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A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 1 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL Caderno Pedagógico Ceduc@f A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 2 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR PROGRAMA DO CURSO EMENTA: A inclusão e paradigma educacional; Política Nacional de Educação Especial; Inclusão: sociedade igualitária; Exclusão: unir-se para detê-la. OBJETIVO GERAL: Conhecer o ponto de partida para a tomada de consciência dos educadores, educandos e famílias, quanto sua importância na acolhida das pessoas “diferentes” e na preparação para efetiva participação no âmbito social e global. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Propor a escola como busca por tornar a criança mais autônoma perante o indivíduo adulto; Proporcionar na educação especial, técnicos especialistas para dar continuidade ao tratamento da deficiência intelectual já que os alunos estão na rede regular de ensino e a mesma nem sempre oferecem este tipo de atendimento; Identificar a inclusão dos deficientes intelectuais. CONTEÚDOS: O tema da deficiência intelectual; Breve histórico da deficiência; A inclusão dos deficientes intelectuais nas escolas regulares; Quatro símdromes da deficiência e suas características; O árduo desafio: a inclusão de educandos com deficiência intelectual nas escolas regulares; Atualizações semânticas na inclusão de pessoas: deficiência mental ou intelectual? Doença ou transtorno mental; A substituição da nomenclatura mental por intelectual; Trabalho de conclusão do curso para avaliação. METODOLOGIA: Desenvolvimento de questões objetivas, que tome como pressupostos teóricos os conteúdos estudados neste curso. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 3 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR APRESENTAÇÃO Prezado (a) Cursista, Este curso constitui-se numa proposta de estudos para discussões e elaboração de conceitos sobre o tema “A inclusão escolar de alunos com deficiência intelectual no ensino fundamental”. “É necessário munir os professores de ensino fundamental com novas atitudes, novas aquisições e novas competências. Para que aconteça a verdadeira transformação do conhecimento é necessário compromisso e empenho nas leituras e no aproveitamento da atividade disponibilizada para refletir e aprimorar a sua prática diária. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 4 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR SUMÁRIO Introdução...............................................................................................................................05 Breve histórico da deficiência................................................................................................07 A inclusão dos deficientes intelectuais nas escolas regulares................................................13 Quatro símdromes da deficiência e suas características.........................................................15 O árduo desafio: a inclusão de educandos com deficiência intelectual nas escolas regulares.................................................................................................................................16 Atualizações semânticas na inclusão de pessoas: deficiência mental ou intelectual? Doença ou transtorno mental?..................................................................................................................18 A substituição da nomenclatura mental por intelectual.........................................................21 Considerações finais...............................................................................................................29 Bibliografia..............................................................................................................................31 Trabalho de conclusão do curso para avaliação.......................................................................32 A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 5 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR INTRODUÇÃO No final da década de 1980, sobretudo nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, surgiu o movimento de inclusão social como um processo bilateral no qual as pessoas excluídas e a sociedade buscariam formas de equiparação das oportunidades para todos. Como resultado deste movimento ensejou-se todo um modelo de pensamento que enfatizava a premência de disponibilizar suportes nos âmbitos social, econômicos, físicos, psicológicos e instrumentais de forma a garantir que a pessoa com deficiência pudesse acessar todo e qualquer recurso da comunidade. O movimento pela inclusão social traduziu-se no âmbito dos sistemas de ensino como educação inclusiva, uma perspectiva a ser alcançada, significando que as escolas precisariam se reorganizar para oferecer respostas às demandas particulares de aprendizagem dos alunos irrestritamente. Esta reorganização passou por uma redefinição das modalidades de ensino regular e especial. No Brasil, este processo culminou com a promulgação da Resolução do Conselho Nacional de Educação, C NE/CEB no dia 11 de setembro de 2001, que instituiu diretrizes nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, documento que oficializou o atendimento escolar de alunos que até então não se cogitava que tivessem espaço dentro do currículo da escola regular, sendo a inclusão do aluno deficiente intelectual um de seus últimos efeitos. Portanto, o texto legal acirrou entre nós o debate sobre educação inclusiva, colocando o em pauta a discussão dos pressupostos éticos, políticos, ideológicos e teóricos subjacentes a esta nova proposta. Novas terminologias migraram da prática médica e do campo da psicologia e impregnaram o cotidiano escolar e o imaginário dos educadores. Embora tenham sido instituídos todos os conjuntos de diretriz com a publicação da Resolução no. 2/2001, o assunto do atendimento educacional dos alunos especiais já havia sido A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 6 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR considerado em um volume específico que integra os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, editado em 1999, fruto de um trabalho integrado da Secretaria de Educação Especial e Secretaria do Ensino Fundamental do Ministério da Educação. Por ser uma tarefa que envolveu a educação regular e a especial, modalidade que historicamente percorreram caminhos conceituais e metodológicos distintos, a referida edição refletiu as ambiguidades e as concordâncias mínimas de um determinado momento histórico. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 7 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR BREVE HISTÓRICO DA DEFICIÊNCIA Ressalva: a palavra portadora de deficiência citada aqui no histórico refere-se as palavras dos autores da época. Hoje usa-se a terminologia pessoa com deficiência. A inclusão dos portadores de deficiências tem sido a proposta norteadora e dominante na Educação Especial, direcionando programas e políticas educacionais e de reabilitação em vários países, incluindo-se o Brasil (Cardoso, 1992; Carvalho, 1994; Glat, 1998; Mantoan, 1997). Historicamente, a proposta de integração escolar foi elaborada em 1972, na Educação Especial, por um grupo de profissionais da Escandinávia, lideradospor Wolfensberger, na forma do chamado princípio de normalização. Este princípio apregoa que todas as pessoas portadoras de deficiências têm o direito de usufruir condições de vida o mais comum ou "normal" possível, na sociedade em que vivem. Dito de outra forma, normalizar não quer dizer tornar normal significa dar à pessoa oportunidades, garantindo seu direito de ser diferente e de ter suas necessidades reconhecidas e atendidas pela sociedade. Assim, o conceito de inclusão é uma das consequências fundamentais do princípio de normalização: "Normalização é objetivo. Integração é processo. Integração é fenômeno complexo que vai muito além de colocar ou manter excepcionais em classes regulares" (Pereira, 1990). É, portanto, parte fundamental de todo o processo educacional. Essas noções de normalização e integração se difundiram rapidamente nos Estados Unidos da América, Canadá e por diversos países da Europa, fortalecendo-se, no final dos anos 60 e início dos anos 70 do século XX, junto com os movimentos de direitos civis, quando diversas minorias e grupos marginalizados começaram a lutar para conquistar seu espaço na sociedade (Glat, 1998; Saint-Laurent, 1997). Também no Brasil, a filosofia da integração parece dominar não apenas a atitude teórica dos profissionais da área (Aranha, 1994; Cardoso, 1992; Figueiredo, 1990; Glat, 1989; Jannuzzi,1992; Nunes & Santos, 1988; Omote, 1994), mas também as propostas de atendimento de diferentes tipos de instituições (Arns, 1992; Carvalho, 1989; Mantoan, 1988; Mendes, 1994; Pereira, 1990). A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 8 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR Da mesma forma o faz a política do governo para a educação, em nível nacional, pela Constituição de 1988, art. 208, parágrafo III (Brasil, 1988), no âmbito do Estado do Espírito Santo, pela Constituição Estadual de 1989, art. 171, e em nível municipal da capital do Espírito Santo (Secretarias Municipais da Educação de Vitória, 1999). Tendo como ponto de partida os resultados positivos alcançados com a prática da inclusão escolar nos países desenvolvidos, nas duas últimas décadas, o sistema educacional brasileiro tem vivenciado um momento de transição no atendimento dos alunos com necessidades educativas especiais. De um lado, havia um modelo de educação especial que adotava as classes especiais para alunos com necessidades educativas especiais, propondo-se a um atendimento mais específico (Mazzota, 1982). Na medida em que esse modelo contribuía para segregação dessas crianças, a inclusão escolar ganhou força, refletindo os esforços atuais das sociedades pela sua integração em salas regulares de ensino, de forma a aceitar e respeitar suas diferenças (Bueno, 1991; Glat, 1989). A partir do final dos anos 80 do século XX, o termo integração começou a perder força, sendo substituído pela ideia de inclusão, uma vez que o objetivo é incluir, sem distinção, todas as crianças, independentemente de suas habilidades. Cabe aqui uma maior especificação das palavras integração e inclusão na área escolar, uma vez que ambas priorizam a inserção da pessoa com necessidades educacionais especiais na escola regular (Thomas, Walker & Webb, 1998). A palavra inclusão remete-nos a uma definição mais ampla, indicando uma inserção total e incondicional. Integração, por sua vez, dá a ideia de inserção parcial e condicionada às possibilidades de cada pessoa, já que o pressuposto básico é de que a dificuldade está na pessoa com deficiência, e que estas podem ser incorporadas no ensino regular sempre que suas características permitirem. Dito de outra forma, a inclusão exige a transformação da escola, pois defende a inserção no ensino regular de alunos com quaisquer déficits e necessidades, cabendo às escolas se adaptarem às necessidades dos alunos, ou seja, a inclusão acaba por exigir uma ruptura com o modelo tradicional de ensino (Werneck, 1997). A noção de inclusão, por essa razão, não estabelece parâmetros (como faz o conceito de integração) em relação a tipos particulares de deficiências. Sassaki (1998) faz outra distinção, A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 9 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR conceituando a integração enquanto inserção do deficiente preparado para conviver na sociedade, e a inclusão como uma mudança na sociedade, para que a pessoa com deficiência possa se desenvolver e exercer a cidadania. Resumindo, a integração privilegia o aluno portador de necessidades educativas especiais, dividindo com ele a responsabilidade da inserção, enquanto a inclusão tenta avançar, exigindo também da sociedade, em geral, condições para essa inserção. Em outros termos, a integração é um tanto mais "individualizada" e a inclusão um tanto mais "coletiva". Na prática inclusiva, no entanto, percebe-se que mesmo aqueles alunos que se encontram inseridos no sistema regular de ensino continuam sendo isolados dos seus companheiros de turma não-deficientes (Gresham, 1982; Siperstein, Leffert, & Widaman, 1996). Pesquisadores da área de interação social têm identificado que estudantes rejeitados socialmente interagem diferentemente, com agressividade, rejeição e ignoram outros alunos, com mais frequência do que com os estudantes aceitos socialmente. Como resultado, estudantes com deficiências severas têm pouca oportunidade de praticar, refinar e expandir os seus repertórios de competência social, tendo, assim, reduzida a probabilidade de desenvolver amizades. O significado desses achados repousa no fato de que a competência social em crianças é preditora dos ajustamentos futuros (Kupersmidt, Coie, & Dodge, 1990; Meyer Cole, McQuarter, & Reicchle, 1990). A importância dos companheiros de brincadeiras na socialização de crianças é de fundamental importância e os estudos feitos nas áreas de Psicologia Social e do Desenvolvimento a têm reforçado (Harris, 1995, 1999). Uma das mais recentes e completas revisões sobre o processo de socialização de crianças e adolescentes foi elaborada por Harris (1995, 1999), mostrando que os pais não são os principais protagonistas na determinação da personalidade adulta de seus filhos, apesar de serem os principais agentes socializadores, aqueles que mais precocemente atuam sobre a criança. Não sendo os pais os únicos e nem os principais agentes influenciadores de seus filhos, afirma-se a importância do grupo no processo de socialização. De acordo com a teoria da socialização de grupo de Harris (1999): "(...) as crianças se identificam com um grupo constituído dos pares delas, que talham o comportamento delas às normas do grupo e que os grupos contrastam com outros grupos e adotam normas diferentes”. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 10 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR Harris (1995, 1999) explica que o processo de formação de grupo se apóia na capacidade inata do homem possuir cérebro construído com a habilidade de classificar, categorizar, nomear, rotular ou dividir pessoas ou coisas em grupo; capacidade esta já observada em outras espécies e na criança antes de um ano de idade, que já faz categorizações por idade e sexo. A terceira forma de classificação usada pelo homem é a raça, que leva mais tempo para ser adquirida. Esse processo de categorização, por sua vez, independe da existência de rótulos, pois uma categoria se define por um conceito, que pode existir mesmo sem um nome. Assim, para que ocorra uma condição de grupo não é preciso haver uma história anterior de amizade, um conflito com membros de outro grupo, a luta por território, saber quem são seus companheiros, nem mesmo existirem diferenças visíveis na aparência ou no comportamento. É claro que ter características como sociabilidade, amabilidade ebeleza afetam o relacionamento com mãe, pai, professores e seus pares. Entretanto, sentir-se membro de um grupo ou fazer uma autocategorização, segundo Turner (1987, citado por Harris, 1995, 1999), independe dessas condições. A autocategorização é fortemente dependente do contexto social - onde estamos e quem está conosco - e varia de um momento para outro em função da saliência das várias categorias sociais. Por exemplo, a categoria social criança não se destaca quando só há crianças no ambiente, mas sim meninos e meninas, ou crianças mais novas e mais velhas. De acordo com Turner (1984): "As autoimagens que assumimos representam as produções cognitivas da autocategorização, que é altamente variável e específica para a situação". Dessa forma, não são as relações próximas que fazem alguém pertencer a um grupo, mas o grupo com o qual se identifica; o grupo de referência ou grupo psicológico é o que conta. O processo básico de formação do grupo não está centrado na atração nem na interdependência, mas, sim, na identificação. Afiliar-se a grupos acarreta a reação eles gostam de mim, gosto deles - a percepção de que somos semelhantes de algum modo aos outros membros do grupo, que há algo em comum entre nós. Assim, as diferenças dentro do grupo tendem a diminuir (assimilação), enquanto as diferenças entre os grupos humanos aumentam (contraste de grupo). Essa é uma das A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 11 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR consequências do processo de categorização: "ela [a categorização] nos faz ver os itens dentro de uma categoria como sendo mais semelhantes do que eles realmente são. Ao mesmo tempo, ela nos faz ver itens de categorias diferentes como mais diferentes do que realmente são" (Harris, 1999). Para manter a identidade e a coesão do grupo, as crianças usam diversos métodos, às vezes cruéis àquelas que não se conformam ou não podem se conformar com as regras explícitas e não-explícitas podem ser excluídas, criticadas ou ridicularizadas. Surgem, assim, os bobos ou palhaços do grupo, devido à pressão por conformidade, que é mais intensa na infância do que na adolescência (Harris, 1999). O estereótipo, traduzido no apelido, passará a identificar a criança pelo grupo, que se apóia em qualquer idiossincrasia de aparência, jeito, habilidade ou qualquer outro aspecto da criança, para mostrar a hierarquia de dominação. Assim, os contrastes intra e intergrupos existem sem quaisquer diferenças reais; os próprios grupos as criam. Basta uma ameaça em comum para o grupo se unir, tratando o diferente ou estrangeiro com desconfiança e medo, que se transformam depois em hostilidade, pois ter medo é desagradável. Reside aqui o grande poder emocional do grupo, resultado de uma longa história evolutiva de sobrevivência dependente do grupo de parentesco (Harris, 1995, 1999). Esse processo serve de base para o acasalamento e para a amizade. Bons amigos, nos primeiros anos escolares, por exemplo, são provavelmente da mesma idade, mesmo sexo e mesma raça, com interesses e valores semelhantes. De outro lado, a falta de interação entre companheiros, embora rara, pode ocorrer para pessoas criadas em fazendas isoladas ou que ficaram presas em casa por distúrbios físicos crônicos ou mesmo para crianças-prodígios, levando essas pessoas a um alto risco de distúrbios psicológicos quando adultas alerta Harris (1995 1999). O adequado desenvolvimento da personalidade e da aprendizagem da língua depende, então, da criança ser exposta os seus companheiros de brincadeiras. Por imitação e por observação, as crianças aprendem não só com seus pais, com a televisão e livros de histórias, mas principalmente em brincadeiras de faz-de-conta, tanto que os modelos preferidos de crianças escolares são outras crianças (Harris, 1999). Como se vê, existe um número considerável de razões para explanar a relevância a respeito do brincar e seu papel no decorrer do desenvolvimento infantil. Para Morin (1979), o A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 12 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR brincar pode ser entendido como um prolongamento da infância na qual a criança encontra-se ainda protegida e cuidada, tendo mais tempo para desenvolver habilidades necessárias para a vida adulta. Brincar com companheiros, entretanto, é uma habilidade que precisa de tempo para se desenvolver. Com um ano de idade, as crianças brincam lado-a-lado, desajeitadamente; aos dois anos, já são capazes de uma imitação mais elaborada, divertindo-se com brincadeiras do tipo Faça o que o chefe mandar; com dois anos e meio já recorrem ao uso de palavras e ações para coordenar as brincadeiras, desempenhando papéis diferentes nessas fantasias compartilhadas. Entre um e três anos, já construíram modelos de relações com companheiros, escolhendo de quem gostar. Observamos, assim, desde o maternal, a existência de "panelinhas" de crianças com a mesma idade e mesmo sexo, especialmente aos cinco anos (Harris, 1999). Diante do exposto, pressupõe-se que a proposta de inclusão escolar de crianças com necessidades educativas especiais procura evitar os efeitos deletérios do isolamento social dessas crianças, criando oportunidades para a interação entre as crianças, inclusive como forma de diminuir o preconceito. Uma vez que as crianças tomam para si as normas do grupo, é interessante estudar a presença de alunos com deficiência no ambiente regular de ensino, assim como as interações sociais que ocorrem naturalmente entre alunos com deficiência e os demais, focalizando o papel do outro como mediador de sua interação com a sociedade. Na medida em que a área cognitiva do desenvolvimento de crianças classificadas como deficiência intelectual é considerada a mais crítica ou defasada em relação às crianças ditas "normais", é relevante conhecer também as relações existentes entre o desenvolvimento cognitivo e o processo de interação social. De outro lado, a carência de instrução leva a uma falta de aprendizagem, até mesmo de habilidades sociais, alertam Strain e Shores (1983). A avaliação de habilidades sociais em ambiente segregado não é conveniente, pois subestima o desempenho da criança, dada a qualidade recíproca do comportamento social. Além do mais, essas habilidades sociais, aprendidas no contexto segregador, não poderão ser generalizadas para um contexto integrado. Saint-Laurent (1997) explica esse processo com base em conceitos sócio- construtivistas, os quais sugerem que: "mantida em um estado de isolamento social, a criança não A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 13 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR poderá desenvolver as funções sociais superiores. Para isso, ela necessita estabelecer interações sociais com um profissional especializado, estabelecer relações com seus colegas/companheiros". A INCLUSÃO DOS DEFICIENTES: UM ÁRDUO DESAFIO PARA AS ESCOLAS REGULARES A Inclusão de Deficientes intelectuais: um difícil desafio para as escolas, educadores e famílias refere-se a um minucioso estudo e análise de fundamentos de autores renomados que abordam a educação especial com o objetivo de dispor aos educadores e a todos aqueles que atuam e que pretendem atuar na Educação, uma proposta de reflexão/ação numa análise mais abrangente da inclusão dos deficientes mentais e outros com necessidades educacionais especiais. A inclusão escolar é um movimento mundial que vem sendo amplamente discutido em vários países, tendo como eixo principal a concepção de educação de qualidade para todos, fundamentada no respeito à diversidade e igualdade de acessibilidade e permanência para os educandos na rede pública de ensino. Este movimento mundial tomou força, principalmente após a Declaração de Salamancaonde os países participantes, dos quais o Brasil faz parte, se comprometeram a direcionar suas ações, para que se efetivasse a proposta de educação para todos. Na última década, o Governo Federal e em especial, o Estado do Paraná vêm discutindo propostas pedagógicas que possam nortear ações para atender a esta diversidade, buscando alternativas educacionais para que a inclusão, no que se refere aos alunos com necessidades educacionais especiais, não esbarre na falta de recursos arquitetônicos adequados das escolas, pessoal especializado e materiais para a realização do trabalho pedagógico eficiente. Para tal, muitos são os trabalhos de pesquisa relacionados ao tema e, diante da eminência do desmonte das escolas especiais, para que as mesmas funcionem como centros de atendimento consideram-se necessário analisar como vem ocorrendo o processo de inclusão dos alunos com deficiência intelectual, dentro desde novo paradigma. Muitos autores defendem a permanência das escolas especiais para o atendimento pedagógico especializado à criança com deficiência intelectual, Chegando a conclusão de que para o indivíduo tornar-se um ser atuante e crítico, faz- se necessário à tomada de consciência e a mudança do ato de educar. Não podemos ficar de fora desse processo de inclusão, devemos participar, devemos nos arriscar e sugestionar uma constante A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 14 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR troca de afetividade e sensibilidade entre governantes e governados, entre educadores e educandos, entre pais e filhos, para que de fato ocorra a inclusão e uma educação mais humana e igualitária. Presenciamos nas últimas décadas, que as escolas e seus educadores têm se deparado com uma nova e desafiadora questão: a de incluir as pessoas com necessidades educacionais especiais nas salas de aulas da rede regular de ensino. O estudo de diversas obras revela que, historicamente, até o século XVI, não existia a preocupação da sociedade em oferecer atendimento às pessoas consideradas “diferentes” dos ditos “normais”. Se adentrarmos a fundo na história anterior ao século XVI, certamente ficará horrorizado com a tamanha injustiça feita com as pessoas que nasciam com algum tipo de deficiência ou diferença. Tais pessoas eram estupidamente queimadas em fogueiras em praça pública ou jogadas à própria sorte, pois se acreditava que era uma obra maligna. A partir de então, conforme foram ocorrendo às mudanças na organização das sociedades começaram a ter mais zelo para com as pessoas com deficiência. E, foram durante o século XX, que as instituições sociais estenderam o atendimento especializado a este grupo de excluídos, os deficientes. Percebemos que as famílias dos considerados “diferentes” bem como eles próprios consideram a escola uma barreira quase que intransponível, pois se deparam com uma carga muito grande de dificuldades de aprendizagem e de preconceitos por parte dos próprios ditos “normais” e por parte até mesmo do corpo docente das escolas. Porém, conhecendo um pouco as características e causas desta lamentável bagagem genética e/ou ambiental, quem sabe, ficará mais fácil de encarar e auxiliar nessa dura realidade vivida por pessoas que carregam essa herança. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 15 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR QUATRO SÍNDROMES DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E SUAS CARACTERÍSTICAS Segundo Moura (1980) as quatro síndromes associadas ao retardamento mental, causada por aberrações cromossômicas: - Síndrome de Lejeune é caracterizada pelo indivíduo apresentar orelhas com implantação baixa, pela distância entre os olhos aumentada, pelo choro que lembra o miado de um gato, pela malformação dos dedos e retardo mental grave; - Trissomia , neste caso, o indivíduo apresenta as orelhas malformadas, o crânio alongado, a mandíbula reduzida, a testa saliente, estrabismo, o lábio inferior é mais grosso e invertido. Nesse caso, o retardo mental é severo; - Síndrome de Down (mongolismo) com características como rosto arredondado, fendas palpebrais oblíquas, os membros são mais curtos, as mãos mais largas, a boca permanece quase sempre entreaberta e o retardo mental vai de moderado a severo; - Síndrome de Klinefelter, afeta somente as pessoas de sexo masculino, a estatura é mais elevada, o indivíduo pode apresentar pouca barba ou não apresentar, os órgãos genitais são pouco desenvolvidos, apresenta ginecomastia, ou seja, ocorre a presença de mamas desenvolvidas, a maioria apresentam inteligência limítrofe e cerca de 15% deles podem apresentar retardo mental grave. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 16 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR O ÁRDUO DESAFIO: A INCLUSÃO DE EDUCANDOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NAS ESCOLAS REGULARES Conforme declara a Lei 9394/96, inclusão é uma proposta que condiz com a igualdade de direitos e oportunidades educacionais para todos em ambientes favoráveis já ‘garantidos’ por ela. Mas, nem sempre esse direito é de fato uma garantia aos cidadãos. “Possivelmente você já tenha ouvido pessoas ao seu redor usando o termo, retardado”, “idiota”, “imbecil”, “debilóide”, como um meio grotesco de ofensa a outras pessoas que possuem menor grau de entendimento em determinado assunto. Mas, os estudos revelam que estes termos são originários do século XVIII e perpetuam até a presente data, porém, não fugindo de serem termos atribuídos a um grupo de pessoas que requer mais cuidado e estudo. Conforme Jannuzzi (1985) ao longo do tempo, várias palavras foram usadas em lugar de retardamento. A substituição de uma palavra por outra apenas suaviza temporariamente sua pejoratividade. A nova palavra, em pouco, acabava incorporando os preconceitos da sociedade de cada época. Minuciosos estudos em obras científicas nos revelam que, as causas do retardo mental são genéticas e estão representadas por genes patogênicos ou também chamadas na ciência como aberrações cromossômicas. Sabemos também que as causa ambientais são muitas e atuam no período pré-natal, Peri natal ou ainda pós-natal. Porém, nos casos mais leves, fica difícil de identificar as causas. O potencial de inteligência da espécie humana é um traço genético que a coloca em posição destacada na escala zoológica. Entretanto a expressão desse potencial, ou seja, a inteligência e o seu desenvolvimento são o resultado da ação de fatores não apenas de natureza biológica, mas também de natureza psicológica e sócio-cultural. (MOURA 1980). Como fatores determinantes no desenvolvimento afetivo e social das crianças com DM, bem como para os demais que necessitam de cuidados educacionais especiais, vê-se na família e na escola os dois principais norteadores deste desenvolvimento. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 17 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR Segundo Vygotsky (1991) “o aprendizado é uma das principais fontes da criança em idade escolar; e é também uma poderosa força que direciona o seu desenvolvimento, determinando o destino de todo o seu desenvolvimento mental”. Entende-se que a família deve exercer o importante papel de educar a criança. É através da família e do comportamento dos seus membros em relação à criança e em relação aos próprios membros, que a criança com deficiências interioriza a alegria, a satisfação e o amor, ou então o contrário. À escola cabe o papel de estar sempre em sintonia com a família para então melhorar e contribuir da melhor forma possível com o desenvolvimento da criança. Acredita-se que o objetivo principal da escola deva sero da busca por tornar a criança mais autônoma perante o indivíduo adulto. No entanto, entende-se que essa autonomia só irá ocorrer através do bom relacionamento com outras pessoas. A integração da escola e da família deve ser mais constante nas atividades de socialização das crianças. E, os pais devem estar envolvidos numa procura por bem educar seus filhos. Segundo Moura (1980), é tarefa do professor o comum atendimento às crianças portadoras de retardo mental leves, e, tal trabalho precisa ser marcado pela compreensão, pela dedicação e pela paciência. Não deverá o professor se igualar às pessoas comuns que infelizmente ainda possuem muitos preconceitos em relação aos retardados mentais. Cabe ao professor, aceitar tais crianças e demonstrar carinho a elas, ensiná-las primeiramente as coisas mais fáceis e uma parte de cada vez. O professor conseguirá resultados mais positivos de seu trabalho, se associar cada parte as coisas agradáveis para a criança. Ele deverá elogiá-las após cada item aprendido para que ela se sinta mais capaz e segura. É ainda tarefa deste professor, manter a paciência e a uniformidade de comportamento e, ao avaliar a criança deverá evitar fazer comparações com as demais, além de que, não poderá exigir um rendimento que a criança não poderá oferecer. Sendo assim, ficará mais suave o trabalho e o compromisso do educador e a escola estará cumprindo com sua autêntica tarefa: a de educar a todos como nos garante a LDB e a Constituição Federal. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 18 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR ATUALIZAÇÕES SEMÂNTICAS NA INCLUSÃO DE PESSOAS: DEFICIÊNCIA MENTAL OU INTELECTUAL? DOENÇA OU TRANSTORNO MENTAL? À medida que o movimento inclusivo se espalha pelo mundo, palavras e conceituações mais apropriadas ao atual patamar de valorização dos seres humanos estão sendo incorporadas ao discurso dos ativistas de direitos, por exemplo, dos campos da deficiência e da saúde mental. Consideremos, em primeiro lugar, a questão do vocábulo deficiência. Sem dúvida alguma, a tradução correta das palavras (respectivamente, em inglês e espanhol) "disability" e “discapacidad" para o português falado e escrito no Brasil deve ser deficiência. Esta palavra permanece no universo vocabular tanto do movimento das pessoas com deficiência como dos campos da reabilitação e da educação. Trata-se de uma realidade terminológica histórica. Ela denota uma condição da pessoa resultante de um impedimento. Exemplos de impedimento: lesão no aparelho visual ou auditivo, falta de uma parte do corpo, déficit intelectual. O termo “impairment” pode, então, ser traduzido como impedimento, limitação, perda ou anormalidade numa parte (isto é, estrutura) do corpo humano ou numa função (isto é, funções fisiológicas) do corpo, de acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Deficiência e Saúde (CIF), aprovada pela 54ª Assembléia da Organização Mundial da Saúde em 22 de maio de 2001. Segundo a CIF, as funções fisiológicas incluem funções mentais. O termo anormalidade é utilizado na CIF estritamente para se referir a uma variação significativa das normas estatísticas estabelecidas (isto é, como um desvio da média da população dentro de normas mensuradas) e ele deve ser utilizado somente neste sentido. O conceito de deficiência não pode ser confundido com o de incapacidade, palavra que é uma tradução, também histórica, do termo "handicap". O conceito de incapacidade denota um estado negativo de funcionamento da pessoa, resultante do ambiente humano e físico inadequado ou inacessível, e não um tipo de condição. Exemplos: a incapacidade de uma pessoa cega para ler textos que não estejam em braile, a incapacidade de uma pessoa com baixa visão para ler textos impressos em letras miúdas, a incapacidade de uma pessoa em cadeira de rodas para subir degraus, a incapacidade de uma A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 19 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR pessoa com deficiência intelectual para entender explicações conceituais, a incapacidade de uma pessoa surda para captar ruídos e falas. Configura-se, assim, a situação de desvantagem imposta às pessoas COM deficiência através daqueles fatores ambientais que não constituem barreiras para as pessoas SEM deficiência. Infelizmente para nós, que lutamos há década pelo uso de terminologias correta, a acima referida CIF, em inglês ICF - International Classification of Functionality, Disability, and Health (www.who.int/icf/onlinebrowser/icf. cfm), foi oficialmente traduzida para o português como classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (www.fsp.usp.br/~cbcd). A tradução é inconsistente, pois consta na capa o título “Classificação Internacional de Funcionalidades, Incapacidades e Saúde” (no plural) e esse título aparecem várias vezes no singular no corpo do documento. E o pior é que só é utilizada a palavra incapacidade toda vez que, no texto original, aparece o vocábulo “disability” (deficiência). Imaginemos o Brasil inteiro voltando agora, como 50 anos atrás, a falar e a escrever: "Quantos incapacitados existem no Brasil?", "As empresas estão contratando pessoas incapacitadas", "Que tipo de incapacidade seu filho tem?". A tradução espanhola está correta: clasificación internacional del funcionamiento, de la discapacidad y de la salud. A questão do número. Formalmente, devemos manter a palavra deficiência no singular. Por exemplo: pessoas com deficiência visual (e não pessoas com deficiências visuais). Outro exemplo: pessoas com deficiência intelectual (e não pessoas com deficiências intelectuais). É importante flexionarmos no singular ao nos referirmos à deficiência e/ou ao tipo de deficiência, independentemente de, no idioma inglês, ser utilizado o plural ("persons with disabilities", "persons with intellectual disabilities") ou o singular ("persons with a disability", "persons with an intellectual disability"). Assim, é incorreto escrevermos, por exemplo: "Fulano tem deficiências intelectuais", "Sicrano é uma pessoa com deficiências físicas", "Beltrano é um aluno com deficiências visuais". Agora, um comentário sobre os vocábulos deficiência mental e deficiência intelectual. Ao longo da história, muitos conceitos existiram e a pessoa com esta deficiência já foi chamada, nos círculos acadêmicos, por vários nomes: oligofrênica; cretina; tonta; imbecil; idiota; débil profunda; criança subnormal; criança mentalmente anormal; mongolóide; criança atrasada; criança eterna; criança excepcional; retardada mental em nível dependente/custodial, treinável/adestrável http://www.fsp.usp.br/~cbcd A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 20 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR ou educável; deficiente mental em nível leve, moderado, severo ou profundo (nível estabelecido pelas Organizações Mundiais da Saúde, 1968); criança com déficit intelectual; criança com necessidades especiais; criança especial etc. Mas, atualmente, quanto ao nome da condição, há uma tendência mundial (brasileira também) de se usar o termo deficiência intelectual, com o qual concordo por duas razões. A primeira razão tem a ver com o fenômeno propriamente dito. Ou seja, é mais apropriado o termo intelectual por referir-se ao funcionamento do intelecto especificamente e não ao funcionamento da mente como um todo. A segunda razão consiste em podermos melhor distinguir entre deficiência mental e doença mental, dois termos que têm gerado confusão há vários séculos. “O primeiro passo no estudo independente da condição da deficiência mental” ocorreu no início do século 19, quando se estabeleceu “a diferenciação entre a idiotia e a loucura” (Enicéia Mendes, in Vivência, n.18,1996). Há cinco décadas, especialistas se preocupam em explicar a diferença que existe entre os fenômenos deficiência mental e doença mental (por exemplo: Laura Dittmann, 1959, Min. da Saúde e Bem-Estar Social do Canadá, in Lente, 1959, p.23-24; A.J.Malin, in J.Rehab. in Ásia, 1964, p.20; Taylor & Taylor, 1966, p.4; James Brussel, 1967, p.144; Roger Freeman, in Rehab.Literature, 1969, v.30, n.4, p.103-106; Secretary of State for Wales, 1971, p.3; Mental Handicap, 1980, p. 26; Henry Cobb & Peter Mittler, 1980, p.1-12; Marcelo Gomes, s/d, p.7). Pois são termos parecidos, que muita gente pensa significarem a mesma coisa. Então, em boa hora, vamos separar os dois construtos científicos. Também no campo da saúde mental (área psiquiátrica), está ocorrendo uma mudança terminológica significativa, que substitui o termo doença mental por transtorno mental. Permanece, sim, o adjetivo mental (o que é correto), mas o grande avanço científico foi a mudança para transtorno. Em 2001, o Governo Federal brasileiro publicou uma “lei sobre os direitos das pessoas com transtorno mental” (Lei n. 10.216, de 6/4/01), na qual foi utilizada exclusivamente a expressão transtorno mental. Aqui também se aplica o critério do número: pessoa(s) com transtorno mental e não pessoa(s) com transtornos mentais, mesmo que existam várias formas de transtorno mental. Segundo especialistas, o transtorno mental pode ocorrer em 20% ou até 30% dos casos de deficiência intelectual (Marcelo Gomes, “O que é deficiência mental e o que se pode fazer?”, s/ d), configurando-se aqui um exemplo de deficiência múltipla. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 21 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR A SUBSTITUIÇÃO DA NOMENCLATURA MENTAL PARA INTELECTUAL Hoje em dia cada vez mais se está substituindo o adjetivo mental por intelectual. A Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde realizaram um evento (no qual o Brasil participou) em Montreal, Canadá, em outubro de 2004, evento esse que aprovou o documento declaração de montreal sobre deficiência intelectual. Observe-se que o termo intelectual foi utilizado também em francês e inglês: Déclaration de Montreal sur la Déficiénce Intelectuelle, Montreal Declaration on Intellectual Disability). A expressão deficiência intelectual foi oficialmente utilizada já em 1995, quando a Organização das Nações Unidas (juntamente com The National Institute of Child Health and Human Development, The Joseph P. Kennedy, Jr. Foundation, e The 1995 Special Olympics World Games) realizou em Nova York o simpósio chamado intellectual disability: programs policies, and planning for the future (deficiência intelectual: programas, políticas e planejamento para o Futuro). A propósito, uma influente organização espanhola mudou seu nome, conforme notícia publicada em 2002: “Espanha - Resolução exige a substituição do termo deficiência mental por deficiência intelectual”. “A Confederação Espanhola para Pessoas com Deficiência Mental aprovou por unanimidade uma resolução substituindo a expressão deficiência mental por deficiência intelectual”. Isto significa que agora a Confederação passa a ser chamada Confederação Espanhola para Pessoas com Deficiência Intelectual (Confederación Española de Organizaciones en favor de Personas con Discapacidad Intelectual). Esta organização aprovou também o novo Plano Estratégico de quatro anos para melhorar a qualidade de vida, o apoio institucional e os esforços de inclusão para pessoas com deficiência intelectual (in Digital Disnnet Press Agency, Digital Solidarity, n 535, Bogotá, 3/12/02). Em novembro de 2006 a American Association on Mental Retardion (AAMR) trocou o nome para American Association on Intellectual and Developmental Disabilitres (AAIDD), substituindo a nomenclatura retardamento mental por deficiência intelectual e do desenvolvimento. É importante registrar a influência das transformações sociais ocorridas no final do século XIX e começo do século XX, as quais foram decorrentes da Revolução Industrial, quando aparece o interesse pela educação nos países desenvolvidos. Esse interesse provocou o início do A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 22 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR atendimento aos deficientes mentais, bem como o aparecimento do modelo educacional destinado a um movimento de exclusão escolar e social. Nesse processo, podemos citar, em 1905, Binet e Simon, que criaram a Escala Métrica de Inteligência. Trata-se de um instrumento que marca até hoje as diferentes concepções da intervençãoeducacional e que vem trazendo para milhares de alunos com necessidades educacionais especiais o rótulo de deficientes intelectuais – o que os tem excluído da ciranda social e escolar. Observamos que a sociedade possui uma visão de homem padronizada e classifica as pessoas de acordo com essa visão. Elegemos um padrão de normalidade e nos esquecemos de que a sociedade se compõe de homens diversos, que ela se constitui na diversidade, assumindo de um outro modo as diferenças. A dificuldade de superar a visão padronizada de homem está calcada no fato de serem concebidas as diferenças numa perspectiva qualitativa. Em outros termos, a escola tem reproduzido uma visão determinista de sociedade, classificando seus alunos em mais inteligentes e menos inteligentes. Os grupos sociais humanos definem padrões normais ou estigmatizados. Assim, uma pessoa é considerada normal quando atende aos padrões que previamente são estabelecidos. A transgressão desses padrões caracteriza o estigmatizado, que, por sua vez, expressa desvantagem e descrédito diante de oportunidades concernentes aos padrões de qualidade, de acordo com o estádio mais avançado das criações humanas. O estigma se interpõe, atualmente, em todas as relações, como um constructo social que é internalizado pela maioria das pessoas como “coisa anormal”. Nesse enfoque, podemos entender a análise de Goffman (1988). “Por definição é claro, acreditamos que alguém com estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminação, através das quais efetivamente e, muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida. Construímos uma teoria de estigma, uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo, racionalizando algumas vezes uma animosidade, baseada em outras diferenças, tais como as de classe social”. Dentre os estigmas construídos historicamente, que ainda permanecem muito fortes na sociedade atual, destacamos aquele que considera a pessoa com deficiência (e que tem direito à educação) uma vítima de modelos segregados, superados e marcados pela desigualdade de valor entre as pessoas. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 23 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR Assim sendo, discutir o conceito e o tipo de integração/inclusão/exclusão implica delinear os contornos deste novo paradigma de escola inclusiva. O termo integração tem sido utilizado com o objetivo de demarcar as práticas de segregação, que consistem em agrupar e retirar do ensino regular os alunos deficientes que apresentem dificuldades de adaptação ou de aprendizagem . Algumas pesquisas têm demonstrado que apenas a mudança no ambiente físico não significa melhora na qualidade de vida, por isso a institucionalização deve ser uma alternativa disponível. Outros consideram que tal melhoria depende de implementações futuras e questionam a institucionalização como alternativa de ambiente educacional. “Integração é um processo. Integração é um fenômeno complexo que vai muito além de colocar ou manter excepcionais em classes regulares. É parte do atendimento que atinge todos os aspectos do processo educacional”. Devemos sublinharque uma política de mercado de trabalho e de integração social exige uma transformação na prática das políticas adotadas e implica redefinir o papel do professor e a dinâmica das relações sociais dentro e fora da sala de aula. Podemos abominar totalmente a ideia de que o responsável pelo processo de integração é apenas o professor especializado, num reduto denominado sala de aula. Na verdade, é a partir da construção de um projeto pedagógico coletivo autônomo e voltado para a diversidade que a proposta de integração começa a encontrar ressonância e a se contextualizar nos diferentes sistemas de ensino. O termo inclusão tem aparecido associado ao termo inovação educacional, o qual foi utilizado na Espanha na década de 80 . Este último refere-se a uma escola mais aberta e mais flexível para acolher uma diversidade de alunos com diferentes interesses, motivações e capacidades de aprender. O processo de inclusão tem o caráter de um programa aberto que dá lugar a projetos diversificados nos diferentes centros educacionais, adequando seus recursos e metodologias, não somente aos alunos com necessidades especiais, mas também aos alunos regulares. De acordo com tais ideias, deverá ocorrer uma mudança positiva e significativa em relação ao projeto pedagógico global, o que resultará num tratamento mais adequado à diversidade (de alunos, de professores, de entornos sociais e escolares). Cabe, neste momento, citar a afirmação de Gortázar (1995): “A igualdade entendida como diversidade, como desenvolvimento das potencialidades educacionais através de uma oferta múltipla, pressupõe uma escolha decidida da integração escolar”. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 24 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR A ideia de inclusão de alunos deficientes intelectuais na escola de ensino regular tem como objetivo primordial promover a integração social e se constitui numa meta cada vez mais presente nos diferentes sistemas educacionais. Atender a esse objetivo requer o desprendimento das atitudes tradicionais que sustentam o sistema escolar. Isto porque a característica mais marcante na abordagem de um ensino tradicional consiste em reduzir as oportunidades oferecidas aos alunos. Assim sendo, o currículo mostra-se limitado e não proporciona uma interação nas relações que se estabelecem entre professores- alunos e alunos-alunos. Segundo D’Antino (1997): “... na educação ainda se reflete a ideologia político-social de qualquer sociedade, há de se tentar compreender a educação especial que hoje temos de conformidade com a sociedade em que vivemos. Sociedade essa que tende a excluir as minorias e delas esperar sempre muito pouco. Sabe-se que a ideia de isolar e segregar está presente em muitos que pensam na educação dos portadores de deficiência mental, por considerar que a sua plena integração social jamais se consolidará numa sociedade competitiva que preconiza o desempenho, a produtividade, o vigor a beleza, etc”. A inclusão do indivíduo com deficiência dependerá do processo de relações dialéticas constituído desde as primeiras vivências no seu grupo de referência. Em outros termos, é preciso que haja aceitação da deficiência por parte dos demais participantes da comunidade. Além disso, deverá haver vontade política para a construção de uma prática social menos segregacionista e menos preconceituosa. As atitudes de rejeição ( estigmas e posturas preconceituosas transmitidas culturalmente) criam barreiras sociais e físicas dificultando o processo de integração. Dentre as rejeições, a maior barreira consiste na tendência de não se acreditar no potencial de desenvolvimento e aprendizagem do aluno com necessidades especiais. Considerando a complexidade da vida em sociedade, caracterizada pela convivência de pessoas tidas como normais com tantas outras concebidas como anormais, a integração constitui uma via de mão dupla, na qual deficientes e não- deficientes devem interagir na construção de um entendimento comum. O caminho para isso está no reconhecimento de que a diferença, por mais acentuada que seja, representa apenas um dado a mais no universo plural em que vivemos, sem que isto signifique a perda do essencial da existência a sua humanidade. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 25 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR Neste contexto, é necessário que o sistema educacional assuma os objetivos da educação com relevância e desperte no aluno o desejo de desenvolver sua autoestima. A escola deve fazer intervenções e oferecer desafios adequados ao aluno deficiente, além de valorizar suas habilidades, trabalhar sua potencialidade intelectual, reduzir as limitações provocadas pela deficiência, apoiar a inserção familiar, escolar e social, bem como prepará-lo para uma adequada formação profissional, almejando seu desenvolvimento integral. Osório (1999) sinaliza que: “a integração não é só do portador de deficiência, mas de todas as crianças da escola. Ela tem duas mãos, e não apenas o sentido de adaptação dos alunos com necessidades especiais”. Os estudos de Sassaki (1997 ) revelam que a integração social ocorre pelas seguintes formas: “Pela inserção pura e simples daquelas pessoas com deficiência que conseguiram ou conseguem, por méritos pessoais e profissionais próprios, utilizar os espaços físicos e sociais, bem como seus programas e serviços, sem nenhuma modificação por parte da sociedade, ou seja, da escola comum, da empresa comum, do clube comum, etc. Pela inserção daqueles portadores de deficiência que necessitavam ou necessitam de alguma adaptação específica no espaço físico comum ou no procedimento da atividade comum a fim de poderem, só então, estudar, trabalhar, ter lazer, enfim, conviver com pessoas não- deficientes. Pela inserção de pessoas com deficiência em ambientes separados dentro dos sistemas gerais. Por exemplo: escola especial junto à comunidade; classe especial numa escola comum; setor separado dentro de uma empresa comum ; horário exclusivo para pessoas deficientes num clube comum etc. Esta forma de integração, mesmo com todos os méritos, não deixa de ser segregativa”. Os paradigmas relativos ao processo de inclusão implantado por outros países estão sendo atualmente avaliados a fim de serem identificados os sucessos e insucessos. Enquanto isso, no Brasil, essa política de inclusão se manifesta de forma inconsistente, deixando de lado uma reflexão que solidifique os ditames expressos no documento denominado: “Declaração de Salamanca”, (Espanha,1994). É notória a dissociação entre os discursos oficiais e as recomendações que favorecem o entendimento da eficiência e da prática pedagógica para que a integração se efetive. Entre elas podemos citar: o número excessivo de alunos nas salas de aula, as dificuldades de aprendizagem, a questão dos procedimentos da avaliação e encaminhamento para as escolas e classes especiais, a descontinuidade dos programas, as mudanças de governo acompanhadas da ausência de vontade política, os baixos salários, as salas de aula sem condições A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 26 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR de trabalho, a desinformação, despreparo e a não-capacitação dos recursos humanos, principalmente, nos programas curriculares dos cursos Magistério e Superior. Paralelo a esses fatores, estão presentes os discutíveis padrões de normalidade, as práticas acompanhadas de atitudes discriminatórias em vários setores da atividade humana, as quais, quando somadas, denunciam a discrepância existente entre o discurso e a prática. O grande problema da integração não está nem nas diferentes concepções existentes sobre este processo, nem nas iniciativas tomadas para sua viabilização; encontra-se, sim,no fato de as pessoas com necessidades educacionais especiais não serem entendidas e assumidas como sujeitos históricos e culturalmente contextualizados. O problema está na concepção de homem e de mundo que delineia as ações e orienta as formas de se pensar na própria inclusão. Como nos referimos anteriormente aos discutíveis padrões de normalidade, cabe aqui algumas referências que podem subsidiar e clarear os nossos estudos. Apoiando-nos no documento“Política Nacional de Educação Especial ” MEC/SEESP (1994), precisamente na questão da Revisão Conceitual, vemos que Normalização é: “Princípio que representa a base filosófico-ideológica da integração. Não se trata de normalizar as pessoas, mas sim o contexto em que se desenvolvem, ou seja, oferecer, aos portadores de necessidades especiais, modos e condições de vida diária o mais semelhantes possível às formas e condições de vida do resto da sociedade”. Temos como pressuposto que a integração está estritamente vinculada à interação, e que esta favorece o convívio da pessoa com necessidades especiais com seus pares não deficientes nos diversos segmentos de sua comunidade. É preciso fazer valer seus direitos e a efetivação de práticas que contribuam e possibilitem a sua participação no ambiente de sua cultura. Falvey (1990 ) define a integração como um processo natural, mas as práticas segregativas já incorporadas pela sociedade funcionam como impedimentos da interação do diferente à sociedade. Diante de tais considerações, podemos entender que o princípio de normalização diz respeito a um encaminhamento seletivo do aluno com necessidades especiais na sala do ensino regular. Em consequência desse processo, o professor da sala de ensino regular não recebe apoio pedagógico do professor da área de educação especial, e o aluno, por sua vez, deverá demonstrar que é capaz de frequentar a classe de ensino regular. O princípio de inclusão teve seu início nos Estados Unidos, em 1975. Posteriormente, tal ideário chegou ao Brasil. Somos de opinião que a Escola Inclusiva deva acolher em toda sua extensão o processo de inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas, de A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 27 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR gênero e outras na rede regular de ensino, em todos os ciclos que o compõe. (Ciclo I - , Ciclo II e Ensino Médio). Consideramos que a Escola Inclusiva cumprirá sua missão quando os princípios, política e ações corresponderem aos critérios que a norteiam e fundamentarem um sistema de ensino que possa abranger todos os alunos, independente de suas diferenças. O documento “Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais” fomenta as diretrizes e as discussões nos países que aderiram aos estudos do processo de inclusão. O desafio que enfrentam as escolas é o de desenvolver uma pedagogia centrada na criança, capaz de educar a todos, com sucesso, inclusive os que sofrem deficiências graves. O mérito dessas escolas não está só na capacidade de dispensar educação de qualidade a todas as crianças. Trata-se também de um passo muito importante para tentar mudar atitudes de discriminação e criar comunidades acolhedoras e sociedades integradoras. Firmamos esse pensamento somando-o a um dos preceitos que aparece no citado documento: “ Quando necessário, se deverá recorrer a ajudas técnicas apropriadas e exequíveis para se obter uma boa assimilação do programa de estudos e facilitar a comunicação, a mobilidade e a aprendizagem. As ajudas técnicas tornar-se-ão mais econômicas e eficazes quando vindas de um centro comum em cada localidade, no qual se disponha de conhecimentos técnicos para ajustar as ajudas às necessidades individuais e mantê-las atualizadas”. (1997) . Os estudos de Barroso (1996) Da exclusão escolar dos alunos à inclusão social da escola: Que sentido para a territorialização das políticas educativas? contribuem para com o que vimos registrando. Tem como pressupostos: “O ‘combate à exclusão’ escolar dos alunos não se pode travar, unicamente, dentro dos “muros da escola”. A ‘vitória’ nesse ‘combate’ passa pela integração da escola na sua comunidade de referência e pelo reforço da dimensão social do seu trabalho. A ‘inclusão social da escola’ obriga a uma clara valorização do ‘local’ na definição das políticas educativas, na administração do sistema, na seleção dos currículos e das estratégias pedagógicas. É este o sentido da ‘territorialização’ , enquanto forma de contextualizar, localmente, a ação política e a administração da educação”. Para Barroso (1996), o conceito de “territorialização”, como medida política, é um processo controverso que obedece, por vezes , a lógicas diferentes e tem efeitos práticos contrários aos enunciados na sua retórica. Vem sendo utilizado desde os anos 80, em vários países anglo- saxônicos, como os Estados Unidos, o Reino Unido, a Austrália, Nova Zelândia. Essas medidas A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 28 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR políticas, claramente inspiradas em políticas neoliberais, são conhecidas como “school based management” –“gestão centrada na escola”. No entanto, a autonomia propagada pelas escolas não está atendendo ao seu real significado, conforme define Bueno ( 1980). “Autonomia, s.f. Faculdade de se governar por si mesmo; (...) emancipação, independência; sistema ético segundo o qual as normas de conduta provêm da própria organização humana; autodeterminação”. Na Educação Especial e mais precisamente no interior de nossos estudos voltado à inclusão do deficiente intelectual, julgamos de forma imperativa como se estabelece a autonomia. Ela se mostra, às vezes, de acordo com os paradigmas de apoio, embora apresente paradigmas apoiados no sentido político oposto. É nesse contexto que se estabelecem os valores e princípios do processo de inclusão e/ou integração do deficiente intelectual. Considerando esses fatores nas políticas educacionais iniciadas em vários países, bem como os estudos que têm sido concluídos sobre o assunto, é possível identificar, embora operando o fator diversidade, alguns pontos em comum, tais como: a) O princípio nas políticas adotadas; b) O fato de o aluno com necessidades educacionais especiais ser avaliado em suas funções; c) A fuga do ideal de homem em determinado momento cultural; d) A dificuldade de sua participação social . A verdadeira inclusão deverá ter como alicerce um processo de construção de consensos valores, políticas e princípios, proveniente de uma reflexão coletiva sobre o que é a escola, quais as suas funções, os seus problemas e a maneira de solucioná-los. Deve-se buscar uma reflexão orientada para o diagnóstico e para a ação, e isso não se limita ao atendimento dos princípios normativos legais que justificam a inclusão. É preciso, como sublinhamos anteriormente, adotar a concepção de homem que traça as ações e orienta as formas para pensar na própria integração. Apoiados neste referencial, poderemos atingir a globalidade da organização escolar. Se não for assim, estaremos na presença de um processo de inclusão individual, reforçando sobremaneira o paradigma da integração norteado pelo princípio de normalização, isto é, A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 29 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR estaremos desenvolvendo as habilidades em ambientes segregados (escola especial e/ou classe especial) . Conclui-se que os valores, os princípios e as políticas devem priorizar tais fatores para fomentar o princípio da inclusão. Isso significa que cada comunidade, para gerar o processo de inclusão, deverá terliderança forte e mediadora, bem como estabelecer e impulsionar os valores, a cultura e os princípios do processo de inclusão. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 30 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR CONSIDERAÇÕES FINAIS Ainda que com os grandes avanços das entidades governamentais educacionais no sentido de promover a inclusão, é notório e infeliz o fato de que ainda estamos muito longe de conquistarmos uma escola verdadeiramente de qualidade e para todos. Este é um processo que exige uma constante troca de afetividade e sensibilidade de todos para que haja um trabalho com vistas à construção de uma sociedade mais digna, justa, igualitária e que respeite as diferenças. Presenciamos diariamente que os desafios do processo de inclusão estão passando por muitas reformulações nas escolas, desde as adaptações arquitetônicas, adaptações curriculares, capacitação de professores e mudanças didático-pedagógico-metodológicas que possam vir a aperfeiçoar o processo de ensino aprendizagem dessas crianças na rede regular de ensino. A escola tem um papel preponderante na denúncia de toda e qualquer forma de exclusão e, principalmente da exclusão de pessoas que necessitam de cuidados educacionais especiais. Ela deve promover a formação de pessoas críticas e cidadãos que estejam aptos a apontar mudanças e/ou alternativas para as relações sociais. Contudo, a clareza quanto aos fundamentos filosóficos, teóricos e jurídicos em prol da educação especial são atribuições do educador e das escolas deste milênio. A inclusão de pessoas com deficiência exige atualmente uma ressignificação das ações pedagógicas em todo o contexto escolar, além do compromisso político da educação. Para tanto, entro em acordo com Werneck (1997), quando diz que: participar da construção de uma sociedade inclusiva é como fazer longos passeios por novas ideias e sentimentos. Refletir sobre a inclusão acorda nossos monstros mais íntimos. Com alguns deles nunca havíamos nos deparados antes. Não adianta querer reduzir as dimensões do que será caminhar pela trilha de uma sociedade inclusiva. Temos que nos arriscar. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 31 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR BIBLIOGRAFIA BARROSO, J. Contra a exclusão escolar. In: Forum Nacional de Projectos – PEPT, 2000.Lisboa, 10-9-1996. [Anais] Lisboa: Centro Cultural de Belém, 1996. BRASIL, MEC/SEESP. Política Nacional de Educação Especial. Brasília. 1994. BUENO, J. G. S. A integração social das crianças deficientes: a função da educação especial. In: MANTOAN,, M. T. E. et. Alii. A integração de pessoas com deficiência. São Paulo: Memnon., 1997 D’ANTINO, M. E. F. A questão da integração do aluno com deficiência mental na escola regular. In: MANTOAN, M. T.E. A integração de pessoas com deficiência. São Paulo: Memnon: Ed. Senac, 1997. FONSECA, V. Educação especial: programa de estimulação precoce. Uma introdução às ideias de Feurstein. 2ª ed. 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A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 32 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR IMPORTANTE! AVALIAÇÃO DE CONCLUSÃO DO CURSO 1117 ESTIMADO (A) CURSISTA DESENVOLVA AS ATIVIDADES CORRESPONDENTES PARA CERTIFICAÇÃO DO CURSO. 1-ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA SOBRE A INCLUSÃO A) Dito de outra forma, a inclusão exige a transformação da escola, pois defende a inserção no ensino regular de alunos com quaisquer déficits e necessidades, cabendo às escolas se adaptarem às necessidades dos alunos, ou seja, a inclusão acaba por exigir uma ruptura com o modelo tradicional de ensino. B) A noção de inclusão, por essa razão, estabelece parâmetros igualitários (como faz o conceito de integração) em relação a tipos particulares de deficiências. Sassaki (1996) faz outra distinção, conceituando a integração enquanto inserção do deficiente preparado para conviver na sociedade, e a inclusão como uma mudança na sociedade, para que a pessoa com deficiência possa se desenvolver e exercer a cidadania. C) O princípio de inclusão teve seu início nos Estados Unidos, em 1999. Posteriormente, tal ideário chegou ao Brasil. Somos de opinião que a Escola Inclusiva deva acolher em toda sua extensão o processo de inclusão somente os alunos com deficiência auditiva independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas, de gênero e outras na rede regular de ensino, em todos os ciclos que o compõe. (Ciclo I - , Ciclo II e Ensino Médio). D) Considerando a complexidade da vida em harmonia, caracterizada pela convivência de pessoas tidas como normais com tantas outras concebidas como anormais, a integração constitui uma via de mão dupla, na qual deficientes e não- deficientes devem interagir na construção de um entendimento comum. A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 33 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR 2- “O aprendizado é uma das principais fontes da criança em idade escolar; e é também uma poderosa força que direciona o seu desenvolvimento, determinando o destino de todo o seu desenvolvimento mental”. A) Segundo Sassaki (1997) B) Segundo Jannuzzi (1985) C) Segundo Falvey (1990 ) D) Segundo Vygotsky (1991) 3- “... na educação ainda se reflete a ideologia político-social de qualquer sociedade, há de se tentar compreender a educação especial que hoje temos de conformidade com a sociedade em que vivemos. Sociedade essa que tende a excluir as minorias e delas esperar sempre muito pouco. A) D’Antino (1997) B) Saint-Laurent (1997) C) Vygotsky (1991) D) Jannuzzi (1985) 4- Mas, atualmente, quanto ao nome da condição, há uma tendência mundial (brasileira também) de se usar o termo deficiência intelectual. O mais apropriado. O termo intelectual por referir-se ao funcionamento do ........................especificamente e não ao funcionamento da mente como um todo. A) Pensamento B) Cérebro C) Intelecto D) Corpo 5- Assim sendo, discutir o conceito e o tipo de integração/inclusão/exclusão implica delinear os contornosdeste novo paradigma de escola .....................................O termo integração tem sido utilizado com o objetivo de demarcar as práticas de segregação, que consistem em agrupar e retirar de o ensino regular os alunos deficientes que apresentem dificuldades de adaptação ou de aprendizagem. A) Tradicionalista B) Interacionista C) Inclusiva D) Moderna A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 34 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR 6- Considerando esses fatores nas políticas educacionais iniciadas em vários países, bem como os estudos que têm sido concluídos sobre o assunto, é possível identificar, embora operando o fator diversidade, alguns pontos em comum, tais como: A) O princípio nas políticas adotadas; B) O fato de o aluno com necessidades educacionais especiais ser avaliado em suas funções; C) A fuga do ideal de homem em determinado momento cultural; A dificuldade de sua participação social. D) Todas as questões estão corretas. 7- Ela se mostra, às vezes, de acordo com os paradigmas de apoio, embora apresente paradigmas apoiados no sentido político oposto. É nesse contexto que se estabelecem os valores e princípios do processo de inclusão e/ou integração do deficiente intelectual. A) Na Educação Especial e mais precisamente no interior de nossos estudos voltado à inclusão do deficiente intelectual, julgamos de forma imperativa como se estabelece a autonomia. B) Na Educação da EJA e mais precisamente no interior de nossos estudos voltado à inclusão do deficiente intelectual, julgamos de forma imperativa como se estabelece a autonomia. C) Na Educação Informal e mais precisamente no interior de nossos estudos voltado à inclusão do deficiente intelectual, julgamos de forma imperativa como se estabelece a autonomia. D) Na Educação dos índios e mais precisamente no interior de nossos estudos voltado à inclusão do deficiente intelectual, julgamos de forma imperativa como se estabelece a autonomia. 8- Dentre os estigmas construídos historicamente, que ainda permanecem muito fortes na sociedade atual, destacamos aquele que considera a pessoa com deficiência (e que tem direito à educação) uma vítima de modelos segregados, superados e marcados pela desigualdade de valor entre as pessoas. A) “coisa desumana” B) “coisa anormal” C) “coisa simples” D) Nenhuma das alternativas A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 35 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR 9- A inclusão de pessoas com deficiência exige atualmente uma ressignificação das ações pedagógicas em todo o contexto escolar, além do compromisso político da educação. Para tanto, entro em acordo com Werneck (1997), quando diz que: A) Participar da construção de uma sociedade inclusiva é como fazer longos passeios por novas estradas. Refletir sobre a inclusão acorda nossos monstros mais íntimos. B) Participar da construção de uma sociedade inclusiva é como fazer longos passeios por novas ideias e sentimentos. Refletir sobre a inclusão acorda nossos monstros mais íntimos. C) Participar da construção de uma sociedade inclusiva é como fazer longos passeios por novas metodologias. Refletir sobre a inclusão acorda nossos monstros mais íntimos. D) Participar da construção de uma sociedade inclusiva é como fazer longos passeios por novas facetas. Refletir sobre a inclusão acorda nossos monstros mais íntimos. 10- A ideia de inclusão de alunos deficientes intelectuais na escola de ensino regular tem como objetivo primordial promover a .......................................e se constitui numa meta cada vez mais presente nos diferentes sistemas educacionais. A) integração social B) participação comunitária C) união entre os desiguais D) Somente a letra “A” está correta A INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL – CÓDIGO: 1117 36 WWW.CEDUCAPROFISSIONAL.COM.BR AVALIAÇÃO DE CONCLUSÃO DO CURSO 1117 NOME: _______________________________________________________________________ DATA: ________________________________CARGA HORÁRIA: ____________________ CPF:__________________________________RG:____________________________________ Preencha o cartão resposta e nos encaminhe por e-mail ou WhatsApp. 01 A B C D 02 A B C D 03 A B C D 04 A B C D 05 A B C D 06 A B C D 07 A B C D 08 A B C D 09 A B C D 10 A B C D Assinatura do (a) Cursista CEDUCAF – CENTRO DE EDUCAÇÃO, CAPACITAÇÃO EAPERFEIÇOAMENTO PROFISSIONAL Pedro João pereira, 331 / Mato Alto / CEP: 88904174 Telefone: (48) 3526-0166 Celular WhatsApp: (48) 99623-3849 E-mail: fale@ceducaprofissional.com.br Site: http://www.ceducaprofissional.com.br mailto:fale@ceducaprofissional.com.br http://www.ceducaprofissional.com.br/