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RAÇAS E ESTRATÉGIAS DE CRUZAMENTO PARA 
PRODUÇÃO DE NOVILHOS PRECOCES 
 
Pedro Franklin Barbosa 
Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A produção de carne bovina (P), em uma determinada região ou 
País, é o resultado da utilização dos recursos genéticos (G) e de ambiente 
(A), das práticas de manejo, produção e comercialização (M) e, 
possivelmente, das interações entre os componentes causais (G x A, G x 
M, A x M) de P, isto é, P = G + A + (G x A + G x M + A x M). 
Portanto, há várias maneiras de se combinar os recursos genéticos, de 
ambiente e as práticas de manejo, produção e comercialização o que, por 
sua vez, dá origem aos diferentes sistemas de produção de carne bovina. 
Em geral, os sistemas mais eficientes são aqueles que otimizam tanto os 
recursos genéticos (raças, linhagens, cruzamentos, sexo dos animais, etc.) e 
de ambiente (clima, solo, alimentação, etc.) quanto as práticas de manejo, 
produção e comercialização (criação em regime de pasto, semi-
confinamento, confinamento, estação de monta, época e métodos de 
comercialização, tipo de produto, diferenciação de mercados, etc.). 
 No Brasil, o conceito de precocidade, embora tenha sido concebido 
por zootecnistas europeus há quase um século, ainda é pouco divulgado 
(DOMINGUES, 1971). Em geral, pensa-se que animal precoce é aquele 
que cresce rapidamente. Precoce é o animal que chega mais cedo à idade 
adulta ou, em outras palavras, é aquele cujo esqueleto se completa 
precocemente, antes da idade comum à sua espécie. Tal acabamento se dá 
pela ossificação da zona de crescimento, dos ossos longos, e assim o 
animal pára de crescer, com outra conseqüência importante: adquire a 
dentição definitiva também mais cedo. Este é o conceito adotado neste 
trabalho. 
 A Associação Brasileira do Novilho Precoce (ABNP) definiu 
critérios para a classificação de animais como novilhos precoces com base 
em três características: 1) peso da carcaça (mais de 200 kg, para novilhos e 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 2 
machos não-castrados, e mais de 180 kg para fêmeas); 2) idade do 
animal (até 2 dentes definitivos, para novilhos e fêmeas, e zero dente - 
"dentição de leite" - para machos não-castrados); e 3) grau de acabamento 
da carcaça (3 a 10 milímetros de espessura da camada de gordura na altura 
da 12a costela). 
 O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir alguns aspectos 
sobre estratégias de utilização de raças puras e de cruzamentos para a 
produção de novilhos precoces, particularmente quanto às três 
características em que se fundamenta a classificação dos animais (peso da 
carcaça, idade de abate e espessura da camada de gordura na altura da 12ª 
costela). 
 
2. ESTRATÉGIAS DE UTILIZAÇÃO DE RECURSOS 
GENÉTICOS 
 
 No Brasil, há grande número de raças de bovinos que são usadas 
para produção de carne. De acordo com o dicionário de MASON (1988), 
há aproximadamente mil raças zootécnicas de bovinos no mundo, das quais 
250 têm alguma importância numérica ou histórica em termos de produção 
de carne, de leite e de carne e leite. Dessas, 150 podem ser classificadas 
como raças especializadas para produção de carne, 40 como 
especializadas para produção de leite e 60 como de dupla aptidão (leite e 
carne). No Brasil, há vários grupos genéticos (raças, tipos raciais e 
cruzamentos) que são explorados para produção de carne, como será visto 
mais adiante. 
As diferenças entre esses grupos genéticos, quanto às características 
morfológicas, fisiológicas e zootécnicas, podem ser atribuídas às diferentes 
pressões de seleção às quais eles foram submetidos durante o processo de 
melhoramento. Desse modo, cada grupo é dotado de composição genética 
diferente, principalmente para as características relativas ao tipo (cor da 
pelagem, presença ou ausência de chifres, conformação do perfil da fronte, 
tamanho da orelha, etc.) e, provavelmente, para os atributos relacionados 
com a capacidade de adaptação ao ambiente (adaptabilidade). 
Esta diversidade genética, que é um recurso natural, pode ser 
utilizada de três maneiras (DICKERSON, 1969): 1) criação ou introdução 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 3 
da "raça pura" melhor adaptada ao sistema de produção; 2) formação de 
novas raças; e 3) utilização de sistemas de cruzamento. As duas primeiras 
podem ser praticadas por meio da realização de cruzamentos por apenas 
algumas gerações, uma vez que o objetivo final é a introdução de uma "raça 
pura" melhor adaptada ou a formação de uma nova raça. 
A utilização de sistemas de cruzamento é uma forma de 
aproveitamento da diversidade genética de maneira permanente e contínua, 
sem a preocupação de se obter uma nova raça ou introduzir uma "raça 
pura" . 
As estratégias de utilização dos recursos genéticos envolvem 
diferentes alternativas de seleção (escolha dos pais da próxima geração) e 
de reprodução (escolha do sistema de acasalamento). A seleção dentro de 
"raças puras" é feita, em geral, com base no modelo aditivo simples quanto 
ao tipo de ação gênica. Na prática, a seleção dentro de "raças puras" 
geralmente produz ganhos genéticos muito próximos daqueles previstos 
teoricamente. 
A utilização de cruzamentos, por outro lado, é considerada como 
uma alternativa à seleção (BARBOSA e DUARTE, 1989; BARBOSA, 
1995). No entanto, precisa ser ressaltado que as alternativas de seleção e 
cruzamentos não são mutuamente exclusivas. Qualquer sistema de 
cruzamentos, ou esquema de formação de novas raças, depende dos 
programas de seleção das "raças puras" utilizadas no processo. 
O delineamento de programas de melhoramento genético animal 
pode ser sistematizado em 10 passos seqüenciais (HARRIS et al., 1984): 
1) descrição do(s) sistema(s) de produção; 2) estabelecimento do objetivo 
do(s) sistema(s) de produção; 3) escolha da estratégia de utilização dos 
recursos genéticos e dos recursos genéticos propriamente ditos; 4) 
obtenção de parâmetros de seleção e pesos econômicos; 5) 
delineamento do sistema de avaliação; 6) desenvolvimento dos critérios de 
seleção; 7) delineamento do sistema de acasalamentos; 8) delineamento 
do sistema de multiplicação dos animais selecionados; 9) comparação de 
alternativas de programas de melhoramento; e 10) revisão do programa 
com base nas modificações futuras e, se for o caso, na segmentação do 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 4 
sistema de produção. Os três primeiros passos são discutidos 
resumidamente nesta palestra. 
Qualquer que seja a estratégia a ser escolhida, um aspecto 
fundamental é a visão do sistema de produção como um todo, isto é, desde 
a tomada de decisão sobre quais tipos de recurso genético e de sistema de 
produção a serem utilizados (“antes da porteira”), as práticas de manejo a 
serem adotadas (“dentro da porteira”), até o consumo da carne e 
derivados (“depois da porteira”). 
A eficiência zootécnica de qualquer sistema de produção, por sua 
vez, é função de três componentes: 1) eficiência reprodutiva do rebanho de 
vacas; 2) eficiência do ganho de peso dos animais jovens; e 3) qualidade 
dos produtos (carne e couro). As estratégias possíveis devem ser avaliadas 
sob o ponto de vista da eficiência biológica e econômica do sistema de 
produção como um todo. A avaliação de apenas um ou dois componentes 
pode conduzir a recomendações discutíveis. 
É importante ressaltar que o objetivo principal da produção de carne 
bovina, seja ela praticada de forma extensiva ou intensiva, é atender as 
exigências de mercado. Dois sistemas de produção são considerados nesta 
palestra: 1) produção de animais para abate em regime de pastagens, e 2) 
produção de animais para abate com terminação em regime de 
confinamento. 
É difícil predizer o futuro porque uma amplitude de cenários pode 
ocorrer, como aqueles descritos por ODDY (1995) para a produção de 
carne bovina na Austrália. No entanto, estes cenários possíveis podem 
servir como indicação dos tipos de animais que serão demandadosno 
futuro. Neste sentido, dois aspectos são importantes: 1) manutenção (ou 
mesmo aumento) da variabilidade disponível em bovinos de corte; e 2) 
aumento na flexibilidade dos programas de melhoramento genético para 
praticar mudanças no tipo de animal em resposta às mudanças nas 
exigências de produção e de mercado. 
Desde a introdução do índice de mérito total (HAZEL, 1943), para 
definir os objetivos do melhoramento genético de animais domésticos, 
vários estudos foram realizados até que fosse obtido um consenso quanto à 
metodologia a ser utilizada. Um objetivo de melhoramento genético pode 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 5 
ser definido por uma função que considera os valores genéticos para várias 
características como entrada e produz, como saída, a variável que o 
tomador de decisão quer maximizar como, por exemplo, o lucro. Esta 
função pode ser usada para comparar animais de uma mesma raça, raças 
ou grupos genéticos diferentes. As comparações devem ser feitas após 
ajustar as práticas de manejo ao nível adequado para cada genótipo 
(GODDARD, 1997), o que é praticamente impossível na maioria das 
vezes, particularmente nas regiões tropical e subtropical. A melhor maneira 
de se definir o objetivo é a relação entre o custo e a receita porque, desta 
forma, o objetivo não é afetado pelo efeito de escala e também é o mesmo 
para produtores e consumidores. 
A Figura 1 ilustra as relações entre seleção, cruzamentos e formação 
de novas raças em bovinos de corte. O ponto de partida considerado foi a 
utilização de uma "raça exótica" em cruzamento com fêmeas da população 
local. Assim, a estratégia colocada em discussão nesta palestra é a 
utilização de cruzamentos. 
As questões colocadas na Figura 1 precisam ser respondidas com 
níveis adequados de precisão. Do contrário, torna-se praticamente 
impossível estabelecer a estratégia de utilização dos recursos genéticos mais 
adequada para atender a amplitude de mercados em que o Brasil participa. 
Talvez seja correto afirmar que, para atender toda a amplitude de mercados 
de carne bovina, a produção terá que ser feita utilizando diferentes sistemas 
de produção e diferentes tipos de animais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SIM 
QUAL RAÇA EXÓTICA 
 É MELHOR? 
QUANTO DA RAÇA EXÓTICA 
É DESEJÁVEL? 
 
< 100% 
A HETEROSE É IMPORTANTE? 
 
POUC
O 
FORMAÇÃO DE NOVA RAÇA 
SELEÇÃO NA NOVA RAÇA 
 
 100% 
 
MUITO 
CRUZAMENTO 
ROTACIONADO 
É POSSÍVEL? 
 
SIM 
SELEÇÃO NAS 
RAÇAS 
PATERNAS 
 
NÃO 
OS ANIMAIS CRUZADOS 
SÃO MELHORES? 
 
SELEÇÃO NA 
RAÇA EXÓTICA 
 
SELEÇÃO NA 
RAÇA LOCAL 
Figura 1 - Opções estratégicas envolvendo sistemas de cruzamento e seleção 
(adaptada de Cunningham, 1981). 
 
NÃO 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 7 
3. TIPOS BIOLÓGICOS DE BOVINOS 
 
Vários tipos de bovinos podem ser criados para a obtenção de 
novilhos precoces, seja como raças puras ou em cruzamentos. No entanto, 
é preciso reconhecer que as relações de natureza genética entre as 
características de crescimento dos animais e dos tecidos da carcaça 
determinam a existência de apenas alguns tipos biológicos. Quanto ao 
tamanho à maturidade (idade adulta), por exemplo, os diferentes tipos de 
bovinos podem ser classificados em pequeno, médio e grande. Do mesmo 
modo, quanto ao grau de musculatura, os animais podem ser classificados 
em um dos três seguintes tipos de musculatura: grossa, moderada e fina. 
Embora exista variação quanto ao tipo de musculatura entre animais 
de uma mesma raça, a combinação desses dois critérios de classificação 
permite a determinação dos tipos biológicos disponíveis para obtenção de 
novilhos de corte (Tabela 1). 
Os dois critérios de classificação proporcionam um sistema útil para a 
determinação do tipo biológico. As raças de tamanho grande e musculatura 
grossa têm taxas de crescimento maiores (maior ganho de peso por dia), 
mas são mais tardias quanto à habilidade para acumular o mínimo 
necessário de gordura na carcaça. As raças de tamanho pequeno e 
musculatura moderada, por outro lado, têm menores taxas de crescimento 
absoluto, mas são mais precoces em termos de acabamento da carcaça, 
isto é, têm maior habilidade para deposição de gordura na carcaça do que 
as de tamanho grande. 
Trabalhos de pesquisa mostram que a correlação genética entre o 
peso à maturidade (idade adulta) e a taxa de maturação (tempo que o 
animal leva para atingir o tamanho à maturidade) é negativa. Isto indica que 
os animais com potencial genético para maior tamanho à maturidade 
demoram mais tempo para atingir um mesmo grau de maturidade, se 
comparados com animais de menor potencial genético para tamanho à 
maturidade. Essa relação entre tamanho na idade adulta e grau de 
maturidade tem conseqüências importantes no peso de abate e na 
composição da carcaça, como será visto mais adiante. 
 
 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 8 
Tabela 1 - Classificação de algumas raças de bovinos de acordo com o 
tamanho à maturidade e o grau de musculatura (adaptada de 
MINISH & FOX, 1982) 
 
Tamanho à 
maturidade 
Grau de Musculatura 
(idade adulta) Grossa Moderada Fina 
Pequeno Angus Gir Leiteiro 
 Gir Guernsey 
 Murray Grey Jersey 
 Red Angus Pitangueiras 
 
Médio Belgian Blue Brahman Ayrshire 
 Gelbvieh Brangus-Ibagé Caracu 
 Limousin Canchim Hays Converter 
 Piemontês Hereford Lincoln Red 
 Pinzgauer Nelore Shorthorn Leiteiro 
 Red & White Beef Tabapuã Welsh Black 
 
Grande Blonde d´Aquitaine Holandês Frísio Holandês Amer. 
 Charolês Marchigiana South Devon 
 Chianina Pardo-Suíço 
 Fleckvieh Simental 
 
 
4. UTILIZAÇÃO DE RAÇAS E CRUZAMENTOS PARA 
PRODUÇÃO DE NOVILHOS PRECOCES 
 
Há três estratégias de utilização dos recursos genéticos para 
produção de carne bovina: 1) a utilização de animais de uma raça pura 
melhor adaptada ao sistema de produção-comercialização existente ou 
potencial; 2) a formação de novas raças, combinando características 
desejáveis de duas ou mais raças puras, caso a primeira estratégia não seja 
capaz de atender as exigências do sistema de produção-comercialização; e 
3) a utilização de cruzamentos, de forma permanente, sem a preocupação 
de formar novas raças. 
As razões para a utilização de cruzamentos são: 1) aproveitar os 
efeitos da heterose; 2) utilizar as diferenças genéticas existentes entre as 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 9 
raças puras para uma determinada característica; 3) aproveitar os efeitos favoráveis da 
combinação de características, nos animais cruzados, resultantes da seqüência em que as 
raças são utilizadas no sistema de cruzamentos (complementaridade); e 4) dar flexibilidade 
aos sistemas de produção-comercialização. Os diferentes sistemas de cruzamento 
(rotacionado, terminal e rotacionado-terminal) exploram as razões de natureza genética em 
graus diferenciados, mas todos eles têm o potencial de tornar os sistemas de produção 
mais flexíveis, principalmente quanto ao tipo de produto requerido pelo mercado, em 
prazos relativamente curtos, quando comparados com as outras estratégias de utilização 
dos recursos genéticos. Esta vantagem talvez seja mais importante que as outras e, por sua 
vez, implica na escolha estratégica dos recursos genéticos e de ambiente e, também, na 
adoção de melhor manejo dos recursos disponíveis para a produção de novilhos 
precoces. 
Os resultados sobre a utilização de raças puras e cruzamentos no Brasil foram 
sumarizados por BARBOSA e DUARTE (1989), BARBOSA (1990; 1995) e 
BARBOSA e ALENCAR (1995). 
Mais recentemente, vários resultados sobre o desempenho de animais cruzados 
foram relatados na literatura. Para as características mais freqüentemente estudadas e 
quando os experimentos incluíram uma população controle de animais de raça pura (tanto 
de Bos taurus quanto de Bos indicus), a síntese do desempenho dos animais cruzados foi 
atualizadaem 1998, considerando-se aquele dos animais da raça pura como base e igual 
a 100. As características avaliadas foram o ganho de peso em confinamento, o peso e o 
rendimento de carcaça, o consumo de matéria seca, a conversão alimentar e a espessura 
de gordura na altura da 12a costela. Maiores detalhes quanto aos procedimentos 
adotados para cálculo das médias e das amplitudes de variação do desempenho relativo 
podem ser obtidos em BARBOSA e DUARTE (1989) e BARBOSA (1990; 1995). 
Os resultados obtidos foram descritos e discutidos por BARBOSA (1998). 
Os dados relatados na literatura sobre peso e idade de abate e espessura de 
gordura, tanto para animais terminados em confinamento como em regime de pastagens, 
foram organizados de acordo com o grupo genético e sumarizados até julho de 1999. As 
médias são apresentadas nas Tabelas 2 e 3, respectivamente. 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 10 
Tabela 2 - Número de estimativas (N) e médias de peso de carcaça, 
idade de abate e espessura de gordura, de acordo com grupo 
genético, para animais terminados em regime de confinamento 
 
Grupos Número de estimativas e médias (± erro-padrão) 
Genéticos N Peso, 
arrobas 
Idade, 
meses 
Espessura, 
mm 
Raças puras: 
Britânicas 9 13,6 ± 0,5 20,9 ± 2,5 4,0 ± 0,4 
Continentais 27 15,0 ± 0,3 27,2 ± 1,4 2,9 ± 0,8 
Zebuínas 93 16,7 ± 0,2 27,8 ± 0,9 5,2 ± 0,3 
Animais F1: 
Britânicas x Zebu 9 17,3 ± 0,5 24,7 ± 1,0 4,5 ± 0,7 
Continentais x Zebu 72 17,3 ± 0,3 22,2 ± 0,6 3,3 ± 0,2 
Animais retrocruzados: 
2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 19 15,1 ± 0,5 16,7 ± 1,2 4,8 ± 0,4 
2/3 Continentais + 1/3 Zebu 17 16,4 ± 0,5 25,9 ± 2,2 3,6 ± 0,7 
2/3 Zebu + 1/3 Britânicas 5 16,8 ± 0,9 21,0 ± 1,6 2,7 ± 0,3 
2/3 Zebu + 1/3 Continentais 25 16,9 ± 0,3 23,6 ± 1,4 3,1 ± 0,1 
Animais cruzados de 3 raças: 
½ Brit. + ¼ Cont. + ¼ Zebu 5 17,4 ± 0,9 23,6 ± 5,0 3,4 ± 0,9 
Total 281 16,5 ± 0,1 24,5 ± 0,5 4,0 ± 0,2 
 
As médias de espessura de gordura na altura da 12ª costela (Tabelas 
2 e 3) indicam que o grau de acabamento de animais cruzados, 
particularmente os filhos de touros de raças de tamanhos médio e grande, 
está abaixo do desejado pela maioria dos mercados consumidores (5 a 8 
mm) porque os animais foram abatidos com pesos inferiores aos 
recomendados por BARBOSA (1995) para novilhos (525 kg de peso vivo 
ou 17,5 arrobas) e machos não-castrados (575 kg de peso vivo ou 19,2 
arrobas), considerando rendimento de carcaça de 50%. 
O resultado que, até certo ponto, pode ser considerado 
surpreendente é o grau de acabamento das carcaças provenientes de 
animais de raças zebuínas, tanto em confinamento (5,2 ± 0,3 mm) como em 
pastagens (5,7 ± 0,7 mm). No entanto, as idades de abate (27,8 e 34,5 
meses respectivamente) limitariam a classificação dos animais como 
novilhos precoces. 
Observa-se, ainda, que o número de estimativas sobre o 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 11 
desempenho de determinados grupos genéticos é pequeno, tanto em regime 
de confinamento (Tabela 2) como em regime de pastagens (Tabela 3). 
Considerando-se que a terminação em regime de pastagens é a mais 
praticada no Brasil, nota-se que há poucos resultados experimentais sobre 
o desempenho comparativo de animais cruzados de raças britânicas com 
Zebu, retrocruzados com raças continentais e com raças zebuínas. 
 
Tabela 3 - Número de estimativas (N) e médias para peso de carcaça, 
idade de abate e espessura de gordura, de acordo com grupo 
genético, para animais terminados em regime de pastagens 
 
Grupos Número de estimativas e médias (± erro-padrão) 
Genéticos N Peso, 
arrobas 
Idade, 
meses 
Espessura, 
mm 
Raças puras: 
Britânicas 14 13,8 ± 0,5 33,4 ± 2,3 4,2 ± 0,5 
Continentais 11 15,3 ± 0,4 36,8 ± 2,8 1,9 ± 0,3 
Zebuínas 25 15,0 ± 0,3 34,5 ± 1,4 5,7 ± 0,7 
Animais F1: 
Britânicas x Zebu 3 16,3 ± 0,9 35,8 ± 3,6 3,4 ± 0,7 
Continentais x Zebu 16 15,1 ± 0,5 31,0 ± 2,1 3,3 ± 0,2 
Continentais x Britânicas 4 15,1 ± 1,0 38,0 ± 2,9 1,6 ± 0,4 
Animais retrocruzados: 
2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 15 15,2 ± 0,6 34,5 ± 2,0 4,2 ± 0,4 
2/3 Continentais + 1/3 Zebu 4 16,5 ± 0,5 27,4 ± 1,4 2,1 ± 0,8 
2/3 Zebu + 1/3 Britânicas 3 17,1 ± 0,7 36,5 ± 5,8 4,0 ± 0,7 
2/3 Zebu + 1/3 Continentais 3 17,1 ± 0,2 32,3 ± 2,2 1,9 ± 0,7 
Animais cruzados de 3 raças: 
½ Zebu + ¼ Brit. + ¼ Cont. 2 18,9 ± 0,1 30,0 ± 0,0 2,6 ± 0,2 
Total 97 15,2 ± 0,2 33,8 ± 0,8 3,9 ± 0,3 
 
Com o objetivo de verificar se os coeficientes parciais do peso da 
carcaça e da idade de abate na espessura de gordura variavam de acordo 
com o grupo genético foram realizadas análises de regressão. Os 
coeficientes parciais da regressão da espessura de gordura, no peso de 
carcaça e na idade de abate, e os coeficientes de determinação são 
mostrados na Tabela 4, para animais terminados em confinamento, e na 
Tabela 5, para animais terminados em pastagens. O peso de carcaça foi 
expresso em arrobas e a idade de abate em meses para facilitar a 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 12 
interpretação. 
Os resultados mostrados na Tabela 4 indicam que, em geral, o peso 
de carcaça é mais importante que a idade de abate quanto ao aumento da 
espessura de gordura na altura da 12ª costela, particularmente para as 
raças britânicas e para os animais cruzados envolvendo raças britânicas. O 
coeficiente de regressão da espessura de gordura na idade de abate foi 
significativo para os animais de raças zebuínas, cruzados de raças 
continentais com Zebu, retrocruzados de raças britânicas com raças 
zebuínas e retrocruzados de raças zebuínas com raças britânicas. 
 
Tabela 4 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no 
peso da carcaça (b1) e na idade do animal (b2) e coeficientes 
de determinação (R2), de acordo com o grupo genético, para 
animais terminados em confinamento 
 
Grupos genéticos b1, mm/arroba b2, mm/mês R
2, % 
Raças puras: 
Raças britânicas 0,49 ± 0,11** -0,13 ± 0,07 90,83 
Raças continentais -0,18 ± 0,22 0,21 ± 0,12 36,75 
Raças zebuínas 0,14 ± 0,05** 0,10 ± 0,03** 79,87 
Animais F1: 
Britânicas x Zebu -0,01 ± 0,26 0,18 ± 0,18 79,64 
Continentais x Zebu 0,03 ± 0,05 0,12 ± 0,04** 82,68 
Continentais x Britânicas - - - 
Animais retrocruzados: 
2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 0,50 ± 0,08** -0,16 ± 0,07* 92,10 
2/3 Continentais + 1/3 Zebu 0,02 ± 0,13 0,12 ± 0,08 58,91 
2/3 Zebu + 1/3 Britânicas -0,05 ± 0,05 0,17 ± 0,04* 98,46 
2/3 Zebu + 1/3 Continentais 0,24 ± 0,03** -0,04 ± 0,02 94,70 
Cruzados de 3 raças: 
½ Brit. + ¼ Cont.. + ¼ Zebu 0,38 ± 0,11* -0,14 ± 0,07 81,13 
Total 0,11 ± 0,03** 0,09 ± 0,02 72,32 
* P < 0,05; ** P < 0,01. 
 
Os animais de raças britânicas (Angus, Devon, Hereford e 
Shorthorn) e zebuínas (praticamente só Nelore) depositam gordura na 
carcaça nas taxas de 0,49 ± 0,11 (P < 0,01) e 0,14 ± 0,05 (P < 0,01) 
mm/arroba de aumento no peso da carcaça, respectivamente, enquanto 
que, para os animais de raças continentais (Charolês, Chianina, 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 13 
Marchigiana, Holandês, Pardo-Suíço, Limousin, Gelbvieh, Caracu, etc.) a 
taxa foi negativa, mas não diferente de zero (-0,18 ± 0,22 mm/arroba de 
aumento no peso da carcaça, P > 0,05). Os resultados mostram que há 
diferenças genéticas entre as raças para deposição de gordura, de acordo 
com o aumento do peso de carcaça, e que nas raças continentais a taxa de 
deposição é menor. 
Para os animais terminados em pastagens (Tabela 5), os coeficientes 
de regressão também indicam que o peso de carcaça é mais importante do 
que a idade de abate no grau de acabamento, particularmente para os 
animais de raças continentais e retrocruzados 2/3 britânicas + 1/3 Zebu. 
 
Tabela 5 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no 
peso da carcaça (b1) e na idade do animal (b2) e coeficientes 
de determinação (R2), de acordo com o grupo genético, para 
animais terminados em pastagens 
 
Grupos genéticos b1, mm/arroba b2, mm/mês R
2, % 
Raças puras: 
Raças britânicas0,25 ± 0,12 0,03 ± 0,05 86,43 
Raças continentais 0,16 ± 0,06* -0,02 ± 0,03 78,88 
Raças zebuínas 0,35 ± 0,19 0,01 ± 0,08 69,28 
Animais F1: 
Britânicas x Zebu 0,17 ± 0,24 0,07 ± 0,17 75,54 
Continentais x Zebu 0,09 ± 0,06 0,06 ± 0,03 94,85 
Continentais x Britânicas -0,19 ± 0,81 0,12 ± 0,32 83,96 
Animais retrocruzados: 
2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 0,39 ± 0,17* -0,05 ± 0,07 92,73 
2/3 Continentais + 1/3 Zebu 0,26 ± 0,93 -0,08 ± 0,56 33,83 
2/3 Zebu + 1/3 Britânicas -0,02 ± 0,04 0,12 ± 0,02 99,28 
2/3 Zebu + 1/3 Continentais 0,01 ± 0,53 0,06 ± 0,28 39,87 
Cruzados de 3 raças: 
½ Zebu + ¼ Brit. + ¼ Cont. 1,20 -0,67 - 
Total 0,17 ± 0,07* 0,04 ± 0,03 70,11 
* P < 0,05; ** P < 0,01. 
 
Com o objetivo de compreender o comportamento do peso de 
carcaça, da idade de abate e das proporções das raças britânicas, 
continentais e zebuínas na composição genética dos animais cruzados, 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 14 
foram realizadas análises de regressão da espessura de gordura, como 
indicador do grau de acabamento da carcaça, nestas características, para 
os sistemas de terminação em confinamento e em pastagens. Os resultados 
são mostrados nas Tabelas 6, 7, 8 e 9. 
No sistema de terminação em confinamento (Tabela 6), observa-se 
que apenas o coeficiente de regressão da espessura de gordura na idade de 
abate foi significativo (aumento de 0,09 ± 0,02 mm/mês de aumento na 
idade de abate). No sistema de terminação em pastagens, os coeficientes 
parciais de regressão não foram significativos. 
Quando se ajusta para peso da carcaça e idade de abate, não se 
espera que sejam observadas diferenças na espessura de gordura de 
acordo com a proporção de genes de raças britânicas, continentais e 
zebuínas nos animais. De acordo com BERG e BUTTERFIELD (1976), 
diferenças genéticas podem ser observadas na composição da carcaça, 
porque algumas raças começam a depositar gordura mais precocemente do 
que outras. A taxa de deposição de gordura pode diferir entre raças, mas a 
maior diferença observada é com relação ao período de estabelecimento da 
fase de acabamento. Geralmente, os animais precoces apresentam um 
menor tamanho por ocasião da maturidade e, consequentemente, entram na 
fase de acabamento mais jovens e com pesos mais leves do que os animais 
de raças de grande porte. 
Os resultados indicam, ainda, que a escolha estratégica da utilização 
de raças britânicas, continentais e zebuínas e dos sistemas de cruzamento 
para produção de novilhos precoces depende, em grande parte, da 
definição do sistema de terminação dos animais (confinamento ou 
pastagens) e da idade de abate no caso da terminação em confinamento. 
Na Tabela 7 são apresentados os coeficientes de regressão da 
espessura de gordura nas proporções de raças britânicas, continentais e 
zebuínas quando se mantém o peso de carcaça constante. No sistema de 
terminação em pastagens, os coeficientes de regressão não foram diferentes 
de zero. Entretanto, no sistema de terminação em confinamento observa-se 
que para cada 1/8 de aumento na proporção de raças zebuínas nos animais, 
a espessura de gordura aumenta 0,40 ± 0,15 mm, semelhante ao que 
ocorre com as raças britânicas (0,34 ± 0,15 mm), mas diferente do 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 15 
observado para as raças continentais (0,11 ± 0,15 mm). Esses resultados 
indicam que as diferenças entre as raças quanto à taxa de deposição de 
gordura são grandes e, por isso, a escolha estratégica dos recursos 
genéticos depende fundamentalmente da especificação do produto final que 
o mercado consumidor exige. Uma vez definido o produto a ser obtido, 
pode-se escolher os recursos genéticos a serem utilizados e o sistema de 
produção a ser adotado. 
 
Tabela 6 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no 
peso da carcaça, na idade de abate e nas proporções de 
raças britânicas, continentais e zebuínas na composição 
genética dos animais, de acordo com o sistema de terminação 
 
Características Confinamento Pastagens 
Peso de carcaça, arrobas 0,07 ± 0,07 0,11 ± 0,13 
Idade de abate, meses 0,09 ± 0,02** 0,03 ± 0,03 
Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 0,19 ± 0,14 0,15 ± 0,26 
Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 -0,11 ± 0,15 -0,18 ± 0,27 
Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 0,15 ± 0,16 0,33 ± 0,27 
Coeficiente de determinação (R2), % 74,44 76,94 
 * P < 0,05; ** P < 0,01. 
 
Tabela 7 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no 
peso da carcaça e nas proporções de raças britânicas, 
continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de 
acordo com o sistema de terminação 
 
Características Confinamento Pastagens 
Peso de carcaça, arrobas 0,09 ± 0,07 0,12 ± 0,13 
Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 0,34 ± 0,15* 0,26 ± 0,23 
Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 0,11 ± 0,15 -0,07 ± 0,25 
Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 0,40 ± 0,15* 0,43 ± 0,25 
Coeficiente de determinação (R2), % 72,56 76,93 
 * P < 0,05; ** P < 0,01. 
 
Os coeficientes de regressão da espessura de gordura nas 
proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas, quando se mantém 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 16 
a idade de abate constante (Tabela 8), mostram que há diferenças entre as 
raças e entre os sistemas de terminação dos animais, com conclusão 
semelhante àquela feita com relação ao peso de carcaça (Tabela 7). Outro 
aspecto importante é o coeficiente de regressão da proporção de raças 
zebuínas na espessura de gordura (0,53 ± 0,13 mm), quando os animais 
são criados em regime de pastagens. 
 
Tabela 8 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura na 
idade de abate e nas proporções de raças britânicas, 
continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de 
acordo com o sistema de terminação 
 
Características Confinamento Pastagens 
Idade de abate, meses 0,09 ± 0,02** 0,03 ± 0,03 
Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 0,32 ± 0,08** 0,34 ± 0,14* 
Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 0,03 ± 0,07 0,03 ± 0,14 
Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 0,30 ± 0,07** 0,53 ± 0,13** 
Coeficiente de determinação (R2), % 74,43 76,99 
 * P < 0,05; ** P < 0,01. 
 
 Os coeficientes de regressão da espessura de gordura nas 
proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas, sem ajustar para o 
peso de carcaça e a idade de abate dos animais, foram todos significativos 
em ambos os sistemas de terminação (Tabela 9). Esses resultados mostram 
que há diferenças entre os tipos biológicos de animais para grau de 
acabamento da carcaça. Como o peso de carcaça e a idade de abate 
podem variar de acordo com as exigências do mercado, essas diferenças 
no grau de acabamento são importantes sob o ponto de vista de escolha 
estratégica tanto dos recursos genéticos como das formas de sua utilização 
para a produção de novilhos precoces. 
 
 
 
 
 
 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 17 
Tabela 9 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura nas 
proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas na 
composição genética dos animais, de acordo com o sistema de 
terminação 
 
Características Confinamento Pastagens 
Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 0,51 ± 0,07** 0,48 ± 0,06** 
Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 0,30 ± 0,04** 0,17 ± 0,07* 
Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 0,60 ± 0,03** 0,67 ± 0,05** 
Coeficiente de determinação (R2), % 72,48 76,95 
 * P < 0,05; ** P < 0,01. 
 
5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 
 
 Análises de regressão foram realizadas com o objetivo de verificar o 
comportamento das raças puras e dos animais cruzados, tanto em regime 
de confinamento como pastagens, quanto à espessura de gordura na altura 
da 12ª costela, como indicador do grau de acabamento para classificação 
dos animais como novilhos precoces. 
Os resultados obtidos permitem algumas conclusões erecomendações. 
Para animais terminados em confinamento, o peso de abate é mais 
importante do que a idade na determinação da espessura de gordura na 
altura da 12ª costela. 
Em regime de confinamento, quanto maior a proporção das raças 
continentais na composição genética dos animais, menor é a taxa de 
deposição de gordura (0,30 ± 0,04 mm para cada aumento de 12,5% de 
genes de raças continentais). 
Tanto para animais terminados em confinamento como em regime de 
pastagens, a espessura de gordura aumenta mais de acordo com a 
proporção de raças zebuínas (0,60 ± 0,03 mm e 0,67 ± 0,05 mm para 
cada 12,5% de aumento na proporção de Zebu nos animais cruzados, 
respectivamente) do que com as proporções de raças britânicas e 
continentais. 
O desempenho de animais Zebu, tanto em confinamento como em 
pastagens, quanto ao peso de carcaça (16,7 ± 0,2 e 15,0 ± 0,3 arrobas), 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 18 
idade de abate (27,8 ± 0,9 e 34,5 ± 1,4 meses) e espessura de gordura na 
altura da 12ª costela (5,2 ± 0,3 e 5,7 ± 0,7 mm) sugere que a estratégia de 
cruzamentos deve ser comparada com a utilização das raças zebuínas para 
produção de novilhos precoces. 
A escolha estratégica das raças para utilização em sistemas de 
cruzamento deve ser feita levando-se em consideração o sistema de 
terminação, o peso de carcaça, a idade de abate e o grau de acabamento 
desejados pelos segmentos do mercado consumidor. 
Os sistemas de cruzamento, como estratégia de utilização de recursos 
genéticos para produção de novilhos precoces, proporcionam maior 
flexibilidade aos sistemas de produção e têm o potencial de atender, a curto 
prazo, as exigências dos consumidores e viabilizar, se necessário, a 
segmentação do mercado de carne bovina. 
 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BARBOSA, P. F. Cruzamentos para produção de carne bovina no Brasil. In: 
Bovinocultura de Corte (Ed.: SOCIEDADE BRASILEIRA DE 
ZOOTECNIA), p. 1-45. Piracicaba: FEALQ, 1990. 146p. 
BARBOSA, P. F. Cruzamentos para produção do novilho precoce. In: 
ENCONTRO NACIONAL SOBRE NOVILHO PRECOCE, Campinas, 
SP, 22 a 24 de agosto de 1995, p. 75-92. Campinas: Coordenadoria de 
Assistência Técnica Integral, Departamento de Comunicação e 
Treinamento, 1995. 128p. 
BARBOSA, P. F. Cruzamentos industriais e a produção de novilhos 
precoces. In: SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO INTENSIVA DE 
GADO DE CORTE, Campinas, SP, 29 e 30 de abril de 1998, p. 100-114. 
Campinas: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, 1998. 232p. 
BARBOSA, P. F.; ALENCAR, M. M. de. Sistemas de cruzamento em 
bovinos de corte: estado da arte e necessidades de pesquisa. In: 
REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE 
ZOOTECNIA, 32, Julho de 1995, Brasília, DF. Brasília, DF: Sociedade 
Brasileira de Zootecnia, Anais... p. 681-683, 1995. 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 19 
BARBOSA, P. F.; DUARTE, F. A. M. Crossbreeding and new beef cattle 
breeds in Brazil. Revista Brasileira de Genética, Ribeirão Preto, v.12, 
n.3 (Suppl. 1), p. 257-301, 1989. 
BERG, R. T.; BUTTERFIELD, R. M. New Concepts of Cattle Growth . 
Sydney: Sydney University Press, 1976. 240p. 
DOMINGUES, O. O Zebu, sua reprodução e multiplicação dirigida. São 
Paulo: Livraria Nobel S. A., 1971. 187p. 
GODDARD, M. E. Consensus and debate in the definition of breeding 
objectives. Journal of Dairy Science, v. 80, suppl. 1, p. 144, 1997. 
HARRIS, D. L.; STEWART, T. S.; ARBOLEDA, C. R. Animal breeding 
programs: a systematic approach to their design. Peoria, IL: Agricultural 
Research Service, U. S. Department of Agriculture, 1984. 14p. 
HAZEL, L. N. The genetic basis for constructing selection indexes. 
Genetics, v. 28, p. 476-490, 1943. 
MINISH, G. L. e FOX, D.G. Beef production and management, 2nd ed. 
Reston, VA: Reston Publishing Company, 1982. 470p. 
ODDY, H. What can Australian nutritionists offer the feedlot industry? In: 
ROWE, J. B. & NOLAN, J. V. (Ed.) Recent Advances in Animal 
Nutrition in Australia, p. 143-148. Armidale: University of New England, 
1995. 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 20 
 
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE ZEBU 
UMA EMPRESA DE GENÉTICA TROPICAL 
 
Luiz Antonio Josahkian 
Superintendente Técnico da ABCZ 
Professor de Melhoramento Animal da FAZU 
Caixa Postal 71 38001-970 Uberaba - MG 
e-mail : abzcsut@abcz.org.br 
 
É curioso observar que os bovinos, não sendo nativos no Brasil, 
totalizam hoje cerca de 160 milhões de cabeças espalhadas por todo o 
território nacional. 
Inicialmente um elemento colonizador de nossas fronteiras, os 
bovinos se tornaram hoje, um valioso patrimônio genético da nossa 
nação. 
Uma rápida olhada na nossa história mostra fatos relevantes que 
nos ajudam a entender a importância das raças zebuínas no contexto da 
pecuária bovina brasileira. 
Registra-se que, até meados do Século XIX, havia um 
predomínio das raças bovinas européias. Trazidas pelos colonizadores, 
encontraram no país condições adversas de clima e situações precárias 
de criação. 
Os espécimes remanescentes degeneraram-se, substituindo sua 
capacidade produtiva pelo poder adaptativo: era a natureza cobrando 
seus tributos. 
Alguns tipos bovinos atuais resultam desses animais e 
conseguiram atravessar quase 500 anos de criação, e por isso têm certo 
valor genético embora a ausência de seleção e o efetivo muito pequeno 
reduza-os apenas a representantes daqueles tempos. 
Mesmo frente a essa realidade, as importações de bovinos 
europeus se sucederam ao longo do tempo. E persistem até hoje. 
No todo, o volume de importações de raças européias supera 
estrondosamente ao das raças zebuínas: são aproximadamente 
1 milhão de bovinos europeus introduzidos no país contra 6,3 mil 
exemplares zebuínos. 
Na constituição genética atual do rebanho bovino brasileiro, 
estima-se 80% dos animais tenha genes de origem zebuína, seja na 
forma de animais puros ou através de cruzamentos. 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 22 
Traduzido em números, isso equivale a 128 milhões de cabeças. 
É um número impressionante (mesmo que sem precisão matemática) e 
demonstra o poder de sobrevivência, crescimento e multiplicação das 
raças zebuínas nas nossas condições, principalmente partindo de um 
núcleo inicial tão reduzido. 
Provavelmente foram essas características dos zebuínos que 
despertaram o interesse de alguns criadores que organizaram algumas 
importações de animais da Índia entre 1870 e 1962, em intervalos e 
quantidades irregulares. 
As primeiras importações seguramente foram movidas mais pela 
intuição do que por razões técnicas. Difícil imaginar que motivos 
teriam levado, na época, alguns intrépidos pioneiros a se aventurarem 
numa Índia distante, com meios de transporte e comunicação precários, 
em busca de animais exóticos. As referências quanto a utilidade 
daqueles animais seguramente eram vagas. Basta ver que, em 1875, 
um casal de zebu havia sido importado do Jardim Zoológico de 
Londres. 
Hoje é possível ver com clareza que tratavam-se de homens de 
visão, do tipo que enxergam bem além de seu próprio tempo. 
Em 1921 o governo brasileiro proibiu as importações da Índia 
por razões sanitárias. 
Aquelas que se organizaram em 1930, 1952, 1960 e 1962 
ocorreram sob licença especial de importação e já com exigência de 
quarentenário. 
Nada disso, porém, impediu o crescimento impetuoso e a 
instalação no país de uma das pecuárias mais pujantes e de intenso 
potencial de todo o globo terrestre, toda baseada na genética zebuína. 
 
O ESTABELECIMENTO DO REGISTRO GENEALÓGICO 
 
A multiplicação das raças zebuínas no país tomaram grandes 
proporções a partir da década de 10. Os criadores mineiros da região 
do Triângulo decidiram então formar a “Associação do Herd Book da 
Raça Zebu”, em 16 de fevereiro de 1919. 
Esta entidade chegou a emitir certificados de animais que foram 
exportados para o México e América Central. Do México chegaram 
aos Estados Unidos. 
 I Simpósio de Produção de Gado deCorte - 23 
Mas o desinteresse e a recusa dos poderes públicos em 
reconhecer esse Serviço fez com que ele quase se extinguisse , até ser 
absorvido por uma entidade maior, a Sociedade Rural do Triângulo 
Mineiro – SRTM, fundada em 18 de junho de 1934. 
Em 25 de março de 1967, a SRTM transformou-se em 
Associação Brasileira dos Criadores de Zebu – ABCZ, nome que 
ostenta até os dias atuais. 
O registro genealógico das raças indianas foi reconhecido pelo 
Ministério da Agricultura em 1936. Denominado à época Serviço de 
Registro Genealógico das Raças Bovinas de Origem Indiana – 
SERBOI, em regime de Livro Aberto, abrangia todo o território 
nacional em decorrência do Tratado de Roma , firmado naquele 
mesmo ano, do qual o Brasil foi um dos países signatários. 
No ano de 1938, exatamente no dia 17 de julho, consolida-se os 
primeiros registros genealógicos oficiais de zebuínos, quando o Sr. 
Presidente da República, Dr. Getúlio Vargas, marca o primeiro animal 
do Tipo Indubrasil. 
Transcorridas seis décadas desde aquele ato, a ABCZ manteve-se 
fiel aos princípios da pecuária seletiva , sempre consoante com o 
Ministério da Agricultura. Essa postura consolidou as raças zebuínas 
no Brasil, que têm, hoje, reconhecimento internacional, sobrepondo 
inclusive o rebanho da terra mãe - a Índia - em qualidade. De 1938 a 
1999 foram realizados 5,3 milhões de RGN’s e 2,5 milhões de RGD’s, 
envolvendo todas as raças zebuínas (veja Tabela 1 abaixo). 
 
Tabela 1 - Estatística do Registro Genealógico de Nascimento (RGN) e 
Definitivo (RGD) no período de 1939 a 1998 
 
Raça RGN % RGD % 
Gir Mocha 34.164 0.65 21.772 0.85 
Gir 491.924 9.30 286.850 11.16 
Guzerá 213.846 4.04 104.331 4.06 
Indubrasil 207.523 3.92 124.024 4.82 
Nelore 3.838.104 72.56 1.732.840 67.41 
Nelore Mocha 356.647 6.74 215.007 8.36 
Sindi 8.080 0.15 4.465 0.17 
Tabapuã 138.576 2.62 80.426 3.13 
Cangaian 29 * 50 * 
Brahman 513 0.01 876 0.03 
TOTAL 5.289.406 100.00 2.570.641 100.00 
Fonte:ABCZ/SUT/SDG 1999 
*não significativo ao nível de 1% 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 24 
O PROCESSO QUE NÃO PARA 
 
De um momento inicial - onde os espécimes indianos aqui 
introduzidos se amalgamaram numa desordem de tipo e função - até os 
dias atuais, quando as raças zebuínas são perfeitamente identificáveis 
graças ao registro seletivo ininterrupto, foram sendo criadas 
ferramentas adicionais de seleção para desempenho funcional. 
Atingido um padrão fenotípico aceitável, tornou-se imperativo 
incorporar à seleção pelo tipo racial, critérios mensuráveis e em bases 
científicas e econômicas. 
Já no ano de 1968 estabeleceram-se as Provas Zootécnicas, 
pautadas basicamente no Controle do Desenvolvimento Ponderal, nas 
Provas de Ganho em Peso e no Controle Leiteiro. 
Esses testes perduram até hoje e somam a impressionante marca 
de 1,3 milhão de animais avaliados e 5,2 milhões de dados colhidos. 
 
Tabela 2 - Controle do Desenvolvimento Ponderal - CDP (1968-
agosto de 1999): Número de pesagens realizadas e número 
de animais inscritos, por raça 
 
Raça Pesagens % Inscritos % 
Brahman 3.556 0.07 1.158 0.09 
Gir 34.763 0.67 63.601 4.84 
Guzerá 325.919 6.27 81.201 6.19 
Indubrasil 143.260 2.75 40.438 3.08 
Nelore 3.885.484 74.70 940.492 71.64 
Nel. Mocho 437.216 8.41 99.212 7.56 
Sindi 2.042 0.04 513 0.04 
Tabapuã 310.409 5.97 71.838 5.47 
Gir Mocho 58.509 1.12 14.262 1.09 
Total 5.201.158 100.0 1.312.715 100.0 
Fonte:ABCZ/SUT/SMG 1999. 
 
 
 
 
 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 25 
Tabela 3 - Provas de Ganho em Peso -PGP : realizadas de 1975 a 
1999 
 
402 Provas Realizadas 
Raça Animais Testados % 
Nelore 10.974 74.89 
Indubrasil 230 1.57 
Gir 251 1.71 
Guzerá 1.332 9.09 
Nel.Mocho 656 4.48 
Tabapuã 1.147 7.83 
Gir Mocho 40 0.27 
Brahman 24 0.16 
Total 14.654 100 
Fonte: ABCZ/SUT/SMG 1999. 
 
 
Tabela 4 - Serviço de Controle Leiteiro - CL: Número de vacas 
inscritas e número de controles efetuados, de 1975 a 
outubro de 1999 
 
Raça Inscritas % Pesagens % Encerradas % 
Gir 1674 66.88 11.975 65.91 11.975 72.82 
Gir Mocho 115 4.59 687 3.78 687 4.18 
Guzerá 363 14.50 3.027 16.66 3.027 18.41 
Zebu Leiteiro 103 4.12 562 3.09 562 3.42 
Nelore 138 5.51 1.135 6.25 116 0.71 
Sindi 65 2.60 458 2.52 45 0.27 
Indubrasil 45 1.80 324 1.78 33 0.20 
Total 2503 100.00 18.168 100.00 16.445 100.00 
Fonte: ABCZ/SUT/SMG 1999. 
 
É seguramente o maior acervo de informações de zebuínos 
existente no mundo. Esse banco de dados é uma fonte inesgotável de 
estudos, alicerçando inúmeras pesquisas com instituições do porte da 
Embrapa, várias Universidades e Centros de Investigação Científica. 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 26 
As raças zebuínas começaram a definir seus contornos 
econômicos e os avanços foram cada vez mais significativos. 
O conceito de seleção do zebu agregou então, na prática e de 
forma definitiva, a busca por animais geneticamente puros aliados à 
eficiênc ia da produção em um ambiente tipicamente tropical 
O mundo reconheceu essa genética melhoradora e o resultado é 
que o zebu brasileiro há muito ultrapassou as fronteiras nacionais: 
Estados Unidos, México, Guatemala, Honduras, Costa Rica, 
Nicarágua, Bolívia, Colômbia, Argentina, Paraguai, Venezuela e 
Tailândia, apenas para citar alguns, são países que se utilizam de nossa 
genética zebuína. 
 
OS ANOS 80 E 90 
 
A década de 80 foi caracterizada no país por um movimento, 
ainda subjacente, da busca por mecanismos que pudessem identificar 
com maior precisão uma genética superior e mais produtiva. 
As transformações econômicas e sociais que ocorreram no 
mundo passaram a determinar a eficiência de produção como palavra 
de ordem. 
Por outro lado, não obstante “eficiência” tenha se tornado um 
imperativo, outras transformações de cunho mais social e comunitário 
postulavam a proteção ao meio ambiente. 
Cada vez mais, ONG’s passaram a cobrar da sociedade como 
um todo, a preservação do meio ambiente. E verdade seja dita, 
abstraída algumas posições extremadas e desvinculadas da realidade, 
tais atitudes são sérias e devem ser consideradas no contexto da 
produção auto-sustentável ao longo do tempo. 
Nesse estado geral de coisas, os zebuínos se apresentaram como 
excelente solução para resolver ambos os lados da equação: produzir 
proteína nobre (a carne vermelha) em sistemas de produção extensivo 
onde a agressão ao meio ambiente inexiste ou é mínima. Sem 
ufanismo, ponto para o zebu e ponto para a humanidade. 
Os anos 90 chegaram trazendo a rapidez no tráfego de 
informações. A velocidade de transformações se tornou emblemática 
de nossa época. 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 27 
A evolução e democratização da ciência da informática provocou 
um efeito em cascata em todas as camadas sociais na difusão quase 
instantânea de conhecimento. 
Conseqüência desse processo, deslocamentos de poder e de 
recursos atingiram proporções jamais vistas anteriormente. 
Hoje, dificilmente algo ou alguém é proprietário único de idéias 
ou de conhecimento por muito tempo. 
Conceitos como reengenharia e qualidade total passaram a fazer 
parte do cotidiano de todas as empresas, independentemente de seu 
porte. 
No mercado de genética animal, especificamente, a instalação de 
programas de melhoramento tornaram-se obrigatórios, consolidando de 
forma definitiva a tendência de mercado iniciada nos anos 80. 
A propalada ‘Nova Ordem Mundial” se instalara de vez e com 
ela sinais claros de que a competição em todos os segmentos ficaria 
cada vez mais acirrada 
Fatos concretos do fenômeno da globalização, como a formação 
de blocos econômicos (UE, NAFTA, MERCOSUL...) e a consolidação 
da rede mundial de computadores (Internet), colocaram todos os 
segmentos de produção frente a um novo e gigantesco mundo de 
competição. 
A tendência generalizada da queda das barreiras comerciais 
existentes entre os países com a permanência das barreiras sanitárias, 
nos obriga a repensar nosso modelo de produção. 
Felizmente a mentalidade daquelesque dirigiram e dirigem a 
ABCZ sempre souberam atrelá-la bem ao “trem da história”. 
As respostas da entidade para esse processo estão sendo 
igualmente rápidas e eficientes: investe-se em um Programa de 
Melhoramento Genético de proporções grandiosas e que vem sendo 
construído em bases sólidas ao longo dos últimos anos; investe-se em 
informática, criando meios de uma comunicação mais rápida e 
eficiente; priorizou-se ações sinérgicas com outras entidades afins no 
setor de sanidade animal buscando dar qualidade total aos nossos 
produtos; e, o investimento nos valores humanos, que em última 
análise compõem o sistema, tem sido uma constante através de cursos 
de treinamento, aperfeiçoamento ou especialização. 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 28 
Trabalhando assim, em bases sólidas mas com a mente flexível, 
estamos confiantes de que as raças zebuínas seguem sua marcha 
acelerada para se constituírem em fatores de produção indispensáveis 
em qualquer pecuária tropical e sub-tropical. 
SELEÇÃO DE ZEBUÍNOS PARA 
CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS 
 
Prof. Dr. José Bento Sterman Ferraz e Prof. Dr. Joanir Pereira Eler 
Grupo de Melhoramento Animal 
Universidade de São Paulo - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos 
Cx. Postal 23 - 13630.970 Pirassununga SP 
e.mail: jbferraz@usp.br 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
A economia globalizada desses tempos de fim de milênio levou a 
pecuária de corte a uma situação onde apenas criadores com alta 
produtividade permanecerão no competitivo mercado. Todos aqueles que 
não atingirem níveis adequados de qualidade e produtividade serão 
marginalizados do processo produtivo, podendo até ser eliminados do 
mesmo e sair do ramo. As palavras de ordem dos tempos atuais são 
aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos, 
sempre a custos minimizados. 
No caso de criadores que se dedicam ao comércio de material 
genético, apenas os que tiverem seus animais geneticamente avaliados 
conseguirão vender seus reprodutores e matrizes, pois o mercado estará 
cada vez mais exigente e vai requerer que o material genético disponível 
demonstre com clareza o seu potencial. Os ganhos genéticos de cada 
rebanho dependerão também do uso de animais geneticamente superiores 
nos processos seletivos dentro de cada plantel. 
A seleção de animais feita pelos critérios tradicionais, através da 
escolha direta de animais mais produtivos, leva a ganhos genéticos muito 
aquém dos ganhos que seriam obtidos caso os animais fossem selecionados 
com base nos seus valores genéticos. Já o uso de touros melhoradores, ou 
seja, aqueles que melhoram o patrimônio genético dos rebanhos é uma 
prática da maior importância nesse processo, desde que o criador saiba 
como identificá-los corretamente. Aí se coloca uma pergunta básica: por 
que o criador não se utiliza de animais melhoradores em seus rebanhos? E 
duas são as possíveis respostas: 
• Porque não tem informação, ou 
• Porque não sabe interpretar a informação 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 30 
O rebanho brasileiro de bovinos é de cerca de 170 milhões de 
cabeças, das quais cerca de 80% são zebuínos ou animais com zebuínos 
em sua constituição genética. O melhoramento dos zebuínos para 
características de desenvolvimento ponderal e reprodutivo são 
necessidades imperativas para melhorar a competitividade de nossa 
pecuária. 
Assim, é necessário que todos aqueles envolvidos no agribusiness 
da pecuária de corte tenham noções bastante precisas de melhoramento 
genético e de suas ferramentas, quer sejam a identificação de animais 
superiores através das avaliações genéticas, os processos seletivos e os 
sistemas de acasalamento. 
Responder com precisão às dúvidas dos pecuaristas a respeito das 
informações a respeito da qualidade genética dos animais e do uso correto 
dessas informações é uma das responsabilidades dos geneticistas ligados 
aos programas de melhoramento genético de zebuínos no Brasil. 
Conhecendo estas técnicas, os profissionais envolvidos com a pecuária de 
corte poderão tomar decisões mais conscientes e ser mais eficientes em 
suas operações, mantendo-se competitivos e alertas para as mudanças de 
mercado que têm ocorrido com tanta rapidez. 
 
2. A AVALIAÇÃO GENÉTICA - OS "MODELOS ANIMAIS" 
 
Avaliar a qualidade genética de um animal nada mais é do que 
estimar o seu valor genético aditivo. Infelizmente é impossível conhecer com 
precisão o valor genético dos animais. O problema é muito simples: o 
desempenho dos animais, também denominado de fenótipo é resultado do 
patrimônio genético que aquele animal possui, o chamado genótipo, 
somado aos efeitos de meio ambiente, existindo ainda uma interação entre 
os efeitos de genótipo e de meio ambiente, já que alguns animais são 
superiores a outros em alguns ambientes, mas se tornam inferiores àqueles 
em ambientes diferentes. Se simbolizarmos o fenótipo com a letra F , o 
genótipo com a letra G , o meio ambiente com a letra A e a interação entre 
o genótipo e o ambiente com as letras GA, o desempenho dos nossos 
animais, seja qual for a característica estudada (peso à desmama, peso a 1 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 31 
ano, produção de leite, circunferência escrotal, etc.) poderá ser colocado 
numa equação muito simples: 
F = G + A + GA 
Esta equação nos mostra que, infelizmente, o fenótipo que medimos 
nos animais não demonstra diretamente sua qualidade ou potencialidade 
genética. Esse fenótipo, essa produção ou essa medida F estarão sempre 
influenciados pelo meio ambiente A e pela interação genótipo-ambiente 
GA, que podem assumir valores positivos ou negativos e que alteram o 
valor genético dos animais, G. Como não se pode conhecer com exatidão 
o valor genético dos animais, lança-se mão de técnicas de estimação 
desses valores. 
Pela análise da equação acima pode-se verificar portanto a 
necessidade de estimar-se o valor genético dos animais sem a interferência 
dos efeitos de meio ambiente da interação genótipo-ambiente. 
O valor genético dos animais depende da herdabilidade do caráter 
(quanto maior a herdabilidade maior a concordância entre o genótipo e o 
fenótipo), do número de informações (quanto maior este número, melhor 
a estimativa do valor genético), do parentesco entre o animal avaliado 
e as fontes de informação (quanto mais próximo o parentesco, maior a 
ênfase que a informação deve ter) e do grau de semelhança fenotípica 
entre o animal avaliado e as fontes de informação (uma forma de 
avaliar os efeitos de ambiente que são comuns a diferentes fontes de 
informação, os chamados efeitos permanentes de ambiente). 
As metodologias de estimação de valores genéticos dos animais vêm 
se aperfeiçoando desde as primeiras décadas deste século, mas apenas a 
partir dos anos 80 houve um avanço muito grande nas mesmas e criaram-se 
ferramentas muito poderosas para a avaliação dos animais, principalmente 
após o advento dos chamados "modelos animais", a mais moderna 
metodologia para avaliação genética existente. Nestas metodologias 
utilizam-se os registros de produção do animal que está sendo avaliado, 
mas também de todos os seus parentes, não importa o grau de parentesco 
existente. Assim, dados a respeito de primos distantes, avós, filhos, filhas, 
irmãos e irmãs de um reprodutor ou matriz são avaliados segundo 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 32 
complexos modelos matemáticos o que resulta na melhor estimação 
possível de seu valor genético, o G de nossa equação. 
Os modelos animais são uma aplicação dos chamados modelos 
mistos, desenvolvidos por C.R. Henderson nos anos 40, modelos que 
consideram efeitos fixos (sexo, idade da vaca, fazenda, sistemas de 
alimentação e manejo, grupo de contemporâneos, etc.) e efeitos aleatórios 
(como os efeitos diretos dos genes dos animais, os efeitos dos genes de sua 
mãe, os efeitos permanentes de ambiente que uma vaca fornece à sua 
progênie, etc) de maneira simultânea. 
Os efeitos aleatórios dos genes dos animais (diretoe materno) são 
estimados com base nas informações fornecidas pelos registros de 
produção de todo e qualquer parente do animal. Isto se tornou possível 
porque na montagem das equações de modelos mistos, a inversa da matriz 
de parentesco é adicionada à parte aleatória do sistema, "ligando" os dados 
de todos os animais que porventura tenham parentesco. Como os dados 
estão conectados, por uma propriedade de multiplicação de matrizes, no 
momento em que as soluções são obtidas, o valor genético estimado de 
cada animal é obtido considerando-se as contribuições de cada parente. 
Isto se tornou possível nos anos 80 devido principalmente à elaboração de 
regras para o cálculo da inversa da matriz de parentesco (Quaas e Pollak, 
1980) e devido ao aumento da capacidade dos microcomputadores, o que 
permitiu que vários pesquisadores passassem a ter acesso à tecnologia. 
No fim da década de 1980 e início dos anos 90, pesquisadores 
como C.R. Henderson (EUA), B. Kennedy (Canadá), L.D. Van Vleck, K. 
G. Boldman, I. Misztal (EUA), D. Sörensen (Dinamarca), K. Meyer 
(Inglaterra), E. Groeneveld (Alemanha), dentre outros desenvolveram uma 
série de programas específicos destinados a estimar parâmetros genéticos e 
valores genéticos aditivos de animais utilizando-se dessa metodologia. Tal 
metodologia já estava disponível no Brasil em 1991 e 1992 e vem sendo 
regularmente aplicada desde 1993. 
ELZO (1994) apresentou importante estudo sobre uso de 
procedimentos de máxima verossimilhança restrita para estimação de 
componentes de variância e covariância em populações cruzadas ou mesmo 
entre linhagem de mesma raça, concluindo que embora os requisitos 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 33 
computacionais sejam consideravelmente grandes, o número de 
componentes de variância e covariância pode ser diminuído, usando 
algumas pressuposições adequadas, que facilitam o uso daquelas 
metodologias na análise de dados de bovinos cruzados. 
O uso de modelos animais na avaliação de animais cruzados foi uma 
conseqüência de sua ampla utilização no avaliação genética de bovinos 
(ARNOLD et al., 1992). Até recentemente, no entanto, as limitações 
computacionais levaram à utilização dos modelos animais reduzidos, 
particularmente nas avaliações nacionais (BENYSHEK & BERTRAND, 
1990). Mais recentemente, inúmeros estudos têm-se utilizado dos 
procedimentos de modelos mistos sob modelos animais na análise genética 
de bovinos cruzados (DAVIS et al., 1994a,b; GREGORY et al., 
1994a,b,c; HACKELFORD et al., 1994; KOCH et al., 1994; MEYER et 
al., 1994; GREGORY et al., 1995a,b,c; KRESS et al., 1995; PASCHAL 
et al., 1995; RODRíGUEZ-ALMEIDA et al., 1995a,b; VAN VLECK & 
CUNDIFF, 1995), dentre outros. 
Aspectos importantes a respeito de estrutura dos dados (TOSH & 
WILTON, 1994); volume de informações de pedigree (BRISBANE & 
GIBSON, 1995; GROEN et al., 1995; HAGGER & SCHNEEBERGER, 
1995; QUINTON & SMITH, 1995) e efeitos da seleção simultânea de 
características sobre componentes de covariância (McMILLAN et al., 
1995) têm sido considerados quando da avaliação genética de animais 
provenientes de acasalamentos exogâmicos. 
Com as informações obtidas da literatura, fica evidente que a 
avaliação genética, ou seja a avaliação do valor genético aditivo dos 
animais, machos e fêmeas, de um sistema de cruzamento é uma das tarefas 
vitais ao sucesso do sistema. 
 
3. COMO SE EXPRESSAM ESSAS AVALIAÇÕES GENÉTICAS 
 
Por definição, o valor genético aditivo esperado (Expected 
Breeding Value ou EBV) de um animal é o valor que ele teria como 
reprodutor ou ainda é igual a duas vezes a diferença que seus filhos têm em 
relação aos filhos de outros reprodutores, desde que os reprodutores que 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 34 
estejam sendo comparados sejam acasalados com vacas escolhidas ao 
acaso da população. A razão para dobrar essa diferença dos filhos é que 
os filhos só têm metade dos genes dos pais. Em última análise o valor 
genético aditivo é o que os rebanhos selecionadores vendem, pois 
expressa o potencial genético dos animais vendidos. Este valor mostra o 
quanto os filhos de um animal seriam desviados em relação à média de 
todos os reprodutores em utilização, ou seja produziriam "a mais" ou "a 
menos" que a média dos filhos dos outros reprodutores, que tenham sido 
utilizados na mesma população de animais onde estivemos estimando os 
valores genéticos. 
Os EPD (expected progeny differences) ou as DEP’s (diferenças 
esperadas de progênie) são por definição a fração de uma superioridade de 
progênie devidas aos efeitos dos genes do reprodutor. Como metade do 
patrimônio genético dos filhos vem da mãe e metade do pai, os EPD ou as 
DEP equivalem à metade dos EBV. Assim, comprando-se um tourinho A 
com EPD ou DEP = +13,0 kg para peso aos 365 dias, com o tourinho B 
que tenha uma DEP de +3,0 kg significa que os filhos do tourinho A teriam 
10 Kg de peso aos 365 dias a mais do que os filhos do tourinho B se 
acasalados com vacas escolhidas ao acaso. Este conceito de EPD ou 
DEP é usado em geral pelos criadores de gado de corte, ao passo que os 
de gado de leite utilizam-se dos termos PTA (predicted transmiting ability 
ou habilidade prevista de transmissão), TA (transmiting ability, ou 
habilidade de transmissão), ou ainda PD (predicted difference) ou SC (sire 
comparison ou comparação entre reprodutores). Em essência, todos estes 
termos estimam a metade do valor genético de um reprodutor. 
 
4. A ACURÁCIA DAS AVALIAÇÕES 
 
A Acurácia (do inglês accuracy, também conhecida como 
repetibilidade da avaliação) de uma estimativa é uma medida da correlação 
entre o valor estimado e os valores das fontes de informação, ou seja mede 
o quanto a estimativa que obtivemos é relacionada com o "valor real" do 
parâmetro. Ela nos informa o quanto o valor estimado é "bom", ou seja o 
quanto o valor estimado é "próximo" do valor real e nos dá a 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 35 
"confiabilidade" daquela estimativa ou valor. Se estimamos o valor genético 
apenas pelo desempenho do próprio animal (em peso aos 365 dias por 
exemplo), o valor da acurácia será de 0,50 (para herdabilidade de 0,25), 
mas se a estimativa for baseada em 18 filhos (progênie) de um touro com 
uma amostra aleatória (tirada ao acaso) de vacas, a acurácia subirá para 
0,74. Quanto mais informações tivermos a respeito de um touro, mais 
acurada, mais "confiável" a estimativa. 
A acurácia no entanto, não depende somente do número de filhos de 
um reprodutor que foram medidos, mas, principalmente do número de 
parentes medidos que esse reprodutor teve. Assim, é comum touros com 
menor número de filhos do que outros terem acurácias maiores, devido à 
contribuição de maior número de parentes na estimação de seu valor 
genético. 
Um outro caso comum nas avaliações é a estimação de DEP's para 
efeitos genéticos maternos igual a zero, com acurácia igualmente igual a 
zero, para touros que não tiveram nenhuma filha com descendentes na 
população. Às vezes tais touros podem ter centenas de filhos medidos, alta 
acurácia para efeitos diretos e nenhuma estimativa ou acurácia para efeito 
materno. 
Este conceito de acurácia é muito importante para as decisões de 
um criador, pois indica o "risco" da decisão. Se o criador tiver um pequeno 
rebanho de alto valor genético, fica muito difícil utilizar-se um reprodutor 
cujo valor genético (DEP ou TA) tenha baixa acurácia, pois o valor 
estimado não é muito "confiável" e quando aumentarem as informações a 
respeito daquele reprodutor, por exemplo na próxima avaliação ou no 
próximo ano, aquele valor genético previsto poderá diminuir e o pequeno 
criador terá à venda então filhos de um touro inferior ao que ele achava que 
teria. Mas aquele valor poderá também subir e então o criador terá filhos 
de um bom touro. A acurácia nos informa em última análise a "segurança" 
que temos de que aquele valor estimado vá mudar ou não. 
Mas se o criador tem um porte maior e gosta de correrriscos (e talvez ter 
maiores lucros), ele poderá investir adquirindo tourinhos (ou sêmen) com altos valores 
genéticos estimados e baixa acurácia, que em geral são mais baratos, e usar este material 
genético em uma parte de seu rebanho. Se o tourinho confirmar seu alto potencial e tiver 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 36 
maior acurácia na próxima avaliação, esse criador terá feito um bom negócio, mas se tiver 
um pior desempenho, só parte dos seus produtos será originária de touros "inferiores". 
Mas altas acurácias só são conseguidas a partir de muitas informações a respeito do 
animal que está sendo testado, em geral obtidas a partir de muitos filhos e filhas do touro e 
isto significa mais tempo entre o nascimento desse reprodutor e seu uso no rebanho, o que 
aumenta o intervalo entre gerações e diminui o ganho genético por ano. Assim, usarem-se 
animais jovens, com baixa acurácia, pode aumentar o risco, mas se a avaliação estiver 
sendo bem feita, o mérito genético do rebanho como um todo cresce mais rapidamente 
do que se utilizar touros "provados", com altas acurácias. A decisão é estritamente técnica 
e deve ser tomada caso a caso. 
A tabela apresentada a seguir nos dá uma idéia aproximada desse risco: 
 
Relação entre acurácia de uma estimativa de valor genético de um animal e 
o risco de utilizar-se ou não tal animal como reprodutor na propriedade 
 
Acurácia Razão Risco 
 
0,10 a 0,30 poucas informações a respeito do animal, animal em 
geral muito jovem ==> acurácia baixa, diminui o 
intervalo entre gerações 
 alto 
0,31 a 0,70 número razoável de informações, touro jovem, com 
de 10 a 20 filhos já testados (em gado de leite, 10 a 
20 filhas com lactação) ==> acurácia média, 
intervalo entre gerações médio 
médio 
acima de 
0,70 
número suficiente de informações, animal com mais 
de 20 filhos ou filhas testados ==> acurácia alta, 
aumenta muito o intervalo entre gerações 
baixo 
 
A acurácia é a correlação entre a predição do valor genético ( $g) e o 
valor genético verdadeiro ( g ), e é dada pela fórmula: 
r( $g, g ) = 1 2−
VEP
gσ
, sendo esta concepção conhecida 
como “Acurácia Real” e onde VEP é a variância do erro da predição 
(prediction error variance, ou PEV), que é obtida na diagonal da matriz C, 
matriz intermediária do processo de solução das equações de modelos 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 37 
mistos. No entanto a inversão de tal matriz é um processo extremamente 
lento e muitas vezes, dependendo do número de animais e características 
avaliadas, é quase impossível, já que a demanda por memória de 
computadores é muito grande. 
No entanto, a acurácia quando expressa desta forma não tem 
comportamento linear com o número de progênies de um determinado 
touro, mormente em números de filhos entre 10 e 50, e fica relativamente 
difícil para o criador leigo entender as grandes variações de acurácia que 
ocorrem com pequenas variações no número de filhos. Tendo em vista este 
problema, o Beef Improvement Federation, dos Estados Unidos da 
América, adotou uma fórmula alternativa, que varia linearmente com o 
número de progênies e que dá valores de acurácia mais baixos, e mais 
conservadores, que os da “acurácia real”. A fórmula da “Acurácia BIF” é: 
Acc BIF = 1 2−
VEP
gσ
 
 
 
5. O USO DAS AVALIAÇÕES GENÉTICAS PELOS CRIADORES 
 
As DEP's são resultados de amplos programas informatizados de 
controle e avaliação de reprodutores conduzidos por Associações de 
Criadores e publicados em seus "Sumários de Touros". Eles podem ser 
relativos a qualquer característica que se possa medir com precisão, como 
o peso ao nascer, peso à desmama ajustado, peso ao sobreano ajustado, 
peso aos 540 dias ajustado, produção leiteira, de gordura ou proteína 
ajustadas, circunferência escrotal ajustada, pontuação em um sistema linear 
de avaliação corporal, altura, notas para facilidade de parto, etc. Quanto 
maior o número de informações, mais ampla será a avaliação de um 
reprodutor. Nada impede que um reprodutor seja "superior" aos demais em 
algumas características e "inferior" em outras. Essas informações é que são 
úteis para a decisão de cada criador, que tem a liberdade de melhorar seu 
rebanho segundo seus conceitos e idéias. 
Os valores das DEP's podem mudar de uma avaliação para outra 
(em geral de um ano para outro), à medida que novas informações são 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 38 
agregadas. Os sistemas de avaliação em uso hoje estimam DEP's para 
todos os animais controlados, inclusive aqueles que não têm registro de 
produção ou que já morreram, pois isso é feito pelos laços de parentesco 
com aqueles que têm produções controladas. 
Como já foi explicado anteriormente, o desempenho de um animal 
não é apenas resultado de seu genótipo, mas também dos efeitos de 
ambiente. As características produtivas economicamente importantes são 
condicionadas pelo genótipo em frações de 20 a 40% (o que equivale à 
sua herdabilidade), o que significa que de 80 a 60 % da variação da mesma 
é devida ao ambiente ou outras causas não controláveis. Assim, as DEP's 
não são garantias de desempenho superior dos filhos dos touros testados, 
mas tão somente uma indicação, a melhor que a genética moderna pode 
oferecer, do potencial genético do reprodutor que está sendo usado. 
Restam ao criador tentar controlar a outra parte responsável pelo 
desempenho dos animais, que sejam o ambiente, a alimentação, a saúde, 
etc. 
As DEP's são válidas para a população onde foram estimadas. 
Assim, estimativas obtidas para a raça Pardo-Suíça não são comparáveis 
aos obtidos para a raça Simmental ou Nelore. 
Ao comparar as DEP's de dois touros, não devem ser comparados 
os valores em si, mas sim sua diferença. Se um touro tem uma DEP de 
+12,0 Kg e outro tem o valor +7,0 Kg, a diferença esperada entre os filhos 
dois touros é de 5,0 Kg naquela característica. 
Um bom programa de avaliação de reprodutores sempre estima as 
DEP's dos animais que estão nascendo no rebanho, mas o mais 
importante é que devem ser incluídos nas avaliações todos os animais 
nascidos, bons ou ruins. Incluir apenas os melhores filhos de um touro pode 
resultar em maiores DEP's, mas esta estimativa será falsa e os filhos 
desses animais não terão o desempenho esperado, comprometendo o 
próprio programa, mas sobretudo colocando em dúvida a seriedade do 
criador. 
Os criadores devem estar sempre familiarizados com os catálogos de 
touros e consultar tais valores antes dos leilões ou pedidos de sêmen. O 
criador deve saber o que ele deve melhorar em seu rebanho e comparar as 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 39 
DEP's do reprodutores disponíveis. A compra de material genético é antes 
de mais nada uma compra técnica. Estar atualizado no significado dos 
termos técnicos de avaliação de reprodutores é uma importante ferramenta 
tanto de compra quanto de venda. 
 
6. A IMPORTÂNCIA DOS EFEITOS FIXOS - AS CAUSAS DE 
CONFUNDIMENTO 
 
O confundimento dos fatores causais da expressão dos genes não se 
dá apenas em termos de componentes genéticos. Existe normalmente 
enorme grau de confundimento entre tais fatores genéticos e os fatores de 
ambiente, já que cada cruzamento expressar-se-á no tempo em diferentes 
ambientes. 
É notória a diferença de desempenho de animais de patrimônio 
genético semelhante criados em ambientes próximos mas diferentes. Muitas 
vezes podemos observar diferenças de mais de 20 kg no peso médio de 
bezerros de um rebanho, nos quais um dos lotes foi criado num pasto de 
colonião ou jaraguá e o outro, separado apenas por uma cerca, foi criado 
num pasto de Brachiaria. Isto pode ser normalmente observado em 
qualquer fazenda. 
Se diferenças tão evidentes como a exemplificada são observadas, a 
qualidade das avaliações depende fundamentalmente das definições dos 
grupos de contemporâneos. 
Os grupos de contemporâneos são grupos de animais nascidos na 
mesma fazenda, na mesma época do ano e que são submetidos às mesmascondições de ambiente. Assim, se numa fazenda existem diferenças de 
qualidade entre pastos e entre tratadores diferentes, o que normalmente 
existe, nada mais lógico que identificar o "lote" no qual cada animal foi 
criado, em todas as fases de sua vida. Em geral, cada "lote" refere-se a um 
grupo de animais que nasceu junto e foi mantido junto, no mesmo pasto, 
retiro e sob os cuidados de um mesmo vaqueiro, até o desmame, ou então 
foi desmamado na mesma época e colocado num mesmo pasto até 
determinada idade. Este tipo de identificação é o que caracteriza os "grupos 
de manejo", a melhor maneira de identificar grupos de contemporâneos. 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 40 
Por ocasião das análises estatísticas para estimação de valores 
genéticos, aos grupos de manejo, definidos dentro de cada fazenda, serão 
acrescidos a identificação de cada fazenda e o sexo dos animais, pois tais 
fontes de variação são de extrema importância. A composição final de cada 
grupo de contemporâneos (GC) ficará assim definida por: 
GC = fazenda + grupo de manejo dentro da fazenda + sexo 
Se tivermos em nossa população 10 fazendas, cada uma com 10 
grupos de manejo e os 2 sexos, nossa população terá então 200 grupos de 
contemporâneos. A inclusão dos efeitos de grupo de contemporâneos é 
absolutamente essencial à qualidade de uma avaliação. A definição 
incorreta destes grupos pode levar a grandes desvios (vícios, viéses, bias) 
das estimativas e muitos animais podem ser avaliados de maneira incorreta, 
levando a erros graves nas definições de seleção. 
Dadas as necessidades de haver conecção genética entre animais de 
diferentes grupos de contemporâneos, de tal forma que os mesmos possam 
ser comparáveis, é de extrema importância que dentro de cada grupo de 
contemporâneo ou grupo de manejo, existam filhos dos touros conhecidos 
como touros de amarração ou touros de referência, que são animais cujo 
sêmen é usado em todos os lotes de vacas. Grupos de manejo que têm 
apenas filhos de reprodutores múltiplos não têm conexão genética 
conhecida com outros grupos da população e sua avaliação fica 
prejudicada. 
Um dos tipos piores de confundimento que ocorre em análise de 
dados de cruzamentos é o confundimento entre os efeitos de grupo de 
manejo (ou pasto) e os grupos raciais, particularmente de vacas. Em geral, 
vacas de uma mesma composição racial são mantidas em poucos pastos ou 
retiros, com a justificativa de manter-se melhor controle sobre aquele 
grupo. Se isto for feito, as diferenças entre o desempenho das progênies 
deste grupo (A x B, por exemplo) de vacas e outro grupo (C x D, por 
exemplo) será devido aos efeitos genéticos (direto, materno e de heterose) 
ou simplesmente um efeito ambiental? Será, sob o ponto de vista estatístico, 
impossível separarem-se tais efeitos, principalmente os efeitos maternos e 
de avó materna. 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 41 
Existe ainda o problema de efeitos diretos e maternos serem 
colineares, ou seja existir covariância entre eles. Com esta dependência 
entre os efeitos, não existe uma solução clara e limpa para tais 
componentes. Com delineamento cuidadoso, podem ser estimadas 
diferenças entre méritos genéticos direto e materno entre as raças, quase 
sempre com algum confundimento embutido. 
Pequenas decisões na composição de grupos de manejo ou de 
contemporâneos podem levar a graves efeitos no grau de confundimento 
entre os componentes causais. O ideal num programa de cruzamento de 
grandes proporções é que se simulem os efeitos de cada decisão antes de 
implementá-las, de tal maneira que suas consequências sejam conhecidas a 
priori. 
A inclusão de fêmeas de raças puras em todos os grupos de manejo 
seria de grande valia para facilitar comparações futuras, embora isto possa 
trazer vários problemas de manejo. Isto é ainda mais importante quando 
várias raças são utilizadas, pois animais de raça pura seriam uma importante 
e conhecida referência que facilitaria as comparações entre diversas 
combinações de raças. 
 
7. A SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS DE 
DESENVOLVIMENTO 
 
Muitas características ligadas ao desenvolvimento dos zebuínos são 
importantes e devem constar de programas de avaliação genética de 
reprodutores. Dentre elas podemos citar: 
Peso ao nascer = peso real ao nascimento, em kg. Este peso deve 
ser monitorado para evitar-se um aumento significativo no peso ao 
nascimento dos bezerros, o que poderia vir a causar problemas de parto. 
Este peso é o melhor indicador da facilidade de parto. Touros com DEP’s 
baixas ou mesmo negativas são desejáveis para esta característica. 
Peso à desmama = peso, em kg, medido por ocasião da desmama. 
A DEP para este peso reflete o potencial que o animal tem para desmamar, 
independente da produção de leite de sua mãe, ou seja, a ação direta dos 
- I Simpósio de Produção de Gado de Corte 42 
genes do próprio animal. Este peso é muito importante para os produtores 
de bezerros. Touros com DEP positiva e elevada são os mais indicados. 
Materno total = esta característica é obtida somando-se metade da 
DEP de cada animal para peso à desmama (efeitos diretos) com a DEP 
para efeitos maternos sobre o mesmo peso. Ela expressa, em kg, o 
potencial total de desmama que um animal pode transmitir, incluindo os 
efeitos diretos dos genes sobre o crescimento e os efeitos dos genes que 
irão influenciar a produção leiteira das filhas do reprodutor. 
Ganho de peso ao sobreano = esta característica expressa, em kg, 
o ganho potencial devido à ação dos genes, que o animal apresenta no 
período compreendido entre a desmama e o sobreano. Essa característica 
demonstra o potencial de velocidade de ganho de peso e tem sido 
considerado muito importante pelos engordadores e confinadores, pois 
demonstra o desempenho potencial a pasto ou em confinamento. Este 
ganho de peso, somado ao peso à desmama, define o peso ao sobreano, o 
melhor indicador do peso adulto dos animais e as DEP’s mais elevadas são 
as mais indicadas. 
Conformação, Precocidade e Musculosidade = as avaliações 
visuais destas três características estão relacionadas com a necessidade de 
se selecionarem animais adequados à competitiva indústria da carne bovina. 
Estes escores devem ser medidos ao sobreano em escalas pré definidas, 
onde os maiores valores correspondem aos melhores animais. Assim, 
DEP’s mais elevadas são as mais indicadas, sempre levando-se em conta 
um perfeito balanceamento do animal. 
Perímetro Escrotal = esta medida, expressa em cm, deve ser 
tomada nos machos na época da pesagem ao sobreano e é altamente 
correlacionada com idade à puberdade, qualidade e quantidade de sêmen, 
fertilidade, desenvolvimento ponderal e precocidade sexual das filhas e 
irmãs dos tourinhos. O uso desta característica para compor os critérios de 
seleção em bovinos de corte tem sido prática comum na maioria dos bons 
programas de melhoramento em todo o mundo. As DEP’s mais elevadas 
são as melhores. Seleção para PE, no entanto, não é uma substituição para 
a seleção direta sobre o desempenho reprodutivo da fêmea. 
 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 43 
Altura = Esta medida em cm é tomada na garupa dos animais ao 
sobreano de idade e pode ajudar o criador a definir uma estatura média de 
seus animais. Ela apresenta elevada correlação com a “caixa” (frame) dos 
animais, ou seja a estrutura anatômica do animal para suportar a 
musculatura. 
 
 
8. A SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS 
 
Inicialmente é de extrema importância que se defina com clareza 
quais características devem ser selecionadas, quais são as metas e objetivos 
do criador. 
O que é realmente importante sob o ponto de vista reprodutivo das 
vacas é que se tenham novilhas que fiquem prenhes o mais cedo possível, 
dentro de determinada estação de monta vigente. Além disto, uma fêmea 
deve permanecer no plantel por longo tempo, produzindo bezerros todos 
os anos. Essa longevidade garante a amortização dos custos de aquisição, 
manutenção

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