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RAÇAS E ESTRATÉGIAS DE CRUZAMENTO PARA PRODUÇÃO DE NOVILHOS PRECOCES Pedro Franklin Barbosa Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP 1. INTRODUÇÃO A produção de carne bovina (P), em uma determinada região ou País, é o resultado da utilização dos recursos genéticos (G) e de ambiente (A), das práticas de manejo, produção e comercialização (M) e, possivelmente, das interações entre os componentes causais (G x A, G x M, A x M) de P, isto é, P = G + A + (G x A + G x M + A x M). Portanto, há várias maneiras de se combinar os recursos genéticos, de ambiente e as práticas de manejo, produção e comercialização o que, por sua vez, dá origem aos diferentes sistemas de produção de carne bovina. Em geral, os sistemas mais eficientes são aqueles que otimizam tanto os recursos genéticos (raças, linhagens, cruzamentos, sexo dos animais, etc.) e de ambiente (clima, solo, alimentação, etc.) quanto as práticas de manejo, produção e comercialização (criação em regime de pasto, semi- confinamento, confinamento, estação de monta, época e métodos de comercialização, tipo de produto, diferenciação de mercados, etc.). No Brasil, o conceito de precocidade, embora tenha sido concebido por zootecnistas europeus há quase um século, ainda é pouco divulgado (DOMINGUES, 1971). Em geral, pensa-se que animal precoce é aquele que cresce rapidamente. Precoce é o animal que chega mais cedo à idade adulta ou, em outras palavras, é aquele cujo esqueleto se completa precocemente, antes da idade comum à sua espécie. Tal acabamento se dá pela ossificação da zona de crescimento, dos ossos longos, e assim o animal pára de crescer, com outra conseqüência importante: adquire a dentição definitiva também mais cedo. Este é o conceito adotado neste trabalho. A Associação Brasileira do Novilho Precoce (ABNP) definiu critérios para a classificação de animais como novilhos precoces com base em três características: 1) peso da carcaça (mais de 200 kg, para novilhos e - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 2 machos não-castrados, e mais de 180 kg para fêmeas); 2) idade do animal (até 2 dentes definitivos, para novilhos e fêmeas, e zero dente - "dentição de leite" - para machos não-castrados); e 3) grau de acabamento da carcaça (3 a 10 milímetros de espessura da camada de gordura na altura da 12a costela). O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir alguns aspectos sobre estratégias de utilização de raças puras e de cruzamentos para a produção de novilhos precoces, particularmente quanto às três características em que se fundamenta a classificação dos animais (peso da carcaça, idade de abate e espessura da camada de gordura na altura da 12ª costela). 2. ESTRATÉGIAS DE UTILIZAÇÃO DE RECURSOS GENÉTICOS No Brasil, há grande número de raças de bovinos que são usadas para produção de carne. De acordo com o dicionário de MASON (1988), há aproximadamente mil raças zootécnicas de bovinos no mundo, das quais 250 têm alguma importância numérica ou histórica em termos de produção de carne, de leite e de carne e leite. Dessas, 150 podem ser classificadas como raças especializadas para produção de carne, 40 como especializadas para produção de leite e 60 como de dupla aptidão (leite e carne). No Brasil, há vários grupos genéticos (raças, tipos raciais e cruzamentos) que são explorados para produção de carne, como será visto mais adiante. As diferenças entre esses grupos genéticos, quanto às características morfológicas, fisiológicas e zootécnicas, podem ser atribuídas às diferentes pressões de seleção às quais eles foram submetidos durante o processo de melhoramento. Desse modo, cada grupo é dotado de composição genética diferente, principalmente para as características relativas ao tipo (cor da pelagem, presença ou ausência de chifres, conformação do perfil da fronte, tamanho da orelha, etc.) e, provavelmente, para os atributos relacionados com a capacidade de adaptação ao ambiente (adaptabilidade). Esta diversidade genética, que é um recurso natural, pode ser utilizada de três maneiras (DICKERSON, 1969): 1) criação ou introdução I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 3 da "raça pura" melhor adaptada ao sistema de produção; 2) formação de novas raças; e 3) utilização de sistemas de cruzamento. As duas primeiras podem ser praticadas por meio da realização de cruzamentos por apenas algumas gerações, uma vez que o objetivo final é a introdução de uma "raça pura" melhor adaptada ou a formação de uma nova raça. A utilização de sistemas de cruzamento é uma forma de aproveitamento da diversidade genética de maneira permanente e contínua, sem a preocupação de se obter uma nova raça ou introduzir uma "raça pura" . As estratégias de utilização dos recursos genéticos envolvem diferentes alternativas de seleção (escolha dos pais da próxima geração) e de reprodução (escolha do sistema de acasalamento). A seleção dentro de "raças puras" é feita, em geral, com base no modelo aditivo simples quanto ao tipo de ação gênica. Na prática, a seleção dentro de "raças puras" geralmente produz ganhos genéticos muito próximos daqueles previstos teoricamente. A utilização de cruzamentos, por outro lado, é considerada como uma alternativa à seleção (BARBOSA e DUARTE, 1989; BARBOSA, 1995). No entanto, precisa ser ressaltado que as alternativas de seleção e cruzamentos não são mutuamente exclusivas. Qualquer sistema de cruzamentos, ou esquema de formação de novas raças, depende dos programas de seleção das "raças puras" utilizadas no processo. O delineamento de programas de melhoramento genético animal pode ser sistematizado em 10 passos seqüenciais (HARRIS et al., 1984): 1) descrição do(s) sistema(s) de produção; 2) estabelecimento do objetivo do(s) sistema(s) de produção; 3) escolha da estratégia de utilização dos recursos genéticos e dos recursos genéticos propriamente ditos; 4) obtenção de parâmetros de seleção e pesos econômicos; 5) delineamento do sistema de avaliação; 6) desenvolvimento dos critérios de seleção; 7) delineamento do sistema de acasalamentos; 8) delineamento do sistema de multiplicação dos animais selecionados; 9) comparação de alternativas de programas de melhoramento; e 10) revisão do programa com base nas modificações futuras e, se for o caso, na segmentação do - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 4 sistema de produção. Os três primeiros passos são discutidos resumidamente nesta palestra. Qualquer que seja a estratégia a ser escolhida, um aspecto fundamental é a visão do sistema de produção como um todo, isto é, desde a tomada de decisão sobre quais tipos de recurso genético e de sistema de produção a serem utilizados (“antes da porteira”), as práticas de manejo a serem adotadas (“dentro da porteira”), até o consumo da carne e derivados (“depois da porteira”). A eficiência zootécnica de qualquer sistema de produção, por sua vez, é função de três componentes: 1) eficiência reprodutiva do rebanho de vacas; 2) eficiência do ganho de peso dos animais jovens; e 3) qualidade dos produtos (carne e couro). As estratégias possíveis devem ser avaliadas sob o ponto de vista da eficiência biológica e econômica do sistema de produção como um todo. A avaliação de apenas um ou dois componentes pode conduzir a recomendações discutíveis. É importante ressaltar que o objetivo principal da produção de carne bovina, seja ela praticada de forma extensiva ou intensiva, é atender as exigências de mercado. Dois sistemas de produção são considerados nesta palestra: 1) produção de animais para abate em regime de pastagens, e 2) produção de animais para abate com terminação em regime de confinamento. É difícil predizer o futuro porque uma amplitude de cenários pode ocorrer, como aqueles descritos por ODDY (1995) para a produção de carne bovina na Austrália. No entanto, estes cenários possíveis podem servir como indicação dos tipos de animais que serão demandadosno futuro. Neste sentido, dois aspectos são importantes: 1) manutenção (ou mesmo aumento) da variabilidade disponível em bovinos de corte; e 2) aumento na flexibilidade dos programas de melhoramento genético para praticar mudanças no tipo de animal em resposta às mudanças nas exigências de produção e de mercado. Desde a introdução do índice de mérito total (HAZEL, 1943), para definir os objetivos do melhoramento genético de animais domésticos, vários estudos foram realizados até que fosse obtido um consenso quanto à metodologia a ser utilizada. Um objetivo de melhoramento genético pode I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 5 ser definido por uma função que considera os valores genéticos para várias características como entrada e produz, como saída, a variável que o tomador de decisão quer maximizar como, por exemplo, o lucro. Esta função pode ser usada para comparar animais de uma mesma raça, raças ou grupos genéticos diferentes. As comparações devem ser feitas após ajustar as práticas de manejo ao nível adequado para cada genótipo (GODDARD, 1997), o que é praticamente impossível na maioria das vezes, particularmente nas regiões tropical e subtropical. A melhor maneira de se definir o objetivo é a relação entre o custo e a receita porque, desta forma, o objetivo não é afetado pelo efeito de escala e também é o mesmo para produtores e consumidores. A Figura 1 ilustra as relações entre seleção, cruzamentos e formação de novas raças em bovinos de corte. O ponto de partida considerado foi a utilização de uma "raça exótica" em cruzamento com fêmeas da população local. Assim, a estratégia colocada em discussão nesta palestra é a utilização de cruzamentos. As questões colocadas na Figura 1 precisam ser respondidas com níveis adequados de precisão. Do contrário, torna-se praticamente impossível estabelecer a estratégia de utilização dos recursos genéticos mais adequada para atender a amplitude de mercados em que o Brasil participa. Talvez seja correto afirmar que, para atender toda a amplitude de mercados de carne bovina, a produção terá que ser feita utilizando diferentes sistemas de produção e diferentes tipos de animais. - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 6 SIM QUAL RAÇA EXÓTICA É MELHOR? QUANTO DA RAÇA EXÓTICA É DESEJÁVEL? < 100% A HETEROSE É IMPORTANTE? POUC O FORMAÇÃO DE NOVA RAÇA SELEÇÃO NA NOVA RAÇA 100% MUITO CRUZAMENTO ROTACIONADO É POSSÍVEL? SIM SELEÇÃO NAS RAÇAS PATERNAS NÃO OS ANIMAIS CRUZADOS SÃO MELHORES? SELEÇÃO NA RAÇA EXÓTICA SELEÇÃO NA RAÇA LOCAL Figura 1 - Opções estratégicas envolvendo sistemas de cruzamento e seleção (adaptada de Cunningham, 1981). NÃO I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 7 3. TIPOS BIOLÓGICOS DE BOVINOS Vários tipos de bovinos podem ser criados para a obtenção de novilhos precoces, seja como raças puras ou em cruzamentos. No entanto, é preciso reconhecer que as relações de natureza genética entre as características de crescimento dos animais e dos tecidos da carcaça determinam a existência de apenas alguns tipos biológicos. Quanto ao tamanho à maturidade (idade adulta), por exemplo, os diferentes tipos de bovinos podem ser classificados em pequeno, médio e grande. Do mesmo modo, quanto ao grau de musculatura, os animais podem ser classificados em um dos três seguintes tipos de musculatura: grossa, moderada e fina. Embora exista variação quanto ao tipo de musculatura entre animais de uma mesma raça, a combinação desses dois critérios de classificação permite a determinação dos tipos biológicos disponíveis para obtenção de novilhos de corte (Tabela 1). Os dois critérios de classificação proporcionam um sistema útil para a determinação do tipo biológico. As raças de tamanho grande e musculatura grossa têm taxas de crescimento maiores (maior ganho de peso por dia), mas são mais tardias quanto à habilidade para acumular o mínimo necessário de gordura na carcaça. As raças de tamanho pequeno e musculatura moderada, por outro lado, têm menores taxas de crescimento absoluto, mas são mais precoces em termos de acabamento da carcaça, isto é, têm maior habilidade para deposição de gordura na carcaça do que as de tamanho grande. Trabalhos de pesquisa mostram que a correlação genética entre o peso à maturidade (idade adulta) e a taxa de maturação (tempo que o animal leva para atingir o tamanho à maturidade) é negativa. Isto indica que os animais com potencial genético para maior tamanho à maturidade demoram mais tempo para atingir um mesmo grau de maturidade, se comparados com animais de menor potencial genético para tamanho à maturidade. Essa relação entre tamanho na idade adulta e grau de maturidade tem conseqüências importantes no peso de abate e na composição da carcaça, como será visto mais adiante. - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 8 Tabela 1 - Classificação de algumas raças de bovinos de acordo com o tamanho à maturidade e o grau de musculatura (adaptada de MINISH & FOX, 1982) Tamanho à maturidade Grau de Musculatura (idade adulta) Grossa Moderada Fina Pequeno Angus Gir Leiteiro Gir Guernsey Murray Grey Jersey Red Angus Pitangueiras Médio Belgian Blue Brahman Ayrshire Gelbvieh Brangus-Ibagé Caracu Limousin Canchim Hays Converter Piemontês Hereford Lincoln Red Pinzgauer Nelore Shorthorn Leiteiro Red & White Beef Tabapuã Welsh Black Grande Blonde d´Aquitaine Holandês Frísio Holandês Amer. Charolês Marchigiana South Devon Chianina Pardo-Suíço Fleckvieh Simental 4. UTILIZAÇÃO DE RAÇAS E CRUZAMENTOS PARA PRODUÇÃO DE NOVILHOS PRECOCES Há três estratégias de utilização dos recursos genéticos para produção de carne bovina: 1) a utilização de animais de uma raça pura melhor adaptada ao sistema de produção-comercialização existente ou potencial; 2) a formação de novas raças, combinando características desejáveis de duas ou mais raças puras, caso a primeira estratégia não seja capaz de atender as exigências do sistema de produção-comercialização; e 3) a utilização de cruzamentos, de forma permanente, sem a preocupação de formar novas raças. As razões para a utilização de cruzamentos são: 1) aproveitar os efeitos da heterose; 2) utilizar as diferenças genéticas existentes entre as I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 9 raças puras para uma determinada característica; 3) aproveitar os efeitos favoráveis da combinação de características, nos animais cruzados, resultantes da seqüência em que as raças são utilizadas no sistema de cruzamentos (complementaridade); e 4) dar flexibilidade aos sistemas de produção-comercialização. Os diferentes sistemas de cruzamento (rotacionado, terminal e rotacionado-terminal) exploram as razões de natureza genética em graus diferenciados, mas todos eles têm o potencial de tornar os sistemas de produção mais flexíveis, principalmente quanto ao tipo de produto requerido pelo mercado, em prazos relativamente curtos, quando comparados com as outras estratégias de utilização dos recursos genéticos. Esta vantagem talvez seja mais importante que as outras e, por sua vez, implica na escolha estratégica dos recursos genéticos e de ambiente e, também, na adoção de melhor manejo dos recursos disponíveis para a produção de novilhos precoces. Os resultados sobre a utilização de raças puras e cruzamentos no Brasil foram sumarizados por BARBOSA e DUARTE (1989), BARBOSA (1990; 1995) e BARBOSA e ALENCAR (1995). Mais recentemente, vários resultados sobre o desempenho de animais cruzados foram relatados na literatura. Para as características mais freqüentemente estudadas e quando os experimentos incluíram uma população controle de animais de raça pura (tanto de Bos taurus quanto de Bos indicus), a síntese do desempenho dos animais cruzados foi atualizadaem 1998, considerando-se aquele dos animais da raça pura como base e igual a 100. As características avaliadas foram o ganho de peso em confinamento, o peso e o rendimento de carcaça, o consumo de matéria seca, a conversão alimentar e a espessura de gordura na altura da 12a costela. Maiores detalhes quanto aos procedimentos adotados para cálculo das médias e das amplitudes de variação do desempenho relativo podem ser obtidos em BARBOSA e DUARTE (1989) e BARBOSA (1990; 1995). Os resultados obtidos foram descritos e discutidos por BARBOSA (1998). Os dados relatados na literatura sobre peso e idade de abate e espessura de gordura, tanto para animais terminados em confinamento como em regime de pastagens, foram organizados de acordo com o grupo genético e sumarizados até julho de 1999. As médias são apresentadas nas Tabelas 2 e 3, respectivamente. - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 10 Tabela 2 - Número de estimativas (N) e médias de peso de carcaça, idade de abate e espessura de gordura, de acordo com grupo genético, para animais terminados em regime de confinamento Grupos Número de estimativas e médias (± erro-padrão) Genéticos N Peso, arrobas Idade, meses Espessura, mm Raças puras: Britânicas 9 13,6 ± 0,5 20,9 ± 2,5 4,0 ± 0,4 Continentais 27 15,0 ± 0,3 27,2 ± 1,4 2,9 ± 0,8 Zebuínas 93 16,7 ± 0,2 27,8 ± 0,9 5,2 ± 0,3 Animais F1: Britânicas x Zebu 9 17,3 ± 0,5 24,7 ± 1,0 4,5 ± 0,7 Continentais x Zebu 72 17,3 ± 0,3 22,2 ± 0,6 3,3 ± 0,2 Animais retrocruzados: 2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 19 15,1 ± 0,5 16,7 ± 1,2 4,8 ± 0,4 2/3 Continentais + 1/3 Zebu 17 16,4 ± 0,5 25,9 ± 2,2 3,6 ± 0,7 2/3 Zebu + 1/3 Britânicas 5 16,8 ± 0,9 21,0 ± 1,6 2,7 ± 0,3 2/3 Zebu + 1/3 Continentais 25 16,9 ± 0,3 23,6 ± 1,4 3,1 ± 0,1 Animais cruzados de 3 raças: ½ Brit. + ¼ Cont. + ¼ Zebu 5 17,4 ± 0,9 23,6 ± 5,0 3,4 ± 0,9 Total 281 16,5 ± 0,1 24,5 ± 0,5 4,0 ± 0,2 As médias de espessura de gordura na altura da 12ª costela (Tabelas 2 e 3) indicam que o grau de acabamento de animais cruzados, particularmente os filhos de touros de raças de tamanhos médio e grande, está abaixo do desejado pela maioria dos mercados consumidores (5 a 8 mm) porque os animais foram abatidos com pesos inferiores aos recomendados por BARBOSA (1995) para novilhos (525 kg de peso vivo ou 17,5 arrobas) e machos não-castrados (575 kg de peso vivo ou 19,2 arrobas), considerando rendimento de carcaça de 50%. O resultado que, até certo ponto, pode ser considerado surpreendente é o grau de acabamento das carcaças provenientes de animais de raças zebuínas, tanto em confinamento (5,2 ± 0,3 mm) como em pastagens (5,7 ± 0,7 mm). No entanto, as idades de abate (27,8 e 34,5 meses respectivamente) limitariam a classificação dos animais como novilhos precoces. Observa-se, ainda, que o número de estimativas sobre o I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 11 desempenho de determinados grupos genéticos é pequeno, tanto em regime de confinamento (Tabela 2) como em regime de pastagens (Tabela 3). Considerando-se que a terminação em regime de pastagens é a mais praticada no Brasil, nota-se que há poucos resultados experimentais sobre o desempenho comparativo de animais cruzados de raças britânicas com Zebu, retrocruzados com raças continentais e com raças zebuínas. Tabela 3 - Número de estimativas (N) e médias para peso de carcaça, idade de abate e espessura de gordura, de acordo com grupo genético, para animais terminados em regime de pastagens Grupos Número de estimativas e médias (± erro-padrão) Genéticos N Peso, arrobas Idade, meses Espessura, mm Raças puras: Britânicas 14 13,8 ± 0,5 33,4 ± 2,3 4,2 ± 0,5 Continentais 11 15,3 ± 0,4 36,8 ± 2,8 1,9 ± 0,3 Zebuínas 25 15,0 ± 0,3 34,5 ± 1,4 5,7 ± 0,7 Animais F1: Britânicas x Zebu 3 16,3 ± 0,9 35,8 ± 3,6 3,4 ± 0,7 Continentais x Zebu 16 15,1 ± 0,5 31,0 ± 2,1 3,3 ± 0,2 Continentais x Britânicas 4 15,1 ± 1,0 38,0 ± 2,9 1,6 ± 0,4 Animais retrocruzados: 2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 15 15,2 ± 0,6 34,5 ± 2,0 4,2 ± 0,4 2/3 Continentais + 1/3 Zebu 4 16,5 ± 0,5 27,4 ± 1,4 2,1 ± 0,8 2/3 Zebu + 1/3 Britânicas 3 17,1 ± 0,7 36,5 ± 5,8 4,0 ± 0,7 2/3 Zebu + 1/3 Continentais 3 17,1 ± 0,2 32,3 ± 2,2 1,9 ± 0,7 Animais cruzados de 3 raças: ½ Zebu + ¼ Brit. + ¼ Cont. 2 18,9 ± 0,1 30,0 ± 0,0 2,6 ± 0,2 Total 97 15,2 ± 0,2 33,8 ± 0,8 3,9 ± 0,3 Com o objetivo de verificar se os coeficientes parciais do peso da carcaça e da idade de abate na espessura de gordura variavam de acordo com o grupo genético foram realizadas análises de regressão. Os coeficientes parciais da regressão da espessura de gordura, no peso de carcaça e na idade de abate, e os coeficientes de determinação são mostrados na Tabela 4, para animais terminados em confinamento, e na Tabela 5, para animais terminados em pastagens. O peso de carcaça foi expresso em arrobas e a idade de abate em meses para facilitar a - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 12 interpretação. Os resultados mostrados na Tabela 4 indicam que, em geral, o peso de carcaça é mais importante que a idade de abate quanto ao aumento da espessura de gordura na altura da 12ª costela, particularmente para as raças britânicas e para os animais cruzados envolvendo raças britânicas. O coeficiente de regressão da espessura de gordura na idade de abate foi significativo para os animais de raças zebuínas, cruzados de raças continentais com Zebu, retrocruzados de raças britânicas com raças zebuínas e retrocruzados de raças zebuínas com raças britânicas. Tabela 4 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no peso da carcaça (b1) e na idade do animal (b2) e coeficientes de determinação (R2), de acordo com o grupo genético, para animais terminados em confinamento Grupos genéticos b1, mm/arroba b2, mm/mês R 2, % Raças puras: Raças britânicas 0,49 ± 0,11** -0,13 ± 0,07 90,83 Raças continentais -0,18 ± 0,22 0,21 ± 0,12 36,75 Raças zebuínas 0,14 ± 0,05** 0,10 ± 0,03** 79,87 Animais F1: Britânicas x Zebu -0,01 ± 0,26 0,18 ± 0,18 79,64 Continentais x Zebu 0,03 ± 0,05 0,12 ± 0,04** 82,68 Continentais x Britânicas - - - Animais retrocruzados: 2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 0,50 ± 0,08** -0,16 ± 0,07* 92,10 2/3 Continentais + 1/3 Zebu 0,02 ± 0,13 0,12 ± 0,08 58,91 2/3 Zebu + 1/3 Britânicas -0,05 ± 0,05 0,17 ± 0,04* 98,46 2/3 Zebu + 1/3 Continentais 0,24 ± 0,03** -0,04 ± 0,02 94,70 Cruzados de 3 raças: ½ Brit. + ¼ Cont.. + ¼ Zebu 0,38 ± 0,11* -0,14 ± 0,07 81,13 Total 0,11 ± 0,03** 0,09 ± 0,02 72,32 * P < 0,05; ** P < 0,01. Os animais de raças britânicas (Angus, Devon, Hereford e Shorthorn) e zebuínas (praticamente só Nelore) depositam gordura na carcaça nas taxas de 0,49 ± 0,11 (P < 0,01) e 0,14 ± 0,05 (P < 0,01) mm/arroba de aumento no peso da carcaça, respectivamente, enquanto que, para os animais de raças continentais (Charolês, Chianina, I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 13 Marchigiana, Holandês, Pardo-Suíço, Limousin, Gelbvieh, Caracu, etc.) a taxa foi negativa, mas não diferente de zero (-0,18 ± 0,22 mm/arroba de aumento no peso da carcaça, P > 0,05). Os resultados mostram que há diferenças genéticas entre as raças para deposição de gordura, de acordo com o aumento do peso de carcaça, e que nas raças continentais a taxa de deposição é menor. Para os animais terminados em pastagens (Tabela 5), os coeficientes de regressão também indicam que o peso de carcaça é mais importante do que a idade de abate no grau de acabamento, particularmente para os animais de raças continentais e retrocruzados 2/3 britânicas + 1/3 Zebu. Tabela 5 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no peso da carcaça (b1) e na idade do animal (b2) e coeficientes de determinação (R2), de acordo com o grupo genético, para animais terminados em pastagens Grupos genéticos b1, mm/arroba b2, mm/mês R 2, % Raças puras: Raças britânicas0,25 ± 0,12 0,03 ± 0,05 86,43 Raças continentais 0,16 ± 0,06* -0,02 ± 0,03 78,88 Raças zebuínas 0,35 ± 0,19 0,01 ± 0,08 69,28 Animais F1: Britânicas x Zebu 0,17 ± 0,24 0,07 ± 0,17 75,54 Continentais x Zebu 0,09 ± 0,06 0,06 ± 0,03 94,85 Continentais x Britânicas -0,19 ± 0,81 0,12 ± 0,32 83,96 Animais retrocruzados: 2/3 Britânicas + 1/3 Zebu 0,39 ± 0,17* -0,05 ± 0,07 92,73 2/3 Continentais + 1/3 Zebu 0,26 ± 0,93 -0,08 ± 0,56 33,83 2/3 Zebu + 1/3 Britânicas -0,02 ± 0,04 0,12 ± 0,02 99,28 2/3 Zebu + 1/3 Continentais 0,01 ± 0,53 0,06 ± 0,28 39,87 Cruzados de 3 raças: ½ Zebu + ¼ Brit. + ¼ Cont. 1,20 -0,67 - Total 0,17 ± 0,07* 0,04 ± 0,03 70,11 * P < 0,05; ** P < 0,01. Com o objetivo de compreender o comportamento do peso de carcaça, da idade de abate e das proporções das raças britânicas, continentais e zebuínas na composição genética dos animais cruzados, - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 14 foram realizadas análises de regressão da espessura de gordura, como indicador do grau de acabamento da carcaça, nestas características, para os sistemas de terminação em confinamento e em pastagens. Os resultados são mostrados nas Tabelas 6, 7, 8 e 9. No sistema de terminação em confinamento (Tabela 6), observa-se que apenas o coeficiente de regressão da espessura de gordura na idade de abate foi significativo (aumento de 0,09 ± 0,02 mm/mês de aumento na idade de abate). No sistema de terminação em pastagens, os coeficientes parciais de regressão não foram significativos. Quando se ajusta para peso da carcaça e idade de abate, não se espera que sejam observadas diferenças na espessura de gordura de acordo com a proporção de genes de raças britânicas, continentais e zebuínas nos animais. De acordo com BERG e BUTTERFIELD (1976), diferenças genéticas podem ser observadas na composição da carcaça, porque algumas raças começam a depositar gordura mais precocemente do que outras. A taxa de deposição de gordura pode diferir entre raças, mas a maior diferença observada é com relação ao período de estabelecimento da fase de acabamento. Geralmente, os animais precoces apresentam um menor tamanho por ocasião da maturidade e, consequentemente, entram na fase de acabamento mais jovens e com pesos mais leves do que os animais de raças de grande porte. Os resultados indicam, ainda, que a escolha estratégica da utilização de raças britânicas, continentais e zebuínas e dos sistemas de cruzamento para produção de novilhos precoces depende, em grande parte, da definição do sistema de terminação dos animais (confinamento ou pastagens) e da idade de abate no caso da terminação em confinamento. Na Tabela 7 são apresentados os coeficientes de regressão da espessura de gordura nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas quando se mantém o peso de carcaça constante. No sistema de terminação em pastagens, os coeficientes de regressão não foram diferentes de zero. Entretanto, no sistema de terminação em confinamento observa-se que para cada 1/8 de aumento na proporção de raças zebuínas nos animais, a espessura de gordura aumenta 0,40 ± 0,15 mm, semelhante ao que ocorre com as raças britânicas (0,34 ± 0,15 mm), mas diferente do I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 15 observado para as raças continentais (0,11 ± 0,15 mm). Esses resultados indicam que as diferenças entre as raças quanto à taxa de deposição de gordura são grandes e, por isso, a escolha estratégica dos recursos genéticos depende fundamentalmente da especificação do produto final que o mercado consumidor exige. Uma vez definido o produto a ser obtido, pode-se escolher os recursos genéticos a serem utilizados e o sistema de produção a ser adotado. Tabela 6 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no peso da carcaça, na idade de abate e nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de acordo com o sistema de terminação Características Confinamento Pastagens Peso de carcaça, arrobas 0,07 ± 0,07 0,11 ± 0,13 Idade de abate, meses 0,09 ± 0,02** 0,03 ± 0,03 Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 0,19 ± 0,14 0,15 ± 0,26 Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 -0,11 ± 0,15 -0,18 ± 0,27 Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 0,15 ± 0,16 0,33 ± 0,27 Coeficiente de determinação (R2), % 74,44 76,94 * P < 0,05; ** P < 0,01. Tabela 7 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura no peso da carcaça e nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de acordo com o sistema de terminação Características Confinamento Pastagens Peso de carcaça, arrobas 0,09 ± 0,07 0,12 ± 0,13 Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 0,34 ± 0,15* 0,26 ± 0,23 Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 0,11 ± 0,15 -0,07 ± 0,25 Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 0,40 ± 0,15* 0,43 ± 0,25 Coeficiente de determinação (R2), % 72,56 76,93 * P < 0,05; ** P < 0,01. Os coeficientes de regressão da espessura de gordura nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas, quando se mantém - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 16 a idade de abate constante (Tabela 8), mostram que há diferenças entre as raças e entre os sistemas de terminação dos animais, com conclusão semelhante àquela feita com relação ao peso de carcaça (Tabela 7). Outro aspecto importante é o coeficiente de regressão da proporção de raças zebuínas na espessura de gordura (0,53 ± 0,13 mm), quando os animais são criados em regime de pastagens. Tabela 8 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura na idade de abate e nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de acordo com o sistema de terminação Características Confinamento Pastagens Idade de abate, meses 0,09 ± 0,02** 0,03 ± 0,03 Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 0,32 ± 0,08** 0,34 ± 0,14* Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 0,03 ± 0,07 0,03 ± 0,14 Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 0,30 ± 0,07** 0,53 ± 0,13** Coeficiente de determinação (R2), % 74,43 76,99 * P < 0,05; ** P < 0,01. Os coeficientes de regressão da espessura de gordura nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas, sem ajustar para o peso de carcaça e a idade de abate dos animais, foram todos significativos em ambos os sistemas de terminação (Tabela 9). Esses resultados mostram que há diferenças entre os tipos biológicos de animais para grau de acabamento da carcaça. Como o peso de carcaça e a idade de abate podem variar de acordo com as exigências do mercado, essas diferenças no grau de acabamento são importantes sob o ponto de vista de escolha estratégica tanto dos recursos genéticos como das formas de sua utilização para a produção de novilhos precoces. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 17 Tabela 9 - Coeficientes parciais de regressão da espessura de gordura nas proporções de raças britânicas, continentais e zebuínas na composição genética dos animais, de acordo com o sistema de terminação Características Confinamento Pastagens Proporção de raças britânicas, em fração de 1/8 0,51 ± 0,07** 0,48 ± 0,06** Proporção de raças continentais, em fração de 1/8 0,30 ± 0,04** 0,17 ± 0,07* Proporção de raças zebuínas, em fração de 1/8 0,60 ± 0,03** 0,67 ± 0,05** Coeficiente de determinação (R2), % 72,48 76,95 * P < 0,05; ** P < 0,01. 5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES Análises de regressão foram realizadas com o objetivo de verificar o comportamento das raças puras e dos animais cruzados, tanto em regime de confinamento como pastagens, quanto à espessura de gordura na altura da 12ª costela, como indicador do grau de acabamento para classificação dos animais como novilhos precoces. Os resultados obtidos permitem algumas conclusões erecomendações. Para animais terminados em confinamento, o peso de abate é mais importante do que a idade na determinação da espessura de gordura na altura da 12ª costela. Em regime de confinamento, quanto maior a proporção das raças continentais na composição genética dos animais, menor é a taxa de deposição de gordura (0,30 ± 0,04 mm para cada aumento de 12,5% de genes de raças continentais). Tanto para animais terminados em confinamento como em regime de pastagens, a espessura de gordura aumenta mais de acordo com a proporção de raças zebuínas (0,60 ± 0,03 mm e 0,67 ± 0,05 mm para cada 12,5% de aumento na proporção de Zebu nos animais cruzados, respectivamente) do que com as proporções de raças britânicas e continentais. O desempenho de animais Zebu, tanto em confinamento como em pastagens, quanto ao peso de carcaça (16,7 ± 0,2 e 15,0 ± 0,3 arrobas), - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 18 idade de abate (27,8 ± 0,9 e 34,5 ± 1,4 meses) e espessura de gordura na altura da 12ª costela (5,2 ± 0,3 e 5,7 ± 0,7 mm) sugere que a estratégia de cruzamentos deve ser comparada com a utilização das raças zebuínas para produção de novilhos precoces. A escolha estratégica das raças para utilização em sistemas de cruzamento deve ser feita levando-se em consideração o sistema de terminação, o peso de carcaça, a idade de abate e o grau de acabamento desejados pelos segmentos do mercado consumidor. Os sistemas de cruzamento, como estratégia de utilização de recursos genéticos para produção de novilhos precoces, proporcionam maior flexibilidade aos sistemas de produção e têm o potencial de atender, a curto prazo, as exigências dos consumidores e viabilizar, se necessário, a segmentação do mercado de carne bovina. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, P. F. Cruzamentos para produção de carne bovina no Brasil. In: Bovinocultura de Corte (Ed.: SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA), p. 1-45. Piracicaba: FEALQ, 1990. 146p. BARBOSA, P. F. Cruzamentos para produção do novilho precoce. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE NOVILHO PRECOCE, Campinas, SP, 22 a 24 de agosto de 1995, p. 75-92. Campinas: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, Departamento de Comunicação e Treinamento, 1995. 128p. BARBOSA, P. F. Cruzamentos industriais e a produção de novilhos precoces. In: SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO INTENSIVA DE GADO DE CORTE, Campinas, SP, 29 e 30 de abril de 1998, p. 100-114. 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Armidale: University of New England, 1995. - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 20 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS CRIADORES DE ZEBU UMA EMPRESA DE GENÉTICA TROPICAL Luiz Antonio Josahkian Superintendente Técnico da ABCZ Professor de Melhoramento Animal da FAZU Caixa Postal 71 38001-970 Uberaba - MG e-mail : abzcsut@abcz.org.br É curioso observar que os bovinos, não sendo nativos no Brasil, totalizam hoje cerca de 160 milhões de cabeças espalhadas por todo o território nacional. Inicialmente um elemento colonizador de nossas fronteiras, os bovinos se tornaram hoje, um valioso patrimônio genético da nossa nação. Uma rápida olhada na nossa história mostra fatos relevantes que nos ajudam a entender a importância das raças zebuínas no contexto da pecuária bovina brasileira. Registra-se que, até meados do Século XIX, havia um predomínio das raças bovinas européias. Trazidas pelos colonizadores, encontraram no país condições adversas de clima e situações precárias de criação. Os espécimes remanescentes degeneraram-se, substituindo sua capacidade produtiva pelo poder adaptativo: era a natureza cobrando seus tributos. Alguns tipos bovinos atuais resultam desses animais e conseguiram atravessar quase 500 anos de criação, e por isso têm certo valor genético embora a ausência de seleção e o efetivo muito pequeno reduza-os apenas a representantes daqueles tempos. Mesmo frente a essa realidade, as importações de bovinos europeus se sucederam ao longo do tempo. E persistem até hoje. No todo, o volume de importações de raças européias supera estrondosamente ao das raças zebuínas: são aproximadamente 1 milhão de bovinos europeus introduzidos no país contra 6,3 mil exemplares zebuínos. Na constituição genética atual do rebanho bovino brasileiro, estima-se 80% dos animais tenha genes de origem zebuína, seja na forma de animais puros ou através de cruzamentos. - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 22 Traduzido em números, isso equivale a 128 milhões de cabeças. É um número impressionante (mesmo que sem precisão matemática) e demonstra o poder de sobrevivência, crescimento e multiplicação das raças zebuínas nas nossas condições, principalmente partindo de um núcleo inicial tão reduzido. Provavelmente foram essas características dos zebuínos que despertaram o interesse de alguns criadores que organizaram algumas importações de animais da Índia entre 1870 e 1962, em intervalos e quantidades irregulares. As primeiras importações seguramente foram movidas mais pela intuição do que por razões técnicas. Difícil imaginar que motivos teriam levado, na época, alguns intrépidos pioneiros a se aventurarem numa Índia distante, com meios de transporte e comunicação precários, em busca de animais exóticos. As referências quanto a utilidade daqueles animais seguramente eram vagas. Basta ver que, em 1875, um casal de zebu havia sido importado do Jardim Zoológico de Londres. Hoje é possível ver com clareza que tratavam-se de homens de visão, do tipo que enxergam bem além de seu próprio tempo. Em 1921 o governo brasileiro proibiu as importações da Índia por razões sanitárias. Aquelas que se organizaram em 1930, 1952, 1960 e 1962 ocorreram sob licença especial de importação e já com exigência de quarentenário. Nada disso, porém, impediu o crescimento impetuoso e a instalação no país de uma das pecuárias mais pujantes e de intenso potencial de todo o globo terrestre, toda baseada na genética zebuína. O ESTABELECIMENTO DO REGISTRO GENEALÓGICO A multiplicação das raças zebuínas no país tomaram grandes proporções a partir da década de 10. Os criadores mineiros da região do Triângulo decidiram então formar a “Associação do Herd Book da Raça Zebu”, em 16 de fevereiro de 1919. Esta entidade chegou a emitir certificados de animais que foram exportados para o México e América Central. Do México chegaram aos Estados Unidos. I Simpósio de Produção de Gado deCorte - 23 Mas o desinteresse e a recusa dos poderes públicos em reconhecer esse Serviço fez com que ele quase se extinguisse , até ser absorvido por uma entidade maior, a Sociedade Rural do Triângulo Mineiro – SRTM, fundada em 18 de junho de 1934. Em 25 de março de 1967, a SRTM transformou-se em Associação Brasileira dos Criadores de Zebu – ABCZ, nome que ostenta até os dias atuais. O registro genealógico das raças indianas foi reconhecido pelo Ministério da Agricultura em 1936. Denominado à época Serviço de Registro Genealógico das Raças Bovinas de Origem Indiana – SERBOI, em regime de Livro Aberto, abrangia todo o território nacional em decorrência do Tratado de Roma , firmado naquele mesmo ano, do qual o Brasil foi um dos países signatários. No ano de 1938, exatamente no dia 17 de julho, consolida-se os primeiros registros genealógicos oficiais de zebuínos, quando o Sr. Presidente da República, Dr. Getúlio Vargas, marca o primeiro animal do Tipo Indubrasil. Transcorridas seis décadas desde aquele ato, a ABCZ manteve-se fiel aos princípios da pecuária seletiva , sempre consoante com o Ministério da Agricultura. Essa postura consolidou as raças zebuínas no Brasil, que têm, hoje, reconhecimento internacional, sobrepondo inclusive o rebanho da terra mãe - a Índia - em qualidade. De 1938 a 1999 foram realizados 5,3 milhões de RGN’s e 2,5 milhões de RGD’s, envolvendo todas as raças zebuínas (veja Tabela 1 abaixo). Tabela 1 - Estatística do Registro Genealógico de Nascimento (RGN) e Definitivo (RGD) no período de 1939 a 1998 Raça RGN % RGD % Gir Mocha 34.164 0.65 21.772 0.85 Gir 491.924 9.30 286.850 11.16 Guzerá 213.846 4.04 104.331 4.06 Indubrasil 207.523 3.92 124.024 4.82 Nelore 3.838.104 72.56 1.732.840 67.41 Nelore Mocha 356.647 6.74 215.007 8.36 Sindi 8.080 0.15 4.465 0.17 Tabapuã 138.576 2.62 80.426 3.13 Cangaian 29 * 50 * Brahman 513 0.01 876 0.03 TOTAL 5.289.406 100.00 2.570.641 100.00 Fonte:ABCZ/SUT/SDG 1999 *não significativo ao nível de 1% - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 24 O PROCESSO QUE NÃO PARA De um momento inicial - onde os espécimes indianos aqui introduzidos se amalgamaram numa desordem de tipo e função - até os dias atuais, quando as raças zebuínas são perfeitamente identificáveis graças ao registro seletivo ininterrupto, foram sendo criadas ferramentas adicionais de seleção para desempenho funcional. Atingido um padrão fenotípico aceitável, tornou-se imperativo incorporar à seleção pelo tipo racial, critérios mensuráveis e em bases científicas e econômicas. Já no ano de 1968 estabeleceram-se as Provas Zootécnicas, pautadas basicamente no Controle do Desenvolvimento Ponderal, nas Provas de Ganho em Peso e no Controle Leiteiro. Esses testes perduram até hoje e somam a impressionante marca de 1,3 milhão de animais avaliados e 5,2 milhões de dados colhidos. Tabela 2 - Controle do Desenvolvimento Ponderal - CDP (1968- agosto de 1999): Número de pesagens realizadas e número de animais inscritos, por raça Raça Pesagens % Inscritos % Brahman 3.556 0.07 1.158 0.09 Gir 34.763 0.67 63.601 4.84 Guzerá 325.919 6.27 81.201 6.19 Indubrasil 143.260 2.75 40.438 3.08 Nelore 3.885.484 74.70 940.492 71.64 Nel. Mocho 437.216 8.41 99.212 7.56 Sindi 2.042 0.04 513 0.04 Tabapuã 310.409 5.97 71.838 5.47 Gir Mocho 58.509 1.12 14.262 1.09 Total 5.201.158 100.0 1.312.715 100.0 Fonte:ABCZ/SUT/SMG 1999. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 25 Tabela 3 - Provas de Ganho em Peso -PGP : realizadas de 1975 a 1999 402 Provas Realizadas Raça Animais Testados % Nelore 10.974 74.89 Indubrasil 230 1.57 Gir 251 1.71 Guzerá 1.332 9.09 Nel.Mocho 656 4.48 Tabapuã 1.147 7.83 Gir Mocho 40 0.27 Brahman 24 0.16 Total 14.654 100 Fonte: ABCZ/SUT/SMG 1999. Tabela 4 - Serviço de Controle Leiteiro - CL: Número de vacas inscritas e número de controles efetuados, de 1975 a outubro de 1999 Raça Inscritas % Pesagens % Encerradas % Gir 1674 66.88 11.975 65.91 11.975 72.82 Gir Mocho 115 4.59 687 3.78 687 4.18 Guzerá 363 14.50 3.027 16.66 3.027 18.41 Zebu Leiteiro 103 4.12 562 3.09 562 3.42 Nelore 138 5.51 1.135 6.25 116 0.71 Sindi 65 2.60 458 2.52 45 0.27 Indubrasil 45 1.80 324 1.78 33 0.20 Total 2503 100.00 18.168 100.00 16.445 100.00 Fonte: ABCZ/SUT/SMG 1999. É seguramente o maior acervo de informações de zebuínos existente no mundo. Esse banco de dados é uma fonte inesgotável de estudos, alicerçando inúmeras pesquisas com instituições do porte da Embrapa, várias Universidades e Centros de Investigação Científica. - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 26 As raças zebuínas começaram a definir seus contornos econômicos e os avanços foram cada vez mais significativos. O conceito de seleção do zebu agregou então, na prática e de forma definitiva, a busca por animais geneticamente puros aliados à eficiênc ia da produção em um ambiente tipicamente tropical O mundo reconheceu essa genética melhoradora e o resultado é que o zebu brasileiro há muito ultrapassou as fronteiras nacionais: Estados Unidos, México, Guatemala, Honduras, Costa Rica, Nicarágua, Bolívia, Colômbia, Argentina, Paraguai, Venezuela e Tailândia, apenas para citar alguns, são países que se utilizam de nossa genética zebuína. OS ANOS 80 E 90 A década de 80 foi caracterizada no país por um movimento, ainda subjacente, da busca por mecanismos que pudessem identificar com maior precisão uma genética superior e mais produtiva. As transformações econômicas e sociais que ocorreram no mundo passaram a determinar a eficiência de produção como palavra de ordem. Por outro lado, não obstante “eficiência” tenha se tornado um imperativo, outras transformações de cunho mais social e comunitário postulavam a proteção ao meio ambiente. Cada vez mais, ONG’s passaram a cobrar da sociedade como um todo, a preservação do meio ambiente. E verdade seja dita, abstraída algumas posições extremadas e desvinculadas da realidade, tais atitudes são sérias e devem ser consideradas no contexto da produção auto-sustentável ao longo do tempo. Nesse estado geral de coisas, os zebuínos se apresentaram como excelente solução para resolver ambos os lados da equação: produzir proteína nobre (a carne vermelha) em sistemas de produção extensivo onde a agressão ao meio ambiente inexiste ou é mínima. Sem ufanismo, ponto para o zebu e ponto para a humanidade. Os anos 90 chegaram trazendo a rapidez no tráfego de informações. A velocidade de transformações se tornou emblemática de nossa época. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 27 A evolução e democratização da ciência da informática provocou um efeito em cascata em todas as camadas sociais na difusão quase instantânea de conhecimento. Conseqüência desse processo, deslocamentos de poder e de recursos atingiram proporções jamais vistas anteriormente. Hoje, dificilmente algo ou alguém é proprietário único de idéias ou de conhecimento por muito tempo. Conceitos como reengenharia e qualidade total passaram a fazer parte do cotidiano de todas as empresas, independentemente de seu porte. No mercado de genética animal, especificamente, a instalação de programas de melhoramento tornaram-se obrigatórios, consolidando de forma definitiva a tendência de mercado iniciada nos anos 80. A propalada ‘Nova Ordem Mundial” se instalara de vez e com ela sinais claros de que a competição em todos os segmentos ficaria cada vez mais acirrada Fatos concretos do fenômeno da globalização, como a formação de blocos econômicos (UE, NAFTA, MERCOSUL...) e a consolidação da rede mundial de computadores (Internet), colocaram todos os segmentos de produção frente a um novo e gigantesco mundo de competição. A tendência generalizada da queda das barreiras comerciais existentes entre os países com a permanência das barreiras sanitárias, nos obriga a repensar nosso modelo de produção. Felizmente a mentalidade daquelesque dirigiram e dirigem a ABCZ sempre souberam atrelá-la bem ao “trem da história”. As respostas da entidade para esse processo estão sendo igualmente rápidas e eficientes: investe-se em um Programa de Melhoramento Genético de proporções grandiosas e que vem sendo construído em bases sólidas ao longo dos últimos anos; investe-se em informática, criando meios de uma comunicação mais rápida e eficiente; priorizou-se ações sinérgicas com outras entidades afins no setor de sanidade animal buscando dar qualidade total aos nossos produtos; e, o investimento nos valores humanos, que em última análise compõem o sistema, tem sido uma constante através de cursos de treinamento, aperfeiçoamento ou especialização. - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 28 Trabalhando assim, em bases sólidas mas com a mente flexível, estamos confiantes de que as raças zebuínas seguem sua marcha acelerada para se constituírem em fatores de produção indispensáveis em qualquer pecuária tropical e sub-tropical. SELEÇÃO DE ZEBUÍNOS PARA CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS Prof. Dr. José Bento Sterman Ferraz e Prof. Dr. Joanir Pereira Eler Grupo de Melhoramento Animal Universidade de São Paulo - Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos Cx. Postal 23 - 13630.970 Pirassununga SP e.mail: jbferraz@usp.br 1. INTRODUÇÃO A economia globalizada desses tempos de fim de milênio levou a pecuária de corte a uma situação onde apenas criadores com alta produtividade permanecerão no competitivo mercado. Todos aqueles que não atingirem níveis adequados de qualidade e produtividade serão marginalizados do processo produtivo, podendo até ser eliminados do mesmo e sair do ramo. As palavras de ordem dos tempos atuais são aumentar a produtividade e melhorar a qualidade dos produtos, sempre a custos minimizados. No caso de criadores que se dedicam ao comércio de material genético, apenas os que tiverem seus animais geneticamente avaliados conseguirão vender seus reprodutores e matrizes, pois o mercado estará cada vez mais exigente e vai requerer que o material genético disponível demonstre com clareza o seu potencial. Os ganhos genéticos de cada rebanho dependerão também do uso de animais geneticamente superiores nos processos seletivos dentro de cada plantel. A seleção de animais feita pelos critérios tradicionais, através da escolha direta de animais mais produtivos, leva a ganhos genéticos muito aquém dos ganhos que seriam obtidos caso os animais fossem selecionados com base nos seus valores genéticos. Já o uso de touros melhoradores, ou seja, aqueles que melhoram o patrimônio genético dos rebanhos é uma prática da maior importância nesse processo, desde que o criador saiba como identificá-los corretamente. Aí se coloca uma pergunta básica: por que o criador não se utiliza de animais melhoradores em seus rebanhos? E duas são as possíveis respostas: • Porque não tem informação, ou • Porque não sabe interpretar a informação - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 30 O rebanho brasileiro de bovinos é de cerca de 170 milhões de cabeças, das quais cerca de 80% são zebuínos ou animais com zebuínos em sua constituição genética. O melhoramento dos zebuínos para características de desenvolvimento ponderal e reprodutivo são necessidades imperativas para melhorar a competitividade de nossa pecuária. Assim, é necessário que todos aqueles envolvidos no agribusiness da pecuária de corte tenham noções bastante precisas de melhoramento genético e de suas ferramentas, quer sejam a identificação de animais superiores através das avaliações genéticas, os processos seletivos e os sistemas de acasalamento. Responder com precisão às dúvidas dos pecuaristas a respeito das informações a respeito da qualidade genética dos animais e do uso correto dessas informações é uma das responsabilidades dos geneticistas ligados aos programas de melhoramento genético de zebuínos no Brasil. Conhecendo estas técnicas, os profissionais envolvidos com a pecuária de corte poderão tomar decisões mais conscientes e ser mais eficientes em suas operações, mantendo-se competitivos e alertas para as mudanças de mercado que têm ocorrido com tanta rapidez. 2. A AVALIAÇÃO GENÉTICA - OS "MODELOS ANIMAIS" Avaliar a qualidade genética de um animal nada mais é do que estimar o seu valor genético aditivo. Infelizmente é impossível conhecer com precisão o valor genético dos animais. O problema é muito simples: o desempenho dos animais, também denominado de fenótipo é resultado do patrimônio genético que aquele animal possui, o chamado genótipo, somado aos efeitos de meio ambiente, existindo ainda uma interação entre os efeitos de genótipo e de meio ambiente, já que alguns animais são superiores a outros em alguns ambientes, mas se tornam inferiores àqueles em ambientes diferentes. Se simbolizarmos o fenótipo com a letra F , o genótipo com a letra G , o meio ambiente com a letra A e a interação entre o genótipo e o ambiente com as letras GA, o desempenho dos nossos animais, seja qual for a característica estudada (peso à desmama, peso a 1 I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 31 ano, produção de leite, circunferência escrotal, etc.) poderá ser colocado numa equação muito simples: F = G + A + GA Esta equação nos mostra que, infelizmente, o fenótipo que medimos nos animais não demonstra diretamente sua qualidade ou potencialidade genética. Esse fenótipo, essa produção ou essa medida F estarão sempre influenciados pelo meio ambiente A e pela interação genótipo-ambiente GA, que podem assumir valores positivos ou negativos e que alteram o valor genético dos animais, G. Como não se pode conhecer com exatidão o valor genético dos animais, lança-se mão de técnicas de estimação desses valores. Pela análise da equação acima pode-se verificar portanto a necessidade de estimar-se o valor genético dos animais sem a interferência dos efeitos de meio ambiente da interação genótipo-ambiente. O valor genético dos animais depende da herdabilidade do caráter (quanto maior a herdabilidade maior a concordância entre o genótipo e o fenótipo), do número de informações (quanto maior este número, melhor a estimativa do valor genético), do parentesco entre o animal avaliado e as fontes de informação (quanto mais próximo o parentesco, maior a ênfase que a informação deve ter) e do grau de semelhança fenotípica entre o animal avaliado e as fontes de informação (uma forma de avaliar os efeitos de ambiente que são comuns a diferentes fontes de informação, os chamados efeitos permanentes de ambiente). As metodologias de estimação de valores genéticos dos animais vêm se aperfeiçoando desde as primeiras décadas deste século, mas apenas a partir dos anos 80 houve um avanço muito grande nas mesmas e criaram-se ferramentas muito poderosas para a avaliação dos animais, principalmente após o advento dos chamados "modelos animais", a mais moderna metodologia para avaliação genética existente. Nestas metodologias utilizam-se os registros de produção do animal que está sendo avaliado, mas também de todos os seus parentes, não importa o grau de parentesco existente. Assim, dados a respeito de primos distantes, avós, filhos, filhas, irmãos e irmãs de um reprodutor ou matriz são avaliados segundo - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 32 complexos modelos matemáticos o que resulta na melhor estimação possível de seu valor genético, o G de nossa equação. Os modelos animais são uma aplicação dos chamados modelos mistos, desenvolvidos por C.R. Henderson nos anos 40, modelos que consideram efeitos fixos (sexo, idade da vaca, fazenda, sistemas de alimentação e manejo, grupo de contemporâneos, etc.) e efeitos aleatórios (como os efeitos diretos dos genes dos animais, os efeitos dos genes de sua mãe, os efeitos permanentes de ambiente que uma vaca fornece à sua progênie, etc) de maneira simultânea. Os efeitos aleatórios dos genes dos animais (diretoe materno) são estimados com base nas informações fornecidas pelos registros de produção de todo e qualquer parente do animal. Isto se tornou possível porque na montagem das equações de modelos mistos, a inversa da matriz de parentesco é adicionada à parte aleatória do sistema, "ligando" os dados de todos os animais que porventura tenham parentesco. Como os dados estão conectados, por uma propriedade de multiplicação de matrizes, no momento em que as soluções são obtidas, o valor genético estimado de cada animal é obtido considerando-se as contribuições de cada parente. Isto se tornou possível nos anos 80 devido principalmente à elaboração de regras para o cálculo da inversa da matriz de parentesco (Quaas e Pollak, 1980) e devido ao aumento da capacidade dos microcomputadores, o que permitiu que vários pesquisadores passassem a ter acesso à tecnologia. No fim da década de 1980 e início dos anos 90, pesquisadores como C.R. Henderson (EUA), B. Kennedy (Canadá), L.D. Van Vleck, K. G. Boldman, I. Misztal (EUA), D. Sörensen (Dinamarca), K. Meyer (Inglaterra), E. Groeneveld (Alemanha), dentre outros desenvolveram uma série de programas específicos destinados a estimar parâmetros genéticos e valores genéticos aditivos de animais utilizando-se dessa metodologia. Tal metodologia já estava disponível no Brasil em 1991 e 1992 e vem sendo regularmente aplicada desde 1993. ELZO (1994) apresentou importante estudo sobre uso de procedimentos de máxima verossimilhança restrita para estimação de componentes de variância e covariância em populações cruzadas ou mesmo entre linhagem de mesma raça, concluindo que embora os requisitos I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 33 computacionais sejam consideravelmente grandes, o número de componentes de variância e covariância pode ser diminuído, usando algumas pressuposições adequadas, que facilitam o uso daquelas metodologias na análise de dados de bovinos cruzados. O uso de modelos animais na avaliação de animais cruzados foi uma conseqüência de sua ampla utilização no avaliação genética de bovinos (ARNOLD et al., 1992). Até recentemente, no entanto, as limitações computacionais levaram à utilização dos modelos animais reduzidos, particularmente nas avaliações nacionais (BENYSHEK & BERTRAND, 1990). Mais recentemente, inúmeros estudos têm-se utilizado dos procedimentos de modelos mistos sob modelos animais na análise genética de bovinos cruzados (DAVIS et al., 1994a,b; GREGORY et al., 1994a,b,c; HACKELFORD et al., 1994; KOCH et al., 1994; MEYER et al., 1994; GREGORY et al., 1995a,b,c; KRESS et al., 1995; PASCHAL et al., 1995; RODRíGUEZ-ALMEIDA et al., 1995a,b; VAN VLECK & CUNDIFF, 1995), dentre outros. Aspectos importantes a respeito de estrutura dos dados (TOSH & WILTON, 1994); volume de informações de pedigree (BRISBANE & GIBSON, 1995; GROEN et al., 1995; HAGGER & SCHNEEBERGER, 1995; QUINTON & SMITH, 1995) e efeitos da seleção simultânea de características sobre componentes de covariância (McMILLAN et al., 1995) têm sido considerados quando da avaliação genética de animais provenientes de acasalamentos exogâmicos. Com as informações obtidas da literatura, fica evidente que a avaliação genética, ou seja a avaliação do valor genético aditivo dos animais, machos e fêmeas, de um sistema de cruzamento é uma das tarefas vitais ao sucesso do sistema. 3. COMO SE EXPRESSAM ESSAS AVALIAÇÕES GENÉTICAS Por definição, o valor genético aditivo esperado (Expected Breeding Value ou EBV) de um animal é o valor que ele teria como reprodutor ou ainda é igual a duas vezes a diferença que seus filhos têm em relação aos filhos de outros reprodutores, desde que os reprodutores que - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 34 estejam sendo comparados sejam acasalados com vacas escolhidas ao acaso da população. A razão para dobrar essa diferença dos filhos é que os filhos só têm metade dos genes dos pais. Em última análise o valor genético aditivo é o que os rebanhos selecionadores vendem, pois expressa o potencial genético dos animais vendidos. Este valor mostra o quanto os filhos de um animal seriam desviados em relação à média de todos os reprodutores em utilização, ou seja produziriam "a mais" ou "a menos" que a média dos filhos dos outros reprodutores, que tenham sido utilizados na mesma população de animais onde estivemos estimando os valores genéticos. Os EPD (expected progeny differences) ou as DEP’s (diferenças esperadas de progênie) são por definição a fração de uma superioridade de progênie devidas aos efeitos dos genes do reprodutor. Como metade do patrimônio genético dos filhos vem da mãe e metade do pai, os EPD ou as DEP equivalem à metade dos EBV. Assim, comprando-se um tourinho A com EPD ou DEP = +13,0 kg para peso aos 365 dias, com o tourinho B que tenha uma DEP de +3,0 kg significa que os filhos do tourinho A teriam 10 Kg de peso aos 365 dias a mais do que os filhos do tourinho B se acasalados com vacas escolhidas ao acaso. Este conceito de EPD ou DEP é usado em geral pelos criadores de gado de corte, ao passo que os de gado de leite utilizam-se dos termos PTA (predicted transmiting ability ou habilidade prevista de transmissão), TA (transmiting ability, ou habilidade de transmissão), ou ainda PD (predicted difference) ou SC (sire comparison ou comparação entre reprodutores). Em essência, todos estes termos estimam a metade do valor genético de um reprodutor. 4. A ACURÁCIA DAS AVALIAÇÕES A Acurácia (do inglês accuracy, também conhecida como repetibilidade da avaliação) de uma estimativa é uma medida da correlação entre o valor estimado e os valores das fontes de informação, ou seja mede o quanto a estimativa que obtivemos é relacionada com o "valor real" do parâmetro. Ela nos informa o quanto o valor estimado é "bom", ou seja o quanto o valor estimado é "próximo" do valor real e nos dá a I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 35 "confiabilidade" daquela estimativa ou valor. Se estimamos o valor genético apenas pelo desempenho do próprio animal (em peso aos 365 dias por exemplo), o valor da acurácia será de 0,50 (para herdabilidade de 0,25), mas se a estimativa for baseada em 18 filhos (progênie) de um touro com uma amostra aleatória (tirada ao acaso) de vacas, a acurácia subirá para 0,74. Quanto mais informações tivermos a respeito de um touro, mais acurada, mais "confiável" a estimativa. A acurácia no entanto, não depende somente do número de filhos de um reprodutor que foram medidos, mas, principalmente do número de parentes medidos que esse reprodutor teve. Assim, é comum touros com menor número de filhos do que outros terem acurácias maiores, devido à contribuição de maior número de parentes na estimação de seu valor genético. Um outro caso comum nas avaliações é a estimação de DEP's para efeitos genéticos maternos igual a zero, com acurácia igualmente igual a zero, para touros que não tiveram nenhuma filha com descendentes na população. Às vezes tais touros podem ter centenas de filhos medidos, alta acurácia para efeitos diretos e nenhuma estimativa ou acurácia para efeito materno. Este conceito de acurácia é muito importante para as decisões de um criador, pois indica o "risco" da decisão. Se o criador tiver um pequeno rebanho de alto valor genético, fica muito difícil utilizar-se um reprodutor cujo valor genético (DEP ou TA) tenha baixa acurácia, pois o valor estimado não é muito "confiável" e quando aumentarem as informações a respeito daquele reprodutor, por exemplo na próxima avaliação ou no próximo ano, aquele valor genético previsto poderá diminuir e o pequeno criador terá à venda então filhos de um touro inferior ao que ele achava que teria. Mas aquele valor poderá também subir e então o criador terá filhos de um bom touro. A acurácia nos informa em última análise a "segurança" que temos de que aquele valor estimado vá mudar ou não. Mas se o criador tem um porte maior e gosta de correrriscos (e talvez ter maiores lucros), ele poderá investir adquirindo tourinhos (ou sêmen) com altos valores genéticos estimados e baixa acurácia, que em geral são mais baratos, e usar este material genético em uma parte de seu rebanho. Se o tourinho confirmar seu alto potencial e tiver - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 36 maior acurácia na próxima avaliação, esse criador terá feito um bom negócio, mas se tiver um pior desempenho, só parte dos seus produtos será originária de touros "inferiores". Mas altas acurácias só são conseguidas a partir de muitas informações a respeito do animal que está sendo testado, em geral obtidas a partir de muitos filhos e filhas do touro e isto significa mais tempo entre o nascimento desse reprodutor e seu uso no rebanho, o que aumenta o intervalo entre gerações e diminui o ganho genético por ano. Assim, usarem-se animais jovens, com baixa acurácia, pode aumentar o risco, mas se a avaliação estiver sendo bem feita, o mérito genético do rebanho como um todo cresce mais rapidamente do que se utilizar touros "provados", com altas acurácias. A decisão é estritamente técnica e deve ser tomada caso a caso. A tabela apresentada a seguir nos dá uma idéia aproximada desse risco: Relação entre acurácia de uma estimativa de valor genético de um animal e o risco de utilizar-se ou não tal animal como reprodutor na propriedade Acurácia Razão Risco 0,10 a 0,30 poucas informações a respeito do animal, animal em geral muito jovem ==> acurácia baixa, diminui o intervalo entre gerações alto 0,31 a 0,70 número razoável de informações, touro jovem, com de 10 a 20 filhos já testados (em gado de leite, 10 a 20 filhas com lactação) ==> acurácia média, intervalo entre gerações médio médio acima de 0,70 número suficiente de informações, animal com mais de 20 filhos ou filhas testados ==> acurácia alta, aumenta muito o intervalo entre gerações baixo A acurácia é a correlação entre a predição do valor genético ( $g) e o valor genético verdadeiro ( g ), e é dada pela fórmula: r( $g, g ) = 1 2− VEP gσ , sendo esta concepção conhecida como “Acurácia Real” e onde VEP é a variância do erro da predição (prediction error variance, ou PEV), que é obtida na diagonal da matriz C, matriz intermediária do processo de solução das equações de modelos I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 37 mistos. No entanto a inversão de tal matriz é um processo extremamente lento e muitas vezes, dependendo do número de animais e características avaliadas, é quase impossível, já que a demanda por memória de computadores é muito grande. No entanto, a acurácia quando expressa desta forma não tem comportamento linear com o número de progênies de um determinado touro, mormente em números de filhos entre 10 e 50, e fica relativamente difícil para o criador leigo entender as grandes variações de acurácia que ocorrem com pequenas variações no número de filhos. Tendo em vista este problema, o Beef Improvement Federation, dos Estados Unidos da América, adotou uma fórmula alternativa, que varia linearmente com o número de progênies e que dá valores de acurácia mais baixos, e mais conservadores, que os da “acurácia real”. A fórmula da “Acurácia BIF” é: Acc BIF = 1 2− VEP gσ 5. O USO DAS AVALIAÇÕES GENÉTICAS PELOS CRIADORES As DEP's são resultados de amplos programas informatizados de controle e avaliação de reprodutores conduzidos por Associações de Criadores e publicados em seus "Sumários de Touros". Eles podem ser relativos a qualquer característica que se possa medir com precisão, como o peso ao nascer, peso à desmama ajustado, peso ao sobreano ajustado, peso aos 540 dias ajustado, produção leiteira, de gordura ou proteína ajustadas, circunferência escrotal ajustada, pontuação em um sistema linear de avaliação corporal, altura, notas para facilidade de parto, etc. Quanto maior o número de informações, mais ampla será a avaliação de um reprodutor. Nada impede que um reprodutor seja "superior" aos demais em algumas características e "inferior" em outras. Essas informações é que são úteis para a decisão de cada criador, que tem a liberdade de melhorar seu rebanho segundo seus conceitos e idéias. Os valores das DEP's podem mudar de uma avaliação para outra (em geral de um ano para outro), à medida que novas informações são - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 38 agregadas. Os sistemas de avaliação em uso hoje estimam DEP's para todos os animais controlados, inclusive aqueles que não têm registro de produção ou que já morreram, pois isso é feito pelos laços de parentesco com aqueles que têm produções controladas. Como já foi explicado anteriormente, o desempenho de um animal não é apenas resultado de seu genótipo, mas também dos efeitos de ambiente. As características produtivas economicamente importantes são condicionadas pelo genótipo em frações de 20 a 40% (o que equivale à sua herdabilidade), o que significa que de 80 a 60 % da variação da mesma é devida ao ambiente ou outras causas não controláveis. Assim, as DEP's não são garantias de desempenho superior dos filhos dos touros testados, mas tão somente uma indicação, a melhor que a genética moderna pode oferecer, do potencial genético do reprodutor que está sendo usado. Restam ao criador tentar controlar a outra parte responsável pelo desempenho dos animais, que sejam o ambiente, a alimentação, a saúde, etc. As DEP's são válidas para a população onde foram estimadas. Assim, estimativas obtidas para a raça Pardo-Suíça não são comparáveis aos obtidos para a raça Simmental ou Nelore. Ao comparar as DEP's de dois touros, não devem ser comparados os valores em si, mas sim sua diferença. Se um touro tem uma DEP de +12,0 Kg e outro tem o valor +7,0 Kg, a diferença esperada entre os filhos dois touros é de 5,0 Kg naquela característica. Um bom programa de avaliação de reprodutores sempre estima as DEP's dos animais que estão nascendo no rebanho, mas o mais importante é que devem ser incluídos nas avaliações todos os animais nascidos, bons ou ruins. Incluir apenas os melhores filhos de um touro pode resultar em maiores DEP's, mas esta estimativa será falsa e os filhos desses animais não terão o desempenho esperado, comprometendo o próprio programa, mas sobretudo colocando em dúvida a seriedade do criador. Os criadores devem estar sempre familiarizados com os catálogos de touros e consultar tais valores antes dos leilões ou pedidos de sêmen. O criador deve saber o que ele deve melhorar em seu rebanho e comparar as I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 39 DEP's do reprodutores disponíveis. A compra de material genético é antes de mais nada uma compra técnica. Estar atualizado no significado dos termos técnicos de avaliação de reprodutores é uma importante ferramenta tanto de compra quanto de venda. 6. A IMPORTÂNCIA DOS EFEITOS FIXOS - AS CAUSAS DE CONFUNDIMENTO O confundimento dos fatores causais da expressão dos genes não se dá apenas em termos de componentes genéticos. Existe normalmente enorme grau de confundimento entre tais fatores genéticos e os fatores de ambiente, já que cada cruzamento expressar-se-á no tempo em diferentes ambientes. É notória a diferença de desempenho de animais de patrimônio genético semelhante criados em ambientes próximos mas diferentes. Muitas vezes podemos observar diferenças de mais de 20 kg no peso médio de bezerros de um rebanho, nos quais um dos lotes foi criado num pasto de colonião ou jaraguá e o outro, separado apenas por uma cerca, foi criado num pasto de Brachiaria. Isto pode ser normalmente observado em qualquer fazenda. Se diferenças tão evidentes como a exemplificada são observadas, a qualidade das avaliações depende fundamentalmente das definições dos grupos de contemporâneos. Os grupos de contemporâneos são grupos de animais nascidos na mesma fazenda, na mesma época do ano e que são submetidos às mesmascondições de ambiente. Assim, se numa fazenda existem diferenças de qualidade entre pastos e entre tratadores diferentes, o que normalmente existe, nada mais lógico que identificar o "lote" no qual cada animal foi criado, em todas as fases de sua vida. Em geral, cada "lote" refere-se a um grupo de animais que nasceu junto e foi mantido junto, no mesmo pasto, retiro e sob os cuidados de um mesmo vaqueiro, até o desmame, ou então foi desmamado na mesma época e colocado num mesmo pasto até determinada idade. Este tipo de identificação é o que caracteriza os "grupos de manejo", a melhor maneira de identificar grupos de contemporâneos. - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 40 Por ocasião das análises estatísticas para estimação de valores genéticos, aos grupos de manejo, definidos dentro de cada fazenda, serão acrescidos a identificação de cada fazenda e o sexo dos animais, pois tais fontes de variação são de extrema importância. A composição final de cada grupo de contemporâneos (GC) ficará assim definida por: GC = fazenda + grupo de manejo dentro da fazenda + sexo Se tivermos em nossa população 10 fazendas, cada uma com 10 grupos de manejo e os 2 sexos, nossa população terá então 200 grupos de contemporâneos. A inclusão dos efeitos de grupo de contemporâneos é absolutamente essencial à qualidade de uma avaliação. A definição incorreta destes grupos pode levar a grandes desvios (vícios, viéses, bias) das estimativas e muitos animais podem ser avaliados de maneira incorreta, levando a erros graves nas definições de seleção. Dadas as necessidades de haver conecção genética entre animais de diferentes grupos de contemporâneos, de tal forma que os mesmos possam ser comparáveis, é de extrema importância que dentro de cada grupo de contemporâneo ou grupo de manejo, existam filhos dos touros conhecidos como touros de amarração ou touros de referência, que são animais cujo sêmen é usado em todos os lotes de vacas. Grupos de manejo que têm apenas filhos de reprodutores múltiplos não têm conexão genética conhecida com outros grupos da população e sua avaliação fica prejudicada. Um dos tipos piores de confundimento que ocorre em análise de dados de cruzamentos é o confundimento entre os efeitos de grupo de manejo (ou pasto) e os grupos raciais, particularmente de vacas. Em geral, vacas de uma mesma composição racial são mantidas em poucos pastos ou retiros, com a justificativa de manter-se melhor controle sobre aquele grupo. Se isto for feito, as diferenças entre o desempenho das progênies deste grupo (A x B, por exemplo) de vacas e outro grupo (C x D, por exemplo) será devido aos efeitos genéticos (direto, materno e de heterose) ou simplesmente um efeito ambiental? Será, sob o ponto de vista estatístico, impossível separarem-se tais efeitos, principalmente os efeitos maternos e de avó materna. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 41 Existe ainda o problema de efeitos diretos e maternos serem colineares, ou seja existir covariância entre eles. Com esta dependência entre os efeitos, não existe uma solução clara e limpa para tais componentes. Com delineamento cuidadoso, podem ser estimadas diferenças entre méritos genéticos direto e materno entre as raças, quase sempre com algum confundimento embutido. Pequenas decisões na composição de grupos de manejo ou de contemporâneos podem levar a graves efeitos no grau de confundimento entre os componentes causais. O ideal num programa de cruzamento de grandes proporções é que se simulem os efeitos de cada decisão antes de implementá-las, de tal maneira que suas consequências sejam conhecidas a priori. A inclusão de fêmeas de raças puras em todos os grupos de manejo seria de grande valia para facilitar comparações futuras, embora isto possa trazer vários problemas de manejo. Isto é ainda mais importante quando várias raças são utilizadas, pois animais de raça pura seriam uma importante e conhecida referência que facilitaria as comparações entre diversas combinações de raças. 7. A SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS DE DESENVOLVIMENTO Muitas características ligadas ao desenvolvimento dos zebuínos são importantes e devem constar de programas de avaliação genética de reprodutores. Dentre elas podemos citar: Peso ao nascer = peso real ao nascimento, em kg. Este peso deve ser monitorado para evitar-se um aumento significativo no peso ao nascimento dos bezerros, o que poderia vir a causar problemas de parto. Este peso é o melhor indicador da facilidade de parto. Touros com DEP’s baixas ou mesmo negativas são desejáveis para esta característica. Peso à desmama = peso, em kg, medido por ocasião da desmama. A DEP para este peso reflete o potencial que o animal tem para desmamar, independente da produção de leite de sua mãe, ou seja, a ação direta dos - I Simpósio de Produção de Gado de Corte 42 genes do próprio animal. Este peso é muito importante para os produtores de bezerros. Touros com DEP positiva e elevada são os mais indicados. Materno total = esta característica é obtida somando-se metade da DEP de cada animal para peso à desmama (efeitos diretos) com a DEP para efeitos maternos sobre o mesmo peso. Ela expressa, em kg, o potencial total de desmama que um animal pode transmitir, incluindo os efeitos diretos dos genes sobre o crescimento e os efeitos dos genes que irão influenciar a produção leiteira das filhas do reprodutor. Ganho de peso ao sobreano = esta característica expressa, em kg, o ganho potencial devido à ação dos genes, que o animal apresenta no período compreendido entre a desmama e o sobreano. Essa característica demonstra o potencial de velocidade de ganho de peso e tem sido considerado muito importante pelos engordadores e confinadores, pois demonstra o desempenho potencial a pasto ou em confinamento. Este ganho de peso, somado ao peso à desmama, define o peso ao sobreano, o melhor indicador do peso adulto dos animais e as DEP’s mais elevadas são as mais indicadas. Conformação, Precocidade e Musculosidade = as avaliações visuais destas três características estão relacionadas com a necessidade de se selecionarem animais adequados à competitiva indústria da carne bovina. Estes escores devem ser medidos ao sobreano em escalas pré definidas, onde os maiores valores correspondem aos melhores animais. Assim, DEP’s mais elevadas são as mais indicadas, sempre levando-se em conta um perfeito balanceamento do animal. Perímetro Escrotal = esta medida, expressa em cm, deve ser tomada nos machos na época da pesagem ao sobreano e é altamente correlacionada com idade à puberdade, qualidade e quantidade de sêmen, fertilidade, desenvolvimento ponderal e precocidade sexual das filhas e irmãs dos tourinhos. O uso desta característica para compor os critérios de seleção em bovinos de corte tem sido prática comum na maioria dos bons programas de melhoramento em todo o mundo. As DEP’s mais elevadas são as melhores. Seleção para PE, no entanto, não é uma substituição para a seleção direta sobre o desempenho reprodutivo da fêmea. I Simpósio de Produção de Gado de Corte - 43 Altura = Esta medida em cm é tomada na garupa dos animais ao sobreano de idade e pode ajudar o criador a definir uma estatura média de seus animais. Ela apresenta elevada correlação com a “caixa” (frame) dos animais, ou seja a estrutura anatômica do animal para suportar a musculatura. 8. A SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS Inicialmente é de extrema importância que se defina com clareza quais características devem ser selecionadas, quais são as metas e objetivos do criador. O que é realmente importante sob o ponto de vista reprodutivo das vacas é que se tenham novilhas que fiquem prenhes o mais cedo possível, dentro de determinada estação de monta vigente. Além disto, uma fêmea deve permanecer no plantel por longo tempo, produzindo bezerros todos os anos. Essa longevidade garante a amortização dos custos de aquisição, manutenção
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