45 LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. Direito das obrigações, volume 1, Coimbra: Almedina, 2002. p. 52-53. 
46 A boa fé constitui assim um importante princípio geral de Direito cuja aplicação no Direito das Obrigações se reconduz à 
imposição de comportamentos às partes, em ordem a possibilitar o adequado funcionamento do vínculo obrigacional, em termos 
de pleno aproveitamento da prestação, e evitar a ocorrência de danos para as partes. (LEITÃO, Luís Manuel Teles de Menezes. 
Direito das obrigações, volume 1, Coimbra: Almedina, 2002. p. 55). 
47 SCHREIBER, Anderson. A tríplice transformação do adimplemento: adimplemento substancial, inadimplemento antecipado 
e outras figuras, p. 11. 
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sob o império da boa-fé objetiva, o comportamento das partes antes, durante 
e depois do cumprimento da prestação principal passa a produzir efeitos 
jurídicos diferenciados, que podem mesmo ultrapassar, em importância, 
aqueles que resultam do cumprimento em si. Em um cenário marcado por 
relações contratuais duradouras, torna-se não apenas um direito, mas um 
efetivo dever de ambas as partes diligenciar pela utilidade da prestação antes, 
durante e depois do seu vencimento, para muito além do momento pontual 
de sua execução. 
 
Além do mais, tendo em vista que a regra geral que impede que sejam causados danos a 
terceiros encontra, atualmente, seu fundamento no princípio da boa-fé objetiva, como expressão da 
tutela (defesa, proteção) da confiança, as partes estão proibidas de agir com comportamentos 
contraditórios, sob pena de responderem por abuso do direito. A confiança legítima depositada por 
uma parte em um comportamento juridicamente preestabelecido é, em outras palavras, protegida, 
mesmo no momento das negociações. 
A título de exemplo, vale analisar uma situação específica, a da responsabilidade pré-contratual 
de uma empresa por ruptura das negociações. Imagine o seguinte cenário: você é o gerente comercial 
de uma empresa de bens de consumo e está negociando com um gestor comercial de uma empresa 
transportadora, para aumentar sua capacidade de distribuição e penetração no mercado. As tratativas 
para fechar um acordo de parceria estão indo bem, de forma que a transportadora investiu dinheiro 
nesse potencial negócio, comprando novos carros e adequando os que já possuía, acreditando que 
tudo correria bem e um acordo seria fechado em breve. 
No entanto, antes do momento do aperto de mãos, uma contaminação na plantação dos 
fornecedores da sua matéria-prima causou um enorme impacto na produção, afetando toda a 
estimativa de oferta. Em resumo, os planos de expansão dos negócios da empresa foram arruinados. 
Frente a esse cenário, a empresa de transporte te aciona na Justiça, pedindo indenização pelos 
investimentos feitos, alegando que você deu a entender que já poderia incorrer em gastos, uma vez 
que o negócio já estava certo. 
Como falamos antes, os agentes econômicos não são obrigados a avençar pactos com outras 
pessoas senão em virtude de seu convicto querer, podendo desistir do contrato em fase de 
negociação, sem nada dever a outra parte. Em outras palavras, o Direito permite e, mais do que 
isso, tem como regra geral a liberdade de as partes começarem e terminarem os diálogos, ainda que 
no curso de uma tratativa negocial. No entanto, não pode tolerar que isso aconteça em prejuízo 
injustificado ou proposital a terceiros.48 
 
48 Enzo Roppo (ROPPO, Enzo. Op. cit., p. 107) esclarece que o ponto de equilíbrio encontra-se na regra segundo a qual a ruptura 
das negociações gera responsabilidade apenas quando é injustificada e arbitrária, e não já quando é apoiada em uma justa causa 
que a torne legítimo exercício de uma liberdade económica. 
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A intervenção do Poder Público acontecerá para as negociações simuladas. Evidentemente, 
isso resulta em um prejuízo consciente à outra parte ou mesmo para proteger a confiança digna de 
uma empresa quanto à celebração futura do contrato, quando houver a frustração de uma real e 
legítima expectativa de desfecho positivo das negociações, baseada em uma certeza razoável 
adquirida por uma das partes em decorrência do comportamento da outra. No entanto,49 o Direito 
não protege propriamente o sujeito envolvido em uma negociação de ver rompidas as tratativas – 
isso é parte do jogo negocial –, o Direito protege, na verdade, a confiança legítima, a expectativa 
criada em uma parte por comportamento inequívoco da outra. A seguir, vejamos duas decisões, 
uma da Justiça portuguesa e outra do STJ do Brasil: 
 
I – Incorre em responsabilidade pré-contratual por culpa in contrahendo 
quem, depois de negociações com vista à celebração de determinado contrato e 
durante as quais foram acordadas todas as cláusulas relevantes faltando apenas 
a formalização, recusa outorgar o contrato. II – A responsabilidade decorre do 
facto de uma das partes ter gerado na outra a confiança e a expectativa legítima 
de que o contrato seria concluído e não da ruptura das negociações, da não 
conclusão ou da recusa de celebração do contrato; III – Logo, o facto que obriga 
à reparação é a confiança violada por inobservância das regras da boa-fé e não 
a ruptura das negociações, a não conclusão ou a recusa de celebração do 
contrato por inexistência de obrigação legal ou contratual de prosseguir 
negociações, de concluir ou de celebrar o contrato. 
 
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RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. 
RESPONSABILIDADE CIVIL PRÉ-CONTRATUAL. NEGOCIAÇÕES 
PRELIMINARES. EXPECTATIVA LEGÍTIMA DE CONTRATAÇÃO. 
RUPTURA DE TRATATIVAS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA BOA-
FÉ OBJETIVA. JUROS DE MORA. TERMO 'A QUO'. DATA DA 
CITAÇÃO. 1. Demanda indenizatória proposta por empresa de eventos 
contra empresa varejista em face do rompimento abrupto das tratativas para a 
realização de evento, que já estavam em fase avançada. [...] 4. Aplicação do 
princípio da boa-fé objetiva na fase pré-contratual. Doutrina sobre o tema. 
[...] 5. Responsabilidade civil por ruptura de tratativas verificada no caso 
concreto. [...] 9. Manutenção da decisão de procedência do pedido 
indenizatório, alterando-se apenas o termo inicial dos juros de mora.

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