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PSICO SÓCIO INTERACIONISTA Anotações aula 1- 19/08/20 Fundamentos epistemológicos e gnosiológicos do pensamento de vygotsky e wallon: - Ambos autores tem como base filosófica o materialismo histórico dialético criado por karl marx - “Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas ao contrário é o seu ser social que determina a sua consciência.” - Não são ideias humanas que movem a história, mas as condições históricas que produzem as ideias em cada época. - A consciência humana não pode ser a solução do problema, porque não foi ela que o criou. As representações que constituem nossa consciência são a expressão , no âmbito das ideias das relações que estabelecemos entre nós para produzir socialmente nossa existência. ( lasi, 2014, 100) - A realidade determina e somos determinados. Materialismo histórico dialético: - Materialismo é toda concepção filosófica que aponta a matéria como substância primeira e última de qualquer ser. - O materialismo contrapõe-se ao idealismo, cujo elemento primordial é a ideia, o pensamento ou espírito. - Para marx, o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Marx constrói uma dialética (do grego dois logos) materialista, em oposição à dialética idealista hegeliana. Os princípios fundamentais do materialismo dialético são quatro: 1) a história da filosofia, que aparece como uma sucessão de doutrinas filosóficas contraditórias, dissimula um processo em que se enfrentam o princípio idealista e o princípio materialista; 2) o ser determina a consciência e não inversamente; Segundo Karl Marx (1818-1883), “não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência”. - Somos determinados pela sociedade, eu não sou o que eu penso mas sim o que a sociedade me rotulou. Exemplo: identidade de gênero. 3) toda a matéria é essencialmente dialética, e o contrário da dialética é a metafísica, que entende a matéria como estática e anistórica; (contrario a historia) 4) a dialética é o estudo da contradição na essência mesma das coisas. - O materialismo dialético pretende ser, ao mesmo tempo, o fim da filosofia e o início de uma nova filosofia, que não se limita a pensar o mundo, mas pretende transformá-lo. - O homem marxiano se recusa como um ser apenas determinado na/pela história, mas como transformador da história, sendo a práxis, a forma por excelência desta relação. - PRÁXIS: Quando não separamos as idéias da realidade, teoria e práticas juntas. Exemplo: quando assistimos jornal a maioria das pessoas comungam da mesma opiniao, cabe a mim pensar de forma diferente, utilizando a praxis. O QUE É DIALÉTICA? Dialética, grosso modo, é a percepção de que a realidade não é constituída de uma essência imutável. Ela parte da premissa que há um constante movimento que transforma a realidade a partir das suas contradições. (Konder, 1988) Tese – Antítese (s) – Síntese A síntese supera a tese e a antítese (portanto, é algo de natureza diferente), ao mesmo tempo em que conserva elementos das duas. SUPERAÇÃO DIALÉTICA (SUSPENDER) NEGAR DEIXAR SUSPENSO (NO ALTO) ELEVAR-SE A UM PONTO SUPERIOR LEIS DO MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO “Os homens produzem mercadorias, daí produzem ideias (categorias), ou seja, expressão abstrata das relações materiais, ou melhor: os homens produzem mercadorias, daí produzem ideias que são as categorias abstratas das relações sociais. As categorias são produtos históricos e transitórios.” (Alves, 2010, P.6) (Exemplo do carro moderno que criado gera uma propaganda e ao mesmo tempo novas relações sociais (de inveja, orgulho, desejos, etc) 1) TRABALHO O que os homens são coincide com a sua produção, tanto com o que produzem quanto também com o como produzem. 2) TRABALHO CONCRETO E ABSTRATO O trabalho concreto e o trabalho abstrato não são atividades diferentes, mas sim a mesma atividade considerada em seus aspectos diferentes. 3) TRABALHO ALIENADO A alienação pode ser identificada em várias questões a) pelo modo que o trabalhador se relaciona com o produto do seu trabalho como um objeto alheio... Ele não é o que é o produto do seu trabalho. Portanto, quão maior este produto, tanto menos ele mesmo é; b) no ato da produção, dentro da atividade produtiva mesma, pois o trabalho é exterior ao trabalhador, não pertence à sua essência, meio para satisfazer necessidades externas. c) O trabalho alienado faz do homem um ser alheio a ele, um meio da sua existência individual. “A sua alienação (do trabalho) emerge com pureza no fato de que, tão logo não exista coerção física ou outra qualquer, se foge do trabalho como de uma peste. O trabalho exterior, o trabalho no qual o homem se exterioriza, é um trabalho de auto-sacrifício, de mortificação. Finalmente a exterioridade do trabalho aparece para o trabalhador no fato de que o trabalho não é seu próprio, mas sim de um outro, que não lhe pertence, que nele não pertence a si mesmo, mas a um outro. É a perda de si mesmo.” 4 – PRÁXIS Atividade livre, universal, criativa e auto - criativa, por meio da qual o homem cria (faz, produz), e transforma (conforma) seu mundo humano e histórico e a si mesmo; atividade específica do homem que o torna basicamente diferente de todos os outros seres. 5 – IDEOLOGIA Ideologia como falsa consciência. É um conceito negativo porque compreende uma distorção, uma representação errônea das contradições e restrito porque não abrange todos os tipos de erros e distorções. 6 –REAL IMEDIATO E CONCRETO PENSADO A) apreensão do real imediato (a representação inicial do todo) que convertido em objeto de análise por meio de processos de abstração resulta numa apreensão de tipo superior, expressa no B) concreto pensado. As estruturas analíticas constitutivas do concreto pensado serão contrapostas em face do objeto inicial, agora apreendido não mais em sua imediatez, mas em sua C) Totalidade concreta empírico - mediações abstratas - concreto pensado MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO E A PSICOLOGIA Além de Vigotski alguns outros nomes da Psicologia marxista são: Wallon, seu colaborador Zazzo, Lucién Sève, Leontiev. No Brasil, Silvia Lane com a Psicologia Social e Gonzalez Rey que se preocupou em desenvolver uma metodologia de cunho qualitativo. Vigotski adota assim, da dialética de Marx, dois princípios para a construção do conhecimento científico em psicologia: a abstração e a análise da forma mais desenvolvida. “Toda a dificuldade da análise científica radica no fato da essência dos objetos, isto é, sua autêntica e verdadeira correlação não coincidir diretamente com a forma de suas manifestações externas e por isso é preciso analisar os processos; é preciso descobrir por esse meio a verdadeira relação que subjaz nesses processos por detrás da forma exterior de suas manifestações. Desvelar essas relações é a missão que há de cumprir a análise. A autêntica análise científica na psicologia se diferencia radicalmente da análise subjetiva, introspectiva, que por sua própria natureza não é capaz de superar os limites da descrição pura. A partir de nosso ponto de vista, somente é possível a análise de caráter objetivo já́ que não se trata de revelar o que nos parece o fenômeno observado, mas sim o que ele é na realidade.” (Vygotsky 1995, p. 104) Três momentos na construção da pesquisa na perspectiva vigotskiana: 1- Análise do Processo ao Invés do Objeto/Produto, 2- Análise Genotípica ao Invés de Fenotípica, 3- A Contraposição das Tarefas Descritivas e Explicativas de Análise. Por fim, em substituição ao método da análise dos elementos, Vigotski propunha o emprego do método da análise das unidades. Cabe ressaltar o conceito de signo napsicologia de base marxista, por ser a análise desta unidade o instrumento de mediação entre as funções intra e interpsicológicas. Vygotsky corretamente postulou que o signo adota uma posição mediadora na atividade humana, alterando a sua estrutura e curso de desenvolvimento. Aula 2 - 26/08/20 : Fundamentos epistemológicos e gnosiológicos do pensamento de Lev. Vygotsky Vygotsky: Vida e Obra ● Viveu na Rússia pós-revolução. ● Tentou reunir em um mesmo modelo explicativo mecanismos cerebrais , o desenvolvimento individual e da espécie humana. ● Seus trabalhos não eram conhecidos no ocidente até 1962, quando foi publicado nos EUA seu livro Pensamento e Linguagem. ● Isso deveu-se pelo isolamento imposto elas condições das relações exteriores, bem como por mecanismos internos à Rússia de censura às obras do autor. ● Relação entre Vygotsky e Piaget. LER (Oliveira, 1997, p.15) Nascido em Orsha, capital da Bielarus em 17 de novembro de 1896. ● Viveu com sua família grande parte de sua vida em Gomel, na mesma região de Bielarus. ● Membro de uma família judia, sendo o segundo de 8 irmãos. Pai chefe de departamento em um banco e sua mãe professora formada, mas não exercia a profissão. ● Sua família tinha uma situação de vida bem confortável, moravam em um amplo apartamento e podiam oferecer oportunidades educacionais de alta qualidade aos filhos. ● A família era tida como das mais cultas da cidade, a casa tinha uma atmosfera intelectualizada, onde pais e filhos debatiam os mais diversos assuntos. ● Neste clima de grande estimulação Vigotski interessou-se pelo estudo e pela reflexão sobre várias áreas do conhecimento, tais como literatura, poesia, teatro e outras línguas. ● Formação realizada por tutores, Formou-se em Direito, onde estudou Também psicologia, filosofia e literatura. Anos depois estudou também Medicina. ● Também teve uma atividade profissional diversificada, sendo professor e pesquisador nas áreas de psicologia, pedagogia, filosofia, literatura, deficiência física e mental, atuando em diversas instituições de ensino e pesquisa, ao mesmo tempo em que lia, escrevia e dava conferências. ● PEDOLOGIA – seria a “ciência da criança, que integra os aspectos biológicos, psicológicos e antropológicos”, seria a ciência básica do desenvolvimento humano, uma síntese das diferentes disciplinas que estudam a criança. (Oliveira, 1997, p.20) ● Recusa em diminuir a complexidade psicológica a seus elementos constitutivos é o centro da Pedologia. continuação nos slides - https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1y4ANJqlnOPtvbqwKZErKUyBVEWVyoAW6 Aula 3 - 02/09/20 : A Mediação Simbólica - Vygotski dedicou-se ao estudo das chamadas funções psicológicas superiores ou processos mentais superiores. - Tais funções envolvem o controle consciente do comportamento, a ação intencional e a liberdade do indivíduo em relação às características do momento e do espaço presentes. - Se diferenciam de ações reflexas, chamadas elementares. Exemplo do animal que aprende a acender a luz, mas não aprende quando deve ou não acendê-la. - Conceito central na teoria histórico-cultural: mediação. - Exemplo da chama da vela. - As funções psicológicas superiores são fruto de um processo de desenvolvimento que envolve interação do organismo individual com o meio físico e social em que vive. A aquisição da linguagem definirá um salto qualitativo no desenvolvimento do ser humano. “um processo simples estímulo-resposta é substituído por um ato complexo, mediado, que representamos da seguinte forma:” S = Estímulo R = Resposta S = Elemento mediador - A presença de elementos mediadores introduz um elo a mais nas relações organismo/meio tornando-as mais complexas. - A relação homem/mundo não é uma relação direta, mas, fundamentalmente, uma relação mediada. - Vigotski diferenciou dois tipos de elementos mediadores: o instrumento e o signo. A Mediação Simbólica - O uso de instrumentos No trabalho desenvolvem-se por um lado a atividade coletiva e, portanto, as relações sociais, e, por outro lado, a criação e utilização de instrumentos. Postulados marxistas incorporados por Vigotski: - o modo de produção da vida material condiciona a vida social e espiritual do homem - o Homem é um ser histórico que se constrói através de suas relações com o mundo natural e social. - A sociedade humana é uma totalidade em constante transformação. - As transformações qualitativas ocorrem por meio da chamada “síntese dialética”. ● O instrumento é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza. ● É objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo. ● Animais também utilizam instrumentos de forma rudimentar. Estes não produzem instrumentos de forma específica, não guardam para uso futuro e não preservam sua função como conquista para ser transmitida para outros membros do grupo social. Portanto, não o fazem em um processo histórico-cultural. A Mediação Simbólica - O uso de Signos O QUE SÃO SIGNOS? Signos podem ser definidos como elementos que representam ou expressam outros objetos, eventos, situações. A palavra mesa, por exemplo, é um signo que representa o objeto mesa; o símbolo 3 é um signo para a quantidade 3; o desenho de uma cartola na porta de um sanitário é um signo que indica ‘aqui é o sanitário masculino’. ● A invenção e o uso de signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar, relatar, escolher), é análoga à intervenção e uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento de trabalho”. ● Os signos, ou “instrumentos psicológicos” são orientados para o próprio sujeito, para dentro do indivíduo; dirigem-se ao controle de ações psicológicas, seja do próprio indivíduo, seja de outras pessoas. ● “Na sua forma mais elementar o signo é uma marca externa, que auxilia o homem em tarefas que exigem memória ou atenção.” ● Os signos, ou “instrumentos psicológicos” são orientados para o próprio sujeito, para dentro do indivíduo; dirigem-se ao controle de ações psicológicas, seja do próprio indivíduo, seja de outras pessoas. ● “Na sua forma mais elementar o signo é uma marca externa, que auxilia o homem em tarefas que exigem memória ou atenção.” Exemplos: uso de varetas ou pedras para contagem. ● As varetas representam a quantidade (de gado, por exemplo) e permitem armazenar informações sobre quantidades superior ao que poderia guardar na memória. ● As varetas são SIGNOS. ● “A memória mediada por signos é mais poderosa que a memória não mediada. ● Experimento das teclas. Para verificar a relação entre a percepção e a ação motora em crianças de 4 e 5 anos, conjunto de figuras e para cada figura uma tecla correspondente. Ao ver a figura a criança deveria pressionar a tecla correspondente. As crianças vacilavam em seus movimentos. No entanto, com a introdução de marcas nas teclas (por exemplo, um trenó para lembrar cavalo), levou as crianças a selecionarem a tecla mais firmemente. Leontiev realizou outro experimento para compreensão do papel dos signos mediadores na atenção voluntária e na memória. Utilizou um jogo tradicional infantil na Europa como base para situação experimental. ● Neste jogo uma pessoa faz perguntas a outra, que deve responder sem usar determinadas “palavras proibidas”. O jogo seria sobre cores, sem utilizar o nome de duas cores previamente definidas como proibidas. “Na primeira fase do experimento o pesquisador formulava as perguntas oralmente e a criança simplesmente as respondia, como no jogo original. Sua resposta era considerada errada se falasse o nome dascores proibidas. Numa segunda fase, a mesma brincadeira de pergunta-resposta, mas a criança recebia cartões coloridos que podia utilizar como quisesse. ● As crianças que utilizaram os cartões como marcas externas para a regulação de sua atividade psicológica cometeram muito menos erros nessa segunda fase do que na primeira (sem os cartões). ● Os cartões são os “instrumentos psicológicos”. ● O uso de mediadores aumentou a capacidade de atenção e de memória, permitindo maior controle voluntário do sujeito sobre sua atividade. “A mediação é um processo essencial para tornar possível atividades psicológicas voluntárias, intencionais, controladas pelo próprio indivíduo. “...é só a partir de oito anos, aproximadamente, que a criança vai começar a beneficiar-se dos cartões utilizando-os como auxiliares psicológicos”. Os sistemas simbólicos e o processo de internalização ● Analogia entre o papel dos instrumentos de trabalho na transformação da natureza e o papel dos signos enquanto instrumentos psicológicos, ferramentas auxiliares no controle da atividade psicológica. ● Os signos aparecem como marcas externas, que fornecem um suporte concreto para a ação do homem no mundo. O que seria Processo de Internalização? Processos internos de mediação produzidos a partir da criação de signos externos. São também desenvolvidos sistemas simbólicos, que organizam os signos em estruturas complexas e articuladas. No jogo das “palavras proibidas” os adultos se saíram de forma parecida com e sem o uso dos cartões. Por que será? Esse resultado não significa uma regressão dos adultos a uma atividade psicológica não mediada, mas que a mediação ocorre de forma internalizada. Signos internos ou representações mentais substituem os objetos do mundo real. Dessa forma, temos conteúdos mentais que tomam o lugar dos objetos, das situações e dos eventos do mundo real. (Conseguem ver o materialismo nessa teoria?) Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo na cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste já existiu na imaginação do trabalhador e, portanto, idealmente. (Marx, 1985, p.149-150) O processo de internalização é que possibilita ao homem imaginar, fazer planos, ter intenções. Liberta o homem da necessidade de interação concreta com os objetos de seu pensamento. ● Signos compartilhados Exemplo: palavra cavalo O grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que lhe fornece formas de perceber e organizar o real, as quais vão constituir os instrumentos psicológicos que fazem a mediação entre o indivíduo e o mundo. - exemplo: o cachorro pra nós é um animal aqui no brasil, porém na china ele é um alimento. ● Signos compartilhados organizam a percepção. Exemplo: palavra avião. O grupo cultural em que as crianças nascem e se desenvolvem funcionam no sentido de produzir adultos que operam de uma maneira particular, de acordo com modos culturalmente construídos de ordenar o real. ● Quando falamos em desenvolvimento histórico-cultural, não é apenas sobre a cultura ampla tais como cultura do país, nível socioeconômico ou profissão dos pais, mas do grupo cultural carregado de significado. ● São diversos níveis – 1 - A história da espécie (Filogênese), 2 – A história do grupo cultural, a história do organismo individual (Ontogênese), 3 – a sequência singular de processos e experiências vividas por cada indivíduo. ● “O processo de desenvolvimento do ser humano, marcado por sua inserção em determinado grupo cultural, se dá “de fora para dentro”. Isto é, primeiramente o indivíduo realiza ações externas, que interpretadas pelas pessoas no meio social e o indivíduo atribui significações às suas próprias ações, considerando os códigos compartilhados.” (Oliveira, 1997, p.39) Exemplo do gesto do bebê. ● “As origens das funções psicológicas superiores devem ser buscadas, assim, nas relações sociais entre o indivíduo e os outros homens: ara Vygotsky o fundamento do funcionamento psicológico tipicamente humano é social e, portanto, histórico.” (Oliveira, 1997, p.40) SIGNO X INSTRUMENTO: Mas, a mediação por signo e instrumento são de natureza diversa, enquanto o signo constitui uma atividade interna dirigida para o controle do próprio sujeito, o instrumento é orientado externamente, para o controle da natureza. AULA 4: PENSAMENTO E LINGUAGEM Funções da Linguagem ● Intercâmbio Social 1º Momento – transmite desconforto e prazer. ● Pensamento Generalizante A linguagem ordena o real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos, situações, sob uma mesma categoria conceitual. Iguala e ao mesmo tempo diferencia. Cachorro ≠ de girafa, mesa, caminhão. Estudos realizados com primatas, chimpanzés. Buscando encontrar formas precursoras do pensamento e linguagem humanos. Animais são capazes de utilizar instrumentos como mediadores entre eles e o ambiente Estudos realizados com primatas, chimpanzés. Buscando encontrar formas precursoras do pensamento e linguagem humanos. Animais são capazes de utilizar instrumentos como mediadores entre eles e o ambiente para resolver determinados problemas. Encontra a inteligência prática que independe da linguagem. - Inteligência Prática está ligada à constituição de uma ação ou de um uso repetido que resulta em um conhecimento ou em uma práxis. ... É o poder de conquistar aprendizado com as vivências, construindo aptidões funcionais. Pensamento pré-verbal! Buscando encontrar formas precursoras do pensamento e linguagem humanos. Emitem sons e utilizam gestos e expressões faciais. Expressão emocional, comunicação difusa. Linguagem pré intelectual “Na ausência de um sistema de signos, linguísticos ou não, somente o tipo de comunicação mais primitivo e limitado torna-se possível. A comunicação por meio de movimentos expressivos, observada principalmente entre os animais, é mais uma efusão afetiva do que comunicação. Um ganso amedrontado, ressentindo subitamente algum perigo, ao alertar o bando inteiro com seus gritos, não está informando aos outros aquilo que viu, mas antes, contagiando-os com seu medo”. (Vygotsky, 2011, p.411) pensamento linguagem O pensamento e a linguagem inicialmente têm origens diferentes desenvolvem-se segundo trajetórias diferentes, antes que ocorra estreita ligação entre os dois fenômenos. A associação entre pensamento e linguagem é atribuída à necessidade de intercâmbio dos indivíduos durante o trabalho, atividade especificamente humana. Processo histórico- Trabalho- Relações sociais- Mediação simbólica- Pensamento e linguagem. O trabalho exige: 1 – a utilização de instrumentos para transformação da natureza 2- organização coletiva, planejamento, comunicação social Para tanto foi criado um sistema de comunicação que permitisse troca de informações específicas. Fase Pré-linguística do Pensamento Utilização de instrumentos/inteligência prática - ANIMAIS Fase Pré-Intelectual da linguagem Alívio emocional/função social - TERAPIA Pensamento verbal e linguagem racional Transformação do biológico em sócio-histórico O surgimento do pensamento verbal e da linguagem como sistema de signos é um momento crucial no desenvolvimento da espécie humana, momento em que o biológico transforma-se no sócio histórico. (Evolução filogenética) Na evolução do indivíduo, observada desde seu nascimento, ocorre um processo semelhante àquele descrito na história da espécie. Exemplo do bebê -semelhante a fase sensório-motora de Piaget (Evolução ontogenética) No bebê em determinado momento as trajetórias se encontram, surgindo a fala intelectual com função simbólica e o pensamento se torna verbal, mediado por significados dados pela linguagem. A interação com membros mais maduros da cultura, que já dispõem de uma linguagem estruturada, é que vai provocar o salto qualitativo para o pensamento verbal. O SIGNIFICADO DA PALAVRA significado é um componente essencial da fala ou um componente do pensamento? No significado da palavra é que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal. “O significado é um componente essencial da palavra e é, ao mesmo tempo, um ato de pensamento, pois o significado de uma palavra já é em si uma generalização.” pensamento significado linguagem É NO SIGNIFICADO QUE SE ENCONRA A UNIDADE DAS DUAS FUNÇÕES BÁSICAS DA LINGUAGEM: O INTERCÂMBIO SOCIAL E O PENSAMENTO GENERALIZANTE. “O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se se trata de um fenômeno da fala ou de um fenômeno do pensamento. Uma palavra sem significado é um som vazio, o significado, portanto, é o critério da palavra, seu componente indispensável. Pareceria então que o significado poderia ser visto como um fenômeno da fala. Mas, do ponto de vista da psicologia, o significado de cada palavra é uma generalização ou um conceito. E como as generalizações e os conceitos são inegavelmente atos de pensamento, podemos considerar o significado como um fenômeno do pensamento.” Vermelho - Antigamente, como ninguém conhecia urucum nem pau-brasil na Europa, o único jeito de fazer tinta vermelha era usar um inseto - hoje chamado de cochonilha - que, esmagado, virava um vermelhão. O nome dessa cor vem do latim vermiculum, vermezinho Amarelo - do Baixo-Latim hispânico amarellus, diminutivo do Latim amarus, “amargo”. E o que é que uma cor tem a ver com um sabor, além da rima? É que o amarelo-dourado é a cor da bilis (fluído produzido pelo fígado) antes de se oxidar e ficar esverdeada. E o seu gosto é muito amargo. Boêmio – designava o habitante da Boêmia; como os ciganos vinham da Boêmia, essa palavra passou a significar “errante, nômade, desregrado”. O DISCURSO INTERIOR E A FALA EGOCÊNTRICA Desenvolvimento do “discurso interior”, uma forma interna de linguagem dirigida ao próprio sujeito. É específico, fragmentado, abreviado, contendo quase só núcleos de significado e não todas as palavras usadas num diálogo com outros. (Vídeo Bruno Berg) Vigotski postula para o processo de desenvolvimento do pensamento e da linguagem a mesma trajetória das outras funções psicológicas. O percurso é da atividade social, interpsíquica para a atividade individualizada, intrapsíquica. Fala egocêntrica é um fenômeno relevante para compreensão da transição do discurso socializado para o discurso interior. INTERPSÍQUICA: processo de socialização com o outro quanto ao desenvolvimento cognitivo. INTRAPSÍQUICA: São as ideias ou pensamentos que ficam guardadas na mente do indivíduo a partir dessa socialização com o outro. 1ª Função da linguagem- comunicação oral 2º - Fala egocêntrica, processo pelo qual a criança passará a ser capaz de utilizar a linguagem como instrumento (interno, intrapsíquico) de pensamento. 3º - Linguagem como comunicação oral externa e interna. Ponto principal de divergência entre Vigotski e Piaget. “...a relação entre o pensamento e a palavra não é uma coisa, mas um processo, um movimento contínuo de vaivém do pensamento para a palavra e vive versa. Nesse processo a relação entre o pensamento e a palavra passa por transformações que, em si mesmas, podem ser consideradas um desenvolvimento no sentido funcional. O pensamento não é simplesmente expresso em palavras; é por meio delas que ele passa a existir.” (Vygotski, 1989, p.104) ESTUDO DE CASO A HISTÓRIA DE VINICIUS No inicio de 2006, quando estava na 2ª série, 8 anos, Vinicius iniciou o acompanhamento com um médico neurologista que diagnosticou hiperatividade, pres crevendo medicação. A queixa principal era dificuldades na alfabetização, a mãe relata que “todas as crianças lembravam as letras já na pré escola, mas Vinicius não”. No final do mesmo ano, a família procurou uma associação de dislexia para identificar as causas de suas dificuldades escolares. O diagnóstico foi realizado por duas profissionais: uma psicóloga e uma fonoaudióloga. CONCLUSÃO: Risco para dislexia e TDA O LAUDO O laudo foi produzido a partir de entrevista com a mãe e realização de testes padronizados. Portanto, o laudo diagnóstico foi produzido ao largo da escola o que evidencia uma certa concepção de desenvolvimento humano. Qual seria a concepção de desenvolvimento adotada pelos profissionais que realizaram o laudo? Qual seria o encaminhamento dado ao caso a partir de uma perspectiva sócio-interacionista? O laudo foi produzido a partir de entrevista com a mãe e realização de testes padronizados. Portanto, o laudo diagnóstico foi produzido ao largo da escola o que evidencia uma certa concepção de desenvolvimento humano. Qual seria a concepção de desenvolvimento adotada pelos profissionais que realizaram o laudo? Qual seria o encaminhamento dado ao caso a partir de uma perspectiva sócio-interacionista (histórico-cultural)? Aplicação de testes padronizados. HTP, Wisc, Bender, Raven Aplicação de testes que medem a dificuldade previamente conhecida. Laudo inconclusivo Única orientação: atenção diferenciada AULA 5 E 6: Aprendizagem e Desenvolvimento ▪ Gênese ▪ “A expressão “genética” nesse caso, não se refere a genes, não tendo relação nenhuma com o ramo da biologia que estuda a transmissão dos caracteres hereditários. Refere-se à gênese – origem e processo de formação a partir dessa origem, constituição, geração de um ser ou de um fenômeno.” ▪ Desenvolvimento Genético ▪ “A expressão “genética” nesse caso, não se refere a genes, não tendo relação nenhuma com o ramo da biologia que estuda a transmissão dos caracteres hereditários. Refere-se à gênese – origem e processo de formação a partir dessa origem, constituição, geração de um ser ou de um fenômeno.” ▪Estão relacionados desde o início!!! ▪Dependem do meio social – exemplo dos meninos lobo. ▪É processo de aquisição de informações, habilidades, atitudes, valores, etc. a partir do contato com o meio e com outras pessoas. ▪Diferente de fatores inatos (digestão), fatores maturacionais (maturação sexual, p.ex.) ▪ OBUCHENIE – processo de ensino- aprendizagem. ▪ Importância do papel do outro social no desenvolvimento dos indivíduos cristaliza-se na formulação de um conceito específico de sua teoria. Zona de Desenvolvimento Próximo ▪ Normalmente, no dia-a-dia, escolas ou pesquisas avalia-se o que a criança já sabe. ▪ Esta é a zona de desenvolvimento real. ▪ Capacidade de realizar tarefas de maneira independente. ▪ Devemos também considerar o nível de desenvolvimento potencial ou próximo. ▪ Capacidade de desempenhar tarefas com ajuda de adultos ou de companheiros mais capazes. ▪ Não é qualquer indivíduo que pode, a partir da ajuda de outro, realizar qualquer tarefa. ▪ Exemplos: andar, falar, ler, escrever. ▪A zona de desenvolvimento proximal está em constante transformação. ▪ O aprendizado desperta processos de desenvolvimento que, aos poucos, vão tornar-se parte das funções psicológicas consolidadas do indivíduo. O papel da Intervenção Pedagógica ▪ Se o aprendizado impulsiona desenvolvimento então a educação escolar tem um papel essencial na construção do ser psicológico adulto. ▪ Escola deve pensar a ZDP, em direção a etapas ainda não alcançadas pela criança. ▪ Não cair em uma visão intervencionista.▪ A constante recriação da cultura por parte de cada um dos seus membros é a base do processo histórico, sempre em transformação, das sociedades humanas. ▪ IMITAÇÃO ▪ Reconstrução individual daquilo que é observado nos outros. Criação de algo novo a partir do que observa no outro, a partir de suas possibilidades. ▪ Não é mecânica, ações além do próprio desenvolvimento. ▪ Ocorre dentro do nível de desenvolvimento atual do sujeito. ▪ Colabora para movimento do INTERPSÍQUICO para o INTRAPSÍQUICO. ▪ A importância da relação com os pares. Estratégias coletivas de aprendizagem. ▪PESQUISA ▪ O modelo de pesquisa de Vigotski contempla o pesquisador como elemento que faz parte da situação que está sendo estudada, buscando captar as transformações que ocorrem no processo ensino- aprendizagem. AULA 7 - 21/09/20: Brinquedo e Desenvolvimento ▪ Além da escola, o brincar é fundamental para o aprendizado e desenvolvimento Também cria uma ZDP. (exemplo: brincar de corrida controla o comportamento, deve-se esperar a contagem 1,2,3 e já) ▪ Brincadeira de faz de conta, que corresponde ao “Jogo Simbólico” de Piaget. ▪ Processo do jogo de manipulação, para jogo de fantasia e jogos de regras. ▪ Objetos servem de representação de uma realidade ausente e ajudam a criança a separar objeto e significado. ▪ Constitui um passo importante no percurso que a levará a ser capaz de, como no pensamento adulto, desvincular-se totalmente das situações concretas. As Regras ▪ Não são aceitos qualquer comportamento no jogo de fantasia (exemplo das irmãs). ▪ São justamente as regras que fazem com que a criança se comporte de uma maneira mais avançada ara sua idade. ▪ Ao brincar a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto e significado. A Evolução da Escrita na criança ▪ De acordo com Vigotski, o processo de escrita se inicia muito antes da entrada da criança na escola, hoje chamado Letramento (guarda semelhanças com teoria de Emília Ferreiro) ▪ Ele chamou de “Pré-História da língua escrita”. ▪ Deve entender que a língua escrita é um sistema de signos que não têm significado em si. A criança inicia tentativas de utilizar o recurso da escrita como ferramenta mnemônica. Sem sucesso, o tipo de grafismo utilizado não ajudava a criança em seu processo de memorização. Imitação da escrita do adulto. Na realidade, “em si mesmo, nenhum rabisco significava coisa alguma, mas a sua posição, situação e relação com outros rabiscos conferia-lhe a função de auxiliar técnico para a memória”. (Luria, 1988, p.157) Exemplo: Há no céu 1000 estrelas. Nesse caso, as características do que queriam lembrar estavam claramente presentes na escrita por imagens e, por isso, essas escritas possibilitavam a lembrança dos significados anotados. Simbolismos de primeira ordem e segunda ordem 1a Ordem – desenhos, que representam diretamente os objetos. 2a Ordem – letras que representam sons das palavras, que por sua vez representam os objetos. A criança pode bem cedo aprender a diferença entre desenhar e escrever e não aceitar a representação pictográfica como escrita. “desenhar e brincar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento da linguagem escrita nas crianças... Se quiséssemos resumir todas essas demandas práticas e expressá-las de uma forma unificada, poderíamos dizer que o que se deve fazer é ensinar às crianças a linguagem escrita e não apenas a escrita das letras”. (p.72) AULA 8 - 28/09/20: HENRI WALLON Vida e Obra ◦ Autor que se interessou muito pela educação. ◦ Teoria que facilita compreender a totalidade do indivíduo, que indica as relações que deram origem à esta totalidade, mostrando uma visão integrada da pessoa do aluno. ◦ Desenvolvimento concomitante cognitivo-afetivo-motor. ◦ Henri Wallon nasceu e viveu na França entre 1879 e 1962. ◦ Período de duas grandes guerras. ◦ Participou da primeira (1914-1918) como médico, observando lesões orgânicas e seus efeitos psíquicos. ◦ Na segunda (1939-1945) participou do movimento de Resistência contra os nazistas, o que reforçou ainda mais sua posição de que a escola deve assumir valores de solidariedade, justiça social, antirracismo como condições para a reconstrução de uma sociedade justa e democrática. ◦ Trajetória acadêmica de sólida formação em filosofia, medicina, psiquiatria, áreas que configuram seu interesse pela psicologia. ◦ Projeto Langevin-Wallon – proposta para reforma completa do ensino francês após a Segunda Guerra. ◦ Dedicou-se primeiro à psicopatologia. Em 1914 registrou 214 minuciosas observações de crianças de 2 a 15 anos (delinquência, impulsividade, instabilidade, etc.) ◦ Estabeleceu com este trabalho relações entre lesões neurológicas e efeitos no psiquismo. ◦ “A criança normal se descobre na criança patológica. Mas sob a condição de não tentar entre elas uma comparação, uma assimilação imediata (Wallon, 1984: 308). ◦ Para Wallon, comparar não é assimilar, visa tanto às semelhanças como às diferenças. ◦ O Conhecimento busca o mesmo e o diferente. ◦ Dedicou-se em seguida ao desenvolvimento da criança, se debruçando sobre a questão fundamental que é o estudo da consciência e que o melhor caminho para entende-la é buscar sua gênese, sua origem. Principais Conceitos ◦ Motor, afetivo e cognitivo se desenvolve em conjunto. ◦ A interação dessas dimensões(M-A-C) estão em constante movimento. ◦ A cada configuração resultante, temos uma totalidade responsável pelos comportamento daquela pessoa, naquele momento,naquelas circunstâncias. ◦ “Cada configuração cria novas possibilidades, novos recursos motores, afetivos, cognitivos que se revelam em atividades que, ao mesmo tempo que convivem com as atividades adquiridas anteriormente, preparam a mudança para o estágio seguinte.”(Mahoney, 2000, p.12) Estágios ◦ Duas ordens de fatores irão constituir as condições em que emergem as atividades de cada estágio: FATORES ORGÂNICOS - origem biológica. FATORES SOCIAIS A interação entre esses fatores define as possibilidades e os limites dessas características. A sequências dos estágios proposta por Wallon é a seguinte: ◦ Impulsivo Emocional (0 a 1 ano) ◦ Sensório-Motor e Projetivo (1 a 3 anos) ◦ Personalismo (3 a 6 anos) ◦ Categorial (6 a 11 anos) ◦ Puberdade e Adolescência (11 anos em diante). As idades indicadas foram propostas por Wallon para as crianças de sua época e sua cultura. Precisam ser revistas para a nossa cultura nos dias de hoje. Mais que limites etários é preciso observar quais interesses e atividades predominam em cada período. Os estágios adquirem sentido nessa sucessão temporal, estão inter- relacionados. Leis Reguladoras da Sequência dos Estágios LEI DA ALTERNÂNCIA FUNCIONAL HÁ ALTERNÂNCIA DE PREDOMÍNIO DE CONJUNTOS FUNCIONAIS A CADA ESTÁGIO O movimento predominante ou é pra dentro (conhecimento de si – Impulsivo-Emocional, Personalismo, Puberdade e Adolescência) ou é para fora, conhecimento do mundo exterior (Sensório-Motor e Projetivo, Categorial). LEI DA SUCESSÃO DE PREDOMINÂNCIA FUNCIONAL Alternância de predomínio de conjuntos funcionais a cada estágio: a configuração das relações entre eles mostra qual deles fica em evidência ou é o motor (Impulsivo Emocional) ou o afetivo (Personalismo, Puberdade, Categorial) ou o cognitivo (Sensório-Motor e Projetivo, Categorial). Quando a direção é para si mesmo – centrípeta – o predomínio é do afetivo Quando a direção é para o mundo – centrífuga – predomina o cognitivo. O afetivo e o cognitivo tem sempre como suporte a atividade motora, ou em seus deslocamentos no espaço ou em sua expressão plástica (postura tônica). LEI DA INTEGRAÇÃO FUNCIONAL CONJUNTOSFUNCIONAIS HIERARQUIZADOS. Os primeiros estágios são conjuntos mais simples, com atividades mais primitivas que vão sendo dominadas, integradas aos conjuntos mais complexos dos estágios seguintes, conforme as possibilidades do sistema nervoso e do meio ambiente. Do Sincretismo à Diferenciação. Desenvolver-se é ser capaz de responder com reações cada vez mais específicas a situações cada vez mais variadas. (as possibilidades do/no mundo se expandem) O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa. A separação é somente por questões de explicação do processo. São interdependentes. A PESSOA ao mesmo tempo garante a integração afetivo-cognitivo-motor e é resultado dela. O Método de Análise de Wallon Psicologia Genética – origem e transformações Análise Genética Comparativa Multifuncional Comparações para esclarecer cada vez mais o processo de desenvolvimento. A pessoa está continuamente em processo. Movimento contínuo de mudanças, de transformações desde o início da vida até seu término. Dependem de experiências, cultura, oportunidades. Em cada instante desse processo a pessoa é uma totalidade, um conjunto resultante da integração dos conjuntos motor, afetivo e cognitivo. “É contra a natureza tratar a criança de forma fragmentária. Em cada idade constitui um conjunto indissociável e original. Na sucessão de suas idades é um único e mesmo ser em contínua metamorfose” (Wallon, 1981:233). É de uma rede de relações entre os conjuntos – motor, afetivo, cognitivo – e entre eles e seus fatores determinantes – orgânicos e sociais – que emerge a pessoa. Impossível entendê-la fora dessa rede de relações. A essência do educar é respeitar a integração e movimento constante da pessoa completa. AULA 9: Henri Wallon Estágio Impulsivo Emocional: ◦ Do nascimento até 1 ano de idade ◦ Dividido em - IMPULSIVIDADE MOTORA e EMOCIONAL ◦ Bebê – necessita do meio para interpretar, dar significado e trazer respostas às suas necessidades de sobrevivência. ◦ Manifestações motoras geram respostas dos adultos – COMUNICAÇÃO RECÍPROCA. ◦ Modelação do eu pelo meio, da consciência individual pelo ambiente coletivo. (Wallon, 1957, p.152) ◦ Criança está voltada para a construção do eu. ◦ Fase de preponderância afetiva, centrípeta, de acúmulo de energia. ◦ Imersão social ◦ Estágio nebuloso, indiferenciado, sem delimitação entre o eu e o outro. ◦ A criança é global, indiscernível e social. ◦ Interação, constrói seu próprio eu: nos momentos de autor em relação ao outro e objeto por parte do outro. ◦ De forma dialética, o eu e outro são parceiros internalizados permanentes no eu da vida psíquica. ◦ Relação complementar e antagônica. ◦ “O homem se faz vivendo dois papéis: o de autor da ação, constituindo o meio, e o de objeto da ação sendo constituído pelo meio”. (p.20) ◦ Modelação do eu pelo meio, da consciência individual pelo ambiente coletivo. (Wallon, 1957, p.152) ◦ Criança está voltada para a construção do eu. ◦ Fase de preponderância afetiva, centrípeta, de acúmulo de energia. 1º MOMENTO: IMPULSIVIDADE MOTORA ATÉ 3 MESES Organismo reflexo e com movimentos impulsivos. Necessidades primárias fisiológicas: tônico-postural, alimentar ou de sono. Desconforto – descargas motoras que são movimentos reflexos, impulsivos, descontínuos, não intencionais, com objetivo de diminuir a tensão. Como resultado das ações motoras para diminuição de tensão o bebê consegue que suas necessidades sejam satisfeitas. Inicia-se assim um processo de comunicação, com conexões e associações entre as manifestações espontâneas e as respostas desejáveis. Sensibilidade intero, próprio e exteroceptiva Interoceptiva – Órgãos. Sensações de fome, referentes aos movimentos de digestão e aos processos respiratórios. Proprioceptiva – Aparelho muscular. Movimento e equilíbrio do corpo no espaço. Exteroceptiva – conhecimento do mundo exterior. Simbiose fisiológica e simbiose afetiva Simbiose FISIOLÓGICA – indiferenciação entre as necessidades fisiológicas e as formas de satisfazê-las. Simbiose AFETIVA – caracteriza o período inicial do psiquismo. MOVIMENTO O movimento ocupa lugar de destaque na teoria Walloniana. Grande possibilidade de comunicação da vida psíquica com o ambiente externo. 1º MOMENTO: IMPULSIVIDADE MOTORA 3 FORMAS DE MOVIMENTO 1 – Movimentos de Equilíbrio – posturas, pontos de apoio, sentar, engatinhar, andar. 2 - Movimentos de preensão e de locomoção – trarão outras concepções de si e do espaço. 3 – Reações posturais A INFLUÊNCIA RECÍPROCA ENTRE O BEBÊ E O MEIO TRANSFORMARÃO OS MOVIMENTOS EM MEIOS DE EXPRESSÃO E FORMAS DE COMUNICAÇÃO MAS ELABORADOS. 2º MOMENTO: EMOCIONAL A IMPULSIVIDADE se traduz em sinais que estabelecem entre a criança e o adulto um circuito de trocas que acabam por condicionar e construir reciprocamente as reações do bebê a seu meio e vice-versa. Gestos, atitudes, vocalizações e mímicas adquirem nuance cada vez mais diversificada de dor, tristeza, alegria, cólera. É a linguagem primitiva constituída de emotividade pura. É a primeira forma de sociabilidade. “Os movimentos corporais, posturais, o choro, o sorriso atuam sobre o entorno de forma contagiante, estabelecendo um campo de comunicação e um vínculo entre criança e envolventes, suprindo a insuficiência cognitiva do início da vida.”(p.25) “É dessa osmose afetiva entre a criança e seus envolventes que surge o início da vida psíquica, a consciência subjetiva, na qual vão se formando as primeiras imagens mentais e nas quais se imprimirão as primeiras marcas de sua individualidade.”(p.25) ● Bebê estabelece associações e apreende as interpretações.” ● Aguça sua atenção e antecipa situações. ● Primeiros sinais da cognição. ● Afetividade e inteligência ainda estão sincreticamente misturados. Emoção e Tônus Tônus para Wallon é fonte de emoção. A emoção é regulada por ele e ao mesmo tempo a regula. O tônus é capaz de comunicar ao meio que tipo de emoção o sujeito está vivendo. Podemos dizer que a função tônica dá suporte à manifestação da emoção. Atividades circulares Segunda metade do primeiro ano – 6 a 12 meses. ● Atividades repetitivas ● Investiga a conexão entre seus movimentos e seus efeitos. ● Levam a criança a conhecer cada vez mais a si própria e aos objetos, e acontece em função do prazer pela repetição. ● Manipulação = associação entre os campos sensoriais e musculares, possível apenas com a maturação do córtex cerebral. “A criança mediante atividade circular, entrega-se repetitivamente à manipulação dos objetos, apalpando-os de diversas formas, colocando-os na boca, esfregando-os no corpo, atirando-os insistentemente no chão. Diverte-se com o barulho feito ao amassar o papel, ao rasga-lo em pedaços e ao espalhar o que restou dele. Percebe assim seus próprios gestos e os resultados das suas ações.”(p.28). Vocalizações – linguagem é desenvolvida pelo ajustamento dos campos auditivos e vocal. Produz sons inicialmente casuais e por meio das atividades circulares passa a repeti-los, afiná-los, modifica-los e acaba por desenvolver fonemas presentes em todas as línguas, até selecionar aqueles que fazem parte de sua língua materna. PASSAGEM PARA O ESTÁGIO SENSÓRIO MOTOR E PROJETIVO ● Evolução da criança é descontínua, cheia de conflitos, antagonismos e oposições. ● Do caráter afetivo e voltado para a pessoa para um período cognitivo voltado para a construção do real. Estágio Sensório-Motor e Projetivo + ou – de 1 a 3 anos de idade Investigação e exploração da realidade exterior. Aquisição da aptidão simbólica e início da representação. Atividade de exploração, de manipulação, que coloca a criança em contato com o mundo físico. Inteligênciadedica-se à construção da realidade. SENSÓRIO MOTOR Repetição de movimento em cadeia circular permite-lhe vivenciar diversas reações que seu ato produz. Coordenação mútua dos campos sensoriais e motores. Refina processos de preensão, da percepção e da linguagem. Andar possibilita melhor investigação e exploração do espaço. Com a marcha a criança mesma pode medir as distâncias, variar as direções, estabelecer a continuidade dos passos, buscar e transportar um objeto. Neste momento desenvolve a inteligência prática. Linguagem intelectual prática – permite agrupamentos, comparação, diferenciação. “Com a linguagem aparece a possibilidade de objetivação dos desejo. A permanência e a objetividade da palavra permitem à criança separar-se de suas motivações momentâneas, prolongar na lembrança uma experiência, antecipar, combinar, calcular imaginar, sonhar”. (Wallon, 1980, p.144) Andar e falar são atividades primordiais para o ingresso no mundo dos símbolos. E a criança que não anda ou não fala? PROJETIVO O gesto precede a palavra: a criança não é capaz de imaginar sem representar. A criança utiliza gestos para expressar seus pensamentos. Exemplo: ao falar do presente que ganhou, a criança abre bem os braços para mostrar o tamanho da bola. Nova relação com o espaço, com os objetos e com seu corpo. Dois movimentos projetivos contribuirão para a expressão dessa atividade mental: IMITAÇÃO SIMULACRO IMITAÇÃO Não é de início representação, mas um recurso simbólico que a prepara. Período de incubação – pode durar horas, dias, semanas Imitação é participação e desdobramento. PARTICIPAÇÃO – porque reflete a fusão com o meio físico e humano em que a criança realiza o movimento de imitação espontânea. DESDOBRAMENTO – porque se sobrepõe a essa ação imediata, tirando a criança do imediatismo vivido e possibilitando-lhe, pela mediação da representação realizar o desdobramento, a diferenciação do eu, tomar consciência de si e do outro. SIMULACRO Surge durante a atividade exploradora e projetiva e caracteriza-se pelo exercício ideo-motor, isto é, pensamento apoiado em gestos. “O gesto é capaz de tornar presente o objeto e substituí-lo, ou seja, pelos gestos a criança simula uma situação de utilização do objeto sem tê-lo de fato. O desenvolvimento da realidade só será possível quando houver subordinação da atividade sensório-motora à representação. A linguagem é o instrumento que vai elaborar a expressividade da criança no mundo das imagens e dos símbolos. PROJETIVO Função simbólica permite outras possibilidades de lidar com o real. Função simbólica de desdobramento e de substituição é condição para o nascimento do pensamento e da pessoa. O processo de experimentação acontece também em relação ao próprio corpo. Necessária diferenciação entre o espaço Exteroceptivo do Interoceptivo e Proprioceptivo, isto é, do que pertence ao mundo exterior daquilo que pertence ao próprio corpo. A integração mútua dos espaços exterior e interior só é possível a partir das experiências da criança tanto com o seu próprio corpo quanto com o corpo dos outros e com os objetos. Período animista – a criança dá vida independente a alguma parte do próprio corpo. Para que ocorra identificação e apropriação do seu EU corporal também é necessária a relação entre a pessoa e sua IMAGEM. Até 1 ano Período Instrumental –, interesse no espelho e não na imagem. Período animista – brinca com a própria imagem, beija-a, atribui vida própria. Por volta dos 2 anos atribui a si mesma sua própria imagem refletida no espelho. Mesmo com o aumento de recursos a criança permanece fechada em determinadas circunstâncias, isto é, ligada a determinado objeto ou mesmo ao ponto de vista de quem lhe fala. Aula 10: ESTÁGIO DO PERSONALISMO + ou – 3 a 6 anos Construção da Personalidade Consciência corporal + capacidade simbólica são a base para este estágio. “Entra num período em que sua necessidade de afirmar, de conquistar sua autonomia vai lhe causar, em primeiro lugar, uma série de conflitos”. (Wallon, 1981:217). As condições para a evolução da inteligência têm raízes no desenvolvimento da afetividade e vice-versa. Afetividade emerge neste estágio, orientando o processo de constituição da pessoa. “A alternância provoca sempre um novo estado, que se torna o ponto de partida de um novo ciclo. Assim evolui o desenvolvimento da criança através de formas que se modificam de idade para idade”. (Wallon, 1981: 135) Constituição permeada por conquistas e conflitos, contradições, crises, que aparecem e reaparecem ao longo do desenvolvimento. Uso frequente do pronome pessoal na primeira pessoa: “mim”, “eu”. E também o possessivo “meu”. Evolução na linguagem e na consciência de si. 3 FASES 1ª - Oposição 2º - Sedução 3º - Imitação 1ª - Oposição – por volta dos 3 anos Crise de oposição ao outro, muitas vezes sem motivo aparente. Essa oposição precisa se compreendida como a busca de afirmação de si, de uma pessoa se constituindo. A criança sente prazer em contradizer e confrontar-se com as pessoas de seu ambiente. Fase da recusa e reivindicação. Confronto e negatividade para tornar seu ponto de vista dominante. Distinção eu-outro inicialmente é percebida em relação aos objetos. “Meu”e “teu”. Propriedade e ao mesmo tempo afirmação de si. “Esta primeiro desejo de propriedade baseia-se num sentimento de competição. Trata-se de apropriar do que é reconhecido como pertencendo aos outros. (Wallon, 1975: 156). Começa a perceber que pode negociar objetos. Capaz de mentir, usar a força ou recusar-se a emprestar um brinquedo por ciúmes. Diverte-se com sua livre fantasia a respeito das coisas e com a credulidade cúmplice que às vezes encontra no adulto (Wallon, 1981). 2ª - Sedução ● Idade da Graça ● Necessidade de se sentir admirada ● Exuberância motora – “olha o que eu sei fazer” ● Ela se torna o centro de atenção. ● Reconhece que pode ter sucesso ou fracasso ao se exibir. Tal fato gera inquietação, conflitos e decepções. “O ciúme é muito específico nessa idade, porque apresenta um estado ainda mal diferenciado da sensibilidade (...) é uma causa de ansiedade frequente nessa etapa da vida afetiva” (Wallon, 1975: 211) Com o nascimento de um irmão, por exemplo, a criança pode não querer renunciar ao lugar de caçula ou de filho único. Ver outra criança sendo o centro de cuidados e atenção até então reservados a ela causa sofrimentos, cuja gravidade deve ser reconhecida pelo adulto e precisa ser objeto de atenção especial. “O período dos 3 aos 5 anos é aquele em que se constituem o que se chamou “complexos”(...) no sentido em que, encontrando-se todo o seu ser na situação que o ofende ou o exalta, a criança sofre essa influência sem o contrapeso e terá muito maior dificuldade em dela se desembaraçar em sua evolução ulterior” (Wallon, 1975: 210). Personagens são criados a partir de pessoas que a criança admira. Incorporação do outro. “Já não se trata de reivindicação, mas de um esforço de substituição pessoal por imitação. Em vez de ser simples gestos, a imitação passará a ser de um papel, de uma personagem, de um ser preferido e muitas vezes desejado” (Wallon, 1975: 137) 3ª - Imitação Incorporação por movimento de interiorização e exteriorização que torna possível copiar e assimilar as qualidades e méritos da pessoa-modelo. Criatividade e aprendizagem podem se apoiar eficazmente. SOBRE A IMITAÇAO Para Wallon a imitação apresenta graus de evolução. 1º - Estágio Sensório-Motor – imediata e fragmentária 2º - Estágio Personalismo – período de incubação – dias depois reproduz ● Implica neste momento atitude para constelarconjuntos perceptivo-motores. ● Ao mesmo tempo que se sente muito ligada à família, está buscando intensamente sua independência. ● Devido a esse conflito suas relações com o meio são marcadas por atitudes de oposição e de constante afirmação de si perante os outros. ● Intenso trabalho afetivo e moral. Sabem quando tem sentimentos que poderiam ser desaprovados pelos adultos. A relação com irmãos vai depender de como os pais compreender o papel e o lugar que ocupa na família. A criança deve fazer ajustamentos de sua personalidade de acordo com o lugar que lhe é designado na constelação familiar. Além da família o meio escolar é fundamental para o desenvolvimento. As relações na pré-escola são fundamentais e o professor deve manter uma relação de ordem pessoa, direta e quase maternal. Por isso, Wallon prefere o uso do termo “Escola Maternal” em vez de “Jardim de Infância”. Privilégio de brincadeiras em grupo A criança faz então a distinção eu-outro, de afirmação de identidade e ao mesmo tempo escolhendo o que deixar de fora dessa identidade. EU - OUTRO - Diferenciação, oposição e complementariedade recíprocas. SOCIUS “Com a consciência de si, há uma bipartição íntima entre o eu e o outro, que vai se configurar como um outro eu, um outro interior, denominado socius, como se fosse um eu duplicado que o acompanha e mantém com ele uma íntima união. O socius é o suporte da discussão interior, da objeção às determinações ainda duvidosas. ● SOCIUS ● O OUTRO interior. ● Companheiro permanente do EU ● O confidente, o conselheiro, o censor e muitas vezes o espião. “No personalismo, o pensamento infantil caracteriza-se ainda por um sincretismo de caráter global, confuso e contraditório, em que se encontram misturados os vários planos do conhecimento: critérios afetivos prevalecem sobre os objetivos e lógicos na seleção dos temas de sua atividade mental”. (Mahoney, 2000 p. 47). “Pensar a pessoa na perspectiva da psicogenética walloniana implica compreendê-la em seu contexto sociocultural, biológico, e integrada pelas funções da afetividade, da inteligência e do ato motor. Também requer uma perspectiva de inacabamento, de movimento, de ruptura, de transformações, que necessita ser constantemente superada para possibilitar a própria evolução humana.” (Mahoney, 2000 p. 48). AULA 11: ESTÁGIO CATEGORIAL No PERSONALISMO, a afetividade é o fio condutor do desenvolvimento, e a construção psíquica do eu adquire importância crescente sobre o dado objetivo. É a etapa que marca a diferenciação entre o eu e o mundo exterior. Compreensão dos fenômenos diretamente relacionada a suas experiências emocionais. Considerando a Lei de alternância e Lei da predominância das funções, quais serão as características do estágio Categorial? ENTRE 6 E 11 ANOS ● Estabilidade relativa ● Desenvolvimento motor e afetivo se mantém, mas as características do comportamento são determinadas principalmente pelo desenvolvimento intelectual. Grandes saltos cognitivos Conhecimento mais completo e concreto de si mesma. O desenvolvimento depende da influência conjunta do biológico e social. Emergência da uma capacidade nova: a de autodisciplina mental – atenção. Maturação dos centros nervosos de discriminação e inibição, que tornam possível acomodação perceptiva e mental e a inibição da atividade motora. Gestos mais precisos e localizados. Pode planejar mentalmente o movimento e prever etapas e consequências do deslocamento. “o meio não é outra coisa senão o conjunto mais ou menos duradouro de circunstâncias em que se desenrolam existências individuais. Ele comporta evidentemente condições físicas e naturais que, porém, são transformadas pela técnica e pelos costumes do grupo correspondente.” (Wallon, 1975, p.165-166), Escola tem um papel fundamental neste estágio. Possibilita o exercício de diferentes papeis, o que leva a uma crescente individuação. Neste período uma nova estrutura mental se organiza em duas etapas: 1ª - Até por volta dos 9 anos, Pensamento Pré-Categorial 2º A partir dos 9/10 anos, Pensamento Categorial. Ambos virão a caracterizar a inteligência discursiva. COMO SE ORGANIZA O PENSAMENTO DISCURSIVO? PENSAMENTO POR PARES: um objeto só existe em relação a outro que lhe dê identidade. “todo termo identificável pelo pensamento, pensável, exige um termo complementar, com relação ao qual ele seja diferenciado e ao qual possa ser oposto”. A criança aproxima lua de cabeça, o sol é uma lua, trovão e frio, relações que podem parecer desconexas. “B... 6 anos, atribui o vento ao movimento das folhas: - Tem vento no mar? – Não tem folhas no mar quando tem vento – O que o vento faz no mar? – Ele faz as folhas caírem – No mar? – É – De onde vêm essas folhas? – Das árvores – Há árvores no mar? – Há. Exemplo: slide 8,9. O PENSAMENTO CATEGORIAL: - Transformações no pensamento e no comportamento assinalam redução do sincretismo. - Pensamento categorial leva a sistema de relações. - A ultrapassagem do par exige novo poder de discriminação. - Diferenciação do que pertence à realidade, ao mito, à religião. - Estabelece hierarquias nas operações mentais – nomear, agrupar, comparar. - Após os 9/10 anos, a formação de categorias intelectuais possibilita à criança a identificação, a análise, a definição e a classificação dos objetos ou das situações. - Pensamento capaz de determinar as condições de existência das coisas ou de explicá-las por meio das relações de tempo, espaço e causalidade, a criança vai tomando consciência dos papéis que ocupa o outro com relação a si e ela mesma com relação ao outro. - Para Wallon é impossível dissociar na pessoa qualquer um dos conjuntos funcionais – inteligência, afetividade ou ato motor – de forma que é a criança como um todo que continua a se desenvolver. Uma etapa constitui sempre um sistema mais amplo que a idade biológica. - Portanto, a matéria do pensamento não se forma unicamente pelo desenvolvimento do sistema nervoso, mas pela pessoa em sua totalidade, em sua relação com o meio, no qual a criança se íntegra de acordo com suas possibilidades. - Wallon destaca a importância da escola neste estágio. - Atividades como: participação em novos grupos, divisão de tarefas, trabalho em equipe, competição temporária entre equipes num ambiente em que se sinta aceita. - É importante que o adulto leve em consideração essas necessidades infantis a fim de fortalecer a função afetiva que será preponderante na etapa seguinte de desenvolvimento. AULA 12: WALLON E A EDUCAÇÃO WALLON: TEORIA PSICOGENÉTICA PSICOLOGIA E PEDAGOGIA SÃO INSEPARÁVEIS E HORIZONTAIS VALORIZA: INDIVÍDUO, A EDUCAÇÃO, O PROFESSOR, A CULTURA E AS RELAÇÕES SOCIAIS NA FORMAÇÃO DO ALUNO. VALORES MORAIS E COLETIVOS DESENVOLVIDOS PELA ESCOLA. REVELA A PRESENÇA DOS DOMÍNIOS AFETIVIDADE, COGNIÇÃO, ATO MOTOR E PESSOA, NO COTIDIANO DO PROFESSOR. PESSOA COMPLETA “Os domínios funcionais entre os quais se dividirá o estudo das etapas que a criança percorre serão, portanto, os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa. (WALLON, 1995, p. 135). É contra a natureza tratar a criança fragmentariamente. Em cada idade, ela constitui um conjunto indissociável e original. Na sucessão de suas idades, ela é um único e mesmo ser em curso de metamorfoses. Feita de contrastes e de conflitos, a sua unidade será por isso ainda mais susceptível de desenvolvimento e de novidade. (WALLON, 1995, p.215) Todos os aspectos do desenvolvimento são decorrentes da interação de fatores orgânicos e sociais, e é nessa interação que o indivíduo se constitui. O desenvolvimento é considerado por Wallon como um processo que está sempre em aberto, nunca acabado e, portanto, implicandomovimentos e constantes crises e conflitos. As condições orgânicas, em todo ser humano, colocam-no à disposição para interagir com o meio social e físico. Por outro lado, os meios social e físico impõem exigências a que o indivíduo necessita corresponder para garantir sua sobrevivência e sua adaptação a ele. EXEMPLOS: APRENDER A ANDAR, A COMER NA MESA, APRENDER A LER E ESCREVER, Estágios caracterizam-se por um conjunto de interesses, necessidades e comportamentos, e são sucessivos, numa determinada ordem: uma etapa a já vivida cria condições, preparando as mudanças para a próxima que se anuncia. Em alguns momentos o movimento do desenvolvimento se dá rumo ao conhecimento de si (centrípeto) e, em outros, para o conhecimento do mundo exterior (centrifugo). As atividades inauguradas a cada novo estágio não suprimem as anteriores, mas as integram, num permanente processo de diferenciação. ● Trata-se aqui da “lei da integração funcional”: dá-se uma reorganização qualitativa dos conjuntos afetivo, cognitivo e motor que resultam em diferentes configurações que irão conferir à pessoa um jeito próprio de existir e atuar em cada etapa do desenvolvimento. ● EXEMPLO: uma criança que desde a fase sensório motor e projetiva tenha contatos com livros; e esse contato seja com uma afetividade específica; tendo um determinado aparato biológico; passará de determinada forma pelos estágios seguintes; e terá um processo de alfabetização específico. Uma relação com a leitura e uma subjetividade daí advinda. O conceito de pessoa é utilizado por Wallon (1995) para se referir ao domínio funcional, que é resultado da integração dos outros três: afetividade, conhecimento e ato motor. Trata-se de um conceito genérico e abstrato, referente aquilo que a espécie humana tem de comum e que pode ser compreendido a partir da lei da integração funcional. WALLON: RELAÇÃO EU-OUTRO Na teoria Psicogenética de Wallon, a construção do Eu depende essencialmente do Outro. Acolhimento e Oposição Wallon (1986) chama de sincretismo, para designar as confusões e misturas a que a criança está submetida. O processo de diferenciação vai acontecendo ao longo do desenvolvimento, e o papel do Outro, nessa diferenciação, é fundamental e indispensável. Ao Outro internalizado Wallon dá o nome de “[...] sócius”, referindo-se ao outro íntimo, que mantém com o Eu, um diálogo interno, uma mediação com o mundo externo. Esse Outro interior que trazemos em nós pode ser considerado um duplo Eu ou um companheiro permanente do Eu que irá exercer o papel de intermediário entre o mundo interior e o exterior. O sócius traz em si o contexto cultural e simbólico presente no meio, e, sendo referência para o Eu, determina-lhe regras e imposições sociais. (BASTOS e DÉR, 2002). WALLON: O OUTRO NA CONSTITUIÇÃO DA PESSOA DO PROFESSOR Relações com o Outro é que se dá a aprendizagem, um processo contínuo que dura a vida inteira e que possibilita a constituição do meio físico e humano. Mahoney (2003) afirma que a aprendizagem ocorre quando nos transformamos ao nos relacionarmos com o outro. Dessa forma, é possível vislumbrar o quanto o professor é importante na formação de seu aluno e vice-versa, na transmissão dos valores e no desenvolvimento de sua humanização. Os conceitos de meio e grupo também estão presentes nessa dinâmica relacional Eu-Outro, complementos indispensáveis para a compreensão do ser humano. “Meios e grupos são noções conexas que podem, às vezes, coincidir, mas são distintas. O meio nada mais é do que o conjunto mais ou menos durável de circunstâncias nas quais se desenvolvem existências individuais”. (WALLON, 1986, p. 170) Os grupos possuem formas diversas e particulares de se organizarem. Para ele, a composição dos grupos é definida pelos objetivos, pela atribuição de tarefas inerentes a eles. Ao longo da vida, cada indivíduo participa de vários grupos, vivenciando papéis, correspondendo ou não às expectativas desses grupos, aprendendo a agir, conhecendo suas possibilidades e limitações. Por ser esta relação indivíduo-meio de fundamental importância para o desenvolvimento humano, Wallon (1986) declara que não se pode analisar ou conhecer o homem fora de seu contexto de existência. O meio constitui o indivíduo, fazendo dele um ser datado e contextualizado. O grupo de alunos revela ao professor quem ele é, como ele é, atendendo ou não as suas expectativas. O professor, por sua vez, orienta, dita o ritmo, se envolve com seus alunos e nessa mescla de domínios – cognitivos, afetivos, motores e de pessoas - são constituídos os indivíduos, as relações pedagógicas e interpessoais entre o Eu do aluno e o Outro professor, entre o Eu professor e o Outro aluno, entre os próprios alunos. ● As classes diferentes entre si, exigem posturas específicas do professor que assume em cada uma delas, em que entra, a singularidade das relações, ● São universos complexos e individualizados, que acabam por provocar na ação docente, tomadas de decisões circunstanciais, imprevisíveis, às vezes negociadas, outras vezes com a presença de conflitos. ● Na sala de aula são inventadas e reinventadas as relações que ora exigem do professor domínio, ora cuidado, ora solidariedade, ora espírito de grupo, ora solidão. ● Wallon sempre demonstrou muito interesse pela pedagogia. Escreveu vários textos sobre educação e presidiu a comissão que criou o projeto de reforma para o ensino do francês, denominado Plano Langevin-Wallon de Reforma de Ensino. (ALMEIDA, 2002) ● O Plano Langevin-Wallon (1947) previa uma educação que contemplasse a todos, independente de etnia, religião ou posição social e desenvolvesse em cada um suas aptidões, oferecendo ao aluno condições para desenvolver-se intelectual e moralmente. (MAHONEY, 2002) Em relação à educação, a proposta humanista de Wallon, destaca três pontos imprescindíveis sobre a escola: 1. A ação da escola não se limita à instrução, mas se dirige à pessoa inteira e deve converter-se em um instrumento para seu desenvolvimento: esse desenvolvimento pressupõe a integração entre as dimensões afetiva, cognitiva e motora; 2. A eficácia da ação educativa se fundamenta no conhecimento da natureza da criança, de suas capacidades, necessidades, ou seja, no estudo psicológico da criança; 3. É no meio físico e social que a atividade infantil encontra as alternativas de sua realização; o saber escolar não pode se isolar desse meio, mas sim, nutrir-se das possibilidades que ele oferece. (ALMEIDA, 2002, p. 32) - São os sentimentos dos professores que impulsionam suas buscas, assim como a importância que atribuem aos alunos é que os move a buscar novas estratégias de ensino. - O professor deve dar o exemplo de corticalização, sensibilizar-se com o comportamento do seu aluno e, ao mesmo tempo, racionalizar as emoções em prol dos conteúdos a serem trabalhados. Ele (o professor) esforça-se para compreender ou deveria compreender seus alunos. - Mahoney (1993, p. 68) afirma que: [...] “a criança, ao se desenvolver psicologicamente, vai se nutrir principalmente das emoções e dos sentimentos disponíveis nos relacionamentos que vivencia. São esses relacionamentos que vão definir as possibilidades de a criança buscar no seu ambiente e nas alternativas que a cultura lhe oferece, a concretização de suas possibilidades, isto é, a possibilidade de estar sempre se projetando na busca daquilo que ela pode vir a ser.”
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