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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/329814115 MANUAL SOBRE PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS Volume 1 Book · December 2018 DOI: 10.17655/9788567211879 CITATIONS 0 READS 2,392 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Biologia e estrutura de galhas de restingas do Rio de Janeiro View project EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM FARMACOBOTÂNICA View project Ana Vieira Federal University of Rio de Janeiro 18 PUBLICATIONS 43 CITATIONS SEE PROFILE Mirian Ribeiro Leite Moura Rio de Janeiro State University 18 PUBLICATIONS 180 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Ana Vieira on 29 December 2018. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/329814115_MANUAL_SOBRE_PLANTAS_ALIMENTICIAS_NAO_CONVENCIONAIS_Volume_1?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/329814115_MANUAL_SOBRE_PLANTAS_ALIMENTICIAS_NAO_CONVENCIONAIS_Volume_1?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Biologia-e-estrutura-de-galhas-de-restingas-do-Rio-de-Janeiro?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/EXTENSAO-UNIVERSITARIA-EM-FARMACOBOTANICA?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Ana_Vieira8?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Ana_Vieira8?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Federal_University_of_Rio_de_Janeiro2?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Ana_Vieira8?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Mirian_Ribeiro_Leite_Moura?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Mirian_Ribeiro_Leite_Moura?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Rio_de_Janeiro_State_University?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Mirian_Ribeiro_Leite_Moura?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Ana_Vieira8?enrichId=rgreq-a26080b5d1e985a963a637403adeac98-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMyOTgxNDExNTtBUzo3MDg5NjY0MDUzOTQ0MzJAMTU0NjA0MjE3MTQwOQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM FARMACOBOTÂNICA Ana Cláudia de Macêdo Vieira Caroline do Couto Nabarro da Conceição Mirian Ribeiro Leite Moura Nathalia Ferreira Soares Raquel Lopes Emídio Thatyane Veloso De Paula Amaral De Almeida 1º Edição ii ANA CLÁUDIA DE MACÊDO VIEIRA CAROLINE DO COUTO NABARRO DA CONCEIÇÃO MIRIAN RIBEIRO LEITE MOURA NATHALIA FERREIRA SOARES RAQUEL LOPES EMÍDIO THATYANE VELOSO DE PAULA AMARAL DE ALMEIDA MANUAL SOBRE PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS Volume 1 1ª edição Rio de Janeiro 2018 iii http://dx.doi.org/10.17655/9788567211879 iv Copyright 2018 - Distribuição Gratuita Este trabalho encontra-se registrado nas entidades competentes, tendo atribuído número de ISBN (International Standard Book Number) e registro internacional pelo Crossref DOI (Crossref Digital Object Identifiers), possuindo reserva dos direitos autorais, sendo a primeira publicação efetuada com circulação nacional e internacional, com distribuição gratuita e em língua portuguesa, no tipo de suporte e-book (formato PDF), efetuada com a autorização formal do autor cedida para entidades parceiras. Nenhuma parte desta obra pode ser impressa e redistribuição em papel, suporte digital ou quaisquer outros meios sem a permissão expressa do autor. O seu conteúdo não pode ser alterado ou transmitido em qualquer forma ou meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro sem permissão expressa do autor. Quando expressamente permitida a reprodução parcial ou total desta obra deve ser citada a fonte e a autoria. Este livro, ou parte dele, não pode ser alterado ou comercializado sem autorização do Editor e dos autores. Outros Livros Novas obras podem ser acessadas nas páginas eletrônicas das instituições parceiras, como a CERCEAU, www.cerceau.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) V658m Vieira, Ana Cláudia de Macêdo, 1968 - Manual sobre plantas alimentícias não convencionais [recurso eletrônico] / – 1.ed. – Dados eletrônicos. – Ana Cláudia de Macêdo Vieira, Caroline do Couto Nabarro da Conceição, Mirian Ribeiro Leite Moura, Nathalia Ferreira Soares, Raquel Lopes Emídio e Thatyane Veloso de Paula Amaral de Almeida. Rio de Janeiro : Cerceau, 2018. 191 p. : il. color. ; PDF Modo de acesso. World Wide Web ISBN 978-85-67211-87-9 1.PANCs – Plantas Alimentícias Não Convencionais 2. Botânica I. Título CDD: 581.632 v Editor RENATO CERCEAU Fotografia ANA CLÁUDIA DE MACÊDO VIEIRA CAROLINE DO COUTO NABARRO DA CONCEIÇÃO MIRIAN RIBEIRO LEITE MOURA NATHALIA FERREIRA SOARES RAQUEL LOPES EMÍDIO THATYANE VELOSO DE PAULA AMARAL DE ALMEIDA Conselho Editorial ELAINE RIBEIRO SIGETTE – JORGE JUAN ZAVALETA GAVIDIA – LACI MARY BARBOSA MANHÃES – LUIS ALFREDO VIDAL DE CARVALHO – RAIMUNDO JOSÉ MACÁRIO COSTA – RICARDO CERCEAU – RICARDO PIRES MESQUITA - SERGIO MANUEL SERRA DA CRUZ – BRUNNA CERCEAU MIRANDA CARVALHO Comitê Editorial da Série Extensão Universitária em Farmacobotânica ALEXANDRE DOS SANTOS PYRRHO – ANGELO SAMIR MELIM MIGUEL – ANDRÉ LUIS DE ALCANTARA GUIMARÃES – HILTON ANTONIO MATA DOS SANTOS – TATIANA UNGARETTI PALEO KONNO – VIRGÍNIA MARTINS CARVALHO Apoio PIBEX-UFRJ vi Sobre os Autores: Ana Cláudia de Macêdo Vieira Bióloga, formada pelo Instituto de Biologia (IB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Ciências Biológicas(Botânica) - Museu nacional (MN) - UFRJ e doutora em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é Professor Associado da Faculdade de Farmácia Universidade Federal do Rio de Janeiro. Caroline do Couto Nabarro da Conceição Farmacêutica graduada pelo curso de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi bolsista do programa PIBEX_UFRJ, desenvolvendo suas atividades no Laboratório de Farmacobotânica. Mirian Ribeiro Leite Moura Farmacêutica graduada pelo curso de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e doutorado em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente é Professor Associado da Faculdade de Farmácia Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nathalia Ferreira Soares Farmacêutica graduada pelo curso de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET-Farmácia), tendo desenvolvido suas atividades no Laboratório de Farmacobotânica. Raquel Lopes Emídio Farmacêutica graduada pelo curso de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET-Farmácia), tendo desenvolvido suas atividades no Laboratório de Farmacobotânica. Thatyane Veloso de Paula Amaral de Almeida Farmacêutica graduada pelo curso de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi bolsista do programa PIBEX_UFRJ e do Programa de Educação Tutorial (PET-Farmácia), tendo desenvolvido suas atividades no Laboratório de Farmacobotânica. vii LabFBot Laboratório de Farmacobotânica – UFRJ http://www.farmacia.ufrj.br/labfbot/ LIVRO: Plantas com atividade inseticida para uso em cultivo orgânico e agroecológico http://dx.doi.org/10.17655/9788567211848 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211848 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211848 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211848 https://www.researchgate.net/profile/Ana_Vieira8/publication/309571306_Plantas_com_atividade_inseticida_para_uso_em_cultivo_organico_e_agroecologico/links/5817f2f208aeffbed6c3426d.pdf?origin=publication_detail viii LabFBot Laboratório de Farmacobotânica – UFRJ http://www.farmacia.ufrj.br/labfbot/ LIVRO: Manual Sobre Uso Racional de Plantas Medicinais - Volume1 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211831 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211831 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211831 https://www.researchgate.net/profile/Ana_Vieira8/publication/311736167_Manual_Sobre_Uso_Racional_de_Plantas_Medicinais_-_Volume1/links/58587f9908aeffd7c4fbb786/Manual-Sobre-Uso-Racional-de-Plantas-Medicinais-Volume1.pdf?_sg%5B0%5D=Q6ocJj6U8YmU9B41npOsF_y3AwLgClstfp0m23xsPkLsut2BoBpmf8T_rDc0bu4Esq01J0GGWuZHFQb8Y9tfjQ.akvTjxBU7KVLNGEJaGsLn8qZjzpwuckre4rkFktSyWFljKSACcAofmxBaxN-zb5lEcsMM18WRsAKj88gv4CDoA&_sg%5B1%5D=qISSPSn6iu8onUFhumRtkdwsBpRMotO8af6RVC0_KeWAtZDqfeK_mI5Oz7ZlassbzOCM02qlJUcHUas4mUqVmuGVFolNuDh3xgFbUbhU8akj.akvTjxBU7KVLNGEJaGsLn8qZjzpwuckre4rkFktSyWFljKSACcAofmxBaxN-zb5lEcsMM18WRsAKj88gv4CDoA&_iepl= ix LabFBot Laboratório de Farmacobotânica – UFRJ http://www.farmacia.ufrj.br/labfbot/ LIVRO: Conhecendo as doenças transmitidas pela água http://dx.doi.org/10.17655/9788567211855 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211855 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211855 https://www.researchgate.net/profile/Ana_Vieira8/publication/329505784_Conhecendo_as_doencas_transmitidas_pela_agua/links/5c0bd8caa6fdcc494fe36bb0/Conhecendo-as-doencas-transmitidas-pela-agua.pdf?_sg%5B0%5D=wmghsAj4kS7ooDOPE2a75GhWLCMbymwRRnZnCcxqzCY4sPsdOD6habiN6Tp0h57unxxRavdHxYu5trNzcUkuLw.lhcnbXUutMnZiJAI_RjlEAMqYoZnkZkqHLFPJiyNr2Fcxw0L48Nz5udS9R6WiMVfApo3bm1rLTFe4dQ9_XKIDg&_sg%5B1%5D=f0azadiWbH3a8vxuGBeyFZvDsZuV6iZTpwaXaqyffnM4J9ZueHPc2F9v2jQVzmhsGZ9w9_qm4Psz8VE4OLdWwcK0gXamqRBG9pHeA2DkUdpK.lhcnbXUutMnZiJAI_RjlEAMqYoZnkZkqHLFPJiyNr2Fcxw0L48Nz5udS9R6WiMVfApo3bm1rLTFe4dQ9_XKIDg&_iepl= x LabFBot Laboratório de Farmacobotânica – UFRJ http://www.farmacia.ufrj.br/labfbot/ LIVRO: Plantas úteis da ordem zingiberales utilizadas pelos agricultores de Magé – Rio de Janeiro : utilizações populares, indicações, cultivo e colheita http://dx.doi.org/10.17655/9788567211862 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211862 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211862 http://dx.doi.org/10.17655/9788567211862 https://www.researchgate.net/profile/Ana_Vieira8/publication/329505774_Plantas_uteis_da_ordem_zingiberales_utilizadas_pelos_agricultores_de_Mage_-_Rio_de_Janeiro_utilizacoes_populares_indicacoes_cultivo_e_colheita/links/5c0c29baa6fdcc494fe4a3d8/Plantas-uteis-da-ordem-zingiberales-utilizadas-pelos-agricultores-de-Mage-Rio-de-Janeiro-utilizacoes-populares-indicacoes-cultivo-e-colheita.pdf?_sg%5B0%5D=opxg2fEGRqPGbKH2SeCpN5SpNlbdlSFivHeFYAkxKCimrAiGLN5y1XbsqRnnZf7-5LcySuzf2P48MnK8NPwQMA.LZU7SmCLhFKU0a_ls-FmBI2UnG9oNFAPQ96s0bQIqqPOCiWJwlkLsJ37wQC_CIhat9ReEOhFt3h5xxWdGbfyhA&_sg%5B1%5D=aNz5UEW9KxAdkKmImKcgyjiU1qFzD3PX9Di8CsrVHZn9n4DMul8BlVFPnuLLfbsdSIIWi7a2kcYof0D7u_3UVu6vCSfYvf2q3_MpFLWbk11z.LZU7SmCLhFKU0a_ls-FmBI2UnG9oNFAPQ96s0bQIqqPOCiWJwlkLsJ37wQC_CIhat9ReEOhFt3h5xxWdGbfyhA&_iepl= http://dx.doi.org/10.17655/9788567211862 xi Dedicatória Em uma orquestra ou em um coro, os instrumentos e cantores que fazem solo tem maior destaque. Com isso, tendemos a associar que estes são os mais importantes, e esquecemos do papel fundamental das segundas vozes como parte essencial da estrutura musical. Assim é na academia. Muitas vezes a pesquisa se afigura como grande estrela e esquecemos que a extensão é a verdadeira ponte com a sociedade e que retroalimenta todas as atividades, gerando novos temas para a pesquisa e trazendo novas perspectivas para a formação acadêmica dos estudantes. Aprendi a fazer extensão com a amiga e professora Maria Cristina Lemos Ramos, a quem dedico esta série de livros. Cris, esteja onde estiver, receba toda a gratidão da equipe do LabFBot, pelas portas abertas e pelas inúmeras oportunidades que você nos proporcionou. xii Apresentação O uso tradicional de plantas faz parte da cultura brasileira, sendo empregadas por todas as nações que contribuíram para a formação do nosso povo. Muitas vezes as informações sobre o uso de plantas são passadas de geração a geração mas carecem de padronização e comprovação de eficácia ou de segurança de uso. A academia, representada pela universidade, se beneficia das informações oriundas do conhecimento popular e, através da pesquisa integrada à extensão, devolve ao público o material pesquisado. Em 2012 teve início um projeto de longa duração desenvolvido em parceria do Laboratório de Farmacobotânica (LabFBot) da Faculdade de Farmácia da UFRJ e diversas entidades dos municípios de Magé e Guapimirim, no estado do Rio de Janeiro, por iniciativa do Comitê Gestor da Micro bacia do Rio Cachoeira Grande (COGEM). O LabFBot desenvolve na região o projeto de extensão intitulado ¨Uso e cultivo racionais de plantas medicinais e plantas alimentícias não convencionais (PANC) pelos agricultores de Magé e Guapimirim, RJ¨ em parceria com o Programa de Educação Tutorial (PET-Farmácia) realizado por docentes e discentes da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob coordenação da Profa. Ana Cláudia de Macêdo Vieira. O projeto conta com a parceira da EMATER-RIO, atuante nas regiões de Magé e Guapimirim, da Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Cachoeira Grande (APPCG) e do COGEM, que envolvem os agricultores da Micro bacia do Rio Cachoeira Grande e a Prefeitura Municipal de Magé, através de sua Secretaria Municipal de Agricultura e Desenvolvimento. Este projetoestá em desenvolvimento desde 2012 e visa a aproximação da academia à população, com trocas de informações entre extensionistas, agricultores e pesquisadores para aprimoramento dos conhecimentos técnicos e científicos dos mesmos em temas relacionados a uso e cultivo de plantas medicinais e plantas alimentícias não convencionais. Pelos agricultores foram solicitadas a elaboração de manuais que os orientassem em diversos temas, assim como a realização de minicursos e oficinas que permitissem maior aprofundamento em questões diversas. xiii O LabFBot vem atuando, através do trabalho da equipe de docentes e estudantes de graduação, e pós-graduação, bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET-Farmácia), do Ministério da Educação, PIBEX-UFRJ e PROFAEX da Pró-reitoria de Extensão (PR-5) da UFRJ no atendimento dessas demandas. Este manual é uma resposta aos anseios da comunidade rural da região da Microbacia do Rio Cachoeira Grande e é dedicado à Profa. Maria Cristina Lemos Ramos (in memoriam), que intermediou os contatos entre os grupos e deu início à essa parceria de aprendizado e trocas de saberes que tanto tem auxiliado na formação dos alunos da Faculdade de Farmácia da UFRJ. O presente manual reúne a produção de pesquisa e extensão desenvolvida por quatro ex-alunas da Faculdade de Farmácia, agora farmacêuticas, sob orientação das professoras Ana Cláudia Vieira e Mirian Ribeiro Leite Moura, ao longo de sua formação acadêmica. São elas: Caroline do Couto Nabarro da Conceição, Nathalia Ferreira Soares, Raquel Lopes Emídio e Thatyane Veloso de Paula Amaral de Almeida. Foram estudadas as seguintes plantas: • Beldroega grande • Bertalha coração • Cará do norte • Inhame • João Gomes • Ora-pró-nobis (de flor vermelha) Após os textos dos trabalhos está um anexo com informações simplificadas de cada uma das plantas tratadas no presente livro que facilitarão o acesso às informações pelo público em geral. Todas as imagens utilizadas no manual são originais, tendo sido as imagens macroscópicas fotografadas pela Profa. Ana Cláudia Vieira que as cedeu para uso ao longo do texto e as imagens microscópicas foram obtidas pelas autoras das monografias de cada TCC. xiv Agradecimentos Este manual foi elaborado com o auxílio de várias entidades e gostaríamos de deixar aqui nosso agradecimento à EMATER-RIO, atuante nas regiões de Magé e Guapimirim, aos agricultores da Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Cachoeira Grande (APPCG) e do Comitê Gestor da Microbacia do Rio Cachoeira Grande (COGEM), à Prefeitura Municipal de Magé, através de sua Secretaria Municipal de Agricultura e Desenvolvimento. Sem esse apoio fundamental, não poderíamos ter desenvolvido nosso trabalho. Gostaríamos de agradecer às entidades de fomento que, através de liberação de recursos, sob forma de verba de custeio ou de bolsas, permitiram a realização de nossas atividades, desde às visitas à região até a análise dos materiais apresentados nas oficinas realizadas. Agradecemos à FAPERJ, ao PET-SiSU do Ministério da Educação, ao PIBEX-UFRJ e à Faculdade de Farmácia da UFRJ. Finalmente, mas, não por último, queríamos agradecer aos agricultores da microbacia do Rio Cachoeira Grande que, tão carinhosamente nos receberam em suas casas, em suas propriedades, nos acolheram e, tanto nas visitas quanto nas oficinas, se propuseram a trocar saberes e nos fornecer as dúvidas e demandas necessárias para a elaboração deste manual. Nosso sincero muito obrigado a cada um de vocês. Esperamos que este livro corresponda ao que vocês esperavam de nós. 1 Sumário Introdução......................................................................................................... 2 Capítulo 1 ................................................................,........................................ 5 Plantas alimentícias não convencionais (PANC) utilizadas nos municípios de Magé e Guapimirim: Cará e Inhame Capítulo 2 ....................................................................................................... 42 Estudo anatômico e nutricional de folhas de Talinum fruticosum (L.) Juss e Talinum paniculatum (Jack) Gaertn (Talinaceae) Capítulo 3 ....................................................................................................... 80 Bertalha menor (Anredera cordifolia (Ten.) Steenis): Estudo morfológico, anatômico, microquímico e bromatológico Capítulo 4 ..................................................................................................... 123 Estudo anatômico e nutricional de folhas de Pereskia bleo (Kunth) DC (Cactaceae) Anexo - Monografias simplificadas das espécies estudadas ................. 165 Beldroega grande .................................................................................... 166 Bertalha coração ..................................................................................... 169 Cará do norte .......................................................................................... 174 Inhame ..................................................................................................... 178 João Gomes ............................................................................................. 182 Ora-pró-nobis (de flor vermelha) .............................................................. 185 2 Introdução As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) são plantas que possuem amplo potencial alimentício por serem fontes de diversos nutrientes. Porém, ao longo do tempo estes vegetais caíram em desuso por conta de fatores diversos, mas, podemos citar, entre tantos, a urbanização de diversas regiões com redução de áreas para quintais e hortas caseiras, a prática de cultura extensiva que leva muitas vezes à monocultura, a migração de jovens do campo para a área urbana conduzindo à quebra na cadeia de transmissão de saberes. Os vegetais cultivados em horta são denominados hortaliças. Elas são conhecidas como alimentos reguladores por serem ricas em sais minerais, vitaminas e fibras, importantes para regular funções do corpo, como por exemplo, auxiliando no bom funcionamento do intestino. Outros benefícios das hortaliças estão relacionados à fácil digestão, baixas calorias e a presença de outros nutrientes. As hortaliças não convencionais possuem influência na alimentação de populações de determinas localidades, sendo cultivadas, principalmente, por agricultores familiares e, são amplamente utilizadas para compor pratos típicos destas regiões (BRASIL, 2010; 2015). No entanto, iniciativas do governo federal e de governos locais vem trazendo nova luz à necessidade de ampliação de estudos que garantam a disseminação do uso destas plantas. Além disso, muitasdas espécies convencionais cultivadas de modo extensivo tem baixos valores nutricionais e o uso massivo de defensivos químicos para sua produção trazem maiores danos para a saúde do consumidor. A maior parte das espécies de PANC são espontâneas ou ruderais, exigindo pouco ou nenhum uso de defensivos e demais insumos agrícolas para sua produção, o que vai ao encontro das expectativas de muitos agricultores da região que adotaram sistemas orgânicos e agroecológicos de cultivo e que comercializam seus produtos em feiras em diversas cidades. Plantas ruderais são aquelas que crescem em ambientes alterados, como por exemplo, terrenos baldios ou beiras de estradas. As plantas espontâneas são aquelas que fazem parte do ambiente e não precisam ser semeadas para "aparecerem" em meio a plantações ou jardins. Segundo Kinupp (2007), é necessário o desenvolvimento de pesquisas a respeito do potencial alimentício de plantas silvestres em desuso e desconhecidas, por conta do crescimento populacional,migração da população rural para regiões urbanas e deficiências nutricionais em diversas camadas da população. O consumo destas plantas precisa ser feito de forma segura para que possam contribuir para uma 3 alimentação saudável sem, no entanto, acarretarem em problemas de saúde associados à sua ingestão. A análise de composição centesimal avalia a proporção de grupos homogêneos em 100 g de alimento. Os grupos avaliados são: umidade, cinzas, lipídeos, proteínas, carboidratos e fibras. A análise nutricional é de suma importância na caracterização de alimentos comercializados in natura, de forma a avaliar seus constituintes e suas funções, proporcionando informações nutricionais sobre estes alimentos visando reforçar seu uso em substituição àqueles considerados convencionais. Referências importantes na condução deste tipo de análise, as tabelas fornecidas pelos projetos TACO e TBCA-USP, fornecem subsídios para balizar estes estudos (NEPA, 2011; USP, 1998). Uma preocupação constante ao se consumir plantas pouco conhecidas, é a presença de componentes químicos que são considerados fatores antinutricionais ou antinutrientes. Estes fatores são compostos presentes em uma extensa variedade de alimentos de origem vegetal que, ao serem ingeridos, reduzem o valor nutritivo destes alimentos e interferem na digestibilidade, absorção ou utilização de nutrientes (BENEVIDES et al, 2011). Fatores antinutricionais comuns em hortaliças são: o oxalato que pode precipitar o cálcio e formar cristais insolúveis aumentando o risco de cálculos renais; os taninos (polifenóis) que podem precipitar proteínas, carboidratos e minerais desencadeando a diminuição do valor nutricional (BENEVIDES et al, 2011). Outras substâncias consideradas antinutricionais são: nitratos e nitritos, fitatos, glicosídeos cianogênicos e inibidores de proteases. Uma das estratégias para minimizar a ação destas substâncias é o processo de cozimento destes alimentos, uma vez que poderá promover a inativação ou tornar menos concentradas algumas destas substâncias (BENEVIDES et al, 2011). O Programa de Educação Tutorial (PET), e o sistema de bolsas de extensão PIBEX, desenvolvidos pelo governo federal, possibilitam a realização de atividades relacionadas ao ensino, pesquisa e extensão. Através de oficinas periódicas realizadas pelo PET-Farmácia e bolsistas PIBEX do LabFBot, com o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) nos Municípios de Magé e Guapimirim, o grupo de agricultores que participa dos projetos do LabFBot lá desenvolvidos, solicitou maiores informações a respeito de algumas PANC que são usadas por eles como alimentos, tais como: Beldroega-grande (Talinum triangulare (Jacq.) Willd), Bertalha-menor (Anredera cordifolia (Ten.) Steenis), João Gomes (Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn.), Ora-pro-nobis (Pereskia bleo (Kunth) DC), Cará (Dioscorea alata L.) e Inhame (Colocasia esculenta (L.) Schott), entre outras. As 4 informações solicitadas eram a respeito da composição nutricional destas plantas, seu uso correto e a segurança da ingestão. Sendo assim, os objetivos do presente trabalho foram a busca de informações sobre as algumas das espécies de Plantas Alimentícias Não Convencionais cultivadas e consumidas nos Municípios de Magé e Guapimirim, para assegurar seu uso de forma adequada pela população local e para os consumidores que compram os produtos comercializados pelos agricultores. Referências BENEVIDES, C. M. J.; SOUZA, M. V.; SOUZA, R.D.B.; LOPES,M. V. Fatores antinutricionais em alimentos: Revisão. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, 18(2): 67-79, 2011. BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo. Manual de hortaliças não-convencionais. Brasília, 2010. 92 p BRASIL, Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros. 2. ed. Brasília, Ministério da Saúde, 2015. 484 p. KINUPP, V.F. Plantas alimentícias não convencionais da região metropolitana de Porto Alegre, RS. 2007. 590 p. Tese (Doutorado em Fitotecnia) - Faculdade de Agronomia, Universidade federal do Rio Grande do Sul, RS. NEPA – NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ALIMENTAÇÃO. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO). 4ª ed. Campinas: NEPA – UNICAMP, 2011. 164 p. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO(USP). Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental/BRASILFOODS (1998). Tabela Brasileira de Composição de Alimentos-USP. Versão 5.0. Disponível em: http://www.fcf.usp.br/tabela. Acesso em: 06 Abr. 2015. 5 Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) utilizadas nos Municípios de Magé e Guapimirim: Cará e Inhame Capítulo 1 6 RESUMO Diversas plantas são utilizadas como alimentos e algumas são consumidas por grupos específicos ou tem apenas uso regional, sendo estas as Plantas Alimentícias Não- Convencionais (PANC). O termo PANC, criado por Valdely Ferreira Kinupp, diz respeito às plantas que possuem uma ou mais partes comestíveis, possuindo ocorrência espontânea ou sendo cultivadas, nativas ou exóticas e que não possuem seu consumo disseminado (NOUHUYS et al, 2014). Na região de Magé e Guapimirim algumas PANC são produzidas, comercializadas e consumidas pelos agricultores e seus familiares. Destacamos o Cará (Dioscorea alata L.) e o Inhame (Colocasia esculenta (L.) Schott), segundo a denominação local. O presente trabalho objetivou a análise nutricional (composição centesimal e teores de ferro e fósforo), testes microquímicos, histoquímicos e a composição de material informativo para divulgação a população local. Amostras das espécies em estudo foram coletadas e as análises nutricionais foram realizadas de acordo com as Normas do Instituto Adolfo Lutz- IAL (2008). As análises para caracterização da composição centesimal foram realizadas em base úmida, em triplicatas. Avaliou-se, para amostras dos tubérculos crus e cozidos, o teor de umidade, resíduo mineral fixo, proteínas, extrato etéreo, carboidratos, ferro e fósforo. As amostras de cará cru demonstraram os seguintes valores: Cinzas: 1,39 g; Umidade: 62,28 % Lipídeos: 0,7 g; Proteína: 2,99 g; carboidratos: 32,65 g; ferro: 1,30 mg e fósforo 40,78 mg. E, para as amostras de cará cozido foram: Cinzas: 0,54 g; Umidade: 80,48 % Lipídeos: 0,2 g; Proteína: 2,98 g; carboidratos: 15,83 g; ferro: 1,16 mg e fósforo 30,52 mg. Os valores para a amostras cruas de inhame foram: Cinzas: 0,93 g; Umidade: 68,75%; Lipídeos: 0,6 g; Proteína: 2,63 g; carboidratos: 27,04; ferro: 2,35 mg e fósforo: 44,73 mg. E para as amostras de inhame cozido foram: Cinzas: 0,94 g; Umidade: 77,02%; Lipídeos: 0,1 g; Proteína: 2,30 g; carboidratos: 19,64; ferro: 1,83 mg e fósforo: 36,55 mg. Os testes microquímicos revelaram que ambas as espécies não apresentam fatores antinutricionais que possam acarretar em danos a saúde. Os testes histoquímicos mostraram a extensa quantidade de grânulos de amido em toda a região parenquimática e a presença de substâncias de natureza péctica e celulósica em ambas as espécies. Os resultados obtidos mostram dados nutricionais relevantes que reforçam seu emprego na alimentação. Desta forma, estes tubérculos com grande potencial alimentício são boas alternativas para enriquecer o cardápio. Palavras-chave: Composição Centesimal, PANC, Cará, Inhame, Tubérculos. http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-46275 7 1 INTRODUÇÃO As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) são plantas que possuem amplo potencial alimentício por serem fontes de diversos nutrientes. Porém, ao longo do tempo estes vegetais caíram em desuso. Os vegetais cultivados em horta são denominados hortaliças. Elas são conhecidascomo alimentos reguladores por serem ricas em sais minerais, vitaminas e fibras, importantes para regular funções do corpo, como por exemplo, auxiliando no bom funcionamento do intestino. Outros benefícios das hortaliças estão relacionados à fácil digestão, baixas calorias e a presença de outros nutrientes. As hortaliças não convencionais possuem influencia na alimentação de populações de determinas localidades, sendo cultivadas, principalmente, por agricultores familiares e, são amplamente utilizadas para compor pratos típicos destas regiões (BRASIL, 2010). Segundo Kinupp (2007), é necessário o desenvolvimento de pesquisas a respeito do potencial alimentício de plantas silvestres em desuso e desconhecidas, por conta do crescimento populacional, migração da população rural para regiões urbanas e deficiências nutricionais em diversas camadas da população. O autor também considera que plantas nativas e exóticas naturalizadas não são a solução final para os problemas anteriormente mencionados. No entanto, podem atuar como importante suplemento na dieta alimentar, fonte de renda complementar, fixação do homem no campo, redução dos impactos ambientas, além da valorização dos recursos naturais. O Programa de Educação Tutorial (PET), desenvolvido pelo governo federal, possibilita a realização de atividades relacionadas ao ensino, pesquisa e extensão. Através de oficinas periódicas realizadas pelo PET-Farmácia com o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) nos Municípios de Magé e Guapimirim, o grupo de agricultores que faz parte do projeto solicitou maiores informações a respeito de algumas PANC que são usadas por eles como alimentos, tais como: Beldroega-grande (Talinum triangulare (Jacq.) Willd), Bertalha-menor (Anredera cordifolia (Ten.) Steenis), João Gomes (Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn.), Taioba (Xanthosoma sagittifolium (L.) Schott), Ora-pro-nobis (Pereskia bleo (Kunth) DC), Cará-moela (Dioscorea bulbifera L.), Cará (Dioscorea alata L.) e Inhame (Colocasia esculenta (L.) Schott). As informações solicitadas eram a respeito da composição nutricional destas plantas, seu uso correto e a segurança da ingestão. http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-2513617 http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-360634 http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-2513509 http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-2513509 http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-215144 8 As espécies estudadas no presente trabalho são os órgãos subterrâneos do Cará (Dioscorea alata L.) e do Inhame (Colocasia esculenta (L.) Schott), segundo a denominação local. Estas espécies estão incluídas no Manual de Hortaliças Não- Convencionais distribuído pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Foram encontradas em diferentes referências as denominações Cará, Inhame e Taro, gerando contradições no momento de identificar as espécies em estudo e correlacioná-las aos seus nomes vulgares. Na região norte e nordeste do país o nome Inhame se refere ao Cará (Dioscorea sp.), enquanto que na região sudeste o Inhame corresponde ao gênero Colocasia, sendo este também denominado Taro. Tendo em vista esta problemática, foi realizado o “I Simpósio Nacional sobre as Culturas do Inhame e do Cará”, no Espírito Santo, em 2001, com a finalidade de padronizar a terminologia vulgar destas espécies, seguindo a nomenclatura internacional. Desta forma, os tubérculos da família Dioscoreaceae passaram a ser denominados Inhame (Dioscorea spp.) e os da família Araceae, Taro (Colocasia esculenta). O “Inhame” (Colocasia esculenta) passa a ter a denominação definitiva de “Taro” e as Dioscoreaceae (Dioscorea spp.), chamadas popularmente no norte/nordeste brasileiro de “Carás” e “Inhames”, passam a ter a denominação definitiva de “Inhame” (PEDRALLI, 2002). No entanto, no presente trabalho, será utilizada a denominação vulgar adotada pelos agricultores de Magé e Guapimirim, conforme citado no início do parágrafo anterior. O Cará (Dioscorea alata) e o Inhame (Colocasia esculenta) são hortaliças muito rústicas, de clima tropical, que apresentam bom desenvolvimento sob precipitações pluviométricas anuais em torno de 1.500 mm. Produzem tubérculos comestíveis que integram a dieta humana, ricos em carboidratos, saudáveis e de alta qualidade nutritiva, principalmente como fonte de energia, contendo apreciáveis teores de tiamina (vitamina B1), riboflavina (vitamina B2), niacina (vitamina B5), além de vitamina A e ácido ascórbico (MASCARENHAS e RESENDE, 2002). http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-239747 http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-46275 9 1.1 Cará (Dioscorea alata L.) Esta planta pertence à Família Dioscoreaceae e, segundo a FAO (2003), 96% da produção mundial de tubérculos de Dioscorea é realizada no continente africano. Em contrapartida, a produção na América do Sul corresponde apenas a 0,2% da produção mundial. Os tubérculos de Dioscorea são alimentos básicos em muitas partes da África e Sudeste Asiático. No Pacífico Sul, esses tubérculos são uma cultura alimentar significativa, respondendo por 20%, 8,1% e 4,6% do consumo total de calorias da dieta no Reino de Tonga, Ilhas Salomão e Papua Nova Guiné, respectivamente (FAO, 2003). De acordo com Kirizawa et al. (2015), acredita-se que haja 139 espécies de Dioscorea distribuídas por todos os estados brasileiros, sendo 103 endêmicas. Destas, as mais cultivadas no Brasil são D. alata, D. cayennensis Lam e D. rotundata Poir. O consumo desta hortaliça é superior ao da batata-doce, da mandioca e da própria batata (ANUÁRIO, 1994 apud HEREDIA et al, 2000). Trata-se de uma planta rústica que geralmente se apresenta como uma herbácea trepadeira, contendo tubérculos subterrâneos comestíveis (EPAMIG, 2011). Estes tubérculos são, preferencialmente, direcionados ao consumo in natura por conta da escassez de processos industriais e pelo elevado teor de mucilagem que dificulta a liberação de amido do tecido vegetal (ALVES, 2000 apud LIPORACCI, 2005). De acordo com a FAO (2003), as condições ideais para seu armazenamento são: local arejado, temperaturas amenas e inspeção regular dos produtos (ou matérias-primas), sendo que a temperatura ideal para o cultivar D. alata é de 12,5 °C e seu tempo de armazenamento pode chegar a 8 semanas. Suas túberas são consumidas fritas, cozidas, assadas ou usadas para o preparo de pães (BRASIL, 2015). Adicionalmente, o cará é reconhecido como depurativo de sangue e indicado para o fortalecimento do sistema imunológico (BRASIL, 2010). Para esta espécie já foram identificadas variações relacionadas ao processo de seleção humana e às recombinações genéticas. Estes eventos podem ter ocorrido pelo cruzamento natural entre plantas que possibilitou a origem de outras com características diferentes daquelas variedades inicialmente cultivadas (CASTRO et al, 2012). http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-239747 10 Trata-se de uma espécie de clima tropical que adquire melhor desenvolvimento em regiões quentes e úmidas, não tolerando frio e geadas. Podem ser plantadas em diversos tipos de solo, mas desenvolvem-se melhor em solos leves de textura pouco arenosa, profundos, com boa drenagem, ricos em matéria orgânica e com boa capacidade de retenção de umidade. O plantio deve ser realizado em covas altas para prevenir o apodrecimento dos tubérculos e facilitar o arejamento e a drenagem do solo (BRASIL, 2010). Com isso, levando em conta as variações de espaço da cova durante o plantio, o cará passa a adquirir diferentes formatos e tamanhos. Estas variações não são úteis quando se pensa na aplicação industrial desta hortaliça, pois inviabiliza o uso de descascadores industriais. Assim, esta etapa é realizada de forma manual ou química (PAULA et al, 2012). 1.2 Inhame (Colocasia esculenta (L.) Schott) Estaespécie pertence a família Araceae e ao gênero Colocasia e, de acordo com a FAO (1999), acredita-se que sua origem seja o sul da África ou sudeste da Ásia. Trata-se de um alimento de grande importância tanto na Ásia como na África, apresentando grande importância sócio-cultural, relacionado ao folclore e tradições orais, e como base alimentar (FAO, 1999). Trata-se de uma espécie que se desenvolve preferencialmente em regiões de temperaturas elevadas e pluviosidade, no entanto, é resistente a estresses ambientais como deficiência de água, variações de luminosidade e insolação, sendo também resistente a doenças. (BRASIL, 2010). OLIVEIRA et al (2011) realizaram um estudo com rizomas de inhame chinês oriundos de Magé, avaliando o crescimento e acúmulo de nutrientes em C. esculenta sob diferentes níveis de sombreamento artificial. Neste trabalho, eles concluíram que a restrição de 75% de luz sobre as plantas atrasou em 30 dias a formação de rizomas-filhos. Além disso, foi observado que a restrição de luz não influencia no acúmulo de macronutrientes. Desta forma, tais resultados corroboram com o fato desta espécie se desenvolver bem em condições adversas. No Brasil, o Inhame é cultivado principalmente na região sudeste. Produz rizomas, um central e vários rizomas laterais, que apresentam elevados teores de amido e proteínas, quantidades razoáveis de vitaminas do complexo B e açúcares, além de alta digestibilidade, tendo valor nutricional similar ao dos tubérculos da batata inglesa. A coloração de suas tuberosas comestíveis é variável e as mais comuns são as cores branca e cinza-arroxeada (BRASIL, 2010). http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-46275 11 O inhame é a principal hortaliça da família Araceae, sendo de grande importância econômica nos municípios da Baixada Fluminense no estado do Rio de Janeiro, como Cachoeiras de Macacu e Magé, no qual a produção desta hortaliça nestes municípios é de mais de 8.000 t/ ano, representando cerca de 40% da produção da cultura no estado (CIDE, 2007 apud OLIVEIRA et al, 2011). Durante o processamento de informações e aquisição das espécies a serem analisadas, foi relatado por um dos agricultores de Magé que, quando o inhame é utilizado no preparo de sucos e este é colhido entre os meses de junho a agosto, a irritação ocasionada na mucosa é mínima quando comparada ao inhame colhido em outras épocas do ano. Tal fato pode estar relacionado a presença de cristais de oxalato de cálcio. De acordo com a concentração destes cristais, as variedades de inhame são classificadas como "mansas" quando em baixas concentrações ou "bravas" com concentrações maiores de oxalato de cálcio. Tal componente pode ter formato de cristais ou agulhas que ao serem mastigados proporcionam desconforto na mucosa, podendo ocasionar edemas. Desta forma, torna-se necessário o cozimento antes da ingestão para evitar a ação urticante nas mucosas da boca e da garganta, por eles ocasionadas, além de cautela durante a utilização destes rizomas crus no preparo de sucos (BRASIL, 2010). As variedades de inhame com menores teores oxalato de cálcio são chinês, japonês e macaquinho, sendo a primeira utilizada no presente estudo (BRASIL, 2010). Cristais de oxalato de cálcio são estruturas comuns em plantas da família Araceae (BRASIL, 2015). Esta família botânica é constituída de 104 gêneros e, aproximadamente, 3.500 espécies, no qual muitas são utilizadas na ornamentação e alimentação (JBRJ, 2015). Esta família compreende plantas ornamentais que são reconhecidamente tóxicas, como Copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng), Costela-de-Adão (Monstera deliciosa Liebm), Antúrio (Anthurium andraeanum Linden ex André), Comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia amoena Bull) e Espada-de-São Jorge (Sansevieria trifasciata Prain). Segundo o SINITOX (Sistema Nacional de Informações Toxico Farmacológicas), o número de casos registrados de intoxicação humana por plantas em 2012 foi correspondente à um total de 1.185 e, dentre as 16 plantas mais relacionadas com casos de intoxicação no Brasil, 4 pertencem a mesma família botânica do Inhame. http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-129588 http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-10633 http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-10633 http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-286984 12 1.3 Análise de Composição Centesimal A análise de composição centesimal avalia a proporção de grupos homogêneos em 100 g de alimento. Os grupos avaliados são: umidade, cinzas, lipídeos, proteínas, carboidratos e fibras. A análise nutricional é de suma importância na caracterização de alimentos comercializados in natura, de forma a avaliar seus constituintes e suas funções, proporcionando informações nutricionais sobre estes alimentos visando reforçar seu uso em substituição àqueles considerados convencionais. Sendo assim, torna-se importante a avaliação nutricional do Cará e do Inhame, visando comparar a composição das variedades produzidas nos municípios de Magé e Guapimirim com o que já se tem descrito na literatura. Os projetos TACO e TBCA-USP foram desenvolvidos com finalidade de disponibilizar informações de composição nutricional de diversos alimentos, sendo mencionados tanto os convencionais, como também algumas PANC. O projeto TACO, coordenado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA) da UNICAMP e com financiamento do Ministério da Saúde e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à FOME é uma iniciativa para proporcionar dados de um grande número de nutrientes em alimentos nacionais e regionais obtidos por meio de amostragem representativa e análises realizadas por laboratórios com competência analítica comprovada por estudos interlaboratoriais, segundo critérios internacionais (NEPA, 2011). A TBCA-USP foi desenvolvida pelo Projeto Integrado de Composição de Alimentos, coordenado pelo Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de Ciências Farmacêuticas - USP e BRASILFOODS (Rede Brasileira de Dados de Composição de Alimentos). A meta prioritária do Projeto é a divulgação de dados nacionais de qualidade em composição de alimentos, por meio desta tabela (USP, 1998). Sendo assim, ambas as tabelas de composição nutricional mencionadas foram utilizadas de forma comparativa nas amostras analisadas no presente trabalho. 1.4 Fatores Antinutricionais Além de componentes estruturais, existem componentes químicos característicos de hortaliças em geral, que são considerados fatores antinutricionais ou antinutrientes. Estes fatores são compostos presentes em uma extensa variedade de alimentos de origem vegetal que, ao serem ingeridos, reduzem o valor nutritivo destes alimentos e interferem na digestibilidade, absorção ou utilização de nutrientes (BENEVIDES et al, 2011). Fatores antinutricionais comuns em hortaliças são: o http://www.fcf.usp.br/ 13 oxalato que pode precipitar o cálcio e formar cristais insolúveis aumentando o risco de cálculos renais; os taninos (polifenóis) que podem precipitar proteínas, carboidratos e minerais desencadeando a diminuição do valor nutricional (BENEVIDES et al, 2011), além de estarem relacionados a casos de adstringência e irritação da mucosa (SGARBIERI, 1987 apud BENEVIDES et al, 2011). Outras substâncias consideradas antinutricionais são: nitratos e nitritos, fitatos, glicosídeos cianogênicos e inibidores de proteases. Uma das estratégias para minimizar a ação destas substâncias é o processo de cozimento destes alimentos, uma vez que poderá promover a inativação ou tornar menos concentradas algumas destas substâncias (BENEVIDES et al, 2011). Com base nas estruturas relacionadas à toxicidade de plantas, como os cristais e fatores antinutricionais, se faz necessário uma avaliação microscópica e microquímica buscando evidenciar a presença destas estruturas nos tubérculos em estudoe sugerir formas para seu uso seguro. 14 2 OBJETIVOS O presente trabalho teve como objetivos a avaliação da composição nutricional dos tubérculos dos municípios de Magé e Guapimirim, realizada por meio da análise centesimal e as análises microquímicas e histoquímicas. 2.1 Específicos - Analisar a composição centesimal, e os teores de ferro e fósforo comparando-os aos dados descritos na literatura. - Realizar análises histoquímicas e microquímicas para avaliar a presença de estruturas e fatores antinutricionais envolvidos em relatos de toxicidade, que podem causar danos ao consumidor. - Divulgar os dados obtidos para os agricultores da região de Magé e Guapimirim - RJ. 15 3 MATERIAIS E MÉTODOS As espécies estudadas Cará (Dioscorea alata ) e Inhame (Colocasia esculenta) foram coletas durante visitas técnicas aos municípios de Magé e Guapimirim, no mês de abril de 2014 e abril de 2015. Parte do material obtido dos tubérculos das espécies em estudo foi enviada ao LabCBroM para a realização das análises para as determinações da composição centesimal e dos teores de ferro e fósforo. O restante do material foi utilizado para as análises histoquímica e microquímica no LabFBot. 3.1 Análise de Composição Centesimal A composição centesimal consiste em determinar a proporção de grupos homogêneos de substâncias que estão presentes em 100g do alimento. Estas substâncias em estudo são: umidade, cinzas, lipídeos, proteína bruta e carboidratos. Além destes, também foram avaliados os teores de minerais como ferro e fósforo. Todas as análises do material in natura e cozido foram realizadas, em triplicatas, com resultados em base úmida de acordo com as Normas do Instituto Adolfo Lutz- IAL (2008). As amostras obtidas foram previamente lavadas e descascadas. Para a análise dos tubérculos cozidos, foram colocados em recipiente refratário contendo água e aquecidos em forno micro-ondas até que fosse finalizado o cozimento. A determinação do ponto de cozimento foi observada ao inserir um palito e este ter perfurado o tubérculo com facilidade, sem desmanchá-lo. Tanto as amostras cozidas como as cruas foram trituradas em multiprocessador, de forma a facilitar as pesagens para as análises e aumentar a superfície de contato da porção do alimento a ser analisada, garantindo melhores resultados. 3.1.1 Determinação de Cinzas Foram pesados 5g de cada amostra em cadinhos previamente identificados e pesados. A seguir, foram levados a bico de Bunsen para queima prévia da matéria orgânica. Em seguida, foram colocados em mufla a 550 °C durante um período de 4 horas, para a incineração das amostras. As amostras foram transferidas para estufa a 105 °C e, em seguida, transferidas para um dessecador. Após atingir a temperatura ambiente, os cadinhos foram pesados. O cálculo para avaliar a proporção de resíduo inorgânico está demonstrado abaixo. http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-239747 16 Cálculo: (peso do cadinho com cinzas)− (peso do cadinho vazio) × 100 Massa da amostra (g) 3.1.2 Determinação de Umidade Foram pesados 5g de cada amostra em cápsulas de metal contendo areia previamente seca e taradas. A seguir, foram colocadas em estufa a 105 °C. As cápsulas foram pesadas em 3 tempos (2h, 3h e 4h) após o início do aquecimento até que o peso se mantivesse constante. Cálculo: (peso da cápsula com umidade) − (peso da cápsula sem umidade) × 100 Massa da amostra (g) 3.1.3 Determinação de Lipídeos As amostras submetidas à perda de umidade foram posteriormente utilizadas para a determinação de lipídeos. Cada amostra foi transferida para um cartucho de Soxhlet e este inserido em um aparelho extrator tipo Soxhlet conectado a um refrigerador de bolas. Cada extrator foi acoplado a um balão previamente tarado. Foi adicionado éter etílico ao extrator. O sistema foi mantido em aquecimento sobre uma chapa elétrica durante 5 horas. O balão contendo o resíduo lipídico extraído foi colocado por 2 horas em estufa a 105°C e, posteriormente, pesado. Cálculo: (peso do balão com resíduo lipídico) − (peso do balão vazio) × 100 Massa da amostra (g) 3.1.4 Determinação de Proteínas É baseada na determinação de nitrogênio pelo processo de digestão Kjeldahl. Foram pesados aproximadamente 0,5 gramas da amostra em papel vegetal e este foi transferido para um tubo de Kjeldahl. A seguir, adicionou-se 10 mL de ácido sulfúrico 17 (H2SO4) e aproximadamente 0,5 gramas de sulfato de cobre (CuSO4) como catalisador e aquecido até total digestão do material em capela de exaustão. O conteúdo do tubo foi transferido para o balão volumétrico de 100 mL e avolumado com água destilada. Foram transferidos 10 mL deste volume para um novo tubo de Kjeldahl, acrescentou-se 10 mL de NaOH 40% (m/v) e 3 gotas de indicador fenolftaleína. O tubo foi acoplado a um destilador de nitrogênio, aquecido à ebulição e destilado. O destilado foi recolhido em erlenmeyer com 10 mL de ácido bórico e 5 gotas de solução indicadora de Paterson. A solução presente no frasco erlenmeyer foi titulada com ácido clorídrico (HCl) 0,01M até coloração rósea. Para o cálculo de proteínas foi utilizado o fator de 6,25 (IAL, 2008). Cálculo: Fc × V × 0,00014 × 100 Massa da amostra (g) ÷ 10 Fc = fator de correção do ácido V = volume de titulante gasto na titulação O resultado desta fração é multiplicado por 6,25 ao final. 3.1.5 Determinação de Carboidratos A determinação de carboidratos totais (g/100g) é realizada pela diferença de 100 e o somatório das médias encontradas nos resultados de umidade, cinzas, lipídeos e proteínas. Cálculo: 100 − ( umidade + cinzas + lipídeos + proteínas) 3.1.6 Determinação de Ferro A amostra digerida na determinação de cinzas foi preparada para a análise de determinação de ferro onde foi dissolvida em 0,5 mL de HCl e 10 mL de água destilada e submetida ao aquecimento até dissolução completa das cinzas. Todo o conteúdo foi transferido para balão volumétrico de 25 mL e o volume completado com água destilada. Uma alíquota adequada desta solução, de acordo com a quantidade de ferro presente no alimento, foi transferida para um bécher de 150 mL. Adicionou-se a este 2 mL de solução de cloridrato de hidroxalamina a 10% (m/v). Todo o sistema foi 18 aquecido até ebulição por 10 minutos. Após o resfriamento, transferiu-se todo o conteúdo para balão volumétrico de 50 mL. Adicionou-se 5 mL de solução-tampão e 2 mL de α-α`-dipiridila à 0,1%. Cada balão foi avolumado com água destilada e aguardou-se 10 minutos a fim de que ocorresse a reação para o desenvolvimento de cor. A leitura foi realizada em espectrofotômetro UV/vis. a 510 nm. Cálculo: (A − A0) × V × 100 a × m × v1 A = absorbância da amostra A0 = absorbância do branco da amostra V = volume do balão onde foram transferidas as cinzas, em mL m = massa da amostra em g a = coeficiente angular da curva padrão v1 = volume da alíquota da amostra usada na reação, em mL 3.1.7 Determinação de Fósforo Utilizou-se um método baseado na complexação do fósforo com vanado- molibdato de amônio e determinação por espectrofotometria na região do visível. No preparo da amostra, as cinzas foram dissolvidas em 10 mL de HCl e 1 mL de ácido nítrico concentrado e submetidas ao aquecimento em chapa quente por 5 minutos em ebulição para a hidrólise dos polifosfatos. Após resfriamento em temperatura ambiente, todo o conteúdo foi transferido para balão de 50 mL e avolumado com água destilada. Uma alíquota adequada desta solução, de acordo com a quantidade de fósforo presente no alimento, foi transferida para balão de 50 mL e acrescentou 10 mL do reagente vanado-molibdato. O volume foi completado com água destilada. O conteúdo no balão foi homogeneizado e aguardou-se 10 minutos para a reação de desenvolvimento da cor. A leitura foi realizada em espectrofotômetro ajustadopara 420 nm. Cálculo: (A − A0) × V × 100 a × m × v1 A = absorbância da amostra A0 = absorbância do branco da amostra V = volume do balão onde foram transferidas as cinzas, em mL m = massa da amostra, em g 19 a = coeficiente angular da curva padrão V1 = volume da alíquota da amostra usada na reação, em mL 3.2 Análise Histoquímica Foram realizados cortes transversais das amostras com auxílio de micrótomo de Ranvier e a metodologia utilizada foi de acordo com Kraus e Arduin (1997). Em seguida, os cortes do material foram submetidos a testes com reagentes químicos específicos como: Cloreto férrico, Lugol, Sudan IV, Vermelho de rutênio e azul de metileno para avaliar a presença de grupamentos fenólicos, amido, substâncias lipofílicas, pécticas e celulósicas, respectivamente. Ao final, os cortes dos tubérculos foram montados entre lâmina e lamínula com glicerina à 50% ou água, dependendo da natureza do teste. As lâminas obtidas foram avaliadas em microscópio óptico Carl Zeiss modelo AXIO Scope A 1 e fotografadas com câmera Carl Zeiss modelo AXIOCAM ERc5s acoplada, com auxílio do programa Zen lite. 3.2.1 Compostos fenólicos Os cortes das amostras foram transferidos para vidro de relógio e, posteriormente, adicionou gotas de cloreto férrico. Após 2 minutos, os cortes foram montados entre lâmina e lamínula com 1 gota de glicerina 50%. As lâminas foram analisadas em microscópio para avaliar a presença de compostos fenólicos na amostra evidenciados pelo surgimento de coloração negro-azulada ou verde-escuro (KRAUS e ARDUIN, 1997). 3.2.2 Amido Os cortes do material fixado produzidos com auxílio do micrótomo de Ranvier foram transferidos para um vidro de relógio e adicionado gotas do reagente Lugol sobre os cortes. Após cinco minutos, os cortes foram transferidos para lâmina e, esta foi montada com lamínula e uma gota de glicerina 50%. As lâminas foram analisadas em microscópio para avaliar a presença de amido na amostra evidenciados por uma coloração roxa (KRAUS e ARDUIN, 1997). 20 3.2.3 Substâncias lipofílicas Os cortes das amostras foram transferidos para vidro de relógio e foram adicionadas gotas de Sudan IV. O vidro de relógio foi coberto com um outro para evitar a evaporação e aguardou-se por 30 minutos até completar a reação. Os cortes foram lavados em etanol 90%, montados entre lâmina e lamínula e foram visualizados em microscópio para avaliar a presença de substâncias lipofílicas (KRAUS e ARDUIN, 1997). 3.2.4 Substâncias mucilaginosas de origem péctica Uma pequena porção do reagente vermelho de rutênio foi solubilizada em água destilada até obtenção de uma solução de cor vermelho-escura. Esta solução aquosa deve ser preparada apenas no momento da sua utilização. Os cortes das amostras foram transferidos para vidro de relógio e foram adicionadas gotas da solução previamente preparada. Aguardou-se por 5 minutos, o material foi lavado com água destilada e procedeu-se à montagem das lâminas e sua análise em microscópio. O vermelho de rutênio proporciona a formação de coloração vermelha no local onde substâncias pécticas encontram-se na amostra (KRAUS e ARDUIN, 1997). 3.2.5 Substâncias mucilaginosas de origem celulósica Os cortes das amostras foram transferidos para vidro de relógio e foram adicionadas gotas da solução azul de metileno. Após 5 minutos, o material foi lavado com água destilada e procedeu-se à montagem das lâminas e sua análise em microscópio, avaliando-se a presença de substâncias de origem celulósica. 3.2.6 Análise em luz polarizada Cortes das amostras foram colocados entre lâmina e lamínula contendo água, sem tratamento de reagentes (branco) e observadas em microscópio óptico Carl Zeiss modelo AXIO Scope. A 1 e fotografadas com câmera Carl Zeiss modelo AXIOCAM ERc5s acoplada sob campo claro e sob luz polarizada para evidenciar a presença de cristais de oxalato de cálcio, fibras e grãos de amido. 21 3.3 Análise Microquímica Para a análise microquímica as amostras foram secas em estufa à temperatura de 37°C, pulverizadas e submetidas a processo de extração com etanol 70% (p/p) como solvente. O extrato foi filtrado e foram avaliadas as presenças de taninos, flavonoides, esteroides e triterpenos livres, saponinas, alcaloides e resinas, seguindo a metodologia proposta por Matos (1997). 3.3.1 Teste para Taninos Foi adicionado aproximadamente 5 mL do extrato hidroalcoólico em dois tubos de ensaio previamente identificados. Ao primeiro foi adicionada uma gota de cloreto férrico (FeCl3) e ao segundo, uma gota de acetato de chumbo (Pb(C2H3O2)2). Foi observada a alteração de cor e formação de precipitado (MATOS, 1997). 3.3.2 Teste para Flavonoides Foram separados e numerados 3 tubos de ensaio e, em cada um foi acrescentado 3 mL do extrato etanólico. O primeiro tubo foi acidificado com HCl até obtenção de pH 3; o segundo tubo foi alcalinizado com (NaOH) até obter pH 8,5 e, o terceiro até obtenção de pH 11. As alterações de coloração de cada análise foram observadas a olho nú (MATOS, 1997). 3.3.3 Teste para Leucoantocianidinas, Catequinas e Flavanonas Foram separados e numerados 2 tubos de ensaio contendo 3 mL do extrato etanólico. O primeiro foi acidificado até pH 3 e o segundo foi alcalinizado até obter pH 11. Ambos foram aquecidos, cuidadosamente, com auxílio de uma lamparina à álcool. Foram observadas as alterações de cor em comparação com aquelas apresentadas no teste para flavonoides (MATOS, 1997). 3.3.4 Teste para Esteróides e Triterpenos Livres Adicionou-se 10 mL do extrato em um bécher e levou-se, em banho-maria, em placa de aquecimento até secura. Em seguida, foi realizada a extração do resíduo seco do bécher, 3 vezes com 3 mL de clorofórmio. A solução clorofórmica foi filtrada para um tudo de ensaio, com auxílio de um funil contendo algodão em sua extremidade. Ao conteúdo do tubo de ensaio adicionou-se 20 gotas de anidrido acético (CH₃CO)₂O) e agitou-se para homogeneização. Em seguida, foram adicionadas 10 22 gotas de H2SO4 concentrado e procedeu-se uma leve homogeneização. Foram avaliadas as alterações de cor (MATOS, 1997). 3.3.5 Teste para Saponinas O resíduo insolúvel do bécher utilizado no teste para esteróides e triterpenos livres foi dissolvido com água destilada e filtrado para um tudo de ensaio. Agitou-se o tubo vigorosamente por 15 segundos e observou a formação de espuma durante 15 minutos após realizada a agitação (MATOS, 1997). 3.3.6 Teste para Alcaloides e Derivados Antracênicos Foram adicionados 10 mL do extrato hidroalcoólico da amostra, 10 mL de amônio e 10 mL de clorofórmio em um funil de separação. Realizou-se a extração 3 vezes dispensando-se a fase aquosa em porcelana sobre placa de aquecimento. Foram adicionados 10 mL de ácido clorídrico 5% na porcelana contendo o resíduo seco. Este conteúdo foi dividido em 3 tubos de ensaio. Em cada um, previamente identificado, adicionou-se 3 gotas dos reagentes Dragendorff, Mayer e Bertrand, sendo estes os reagentes para a precipitação de alcaloides. Para avaliar a presença de derivados antracênicos, transferiu-se a fase clorofórmica para um tubo de ensaio e, em seguida, foram adicionadas 30 gotas de hidróxido de amônio 10%. Este sistema foi homogeneizado e esperou-se 15 minutos para avaliar a possível formação de cor (MATOS, 1997). 3.3.7 Teste para Resinas Adicionou-se 3 mL do extrato alcoólico filtrado em um tubo de ensaio e água destilada até obter-se o triplo do volume inicial. Observar a presença de precipitado floculoso, sendo este indicativo da presença de resinas (MATOS, 1997). 23 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Cará (Dioscorea alata) Os tubérculos de D. alata apresentam formato variável, casca fina, com textura rugosa e coloração marrom-clara, conforme descrição pelo IPGRI/IITA (1997). Geralmente são observados brotamento sobre os tubérculos(Figura 1). Sua polpa é clara e possui grande quantidade de mucilagem, facilmente observada após corte do material. Após o cozimento, a polpa deste tubérculo mantém a mesma coloração e durante o processo de trituração, realizado para preparo da amostra a ser analisada, a mesma passou a adquirir textura cremosa em decorrência da grande quantidade de mucilagem. Figura 1 - Aspecto geral do órgão subterrâneo de D. alata. (A. Vieira, 2014). 4.1.1 Análise de Composição Centesimal Os constituintes avaliados na amostra de Cará no presente estudo e seus resultados estão demonstrados na Tabela 1. Os resultados obtidos foram comparados com os dados presentes na TACO e TBCA-USP conforme demonstrado no Quadro 1. http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-239747 24 Tabela 1 - Composição centesimal das amostras de cará (D. alata) Parâmetros Cará - cru Cará - cozido Umidade (%) 62,28 ± 024 80,48 ± 0,21 Cinzas (g) 1,39 ± 0,25 0,54 ± 0,00 Lipídeos (g) 0,7 ± 0,07 0,2 ± 0,03 Proteínas (g) 2,99 ± 0,00 2,98 ± 0,08 Carboidratos (g) 32,65 15,83 Ferro (mg) 1,30 ± 0,30 1,16 ± 0,16 Fósforo (mg) 40,78 ± 0,72 30,52 ± 0,66 Nota: Os valores descritos na tabela correspondem à média aritmética ± DP (Desvio- padrão) dos resultados obtidos em triplicatas das amostras de Cará (D. alata) in natura e cozidas, em base úmida, cultivadas na região de Magé. Os valores obtidos correspondem à g do constituinte em 100g de amostra sólida. Quadro 1 - Composição centesimal de cará (D. alata) segundo as Tabelas TACO e TBCA-USP (g/100g) Parâmetro Cará cru (TACO*) Cará cozido (TACO*) Cará cru (TBCA-USP**) Cará cozido (TBCA-USP**) Umidade (%) 73,7 78,9 73,80 71,16 Cinzas (g) 0,9 0,6 0,71 0,82 Lipídeos (g) 0,1 0,1 0,42 0,25 Proteínas (g) 2,3 1,5 1,32 1,88 Carboidratos (g) 23 18,9 23,75 25,89 Ferro (mg) 0,2 0,3 --- --- Fósforo (mg) 35 28 --- --- Nota: Os valores referentes à ferro e fósforo para amostras de D. alata não constam na TBCA-USP. Fonte: * NEPA, 2011. ** USP,1998. A umidade está relacionada com a estabilidade, qualidade e composição do alimento. Isso se deve ao fato de que a umidade elevada irá influenciar na proliferação http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-239747 25 de microrganismos e deterioração do alimento, desta forma, interferindo na estocagem, embalagem e processamento (PARK e ANTONIO, 2006). Na avaliação deste parâmetro o resultado para as amostras produzidas em Magé obteve uma maior variação entre as amostras cruas e cozidas, quando comparadas a TACO e a TBCA- USP. Ocorre o aumento da umidade na amostra cozida em decorrência do processo de cozimento no qual o alimento absorve água. Ambas as amostras analisadas apresentaram teores ou percentuais superiores àqueles encontrados nas tabelas da TACO e TBCA-USP (Quadro 1), indicando maiores proporções de resíduos inorgânicos nas amostras analisadas. O cará revelou baixo conteúdo de lipídeos na sua forma crua e ainda menor em sua forma cozida. O resultado para este parâmetro se mostrou similar ao apresentado no Quadro 1. A Portaria 27/98 (Brasil, 1998) diz respeito a Informação Nutricional Complementar de alimentos que sejam produzidos, embalados e comercializados prontos para oferta ao consumidor. As informações presentes nesta portaria foram utilizadas como parâmetros para averiguar a proporção de nutrientes presentes no cará. Segundo a Portaria 27/98, alimentos que possuem no máximo 1,5 g de gorduras em 100 g de amostra sólida são considerados com baixo conteúdo de lipídeos. Já os alimentos que possuem no máximo 0,5 g de gorduras em 100 g de amostra sólida são considerados ausentes deste constituinte. O resultado da composição centesimal do cará corresponde a um baixo conteúdo de lipídeos para a amostra crua e ausente de lipídeos para a amostra cozida, sendo esta última forma empregada na alimentação. Segundo PAULA et al (2012) que avaliaram a composição nutricional em base seca (g%) de diferentes variedades de D. alata, todas apresentaram baixo conteúdo de lipídeos, entre 0,25 e 0,45. Este resultado demonstra a contribuição mínima deste nutriente na composição química dos rizomas, estando de acordo com os valores do presente trabalho demonstrado na tabela 1 , na qual as amostras dos municípios de Magé e Guapimirim também apresentaram baixa proporção deste nutriente. Assim, pode-se considerar que o cará é um alimento adequado para dietas com restrição de lipídeos. As proteínas são importantes na alimentação, pois são fontes de aminoácidos que o organismo não é capaz de sintetizar, sendo denominados aminoácidos- essenciais. Segundo a Resolução RDC nº 269, de 22 de setembro de 2005 (ANVISA, 2005), que consiste no regulamento técnico sobre a Ingestão Diária Recomendada 26 (IDR) de proteína, vitaminas e minerais, a ingestão diária de proteína recomendada para adultos são 50 g. Com base nos resultados obtidos, o teor de proteínas da amostra de cará contribui com 6% da IDR. A amostra de cará apresentou conteúdo de carboidratos superior as tabelas TACO e a TBCA-USP (Quadro 1), tendo seu conteúdo sido reduzido após o cozimento (Tabela 1). Os carboidratos são componentes nutricionais abundantes e presentes na maioria dos alimentos. A quantidade deste nutriente na amostra de cará é elevada e corresponde a uma característica deste tipo de alimento, visto que os tubérculos em geral são fontes deste nutriente e são considerados uma boa fonte energética (POMIN e MOURÃO, 2006). Ao analisar os minerais ferro e fósforo, foi observada uma maior quantidade de ambos na amostra em estudo em relação a tabela TACO. Este resultado está em concordância à maior proporção de cinzas presentes na amostra, visto que estas estão relacionadas com a quantidade de resíduos inorgânicos. A amostra de cará cru foi de 1,30 mg em 100 g de amostra, correspondendo a 9,29% da IDR recomendada para este mineral. Já no resultado da proporção de fósforo, este corresponde a 5,83% da IDR recomendada. A IDR de ferro e fósforo recomendada para adultos é de 14 mg e 700 mg, respectivamente (ANVISA, 2005). O ferro é encontrado principalmente nas hortaliças de cor verde-escuro e contribui para a prevenção e tratamento da anemia. Já o fósforo auxilia na formação de ossos, dentes e músculos (MAPA, 2010). Comparando-se as variações encontradas entre as amostras de cará crua e cozida, observa-se que a amostra cozida apresentou valores inferiores de seus constituintes quando comparadas à amostra crua. Este fato está relacionado ao processo de cozimento da amostra no qual esta absorve água, reduzindo a concentração de seus constituintes, alterando levemente a proporção destes. Além disso, as amostras de cará cru e cozido provenientes dos municípios de Magé e Guapimirim apresentaram resultados, de forma geral, superiores aos descritos na tabela TACO. 27 4.1.2 Análise Histoquímica No corte do tubérculo em branco (ausência de corante), foi possível visualizar células na região parenquimática com conteúdo escuro, sugerindo a presença de amido (Figura 2A). Após as seções serem submetidas à luz polarizada, esta evidenciou a presença de grãos de amido no interior dos amiloplastos como pontos brilhantes (Figura 2B). A análise histoquímica buscou evidenciar possíveis constituintes presentes nos tubérculos de cará. Os resultados obtidos para cada reagente estão demonstrados de forma simplificada no Quadro 2. Quadro 2 - Análise histoquímica das amostras de cará (D. alata) Reagente químico Positivo Negativo Sudan IV X Cloreto férrico X Lugol X Vermelho de Rutênio X Azul de Metileno X Com bases nestes resultados, conclui-se que esta amostra não possui lipídeos, tampouco a presença de grupamentos fenólicos, corroborando outros resultados, tais como, da composição centesimal de lipídeos o qual evidenciou baixas proporçõesdeste constituinte e a avaliação de taninos (polifenóis). Foi possível evidenciar a presença de grânulos de amido com formato triangular no interior dos amiloplastos presentes na região parenquimática que se coraram em roxo, resultando em avaliação positiva para o reagente lugol (Figura 2C e 2D). Tal resultado já havia sido confirmado quando os cortes do tubérculo foram submetidos à luz polarizada, a qual evidenciou os grânulos de amido na amostra. Este resultado era esperado pelo fato deste alimento ser tubérculo e armazenar nutrientes energéticos, tendo grandes proporções de carboidratos. A amostra de cará produz grandes quantidades de mucilagem. Assim, a origem de sua composição foi avaliada utilizando os reagentes vermelho de rutênio e azul de metileno, que podem indicar a presença de substâncias pécticas e celulósicas, respectivamente. A amostra obteve resultado positivo para os dois reagentes 28 utilizados, no entanto, com uma proporção muito maior de substância de origem celulósica do que péctica. Nas figuras 2E e 2F é possível visualizar células da região parenquimática que obtiveram resultados positivos em ambos os reagentes. Figura 2 – Testes histoquímicos de Cará (D. alata). A) Branco. Células da região parenquimática. B) Luz polarizada. Grânulos de amido. C) Lugol. Reação positiva evidenciando a presença de amido. D) Lugol. Detalhe dos grânulos de amido e seu formato triangular. E) Vermelho de rutênio. Detalhe de substância de natureza péctica na região parenquimática. F) Azul de metileno. Células da região parenquimática positivando para substância de origem celulósica. 29 4.1.3 Análise Microquímica Durante esta avaliação, todos os parâmetros obtiveram resultados negativos, com exceção do teste para avaliar a presença de esteroides e triterpenos livres. Este teste obteve coloração azul esverdeada, sendo indicativo para a presença de esteroides livres. Os esteróides presentes em plantas são denominados fitoesteróis e correspondem as gorduras vegetais. Estes são considerados elementos funcionais, visto que auxiliam na redução do colesterol. Em um estudo realizado por LOTTENBERG et al (2002), foram avaliados os efeitos de ésteres de fitoesteróis em indivíduos hipercolesterolêmicos que receberam margarina enriquecida com fitoesteróis. Foi observado que os fitoesteróis reduziram significativamente o colesterol total e o colesterol LDL. A avaliação microquímica buscou pesquisar de forma qualitativa a presença de possíveis fatores antinutricionais presentes na amostra de cará e, desta forma, avaliar a presença destes e possíveis riscos associados. Quadro 3 - Análise microquímica das amostras de cará (D.alata) Parâmetro Positivo Negativo Esteróides e triterpenos livres X Saponinas X Taninos X Flavonóides X Alcalóides X Antraquinonas X Resina X As saponinas são glicosídeos de elevada massa molecular. Possuem ação detergente e emulsificante, visto que apresentam em sua estrutura uma porção lipofílica e outra hidrofílica (SIMÕES, 2010). Em solução aquosa esta substância forma espuma persistente, a qual não foi observada durante sua análise. Os taninos são compostos fenólicos considerados um fator antinutricional visto que interferem na digestibilidade de proteínas, entre outros nutrientes, assim como diminuem a atividade de enzimas digestivas (BENEVIDES, 2011). A análise microquímica revelou resultado negativo para a sua presença estando em 30 concordância com o resultado negativo para a presença de compostos fenólicos obtido durante a análise histoquímica com o reagente cloreto férrico. Os flavonoides também são polifenóis e utilizados pelas plantas como filtros UV visto que absorvem radiação UV-B. Além disso, podem atuar como antioxidantes. Sua produção é controlada por enzimas que atuam na rota biossintética de fenilpropanóides e estes podem ter sua expressão gênica induzida pela incidência luminosa (GOBOO-NETO & LOPES, 2006). Os alcalóides são substâncias orgânicas com grande diversidade estrutural presentes em muitas plantas. Estas substâncias são evitadas por animais devido sua toxicidade e por apresentarem sabor amargo (SIMÕES, 2010). O resultado final da análise de alcaloides foi negativo para a presença desta substância no tubérculo. As antraquinonas são metabólitos relacionados com atividade laxante de plantas, como, por exemplo, a Cáscara sagrada (Rhamnus purshiana DC) (LÔBO, 2012), não estando presente na amostra de tubérculo analisada. As resinas são metabólitos presentes em canais e estão relacionadas com atividades cicatrizantes e antifúngica em plantas (FENNER et al, 2006), não estando presentes nas amostras dos tubérculos. Com base nos resultados obtidos na análise microquímica para as amostras de Cará, pode-se observar que a presença de esteroides é um fator nutricional que corrobora para uma alimentação sadia. Além disso, não foram observados fatores antinutricionais presentes nesta amostra. Estes resultados são considerados positivos e reforçam o uso deste tubérculo na alimentação de forma segura. 31 4.2 Inhame (Colocasia esculenta) O inhame é um tubérculo pequeno, com aproximadamente 5 cm, casca com espessura fina e coloração marrom-escura. Sua forma variou entre redonda e cônica, em concordância com o descrito por IPGRI (1999). Sua polpa é branca e quando submetida ao corte é possível visualizar conteúdo mucilaginoso. Após cozimento o tubérculo adquire coloração levemente acinzentada e quando triturado para proceder a análise apresenta textura pastosa proveniente da mucilagem contida no tubérculo. A Figura 2 demonstra o aspecto geral dos tubérculos de inhame chinês avaliados. Figura 3 - Aspecto geral do tubérculo de C. esculenta (A. Vieira, 2014). http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-46275 32 4.2.1 Composição Centesimal A composição centesimal da amostra de inhame-chinês encontra-se na Tabela 2 e os resultados obtidos foram comparados aqueles apresentados nas tabelas TACO e TBCA-USP (NEPA, 2011; USP, 1998), descritos no Quadro 4. Tabela 2 - Análise da composição centesimal das amostras de inhame (C. esculenta) Parâmetros analisados inhame cru inhame cozido Umidade (%) 68,75 ± 0,33 77,02 ± 0,59 Cinzas (g) 0,93 ± 0,07 0,94 ± 0,03 Lipídeos (g) 0,6 ± 0,06 0,1 ± 0,01 Proteínas (g) 2,63 ± 0,14 2,30 ± 0,01 Carboidratos (g) 27,04 19,64 Ferro (mg) 2,35 ± 0,04 1,83 ± 0,35 Fósforo (mg) 44,73 ± 0,08 36,55 ± 0,42 Nota: Os valores descritos na tabela correspondem à média aritmética ± DP dos resultados obtidos em triplicatas das amostras de inhame (C. esculenta) in natura e cozidas, em base úmida, cultivadas na região de Magé. Os valores obtidos correspondem à 100g de amostra sólida. Quadro 4 - Composição centesimal de Inhame (C. esculenta) de acordo com as tabelas TACO e TBCA-USP (g/100g) Parâmetros analisados Inhame cru (TACO*) Inhame cru (TBCA-USP**) Umidade (%) 73,3 81,45 Cinzas (g) 1,2 0,75 Lipídeos (g) 0,2 0,10 Proteínas (g) 2,1 1,21 Carboidratos (g) 23,2 16,49 Ferro (mg) 0,4 --- Fósforo (mg) 65 --- Nota: Os valores referentes à ferro e fósforo para amostras de C. esculenta não constam na TBCA-USP. Fonte: * NEPA, 2011. ** USP,1998. 33 Para o inhame, tanto a TACO como a TBCA-USP descrevem apenas sua forma crua, a qual os valores estão presentes no Quadro 4. A umidade da amostra crua obteve resultado inferior ao reportado na tabela TACO. Após o processo de cozimento houve aumento no percentual de umidade da amostra indicando grande absorção de água. A teor de cinzas na amostra do tubérculo obteve resultado intermediário em relação ao reportado na TACO e TBCA-USP. O teor de cinzas inferior na amostra analisada em relação à TACO indica quantidades inferiores de resíduos inorgânicos. Os resultados dos lipídeos mostraram que não contribui de forma significativa
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