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1 CONCEPÇÕES DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM • Área: Educação • Curso: Motricidade e desenvolvimento motor na educação infantil. 2 SUMÁRIO UNIDADE 1 – CONCEPÇÕESDO DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM • INTRODUÇÃO.....................................................................................................................09 ➢ CAPÍTULO 1 –CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO ....................................................... 11 ➢ CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA ............................................................... 23 • PIAGET, VYGOTSKY, WALLON, FREUD E A APRENDIZAGEM • JEAN PIAGET ❖ OS PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA TEORIA DE JEAN PIAGET ❖ ESTÁGIOS REFERENTES À PRÁTICA E A CONSCIÊNCIA DAS REGRAS • VYGOTSKY ❖ DESENVOLVIMENTO REAL E DESENVOLVIMENTO POTENCIAL • HENRI WALLON • SIGMUND FREUD ➢ CAPÍTULO 3 – AS TEORIAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO....................................................................................................................... 46 • PIAGET • WALLON • VYGOTSKY ➢ CAPÍTULO 4 – O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM, MOTRICIDADE E COGNIÇÃO..........63 ➢ CAPÍTULO 5 – A CONSTITUIÇÃO DO CONCEITO DE INFÂNCIA..............................................80 ➢ CAPÍTULO 6 – CONCLUSÃO.................................................................................................92 • TEXTO INTEGRADOR – AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL 96 • SUGESTÕES DE ESTUDO COMPLEMENTAR...........................................................................101 • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................102 3 ÍCONES Apresentamos inicialmente ícones que tem como função pedagógica e objetivam chamar a atenção do(a) aluno(a) para os conteúdos ou ações que o(a) mesmo(a) deverá desenvolver durante seus estudos, através desse material didático. Provocação Apresentamos através desse ícon, textos que levam o(a) aluno(a) a fazer reflexões sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor/conteudista. Para refletir Questões e tópicos inseridos no decorrer do estudo, que tem por objetivos propiciar ao aluno(a) momentos de pausa e reflexão sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do/a aluno/a. 4 Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares que contribuem na construção das sínteses/conclusões sobre os conteúdos abordados. Sintetizando Texto que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo(a) aluno(a) sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos e conteúdos que o autor/conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo. Avaliação Questionário com 05 questões objetivas e/ou subjetivas, baseadas nos objetivos do curso e nos objetivos da disciplina, que oportunizam a verificação da aprendizagem dos capítulos e das unidades desse material didático. 5 Para não finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o(a) aluno(a) a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 6 APRESENTAÇÃO Caro (a) aluno (a), Bem-vindo à disciplina Concepções do Desenvolvimento e Aprendizagem. Este caderno de estudos, material elaborado com o objetivo de contribuir para a realização e o desenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus conhecimentos no tocante ao ensino do conteúdo MOTRICIDADE E DESENVOLVIMENTO MOTOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, que farão parte das atividades avaliativas; indicamos também fontes de consulta para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. Desejo a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados nesse caderno de estudos! 7 OBJETIVOS - Conhecer as idéias dos principais teóricos que trabalharam com os processos de desenvolvimento e aprendizagem das crianças: Freud, Piaget, Vygotsky e Wallon e suas contribuições no campo da educação. - Conhecimento dos processos de desenvolvimento que permite ao educador reconhecer as características comuns de cada faixa etária e planejar ações pedagógicas, que, entre outras coisas, podem potencializar as capacidades humanas. - Apresentar as principais características das diferentes fases do desenvolvimento humano em suas dimensões físico-motora, cognitiva, afetiva-emocional e sócio-moral, focando nossa atenção no ser humano integral. EMENTA Desenvolvimento infantil na perspectiva Sociointeracionista. Fundamentos da Psicologia. Conceitos de infância. Concepções Inatista, Ambientalista, Interacionista e Sócio-histórica. 8 INTRODUÇÃO /PROVOCAÇÃO O desenvolvimento humano, assim como a aprendizagem, é um processo que se inicia com o nascimento e permanece durante toda a vida. Nossa proposta é apresentar características desse desenvolvimento e relacioná-las aos processos de aprendizagem. A diversidade humana contribui para a melhoria da qualidade da educação, uma vez que enriquece os processos de aprendizagem e convivência. Conhecer um pouco mais sobre o desenvolvimento humano permitirá ao educador basear sua concepção de educação na heterogeneidade, considerando as especificidades, não apenas das fases ou períodos de desenvolvimento, mas de cada sujeito, possuidor de uma história pessoal e situado social e historicamente. Os estudos sobre o desenvolvimento humano remontam à Antiguidade Clássica, quando os filósofos cuidavam da compreensão dos fenômenos humanos. Inicialmente questionavam sobre a diferença entre os animais e os seres humanos e foram aprofundando seus estudos até chegarem às primeiras idéias sobre o processo de transformação desses seres. No século XIX, com o advento da ciência como principal tipo de conhecimento, o desenvolvimento humano passou a ser objeto de estudo da ciência psicológica, que se dedicava a entender como as pessoas se transformavam e como construíam suas características. No primeiro capítulo trataremos sobre as concepções do desenvolvimento humano – INATISMO, AMBIENTALISMO, INTERACIONISMO E SÓCIO-HISTÓRICA - traçando ao final um quadro comparativo entre essas diversas concepções, para um melhor entendimento. 9 No segundo e terçeiro capítulos, abordaremos os Fundamentos da Psicologia, comum a exposição das teorias de Jean Piaget, Henri Wallon, Lev Semenovich Vygotsky e Sigmund Freud e suas Contribuições no campo da Educação. No quarto capítulo veremos como acontece o desenvolvimento da linguagem, da motricidade e da cognição, considerando a interação social como elemento mais importante para promover oportunidades de aprendizagem. No quinto capítulo, um estudo sobre a constituição do conceito de infância, visto que, ao educador que atua com crianças, é imprescindível apreendero significado da infância, o que exige a investigação das diferentes conceituações a ela atribuída em distintos momentos e lugares da história humana. No sexto capítulo, uma breve conclusão acerca das teorias e concepções, e suas implicações orientando as questões pedagógicas em espaços de educação infantil. 10 CAPÍTULO 1 – CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO Durante a evolução histórica da ciência foram adotadas diferentes concepções sobre o desenvolvimento humano que apresentam visões diversas sobre a “natureza” humana, o modo de aquisição e apropriação dosconhecimentos. Foram diferentes formas de pensar como o ser humano sedesenvolve. Vejamos quais as principais: Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source Inatismo Uma das primeiras concepções sobre o desenvolvimento humano foi a inatista, na qual é salientada a importância dos fatores endógenos ou hereditários, ou seja, aqueles aspectos que jánascem com a pessoa. Segundo essa concepção, os seres humanos já nascem com todas as suas características prontas e vão desenvolvendo-as durante toda a sua vida. 11 Os inatistas acreditam num mapa dedesenvolvimento pré-programado, sendo que oseventos que acontecem após o nascimento não são essenciais para que o serhumano se desenvolva, pois sua personalidade, suas crenças, suas posiçõesmorais, sua capacidade intelectual e afetiva, suas habilidades sociais já seencontram praticamente prontas por ocasião do nascimento, como sehouvesse algo pronto para florescer dentro de cada pessoa e, para tanto, sóbastaria o tempo. O que resta ao ambiente é interferir o mínimo possível paranão “desvirtuar” essas características pré-definidas geneticamente. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source A concepção inatista afirma que nascemos trazendo em nossainteligência não só os princípios racionais, mas também algumas idéiasverdadeiras que, por isso, são idéias inatas. Como exemplos de filósofosinatistas que influenciaram e, ainda influenciam, os estudos sobre odesenvolvimento humano, podemos citar Platão (IV a.C.), Descartes (séculoXVII) e Rousseau (Século XVIII). 12 As idéias de Jean-Jacques Rousseau causaram grande impacto naeducação e inspiraram reformas políticas e educacionais. O pensamentocentral desse filósofo inatista, foi a idéia ou teoria do “bom selvagem”. Rousseau acreditava que o homem nascia bom (crença na bondade natural), mas era corrompido pela sociedade. Defendia que os pais e professores deviam estimular o desenvolvimento das potencialidades naturais da criança, afastando-a dos males sociais. Se na época de Rousseau a crença inatista era bastante forte, nos dias atuais ela já quase não existe, salvo alguns poucos adeptos. Mesmo o avanço da neurociência, com o mapeamento do cérebro e a escoberta de áreas cerebrais responsáveis por vários comportamentos eações, não defende a teoria inatista. Os neurocientistas afirmam que o queexiste são predisposições genéticas, mas que, na maioria dos casos, nãopassam apenas de predisposições. Apesar de toda a evolução do conhecimento humano e a superaçãoda visão inatista, aspectos desse pensamento aparecem ainda hoje nasescolas, camuflados, por exemplo, sob o disfarce das aptidões, da prontidão edos testes de Q.I. que rotulam crianças e castram suas possibilidades de sucesso. Ambientalismo A concepção ambientalista confere importância ao ambiente no que se refere ao desenvolvimento humano. O homem é concebidocomo um ser dinâmico, que desenvolve suascaracterísticas em função das condiçõespresentes no meio em que se encontra. Na Psicologia é chamada de Teoria da Aprendizagem. Para Bandura (1989), um dos adeptos desta abordagem, “A natureza humana é caracterizada por uma grande potencialidade quepode ser modelada, por experiências diretas e substitutivas, em uma variedadede formas, dentro dos limites biológicos”. 13 Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source Essa teoria não nega as bases genéticas, mas considera que o comportamento das pessoas é moldado por processos de aprendizagem previsíveis, especialmente por imitação, ouseja, as pessoas ao verem outras pessoas se comportando, aprenderiam novos comportamentos. Outro autor também preocupado com a influência da aprendizagem para o desenvolvimento foi Skinner, o qual, em seus experimentos e em suateoria decorrente destes, descreveu um processo de aprendizagem que indica que as consequências que ocorrem após o comportamento podem fortalecer ou diminuir a ocorrência deste, o qual foi denominado de condicionamento operante: qualquer comportamento, cuja conseqüência tenha papel reforçador, apresenta maior probabilidade de voltar a ocorrer, na mesma situação ou emsituação semelhante. Por exemplo, se uma criança é elogiada logo após fazer um favor a uma outra criança, é provável que esse comportamento apareça novamente no relacionar-se com outras crianças. Situações agradáveis que seguem um comportamento aumentando, então, a possibilidade de ocorrência dele no futuro, são chamadas de reforços positivos. Podem 14 ser conseqüências agradáveis: elogios, sorrisos, abraços, atenção, alimentos, possíveis de ocorrer na relação entre pessoas. Um outro tipo de conseqüência, a punição, é aquela que tende a diminuir ou eliminar a ocorrência de comportamentos. Em geral envolve a retirada de privilégios ou a apresentação de castigos. Todavia, tais punições nem sempre têm o efeito que o aplicador gostaria, uma vez que não suprimem o comportamento indesejado. Às vezes, uma conseqüência aparentemente negativa aos olhos de quem aplica, não o é para quem recebe. Logo, os educadores precisam aprender novas formas de lidar com conflitos por dois motivos, primeiro para serem modelos de comportamentos alternativos e, em segundo lugar por, sistematicamente, ensinar novos comportamentos, dando atenção e elogiando, por exemplo, quando os alunos comportarem-se nesta direção. Assim, dentro da concepção ambientalista, o homem é visto como se fosse uma folha em branco, que vai se desenvolvendo passivamente em função do meio. Sua ação é em função das aprendizagens que realizou ao longo da vida, em contato com estímulos que reforçaram ou puniram seus comportamentos anteriores Interacionismo Os defensores da concepção interacionista acreditam que a criança constrói o seu conhecimento pela sua interação com o meio. Nessa interação, fatores internos e externos se inter-relacionam continuamente, formando uma combinação de influências. 15 FONTE: https://www.google.com.br/search?q=interacionismo&source A concepção interacionista de desenvolvimento está embasada, portanto, na idéia de interação entre organismo e meio e vê a aquisição de conhecimento como um processo construído pelo indivíduo durante toda a sua vida, não estando pronto ao nascer, nem sendo adquirido passivamente graças às pressões do meio. Para os interacionistas nada se perde, tudo se transforma. Experiências anteriores servem de bases para novas construções que dependem, todavia, também da relação que o indivíduo estabelece com oambiente numa situação determinada. 16 ATENÇÃO!! O ser humano é concebido como um ser ativo que, ao interagir com o mundo, o reconstrói, desenvolvendo novas estruturas cognitivas. Algumas possibilidades a criança já apresenta em função do seu nascimentocomo, por exemplo, os reflexos e a capacidade de movimentar-se e, outras serão construídas pela interação da criança com o meio. O Interacionismo defende que o desenvolvimento humano é resultado de umainteração de fatores biológicos e ambientais, entendendo por ambiente os espaços sociais, históricos e culturais. Dessa forma, somos sujeitos ativos, capazes de construir nossas próprias características, de acordo com o meio físico, social e cultural. Nessa concepção, o desenvolvimento produz aprendizagem ao mesmo tempo em que a aprendizagem produz o desenvolvimento. São exemplos de autores interacionistas: Jean Piaget, EmíliaFerreiro, Henry Wallon, entre outros. 17 Sócio-Histórica Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source A concepção sócio-histórica é embasada, sobretudo, nos estudos do russo Lev Seminovich Vygotsky (1896-1934). Vygotsky, em parceria com Luria e Leontiev, foi o fundador da Psicologia Sóciohistórica, que questionou os pressupostos da Psicologia enquanto ciência natural (positivista) que entendia o fenômeno psicológico como a- histórico. Para esse autor o fenômeno psicológico não pertence à natureza humana e tãopouco é pré-existente ao homem. Dessa forma, o fenômeno psicológico reflete acondição social, econômica e cultural em que vivem os homens. Os pilares básicos do pensamento Vygotskyano são os seguintes: - as funções psicológicas têm um suporte biológico, pois são produtos daatividade cerebral; 18 - o funcionamento psicológico fundamenta-se nas relações sociais entre os indivíduos e o mundo exterior, que se desenvolvem num processo histórico e cultural; - a relação homem-mundo não é uma relação direta, mas mediada por sistemas simbólicos, sendo a linguagem o mais importante. PARA REFLETIR!! Dessa forma, o desenvolvimento na perspectiva sócio-histórica é entendido como algo que se torna possível, porque o homem está imerso em uma sociedade na qual atividades instrumentais e relações sociais direcionam o desenvolvimento humano. A cultura torna-se parte da natureza humana e o homem se desenvolve à sua própria imagem e semelhança. Vygotsky conclui, então, que a relação dos seres humanos como o meio é sempre mediada por instrumentos ou símbolos, porque o uso de instrumentos e símbolos potencializa a capacidade de o ser humano atuar no mundo, pela ação ou pelo pensamento. Ele afirma que a relação dos indivíduos com o mundo não é direta, mas mediada por sistemas simbólicos, em que a linguagem ocupa um papel central, pois além de possibilitar o intercâmbio entre os indivíduos, é através dela que o sujeito consegue abstrair e generalizar o pensamento. Ou seja, ¨ a linguagem simplifica e generaliza a experiência, ordenando as instâncias do mundo real, agrupando todas as ocorrências de uma mesma classe de objetos, eventos, situações, sob uma mesma categoria conceitual cujo significado é compartilhado pelos usuários dessa linguagem¨ (Oliveira, 1993, p.27). 19 O uso da linguagem como instrumento do pensamento supões um processo de internalização da linguagem, que ocorre de forma gradual, completando-se em fases mais avançadas da sua aquisição. Para Vygostsky, primeiro a criança utiliza a fala socializada, para se comunicar. Só mais tarde é que ela passará a usá-la como instrumento de pensamento, com a função de adaptação social. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source 20 SINTETIZANDO!! CONCEPÇÃO INATISTA CONCEPÇÃO AMBIENTALISTA CONCEPÇÃO INTERCIONISTA CONCEPÇÃO SÓCIO- HISTÓRICA As capacidades humanas já nascem prontas e quase não mudam ao longo da vida. O desenvolvimento acontece de forma espontânea. O sujeito vai se desenvolvendo passivamente devido aos estímulos que reforçaram ou puniram seus comportamentos anteriores. O desenvolvimento acontece por normas e padrões. O ser humano se constitui ativamente nas interações com o meio, com os objetos e, principalmente, com as outras pessoas. O desenvolvimento acontece através da influência e interações com os grupos sociais. O ser humano nasce com várias habilidades mentais. O desenvolvimento acontece através das mediações por instrumentos ou símbolos. 21 PRATIQUE!! A prática docente está sempre embasada por uma concepção de desenvolvimento e aprendizagem, ainda que o professor não tenha consciência dela. Procure identificar qual das concepções apresentadas orienta, prioritariamente, sua prática docente. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 22 CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA Dentro da Psicologia da Apendizagem encontramos várias teorias que nos ajudam em detreminadas situações. São vários os teóricos que estudaram o desenvolvimento humano, mas cada um enfatizou determinado aspecto: Piaget deu ênfase ao desenvolvimento da inteligência; Vygotsky, às relações sociais e aos fenômenos mentais; Wallon, ao desenvolvimento motor e afetivo e Freud, ao sexual. PIAGET, VYGOTSKY, WALLON, FREUD E A APRENDIZAGEM Fonte: https://www.google.com.br/search?q=pilares+básicos+do+pensamento+Vygotskyano+imagens&source O suíço Jean Piaget (1896-1980) deu uma enorme contribuição à embora não fosse seu objetivo ser um pedagogo. Piaget em sua epistemologia, rejeita a teoria de idéias defendidas no passado por filósofos como Platão, Descartes, Leibniz, etc., afirmando que todo o conhecimento deriva da experiência, transformando o sujeito em simples produto do meio. Mas se a mente é um órgão vivo e ativo, ela elabora o conhecimento a partir de esquemas inatos e não de idéias inatas. 23 Todo o organismo ou ser vivo precisa de estrutura para funcionar, para se reproduzir. Do mesmo modo, nossa vida psicológica posui também suas estruturas para poder viver e se adaptar à realidade. Esta relação entre estrutura e meio é o que denominamos de conhecimento – assimilação e acomodação – que é um processo permanente de auto-regulação feita pelo sujeito, ao longo de seu desenvolvimento. PARA REFLETIR!! Para Piaget a criança não é um adulto em miniatura, mas sim alguém que pensa qualitativamente diferente do adulto. Assim sendo, seu pensamento não é inferior, mas diferente do pensamento do adulto, com características próprias que Piaget busca detalhar em sua teoria. Piaget defendeu que a inteligência não é apenas um traço hereditário ou resultado de condicionamentos ambientais, mas que é construída através da interação entre o sujeito e o meio. Dessa forma, quanto mais rico em estímulos -físicos e sociais - for o ambiente, mais a criança poderá atuar sobre ele e desenvolver-se. Para Piaget, a base biológica tem grande importância no desenvolvimento cognitivo, porém, ela abre as possibilidades para o desenvolvimento infantil, ela não o determina.A maturação biológica, no entanto, nunca aparece independente de certo “exercício funcional”. Ou seja, não é possível que haja maturação, se não houver estimulação do ambiente (Piaget, 1987). 24 Segundo Piaget, a interação física é diferente da interação social. A interação física é aquela que se estabelece com os objetos físicos, as coisas materiais. A interação social é aquela que se estabelece entre as pessoas. Quanto mais a criança estiver em contato com objetos físicos mais estará se desenvolvendo uma vez que a interação física estará propiciando a abstração e promovendo a construção de novos conhecimentos. A interação social também é um fator de grande importância para o desenvolvimento cognitivo, porque permite a consolidação de algumas estruturas cognitivas, como a linguagem por exemplo. O desenvolvimento cognitivo é um processo contínuo que passa por estágios que marcam diferenças qualitativas de um nível de pensamento e conduta para o outro. Piaget divide em quatro estágios: sensório-motor (0-2 anos); pré-operatório (2-7 anos); operatório-concreto (7-12 anos) e operatório-formal (12 anos em diante). Cada estágio envolve um período de gênese e um de consolidação. Conhecer e refletir sobre as características de cada período é uma tarefa primordial para que o professor possa propor estratégias de aprendizagem significativa. Os Períodos do Desenvolvimento Cognitivo na Teoria de Jean Piaget Período Sensório Motor (0-2 anos) Nesse período, a criança baseia-se em percepções sensoriais (por meiodos órgãos do sentido) e esquemas motores para resolver seus problemas que sãopráticos: ela percebe o mundo pelas sensações e responde com movimentos: sente fome, balança as pernas e chora por exemplo. A criança está presa ao aqui e agora das situações. Não entende o amanhã, o depois, o mais tarde... Se tem necessidades, demonstra com movimentos ou choro, que precisa ser atendido naquele exato momento 25 À medida que cresce começa a construção da noção de “eu”, quesignifica se perceber-se como alguém individualizado, separado de sua mãe. Entende que outras pessoas podem atendê-lo, que não a mãe e que pode brincar sozinho. Uma outra observação que confirma que a criança começa a se ver comoalguém separado da mãe, é quando demonstra que perceber a noção da permanênciado objeto. Isso ocorre por volta dos oito meses. Ele sabe que a mamadeira existe, mesmo que não esteja perto dela, sob seus olhos. Nesta fase, se escondemos um objeto que estava à vista já o procura. As noções de tempo e espaço começam a ser construídas e ela é capaz de antecipar acontecimentos pela observação dos sinais do ambiente. Por exemplo, chora quando a mãe pega a bolsa. Ela já sabe que a mãe vai sair. Neste estágio é importante que a criança tenha contato com muitos objetos para experimentar o meio e construir estruturas mentais. É importante oferecer à criança materiais diversos como bolas de diferentes tamanhos e texturas, potes que se encaixem, blocos grandes, objetos coloridos, etc. O final do período é marcado pelo aparecimento da função simbólica. Écapaz de representar eventos mentalmente, quando nina a boneca, empurra ocarrinho. Constrói, neste período, duas habilidades importantes: a marcha e a fala. Período pré-operatório (2-7 anos) Este período é caracterizado pelo pensamento egocêntrico. Seregocêntrico significa colocar-se no centro do mundo. Nesse período a criança não tem consciência do próprio ponto de vista e muito menos do ponto de vista alheio. É capaz de identificar suas necessidades, mas tem dificuldade em se colocar no lugar dos outros. Pensa o mundo a partir de seu ponto de vista. Esse comportamento éobservado facilmente em situações onde a criança, ao necessitar de um objeto da criança que está ao seu lado, simplesmente o pega, como se fosse seu. É pouco sensível ao comportamento do outro que chora. Ainda não entende a reação do outro como uma resposta à sua. 26 O trabalho em grupo tem características específicas e a criança não brinca “com” as outras, mas “ao lado” de outras crianças. Por exemplo: se propusermos que um grupo de crianças, nesse período, montem um quebra-cabeça juntas, o comportamento inicial de cada uma será o de separar algumas peças para si, sem levar em conta que a peça que precisa pode estar com a outra e que a ação exige um trabalho coletivo. É a fase do concreto. Ainda não é capaz de abstrair (daí a dificuldade de entender o outro) e de realizar operações mentais. É a fase da exploração do meio ambiente. Explorando-o aprende sobre o ambiente. Para contar, por exemplo, precisa de materiais concretos. O número é entendido pela criança como algo concreto. Como ainda não aprende por regra, não tem noção de perigo, precisando de supervisão de adultos significativos. Por isso, nesta etapa exercita sua coordenação motora global e equilíbrio. Brincadeiras ao ar livre devem ser incentivadas. Porém, ainda que não apreenda totalmente o sentido das regras deve ser exposto a elas. Assim, aprende seu limite e respeita o outro, entende, enfim, os limites de cada ambiente. O ambiente deve proporcionar possibilidades de experimentar, de fazer muitas coisas. Atividades ligadas a conteúdos como de língua portuguesa, matemática, ciências devem ser repletas de situações concretas e funcionais. Para aprender o conteúdo, enquanto concreto, tem de fazer sentido para a criança. Ela precisa ver, pegar, sentir para compreender. Um passeio em um parque, por exemplo, pode ser uma ótima oportunidade para aprender questões relacionadas às estações do ano, ao clima, aos pequenos animais, etc. Desafios devem ser apresentados e o erro permitido, jamais ridicularizado. A criatividade deve ser incentivada. Trabalhos em grupo devem ser intensificados. O final do período é marcado pelo declínio do egocentrismo e pela capacidade de conservar quantidades. Já é capaz de entender que há a mesma quantidade de água em dois copos, por exemplo, mesmo que um copo seja mais alto e o outro mais largo. Tal possibilidade de pensamento é fundamental para o aprendizado da Matemática. 27 Período operatório-concreto (7-12 anos) No período operatório concreto a criança já pode realizar operações mentais que, no entanto, precisam de referências concretas internalizadas para que aconteçam. Para fazer as operações matemáticas (somar, subtrair, multiplicar, dividir) precisa inicialmente de realizá-las com uma referência concreta, em situações que fazem sentido para ela. Tão importante quanto realizar operações é saber quando utilizá-las. Entender problemas é uma aprendizagem muito importante, tanto quanto solucioná-los. Por isso os problemas devem contemplar situações do cotidiano e serem passíveis de relação com situações concretas. Por exemplo: se o problema se refere a operações com objetos ou pessoas, desenhá-los ou representar as quantidades graficamente auxilia a criança na resolução da tarefa. Diferentes formas de resolver problemas podem aparecer. É importante que o professor tente entender o raciocínio da criança. Ao invés de exigir que ele pense como você, socialize as diferentes formas de solucionar problemas que aparecer. Nesse período a criança já conserva quantidades. Uma criança de 7 anos entende que a metade de um chiclete não terá mais que a outra metade se eu esticá-la. Diferenças perceptivas não são mais o bastante para confundir seu raciocínio. Nesta fase começa a entender o ponto de vista do outro. Todavia, o ambiente deve oportunizar situações para que isso aconteça. Participação em jogos cooperativos é mais aconselhável do que jogos altamente competitivos. Gosta dos jogos com regras e considera importante o respeito a elas. É curiosa em relação ao mundo (e essa curiosidade deve ser incentivada!). Busca entendê-lo assim como aspessoas. É capaz de estabelecer relações de amizade duradouras. Gosta de conversar e presta atenção nas outras pessoas. É capaz de pensamento reversível, de entender e verbalizar a situação contrária: “se eu não estudar, não vou conseguir tirar boa nota. Então,” vou estudar e, assim, me dar bem!” Entende que a adição é o contrário da subtração por exemplo. Consegue partir de um raciocínio e voltar a ele sem perder “o fio da meada”. 28 O ambiente escolar, neste período, deve ser desafiador e propiciar ocontato com as novidades que possibilitarão à criança agir em busca de respostas. O professor deve mostrar ao aluno o que ele sabe e aonde pode chegar, planejando com ele. Esse movimento dá segurança e melhora a auto-estima. A comparação entre os pares deve ser feita com cuidado. Entender o período em que a criança se encontra auxilia o educador aorganizar o ambiente que proporcione diversas interações e o seu desenvolvimento. Período operatório-formal (12 anos em diante) Nesta etapa o raciocínio hipotético-dedutivo é construído. O raciocínio hipotético- dedutivo é aquele que trabalha com hipóteses e faz deduções. O adolescente é capaz de formular essas hipóteses e pensar sobre elas sem a ajuda da referência concreta. Faz planos e os executa, sendo capaz de avaliar os resultados e replanejar. Na matemática, por exemplo, é capaz de trabalhar com equações e outras operações que não têm relação direta com algo que possa ser representado concretamente. Antecipa conseqüências e as analisa e seu pensamento torna-se livre das limitações da realidade concreta. É capaz de abstrair conceitos, entender doutrinas filosóficas, teorias científicas e dogmas religiosos. Consegue entender a religião, por exemplo, sem precisar ver e sentir nada. Tudo agora é possível em seu pensamento. Esse é o raciocínio que temos quando adultos. 29 PRATICANDO!! Exercício: Observe seus alunos. Proponha um problema do cotidiano da sala e analise com eles formas de resolvê-los. Observe como eles se comportam diante de desafios. Depois descreva: - Problema escolhido: _________________________________________ - Possíveis soluções apontadas por eles: __________________________ - Facilidade de consenso? ( ) SIM Porque: ______________________ 30 Em relação ao desenvolvimento sócio-moral, Piaget acredita que “a moral infantil esclarece, de certo modo, a do adulto. Portanto, nada é mais útil para formar os homens do que conhecer essas leis de formação” (Piaget, 1932/94, p. 22). Para esse autor, os jogos infantis são “admiráveis instituições sociais” que possibilitam o contato com um código complexo de regras e com toda uma jurisprudência e, exatamente por isso, apóia sua pesquisa na análise, principalmente, do jogo de bolinhas de gude. Piaget define a moral como “um sistema de regras” e afirma que a essência de toda moralidade está no respeito que os indivíduos adquirem por essas regras. A pergunta da pesquisa piagetiana não é por que, mas como a consciência chega a adquirir esse respeito. Em sua pesquisa, Piaget descobriu que a relação do sujeito com as regras do jogo se divide em dois fenômenos: a prática das regras e a consciência das regras. A consciência das regras está quase sempre atrasada em relação à prática das regras. Primeiro a criança age, para depois compreender as razões de suas ações. Para Piaget, primeiro a criança pratica a construção das regras, aplica-as, testa-as e as muda no grupo. Cria novas regras para, só depois, descobrir que elas não são sagradas, imutáveis e eternas. Por isso crianças pequenas têm dificuldades para emprestar coisas para outras crianças, pois,” se é meu, É MEU! E não tenho que emprestar.” Os estágios referentes à prática e à consciência das regras: Anomia (0-5 anos): a criança não tem consciência das regras e o seu agir é direcionado para a satisfação de impulsos motores ou de suas fantasias, estando ausente a preocupação com regras coletivas e com as atividades em grupo. Quando joga, seu jogo é voltado para sua satisfação motora como, por exemplo, colocar 31 bolinhas de gude nos buraquinhos do sofá ou colocar potes menores dentro de potes menores. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei Heteronomia (6-9 anos): a criança já percebe a existência de regras e aparece o interesse em participar de atividades coletivas. As regras, no entanto, são vistas pela criança como algo sagrado e imutável, dadas por uma entidade divina ou pela tradição e nunca como produto de um contrato. Piaget chama a heteronomia de “moral do dever”, pois aqui as crianças obedecem às regras por dever a um adulto ou a algo superior, mas não porque têm consciência do que elas significam. A prática das regras é imitativa, ou seja, a criança obedece determinadas regras seguindo os modelos oferecidos pelos adultos ou companheiros mais velhos, porém as adaptam segundo o seu egocentrismo. Nessa fase as crianças apresentam-se como juízes rígidos e absolutos em seus julgamentos, sugerindo punições graves para aqueles que cometeram alguma falta com grande prejuízo material, sem considerar a intenção dos envolvidos. https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 32 Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei Autonomia (10/11 anos em diante): apresenta características exatamente opostas à da heteronomia. A criança percebe-se como legisladora e entende que as regras derivam de um acordo mútuo entre as pessoas. Essa fase corresponde à visão do adulto (como possibilidade e não como fato). Nela, o sujeito sabe que há regras para se viver em sociedade, mas essas regras e o respeito a elas partem do seu interior; o sujeito autônomo é aquele que, olhando para si, enxerga também o outro, ou seja, descartam-se ideais egocêntricos e triunfam leis universais. A partir daqui, as crianças mais velhas adquirem a possibilidade de julgar os atos alheios por responsabilidade subjetiva, ou seja, de levar em conta as intenções de quem cometeu algum delito. Agora, o pedido de desculpas por algo cometido começa a fazer sentido. Realmente, as crianças conseguem, colocam-se umas no lugar das outras e percebem que algo pode ter acontecido “sem querer”. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 33 EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO!! Apresente um jogo aos seus alunos, mesmo que eles já o conheçam. Proponha que criem novas regras, pelo menos mais uma. Solicite que pensem em conseqüências para quem não cumpri-las. Depois relate aqui como se deu esse processo. Vygotsky (1896-1934) é um interacionista, assim como Piaget. Contudo, enquanto este enfatiza o desenvolvimento das estruturas cognitivas como os requisitos funfamentais para a aprendizagem, Vygotsky destaca a influência do meio ambiente, da história, da cultura e da sociedade como elementos mediadores por meio dos quais ocorre sua aprendizagem. Foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada pessoa ao insistir que as funções psicológicas são um produto de atividade cerebral. Conseguiu explicar a transformação dos processos psicológicos elementares em processos complexos dentro da história. Vygotsky enfatizava o processo histórico-social e o papel da linguagem no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de relações intra einterpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo denominado mediação. 34 Para Vygotsky, a medida que o indivíduo se relaciona com o ambiente é que ele vai aprendendo, modificando seu comportamento e orientando o desenvolvimento do pensamento. Este processo leva a transformação das funções psicológicas elementares superiores através da linguagem, que desde o nascimento reflete como a criança percebe o mundo, permite a comunicação, organiza a conduta, expressa o pensamento e ressalta a importância dos fatores culturais nas relações sociais. Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – principalmente o psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo processo de socialização, além das maturações orgânicas) – depende da aprendizagem na medida em que se dá por processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social, principalmente aquela planejada no meio escolar. . Ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie para realizar uma tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que propiciem esta aprendizagem. Não podemos pensar que a criança vai se desenvolver com o tempo, pois esta não tem, por si só, instrumentos para percorrer sozinha o caminho do desenvolvimento, que dependerá das suas aprendizagens mediante as experiências a que foi exposta. Neste modelo, o sujeito – no caso, a criança – é reconhecida como ser pensante, capaz de vincular sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura, sendo a escola um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado, onde o processo de ensino-aprendizagem envolve diretamente a interação entre sujeitos. 35 PARA REFLETIR!! Vigotsky fala que juntos, pensamento e linguagem, criam condições para o desenvolvimento do pensamento lingüístico e da fala intelectual. Por isso é necessário que a criança tenha contato com pessoas mais experientes para adquirir e ampliar a linguagem e possibilitar que ela interprete situações ou fatos a partir da sua própria existência. Fazendo esse caminho, o sujeito aprende a resolver seus conflitos. Se o desenvolvimento depende do social, só podemos concluir que na teoria Histórico-Cultural de Vygotsky, a aprendizagem é promotora do desenvolvimento, porque o social é o espaço da aprendizagem. Desenvolvimento Real e Desenvolvimento Potencial Vygotsky observa que a criança apresenta em seu processo de desenvolvimento um nível que ele chamou de real e outro de potencial. O nível de desenvolvimento real refere-se a etapas já alcançadas pela criança, isto é, as coisas que ela já consegue fazer sozinha, sem ajuda de outras pessoas. Já o nível de desenvolvimento potencial diz respeito à capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de outros. Há atividades que a criança não é capaz de realizar sozinha, mas poderá conseguir caso alguém lhe dê explicações, demonstrando como fazer. Essa possibilidade de alteração no desempenho de uma pessoa pela interferência da outra é fundamental em Vygotsky. Para ele, a zona de desenvolvimento proximal ou potencial, consiste na distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial. Cabe à escola ou a unidade de educação infantil, fazer a criança avançar na sua compreensão do mundo a partir do desenvolvimento já consolidado, tendo como metas posteriores, ainda não alcançadas, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. 36 É assim que as crianças, possuindo habilidades parciais, as desenvolvem com a ajuda de parceiros mais habilitados (mediadores) até que tais habilidades passem de parciais a totais. Temos que trabalhar, portanto, com a estimativa das potencialidades da criança, potencialidades estas que, para tornarem-se desenvolvimento efetivo, exigem que o processo de aprendizagem, os mediadores e as ferramentas estejam distribuídas em um ambiente adequado (Vasconcellos e Valsiner, 1995). Temos portanto uma interação entre desenvolvimento e aprendizagem, que se dá da seguinte maneira: em um contexto cultural, com aparato biológico básico interagir, o indivíduo se desenvolve movido por mecanismos de aprendizagem provocados por mediadores. Para Vygotsky, o processo de aprendizagem deve ser olhado por uma ótica prospectiva, ou seja, não se deve focalizar o que a criança aprendeu, mas sim o que ela está aprendendo. Em nossas práticas pedagógicas, sempre procuramos prever em que tal ou qual aprendizado poderá ser útil àquela criança, não somente no momento em que é ministrado, mas para além dele. É um processo de transformação constante na trajetória das crianças. As implicações desta relação entre ensino e aprendizagem para o ensino escolar estão no fato de que este ensino deve se concentrar no que a criança está aprendendo, e não no que já aprendeu. Vygotksy firma está hipótese no seu conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP) 37 Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei Vygotsky enfatiza a importância do brinquedo e da brincadeira de faz-de-conta para o desenvolvimento infantil. Por exemplo, quando a criança coloca várias cadeiras uma atrás da outra dizendo tratar-se de um trem, percebe-se que ela já é capaz de simbolizar, pois as cadeiras enfileiradas representam uma realidade ausente, ajudando a criança a separar ¨objeto¨ de ¨significado¨. Tal capacidade representa um passo importante para o desenvolvimento do pensamento, pois faz com que a criança se desvincule das situações concretas e imediatas sendo capaz de abstrair. PRATICANDO!! Na perspectiva de que é através das interações que o ser humano se desenvolve, registre como as interações adulto/criança criam condições para a criança desenvolver-se. E, como atuariam as interações criança/criança no mesmo processo? https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 38 Henri Wallon (1879-1962), médico francês, desenvolveu vários estudos na área da neurologia, enfatizando a plasticidade do cérebro. Wallon propôs o estudo integrado do desenvolvimento infantil, contemplando os aspectos da afetividade, da motricidade e da inteligência. Para ele, o desenvolvimento da inteligência depende das experiências oferecidas pelo meio e do grau de apropriação que o sujeito faz delas. Neste sentido, os aspectos físicos do espaço, as pessoas próximas, a linguagem, bem como os conhecimentos presentes cultura contribuem efetivamente para formar o contexto de desenvolvimento. Wallon assinala que o desenvolvimento se dá de forma descontínua, sendo marcado por rupturas e retrocessos, onde existe uma reformulação nos estágios anteriores. Assim sendo, ele conseguiu definir cinco estágios de desenvolvimento, afirmando que a pessoa se desenvolve num processo de constante transformação. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 39 ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO Estágio impulsivo-emocional (1º ano de vida): nesta fase predominam nas crianças as relações emocionais com o ambiente. Nesta fase vão se desenvolvendo as condições sensório-motores, a construção do sujeito. Estágio sensório-motor (1 a 3 anos): ocorre nesse período uma intensa exploração do mundo físico, a criança desenvolve a inteligência prática e a capacidade de simbolizar. Personalismo (3 a 6 anos): nesta fase ocorre a construção da consciência de si, através das interações sociais, dirigindo o interesse da criança para as pessoas, predominando as relações afetivas. Estágio categorial (6 a 12 anos): a criança dirige seu interesse para o conhecimento e a conquista do mundo exterior, em função do progresso intelectual queconseguiu conquistar. Predominância funcional (12 anos em diante): esta fase da adolescência apresenta predomínio da afetividade, os hormônios provocam mudanças no esquema corporal, levando a uma mudança na percepção de si mesmo. ATENÇÃO!! Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas por reformulação, instalando-se, no momento da passagem de uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança. 40 O estudo dos estágios em Wallon permite apontar que a criança extrai suas vivências principalmente do contato com outras pessoas, adultos ou crianças. Se os que a rodeiam a tratam com carinho, reconhecem seus direitos e se mostram atenciosos, a criança experimenta um bem-estar emocional, um sentimento de segurança, de estar protegida. Assim, para que a criança tenha um desenvolvimento saudável e adequado dentro do ambiente social, é necessário que haja um estabelecimento de relações interpessoais positivas, como aceitação e apoio, possibilitando o sucesso dos objetivos educativos. Obviamente, isso não significa fazer “vistas grossas” com relação aos erros da criança, pois a advertência segura e equilibrada é justamente uma manifestação importante da afetividade. Wallon também acredita que a construção do “EU” é essencialmente dialética, o que explica que ela continua em movimentos constantes e contraditórios, durante toda a existência humana, pois a criança é diferente, cognitiva e afetivamente falando, em cada fase do seu desenvolvimento. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 41 PRATICANDO!! Indique em que estágio de desenvolvimento está o seu grupo de crianças.As características desse estágio correspondem ás características das crianças? Sigmund Freud( 1856-1939) formou-se em medicina, especializando-se em neurologia, o que o levou a pesquisar a psique humana,culminando na criação da psicanálise. Uma das grandesdescobertas realizadas por Freud foi a do INCONSCIENTE. O ser humano édeterminado por processos que desconhece e, esses processos, fazem parte doinconsciente. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei Freud deu ênfase ao desenvolvimento sexual infanti. Para ele, a sexualidade é central no processo de transformação do ser humano. É por meio da vivência do prazer e do desprazer e da curiosidade sexual, que vamos nos constituindo como pessoas. https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 42 Para ele, a transformação da sexualidade acontece em cinco fases: 1º ano - Fase Oral: Prazer derivado dos lábios e da boca: sugar, comer, chupar odedo. Mais tarde, com a erupção dos dentes, prazer de morder. 2º ano - Fase Anal: Prazer derivado da retenção e expulsão das fezes e também do controle muscular. Treino dos esfíncteres. 3º - 5º anos - Fase Fálica: Prazer derivado da estimulação genital e fantasia associadas.Complexo de Édipo: interesse sexual do menino pela mãe e da menina pelo pai.Identificação com o pai do mesmo sexo. 6º - 12º anos - Fase de Latência: Com a repressão temporária dos interesses sexuais, o prazer derivado mundo externo, da curiosidade, do conhecimento, como gratificações substitutas.Desenvolvimento dos mecanismos de defesa. 12º até Idade adulta - Fase Genital: Prazer derivado das relações sexuais. Maturidade sexual, intimidade. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 43 Conhecer como a libido se desenvolve auxilia o professor a entender e lidar com as manifestações da sexualidade de seus alunos nos espaços educativos, evitando preconceitos e estigmas. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei Apesar de Freud defender que educar é uma tarefa impossível, autores como Kupfer(1992), Almeida(2006) e Lajonquiere(2006), defendem que é possível estabelecer uma ligação entre educação e psicanálise. Segundo esses autores, Freud defende que a única educação possível é aquela em que o professor deseja o aprendizado dos alunos. Sem desejo, não há educação. Portanto os professores devem trabalhar para que os alunos desejem o conhecimento. https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 44 CAPÍTULO 3 – AS TEORIAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO Piaget, Vygotsky e Wallon tentaram mostrar que a capacidade de conhecer e aprender se constrói a partir das trocas estabelecidas entre o sujeito e o meio. As teorias sociointeracionistas concebem, portanto, o desenvolvimento infantil como um processo dinâmico, pois as crianças não são passivas, meras receptoras das informações à sua volta. Através do contato com seu próprio corpo, com o ambiente, bem como através da interação com outras crianças e adultos, as crianças vão desenvolvendo a capacidade afetiva, a sensibilidade, a auto-estima, o raciocínio, o pensamento e a linguagem. A articulação entre os diferentes níveis de desenvolvimento (motor, afetivo e cognitivo) não se dá de forma isolada, mas sim de forma simultânea e integrada. Embora nem sempre concordantes em seus aspectos, os estudos destes teóricos tem possibilitado uma nova compreensão do desenvolvimento infantil e influenciado as ações educativas nos espaços infantis. No entanto é preciso ter claro que a compreensão de criança e desenvolvimento que se tinha no final do século passado, obteve inúmeras transformações com o avanço das áreas da Medicina, Biologia e Psicologia, bem como a Sociologia e a Pedagogia, produzindo importantes modificações na forma de pensar e agir em relação à criança pequena. Para Piaget, o desenvolvimento da inteligência acontece não apenas pelo acúmulo de informações, mas principalmente por uma reorganização da inteligência, que se dá pela ação, que poderá ser mental ou efeitva. 45 Essa reorganização se dá por meio dos processos de Adaptação e Equilibração: • Adaptação siginica evolução e ocorre por meio dos processos: Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei ❖ Assimilação: é o processo de se apropriar de um conhecimento mediante esquemas já existentes, ou seja, o sujeito interpreta o mundo e retira informações sobre o objeto de conhecimento que consegue compreender. ❖ Acomodação: é o processo de se modificar um esquema como resultado da aquisição de novas informações, ocorrendo assim a mudança na organização mental. ❖ Equilibração: este processo é o resultado dos processos de assimilação e acomodação, é o conhecimento organizado. Estar em equilíbrio significa construir um conhecimento que faça sentido, assim a criança constrói as teorias sobre o mundo que a cerca. https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 46 SAIBA MAIS O conceito de equilibração na sala de aula Apesar de não ter sido concebido num ambiente escolar, o conceito de equilibração ecoa diretamente na sala de aula. Juan Delval, aluno de Piaget e atualmente professor da Universidade Autônoma de Madri, na Espanha, explica que a ideia reforça a diferença entre ensino e aprendizagem: aquilo que cada estudante aprenderá não é exatamente o que o professor verbaliza em sala de aula, nem mesmo o que ele espera que seja assimilado. "A aprendizagem depende dos conhecimentos anteriores de cada um e de suas experiências. Para ampliá-la, além de propor situações que desestabilizem os conhecimentos estabelecidos, é preciso que eles se sintam motivados a realizar um esforço cognitivo para superar o problema", diz. O conceitode equilibração também provoca reflexões sobre as formas de ensino mais efetivas, que possibilitem a todos avançar. Dificilmente um aluno compreenderá que a Terra é redonda, apenas porque ouviu a professora falar que o planeta se parece como uma laranja (na verdade, se divulgada isoladamente, a informação pode até entrar em conflito com a experiência intuitiva de que o planeta é plano, ou levantar questionamentos sobre por que as pessoas na parte de baixo do globo não caem). Ele pode até decorar a informação, mas ela não será significativa. Para que todos possam avançar, a pesquisadora argentina Delia Lerner defende situações-problema que os levem a investigar, discutir, refletir, levantar questões e formular hipóteses, assumindo uma postura ativa em seu desenvolvimento. Esse reconhecimento, porém, não reduz a importância do professor. "Aceitar que as crianças são intelectualmente ativas não significa supor que o educador é passivo. Pelo contrário, significa assumir modalidades de trabalho que levem em consideração os mecanismos de construção do conhecimento", diz Delia no livro Piaget - Vygostky, Novas Contribuições para o Debate. Trecho de livro "Em uma perspectiva da equilibração, deve-se procurar nos desequilíbrios uma das fontes de progresso no desenvolvimento dos conhecimentos, pois só os desequilíbrios obrigam um sujeito a ultrapassar seu estado atual e procurar seja o que for em direções novas." Jean Piaget, no livro O Desenvolvimento do Pensamento. Comentário De acordo com o ponto de vista de Piaget, as situações que colocam em xeque aquilo que o indivíduo já sabe são as fontes da evolução das estruturas cognitivas. Sem elas, não haveria o processo de equilibração ("fontes de progresso no desenvolvimento dos conhecimentos"). Entretanto, é importante ressaltar que, ainda que as situações desestabilizadoras possuam um papel desencadeador (levando a pessoa a refletir sobre o desafio), para que haja aprendizado, é necessário que o sujeito tenha um papel ativo, tomando o problema para si e realizando um esforço cognitivo para superá-lo. FONTE: http://musicalizabrasil.blogspot.com.br/2012/01/pensadores-da-educacao-5-adaptacao-e.html 47 LITERATURA SUGERIDA: Piaget - Vygotsky, Novas Contribuiçõespara o Debate, José Antonio Castorina, Emilia Ferreiro, Delia Lerner e Marta Kohl de Oliveira, 175 págs., Ed. Ática, tel. 0800-11-5152, 44,90 reais Psicologia e EpistemologiaGenética de Jean Piaget, ZéliaRamozzi-Chiarottino, 104 págs., Ed. Pedagógica e Universitária, tel. (11) 3168-6077, 47 reais. Link Original: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/adaptacao- equilibracao-626714.shtml?page=0 Implicações do pensamento piagetiano para a aprendizagem Os objetivos pedagógicos necessitam estar centrados no aluno, partir das atividades do aluno. Os conteúdos não são concebidos como fins em si mesmos, mas como instrumentos que servem ao desenvolvimento evolutivo natural. • A aprendizagem é um processo construído internamente. • A aprendizagem depende do nível de desenvolvimento do sujeito. • A aprendizagem é um processo de reorganização cognitiva. • Os conflitos cognitivos são importantes para o desenvolvimento da aprendizagem. • A interação social favorece a aprendizagem. • As experiências de aprendizagem necessitam estruturar-se de modo a privilegiarem a colaboração, a cooperação e intercâmbio de pontos de vista na busca conjunta do conhecimento. Piaget não aponta respostas sobre o que e como ensinar, mas permite compreender como a criança e o adolescente aprendem, fornecendo um referencial para a identificação das possibilidades e limitações de crianças e adolescentes. Desta maneira, oferece ao professor uma atitude de respeito às condições intelectuais do aluno e um modo de interpretar suas condutas verbais e não verbais para poder trabalhar melhor com elas. http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/adaptacao-equilibracao-626714.shtml?page=0 http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/adaptacao-equilibracao-626714.shtml?page=0 48 Como afirma Kamii, seguidora de Piaget, "A essência da autonomia é queas crianças se tornam capazes de tomar decisões por elas mesmas. Autonomia não é a mesma coisa que liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de considerar os fatores relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho da ação. Não pode haver moralidade quando alguém considera somente o seu ponto de vista. Se também consideramos o ponto de vista das outras pessoas, veremos que não somos livres para mentir, quebrar promessas ou agir irrefletidamente"(1990, p.33) Pensar a criança e a educação infantil na atualidade, conforme afirma Oliveira(2007), passa necessariamente pelo reconhecimento histórico que a educação infantil está em processo de reconstrução. Muitos são os desafios e avanços conquistados. Reconhecer a criança, como sujeito de direitos requer rompimento com práticas adultocêntricas ainda presentes nas instituições de educação infantil. Neste sentido, Oliveira(2012), lança-nos alguns questionamentos: • Temos o hábito de ouvir as crianças? • Permitimos às crianças apropriar e produzir cultura? • Respeitamos a incompletude das crianças e entendemos que justamente essa incompletude que possibilita a capacidade de renovar e inventar o possível? • Emprestamos nossos olhos para que as crianças possam construir conhecimentos? Responder a esses questionamentos requer repensar as concepções de crianças e as teorias de desenvolvimento presentes em nosso cotidiano. O termo infância está carregado de sentidos e significados históricos. O conceito de infância não é recente, estudos do século XVIII já sinalizavam preocupação em compreendera criança de forma analítica. Foi a partir de estudos da psicologia e psicolingüística que a criança passou a ser reconhecida com uma nova identidade, como um membro ativo que interage com o outro e com o mundo a sua volta. 49 Uma pessoa complexa que constrói sua identidade e cuja aprendizagem e desenvolvimento vinculam-se à dimensão social, cognitiva, motora, afetiva, estética e ética. Neste contexto, cabe às instituições de educação infantil garantir esses direitos, se constituindo como um espaço privilegiado para as crianças formarem grupos. Segundo Wallon, os grupos são contituídos a partir de objetivos comuns, temporários ou duradouros, podendo mudar de acordo com a idade, com aptidões físicas, intelectuais e sociais. Nessa perspectiva, é necessário que os espaços educativos favoreçam a formação desses grupos, onde possam interagir entre seus pares e também com os adultos. A teoria wallonianaressalta o grupo como um veículo ou iniciador das práticas sociais. Ao entrar em contato com grupos variados, as crianças vão tomando consciência de suas próprias capacidades, de seus sentimentos e dos outros, tornando-se indivíduos mais livres nas suas interações e ampliando suas formas de relacionar-se com o outro, suas aprendizagens e personalidade, ou seja, a interação social é a principal ferramenta que permite a aprendizagem. A escola ou os espaços de educação infantil devem trabalhar para a formação do sujeito completo, superando as dicotomias e entendendo que, a criança e o adolescente são pessoas completas. Pensando nisso, Wallon deixa claro que sua contribuição para a educação é a possibilidade de olhar e entender que a criança, precisa saber conteúdos, mas que também precisa do movimento e das emoções para aprender conteúdos. Partindo desse princípio, que a educação não deve se fixar apenas nos conteúdos, a maneira como esses conteúdos são trabalhados, também devem ser variados. É preciso que o espaço da sala de aula, ou das unidades de educação infantilsejam amplos, para que as crianças possam se movimentar. Os móveis devem estar organizadosde forma que elas possam interagir; os objetos ao alcance, utilizando diversas dinâmicas de trabalho, em grupos, duplas, etc.. Além disso, o tempo e a rotina 50 devem ser organizados para que se tenha momentos de produção coletiva, mas também de produções individuais. Vygotsky estabele uma relação estreita entre o jogo e a aprendizagem, atribuindo- lhe uma grande importância, pois, o jogo gera zona de desenvolvimento proximal, que ele define como a diferença entre o desenvolvimento atual da criança, ou seja, o que ela é capaz de realizar sozinha e o desenvolvimento potencial, onde ela consegue realizar com ajuda. Dessa forma, Vygotsky (1988), construiu uma teoria que defende que o aprendizado gera desenvolvimento, por isso os educadores não devem se ater apenas nas habilidades já conquistadas pelas crianças, mas devem trabalhar para que elas possam ir além do contexto atual. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei Segundo Pino (2005), para Vigotski, a originalidade do desenvolvimento da criança reside no fato de que as funções naturais, regidas por mecanismos biológicos, e as funções culturais, regidas por leis históricas, fundem-se entre si, constituindo um sistema mais complexo. De um lado, as funções biológicas transformam-se sob a ação https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 51 das funções culturais e, de outro lado, as funções de natureza culturais têm nas funções biológicas o suporte de que precisam para constituir-se. Em condições normais de desenvolvimento biológico, as funções culturais vão se constituindo seguindo um ritmo até mesmo previsível.Desse modo, o desenvolvimento ocorre do social para o individual, em dois planos diferentes, embora intrinsecamente relacionados. Suas etapas passam a ser compreendidas levando em conta os aspectos histórico-sociais e o lugar singular onde as pessoas se encontram. Perceber o desenvolvimento dessa forma nos permite refletir sobre as diferenças referentes ao ritmo do desenvolvimento e da aprendizagem perante a diversidade so-cial, cultural e econômica dos sujeitos. O desenvolvimento orgânico é regido por forças naturais e o desenvolvimento cultural, que define a especificidade humana, emerge da progressiva inserção da criança nas práticas sociais do seu meio cultural com auxílio da mediação do outro (Pino, 2005). Considera-se, nessa perspectiva, que o sujeito, ao nascer, ainda não está “pronto” e que o mesmo será aquilo em que se transformará a partir de suas interações sociais nos mais diversos contextos. Assim, é possível compreender que a aprendizagem precede o desenvolvimento. Nesse aspecto, pontuamos o papel primordial do educador como mediador, uma vez que, ao interagir com o educando, o auxilia a internalizar, paulatinamente, o que vai sendo construído nessa relação. Essa perspectiva confere, portanto, grande importância ao papel da escola e da mediação do professor possibilitada pela linguagem. Assim, a aprendizagem é concebida como um processo de construção compartilhada, uma construção social, na qual o papel do professor é o de sempre atuar no desenvolvimento potencial do aluno para levá-lo por meio da aprendizagem a um desenvolvimento real. Com base em Vigotski, ressaltamos que só a boa aprendizagem promove o desenvolvimento e que o bom ensino é aquele que apresenta uma orientação prospectiva, ou seja, dirigida ao que o aluno ainda não é capaz de fazer sozinho, mas já é capaz de fazer com auxílio deum outro mais experiente. O bom ensino é o que relaciona os conceitos científicos (conceitos construídos em situação formal de 52 aprendizagem) aos conceitos espontâneos (conceitos construídos em situações cotidianas, não-sistematizadas) e auxilia o educando a internalizar os conceitos científicos em um movimento espiralado, no qual vai aprendendo novos conceitos e, por conseguinte, se desenvolvendo. Vigotski (1991) apresenta o fato de que as crianças iniciam seu aprendizado antes mesmo de entrarem para a escola, justamente o aprendizado dos conceitos espontâneos. Sendo assim, qualquer situação de aprendizado apresenta uma história prévia e, consequentemente, as crianças já possuem suas primeiras hipóteses sobre os conteúdos a serem trabalhados, as quais só não podem ser percebidas pelos “psicólogos e professores míopes”. Dessa forma, para Vigotski, o aprendizado e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida dos sujeitos. Vigotski anunciou em “Educational Psychology” que “o pré-requisito fundamental da pedagogia exige, inevitavelmente, um elemento de individualização, isto é, uma determinação consciente e rigorosa das metas individualizadas da educação para cada aluno” (Vygotsky, 1997b apud Daniels, 2003, p. 113), ponto que sugere a importância de uma atitude de responsividade frente à diversidade permeando as práticas pedagógicas, em vez da imposição da mesmice na aprendizagem e no desenvolvimento. Podemos encontrar nos textos de VYGOTSKY a idéia de que existe um processo de maturação do organismo e tomando o funcionamento intelectual como essencialmente sócio-histórico, VYGOTSKY (1984) coloca a aprendizagem como "um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas". Isto é, existe, sim, um percurso de desenvolvimento intelectual, mas é a aprendizagem que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que, não fosse o contato do indivíduo com um certo ambiente cultural, não ocorreriam. Desempenhos cognitivos que um indivíduo é capaz de ter, numa certa fase de seu desenvolvimento, quando tutorado ou instruído por alguém, não ocorreriam 53 autonomamente. É como se o auxílio externo fosse um dos motores do desenvolvimento, provocando processos internos que ainda vão amadurecer em capacidade de desempenho independente. Essa concepção atrela o processo de desenvolvimento à relação do indivíduo com o ambiente sócio-cultural em que vive e com sua situação de organismo que não se desenvolve plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie. A implicação dessa proposta de VYGOTSKY para o ensino escolar é imediata. Se a aprendizagem impulsiona o desenvolvimento, por um lado a escola tem um papel essencial na construção do intelecto adulto dos indivíduos que vivem em sociedades escolarizadas. Por outro lado, o desempenho desse papel só se dá adequadamente na medida em que, conhecendo a situação de desenvolvimento cognitivo dos alunos, a escola dirige o ensino não para etapas intelectuais já alcançadas, mas sim para estágios de desenvolvimento ainda não incorporados pelos alunos, funcionando realmente como um motor de novas conquistas intelectuais. É nesse sentido que cabe a afirmação de que "o único bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento". Os processos mentais superiores que caracterizam o pensamento tipicamente humano são processos mediados por sistemas simbólicos. Isto é, operamos mentalmente com representações dos objetos, eventos e situações do mundo real, sendo capazes de manipular as representações na ausência das coisas representadas. Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 54 Essa capacidade de representação simbólica liberta o homem da necessidade de interação concreta com os objetos de seu pensamento, permitindo que ele pense sobre coisas passadas ou futuras, inexistentes ou ausentes do espaço onde ele se encontra, sobre planos, projetos e intenções. A partir de sua experiência com o mundo objetivo e do contato com as formas culturalmente determinadas de ordenação e designação das categorias da experiência, o indivíduo vai entãoconstruindo sua estrutura conceituai, seu universo de significados. Esse é um processo que ocorre ao longo do desenvolvimento intelectual da criança e do adolescente e persiste na vida adulta - o indivíduo está sempre adquirindo novos conceitos, incorporando novas nuançes de significado a eles e reordenando as relações entre os conceitos disponíveis. A cada momento da vida do indivíduo ele disporá, então, de uma certa estrutura conceitual, a qual é uma espécie de rede de conceitos interligados por relações de semelhança. Essa rede de conceitos representa, ao mesmo tempo, o conhecimento que ele acumulou sobre as coisas e o filtro através do qual ele é capaz de interpretar os fatos, eventos e situações com que se depara no mundo objetivo. A principal dedicação de Vygotsky foi o estudo das funções psicológicas superiores ou processos mentais superiores (pensar em objetos ausentes, imaginar eventos nunca vividos, planejar ações a serem realizadas em momentos posteriores, etc.). Vamos à eles: O uso de signos. A utilização de signos como auxiliares no tocante a solução de problemas psicológicos (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher etc.) pode ser comparada à utilização de instrumentos, só que no plano psicológico. O signo age como um instrumento da atividade da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho. Uma das grandes diferenças entre eles, no entanto, decorre do fato de que os instrumentos são elementos externos ao indivíduo e a sua função é 55 modificar e controlar os processos da natureza, enquanto os signos são orientados para o próprio sujeito e tem por função o controle de ações psicológicas, seja do próprio indivíduo, seja de outras pessoas. Os sistemas simbólicos e o processo de internalização. O uso de instrumentos sofre duas mudanças qualitativas fundamentais: por um lado, a utilização de marcas externas vai se transformar em processos internos de mediação; esse mecanismo é chamado, por Vygotsky, de processos de internalização; por outro lado, são desenvolvidos sistemas simbólicos, que organizam os signos em estruturas complexas e articuladas. Ao longo do processo de desenvolvimento, o indivíduo deixa de necessitar de marcas externas e passa a utilizar signos internos, isto é, representações mentais que substituem os objetos do mundo real. Os signos ou instrumentos se constituem em elementos essenciais na formação e no funcionamento da consciência. Sobre o caráter do instrumento, escreve Leontiev (2004), O instrumento não é para o homem um simples objeto de forma exterior determinada e possuindo propriedades mecânicas definidas; ele manifesta-se-lhe como um objeto no qual se gravam modos de ação, operações de trabalho socialmente elaborados. Por tal motivo, a relação adequada do homem ao instrumento traduz-se antes de tudo, no fato do homem se aproximar, na prática ou em teoria, isto é, (apenas na sua significação) das operações fixadas no instrumento, desenvolvendo assim suas capacidades humanas. (p.180). Quando trabalhamos com os processos que caracterizam o funcionamento psicológico tipicamente humano, as representações mentais da realidade exterior são, na verdade, os principais mediadores a serem considerados na relação do homem com o mundo. Os sistemas de representação da realidade – e, a linguagem é o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos – são socialmente dados. É o grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que lhe fornece formas de perceber e organizar o real, as quais vão constituir os instrumentos psicológicos que fazem a mediação entre o indivíduo e o mundo. 56 A vida humana, entretanto, está impregnada de significações e a influência do mundo social se dá por meio de processos que ocorrem em diversos níveis. A interação de indivíduos possibilita a interiorização das formas culturalmente estabelecidas de funcionamento psicológico. Por isso, o intercâmbio social fornece a matéria-prima para o desenvolvimento psicológico do indivíduo. As conclusões dos estudos da psicologia do desenvolvimento acerca da construção da inteligência, da linguagem e do conhecimento pelas crianças, observadas em idade cada vez mais precoce, tem sido assimiladas pelas instituições de educação infantil. Muitas destas estão preocupadas com a construção de uma proposta pedagógica, que julgam progressista, orientada primordialmente para o desenvolvimento cognitivo. Este, no entanto, é por elas entendido de modo muito restrito, igorando-se, por exemplo, a função do afeto nesse processo. Além disso, o desenvolvimento do raciocínio lógico e a construção de conceitos científicos são, muitas vezes, eleitos como metas de trabalho pedagógico com os pequenos, antecipando características do ensino fundamental tradicionalmente organizado. A instituição de educação infantil pode atuar como agente de transmissão de conhecimentos elaborados pelo conjunto das relações sociais presentes em determinado momento histórico. Porém, isso deve ser feito na vivência cotidiana com parceiros significativos, quando modos de expressar sentimentos em situações particulares, de recordar, de interpretar uma história, de compreender um fenômeno da natureza transmitem à criança novas maneiras de ler o mundo e a si mesma. Ela consegue assimilar esses conhecimentos porque eles fazem sentido para aqueles que com ela convivem e que, pelo uso que fazem dessas relações culturais. Tais aprendizagens promovem o desenvolvimento das funções psicológicas das crianças. 57 SINTETIZANDO!! ❖ No campo da psicologia, uma série de autores oferecia novas formas de compreender e promover o desenvolvimento das crianças pequenas. Vygotsky, na década de 20 e 30, atestava que a criança é introduzida na cultura por parceiros mais experientes. ❖ Ainda na primeira metade do século XX, Wallon destacava o valor afetividade na diferenciação que cada criança aprende a fazer entre si mesma e os outros. Os psicanalistas reconheciam que o comportamento infantil deveria ser interpretado, e não meramente aceito em seus aspectos observáveis. ❖ Finalmente, as pesquisas de Piaget e colaboradores que revolucionaram a idéia dominante sobre a criança. Essas concepções foram sendo gradadtivamente apropriadas pelas teorias pedagógicas e tornaram-se alvo de especial atenção na educação infantil. 58 PRATICANDO!! De que forma as concepções de desenvolvimento podem auxiliar o educador na confecção de seu planejamento? E a nível de instituição de ensino, como podem colaborar para elaboração de um Projeto Político Pedagógico? 59 CAPÍTULO 4 - O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM, MOTRICIDADE E COGNIÇÃO Fonte: https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei O indivíduo vive imerso em um espaço em que tanto ele quanto os objetos que o rodeiam formam um conjunto de relações que se estruturam com grande complexidade; daí a necessidade de percebê-las, reconhecê-las e representá-las mentalmente. O desenvolvimento dele dar-se-á pela apropriação da linguagens e de formas cognitivas mais complexas existentes em seu entorno cultural, a qual ocorre nos inúmeros momentos em que ele estabelece e precebe relações com elementos de sua cultura. https://www.google.com.br/search?q=inatismo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ei 60 Pensamento e Linguagem A principal função da linguagem, de acordo com Vygotsky, é a de intercâmbio social: é para se comunicar com seus semelhantes que o homem cria e utiliza os sistemas de linguagem. Tal intercâmbio necessita, para que seja possível uma comunicação mais sofisticada, da segunda função da linguagem: o pensamento generalizante. Este consiste nos signos, os quais simplificam e generalizam a experiência vivida, o que permite que ela seja
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