Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UTILIZAÇÃO DE ARGILAS COMO COMPLEMENTO ALIMENTAR Alfredina dos Santos Araujo 1* , Maria do Socorro Araujo Rodrigues 2 , Amanda Araujo Rodrigues 3 , Francisca Aline Lira Cipriano 4 , Jessica de Sousa Negreiros 5 , Vanderleia dos Santos 5 . 1 Universidade Federal de Campina Grande, Unidade Acadêmica de Tecnologia de Alimentos, Pombal, Paraíba, Brasil. 2 Universidade Federal de Campina Grande, Programa de Pós Graduação em Engenharia de Processos, Campina Grande, Paraíba, Brasil. 3 Universidade Federal de Campina Grande, Unidade Acadêmica de Agronomia, Pombal, Paraíba, Brasil. 4 Universidade Federal de Campina Grande, Unidade Acadêmica de Tecnologia de Alimentos, Pombal, Paraíba, Brasil. 5 Engenheira de alimentos, Pombal, Paraíba, Brasil. *Autor para correspondências: alfredina@ccta.ufcg.edu.br RESUMO O avanço de algumas doenças crônicas ocorre em razão da associação entre fatores genéticos, má alimentação e sedentarismo. Quando o indivíduo possui uma predisposição genética e associa a isto um estilo de vida desequilibrado, a tendência sem dúvida é desenvolver o quanto antes doenças como hipertensão, diabetes, coronariopatias e acidentes vasculares. Os alimentos processados e refinados perdem ao longo de sua industrialização minerais fundamentais à saúde, como por exemplo, o cálcio e o magnésio. O conceito de alimento funcional tem sido considerado cada vez mais por consumidores conscientes da importância em relacionar saúde e nutrição. A tendência atual é dar preferência à prevenção e não à cura das doenças. O objetivo principal do trabalho foi utilizar argilas bentoníticas da Paraíba como complemento alimentar, sendo aplicadas como aditivos em alimentos industrializados com a finalidade de torna-los funcionais. As argilas tornam-se um insumo promissor para ser utilizada como complemento alimentar. Palavras-chave: Alimentos funcionais, Argilo minerais. 1. INTRODUÇÃO Uma alimentação correta não significa restritiva ou monótona, ao contrário, um dos princípios fundamentais para uma alimentação saudável é a variedade, devido a isto, a procura por alimentos com este enfoque, tem sido alvo de estudos de indústrias e inúmeros institutos de pesquisa, devido principalmente a busca cada vez maior por produtos que agreguem além de sabor agradável, componentes capazes de nutrir com qualidade. Em algumas regiões brasileiras, como o nordeste, por exemplo, a procura por produtos comercializados com estas características são bem raros, em virtude da escassez dos mesmos, gerando dificuldades na subsistência de pessoas e animais, por problemas ambientais como o baixo índice pluviométrico e temperaturas elevadas em boa parte do ano (SILVA, 2013). A bentonita (também conhecidas como argilas) é definida como uma rocha de formação natural, terrosa, de granulação fina, que geralmente quando umedecida com água adquire certa plasticidade. São essencialmente formadas por silicatos hidratados de alumínio, ferro e magnésio. Os depósitos de argilas da Paraíba formam o maior e o mais importante jazimento do Brasil. De acordo com Santos (1989), muitos estudos têm sido realizados para verificar a composição, estrutura e propriedades fundamentais dos constituintes das bentonitas e solos e a relação do argilomineral com suas propriedades tecnológicas. 2 Argilas são um produto natural, terroso, de granulação fina, com partículas medindo em torno de 2μm, quando umedecidas com água adquirem certa plasticidade. São formadas por minerais, tais como silicatos hidratados de alumínio, ferro, magnésio, podem também ser encontradas com outros minerais como quartzo, fedlspato, mica, calcita sendo consideradas como argilominerais. Estes minerais são responsáveis pelo alto poder de troca de cátions das argilas entre 3 a 150 meq/100g (SANTOS, 1989). Os biscoitos tipo cookies podem ser considerados bons veículos de fibra alimentar, além de possuírem uma boa aceitação no mercado, pois são consumidos por todas as faixas etárias. Além de serem apontados por vários estudos como um alimento que apresenta facilidade na incorporação de ingredientes com aspectos funcionais em sua formulação, agregando maior valor nutricional aos biscoitos e possibilitando novas opções para o Mercado (MAURO et al, 2010) O cookie é um biscoito de paladar adocicado, característico por sua ampla aceitabilidade por pessoas de todas as idades, particularmente entre crianças. Para tanto, contemplam de vários atrativos, os quais vão desde suas características organolépticas, durabilidade e propriedades nutricionais agregadas. Recentemente, os biscoitos tipos cookies têm sido formulados com a intenção de implementar sua fortificação com fibra ou proteína, devido ao forte apelo nutricional existente atualmente com relação aos alimentos consumidos (GUTKOSKI, 2003; SIMABESP, 2007). Para o caso de uso de argilas em formulações alimentares, torna-se interessante que a mesma tenha uma viscosidade considerada, pois esse fato facilitaria a consistência da composição da massa a qual dará origem a um produto. A sedimentação da argila na massa não seria interessante, pois haveria separação de fases e com essa falta de homogeneidade a mensuração das prováveis propriedades nutricionais ficariam comprometidas quando se fosse realizar os ensaios.Tendo em que vista que as bentonitas variam nesta pesquisa entre as formas cálcicas e sódicas, e estas apresentarem um maior valor na análise de viscosidade Fann, devido ao fato dessa propriedade ser considerada de fundamental importância para o setor de alimentos, enquadrando-as como comestiveis. Esta pesquisa tem por objetivo utilizar as argilas bentoníticas como complemento alimentar, sendo aplicadas como aditivos em biscoitos tipo cookies. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Elaboração dos biscoitos tipo cookies Foram fornecidas pela PEGMATECH, 6 amostras de argilas, das quais foram selecionadas 2 tipos de a serem utilizadas como complementos alimentares. Essa seleção foi baseada nas propriedades de viscosidade para serem posteriormente testadas nos biscoitos tipo cookies. Onde a Argila B2 é do tipo cálcia e de origem brasileira e a argila B4 é do tipo sódica e de origem argentina. Buscando assim, observar se as argilas selecionadas estarão aptas para a aplicação em subprodutos na área alimentícia e se oferecerão riscos a saúde humana quando consumidas foi realizada a análise microbiológica das bentonitas e dos subprodutos elaborados. As bentonitas foram adicionadas ao alimento (cookies) nas proporções de 1%, 3% e 5% (Conforme Tabela 1). Tabela 1 – Formulação dos cookies elaborados com adição de argilas. INGREDIENTES Tradicional B2 (1%) B2 (3%) B2 (5%) B4 (1%) B4 (3%) B4 (5%) Açúcar mascavo 160g 160g 160g 160g 160g 160g 160g Farinha de trigo 240g 239g 237g 235g 239g 237g 235g Sal 1g 1g 1g 1g 1g 1g 1g 3 Ovo 100g 100g 100g 100g 100g 100g 100g Margarina 30g 30g 30g 30g 30g 30g 30g Fermento em pó 5g 5g 5g 5g 5g 5g 5g Essência de baunilha 5 mL 5 mL 5 mL 5 mL 5 mL 5 mL 5 mL Extruzados 50g 50g 50g 50g 50g 50g 50g Argila 2 - 1g 3g 5g - - - Argila 4 - - - - 1g 3g 5g Para a obtenção das formulações utilizou-se os ingredientes acima descritos, sendo que as argilas entraram com agente enriquecedor substituindo em proporções de 1%, 3% e 5% a farinha de trigo. As etapas para o processamento seguiram as normas de Boas Práticas de Fabricação – BPF, RDC nº 216/04 (BRASIL, 2004). Primeiramente todos os ingredientes foram separados e pesados (mise em place). Em seguida, utilizando o método cremagem, foram misturados em tigela os ovos, a manteiga e o açúcar mascavo, batidos manualmente, com o auxílio de colher, por 5 minutos, até a obtenção de uma mistura homogênea e pastosa. Posteriormente, acrescentou-se ao creme a essência de baunilha, misturando-se por 1 minuto, seguida da incorporação da farinha e da argila (com a exceçãoda fomulação traditional) e dos demais ingredientes. Por último, adicionaram-se os extrusados. A cada adição de ingrediente, houve uma mistura para incorporá-los melhor na massa. A massa foi deixada em descanso, sob refrigeração (10 ºC) por 45 minutos, para formação da sua estrutura. A moldagem dos cookies foi realizada manualmente, de maneira que se padronizasse o tamanho de cada biscoito, com quantidade aproximada de 15 gramas. Os cookies foram dispostos em bandeja de alumínio com furos de 3 mm de diâmetro revestida com papel manteiga, mantendo uma distância aproximadamente de 5 cm entre eles e, em seguida, submetidos ao processo de assamento, em forno elétrico pré-aquecido a 160 ºC por 15 minutos. Depois de assados, foram resfriados em temperatura ambiente, acondicionados em embalagens de polietileno de baixa densidade (PEBD) e armazenado sob temperatura ambiente até a realização das análises microbiológicas Ressalta-se que em todas essas formulações foram utilizadas argilas esterilizadas por dois métodos: 1) Esterelização em estufa de secagem a 105 º C / 24h; 2) Esterelização em autoclave a 121 º C / 21min. Após todo o processamento e a produção do alimento, as amostras foram analisadas quanto aos parâmetros microbiológicos. 2.2. Análises microbiológicas 2.2.1. Teste Presuntivo Técnica de tubos múltiplos, na qual homogeneizou-se 25 g de amostra, com 225 mL de Água Peptonada 0,1%. Para o teste presuntivo alíquotas de 1 mL de cada diluição foram inoculadas em três tubos contendo 9 mL de Caldo Lauryl Sulfato Triptose, com tubos de Duhran invertidos e incubados a 35º C/24-48 hs (SILVA, 2015). 2.2.2. Coliformes 35°C A partir dos tubos com leitura positiva do teste presuntivo, foi transferida uma alçada da cultura para o teste confirmatório no Caldo Verde Bile Brilhante, com período de incubação a 35°C de 24 a 48 horas, conforme a metodologia SILVA, (2015). 2.2.3. Coliformes 45°C 4 Para a quantificação de coliformes a 45º C foi utilizada a técnica do Número Mais Provável (NMP), incubados em banho-maria a 45º C/48 h, em Caldo EC, a partir dos tubos positivos obtidos dos coliforms totas, conforme a metodologia SILVA, (2015). 2.2.4. Bacillus cereus Inoculou-se sobre a superfície seca do Agar MYP base (agar gema de ovo polimixina vermelho fenol), 0,1 mL de cada diluição selecionada (10 -1 , 10 -2 ,10 -3 ). Com auxilio de alça de Drigalski, espalhou-se o inóculo cuidadosamente por toda a superfície do meio até completa absorção. Incubou-se as placas invertidas a 30°C por 24horas. 2.2.5. Fungos filamentosos e leveduras Na determinação de Fungos filamentosos e leveduras foi utilizado o método de plaqueamento direto em superfície, em meio Agar Batata Dextrose (BDA) fundido e acidificado com ácido tártarico a 10%, posteriormente as placas serão incubadas a 35⁰C por 5 dias, segundo a metodologia recomendada (SILVA, 2015). 2.2.6. Staphylococcus ssp Para a determinação de Staphylococcus spp. Foi utilizado o método em superfície no meio de cultura Ágar Sal Manitol. As placas foram incubadas a 35°C/48 horas, segundo a metodologia recomendada (SILVA, 2015). 2.2.7. Salmonella sp Na determinação de presença de Salmonella sp foi utilizado o método em superfície no meio de cultura Salmonella Diferential Ágar, incubando a temperatura de 36 ± 1 °C/48 horas, segundo a metodologia recomendada (SILVA, 2015). 2.2.8. Contagem Total de Bactérias Aeróbicas Mesófilas O número total de bactérias aeróbicas mesófilas será determinado pelo método de contagem em placas, utilizando-se o meio de cultura Plate Count Ágar (APC). Após inoculação as placas serão incubadas, a 37 ºC por 48 horas (SILVA, 2015). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados das análises microbiológicas realizadas nos cookies elaborados com bentonitas autoclavadas e esterilizadas com a adição de 1%, 3% e 5% da Argila 2 e da Argila 4 estão apresentados nas Tabelas 2 e 3 a seguir. 5 Tabela 2: Resultados das médias das análises microbiológicas realizadas nos cookies elaborados com a adição de 1%, 3% e 5% da Argila 2 e da Argila 4, esterilizadas em autoclave a 121ºC/21min. A avaliação microbiológica dos cookies foi baseada na RDC nº12 (2001) a qual recomenda que as análises para biscoitos sem recheios incluam a determinação de Salmonella sp., Staphylococcus spp e coliformes a 45C. A partir dos resultados obtidos nas análises microbiológicas dos cookies elaborados com as argilas bentonitica esterilizadas e autoclavadas podemos concluir que todos os parâmetros encontram-se dentro dos padrões estabelecidos pela legislação vigente, indicando que apresentam condições satisfatórias na produção e/ou manipulação do alimento tornando-se próprio para o consumo humano. Tabela 3: Resultados das médias das análises microbiológicas realizadas nos cookies elaborados com a adição de 1%, 3% e 5% da Bentonita 2 e da Bentonita 4 esterilizadas em estufa de secagem a 105ºC/24h. Formulação Coliformes a 35C (NMP/g) Coliformes a 45C (NMP/g) Bacillus cereus (UFC/g) C.T.M. (UFC/g) Staphylococcus ssp (UFC/g) Salmonella sp/25g (Ausente/ Presente) Fungos filamentosos e leveduras (UFC/g) Tradicional 0,6 0,6 Ausente Ausente 1x10 2 Ausente Ausente B2 1% Ausente Ausente 1x10 1x10 2 Ausente Ausente Ausente B2 3% 0,9 0,9 1x10 1x10 2 Ausente Ausente Ausente B2 5% 2,9 2,9 1x10 10 1x10 2 Ausente Ausente B4 1% 0,3 0,3 Ausente 1x10 2 Ausente Ausente Ausente B4 3% 2,9 2,9 Ausente 1x10 2 Ausente Ausente Ausente B4 5% 0,7 0,7 Ausente 10 Ausente Ausente Ausente Formulação Coliformes a 35C (NMP/g) Coliformes a 45C (NMP/g) Bacillus cereus (UFC/g) C.T.M. (UFC/g) Staphylococcus ssp (UFC/g) Salmonella sp/25g (Ausente/ Presente) Fungos filamentosos e leveduras (UFC/g) Tradicional 0,3 Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente B2 1% 0,3 Ausente Ausente 1x10³ Ausente Ausente Ausente B2 3% Ausente Ausente Ausente 10 Ausente Ausente Ausente B2 5% Ausente Ausente Ausente 1x10³ Ausente Ausente Ausente B4 1% 0,9 Ausente Ausente 10 Ausente Ausente Ausente B4 3% 0,6 Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente B4 5% 0,6 3.6 Ausente 10 Ausente Ausente Ausente 6 4. CONCLUSÕES Do ponto de vista microbiológico não foram observadas diferenças significativas entre as duas argilas utilizadas. Tanto a argila Cálcica – B2 (Nacional) quanto a argila Sódica – B4 (Importada) apresentaram na maioria dos resultados ausência de Coliformes a 45C, Bacillus Cereus, Staphylococcus ssp e Salmonella sp e quando presentes algumas dessas bactérias, sempre abaixo do limite permitido. Na elaboração do Cookie apresentou inocuidade, ou seja, estão de acordo com o limite pré- estabelecido pela legislação vigente e, portanto, considerado, apto para o consumo humano. Agradecimentos A PEGMATECH pelo fornecimento das amostras de argilas, ao Centro Vocacional Tecnológico e a Universidade Federal de Campina Grande, por viabilizarem as análises. 6. REFERÊNCIAS ASSOCIATION OF OFFICIAL ANLYTICAL CHEMISTRS. Official methods of analysis of the Association of Official Analytical Chemists. Arlington: A.O.A.C.,1996. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária- ANVISA. Aprova o Regulamento Técnico sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos. Resolução RDC nº 12, 01/2001. Diário Oficial da União, seção 1. Brasília, DF, 03 janeiro 2001. GUTKOSKI, L. C.; NODARI, M. L.; JACOBSEN NETO, R. Avaliação de farinhas de trigos cultivados no rio grande do sul na produção de biscoitos. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, n. 23, p. 91- 97,dez. 2003. MAURO, A.K.; SILVA, V.L.; FREITAS, M.C.J. Caracterização física, química e sensorial de cookies confeccionados com Farinha de Talo de Couve (FTC) e Farinha de Talo de Espinafre (FTE)ricas em fibra alimentar. Ciênc Tecnol Aliment. 2010; 30(2): 719-28. SANTOS, P. S.: Ciência e Tecnologia de Argilas. 2ed. Editora Edgard Blucher Ltda. São Paulo, 1989. SIMABESP – Sindicato da indústria de massas alimentícias e biscoitos no estado de São Paulo. A história do Biscoito. São Paulo: SIMABESP, 2007.
Compartilhar