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01 - NeoConstitucionalismo, Conceito de CF, Classificação, Eficácia e Aplicabilidade

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1 
 
TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 
(NEO) CONSTITUCIONALISMO – Capítulo 1 – Pedro Lenza 
Noções Gerais: 
Hoje, apesar da suposta utilidade didática da dicotomia entre direito público e privado, não é mais 
adequado falar em ramos do direito, mas em um verdadeiro escalonamento verticalizado e hierárquico 
de normas, apresentando-se a Constituição como norma de validade de todo o sistema (inclusive do 
direito civil, para passa por um processo de descodificação – com a criação de microssistemas – e 
despatrimonialização, em razão da eficácia horizontal dos direitos fundamentais nas relações privadas), 
situação essa decorrente do princípio da unidade do ordenamento e da supremacia da Constituição (força 
normativa da Constituição, de Konrad Hesse). 
Conceito de Constitucionalismo: 
Constitucionalismo é a evolução histórica do Direito Constitucional. Ele gravita em torno das seguintes 
ideias básicas: Separação de Poderes, Garantia de Direitos e Princípio do Governo Limitado. 
Karl Loewenstein, um dos maiores constitucionalistas, afirma: “a história do constitucionalismo não é, 
senão, a luta do homem político pela limitação do poder absoluto”. Surgiu, portanto, como uma reação ao 
absolutismo, contendo regras de limitação do poder autoritário e de prevalência dos direitos fundamentais. 
Canotilho, por sua vez, conceitua o constitucionalismo como uma “teoria ou ideologia que ergue o 
princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante da 
organização político‐social de uma comunidade”. 
Segundo Uadi Lammêgo Bulos, Constitucionalismo em: 
Sentindo Amplo: “Constitucionalismo é o fenômeno relacionado ao fato de todo Estado possuir uma 
Constituição em qualquer época da humanidade, independentemente do regime jurídico adotado”. 
Sentido Estrito: “É a técnica jurídica de tutela das liberdades, surgida nos fins do Séc. XVIII, que 
possibilitou aos cidadãos exercerem, com base em constituições escritas, os seus direitos e garantias 
fundamentais”. 
Kildare Gonçalves Carvalho, por seu turno, vislumbra tanto uma perspectiva jurídica como uma 
sociológica: 
Em termos jurídicos, reporta‐se a um sistema normativo, enfeixado na Constituição, e que se encontra 
acima dos detentores do poder; 
Sociologicamente, representa um movimento social que dá sustentação à limitação do poder, 
inviabilizando que os governantes possam fazer prevalecer seus interesses e regras na condução do 
Estado’. 
André Ramos Tavares identifica 4 sentidos para o constitucionalismo: 
2 
 
Movimento político-social com origens históricas bastante remotas que pretende, em especial, limitar o 
poder arbitrário; 
Imposição de que haja cartas constitucionais escritas; 
Propósitos mais latentes e atuais da função e posição das constituições nas diversas sociedades; 
Evolução histórico‐constitucional de um determinado Estado. 
LENZA: “os textos constitucionais contêm regras de limitação ao poder autoritário e de prevalência dos 
direitos fundamentais, afastando‐se da visão autoritária do antigo regime”. 
FASES HISTÓRICAS DO CONSTITUCIONALISMO 
Constitucionalismo Antigo 
Constitucionalismo hebreu Grécia Roma 
A primeira experiência de 
Constitucionalismo ocorreu no 
Estado hebreu (era um estado 
teocrático e os poderes do 
soberano eram limitados pela 
Igreja 
Durante breves e brilhantes 
centúrias, existiu um regime 
político absolutamente 
constitucional: a democracia 
direta das Cidades--‐Estados 
gregas, no século V. Aqui, o 
poder era dividido entre todos 
os cidadãos. 
Também havia limites ao poder do 
Estado, sobretudo na fase da 
República (antes do império). 
Destaca--‐se aqui o valor 
liberdade (limitada aos 
patrícios, logicamente). 
 
São características do constitucionalismo antigo: 
 Inexistência de constituições escritas, prevalecendo acordos de vontade; 
 As leis poderiam ser mudadas sem maiores formalidades; 
 Vigorava a irresponsabilidade governamental. Os imperadores não estavam obrigados a seguir as 
normas jurídicas. 
CONSTITUCIONALISMO MEDIEVAL (SÉC V ATÉ O FIM DO IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE) 
MAGNA CARTA DE 1215, outorgada na Inglaterra, pelo rei João Sem Terra, filho de Henrique II, 
representa o grande marco do constitucionalismo medieval, protegendo diversos direitos individuais. 
Estatuto ou Nova Constituição de Merton (1236); Petition of Rights (1628); Habeas Corpus Act (1679); 
Bill of Rights (1689) e o; Act of Settlement (1701). 
Vejamos as principais características do constitucionalismo nesse período: 
 Predomínio da concepção jusnaturalista de constituição; 
 Existência de autênticas constituições não escritas; 
3 
 
 Ideia de que a autoridade dos governantes era fundada num contrato com os súditos. Deus seria 
o árbitro do seu fiel cumprimento; 
Os cidadãos, ao menos teoricamente, não poderiam ser submetidos ao poder arbitrário. Aqui, iniciou-se 
o Rule Of Law (Governo das Leis, pressuposto básico da Democracia, marco do constitucionalismo – 
Limitação ao poder arbitrário e igualdade dos cidadãos perante a lei). 
CONSTITUCIONALISMO MODERNO 
Clássico ou Liberal 
Começa no final do séc. XVIII, com as revoluções liberais (francesa e norte-americana), e vai até a 
Primeira Guerra Mundial (1914). 
Até então, não existia Constituição escrita, mas simplesmente baseada nos costumes. A primeira 
Constituição escrita que existiu foi dos EUA, em 1787, seguida da Constituição francesa de 17912. 
Com a Constituição escrita surge a rigidez constitucional (processo mais solene, com dificuldade de 
alteração de suas normas). A Constituição rígida, por sua vez, é caracterizada pela supremacia, surgindo 
a ideia de supremacia da Constituição. 
Nessa fase do Constitucionalismo surgiram os direitos de primeira dimensão: direitos fundamentais 
relacionados com o valor liberdade, elegendo-se o povo como o titular legítimo do poder (pela Revolução 
Francesa). 
Estado Liberal, abstencionista, ninguém está acima da lei, legalidade administrativa, Estado limitado a 
defesa da ordem e seguranças públicas. 
CONSTITUCIONALISMO MODERNO OU SOCIAL 
Teve uma duração curta, existindo no período entre guerras (1918-1945). 
Esse novo Constitucionalismo surgiu em razão da crise econômica e financeira pela qual o mundo 
passava, em decorrência do esgotamento fático do Constitucionalismo Liberal, incapaz de atender as 
demandas por direitos sociais. O Estado abstencionista é, assim, substituído pelo Estado intervencionista. 
Nessa fase do Constitucionalismo, o rol de direitos fundamentais é aumentado, surgindo a segunda 
dimensão de direitos fundamentais (coletivos), ligados ao valor “igualdade”. Essa é a igualdade material, 
pois a igualdade formal já existia na época do Constitucionalismo Clássico. 
Os direitos de segunda dimensão e o Constitucionalismo moderno tiveram como documentos 
marcantes a Constituição do México, de 1917, e a de Weimar, de 1919. Essas Constituições influenciaram 
a criação da Constituição brasileira de 1934. 
Intervenção do Estado no domínio social, econômico, laboral, garantia de um mínimo de bem estar social. 
 
4 
 
NEOCONSTITUCIONALISMO 
Essa fase do constitucionalismo é fundada do paradigma jurídico do pós‐positivismo, em se busca não 
mais apenas atrelar o constitucionalismo à ideia de limitação de poder político, mas, acima de tudo, buscar 
a eficiência da Constituição. Seu modelo normativo é AXIOLÓGICO, porque enquanto o caráter ideológico 
do constitucionalismo moderno era apenas limitar o poder, o caráter ideológico do neoconstitucionalismo 
é o de concretizar direitos fundamentais. 
CONSTITUCIONALISMO MODERNO NEOCONSTITUCIONALISMO 
Hierarquia formal entre normas constitucionais e 
infra 
 
Hierarquia entre normas baseada em valor 
(axiológica) 
 
Finalidade: Limitação de poder Finalidade: Concretização dos direitos 
fundamentais 
 
Características: 
a) Positivação e concretização de um catálogo de direitos fundamentais 
b)Onipresença dos princípios e das regras 
c) Inovações hermenêuticas 
d) Densificação da força normativa do Estado 
e) Desenvolvimento da justiça distributiva (eficácia de direitos sociais) 
Normatividade da Constituição (Konrad Hesse) – Define que a norma constitucional tem status de 
norma jurídica, sendo dotada de imperatividade. 
Supremacia Constitucional – essa característica também já existia desde as primeiras constituições 
escritas. Para ter supremacia formal, a Constituição tem que ser rígida e, para ser rígida, tem que ser 
escrita. 
Centralidade da Constituição – A Constituição passa a ser o centro do sistema jurídico, marcada por 
intensa carga valorativa. A centralidade da Constituição se reflete no fenômeno da Constitucionalização 
dos ramos específicos do Direito (ex: constitucionalização do direito civil). 
Expressões da centralidade da Constituição: 
Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais: impõe sua observância nas relações entre particulares. 
Filtragem Constitucional: Define que tudo deve ser interpretado a partir da Constituição, que servirá de 
norma de validade de todo o sistema, que deverá estar em consonância com seu espírito. 
Rematerialização da Constituição: é uma característica comum às Constituições do pós-guerra. 
Significa que o conteúdo da Constituição foi revisto e ampliado. Novos direitos fundamentais foram 
5 
 
incorporados às Constituições, que passaram a adotar, também, por exemplo, diretrizes políticas. Por 
isso, as Constituições passaram a ser prolixas. 
Maior Abertura da Interpretação Constitucional: a interpretação constitucional evoluiu e hoje temos 
vários métodos específicos para a interpretação da Constituição. 
Fortalecimento do Poder Judiciário: antes da Constituição de 1988, somente existia uma ação de controle 
de constitucionalidade abstrato, hoje temos 4. Nenhum outro país do mundo tem tantas formas de controle 
de constitucionalidade como o Brasil. 
Marcos Fundamentais para o Neoconstitucionalismo 
Histórico: Estado Constitucional de Direito, Constituições a partir da 2ª Guerra Mundial e 
Redemocratização; 
Filosófico: Pós-positivismo (direito-ética) e Direitos Fundamentais; 
Teórico: Força normativa da Constituição, Supremacia da Constituição e nova dogmática da 
interpretação constitucional. 
PÓS-POSITIVISMO 
O pós‐positivismo é o paradigma jurídico do constitucionalismo contemporâneo, como uma filosofia do 
Direito que surge após a Segunda Guerra Mundial, quando perceberam que a legalidade estrita poderia 
dar fundamento a muitas atrocidades (como ocorreu na Alemanha nazista, que era um Estado de Direito). 
O pós‐positivismo passou a buscar a reaproximação entre o direito e a moral, ou seja, com a noção de 
justiça. Não representa um retorno ao jusnaturalismo, mas algo novo. Ela tenta ser um ponto intermediário 
entre o jusnaturalismo (direito natural, posto) e juspositivismo. 
Características: Adequação entre o positivismo e jusnaturalismo e Reconhecimento do caráter normativo 
dos princípios. 
DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
No Constitucionalismo Contemporâneo surgem os direitos de terceira dimensão, ligados à fraternidade 
ou solidariedade. Hoje já se fala em direitos que quarta e quinta geração, mas a partir da terceira 
dimensão, há divergência da doutrina na classificação dos direitos. 
Classificação de Paulo Bonavides (rol exemplificativo dos direitos): 
Primeira dimensão: direitos civis ou políticos, individuais, ligados aos valores burgueses da propriedade 
e, principalmente, da liberdade. 
Segunda dimensão: direitos coletivos sociais, econômicos ou culturais, fundados no valor da igualdade 
material. 
6 
 
Terceira dimensão: direitos ligados ao valor fraternidade, solidariedade. Ex: direito ao meio ambiente; 
autodeterminação dos povos, direito ao progresso ou desenvolvimento; direito de comunicação, etc. São 
direitos transindividuais. 
Quarta dimensão: são os direitos ligados ao valor “pluralidade”. Ex: democracia, informação e pluralismo. 
Quinta dimensão: recentemente, Paulo Bonavides classificou a paz como direito fundamental de quinta 
dimensão. Pedro Lenza e André Ramos Tavares classificam a paz como direito de terceira dimensão. 
CARACTERÍSTICAS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: 
Preocupação com a efetividade e com a dimensão material dos direitos fundamentais: enquanto a 
preocupação antes era com a consagração dos direitos na Constituição, agora busca‐se que os direitos 
já consagrados sejam efetivados. 
O direito deve ser exercido e organizado em termos democráticos: No Brasil, temos mecanismos de 
democracia direta e indireta (participação popular). 
O legislador passa a ter, além das limitações formais, limitações materiais: o legislador não está limitado 
apenas em relação ao processo como elabora a lei, mas também ao conteúdo, a substância, das normas 
que cria. 
A democracia não é apenas a democracia formal (vontade da maioria e eleições periódicas). Hoje, a 
democracia é vista em um sentido substancial. Além das acepções tradicionais da democracia, entra um 
componente novo: a garantia de direitos fundamentais para todos, inclusive para as minorias. 
VALORES FUNDAMENTAIS QUE DEVEM NORTEAR O CONSTITUCIONALISMO DO FUTURO: 
Verdade – As Constituições não podem gerar falsas expectativas, somente devendo consagrar o que 
puder ser cumprido. 
Solidariedade – É uma nova perspectiva da igualdade: solidariedade entre os povos, dignidade da 
pessoa humana e justiça social. 
Consenso – A Constituição deverá ser fruto de consenso democrático. 
Continuidade – As Constituições não devem ficar sofrendo reformas continuamente, como acontece 
hoje. Ao se reformar a Constituição, a ruptura não pode deixar de levar em conta os avanços já 
conquistados. 
Participação – Consagração da democracia participativa. 
Integração – Criação de órgãos supranacionais que integrem os povos. 
Universalização – Consagração de direitos fundamentais internacionais, fazendo prevalecer a dignidade 
da pessoa humana universalmente, afastando a desumanização. 
 
7 
 
ORIGEM E CONTEÚDO DO DIREITO CONSTITUCIONAL 
O Direito Constitucional é um ramo do Direito Público, fundamental a organização, ao funcionamento e a 
configuação política do Estado. Nesse papel, o Direito Constitucional estabelece a estrutura do estado, a 
organização de seus instituições e órgãos, o modo de aquisição e exercício de poder, por meio, 
especialmente, de previsão dos direitos e garantias fundamentais. 
Constituição: Noções Iniciais, Objeto E Evolução 
A constituição deve ser entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado, que rege a sua 
organização político-jurídica. 
Conceito ideial de constituição (segundo Canotilho): 
 A constituição deve ser escrita; 
 Deve conter uma enumeração de DIREITOS FUNDAMENTAIS; 
 Deve adotar um sistema democrático formal (participação do povo na aleaboração dos atos 
legislativos); 
 Deve assegurar a limitação do poder do Estado mediante o princípio da divisão dos poderes. 
A Constituição Em Sentindo Sociológico, Político E Jurídico 
Constituição em sentido SOCIOLÓGICO 
Na visão sociológica, a constituição é concebida como FATO SOCIAL, e não propriamente como norma. 
O texto positivo da constituição seria resultado da realidade social do País, das forças sociais que 
imperam na sociedade, em determinada conjuntura histórica. 
Caberia a constituição escrita, tão somente, reunir e sistematizar esses valores sociais num documento 
formal, documento este que só teria eficácia se correspondesse aos valores presentes na sociedade. 
Representante da visão sociológica foi Ferdinand Lassale. Para ele, a constituição é a soma dos fatores 
reais de poder que nele atuam. Segundo Lassale, convivem em um País, paralelamente, duas 
constituições: uma constituição real, efetiva, que corresponde a soma dos fatores reais de poder que 
regem esse País, e uma constituição escrita, por ele denominada “folha de papel”. 
A constituiçãoescrita só teria validade se correspondesse a constituição real. Em caso de conflito entre 
a constituição real e a escrita, esta última sempre sucumbiria. 
 Crítica: Não reconhece que a Constituição pode ser instrumento de alteração da realidade. 
Constituição em sentido POLÍTICO 
A concepção política foi desenvolvida por Carl Schmitt, para o qual a constituição é uma DECISÃO 
POLÍTICA FUNDAMENTAL, qual seja, a decisão política do titular do poder constituinte. 
8 
 
A constituição surge, portanto, a partir de um ato constituinte, fruto de uma vontade política fundamental 
de produzir uma decisão eficaz sobre modo e forma de existência política de um Estado. 
Para essa teoria, a decisão é válida quando emanada de um poder constituinte e se estabelece por 
vontade dele. 
IMPORTANTE! Nessa concepção política, Schmitt estabeleceu uma distinção entre CONSTITUIÇÃO e 
LEIS CONSTITUCIONAIS: a constituição disporia somente sobre as matérias de grande relevância 
jurídica; as demais normas integrantes do texto de uma constituição seriam, tão somente, leis 
constitucionais. 
Com base nessa teoria, podemos mencionar um aspecto importante para concursos: a distinção entre 
Constituição em sentido material e Constituição em sentido formal. 
Constituição em sentido JURÍDICO 
Em sentido jurídico, a constituição é compreendida de uma perspectiva estritamente FORMAL, 
apresentando-se como pura norma jurídica, como norma fundamental do Estado e da vida jurídica de 
um país, paradigma de validade de todo o ordenamento jurídico e instituidora da estrutura primacial desse 
Estado. A constituição consiste, pois, num sistema de normas jurídicas. 
O pensador mais associado a essa concepção foi Hans Kelsen, que desenvolveu Teoria Pura do 
Direito. Para Kelsen, a constituição é considerada como norma pura, como puro dever-ser, sem qualquer 
consideração de cunho sociológico, político ou filosófico. Embora reconheça a relevância dos fatores 
sociais numa dada sociedade, Kelsen sempre defendeu que seu estudo não compete ao jurista como tal, 
mas ao sociólogo e ao filósofo. 
Segundo Kelsen, a validade de uma norma jurídica positivada é completamente independente de sua 
aceitação pelo sistema de valores sociais vigentes em uma comunidade, tampouco guarda relação com 
a ordem moral. 
Essa era a essência da teoria pura do direito: desvincular a ciência jurídica de valores morais, 
políticos sociais ou filosóficos. Kelsen desenvolveu dois sentidos para a palavra constituição: (i) 
sentido lógico-jurídico; (ii) sentido jurídico positivo. 
Em SENTIDO LÓGICO-JURÍDICO, constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é 
servir de fundamento lógico transcendental da validade da constituição em sentido jurídico positivo. 
Em SENTIDO JURÍDICO POSITIVO, constituição corresponde a norma positiva suprema, conjunto de 
normas que regulam a criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto grau. 
Assim, defende-se que uma norma jurídica só é valida se encontrar fundamento em norma superior que 
lhe regula o processo de criação. 
Qual a norma de maior hierarquia? 
9 
 
A Constituição, sendo ela reguladora da produção das outras normas jurídicas estatais, servindo de 
fundamento de validade. 
Constituição em Sentido Material e Formal 
Foi Carl Schmitt que esboçou a ideia de constituição em sentido material e formal. 
Constituição em sentido material (ou substancial) é o conjunto de normas, escritas ou não escritas, 
cujo conteúdo seja considerado propriamente constitucional, isto é, essencial a estruturação do Estado, 
a regulação do exercício do poder e ao reconhecimento de direitos fundamentais aos indivíduos. 
Sob o ponto de vista MATERIAL, portanto, o que possui relevância para a caracterização de uma norma 
como constitucional é o seu CONTEÚDO, pouco importando a forma pela qual tenha sido inserida no 
ordenamento jurídico. 
O conceito FORMAL de constituição diz respeito à existência, em um determinado Estado, de um 
documento único, escrito por um órgão soberano instituído com essa específica finalidade que só pode 
ser alterado mediante procedimento legislativo mais árduo do que o necessário a aprovação das normas 
não constitucionais pelos órgãos legislativos constituídos. 
Na acepção formal, portanto, o que define uma norma como constitucional é a forma pela qual ela foi 
introduzida no ordenamento jurídico, e não o seu conteúdo. 
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
Quanto a Origem 
Podem ser outorgadas, promulgadas ou cesaristas. 
As constituições outorgadas (“cartas constitucionais”) são impostas, isto é, nascem sem participação 
popular. Resultam de ato unilateral de uma vontade política soberana, que resolve estabelecer, por meio 
da outorga de um texto constitucional, certas limitações ao seu próprio poder. 
As constituições promulgadas ou democráticas são produzidas com a participação popular, em 
regime de democracia direta (plebiscito ou referendo), ou de democracia representativa, neste caso, 
mediante a escolha, pelo povo, de representantes que integrarão uma assembleia constituinte incumbida 
de elaborar a constituição. 
As constituições cesaristas são unilateralmente elaboradas pelo detentor do poder, mas dependem de 
ratificação popular por meio de referendo. Esta participação popular não é democrática, pois cabe ao 
povo somente referendar a vontade do agente revolucionário, detentor do poder. Por isso, não são, 
propriamente, nem outorgadas, nem promulgadas. 
Quanto a Forma 
Podem ser escritas ou não escritas. 
10 
 
Constituição escrita (instrumental) é aquela formada por um conjunto de regras sistematizadas e 
formalizadas por um órgão constituinte, em documentos escritos solenes, estabelecendo as normas 
fundamentais de um dado Estado. 
Atenção!!! As constituições escritas podem se apresentar sob duas formas: constituições 
codificadas (quando se acham contidas e sistematizadas em um só texto, formando um único 
documento) e constituições legais (quando se apresentam esparsas ou fragmentadas, porque 
integradas por documentos diversos, fisicamente distintos). 
IMPORTANTE! A CF de 88 é tradicionalmente classificada como codificada (um único documento). 
Entretanto, com o parágrafo terceiro do artigo quinto da CF, introduzido pela EC/45, prevendo a 
possibilidade de incorporação ao ordenamento pátrio de tratados e convenções internacionais sobre 
direitos humanos com status equivalente ao de EC, a doutrina tem entendido que começamos a migrar 
para um modelo de constituição escrita, porém legal (integrada por documentos esparsos). 
Nas constituições não escritas (costumeiras ou consuetudinárias), as normas constitucionais não são 
solenemente elaboradas por um órgão especialmente encarregado desta tarefa, tampouco estão 
codificadas em documentos formais, solenemente elaborados. Tais normas se sedimentam a partir dos 
usos e costumes, das leis esparsas comuns, das convenções e da jurisprudência. 
IMPORTANTE!!! Tanto nos estados que adotam a constituição escrita quanto nos que adotam a 
constituição não escrita existem documentos escritos que contem normas constitucionais. A 
diferença é que, nos de constituição escrita, as normas constitucionais são elaboradas por um órgão 
especificamente encarregado desse mister, que as formalizam em texto constitucional solene. Nos 
estados de constituição não escrita, as normas constitucionais quando escritas, estão cristalizadas em 
leis e outras espécies normativas esparsas e, dada a sua dignidade, adquiriram status constitucional. 
Quanto ao Modo de Elaboração 
As constituições podem ser dogmáticas ou históricas. 
As constituições dogmáticas, sempre escritas, são elaboradas em um dado momento, por um órgão 
constituinte, segundo os dogmas ou ideias fundamentais da teoria política ou do Direito então imperantes. 
Poderão ser ortodoxas ou simples (fundada em uma só ideologia) ou ecléticas ou compromissórias 
(formadas pela síntesede diferentes ideologias). 
As constituições históricas (ou costumeiras), não escritas, resultam da lenta formação histórica dos 
valores consolidados pela própria sociedade. 
Atenção!!! A CF de 88 é dogmática (elaborada em um dado momento) e eclética ou compromissória 
(várias ideologias). 
11 
 
As constituições dogmáticas são necessariamente escritas, elaboradas por um órgão constituinte, ao 
passo que as históricas são do tipo não escritas, aquelas que a prática ou o costume sancionaram ou 
impuseram. 
Quanto ao Conteúdo 
Temos a constituição material e constituição formal. 
Na concepção material, consideram-se constitucionais somente as normas, escritas ou não escritas, 
que cuidam de assuntos essenciais a organização e ao funcionando do Estado e estabelecem os 
direitos fundamentais (matérias substancialmente constitucionais). Leva-se em conta, para a 
identificação de uma norma constitucional, o seu conteúdo. Não importa o processo de elaboração ou a 
natureza do documento que a contem; ela pode, ou não, estar vazada em uma constituição escrita. 
Na concepção formal de constituição, são constitucionais todas as normas que integram uma 
constituição escrita, elaborada por um processo especial (rígida), independente de seu conteúdo. Nessa 
visão, leva-se em conta, exclusivamente, o processo de elaboração da norma (todas as normas de uma 
constituição escrita, solenemente elaboradas, serão constitucionais. Não importa, em absoluto, o 
conteúdo da norma. 
Dessa forma, em uma constituição escrita e rígida é possível encontrarmos dois tipos de normas: (i) 
normas formal e materialmente constitucionais e (ii) normas apenas formalmente constitucionais. 
A CF de 88 é formal e rígida. Não é correto afirmar que a CF de 88 seja parte formal e parte material. A 
constituição, no seu todo, é do tipo formal. Entretanto, nem todas as normas que a compõe são 
materialmente constitucionais, algumas são apenas formalmente constitucionais. 
Segundo a concepção material, todos os Estados possuem constituição. Mas nem sempre, porém, haverá 
uma constituição em sentido formal. Isso porque nem todos os Estados possuem uma constituição 
solenemente elaborada. 
Pela concepção material, podem existir normas constitucionais fora do texto de uma constituição escrita. 
Ao contrário, sob o ponto de vista formal, só são normas constitucionais aquelas que integram a 
constituição escrita, solenemente elaborada, seja qual for o conteúdo. 
IMPORTANTE! Essa dualidade de visão – formal e material – traz a luz os conceitos de supremacia 
material e supremacia formal das normas constitucionais. 
A supremacia formal decorre da rigidez constitucional, isto é, da existência de um processo legislativo 
distinto, mais laborioso, para elaboração da norma constitucional. Uma norma é dotada de supremacia 
formal pelo fato de ter sido elaborada mediante um processo legislativo especial, mais rígido, que as 
diferencia das demais leis do ordenamento. 
12 
 
A supremacia material decorre do conteúdo da norma constitucional. Uma norma constitucional é dotada 
de supremacia material em virtude da natureza do seu conteúdo, isto é, por tratar de matérias 
substancialmente constitucionais. 
Em um sistema de constituição formal (escrita e rígida), podemos afirmar que todas as normas 
constitucionais se equivalem em termos de hierarquia e, também, que todas elas são dotadas de 
supremacia formal em relação as demais leis do ordenamento. 
Ao contrário, no sistema de constituição material (não escrita e flexível), não se pode cogitar de 
supremacia formal, porque não há distinção entre os processos legislativos de elaboração das normas 
que integram o ordenamento jurídico. 
Obs. Não há um rol taxativo de matérias consideradas materialmente constitucionais. 
Quanto a Estabilidade 
Essa classificação leva em conta a maior ou menor facilidade para a modificação do seu texto, dividindo-
as em imutáveis, rígidas, flexíveis ou semirrígidas. 
A constituição imutável é aquela que não admite modificação de seu texto. Está em pleno desuso em 
razão da impossibilidade de sua atualização diante da evolução do Estado. 
A constituição é rígida quando exige um processo legislativo especial para a modificação de seu texto, 
mais difícil do que o processo legislativo de elaboração das demais leis do ordenamento. A CF de 88 é 
do tipo rígida. 
A constituição flexível é aquela que permite sua modificação pelo mesmo processo legislativo de 
elaboração e alteração das demais leis do ordenamento. Ex. Inglaterra. 
A constituição semirrígida é a que exige um processo legislativo mais difícil para a alteração de parte 
dos dispositivos e permite a mudança de outros dispositivos por um procedimento simples, semelhante 
aquele das demais leis do ordenamento. 
IMPORTANTE! Na história do constitucionalismo brasileiro, somente a constituição do império 
(1824) foi semirrígida, todas as demais foram rígidas. 
Obs. Alexandre de Moraes classifica a constituição federal como super-rígida, tendo em conta existirem 
nela as cláusulas pétreas. 
ATENÇÃO!! A rigidez é o pressuposto para o surgimento e a efetivação do denominado controle de 
constitucionalidade das leis. Diversamente, em um sistema de constituição flexível, descabe cogitar a 
impugnação de inconstitucionalidade de uma norma frente a outra, pois o mesm parlamento elabora, 
segundo o mesmo processo legislativo, as leis constitucionais e as demais leis. 
Quanto a Correspondência com a Realidade 
Classificação desenvolvida por Karl Lowenstein. 
13 
 
É baseada na correspondência existente entre o texto constitucional e a realidade política do respectivo 
Estado. São três as classificações: constituições normativas, constituições nominativas e 
constituições semânticas. 
As constituições normativas são as que efetivamente conseguem, por estarem em plena consonância 
com a realidade social, regular vida política do Estado. 
As constituições nominativas são aquelas que, embora tenham sido elaboradas com o intuito de 
regular a vida política do estado, não conseguem efetivamente cumprir esse papel, por estarem em 
descompasso com a realidade social. 
As constituições semânticas, desde a sua elaboração, não têm o fim de regular a vida política do 
Estado, de orientar e limitar o exercício do poder. Objetivam, tão somente, formalizar e manter o poder 
político vigente, conferir legitimidade ao grupo detentor do poder. 
Quanto a Extensão 
As constituições podem ser analíticas ou sintéticas. 
A constituição analítica é aquela de conteúdo extenso, que versa sobre matérias outras que não a 
organização básica do Estado. Ex. CF de 88. 
A constituição sintética é aquela que possui conteúdo abreviado e que versa, tão somente, sobre 
princípios gerais ou enuncia regras básicas de organização e funcionamento do sistema jurídico estatal, 
isto é, sobre matérias substancialmente constitucionais. 
Quanto a Finalidade 
No tocante a finalidade, as constituições podem ser: constituição garantia, constituição balanço e 
constituição dirigente. 
Constituição garantia, de texto reduzido, é a constituição negativa, construtora da liberdade negativa 
ou liberdade impedimento, oposta a autoridade. É constituição que tem como precípua preocupação a 
limitação dos poderes estatais. Impõe limites a ingerência do Estado na esfera individual. 
Constituição balanço é aquela destinada a registrar um dado estágio das relações de poder no estado. 
É destinada a espelhar certo período político. 
Constituição dirigente, de texto extenso, é aquela que define fins, programas, planos e diretrizes 
para a atuação futura dos órgãos estatais. O elemento que caracteriza as constituições como dirigentes 
é a existência no seu texto, das denominadas normas programáticas, que estabelecem um programa, um 
rumo, que deve ser perseguido pelos órgãos estatais. 
Quanto a Sistematização 
As constituições escritas são subdivididas em codificadase legais. 
14 
 
Constituições codificadas são aquelas sistematizadas em um único documento. 
Constituições legais são as integradas por documentos diversos, fisicamente distintos. 
Outras Classificações 
André Ramos Tavares refere-se a constituições liberais e sociais. 
As liberais, também chamadas de negativas, impõe a omissão ou negativa de ação do estado, 
preservando-se, assim, as liberdades públicas. 
As constituições sociais buscam a concretização da igualdade material (e não meramente formal), e nela 
são traçados expressamente os grandes objetivos que deverão nortear a atuação governamental, razão 
porque é também chamada de constituição dirigente. 
Quanto à origem de sua decretação: heterônomas (heteroconstituições) x autônomas 
(“autoconstituições” ou “homoconstituições”) - LENZA. 
 Constituições autônomas (autoconstituições, homoconstituições): São aquelas adotadas a 
partir do próprio Estado. Exemplo: CF/88. 
 Constituições heterônomas (heretoconstituições): São aquelas adotadas a partir de outro (s) 
Estado (s) ou de organismos internacionais, por negociação ou imposição. Ex.: as primeiras 
Constituições do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia que foram aprovadas pelo Parlamento 
Inglês (que eram colônias e se transformaram em Estados independentes). No processo de 
independência, o Parlamento Inglês redigiu as Constituições desses Estados, dentro desse 
processo negociado. São, portanto, Constituições heterônomas, que tem sua origem vinculada a 
outro Estado. 
Diante do exposto, no entanto, pode-se afirmar que as Constituições brasileiras não são 
heterônomas, na medida em que elaboradas e decretadas dentro do próprio Estado que irão reger. 
Podemos, assim, denominá-las, nesse sentido, Constituições autônomas, ou autoconstituições, ou, por 
que não, homoconstituições (fazendo um contraponto à terminologia proposta por Miguel Galvão Teles). 
Em que consiste a classificação “constituição plástica? 
Não há consenso doutrinário sobre quais são as características de uma constituição plástica 
Para Raul Machado Horta, constituição plástica é aquela que apresenta uma mobilidade, projetando a 
sua força normativa na realidade social, política, econômica e cultural do Estado. Em outros termos, 
é aquela que consegue se adaptar a uma realidade social sem necessidade de emenda constitucional. 
Ex.: Constituição dos EUA. 
Pinto Ferreira, por sua vez, define as constituições plásticas como constituições flexíveis. 
Resumindo!!! A CF de 88 é classificada como escrita, codificada, democrática, dogmática eclética, 
rígida, formal, analítica, dirigente, normativa, principiológica, social e expansiva. 
15 
 
PREÂMBULO 
Muito se discute a respeito da relevância jurídica do preâmbulo de uma constituição, especialmente 
quanto a sua eficácia jurídica e a possibilidade de uma lei ser declarada inconstitucional por contrariar 
seu texto. 
Em nosso ordenamento o preâmbulo possui força normativa? 
NÃO. O STF firmou entendimento de que o preâmbulo da CF de 88 NÃO constitui norma central, e que 
a invocação da proteção de Deus não se trata de norma de reprodução obrigatória nas Constituições 
Estaduais, porque não possui força normativa. 
Para o STF, o preâmbulo não se situa no âmbito do Direito, mas no domínio da política, refletindo posição 
ideológica do constituinte. Não possui o preâmbulo, portanto, relevância jurídica (TESE DA 
IRRELEVÂNCIA JURÍDICA), não constitui norma central da constituição, de reprodução obrigatória nas 
constituições dos Estados-membros. 
IMPORTANTE! O conteúdo do preâmbulo NÃO impõe qualquer limitação de ordem material ao 
poder reformador outorgado ao congresso nacional. 
Resumindo: O preâmbulo da CF de 88: (i) não se situa no âmbito do Direito constitucional; (ii) não tem 
força normativa; (iii) não é norma de observância obrigatória pelos Estados-membros, DF ou municípios; 
(iv) não serve de parâmetro para a declaração de inconstitucionalidade das leis; (v) não constitui limitação 
a atuação do poder constituinte derivado, ao modificar o texto constitucional. 
ATOS DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS (ADCT) 
O ADCT reúne dois grupos distintos de preceitos: 
 Os que contêm regras necessárias para assegurar uma harmoniosa transição do regime 
constitucional anterior para o novo regime constitucional. 
 Os que estabelecem regras que, embora não sejam relacionadas a transição constitucional, tem 
caráter meramente transitório, tem sua eficácia jurídica exaurida tão logo ocorra a situação 
nela prevista. 
Em ambos os casos, a característica própria de uma norma integrante do ADCT é a existência de eficácia 
jurídica somente até o momento em que ocorre a situação nela prevista. Ocorrida a situação, a norma 
transitória perde a sua eficácia jurídica, por exaurimento do seu objeto. 
Os dispositivos da ADCT integram a Constituição? 
Embora de natureza transitória, os dispositivos do ADCT são formalmente constitucionais, ou seja, tem 
o mesmo status jurídico e idêntica hierarquia a das demais normas da constituição. Sua 
inobservância enseja a declaração de inconstitucionalidade de quaisquer normas infraconstitucionais com 
eles incompatíveis. A modificação de qualquer dispositivo do ADCT só pode ser feita através de EC. 
16 
 
IMPORTANTE! É constatada a existência de duas categorias de disposições que, embora integrante 
do texto da CF, são desprovidas de força normativa: (i) o preâmbulo; (ii) as normas integrantes do 
ADCT, depois de ocorrida a situação nela prevista. 
 
ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO 
 Elementos orgânicos: se contém nas normas que regulam a estrutura do Estado e do poder. 
 Elementos limitativos: se manifestam nas normas que consagram o elenco dos direitos e 
garantias fundamentais. 
 Elementos sócio ideológicos: consubstanciado nas normas que revelam o caráter de 
compromisso das constituições modernas entre o estado individualista e o estado social, 
intervencionais. 
 Elementos de estabilização constitucional: consagrados nas normas destinadas a assegurar a 
solução de conflitos constitucionais, a defesa da constituição, do Estado e das instituições 
democráticas. 
 Elementos formais de aplicabilidade: são os que se acham consubstanciados nas normas que 
estabelecem regras de aplicação das normas constitucionais. Ex. O parágrafo primeiro do artigo 
quinto que determina que as normas definidoras de direitos e garantias fundamentais tem 
aplicação imediata. 
ENTRADA EM VIGOR DE UMA NOVA CONSTITUIÇÃO 
As normas de uma nova constituição projetam-se sobre todo o ordenamento jurídico, revogando aquilo 
que com ela seja incompatível, conferindo novo fundamento de validade as disposições 
infraconstitucionais e reorientando a atuação de todas as instâncias de poder, bem como as relações 
entre os indivíduos ou grupos sociais e o Estado. 
Vacatio Constitutionis 
As constituições, normalmente, contêm cláusula especial que determina o momento que seu texto 
começará a vigorar. Não havendo essa cláusula expressa, entende-se que a vigência é imediata, a partir 
de sua promulgação. 
Caso a constituição contenha cláusula expressa que difira a entrada em vigor do seu texto, surge a 
chamada vacatio constitutionis (vacância da constituição). Nesse período, embora já promulgada, a 
nova constituição não tem vigência, e a ordem jurídica continua a ser regida pela constituição que já 
existia. 
Retroatividade Mínima 
Segundo o STF, as novas normas constitucionais, salvo disposição expressa em contrário, se aplicam 
de imediato, alcançando, sem limitações, os efeitos futuros de fatos passados. 
Essa eficácia especial das normas constitucionais recebe a denominação de RETROATIVIDADE 
MÍNIMA. 
IMPORTANTE!!! O STF entende que a regra geral da irretroatividade mínima somente se aplica as 
normas constitucionais FEDERAIS. As Constituições Estaduais, diferentemente, sujeitam-se 
17 
 
integralmente a vedação do artigo 5º, XXXVIda CF (proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito 
e a coisa julgada), vale dizer, não podem retroagir (admitidas certas exceções). 
Da mesma forma, a retroatividade mínima não alcança as normas infraconstitucionais (leis e atos 
normativos em geral). Estas também se submetem as regras da irretroatividade, como regra. 
ENTRADA EM VIGOR DA NOVA CONSTITUIÇÃO E CONSTITUIÇÃO PRETÉRITA 
A promulgação de uma constituição revoga integralmente a constituição antiga, independentemente da 
compatibilidade entre os seus dispositivos. 
Promulgada a nova constituição, a anterior é retirada do ordenamento jurídico, globalmente, sem que 
caiba cogitar a verificação de compatibilidade entre os seus dispositivos, isoladamente. A perda de 
vigência da constituição pretérita é sempre total, em bloco. Há uma revogação total, ou ab-
rogação. 
Desconstitucionalização 
Corrente minoritária defende a tese da desconstitucionalização. 
Segundo os partidários dessa tese, a promulgação de uma constituição não acarretaria, obrigatoriamente, 
a revogação global da constituição passada. Seria necessário examinar cada dispositivo da constituição 
antiga, a fim de verificar quais conflitariam com a nova constituição, e quais seriam compatíveis com ela. 
Os dispositivos incompatíveis seriam considerados revogados pela nova constituição, e os dispositivos 
compatíveis seriam recepcionados. Porém, o seriam na condição de leis comuns, como se fossem 
normas infraconstitucionais. É esse o motivo da denominação “desconstitucionalização”. 
Lembrar!!! A vigente CF de 88 NÃO adotou esta tese. 
DIREITO ORDINÁRIO PRÉ-CONSTITUCIONAL 
Caso fossem consideradas automaticamente revogadas todas as normas infraconstitucionais anteriores 
a nova constituição, um verdadeiro caos assolaria o ordenamento jurídico, em razão do vácuo normativo 
que daí decorreria. 
Com o intuito de evitar essa insustentável situação de insegurança jurídica, adota-se uma solução 
pragmática: as leis anteriores são aproveitadas desde que o seu conteúdo não conflite com o novo 
texto constitucional. 
Direito ordinário pré-constitucional incompatível 
As normas integrantes do direito ordinário anterior que sejam incompatíveis com a nova constituição não 
poderão ingressar no novo ordenamento constitucional. Assim, todas as leis pretéritas conflitantes com a 
nova constituição serão REVOGADAS por esta (entendimento do STF). 
18 
 
Entretanto, nem todos os constitucionalistas concordam com essa orientação. Defendem alguns autores 
que a revogação pressupõe confronto entre normas da mesma natureza. Dessa forma, a nova 
constituição acarretaria a inconstitucionalidade superveniente do direito infraconstitucional com ela 
incompatível (entendimento minoritário). 
Conceito de inconstitucionalidade superveniente 
 é o fenômeno jurídico pelo qual 
 uma norma tornar-se-ia inconstitucional em momento futuro, 
 depois de sua entrada em vigor, 
 em razão da promulgação de um novo texto constitucional, com ela conflitante. 
Para os defensores dessa tese, o direito ordinário anterior incompatível não seria revogado pela nova 
constituição, mas se tornaria inconstitucional em face dela. 
Esse conceito é aceito no Brasil? 
NÃO. Para o STF, há mera revogação da lei em situação como esta. Nenhuma lei pode ser declarada 
inconstitucional em confronto com constituição futura. O juízo de constitucionalidade pressupõe 
contemporaneidade entre a lei e a constituição. 
Resumindo: Uma lei só pode ser declarada inconstitucional em confronto com a constituição de sua 
época; e o confronto entre uma lei e a constituição futura se resolve pela revogação ou pela 
recepção, e não pela inconstitucionalidade. 
IMPORTANTE! A CF só permite a declaração de inconstitucionalidade de uma lei pelos TRIBUNAIS 
do Poder Judiciário mediante decisão de maioria absoluta do plenário ou de seu órgão especial 
(cláusula de reserva de plenário, art. 97 CF). Entretanto, como a revogação de uma lei pré-
constitucional não faz juízo de sua inconstitucionalidade, os tribunais, na apreciação da validade do 
direito pré-constitucional, NÃO estão obrigados a obediência da reserva de plenário. 
 
É possível impugnar uma norma pré-constitucional em ação direta de inconstitucionalidade (ADI)? 
NÃO. O STF NÃO admite a impugnação do direito pré-constitucional em ação direta de 
inconstitucionalidade. 
CUIDADO! Mas isso não quer dizer que essa matéria não pode ser levada ao STF pelo modelo 
concentrado de constitucionalidade, já que existe a ADPF para tanto, meio apto a questionar a recepção 
ou não de normas pré-constitucionais diretamente no Supremo. 
Direito ordinário pré-constitucional compatível 
Se as leis pré-constitucionais em vigor no momento da promulgação da nova constituição forem 
compatíveis com esta, serão RECEPCIONADAS. Essas leis perdem o suporte de validade que lhes dava 
a constituição anterior, com a revogação global desta. Entretanto, ao mesmo tempo, elas recebem da 
constituição promulgada novo fundamento de validade. 
19 
 
IMPORTANTE! Nem todo o direito pré-constitucional compatível com a nova constituição poderá ser por 
ela recepcionado. A norma, para ser recepcionada, deverá cumprir, cumulativamente, três requisitos: 
 Estar em vigor no momento da promulgação da nova constituição: a recepção não alcança 
normas não vigentes. Se a norma não estiver em vigor no momento da promulgação da nova 
constituição, a sua situação jurídica deverá ser analisada a luz da repristinação, e não pela 
aplicação da teoria da recepção. 
 Ter conteúdo compatível com a nova constituição: a compatibilidade material com a nova 
constituição, é, portanto, aspecto essencial para o fim de recepção do direito pré-constitucional. 
 Ter sido produzido de modo válido (de acordo com a constituição de sua época): se a norma 
for produzida em desacordo com a constituição de sua época, NÃO poderá aproveitada 
(recepcionada) por constituição futura. Se a lei nasceu inconstitucional, não se admite que 
constituição futura a constitucionalize. Como visto, não é juridicamente possível no nosso 
ordenamento a ocorrência da constitucionalidade superveniente. 
Como se dá o exame de compatibilidade entre o direito pré-constitucional e a constituição? 
No cotejo entre norma antiga e a nova constituição, somente se leva em conta a compatibilidade material 
(seu conteúdo). Em todos os casos, são inteiramente irrelevantes quaisquer aspectos formais da norma 
antiga. 
IMPORTANTE! A recepção ou revogação do ordenamento jurídico infraconstitucional passado NÃO 
precisa ser expressa. Promulgada a nova constituição, mesmo que não haja nenhum dispositivo em seu 
texto que assim disponha, ocorrerá, tacitamente, naquele momento, a revogação das normas pré-
constitucionais com ela materialmente incompatíveis e a recepção daquelas com ela 
materialmente compatíveis. 
É irrelevante, para efeito de análise de eventual recepção de norma infraconstitucional pretérita, da 
chamada compatibilidade formal, concernente a forma de elaboração da norma e seu status no 
ordenamento constitucional pretérito. Não importa, tampouco, questionar se existe, ou não, na nova 
constituição, a espécie normativa antiga, que disciplinava a mateira. 
Não cabe perquirir também, se houve, ou não, mudança na determinação da espécie normativa 
exigida para disciplinar a matéria. 
A força (status), no novo ordenamento constitucional, da norma pré-constitucional recepcionada será 
determinada pela nova constituição, de acordo com a espécie normativa por ela exigida para a disciplina 
da matéria sobre a qual versa a norma antiga. Ex. CTN foi recepcionado com status de LC. 
Atenção!!! Pode ter, ainda, mudança do ente federado competente para o tratamento da matéria, sem 
prejuízo para a recepção da lei. Ex. Lei federal pretérita pode ser recebida como lei estadual. 
E o contrário, é possível? É dizer, pode uma lei estadual virar lei federal como advento de uma 
nova ordem constitucional? 
NÃO. Não pode haver a federalização de normas estaduais e municipais. Nesse caso ocorre a 
revogação da norma. Na situação inversa, o Estado recebe a norma federal como se fosse lei estadual. 
20 
 
Isso evitaria a descontinuidade jurídica. Os estados-membros continuariam aplicando a lei até editarem 
sua própria lei. 
Recepção parcial, possibilidade: 
É possível a recepção alcançar apenas parte de um ato normativo. 
A análise quanto à compatibilidade material deve ser feita de maneira individualizada, dispositivo por 
dispositivo. É possível, por exemplo, em uma lei pretérita que tivesse 40 artigos, apenas oito deles serem 
recepcionados. 
Atenção! Pode ocorrer, também, a recepção de somente parte de um dispositivo. Assim, alguma 
expressão de um artigo ou parte dele, ou alguns incisos podem não ter sido recepcionados. 
Mudança de status da Lei: 
Pode acontecer também, que na mesma lei pré-constitucional, tenhamos dispositivos recepcionados 
com diferentes status pela nova constituição. Assim, um dos artigos seria recepcionado com LO e 
outro como LC. 
Havendo controvérsia a respeito da revogação (ou da recepção) de alguma norma pré-constitucional, 
caberá ao Poder Judiciário decidir se a norma foi recepcionada ou revogada pela nova constituição. 
Entretanto, é IMPORTANTE lembrar que a recepção ou revogação do direito pré-constitucional ocorre, 
sempre, NA DATA DA PROMULGAÇÃO DO NOVO TEXTO CONSTITUCIONAL. Não importa a data em 
que a recepção ou revogação venha a ser, diante de uma eventual controvérsia, declarada pelo Poder 
Judiciário. 
A decisão do poder judiciário será meramente declaratória, retroativa a data da promulgação da CF. 
O poder Judiciário estará reconhecendo a revogação (ou recepção) da norma desde a promulgação do 
novo texto constitucional. 
Recepção e emendas constitucionais: 
As Emendas Constitucionais têm o mesmo efeito sobre o direito ordinário a elas anterior, no que 
concerne a recepção ou revogação das normas dele integrantes. Quando é promulgada uma EC, são 
revogadas as leis até então existentes, que sejam com ela materialmente incompatíveis, NÃO 
cabendo cogitar de inconstitucionalidade superveniente frente a emenda. No mesmo sentido, são 
recepcionadas as normas materialmente com ela compatíveis. 
Direito ordinário pré-constitucional não vigente 
Só é juridicamente possível haver recepção do direito pré-constitucional cuja vigência não tenha 
cessado antes do momento da promulgação da nova constituição. A nova constituição não restaura, 
automaticamente, tacitamente, a vigência das leis que não mais estejam em vigor no momento de sua 
promulgação. 
21 
 
Se o legislador constituinte assim desejar, a vigência das leis poderá ser restaurada pela nova 
constituição, mas por meio de disposição expressa no seu texto. Tem-se, nesse caso, a repristinação, 
que, como dito, deve ser expressa. 
Resumindo: Para as leis que não estejam em vigor no momento de promulgação de uma nova 
constituição, tem-se o seguinte: (a) se a nova constituição nada disser a respeito, não haverá restauração 
da vigência da lei (não há repristinação tácita); (b) a nova constituição poderá restaurar a vigência da 
lei, desde que o faça expressamente (poderá ocorrer repristinação expressa). 
Direito ordinário em período de vacatio legis 
Em todos os casos em que o início da vigência da lei é posterior a data de sua publicação, o período 
compreendido entre a publicação e a data de vigência é denominado vacatio legis. A lei em vacância já 
integra o ordenamento jurídico, mas permanece sem vigência, sem incidir, sem força obrigatória para os 
seus destinatários. 
A posição doutrinária dominante é que a lei vacante NÃO entrará em vigor no novo ordenamento 
constitucional, isto é, ela não poderá ser recepcionada pela nova constituição. 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DO DIREITO PRÉ-CONSTITUCIONAL 
As situações que ensejam análise são: 
O controle de constitucionalidade do direito pré-constitucional em face da constituição ANTIGA (a 
Constituição que estava em vigor na época em que a norma objeto do controle foi editada): 
Essa possibilidade existe. Nesse caso, conquanto se trate de impugnação de direito pré-constitucional, a 
decisão judicial será uma DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE OU DE 
CONSTITUCIONALIDADE, e não de revogação ou recepção. Isso porque a aferição da validade do direito 
questionado é feita em face da constituição da sua época (e não ante a CF de 88). 
O judiciário analisará a norma em confronto com a constituição pretérita tanto em seu aspecto material 
quanto formal. Se for constatada a incompatibilidade formal ou material da norma com a constituição da 
sua época a lei será declarada inconstitucional. 
IMPORTANTE! A fiscalização da validade do direito pré-constitucional em face da constituição antiga 
NÃO pode ser realizada mediante controle abstrato (ADI, ADC e etc) no STF. O controle abstrato visa 
somente proteger a constituição vigente no momento em que ele é exercido. 
O indivíduo só poderá discutir a validade do direito pré-constitucional de sua época no controle difuso 
(incidentalmente), diante de um caso concreto (recurso extraordinário). 
A aferição de validade do direito pré-constitucional em confronto com a constituição FUTURA (a 
constituição promulgada em momento posterior ao da edição da norma controlada e vigente na 
data da realização do controle): 
22 
 
Esse controle de constitucionalidade não visa a declaração de constitucionalidade da norma pré-
constitucional em confronto com a CF/88. 
Esse controle visa a recepção ou revogação de norma pré-constitucional pela nova constituição. 
Como visto, para essa verificação, só é relevante a aferição da compatibilidade material entre a norma 
pré-constitucional e a constituição futura. Não se cogita incompatibilidade formal nesses casos. 
O Judiciário aprecia esses casos diante de casos concretos (controle difuso) ou por meio de ADPF. 
CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS QUANTO AO GRAU DE EFICÁCIA E 
APLICABILIDADE 
O constitucionalismo moderno refuta a ideia da existência de normas constitucionais desprovidas 
de eficácia jurídica. Para José Afonso da Silva, as normas constitucionais, quanto ao grau de eficácia, 
classificam-se em: 
 Normas constitucionais de eficácia PLENA 
 Normas constitucionais de eficácia CONTIDA 
 Normas constitucionais de eficácia LIMITADA 
NORMAS DE EFICÁCIA PLENA 
São aquelas que, desde a entrada em vigor da constituição, produzem, ou tem possibilidade de 
produzir, todos os efeitos essenciais, relativamente aos interesses, comportamentos e situações que o 
legislador constituinte, direta e normativamente, quis regular. 
Elas não exigem a elaboração de novas normas legislativas que lhes completem o alcance e o sentido, 
porque já se apresentam suficientemente explícitas na definição dos interesses nela regulados. São, por 
isso, normas de aplicabilidade DIRETA, IMEDIATA E INTEGRAL. 
NORMAS DE EFICÁCIA CONTIDA 
São aquelas em que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos a 
determinada matéria, mas deixou margem a atuação restritiva por parte da competência 
discricionária do Poder público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais 
nelas enunciados. 
São normas constitucionais dotadas de aplicabilidade DIRETA, IMEDIATA, MAS NÃO INTEGRAL, 
porque sujeitas a restrições que limitem sua eficácia e aplicabilidade. 
Essas restrições poderão ser impostas: 
 Pelo legislador infraconstitucional 
 Por outras normas constitucionais (Ex. estado de defesa e estado de sítio) 
 Como decorrência do uso, na própria norma constitucional, de conceitos ético-jurídicos 
consagrados, que comportam um variável grau de indeterminação. Ex. ordem pública, segurança 
nacional, interesse social e etc. 
23 
 
São normas que, em regra, solicitam a intervençãodo legislador ordinário; mas o apelo do legislador 
visa restringir-lhes a plenitude da eficácia. Enquanto o legislador ordinário não expedir a norma restritiva, 
sua eficácia será plena. 
Ex. Art. 5º, inciso XIII “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as 
qualificações profissionais que a lei estabelecer.” 
NORMAS DE EFICÁCIA LIMITADA 
São aquelas que não produzem, com a simples entrada em vigor, os seus efeitos essenciais, porque o 
legislador constituinte, por qualquer motivo, não estabeleceu, sobre a matéria, uma normatividade para 
isso bastante, deixando essa tarefa ao legislador ordinário ou a outro órgão do estado. 
São de aplicabilidade INDIRETA, MEDIATA E REDUZIDA, porque somente incidem totalmente a partir 
da edição de uma norma infraconstitucional ulterior que lhes desenvolva a eficácia. Enquanto não 
editada essa legislação infraconstitucional integrativa, não tem o condão de produzir todos os seus efeitos. 
São divididas em dois grupos distintos: 
 As definidoras de princípio institutivo ou organizativo 
 As definidoras de princípio programático 
As normas definidoras de PRINCÍPIO INSTITUTIVO ou ORGANIZATIVO são aquelas pelas quais o 
legislador constituinte traça esquemas gerais de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou 
institutos, para que, em um momento posterior, sejam estruturados em definitivo, mediante lei. Ex. Art. 33 
CF. 
Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios. 
 
Essas normas constitucionais definidoras de princípio institutivo ou organizativo podem ser impositivas 
ou facultativas. 
São IMPOSITIVAS aquelas que determinam ao legislador, em termos peremptórios, a emissão de uma 
legislação integrativa. Ex. art. 32 § 4º da CF. 
Art. 32 (…) § 4º - Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal, das polícias 
civil e militar e do corpo de bombeiros militar. 
 
São FACULTATIVAS ou PERMISSIVAS quando não impõe uma obrigação, mas se limitam a dar ao 
legislador ordinário a possibilidade de instituir ou regular a situação nelas delineada. Ex. art. 22, parágrafo 
único, da CF. 
Art. 22 (…) Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões 
específicas das matérias relacionadas neste artigo. 
 
ATENÇÃO!!! Para essas normas (facultativas) NÃO CABE MANDADO DE INJUNÇÃO. 
24 
 
As normas constitucionais definidoras de princípios programáticos são aquelas em que o 
constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados interesses, limitou-se a lhes traçar 
os PRINCÍPIOS e DIRETRIZES, para serem cumpridos pelos órgãos integrantes dos poderes 
constituídos (executivo, legislativo e judiciário), como programas das respectivas atividades, visando a 
realização dos fins sociais do estado. Esse grupo é composto pelas normas que a doutrina constitucional 
denomina normas programáticas. Ex. Art. 173, §4º, CF. 
CF Art. 173 (…) § 4º - A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à dominação dos mercados, 
à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. 
 
Distinção entre normas de eficácia contida e norma de eficácia limitada 
 As normas de eficácia contida têm aplicação DIRETA e IMEDIATA, o direito nelas previsto é 
imediatamente exercitável; as normas de eficácia limitada têm aplicação INDIRETA e 
MEDIATA, o exercício do direito nelas previsto depende da edição da regulamentação ordinária. 
 Ambas requerem normatização legislativa, mas com finalidade diferente. Nas normas de 
eficácia contida, a normação ordinária imporá limites ao exercício do direito (que até então era 
amplamente exercitável); nas normas de eficácia limitada, a regulação ordinária virá para tornar 
viável o pleno exercício do direito (até então não efetivo). 
 Nas normas de eficácia contida, na ausência de regulamentação, o exercício do direito é amplo; 
em relação as normas de eficácia limitada, enquanto não vier regulamentação ordinária, não há 
efetivo exercício do direito. 
Eficácia das normas programáticas 
As normas constitucionais programáticas são aquelas de eficácia limitada que requerem dos órgãos 
estatais uma determinada atuação, na consecução de um objetivo traçado pelo legislador constituinte. 
Elas estabelecem um programa, um rumo inicialmente traçado pela constituição. Ex. art. 205, da CF. 
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada 
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o 
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
 
Essas normas não são voltadas para o indivíduo, e sim para os órgãos estatais, exigindo destes a 
consecução de determinados programas nela traçados. São as denominadas normas de eficácia 
limitada definidoras de princípio programático (característica de uma constituição do tipo dirigente). 
Essas normas não produzem seus plenos efeitos com a mera promulgação da constituição. Elas só 
produzirão seus plenos efeitos ulteriormente, quando esses programas forem, efetivamente, 
concretizados. 
Entretanto, NÃO se pode afirmar que as normas programáticas sejam desprovidas de eficácia jurídica 
enquanto não regulamentadas ou implementados os respectivos programas. As normas que integram 
uma constituição do tipo rígida são jurídicas e, sendo jurídicas, TEM NORMATIVIDADE. 
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O constitucionalismo moderno firma que as normas programáticas, embora não produza seus plenos 
efeitos de imediato, são dotadas da chamada eficácia negativa, isto é: 
REVOGAM AS DISPOSIÇÕES CONTRÁRIAS ou incompatíveis com seus comandos (o direito 
infraconstitucional anterior à norma constitucional programática não é recepcionado – eficácia 
PARALISANTE). 
IMPEDEM QUE SEJAM PRODUZIDAS normas ulteriores que contrariem os programas por ela 
estabelecidos (a norma programática é paradigma para declaração de inconstitucionalidade do direito 
ordinário superveniente que lhe seja contrário – eficácia IMPEDITIVA). 
 
IMPORTANTE!!! Além dessa eficácia negativa (impeditiva e paralisante), a norma programática 
também serve de PARÂMETRO PARA A INTERPRETAÇÃO do texto constitucional. 
CLASSIFICAÇÃO DE Maria Helena Diniz 
 Normas com eficácia absoluta: são normas constitucionais intangíveis, que não poderão ser 
contrariadas nem mesmo por meio de EC. Ex. Cláusula pétrea. 
 Normas com eficácia plena: são plenamente eficazes desde a entrada em vigor da constituição. 
Diferem das normas de eficácia absoluta porque poderão ser atingidas por EC. 
 Normas de eficácia relativa restringível: correspondem as normas de eficácia contida de José 
Afonso da Silva. Tem aplicabilidade imediata, embora sua eficácia possa ser reduzida. 
 Normas com eficácia relativa complementável: não tem aplicação imediata, por dependerem 
de normas posteriores que lhes desenvolva a eficácia, para então permitir o exercício do direito 
nelas consagrado. Enquanto não promulgada legislação regulamentadora, não produzirão efeitos 
positivos, mas terão eficácia paralisante de efeitos de normas precedentes incompatíveis e 
impeditiva de qualquer conduta contrária ao que estabelecem.

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