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Cadeia Produtiva de Carne Bovina no Brasil

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A CADEIA PRODUTIVA DE CARNE BOVINA NO BRASIL
MERCADO INTERNACIONAL E NACIONAL
José Alberto de Àvila Pires
Engenheiro Agrônomo, Coordenador Técnico/Bovinocultura de Corte da EMATER/MG
Avenida Raja Gabaglia, 1.626 – Bairro Luxemburgo.
30350-540 – Belo Horizonte – Minas Gerais
Fone: (31) 3349 8272 – Fax: (31) 3296 4990
e-mail: criacoes@emater.mg.gov.br
INTRODUÇÃO
Ao conjunto da produção de bens e serviços intermediários e
finais realizados antes, dentro e depois da porteira, dá-se o nome de
cadeia produtiva. A noção sobre cadeias produtivas e o conhecimento
das relações entre seus segmentos são necessários, pois além de
evidenciar onde o poder econômico é exercido, revelam as
especificidades técnicas e econômicas ocorrentes e mostram ainda,
que, para todos os agentes econômicos, é imprescindível conhecer e
levar em conta a estrutura dinâmica técnico-financeira dos setores e
ramos que as compõem, objetivando a competitividade no mercado
(Amaral, 2000).
A ocorrências das doenças da “vaca louca” e da “febre
aftosa” na Europa está afetando de forma marcante o mercado e a
cadeia produtiva de carne bovina no mundo inteiro.
Segundo Talamani (2001), o rico mercado consumidor europeu e
demais países desenvolvidos determinará como os sistemas de
produção agropecuária vão operar. O objetivo do consumidor europeu é
consumir alimentos saudáveis com o mínimo de riscos à saúde, que
sejam produzidos sob conceitos de respeito ao ambiente e ao bem estar
animal, de preferência oriundos de unidades de produção estruturados
nos moldes de organização familiar.
Diante desta nova realidade do mercado de carne bovina, este
trabalho procura mostrar os futuros potenciais dos mercados
internacional e nacional, e analisar a importância do criador, o
pecuarista que faz exclusivamente a produção de bezerros de corte
para venda logo após a desmama/apartação, com a base de
sustentação de toda a cadeia produtiva da pecuária bovina de corte.
2
MERCADO INTERNACIONAL
 Principais Países Produtores, Exportadores e Importadores
Dados publicados pelo ANUALPEC 2000 mostram que a
população bovina mundial encontra-se concentrada em dez países com
cerca de 850 milhões de cabeças, 80,30% do rebanho total, e o Brasil
se desponta como o maior rebanho bovino “comercial”, (154,5 milhões
de cabeças), já que a Índia por questões religiosas não utiliza seu
rebanho bovino para produção de carne. Quanto à produção mundial de
carne bovina, os dez países maiores produtores são responsáveis por
cerca de 36 milhões de toneladas ano, aproximadamente 73% do
volume total produzido. Os maiores produtores são os Estados Unidos
com cerca de 11,5 a 12,0 milhões de toneladas ano (24,5%) e o Brasil
com 6,5 a 7,0 milhões (14,3%). No cenário das exportações, nove
países respondem por 93% das exportações mundiais, cerca de 6,4
milhões de toneladas ano. Os destaques são para a União Européia
com 2,2 milhões de toneladas ano (32,5%), a Austrália com 1,3 milhões
(19%) e os Estados Unidos com 985 mil toneladas (14,4%). O Brasil,
embora colocado entre o 6º e 7º lugar no ranking dos países
exportadores mundiais de carne bovina, durante quase toda a década
de 90, vem ampliando substancialmente sua participação no mercado.
Com as desvalorizações cambiais em 1999 e mais recentemente em
2001, e o avanço do programa de erradicação da febre aftosa,
estimativas preliminares indicam que o Brasil poderá exportar cerca de
700 mil toneladas já em 2001. Caso isto ocorra, o Brasil irá para o 4º
lugar, atrás da União Européia, Austrália e Estados Unidos. Os esforços
do Governo e da iniciativa privada são para que o Brasil consiga
exportar 1 (Hum) milhão de toneladas de carne bovina, por ano, no
curto prazo. Quanto às importações, sete países – Estados Unidos,
Japão, União Européia, Rússia, Canadá, Coréia do Sul e México
aparecem como responsáveis por 89% do mercado com um volume
aproximado de 5,0 a 5,5 milhões de toneladas de carne importada por
ano. O destaque se refere ao fato de que estes países se encontram no
bloco dos países livres da febre aftosa, impondo rigorosas barreiras
sanitárias à carne bovina proveniente de países ainda sujeitos à febre
aftosa. E é exatamente para poder participar como exportador, deste
rico mercado consumidor, que o Brasil vem se empenhando na
erradicação da febre aftosa.
III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 3
Consumo Mundial “per capita” Comparado
O consumo mundial de carne bovina tem sido influenciado por
questões que vão desde a preocupação dos consumidores com a
saúde, com a conservação do meio ambiente e, principalmente pelas
mudanças nos preços relativos das carnes concorrentes, especialmente
a carne de frango. Na década de 90, o crescimento do consumo de
carne de aves nos Estados Unidos foi de 27,73%, no Brasil de 59,63%,
e na União Européia de 15,50%. Neste período, o consumo de carne
bovina permaneceu estável nos Estados Unidos e União Européia, teve
um pequeno crescimento no Brasil (7,6%) e aumentou
significativamente no Japão e Coréia do Sul (41,97%) (ANUALPEC,
2000) .
Aliás, um maior crescimento do consumo per capita de carne
bovina tem sido observado em toda Ásia. Em alguns países da União
Européia tem sido observada uma queda drástica em função dos
diversos problemas sanitários dos rebanhos (vaca louca, febre aftosa,
dioxina) e nos países da antiga União Soviética devido a problemas
econômicos e políticos. Somente com a doença da “vaca louca” estima-
se uma queda de 15% no consumo de carne bovina na Europa, o que
irá corresponder a cerca de 1 (Hum) milhão de toneladas/ano.
2.3. Preços
A Tabela 1 mostra os preços dos mercados internos para arroba
do boi gordo, praticados no Brasil (base São Paulo), na Argentina,
Uruguai e Estados Unidos. Estes preços são nominais, expressos em
dólares norte americanos, sendo portanto afetados por mudanças nas
taxas de câmbio, como a que ocorreu no Brasil à partir de 1999. Em
2001, a desvalorização do Real (R$) frente ao Dólar (US$) mantém as
cotações da arroba do boi gordo no Brasil, variando de US$ 18,00
(safra) a US$ 20,00 por arroba (entressafra).
4
Tabela 1 - Preços no Mercado Mundial de Gado (US$/arroba de boi
gordo)
Países 1.995 1.996 1.997 1.998 1.999 Média
Brasil 26,19 22,79 24,40 23,77 18,57 23,14
Argentina 24,72 25,95 28,11 31,75 24,80 27,07
Uruguai 24,44 23,93 24,58 26,31 22,65 24,38
Estados Unidos 45,75 44,60 45,38 43,24 46,62 45,12
OBSERVAÇÃO
a) Para cálculos, foram considerados 62% de rendimento de carcaça
para os Estados Unidos e 52% para Argentina, Uruguai e Brasil.
b) Brasil: Preço à vista em São Paulo.
c) Uma arroba = 15 kg de carcaça
Fonte: ANUALPEC/2.000 (FNP. Consultoria e Comércio Ltda.)
O que se observa é que estes preços são menores no Brasil,
Argentina e Uruguai onde o sistema de alimentação predominante é
baseado em pastagens.
Já nos Estados Unidos, onde a alimentação predominante é
baseada em grãos (confinamento), os preços pagos aos produtores
foram, na média dos cinco anos considerados (1995/99), cerca de 95%
maiores do que no Brasil e 67% do que na Argentina.
Custos de Produção
Considerando-se a produção exclusiva à pasto, uma planilha de
custo de produção foi desenvolvida pela CEPEA/Centro de Estudos
Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo
(USP)/Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) –
Piracicaba (SP) em 1994, envolvendo o ciclo completo da bovinocultura
de corte – a cria, a recria e a engorda. Chegou-se a um custo
operacional total de US$ 13,13 por arroba (PREÇOS AGRÍCOLAS,
1994).
Adotando-se este mesmo modelo de análise de custo de
produção, o ANUALPEC 2000 publicou em abril/2000, resultados
referentes a 1999, de uma série de estudos de custos considerando-se,
isoladamente, os sistemas de CRIA, o de RECRIA/ENGORDA, e o de
III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 5
CRIA/RECRIA/ENGORDA. Os sistemas de produção foram ainda
classificados em extensivos, semi-intensivo e intensivo, e de acordo
com o tamanho do rebanho em uma única propriedade: pequenas (500
UA); médias (1.500 UA) e grandes(7.500 UA).
NOTA: 1 UA (Unidade Animal) igual a 450 kg de peso vivo.
De uma maneira geral, na maioria dos casos (56%), os custos por
arroba produzida variam de US$ 12,00 a US$ 15,00, com um mínimo
de US$ 9,00 e um máximo de US$ 16,00.
Principais Importadores e Preços
Como o comércio de qualquer produto, o comércio de carne
bovina depende das vantagens comparativas em termos de custos de
produção, que estão diretamente relacionadas com a disponibilidade de
terra, boas pastagens, de grãos e condições climáticas favoráveis.
Neste contexto, a posição do Brasil como exportador tem se firmado
cada vez mais. E o avanço do programa de controle e erradicação da
febre aftosa está dando um novo incentivo às exportações.
As exportações brasileiras de carne industrializada e “in natura”,
por países ou regiões de destino, nos anos 1996 a 1999, são mostradas
nas Tabelas 2 e 3.
Os países da União Européia (Reino Unido, Países Baixos,
Itália, Alemanha e Espanha) são os principais países de destino das
exportações do Brasil, tanto de carne “in natura” quanto de carne
industrializada.
Os Estados Unidos se destaca como maior importador de carne
industrializada.
Observa-se que, apesar do crescimento no volume de carne
exportada pelo Brasil nos últimos anos, verificou-se um queda dos
preços. Para carne industrializada esta queda foi de 21,17% em 1999
comparativamente a 1998, e para carne “in natura” esta queda foi
ainda maior – 41,5% no período de 1996/1999.
Tabela 2 – Exportações Brasileiras de Carne Bovina Industrializada*, por Destino
Países 1996 1997 1998 1999
m US$ Ton. US$/t m US$ Ton. US$/t m US$ Ton. US$/t m US$ Ton. US$/t
Estados Unidos 52,776 19,351 2,727 63,451 22,041 2,879 95,683 31,178 3,069 110,335 47,108 2,342
Reino Unido 81,210 32,459 2,502 91,524 36,081 2,537 102,325 39,495 2,591 107,770 50,384 2,139
Itália 18,087 4,333 4,175 5,153 1,420 3,629 13,629 3,135 4,348 12,906 3,473 3,716
Alemanha 14,863 4,308 3,450 13,283 4,031 3,296 14,746 4,521 3,262 12,676 4,265 2,972
França 9,338 2,623 3,560 7,024 2,960 2,373 8,560 3,100 2,761 11,312 3,825 2,957
Jamaica 4,427 1,834 2,414 8,067 3,294 2,449 8,956 3,641 2,460 9,104 4,227 2,154
Porto Rico 6,825 2,826 2,415 6,593 2,606 2,530 8,701 3,413 2,550 8,328 4,171 1,997
Países Baixos 11,440 4,507 2,538 5,629 2,287 2,461 7,985 2,839 2,813 8,012 3,174 2,524
Canadá 4,604 1,889 2,438 6,393 2,554 2,503 3,693 1,479 2,498 6,052 2,957 2,046
Japão 2,680 905 2,961 1,869 677 2,761 1,786 625 2,858 2,748 1,061 2,591
Bélgica 83 28 2,978 136 42 3,200 994 337 2,954 2,653 789 3,363
Outros 29,991 12,588 2,383 22,694 9,602 2,363 29,175 12,288 2,374 26,208 12,575 2,084
Total Proces. 236,323 87,650 2,696 231,816 87,596 2,646 296,233 106,050 2,793 318,106 138,008 2,305
Total Eq. Carc** 219,125 218,989 265,124 345,021
* - A partir de 1996 inclui preparações alimentícias e conservas bovinas.
** - Para a conversão em equivalente carcaça, o total processado foi multiplicado pelo fator 2,5.
III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 7
Tabela 3 - Exportações Brasileiras de Carne Bovina “In natura,” por Destino
Países 1996 1997 1998 1999
m US$ Ton. US$/t m US$ Ton. US$/t m US$ Ton. US$/t m US$ Ton. US$/t
Resfriada s/ Osso 41,828 6,486 6,449 48,534 7,935 6,116 57,262 10,839 5,283 117,422 31,083 3,778
Países Baixos 13,351 1,870 7,140 16,979 2,397 7,083 24,257 3,643 6,658 31,855 6,049 5,266
Reino Unido 9,140 1,478 6,185 15,489 2,401 6,451 8,688 1,414 6,146 17,688 3,637 4,863
Alemanha 6,235 777 8,026 3,596 508 7,086 2,718 402 6,762 11,549 2,598 4,445
Espanha 1,122 215 5,224 1,387 303 4,582 2,824 621 4,550 9,242 1,937 4,771
Suíça 4,369 813 5,377 4,096 750 5,463 5,791 1,073 5,395 7,602 1,438 5,287
Outros 7,611 1,334 5,706 6,987 1,577 4,429 12,984 3,687 3,522 39,486 15,424 2,560
Congelada s/osso 152,469 40,166 3,796 147,712 44,476 3,321 219,176 69,876 3,137 326,145 119,471 2,730
Países Baixos 45,319 9,968 4,546 45,391 11,306 4,015 63,081 15,886 3,971 85,400 23,320 3,662
Itália 39,127 10,168 3,848 42,964 11,606 3,702 51,419 13,935 3,690 56,780 19,079 2,976
Espanha 22,626 6,208 3,645 13,425 4,505 2,980 21,314 6,924 3,079 40,801 11,059 3,689
Hong Kong 6,472 2,648 2,444 5,635 2,559 2,202 7,858 3,332 2,358 26,496 12,643 2,096
Reino Unido 10,033 2,487 4,033 9,769 2,881 3,391 8,898 3,492 2,548 18,502 8,984 2,059
Alemanha 8,131 1,638 4,963 4,397 1,042 4,221 8,711 2,088 4,173 17,124 4,674 3,664
Chile 614 370 1,660 3,434 1,672 2,054 12,320 8,794 1,401
Israel 3,239 1,701 1,904 8,810 4,134 2,131 15,093 7,112 2,122 10,356 5,704 1,816
Outros 17,522 5,347 3,277 16,707 6,073 2,751 39,367 15,435 2,550 58,367 25,215 2,315
Total Original 194,297 46,657 4,165 196,295 52,441 3,743 276,595 80,850 3,421 443,835 150,740 2,944
Total Eq. Carc* 60,648 68,134 105,105 195,720
* - Eq. Carcaça = Carne sem osso x 1,3
FONTE: ANUALPEC/2000
Tendências
Segundo análise de SAFRAS & MERCADO - BOIS & CARNES,
a ocorrência das doenças da “vaca louca” e “febre aftosa” na Europa
indicam uma mudança radical no mercado internacional de carne
bovina, nos próximos anos. Somente com a doença da “vaca louca”
espera-se uma queda de 600 mil toneladas/ano na produção e de 300
mil toneladas/ano nas exportações de carne bovina da Europa. No caso
da “febre aftosa”, como o abate e eliminação das carcaças tem sido a
forma de se buscar a erradicação desta doença, a produção de carne e
couro bovino para consumo fica reduzida. Assim, as exportações da
Europa de 900 mil toneladas/ano poderão cair ao nível inferior de 400
mil toneladas em 2001. São 500 mil toneladas de carne bovina que
deixarão de atender mercados do Leste Europeu, das ex-repúblicas
Soviéticas, Oriente Médio e Ásia. Se o Brasil conquistar 200 mil
toneladas/ano do mercado que não estará sendo atendido pela Europa,
o que é o mínimo esperado neste momento, as vendas de carne bovina
pelo Brasil crescerão 34% em relação ao ano de 2000 (578,5 mil
toneladas).
Mas para atender este crescimento de mercado o Brasil terá que
se mostrar competitivo na produção de carne bovina através de maior
produtividade, melhor qualidade e preços compatíveis com o mercado.
Por exemplo, para o caso das doenças da “vaca louca” e “febre aftosa”,
a questão não é ter ou não ter estas doenças no Brasil, mas ser
competente na execução de medidas preventivas que evite sua
ocorrência.
MERCADO NACIONAL
Principais Estados Produtores (Rebanho, Produção e Rendimento)
A Tabela 4 mostra os dez Estados brasileiros maiores
produtores de carne bovina, com 82,11% do rebanho bovino existente e
80,8% do volume anual de carne produzida
Em alguns Estados a baixa taxa de abate, como Minas Gerais
(14,21%) e Mato Grosso do Sul (15,89%) indica que estes Estados são
exportadores de animais vivos para abate em outros Estados, que por
isto, apresentam altas taxas de abate. Este é o caso de São Paulo
(35,84%), reconhecidamente importador de boi gordo para abate, do
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais (Triângulo Mineiro) e Goiás. O
III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 9
Estado da Bahia (29,74% de taxa de abate) importa principalmente boi
gordo de Minas Gerais, Goiás. Quando comparado com os países de
pecuária bovina mais evoluída, o baixo rendimentos da atividade, de
quase todos os Estados expresso pela taxa de abate, está associado a
um sistema de exploração extensiva, com problemas na alimentação
dos animais, em especial às pastagens, ao melhoramento genético, à
sanidade e manejo do rebanho.
Tabela 4 - Brasil/Principais Estados Produtores de Carne Bovina - 1999
Preço - US$/@
Estado
Efetivo
 (mil cab.)
Abate
(mil. cab)
Taxa Abate
 (%)
Produção
 (t) 1.999 1.998
Mato Grosso do Sul 20.033 3.184 15,89 648.218 17,7 21,00
Minas Gerais 19.778 2.810 14,21 556.389 17,6 22,00
Goiás 16.556 3.015 18,21 612.424 16,6 21,00
Mato Grosso 15.540 2.644 17,01 540.495 16,7 20,80
Rio Grande do Sul 13.482 2.767 20,52 565.520 17,2 21,80
São Paulo 12.700 4.552 35,84 995.154 18,7 24,42
Paraná 9.813 2.294 23,38 479.519 17,8 22,20
Bahia 9.086 2.702 29,74 547.416 16,9 22,40
Pará 6.458 901 13,95 185.24715,9 20,30
Tocantins 5.452 669 12,27 139.096 16,1 20,60
TOTAL 128.898 25.538 19,82 5.269.478 xxx xxx
BRASIL 156.986 31.622 20,14 6.522.345 xxx xxx
 % 82,11 80,76 xxx 80,80 xxx xxx
Fonte: ANUALPEC/2.000 (FNP. Consultoria e Comércio Ltda.)
Evolução dos Rebanhos Regionais
A Tabela 5 permite concluir que, dentro da Tabela da evolução
dos rebanhos bovinos brasileiros, a participação das regiões Nordeste,
Sul e Sudeste está diminuindo, ao mesmo tempo em que está
aumentando as participações do Centro-Oeste e região Norte. A região
Norte, por ser uma região de ocupação mais tardia, o seu rebanho
bovino quase que triplicou (aumentou de 4,2% para 11,3%) entre os
anos de 1985 a 1995, em relação ao total do rebanho brasileiro.
10
Tabela 5 - Evolução do Rebanho Brasileiro de Bovinos por Regiões (em 1000
cabeças)
Região 1940 1960 1980 1985 1995
NE 7.665 11.566 21.506 22.287 22.842
CO 5.112 10.533 33.261 39.595 50.766
SU 8.664 11.678 24.495 24.742 26.219
SE 11.597 20.840 34.835 35.661 35.954
NO 999 1.235 3.989 5.359 17.274
TOTAL 34.387 55.841 118.086 127.643 153.055
FONTE: CNA/SEBRAE
Consumo “Per Capita”
O consumo de carne bovina é influenciado principalmente pela
renda per capita da população, pelo preço da carne bovina e pelo preço
das demais carnes, suas substitutas. Paralelamente, a influência pode
vir da mudança das preferências dos consumidores. As análises da
demanda da carne bovina, utilizam a carne de frango e a carne suína
como produtos substitutos, mostrando que a redução nos preços de
quaisquer dessas carnes reduz a demanda de carne bovina. Os dados
levantados mostram que, no Brasil, durante toda a década de 90,
enquanto a carne bovina apresentou um crescimento de 7,6%, o
consumo de carne suína cresceu 38,36% e o de carne de frango
59,63%. Os dados apresentados mostram ainda que o consumo “per
capita” de carne bovina variou na década de 90 de um mínimo de
36,79kg/hab./ano (em 1998) até um máximo de 40,7 kg em 2000
(estimativa).
Estudo realizado pela CNA/SEBRAE projetou o consumo de
carne bovina no Brasil para três cenários: baixo crescimento (PIB anual
crescendo, em média a 2%, entre 1999 e 2010); médio crescimento
(PIB anual crescendo, em média, a 4%, entre 1999 e 2010); e alto
crescimento (PIB anual crescendo, em média, a 6%, entre 1999 e
2010). Os resultados mostram a expressiva quantidade de carne bovina
que vai ser necessária para satisfazer o consumo doméstico em 2010,
caso as hipóteses do modelo de previsão se confirmem: 7,4 milhões de
toneladas, no cenário de baixo crescimento; 8,3 milhões de toneladas,
em caso de médio crescimento; e 9,3 milhões de toneladas, para alto
crescimento da renda.
III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 11
Em termos de consumo per capita, haveria um incremento
bastante limitado no cenário atual –de 37kg/hab/ano para 40
kg/hab./ano, aumentando substancialmente, entretanto, caso
prevalecesse o cenário intermediário (45 kg/hab./ano) ou o otimista, em
que se atingiria 50 kg/hab./ano.
CADEIA PRODUTIVA
Valor da Produção, Emprego, Renda
A cadeia produtiva de bovinos de corte, envolve as seguintes fases:
1ª Fase : Antes do Sistema Biológico de Produção ("Antes da
Porteira"): material genético (reprodutores, semem e embrião);
indústria de insumos (produtos veterinários, rações, adubos); indústria
de máquinas e equipamentos; comercialização de animais.
2ª Fase : Dentro do Sistema Biológico de Produção ("Dentro da
Porteira"):Dentro da estrutura da cadeia produtiva de bovinos de corte, o
ciclo biológico de produção é caracterizado pelas atividades de cria,
recria e engorda.
A atividade de cria compreende a reprodução e o crescimento do
bezerro até a desmama, que ocorre entre seis e oito meses de idade. A
fase de recria vai da desmama ao início da reprodução das fêmeas ou
ao início da fase de engorda dos machos, sendo a de mais longa
duração, enquanto a engorda, quando feita no regime predominante de
pasto, tem duração de 6 a 8 meses.
Estas atividades da produção é que dão as características dos
pecuaristas classificados ou denominados CRIADORES (cria),
RECRIADORES (recria) e INVERNISTAS (engorda).
3ª Fase : Depois do Sistema Biológico de Produção ("Depois da
Porteira"): frigoríficos e matadouros; indústria de couros (curtumes);
indústria de calçados e manufaturados; indústria química e
farmacêutica; indústria de rações.
Para mostrar o valor da bovinocultura de corte, no Brasil, o
Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC) realizou um
levantamento das estimativas de pessoal empregado/ocupado, número
12
de estabelecimentos do sistema integrado da pecuária bovina, indústria
e comércio, e do faturamento bruto de cada segmento da cadeia
produtiva, para o ano de 1.993 e as previsões para o ano 2.000
(Tabelas 6, 7 e 8) (DBO Rural, 1995).
Integração
A estrutura básica da cadeia produtiva, onde tudo começa e se
desenvolve, é o chamado ciclo biológico de produção e caracterizado
pelas chamadas atividades de cria, de recria e de engorda.
Estas fases da produção são as que dão as características dos
produtores, também chamados de pecuaristas, e classificados, ou
denominados CRIADORES (cria), RECRIADORES (recria) e
INVERNISTAS (engorda).
Os criadores tem uma influência marcante na eficiência
produtiva de todo o ciclo biológico da cadeia produtiva da carne bovina.
A atividade de cria tende a se concentrar na pequena produção, em
áreas de terras mais fracas e pequenas propriedades.
O nível de conhecimento e a capacidade de uso de tecnologia é
BAIXA. Na maioria dos casos, os animais não recebem nenhum tipo de
alimentação além do pasto (capim).
Como conseqüência, é baixa a taxa de nascimentos de bezerros
por ano (50%), e estes bezerros, na sua grande maioria, são de
qualidade inferior – 120 a 150 kg de peso vivo aos 7-8 meses de idade
(apartação). Esta baixa eficiência dos criadores é um sério complicador
para o desenvolvimento das outras fases de produção, a recria e a
engorda.
Tabela 6 - Número de Estabelecimentos do Sistema Integrado da
Pecuária Bovina, Indústria e Comércio – Ano de 1.993
Especificação Quantidade
Estabelecimento com Atividades Pecuárias 1.793.324
Área Ocupada em Hectares 221.982.144
População Bovina 157.000.000
Indústrias de Carnes e Derivados 742
Indústria de Armazenagem Frigorífica 99
Estabelecimentos de Comércio Varejista de Carnes 55.000
Indústrias Curtidoras 558
Indústrias de Calçados 4.150
III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 13
Tabela 7 - Pessoal Empregado
Pessoas OcupadasAtividade
1.993 2.000
Produção Animal (IBGE-1.990) 5.834.000 6.916.000
Indústria de Carnes 400.000 480.000
Comércio Varejista 165.000 200.000
Indústria de Couros 60.000 78.000
Indústria de Calçados 375.000 435.000
Tabela 8 - Faturamento
Faturamento (US$ milhões)Atividade
1.993 2.000
Produção Total de Carnes (1) 6.870 9.400
Exportação de Carnes 575 1.000
Produção Total de Couros (1) 1.600 2.100
Produção de Calçados 4.700 8.250
Exportação de Calçados 2.000 3.500
Total 13.170 19.750
(1) Incluem os montantes exportados.
Diversos pesquisadores concluíram que, do ponto de vista
econômico, o desempenho reprodutivo é cinco vezes mais importante
para o crescimento, e pelo menos, 10 vezes mais importante que a
qualidade da carne. Por outro lado, a relevância do crescimento do
bezerro na fase pré-desmama, nas regiões tropicais, é salientada por
outros pesquisadores, que argumentam que nesta fase ocorre a mais
alta taxa de incremento de peso na vida do animal, que atinge aos 7
meses de idade 25 a 35% do peso final de abate, enquanto necessita
mais de 30 a 40 meses para completar o desenvolvimento.
A fases de recria e engorda, individualmente, ou associadas
concentram-se quase sempre em áreas/propriedades maiores e de
terras de fertilidade média a alta, especialmente a fase de engorda.
Já a verticalização total das três fases do processo produtivo –
cria, recria e engorda – é realizada por uma pequena parcela de
pecuaristas, quase sempre em grandes propriedades.
Na suinocultura industrial, moderna e atual, cada etapa do ciclo
biológicoda produção é desenvolvida por um produtor especializado. A
14
atividade de cria é feita pelo chamado “matrizeiro”, um tipo de
suinocultor especializado nesta atividade (cria), que possui apenas o
rebanho de reprodução (matrizes e reprodutores) e cuida
especificamente da produção e venda de leitões desmamados.
Na seqüência, o chamado suinocultor “terminador” compra estes
“leitões” desmamados (machos e fêmeas) e faz a sua engorda e venda
para abate.
De uma forma geral, historicamente, na bovinocultura de corte
cada etapa do ciclo biológico da produção é executada por diferentes
pecuaristas. Ao se admitir esta especialização dos pecuaristas para
cada uma das etapas do ciclo – cria, recria e engorda – é importante
destacar o papel da pequena e média produção, desenvolvida pelo
criador/produtor do bezerro de corte. Como o recriador/terminador
(invernista) não desenvolve a atividade de cria, há uma dependência
clara entre estes tipos diferentes de pecuaristas: os
recriadores/terminadores dependem fundamentalmente do criador para
a produção do bezerro, e o criador depende do recriador/terminador
para a compra dos bezerros. Com isto, fica claro que atenção especial
precisa ser dada aos pequenos e médios criadores de bezerros de
corte para venda logo após a desmama. À eles precisam ser levadas
informações técnicas e recursos (crédito rural, principalmente) para que
estes criadores possam produzir e disponibilizar para o mercado
(vender) um BEZERRO DE CORTE DE QUALIDADE, e em quantidade
(melhorias na reprodução dos rebanhos) e com isto assegurar o
incremento da produção de carne bovina.
Sem este envolvimento dos pequenos e médios criadores, toda
a cadeia produtiva ficará comprometida. Inclusive, a falta de bezerros de
corte tem sido freqüentemente um dos mais, senão o principal fator de
entrave ao crescimento e desenvolvimento de produção de carne
bovina no Brasil.
Competitividade
Para se traçar um cenário desejado para a cadeia produtiva da
bovinocultura de corte, o mais realista possível, temos que considerá-la
diante da Tabela de globalização da economia. A abertura econômica
iniciada no Brasil em 1.992, a criação do MERCOSUL, a redução de
impostos no comércio exterior e as profundas modificações no sistema
financeiro nacional revelam que há um processo crescente de
III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 15
modificações internas, principalmente, no sentido de adequação da
economia brasileira à realidade mundial.
O que se observou após a implantação do Plano Real (1.994),
foi um período de fortes alterações na economia e que estão
influenciando de forma acentuada todo o meio produtivo.
Para a bovinocultura de corte, este processo de
redirecionamento da economia brasileira revela a necessidade de novos
conceitos na produção e comercialização. Independente destas
alterações observadas na economia como um todo (Brasil e mundial), o
cenário tendencial da cadeia produtiva já recomenda, por si só,
alterações profundas para toda a cadeia produtiva, como forma de
sobrevivência do setor, alterações estas caracterizadas pela busca da
competitividade através de maior produtividade, melhor qualidade
dos produtos, e custos compatíveis com o mercado.
Mas o que é “ser competitivo” na exploração de bovinos de
corte, no Brasil?
O conceito de competitividade aqui adotado será definido como
“um processo de adoção contínua de inovações nas esferas
tecnológicas, organizacional e institucional/legal, dotando
determinado segmento econômico de poder de concorrência no
mercado interno e externo de forma sustentável”. (Perosa, 1998).
No caso do Brasil, a necessidade de tornar a exploração de
bovinos de corte mais competitiva dentro do mercado de carnes, está
trazendo grandes mudanças “dentro da porteira” naquilo que se
convencionou chamar de PRODUÇÃO DE NOVILHO PRECOCE.
Ao lado destas inovações “dentro da porteira”, estão também
surgindo as chamadas “Alianças Mercadológicas”, inovações “para
fora da porteira” e que definem a parceria entre pecuaristas
criadores (agricultura familiar/pequenos produtores), Recriadores
/Invernistas/Confinadores, Frigoríficos e Varejo Final (Supermercados,
Açougues e Casas de Carnes) voltadas para a produção e
comercialização de carne bovina de qualidade (carne de novilho
precoce).
Dentro deste enfoque COMPETITIVIDADE, aspectos ligados a
uma melhor ARTICULAÇÃO da cadeia produtiva de bovinos de corte
se mostram de fundamental importação. E é na busca desta MELHOR
ARTICULAÇÃO que tem surgido as chamadas ALIANÇAS
MERCADOLÓGICAS .
16
Vale ressaltar dentro destas “alianças” a importância de uma
perfeita integração entre o criador e o terminador. Isto porque para se
chegar a um “novilho precoce”, definido como um "bovino jovem" de
dois a dois e meio anos de idade – até quatro dentes incisivos
permanentes (as pinças), peso mínimo de quinze arrobas líquidas (225
kg de carcaça quente) e acabamento de carcaça com no minimo 1mm e
no maximo de 10 mm de gordura, precisa-se partir de um bezerro de
qualidade.
Ao se admitir a especialização dos pecuaristas ou para a CRIA
ou para a ENGORDA, pode-se afirmar com segurança que o sucesso
da produção de novilho precoce passa, OBRIGATORIAMENTE, por um
apoio ao CRIADOR que, antes de mais nada precisa saber (também) o
que é “novilho precoce” e quais as vantagens para ele/CRIADOR,
traz a produção de BEZERROS DE QUALIDADE.
À este criador precisa ser levadas informações para que ele
possa produzir um bezerro de corte de QUALIDADE, tendo como
padrão/referência um bezerro de corte que por ocasião da
desmama/apartação dos 7 a 8 meses de idade, atinja peso vivo superior
a 180 kg (6 arrobas).
Outro fato importante é a existência de um mercado em
FRANCO CRESCIMENTO para compra de bezerro de qualidade. O
próprio “desafio” da produção de “novilho precoce”, com redução da
idade de abate de 4 a 5 anos do “tradicional boi de corte”, para 2,0 a
2,5 anos do “novilho precoce”, estará DOBRANDO a pressão de
compra de bezerro de corte pelos tradicionais invernistas ou
confinadores. Há muito a realização dos leilões de bovinos (gado de
corte) demonstram claramente uma valorização do bezerro de corte de
qualidade, que atinge cotações de preços por arroba de bezerro, de
25% superiores ao preço da arroba do boi gordo. Assim para os atuais
preços médios anuais da arroba do boi gordo de R$ 40,00, um bezerro
de corte de qualidade, de apartação (7-8 meses de idade), com peso
vivo de 180 kg (6 arrobas) alcança no mercado preço de R$ 300,00 por
cabeça, ou seja, R$ 50,00 por arroba de bezerro.
Produzir bezerros de qualidade se tornou um dos mais atrativos
investimentos para a bovinocultura de corte. E isto precisa ser
discutido com os CRIADORES.
III Simpósio de Produção de Gado de Corte - 17
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, R.A. Cadeia Produtiva de Carne Bovina: organizar para competir.
Informe Agropecuário da EPAMIG, Vol. 21, nº 205, jul/ago.2000.
ANUALPEC 2000. Anuário da Pecuária Brasileira: FNP Consultoria &
Comércio, 2000.392 p.
DBO Rural. A Revista de Negócios do Criador. Ano 13, n.º 174-A, fevereiro/95.
PREÇOS AGRICOLAS. Revista de Mercados e Negócios Agropecuários.
Fundação de Estudos Agrários “Luiz de Queiroz”/FEALQ. Ano 8, vol. 98,
dezembro 1995.
SAFRAS & MERCADO – Boi & Carnes. Publicação Quinzenal sobre
Tendências de Mercados. Disponível site http://www.safras.com.br.
Consultado em 21 maio 2001.
TALAMANI, D.J.D. Lições de um sistema insensível. AGROANALYSIS.
Revista de Agronegócios da FGV. Vol. 21, n.º 3, março 2001.
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MERCADO E ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO DA
CARNE BOVINA: ALIANÇAS MERCADOLÓGICAS E
INTEGRAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA
Feliciano Nogueira de Oliveira
Médico Veterinário MSc e Coordenador Técnico da EMATER-MG / Uberlândia
INTRODUÇÃO
O final dos anos 80 e toda a década de 90 foram, sem dúvidas,
ocasiões marcantes para todos os setores da economia em função das
profundas mudanças ocorridas dentro da denominada “nova ordem
econômica mundial”, que apresentou-se tendo como pano de fundo a
globalização.
Contidosnessa nova ordem econômica estavam a abertura
internacional de mercados, a formação de blocos econômicos com
unificação de moedas, o surgimento da Organização Mundial do
Comércio (OMC) e, mais especificamente no Brasil, o plano de
estabilização econômica (Plano Real), a composição do Mercosul e as
discussões a respeito da Aliança de Livre Comércio das Américas (ALCA).
É óbvio que sendo a economia o ponto nevrálgico em todos os tipos de
relações, os resultados das mudanças ocorridas no setor são sentidos de
forma direta e em algumas vezes imediata nos demais setores à sua
volta (político, social, produtivo, ambiental,...).
As mudanças em curso vêm provocando o surgimento de novos
conceitos que, por sua vez, geram novos comportamentos e vice-versa,
novos comportamentos gerando novos conceitos. Nessa perspectiva dois
conceitos assumiram destacada importância: a valorização do
consumidor – muitas vezes tratado apenas como “mercado” e o conceito
de qualidade.
Quando o assunto é direcionado para a vertente do agronegócio
percebe-se o quanto a ênfase a esses novos valores torna-se acentuada
e o quanto que em nosso país muitos dos atores sociais nela envolvidos,
ainda não estão despertados e, portanto, despreparados para esse novo
cenário mundial, o que acarreta, principalmente, perdas econômicas e
exclusão social das mais diversas formas.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte20
Nessa vertente, a pecuária bovina de corte vem vivenciando
situações ímpares e totalmente novas, o que vem promovendo
transformações rápidas, profundas e, a princípio, irreversíveis em todos
os seus segmentos.
O objetivo deste trabalho é o de apresentar, de forma resumida,
algumas informações sobre questões relacionadas aos segmentos que
compõem a cadeia produtiva da carne bovina de qualidade, suas formas
de integração, as estratégias de comercialização, os mercados e o foco
“do” consumidor.
A CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA BOVINA DE CORTE:
NOVOS CONCEITOS E NOVOS COMPORTAMENTOS
Ainda hoje é percebido o predomínio de uma visão bastante
compartimentada da cadeia produtiva da pecuária bovina de corte por
parte dos vários representantes de seus segmentos e mesmo por parte
dos técnicos também nela envolvidos.
No que diz respeito ao segmento da produção, a atenção do
pecuarista sempre se voltava única e exclusivamente para o que
acontecia dentro de sua propriedade, julgando como o ponto culminante
do seu trabalho o momento em que os animais eram embarcados para o
frigorífico e ele recebia sua recompensa econômica, a qual era
estabelecida pelo frigorífico e paga de 25 a 30 dias após o abate dos
animais. Os
pecuaristas mais preocupados e interessados no resultado de seu
trabalho, acompanhavam o abate apenas para verificar o rendimento de
carcaça dos animais. O que acontecia com o produto por ele preparado
à partir do frigorífico, no seu julgamento, já deixava de ser de sua
alçada de responsabilidades.
Da mesma forma procediam, respectivamente, os demais
segmentos, sugerindo que a responsabilidade sobre o produto
resultante que chegaria ao consumidor final, fosse exclusiva de quem
está vendendo o corte de carne.
Felizmente, alguns focos de mudanças positivas dessa visão têm
tomado vulto entre os segmentos, em vários pontos do país. Nesses
focos a visão da cadeia produtiva da pecuária bovina de corte deixa de
ser compartimentada e passa a ser sistêmica. No entanto a passagem
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 21
da visão e do entendimento do processo para a prática é um passo largo
e complexo, exigindo dos segmentos envolvidos a quebra de
paradigmas consolidados culturalmente ao longo de muitos anos. Na
visão sistêmica o pecuarista deixa de ser simplesmente “produtor de boi
em pé” e passa a produzir e a ofertar “carne bovina de qualidade”; da
mesma forma o frigorífico deixa de ser um “abatedouro de animais” e
passa a ser um “processador de alimento de alta qualidade”, e assim
sucessivamente, necessitando, no entanto, da contribuição de todos os
segmentos da cadeia para assegurar esse resultado.
De forma compacta, a seguir é mostrada, esquematicamente, a
cadeia produtiva da pecuária bovina de corte e seus segmentos mais
expressivos.
Cadeia Produtiva da Pecuária Bovina de CorteCadeia Produtiva da Pecuária Bovina de Corte
Insumos à
produção
Produção
Processamento
Distribuição
ConsumidorConsumidor
Demais Produtos
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte22
Associados à visão sistêmica, dois fatores complementares
contribuíram sobremaneira para a busca da modernização do segmento
produtivo: a estabilização econômica e a agregação do valor “qualidade”
ao produto a ser ofertado.
Com o estabelecimento do Plano Real, em 1994, a terra e o gado
perderam sua condição de reserva de valor e o pecuarista teve que
buscar a eficiência do seu sistema de produção. A terra passou a valer
aquilo que ela produz e, portanto, passou a haver a necessidade de se
otimizar o seu uso buscando elevar a renda e fazer girar mais rápido e
em maior volume o capital empregado nas atividades nela conduzidas.
No caso da pecuária de corte passou-se a buscar a pecuária
precoce, tendo na produção do novilho precoce sua maior estratégia. O
objetivo a ser atingido com esta estratégia foi o de produzir um animal
pronto para o abate que atendesse a quatro requisitos básicos:
maturidade precoce, peso, conformação de carcaça e cobertura de
gordura. Sem estabelecer grau de importância, porém considerando a
busca da eficiência econômica dos sistemas de produção, seguramente
o parâmetro maturidade precoce para o abate é o que pode propiciar o
giro de capital maior e mais rápido da atividade, refletindo, portanto, na
sua eficiência.
Ressalta-se, no entanto, que a busca de eficiência exige custos
mais elevados de produção. Embora tenha havido por parte de vários
governos estaduais o estabelecimento de programas de apoio e de
incentivo fiscal à produção do novilho precoce, em alguns estados, como
é o caso de Minas Gerais, esse incentivo foi retirado em início de 1998.
Com a queda do incentivo fiscal os pecuaristas que haviam investido na
atividade ficaram em situação difícil, uma vez que adicionalmente a isso
o novo produto gerado não recebia nenhuma remuneração diferenciada.
Tal circunstância vivida pelos pecuaristas mineiros produtores de novilho
precoce, exigiu dos mesmos mudanças de comportamento que
acabaram por levá-los a se organizarem e recorrerem a estratégias
inovadoras de comercialização do produto diferenciado.
Concomitante às situações citadas, o outro fator – agregação do
valor “qualidade” ao produto carne, toma importância expressiva para se
negociar remuneração compatível aos custos mais elevados da
produção.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 23
Começam, a partir daí, a ser consideradas com maior atenção a
opinião e a figura do consumidor, levando-se em conta que é ele quem
passa a sinalizar os atributos de qualidade para a carne que ele e sua
família querem consumir. As mudanças de comportamento das famílias
passam, então, a ser observadas: o tempo que a “nova” dona de casa
despende para o preparo de uma refeição, a postura “conservadora” de
outras quanto à preferência pelo ponto de venda, a procura por carnes
alternativas, seus novos hábitos alimentares, a escolha do corte a ser
comprado em função do poder aquisitivo, o seu referencial de qualidade
e, principalmente, sua necessidade quanto à segurança alimentar.
Uma nova consciência começa a emergir, considerando que todo
o trabalho desenvolvido ao longo da cadeia produtiva da carne bovina
deve ser feito em atenção ao consumidor, uma vez que os atributos de
qualidade agregados ao produto carne e percebidos pelo consumidor é
que o tornará disposto ou não a melhor remunerá-lo.
O MERCADO INTERNO DA CARNE BOVINA
Apesar de grande parte dos segmentos envolvidos na cadeia
produtiva da carne bovina no Brasil estar atenta e ávida em atingir o
mercado internacional, na expectativa de melhor remuneração e
maiores ganhos, o grande mercado consumidor da carne bovina
brasileiraé o próprio mercado interno. Dos 6,3 milhões de toneladas de
carne bovina produzidas pelo Brasil no ano 2000, cerca de 650 mil
toneladas foram destinadas à exportação, ou seja, aproximadamente
90% da produção é consumida internamente (Anualpec, 2000).
Segundo informações da EMBRAPA Gado de Corte, publicadas
pela Revista DBO Rural, abril/2000, deverá haver excesso de carne
bovina para o Brasil exportar, a continuar o movimento de recuperação
no consumo per capta registrado no ano 2000: 37,2 kg/habitante,
contra 36,9 kg/habitante em 1999, acompanhado do crescimento da
produção de 6,3 milhões de toneladas em 2000, contra 6 milhões em
1999. Essa tendência só seria revertida se a renda média do trabalhador
brasileiro viesse a aumentar. Numa projeção feita para 2010, se o
Produto Interno Bruto crescer 2% ao ano, o consumo interno de carne
bovina subiria para 39,8 Kg/habitante/ano; se crescer 4%, saltaria para
44 Kg e atingiria os 50 Kg/habitante/ano caso o crescimento atingisse
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte24
6% ao ano. Análises como essa reforçam a correlação positiva entre a
elevação do poder aquisitivo da população e o aumento no consumo de
carne bovina.
Produção (mil t), Exportação (mil t), Consumo Interno (mil t) e Consumo
per capta (Kg/habitante/ano) de Carne Bovina Brasileira de 1990 a 1999
EXPORTAÇÃO CONSUMO
INTERNO
ANO
PRODUÇÃO
(mil t) (mil t) % da PROD (mil t) % da PROD
CONSUMO PER
CAPTA
(Kg/hab/ano)
1990 5.218 249 4,8 5.224 100,1 36,1
1995 6.467 287 4,4 6.301 97,4 40,7
1999 6.522 541 8,3 6.023 92,3 36,9
Fonte: ANUALPEC/FNP, 2.000
Além das questões intrínsecas da cadeia produtiva da carne
bovina, com suas dificuldades e conflitos próprios, a ascensão do
consumo de carnes alternativas pelo mercado interno, em especial das
carnes de frango e de suínos, estabeleceu um grau de concorrência
desconhecido por muitos e que a cada dia vem tomando maiores
proporções.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 25
Produção (mil t), Exportação (mil t), Consumo Interno (mil t) e Consumo
per capta (Kg/habitante/ano) de Carne Suína Brasileira de 1990 a 1999
EXPORTAÇÃO CONSUMO
INTERNOANO PRODUÇÃO
(mil t) (mil t) % da PROD (mil t) % da PROD
CONSUMO PER
CAPTA
(Kg/hab/ano)
1990 1.050 25 2,4 1.027 97,8 7,1
1995 1.898 49 2,6 1.869 98,5 12,1
1999 1.860 116 6,3 1.753 94,2 10,1
Fonte: ANUALPEC/FNP, 2.000
Produção (mil t), Exportação (mil t), Consumo Interno (mil t) e Consumo
per capta (Kg/habitante/ano) de Carne Frangos Brasileira de 1990 a
1999
EXPORTAÇÃO CONSUMO
INTERNO
ANO
PRODUÇÃO
(mil t) (mil t) % da PROD (mil t) % da PROD
CONSUMO PER
CAPTA
(Kg/hab/ano)
1990 2.357 291 12 2.066 87,7 14,3
1995 4.050 424,2 10 3.626 89,5 23,4
1999 5.526 770,6 14 4.755 86.1 29,1
Fonte: ANUALPEC/FNP, 2.000
Na década de 90, enquanto o crescimento percentual do
consumo interno per capta de carne de frangos foi de 103,5%, o de
carne suína foi de 42,2%, para um discreto crescimento de 2,2% no
consumo de carne bovina. É interessante observar que não obstante o
crescimento percentual do consumo interno per capta de carnes
alternativas estar bastante superior ao da carne bovina, esta ainda é a
carne preferida pelo consumidor brasileiro.
É notório que o crescimento percentual de consumo das carnes
alternativas se deve, na maioria das situações, à capacidade de
organização, de articulação e de eficiência dos integrantes das suas
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte26
respectivas cadeias produtivas, aliadas a investimentos financeiros em
campanhas de marketing sobre os produtos.
O MERCADO INTERNACIONAL DA CARNE BOVINA
O Brasil detém o maior rebanho comercial do mundo, estimado
no ano 2000 em 143,2 milhões de cabeças, é o segundo maior produtor
mundial, com 6,3 milhões de toneladas e o terceiro maior exportador,
com um volume exportado de 650 mil toneladas em 2000.
Rebanho Bovino Mundial (mil cabeças)
PAÍSES 1995 1997 1999* 2000**
Índia 293.922 299.802 306.967 312.572
Brasil 149.315 146.110 143.893 143.259
China 123.317 110.318 124.354 126.000
E U A 102.785 101.656 99.116 98.048
Argentina 54.207 51.696 49.437 49.432
MUNDO 1.057.944 1.031.718 1.027.065 1.027.830
Fonte: USDA, mar.2000/AGROANALYSIS, jun. 2000
Produção Mundial de Carne Bovina (mil t)
PAÍSES 1995 1997 1999* 2000**
E U A 11.585 11.714 12.124 12.023
Brasil 6.080 6.050 6.050 6.300
China 4.154 4.409 5.100 5.400
Austrália 1.717 1.942 2.004 1.870
MUNDO 47.958 48.862 49.169 49.349
Fonte: USDA, mar.2000/AGROANALYSIS, jun. 2000
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 27
Exportação Mundial de Carne Bovina (mil t)
PAÍSES 1995 1997 1999* 2000**
AUSTRÁLIA 1.092 1.147 1.245 1.220
E U A 826 969 1.056 1.055
BRASIL 291 290 550 650
U. E. 934 900 810 640
NOVA ZELÂNDIA 504 531 420 460
MUNDO 5.207 5.496 5.663 5.720
Fonte: USDA, mar.2000/AGROANALYSIS, jun. 2000
Uma das conclusões a que se chegou no seminário “Perspectivas
da Carne Brasileira no Mercado Interno e Externo”, ocorrido em 22 de
março de 2001, em São Paulo, é que o Brasil pode desfrutar de uma
cômoda posição no mercado internacional, no médio e no longo prazos,
independentemente dos ganhos imediatos decorrentes das dificuldades
enfrentadas pela Europa, maior comprador da carne bovina brasileira e
abalado cumulativamente pela multiplicação dos casos de doença da
“vaca louca” e de febre aftosa, e pela Argentina, um dos maiores
concorrentes do Brasil, abatido por cerca de 150 casos comprovados de
febre aftosa em seu território.
Embora com boas perspectivas de ampliação de mercados como
a Europa Oriental e os países asiáticos, o principal mercado para as
vendas externas do setor continua sendo a União Européia, que
absorveu 73% da carne bovina in natura e 49% da carne bovina
industrializada que o Brasil exportou em 1999.
É interessante observar por meio dos gráficos que em 1999 os
EUA foram os destinatários de 35% das exportações brasileiras de carne
bovina industrializada. Porém, o Brasil ainda é impedido de exportar
para os EUA a carne bovina in natura devido a restrições sanitárias
relacionadas até então à febre aftosa.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte28
Brasil: Exportação de Carne Bovina in natura, 1999.
%
7
6
3 2 2 2 5
7 3
U n i ã o E u r o p é i a
C h i l e
H o n g K o n g
S u í ç a
I s r a e l
C i n g a p u r a
R e p . I s l . D o I r ã
O u t r o s
Brasil: Exportações de Carne Bovina Industrializada, 1999.
%
35
2 8
3 3
49
U n i ã o E u r o p é i a
E U A
J a m a i c a
P o r t o R i c o
C a n a d á
O u r t r o s
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 29
O momento é favorável para que o Brasil possa aumentar sua
participação e consolidar uma forte posição no mercado mundial da
carne bovina.
ESTRATÉGIAS DE COMERCIALIZAÇÃO
Como em vários outros setores do agronegócio, a
comercialização da carne bovina, da produção à distribuição, é
historicamente cheia de conflitos entre as partes interessadas,
constituindo-se em um dos maiores pontos de estrangulamento para a
atividade e como ameaça à composição harmônica da cadeia produtiva
da carne bovina.
O que ainda prevalece nas relações comerciais entre pecuaristas
e frigoríficos e entre frigoríficos e distribuidores (açougues e
supermercados), são comportamentos arcaicos e compromissos frágeis,
muitas vezes oportunista, o que é reflexo de uma cultura individualista e
imediatista quanto aos resultados particularmente desejados pelos
respectivos segmentos envolvidos.
A ruptura dessa cultura tem sido alcançada com o surgimento de
alguns focos de modernização nessas relações comerciais, por meio das
denominadas alianças mercadológicas.
 
As Alianças Mercadológicas como Estratégias de Renovação nas
Relações Comerciais para a Carne Bovina.
O entendimento e a prática das alianças mercadológicas hoje
estabelecidas na cadeia produtiva da carne bovina de qualidade
transcendem a noção da simples transação de compra e venda de
produto. Essas alianças constituem um compromisso estratégico de
negociação assumido entre os segmentos de produção (pecuaristas), de
processamento(frigoríficos) e de distribuição (supermercados e
açougues) de carne bovina de qualidade, podendo ser estendido a
outros segmentos que processam os demais produtos procedentes dos
animais abatidos, como é o caso do couro.
Uma aliança mercadológica deve buscar atingir pelo menos dois
objetivos, sendo um voltado ao atendimento do consumidor final e o
outro aos interesses dos próprios aliados. São eles, respectivamente:
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte30
- ofertar carne bovina com atributos de qualidade que a diferencie
da carne comumente encontrada no varejo; e
- assegurar a sobrevivência justa e duradoura de todos os
segmentos que compõem a cadeia produtiva, proporcionando
margens de lucro equilibradas e a participação constante e
crescente de todos os aliados em mercados estáveis.
 Na composição de uma aliança mercadológica alguns pontos são
pressupostos básicos para garantia de seu sucesso. Dentre esses
pressupostos poderiam ser citados:
- Conhecer de forma mais completa possível o consumidor que se
pretende atingir(nicho de mercado);
- Gerar o produto de acordo com a expectativa do consumidor;
- Assegurar volume e regularidade de oferta do produto;
- Buscar a padronização do produto a ser ofertado;
- Implementar um programa de rastreabilidade que proporcione a
garantia de origem do produto;
- Disponibilizar um produto de qualidade;
- Proporcionar benefícios para a Aliança em toda a sua extensão e
para cada um de seus aliados de forma independente.
Deve ser ressaltado que em uma parceria comercial desta
natureza cada aliado deve assumir o compromisso que lhe cabe de
forma íntegra, consciente que os objetivos só serão atingidos se todos
os envolvidos assim se posicionarem. Há que se entender que a aliança
é um compromisso estratégico entre parceiros, numa visão de
empreendimento coletivo e perspectiva de futuro.
A participação dos três segmentos com maior grau de
envolvimento pode se dar de formas diversas, de acordo com a
necessidade da própria aliança. No entanto, considerando de forma
isolada cada um desses segmentos, algumas análises devem ser feitas
verificando as ameaças e as oportunidades que podem oferecer o perfil
de cada segmento e a forma como ele vai se inserir na parceria.
Para os pecuaristas (segmento produtivo), sua participação deve
se dar necessariamente sob a forma de grupos organizados (Núcleos ou
Associações de produtores), profissional, com sistemas sustentáveis de
produção e oferta regular de produtos padronizados e certificação de
origem.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 31
No caso da indústria frigorífica, como grande agroindústria que é,
deve ser criteriosamente verificado o seu perfil, principalmente no que
diz respeito ao seu custo operacional e seus encargos sociais e
tributários. Também as condições de instalações físicas, de tratamento
humanitário dos animais no pré-abate, de inspeção sanitária e de
tratamento de efluentes, são hoje fatores limitantes aos serviços
prestados pela indústria frigorífica. Quanto à forma de inserção dos
frigoríficos nas alianças, há uma tendência dos mesmos se tornarem
apenas prestadores de serviços à parcerias compostas somente entre
grupo de pecuaristas e distribuidor.
Já para a rede distribuidora ou comércio varejista cabe como
ponto relevante de sua participação, a decodificação do comportamento
do consumidor junto ao produto ofertado, passando essa informação
aos segmentos antecedentes. Uma oportunidade de vantagem
comparativa oferecida pelos perecíveis, como é o caso da carne, aos
supermercados, é que são estes os produtos que vêem trazendo
diferenciais positivos a serem oferecidos aos consumidores. No caso das
grandes redes de supermercados, uma ressalva que deve ser feita à sua
forma de participação nas alianças é quanto ao risco da concentração
crescente do comércio varejista nessas empresas (mercado oligopsônio),
aumentando sobremaneira sua possibilidade de determinar o preço de
compra e de venda dos produtos.
Em resumo, a composição das alianças mercadológicas é, no
momento, a única saída viável para o setor; é o início de um trabalho de
busca de soluções em conjunto, para o qual deve haver motivação dos
pecuaristas, incentivos à indústria, equilíbrio na distribuição e
informação ao consumidor. Portanto o novo paradigma na cadeia
produtiva da carne bovina de qualidade deve conduzir os segmentos a
uma nova forma de sentir, uma nova forma de pensar e uma nova
forma de agir.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte32
PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS:
INTEGRAÇÃO EM PROCESSOS DE AVALIAÇÃO DE
CONFORMIDADE
L.E.L. PINHEIRO,
MV. MSc. DR. Presidente do Colégio Brasileiro de Reprodução Animal
A REALIDADE BRASILEIRA
 As crescentes exigências a respeito da segurança de alimentos
destinados ao consumo humano, tornam-se cada vez mais abrangentes,
requerendo a adoção das mais variadas tecnologias ao longo de toda a
cadeias produtiva. O modelo de visão sistêmica deve abranger desde a
origem e composição de insumos, indo até o produto industrializado
posto à mesa dos consumidores, passando, necessariamente, por todas
as etapas de produção, industrialização e transporte. Tudo isso requer o
cumprimento de normas específicas e acreditadas pelos mercados
compradores, seguido da devida avaliação de conformidade (com as
normas) e certificação.
Em todo o processo, o elemento fundamental é sempre o
especialista, devidamente preparado e credenciado, capaz de assessorar
a montagem de projetos de qualidade, implantá-los e de atuar como
auditor, obviamente dentro da pertinência de cada situação. Nota-se
que, na maioria dos programas que estão sendo formulados nesta área,
o ponto mais crítico reside sempre na sustentação do processo e na sua
capilarização, principalmente no segmento de produção ou “dentro da
porteira”. Este fato é conseqüência de uma visão equivocada, pois parte
do princípio de que basta ter regulamentos e normas institucionalizadas
para que tudo funcione, tendo o estado como fiscalizador e gestor de
todo o processo. A situação ideal seria aquela em que o estado
fiscalizaria, fazendo a sociedade organizada a gestão do todas as etapas
de implantação, monitoramento e auditoria.
Regra geral, o Brasil vem sendo impelido a adotar padrões de
normas de qualidade internacionais, sem o que, dentro em breve, não
terá mercados compradores. Vê-se, portanto, à voltas com inúmeros
sistemas, entre os quais destacam-se o IS0 (International Organization
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte34
for Standartization), o GMP (Good Manufature Practices) e o HACCP
(Hazard Critical Control Points), todos com sobreposições e limitações.
Para o setor industrial, além das dificuldades de acesso a informações
precisas a respeito do que implantar, faltam também melhores e menos
onerosas formas de avaliação de conformidade e de certificação.
AS PROPOSIÇÕES INOVADORAS NA FORMAÇÃO DE
ESPECIALISTAS
Tem se tornado cada vez mais claro que o principal gargalo do
País, reside na inexistência de apreciável contigente de especialistas na
área, capaz de melhor esclarecer e de atender a todo o setor produtivo,
inclusive com diminuição de custos. Neste cenário, destaca-se o esforço
do SENAI/SEBRAE na implantação do Projeto APPCC (Análise de Perigo
e Pontos Críticos de Controle ou HACCP em Inglês), o qual tem como
premissa básica a formação de recursos humanos. No projeto, em
cooperação com inúmeras instituições, inclusive o MCT/CNPq, estão
previstas ações de internalização da APPCC nas universidades, o que
reforçamos nesta apresentação.
A lógica de convencimento ou indução é muito simples, pois
parte do princípio de que ao oferecer aos estudantes, a oportunidade de
egressarem da universidade como peritos em implantação ou
certificação (em qualquer um dos citados sistemas), estaríamos criando
excepcional diferencial de competitividade para os mesmos. Ações nessa
direção vem sendo executadas em todo o País, o que também fazemos
hoje na UFV. Na oportunidade cabe ressaltar que grandes empresas,
como é o caso do CARREFOUR,também presente neste Evento, já
necessitam ou necessitarão em breve, de amplo contigente de
profissionais com tais qualificações.
Para obter melhores informações e mesmo embasamento, sugiro
leitura atenta de recentes artigos sobre o assunto, entre os quais
recomendo: Recursos Humanos para o Agronegócio, MCT/CNPq 2000,
284p, e GAMA, G.B.M.N. O Perfil Desejado para o Profissional de
Ciências Agrárias, In: Rev. Bras. Reprod. Anim. v.25,n.1,pp14-16, 2001.
Neste último artigo é feita menção ao dinâmico processo de facilitação
tecnológica às empresas, que vem sendo montado pelo Colégio
Brasileiro de Reprodução Animal (CBRA), a respeito do qual, maiores
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 35
informações podem ser obtidas nas publicações: PINHEIRO & PINHEIRO
(Rev. Bras. Reprod. Anim. v.24,n.3, pp172-173,2000) e PINHEIRO et.al.
(Rev. Bras. Reprod. Anim. v.25.n.1. pp.16-18, 2001).
Nestas últimas publicações, descreve-se parte do sistema que o
CBRA criou, objetivando transformar o seu quadro de especialistas numa
vasta rede de peritos, disponibilizadas às empresas associadas. Tal
modelo vem se constituindo em efetivo e pouco oneroso processo de
facilitação na adoção de processos de avaliação de qualidade, podendo
ser estendido à muitas outras instituições do gênero.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte36
PRODUÇÃO DO NOVILHO SUPERPRECOCE
Antônio Carlos Silveira1; Mário de Beni Arrigoni; Henrique Nunes de
Oliveira; Ciniro Costa; Luis Arthur Loyola Chardulo; Luiz Guilherme
Gonzaga Silveira; Cyntia Ludovico Martins
1Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal - Fac. de Medicina Veterinária e Zootecnia -
Unesp - Câmpus de Botucatu - Cx. Postal 560 - 18618-000 - Botucatu - SP
e.mail: secdmna@fca.unesp.br
CONSIDERAÇÕES GERAIS
A intensa seleção a que foram submetidos os zebuínos no Brasil
permitiu alcançar peso de abate compatíveis aos índices das raças
européias de gado de corte. Entretanto, a precocidade não foi priorizada
no processo, o que é evidenciado pela reprodução e abate tardio destes
animais, nunca inferior aos 24 meses de idade.
À vista disso, incrementou-se a importação de raças européias de
alta precocidade, mas pouco adaptadas ao nosso meio e que, quando
cruzadas com zebuínos permitem obter índices zootécnicos mais
econômicos.
A importância da precocidade para a produtividade do rebanho
nacional foi demonstrada em trabalho conduzido por pesquisadores da
Faculdade de Economia e Administração da USP (1987). Esses
pesquisadores observaram que a redução em um ano de idade de
cobertura das fêmeas e no abate dos machos resulta em um aumento
de 19,4% na taxa de desfrute do rebanho nacional, cifra esta também
alcançada através do aumento de cerca de 40% na taxa de natalidade
acompanhada da redução de 10% na taxa de mortalidade, tarefa esta
muito mais dispendiosa e impraticável a curto prazo. Finalmente, a
redução na idade à primeira parição das fêmeas e do abate dos machos
para 2,5 anos, resultaria em um aumento na taxa de desfrute da ordem
de 40 %, elevando a mesma para 26,9%.
Tudo indica que a utilização de técnicas convencionais para
alcançar esses índices zootécnicos são impraticáveis a curto prazo,
ficando a alternativa mais factível as inovações tecnológicas de
manipulação de fatores que antecipem a precocidade de machos e
fêmeas.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte38
Dentre as técnicas atuais, sem dúvida que se destacam aquelas
que levam em consideração a preservação e o aprimoramento de
atributos positivos ligados à herança genética. Entretanto, por mais
importantes que sejam as técnicas como a manipulação genética, as
seleções, cruzamentos, inbreeding e outbreedings, as linhagens clonais
e transgênicas ainda não são capazes de selecionar muitas das
limitações da produção animal. Estas técnicas, convencionais, ou não,
geralmente demandam longo tempo para produzir os primeiros
resultados e são extremamente dispendiosas para serem adotadas em
países em desenvolvimento.
As alternativas que se apresentam aos pesquisadores e criadores
são concordantes num ponto único que é de associar o potencial
genético das linhagens ou dos produtos de cruzamentos com a
manipulação de fatores ambientais notadamente a alimentação para se
conseguir a melhoraria do desempenho animal.
PRECOCIDADE
A precocidade pode ser entendida como sendo a velocidade em
que o bovino atinge a puberdade, ocasião em que o mesmo completa o
crescimento ósseo e a maior parte do conjunto da musculação.
Na puberdade os hormônios do crescimento responsáveis pelo
crescimento dos tecidos ósseo e muscular são substituídos pelos
hormônios sexuais, ocasião em que as fêmeas mostram cio e os machos
aumentam a circunferência escrotal.
Na puberdade também intensifica-se o enchimento dos
adipócitos, ocorrendo a deposição de gordura na carcaça.
Desta maneira, as raças ou indivíduos dentro de raças que
primeiro atingem a puberdade podem ser considerados de maior
precocidade sexual e de terminação. (Figura 1).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 39
Figura 01 - Curva de crescimento de bovinos de diferentes “frame-size”
A Tabela 1 que se segue mostra que as raças ou indivíduos
dentro das mesmas de menor tamanho corporal atingem a cobertura de
gordura desejada na carcaça com menor peso vivo, sendo então
considerados mais precoces e portanto mais adequados para se abater
animais terminados em sistema de produção de ciclo curto.
PPEEQQUUEENNOO
PPVV
aa bb cc dd
IIDDAADDEE
GGRRAANNDDEE
MMÉÉDDIIOO
.a – concepção
.b – nascimento
.c – puberdade
.d - maturidade
FFoonnttee :: aaddaappttaaddoo ddee OOWWEENNSS ((11999933))
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte40
Tabela 1 - Pesos de bovinos de diferentes tamanhos a
maturidade (Frame-Size)
Peso Vivo ( kg)
Carcaça terminada ( 28% de gordura)Graus “Frame-size”
Inteiros Castrados
 1
2 “pequeno”
 3
480 400
520 438
560 487
 4
5 “médio”
 6
600 500
640 533
680 567
 7
 8 “grande”
 9
720 600
760 633
800 667
Fonte: Fox et al. (1992)
Bovinos superprecoces são os animais que imediatamente após o
desmame serão terminados em regime de confinamento e abatidos
antes dos 15 meses de idade. Com este sistema de produção elimina-se
a recria dos animais. Por outro lado, bovinos precoces necessitam de
recria e são abatidos após 15 meses de idade,
De acordo com Willians et al. (1995), animais superprecoces
apresentam alta eficiência biológica, definida como sendo o ganho de
peso vivo em gramas pela energia consumida em Mcal. A eficiência
biológica será tanto maior quanto menor for a idade de abate dos
animais.
Através da Tabela 2 pode-se observar a melhor eficiência
biológica dos animais abatidos com 11,6 meses em relação aos abatidos
com 12,9 e 15,0 meses de idade. Verifica-se também que a partir de 15
meses, seria economicamente interessante realizar uma recria a pasto,
pois os animais alcançariam um maior peso ao abate, com a mesma
eficácia, se fossem terminados em confinamento. Assim sendo, por
serem recriados a pasto estes animais deixariam de integrar a categoria
de superprecoces passando para a de precoces.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 41
A eficiência biológica dos bovinos em relação a idade e/ou ao
peso, pode ser melhor esclarecida se verificar-mos que
aproximadamente 70% da MS ingerida por dia pelo animal são utilizados
para cobrir as exigências de manutenção da vida e que somente o
restante será utilizada para fins produtivos; e que a exigência de
manutenção está relacionada com o tamanho corporal do animal.
Resumindo, poderemos afirmar que quanto maior for o tamanho (peso)
do animal, maior será os gastos com sua manutenção, sobrando menos
nutrientes para engorda, piorando sua eficiência biológica.
Tabela 3 - Eficiência Biológicaa observada para animais em diferentes
sistemas de Produção
Tamanho Sistema de
Produção
Dias de
Alimentação
Peso ao
Abate (kg)
Eficiência
Biológica
Pequeno Superprecoce 139 (11,63 meses) 439 52,8
Pequeno Superprecoce 178 (12,93 meses) 492 48,9
Pequeno Superprecoce 242 (15,06meses) 554 45,5 *
Pequeno Precoce 174 (16,46 meses) 591 45,6*
Eficiência Biológica = gramas de ganho de peso vivo/Mcal de Em consumida.
Adaptado de WILLIANS et al. (1995)
A Tabela 3 que segue adaptado de Peixoto et al. (1987)
exemplifica bem esta situação. Para um bovino em confinamento passar
de 350kg de peso vivo para 400 Kg terá que consumir neste
determinado período 431kg de alimento, exibindo uma eficiência de
conversão de 8,6kg de alimento consumido para 1kg de peso ganho.
Entretanto, para este mesmo animal passar de 400kg de peso para
450kg, já terá que consumir muito mais, ou seja, 727kg de alimento,
com uma conversão alimentar de 14,6kg de alimento para cada 1kg de
peso ganho. E, assim por diante, cada vez mais, piorando a conversão
alimentar e inviabilizando economicamente o processo, à medida que se
queira engordar animais maiores ou mais pesados e que possuem maior
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte42
exigência de manutenção, sobrando menos alimentos para se processar
a engorda.
Tabela 3 - Influência do peso vivo sobre a eficiência do ganho de peso
de taurinos
Raças Européias *
Parâmetros 1o período 2o período 3o período 4o período
Peso vivo (kg) 350-400 400-450 450-500 500-550
Ganho de peso/período (kg) 50 50 50 50
Consumo de ração no período (kg) 431 727 1019 1320
Eficiência de conversão
(kg alim/kg ganho) 8,6 14,6 20,4 26,4
Custo relativo (%) 100 146 190 236
Fonte: Adaptado de Peixoto et al. (1987).
UTILIZAÇÃO DA TÉCNICA DA ULTRA-SONOGRAFIA COMO
INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DE CARCAÇA EM
ANIMAIS VIVOS
A identificação de indivíduos com valor genético superior para
características de carcaça não tem sido feita no Brasil, por exigir a
realização de onerosos testes de progênie. Como estas características
exigem o abate do animal; não podem ser realizados no animal a ser
selecionado.
Durante os últimos 35 anos tem sido despendidos consideráveis
recursos em pesquisa para o desenvolvimento de técnicas não evasivas
e não destrutivas para a avaliação da composição química e qualidade
de carcaça de animais vivos. A ultra-sonografia em tempo real tem sido
aplicada como uma técnica confiável e de custo aceitável para esta
função (HOUGTON eTURLINGTON, 1992).
Em bovinos, são medidas a área de secção do músculo
“longissimus dorsi” (área-de-olho-de-lombo), e a espessura da camada
de gordura de cobertura do mesmo músculo obtidas através de imagens
tomadas entre a 12a e 13a costela. (Figuras 2 e 3).
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 43
Figura 2 - Local exato para medição do músculo “longissimus dorsi”
(Área-de-olho-de-lombo) e da gordura de cobertura na
garupa (picanha)
Estas estimativas, quando obtidas por técnicos devidamente
adestrados, tem apresentado repetibilidade aceitável, assim como são as
correlações destas com as medidas correspondentes tomadas na
carcaça dos animais após o abate.
Além da identificação de touros mais precoces, a técnica da
ultra-sonografia pode ser também utilizada para a determinação do
ponto de abate dos animais, com predição do potencial produtivo de
carcaça e carne.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte44
Figura 3 - Determinação da Área-de-olho-de-lombo, no o músculo
longissimus dorsi e da espessura de gordura subcutânea.
Com este procedimento, os animais superprecoces tem sido
abatidos, quando atingem o grau de cobertura de gordura na carcaça
adequado ao processo de resfriamento empregado no país, garantindo
assim a qualidade da carne, não permitindo o seu enrijecimento e/ou
escurecimento. Além disso o grau de musculosidade obtido pela
visualização e medição da área-de-olho-de-lombo no ultra-som
determina o rendimento em produção de carne, podendo em muitos
casos pela predição do rendimento e da qualidade, antecipar
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 45
significativamente o tempo de abate, minimizando os custos de
confinamento e consequentemente os de produção.
Em pesquisa recente realizada pela UNESP, Câmpus de Botucatu,
Chardulo et al. 2000 constataram quando da comparação entre
diferentes grupos genéticos, constituído de animais machos e fêmeas
abatidos no sistema superprecoce, algumas diferenças significativas nas
características de carcaça e da carne, entre as raças de corte,
demonstrando haver diferenças entre a eficiência das mesmas.
Tabela 4 - Valores médios das características de carcaça dos diferentes
grupos genéticos
Raça Variáveis
PCQ PCR PR RTk RTp RC
Angus 244,47 239,65 1,88 115,88* 47,97 55,14
Charolais 238,67 234,31 1,77 121,92 50,44 53,95
Gelbvieh 247,06 242,54 1,82 123,24 49,80 55,92
Hereford 263,04* 258,22* 2,03 123,57 47,29 55,57
Simmental 251,87 247,38 1,74 124,45 49,31 54,29
PCQ = Peso de carcaça quente (kg); PCR = Peso de carcaça resfriada (kg);
PR = Perda por resfriamento (%); RTK = Rendimento de traseiro em quilogramas
(kg);
RTp = rendimento percentual de traseiro (%); RC = Rendimento de carcaça (%).
Pelos resultados do experimento podemos observar no tocante
às bezerros com maior peso, apresentou ao final de 130 dias de
confinamento, maior peso na carcaça (Tabela 4). Por este resultado
evidencia-se a exigência do sistema superprecoce em desmamar
bezerros os mais pesados possíveis, fato este garantido pelo uso da
suplementação em "creep feeding" durante o aleitamento dos bezerros.
Ao mesmo tempo, a raça Angus, apesar de ter mostrado menor
rendimento de traseiro em relação aos demais, apresenta rendimento de
carcaça semelhante às outras, mostrando que apesar desta raça ser de
tamanho pequeno a maturidade diferentemente das raças continentais,
apresenta uma distribuição uniforme de carne pelo corpo.
Pela análise de qualidade da carne entre os diferentes graus de
sangue (Tabela 5), pode-se generalizar que o sistema de produção do
novilho superprecoce garante a carne com excelente índices de
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte46
qualidade à vista do mesmo preconizar o abate de novilhos ainda muito
jovens.
No entanto, neste particular destaca-se a raça Angus, que pela
precocidade da terminação da carcaça, mostrou maior maciez medida
pela força de cizalhamento, fato este que talvez pudesse ser atribuído
ao maior teor de gordura de cobertura ou de marmorização nesta raça.
Esta afirmativa estaria fundamentada pelo menor impacto
proporcionado pelo resfriamento rápido da carcaça no frigorífico,
evitando-se o encurtamento das fibras, uma vez que pelos dados
obtidos verificou-se na carcaça do Angus maior temperatura durante o
resfriamento concorrendo para maior ação glicolítica muscular, menor
índice pH e conseqüente inibição da capalstatina, possibilitando maior
ação da calpaína enzima esta, responsável pela maciez da carne. Outra
explicação viável para concorrer com a maciez da carne Angus seria o
maior grau de marmorização do mesmo em relação às outras raças
especializadas para corte.
Outro ensaio conduzido pelos pesquisadores da UNESP em
parceria com a Agropecuária Meira Fernandes, Município de Buri, SP.,
350 animais superprecoce de 12 meses de idade, mestiços Nelore x
Braunvieh foram abatidos em novembro de 2000 no Frigorífico Mondeli,
Bauru, SP. Uma amostragem dos resultados obtidos são apresentados
na Tabela 6 abaixo e comprovam os altos rendimentos cárneos e a
qualidade da carne de novilhos superprecoce.
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 47
Tabela 5 - Valores médios das características de qualidade de carne de
bovinos mestiços jovens em confinamento
Raças Variáveis
AOL BF MBL GDR PT UMD pH TPA SF CALP
Angus 56,705 3,813* 4,406* 4,275* 25,126 61,010 5,366* 8,6* 3,963* 0,166
Charolais 64,340 2,562 3,194 2,960 25,850 60,905 5,499 5,5 6,274 0,101
Gelbvieh 63,991 2,500 3,056 2,788 26,380 60,116 5,555 4,8 6,382 0,125
Hereford 65,849 2,969 3,387 3,202 24,783 62,012 5,510 3,9 6,120 0,119
Simmental 62,293 2,562 3,100 3,068 26,420 61,430 5,529 6,2 5,631 0,148
Sexo
Macho 67,421 2,650 3,470 3,352 25,412 62,412 5,509 7,6 5,814 0,122
Fêmea 57,850 3,113 3,387 3,221 26,115 61,845 5,475 5,3 5,529 0,143
AOL= Área-de-olho-de-lombo (cm2) BF = Gordura subcutânea(cm)
MBL = Índice de marmorização (praticamente ausente = 2,0-2,9;
Traços =3,0-3,9; Muito Pouco = 4,0-4,9) pH = potencial hidrogênio iônico
GDR = Gordura total PT = Proteína total
UMD = Umidade TPA = Temperatura interna da carne 15hs pós mortem (oC)
SF = Força de cizalhamento (kgf) Calp = Calpastatina
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte48
Tabela 6 - Características de carcaça e qualidade de carne de animais
mestiços Braunvieh X Nelore submetidos ao Sistema
Superprecoce
No
Animal
Peso carcaça
(Kg)
Peso
carcaça (@)
AOL
(cm2)
EG
(mm)
MBL Força de ciza-
lhamento(kg) *
01 257,0 17,13 74,69 3,00 Traço 4,5
02 279,5 18,63 77,26 3,50 Pouco 5,1
03 250,0 16,66 74,83 3,80 Traço 4,6
04 314,0 20,93 79,72 7,60 Pouco 4,4
05 279,5 18,63 69,41 5,10 Pouco 4,9
06 254,5 16,96 87,04 5,70 Traço 5,0
07 297,0 19,80 92,19 5,40 Pouco 5,8
08 247,5 16,50 87,54 4,70 Traço 3,9
09 252,0 16,80 84,12 6,30 Traço 3,9
10 250,0 16,66 75,45 4,80 Traço 4,4
11 274,0 18,27 91,00 5,70 Pouco 3,1
12 278,0 18,53 83,54 4,10 Pouco 4,6
13 273,0 18,20 80,15 4,70 Pouco 4,2
14 290,5 19,37 85,01 6,70 Pouco 4,5
15 255,5 17,03 71,17 6,70 Traço 4,4
16 264,5 17,63 75,52 5,20 Traço 5,9
17 239,0 15,93 83,85 3,10 Traço 5,1
18 269,0 17,93 79,24 5,10 Pouco 4,2
Média 268,02 17,87 80,65 5,06 - 4,6
UNESP x Meira Fernandes (2000)
* Carnes resfriadas por 24 horas
ALIMENTAÇÃO DO SUPERPRECOCE
A suplementação dos bezerros no ¨creep-feeding¨tem por
finalidade não interromper o crescimento dos bezerros o que
normalmente ocorre após dois meses de idade pela queda na produção
leiteira da mãe. Assim sendo o concentrado deverá apresentar valor
nutritivo similar ao leite materno. Para a formulação da ração de ¨creep-
feeding¨ recomenda-se a utilização de concentrado preparado pela
Nutrumin Nutrição Animal ( 25 kg) que deverá ser mistuado com milho
quebrado (75 kg) ou outro grão de cereal produzido na propriedade. O
fornecimento da ração deve ser ¨ad libitum¨, pois não ultrapassa a
média de l.000 g/cabeça/dia no período, para ganhos de peso da ordem
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 49
de 1,1 kg/dia. Considerando que além do leite materno os bezerros
consomem ainda por dia uma média de 6-7 kg de leite com 13% de MS
e 0,5 a 1,0 kg de pasto com 25% de MS, facilmente chegaremos a uma
conversão alimentar durante o período de ¨creep-feeding¨ de 2,0 a 2,5
kg de peso ganho, conversão esta bastante baixa e por consequinte
econômica, se comparada com a fase seguinte do processo, ou seja, a
fase de confinamento propriamente dita.
No confinamento os animais chegam a consumir de 4 kg de
MS/dia no início a 8 kg de MS/dia ao final do período com uma
conversão alimentar média de 6:1. Desta forma, pode-se facilmente
verificar que o retorno financeiro do ¨creep-feeding¨ é grande e,
portanto, quanto mais pesados forem os bezerros na desmama, mais
baixo será o custo de produção do sistema.
A Tabela 7 mostra a desmama de bezerros Simental x Nelore
evidenciando um aumento de 10,5 a 18,3% nos pesos de desmama aos
5 e 7 meses respectivamente. O emprego do ¨creep-feeding¨
possibilitou, ainda, a desmama aos 5 meses de idade com 200 kg de
peso vivo, bem como o benefício de 8,9% na fertilidade das matrizes
Nelore.
Tabela 7 - Resposta à utilização do “creep feeding” no peso ao
desmame e na fertilidade das matrizes
½ SIMENTAL PESO DOS BEZERROS (kg)
X NELORE No de animais s/creep c/creep %
5 meses 100 170 190 10,5
7 meses 100 200 245 18,3
FERTILIDADE DAS MATRIZES (%)
NELORE 400 77,0 84,5 8,9
Fonte: Equipe Superprecoce, 1996
Durante o confinamento o volumoso deverá fornecer um mínimo
suficiente de fibra efetiva para garantir a ruminação enquanto o
concentrado deve ser de fácil aproveitamento pelos microorganismos.
Os concentrados fornecerão energia para os microorganismos se
desenvolverem, aumentando a população microbiana, que ao passar
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte50
para o intestino durante a ruminação poderá cobrir em até 70% das
exigências diárias de proteína para o animal, garantindo assim o seu
desenvolvimento.
Dentro deste conceito, os concentrados devem perfazer de 85 a
90% do total da matéria seca da dieta desde que os 10 a 15% restantes
forem de um volumoso que realmente forneça fibra efetiva para
ruminação.
Quanto aos concentrados, recomenda-se processar
adequadamente os grãos de cereais para melhor serem aproveitados
pelos microorganismos ruminais, uma vez que a proteína microbiana
tem qualidade superior em termos de aminoácidos essenciais a todas as
outras fontes proteicas comumente encontradas no mercado (Santos,
1998). Esta talvez seja a explicação para o mais rápido crescimento
muscular dos bezerros superprecoces, quando da utilização de grãos de
cereais processados.
A Tabela 8 adaptado de Owens et al. (1986) explicita as
vantagens de se processar adequadamente o grão de milho propiciando
melhor digestão no rúmen e consequentemente maior aproveitamento
do amido pelos microorganismos enquanto A Tabela 8 evidencia as
vantagens em se utilizar os grãos úmidos de milho ensilados para
melhorar a eficiência alimentar dos bezerros confinados.
Tabela 8 - Formas de processamento do milho e os sítios de digestão do
amido
Formas de Digestão do amido %
Processamento Rúmen Intestino
Delgado
Intestino
Grosso
Total
Inteiro 58.9 17.0 2.8 91.7
Quebrado 68.9 12.9 8.2 87.6
Laminado 71.8 16.1 4.9 93.2
Moído 77.7 13.7 4.3 93.5
Ensilado 86.0 5.5 1.0 94.6
Floculado 82.8 15.6 1.3 97.8
Fonte: Owens et al. (1986)
II Simpósio de Produção de Gado de Corte - 51
Os grãos úmidos de milho são colhidos para serem ensilados
quando apresentarem um teor de umidade em torno de 26 a 30%, o
que é facilmente observado pela presença do chamado ponto preto na
base do grão, na inserção deste com a espiga. A presença do ponto
preto indica a maturação fisiológica do grão, isto é, o grão de milho esta
totalmente formado, não havendo mais translocação de nutrientes da
planta para os grãos. O processo de colheita de grãos, moagem e
ensilagem, em silos trincheira seguem as recomendações usuais para a
confecção de silagem.
Tabela 9 - Comparações entre silagem de milho úmido x milho triturado
em confinamento de animais inteiros Simental x Nelore
Tratamentos
100:0 75:25 50:50 25:75 0:100
Milho úmido 80 60 40 20 0
Milho triturado 0 20 40 60 80
Volumoso 11 11 11 11 11
Suplemento protéico-
mineral + aditivos 9 9 9 9 9
INFORMAÇÕES
No de animais 18 18 18 18 18
Confinamento (dias) 90 90 90 90 90
Peso inicial (kg) 336 334 333 335 335
Ganho diário (kg) 1,53 1,63 1,39 1,33 1,30
Consumo (MS/kg) 11,96 12,58 12,45 12,51 12,70
C.A./kg MS/kg ganho 7,82 7,72 8,97 9,40 9,77
Índice 120 121 108 104 100
Fonte: Stock et al., 1987.
COMENTÁRIOS TÉCNICO / ECONÔMICO DO SISTEMA DE
PRODUÇÃO DO NOVILHO SUPERPRECOCE
Utilizando-se de iguais índices zootécnicos em um rebanho
iniciado com 2800 matrizes e evoluindo-o por um período de 15 anos,
comprova-se pelos dados apresentados na Tabela 16, as vantagens do
sistema de produção do Novilho Superprecoce (12 meses de idade), em
relação aos sistemas de abate previstos para 24 e 36 meses de idade.
- II Simpósio de Produção de Gado de Corte52
Considerando, apenas os últimos 5 anos após sua estabilização,
e sendo mantida a mesma lotação por hectare (0,8 U.A.), verifica-se que
para alcançar a mesma produtividade de 1682 cabeças abatidas/ano,
nos três sistemas de produção, a necessidade de aumentar
significativamente a área de ocupação da propriedade, ou seja, 4388,
7856 e 9707 hectares respectivamente para os sistemas de 12, 24, e 36
meses de idade, constatando assim, uma diminuição da eficiência
produtiva do rebanho à medida que se retarda o abate dos animais.
Este fato pode ainda ser melhor caracterizado quando oferece-se
o índice 1,0 ao sistema superprecoce, e verifica-se a necessidade de
aumentar em 1,79 vezes a área de utilização para o sistema de 24
meses e de 2,21 para o de 36 meses para idêntica produção.
Tabela 10 - Evolução do Rebanho
Superprecoce
12 meses
Precoce
24 meses
Precoce
36 meses
Evolução do rebanho (anos) estabilização

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