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RESENHA CRITICA SOBRE LAHIRE, CARVALHO E SÁ EARP

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE LETRAS E ARTES
FACULDADE DE LETRAS
LETRAS-PORTUGUES-ÁRABE
DANULZIA GONÇALVES DA SILVA VOTORINO (119038566)
RESENHA CRITICA SOBRE LAHIRE, CARVALHO E SÁ EARP
RIO DE JANEIRO-RJ
2020.1 PLE
 DANULZIA GONÇALVES DA SILVA VITORINO
RESENHA CRITICA SOBRE LAHIRE, CARVALHO E SÁ EARP
Trabalho apresentado a Professora Joana Macedo como trabalho individual do curso de Fundamentos Sociológicos da Educação – EDF240 - PLE
RIO DE JANEIRO-RJ
2020.1 PL
RESENHA CRITICA SOBRE: LAHIRE, CARVALHO E SÁ EARP
Danulzia Gonçalves da Silva Vitorino[footnoteRef:1] [1: danulzia@gmail.com] 
Segundo Lahire, a família influência de forma ativa e direta no sucesso escolar do aluno, eu tenho que concordar com sua afirmação por experiência própria, Lahire afirma que a criança constitui seus esquemas comportamentais, cognitivos e de avaliação através das formas que assumem as relações de interdependência com as pessoas que a cercam com mais frequência e por mais tempo, ou seja, os membros de sua família, ou uma baba por exemplo que cuida de forma ativa e integral da criança, é bem possível, como vou contar a seguir um fato que ocorreu comigo, que a criança vai ter as características de acordo com essa baba. Todo esse desenvolvimento vai depender da convivência e da forma que a família ou a baba, se comportam em relação a criança, eu mesma, como citei acima, tenho uma experiência pessoal sobre o retardamento do desenvolvimento do meu filho de coração, seu desenvolvimento foi comprometido devido a forma que a família o tratavam, chegando ao ponto de ser confundido com uma criança com limitações mentais.
Eu fui baba do Giulio, meu filho do coração, durante seis meses, parei de olhar ele porque consegui entrar na UFRJ, mas mesmo assim continuei ficando com ele aos finais de semanas, até porque temos uma ligação emocional muito forte, a ponto de ficarmos doente se não nos vermos por muito tempo, hoje ele tem três anos e pra ele eu sou sua mãe, meu esposo seu pai e meu filho seu irmão, mesmo tendo contato com seus familiares, pra ele, nós somos sua família e por isso mantemos esse compartilhamento de guarda.
O Giulio era uma criança que já tinha um ano e não tinha desenvolvimento nenhum, não falava, só gemia, não sentava, não andava, não segurava objetos, parecia literalmente um bebe fora da idade de desenvolvimento, não fazia exatamente nada que seria normal em sua idade, então por ser uma pessoa que observo muito, ainda mais se tratando de crianças, que são a minha vida, percebi que a família dele estava atrapalhando o seu desenvolvimento, principalmente sua avó materna, ela ficava com ele praticamente o dia todo no colo, eu como baba, não conseguia fazer nada, ele era tratado como um bebe recém-nascido, observei durante um mês, até decidir que não ia mais olhar ele na casa dele e resolvi olha-lo na minha casa, com pouco tempo o Giulio já falava, segurava as coisas, com pouco tempo aprendeu a andar, comer sozinho, ele se desenvolveu de uma forma tão rápida que os familiares dele ficaram surpresos com o resultado final e por isso criamos essa ligação, esse desenvolvimento só se deu com a mudança de ambiente e porque ele passava muito tempo comigo, as vezes até dormia lá em casa, já que ele chorava pra não ir embora, mesmo ele sendo criança, devido a forma que ele agia e age, acredito que ele sabe que só se tornou a criança que ele é, devido a minha intervenção, hoje ele tem três anos e três meses, sabe falar e identificar todas as cores, sabe contar e identificar os números, sabe o alfabeto e as vogais e também os identifica, ele até soletra, porque ele vê a frase e vai dizendo as letras, ajuda em pequenas tarefas dentro de casa, dentre outras coisas que vai além de sua idade.
Na pesquisa de Lahire, os perfis demonstrados foram obtidos através de um trabalho de construção, os pesquisadores fizeram um esforço para os organizar de forma sociológica, isso só foi possível com uma construção particular de objeto, o material é oriundo da observação de realidades sociais relativamente singulares. Foram produzidos textos que não são isolados entre si, o texto de cada perfil, desempenha um papel no outro perfil. Dessa forma foi possível que o trabalho sociológico progredisse e consequentemente houve a possibilidade de abandonar o gênero monográfico puro, essa forma de proceder não acarretou na negligencia da singularidade de cada situação, mas sobretudo, não houve um contentamento em fazer apenas descrições ideográficas puras, sem comparações, que traem a ausência de uma orientação interpretativa claramente definida. Tudo isso foi possível através de avanços e recuos, o que foi procurado nessa pesquisa foram as variantes ou invariáveis através da análise de configurações singulares, essas tratadas como variações sobre os mesmos temas.
Lahire acredita que abordar separadamente os laços, perde-se de vista o que é importante ser destacado, segundo o autor, as características e os temas combinam entre si, e só tem sentido sociológico, isso segundo o seu objetivo, se forem inseridos na rede de seus entrelaçamentos concretos. O fato de seus diferentes membros das famílias contextualizadas agirem como agem, de seus filhos serem o que são, comportarem-se como tal nos espaços escolares, não é fruto de causas únicas que agiriam poderosamente sobre eles, Lahire afirma que estão envolvidos num conjunto de estados de fatos, de dados cujos comportamentos práticos cotidianos não passou de tradução, esse comportamento traduz o espaço potencial das reações possíveis em função do que existe em termos inter-humanos. Qualquer modificação do contexto de pessoas, dos traços familiares, das propriedades objetivas ou das disposições incorporadas, da estrutura de coexistência, pode levar a uma mudança de comportamento da criança.
Também tenho exemplo de que essa afirmação tem coerência e é verídica, antes de conseguir comprar meu apartamento, eu morava na casa da minha sogra, lá eu tive que me sujeitar ao contexto da casa, meu filho não podia fazer tarefas de casa, como sempre fez, porque é homem, por ser um ambiente hostil e quintal com diversas famílias diferentes, meu filho não gostava de brincar com as crianças e por isso não saia dos jogos de celular e do computador, mas isso não afetou no seu estudo, porém, quando já tínhamos pegado as chaves do apartamento e estávamos mais próximos de nós nos mudarmos, o meu filho começou a ter uma crise de ansiedade, suas notas começaram a baixar significantemente, uma criança que sua menor nota era nove, do nada começou a tirar cinco, seis, sete, num tempo recorde, onde quase ficou reprovado, só não ocorreu porque ao primeiro sinal de baixa de nota, eu o levei a uma psicóloga, onde vamos até hoje e lhe expliquei a situação e minhas suspeitas, a mesma confirmou que a mudança era a causa de tudo, não porque seria ruim para ele, mas porque ele queria que ocorresse logo, porque se perguntava como seria as crianças, como seria a nova escola, já que ele não queria mudar de escola, a princípio eu ia mantê-lo na mesma escola, porém ele se adaptou bem no condomínio, conseguiu fazer tantos amigos que eu me surpreendi, já que assim como eu na idade dele, ele era muito tímido, através de conversa consegui demonstrar que mudar de escola seria bom e mesmo tendo estudado apenas dois meses, ele se adaptou bem, a pandemia que foi o empecilho das demais coisas. A mudança brusca do Giulio também é um exemplo dessa mudança, hoje ele convive em quatro ambientes, a casa da mãe, a casa da avó materna, do pai e a minha casa, de todas as casas, a minha é a que tem regras, quando iniciou a pandemia, com o isolamento social, acabou que ele ficou na mãe, quando finalmente eu pude voltar a traze-lo para a minha casa, tive a impressão que ele regrediu, quando ele queria uma coisa, tipo um biscoito, ele não pedia, não falava: mamãe, posso comer biscoito? Ele ficava apontando para o armário e gemendo, eu tinha que ficar adivinhando o que ele
queria, quando descobria, só dava se ele pedisse, falava que ele tinha que pedir o biscoito, no início ele chorou, mas com o tempo, ele foi entendendo que aquilo era o certo e passou a agir como uma criança da idade dele novamente, em cada casa ele se comporta de uma forma, quando converso com eles sobre o Giulio, é como se estivéssemos falando de crianças diferentes, o mesmo ocorre com seu irmão mais velho, ele mora com a avó paterna, passa um tempo com a mãe, com a avó materna e agora também na minha casa, aqui ele lava a louça, pede as coisas e é obediente, nas demais casa, eles reclamam que não aguentam o tipo de criança que ele é, vou ter que leva-lo na psicóloga, mas a culpa é do ambiente familiar, ele pode fazer com que a criança se comporte bem, mas também pode fazer com que a criança se torne agressiva.
Já segundo Carvalho, o fracasso escolar mais acentuado no ensino fundamental se dá entre crianças negras do sexo masculino, as estatísticas indicam isso por diversas décadas, o objetivo da autora, foi investigar a categorização racial das crianças no âmbito escolar, apontar possíveis superposições entre os significados de masculinidade, pertencimento a raça negra e problemas escolares de disciplina e de desempenho, através de um estudo de natureza qualitativa. Lahire fez uma pesquisa demonstrando como o sucesso escolar do aluno pode ser influenciado por sua família, agora Carvalho demonstra, como o reflexo de um racismo estrutural influencia no sucesso escolar das crianças de sexo masculino e negras.
Através de questionários e entrevistas, Carvalho chegou na hipótese de que, pelo menos no âmbito escolar, a identidade dos meninos e meninas, são construídas tendo como referência, não só suas características fenotípicas e status socioeconômico, mas também, seu desempenho escolar, principalmente quando se trata dos meninos, esses são colocados no topo da lista. Segundo a autora, até 1960 eram as mulheres que tinham menor desempenho escolar, inclusive, muitas não tinham nem mesmo acesso à escola, porém, houve ao longo de 40 anos uma ampliação de acesso à escola por parte das mulheres, no mesmo tempo que se ampliava o acesso das mulheres a escola, ocorria uma inversão de entre os grupos, pois em 1999 as mulheres indicavam maior número na escola, enquanto os homens aumentavam o número de analfabetos, isso não ocorreu porque os homens pararam de ir à escola, mas sim, devido a não apropriação da ferramenta da leitura e da escrita, esses tiveram suas trajetórias marcadas por repetência e pela evasão, tal fato se tornou um indicador de que a escola está fracassando frente a esse grupo de jovens, concentrados por sua maioria do sexo masculino.
A situação piora quando se trata da cor e da raça, a maioria desses alunos que não obtiveram sucesso escolar é composto por homens negros, depois vem mulheres negras, homens brancos e mulheres brancas, esses últimos são a minoria, com essa pesquisa, a autora chegou à conclusão que a grande diferença na proporção de negros com problemas escolar, se dá devido as professoras classificarem um número muito menor de crianças como negras, a consciência entre raça negra e problemas escolares é muito mais intensa no que diz respeito as professoras, do que no que diz respeito a auto declaração dos alunos, o número maior de crianças do sexo masculino se dá ao fato das professoras embranquecer as meninas, essa classificação não foi feita devido ao racismo por parte das professoras, mas sim, devido ao racismo estrutural e cultural preexistente, que acabou moldando e construindo o nosso país, portanto, de forma inconsciente, as professoras acabaram reproduzindo tal fato.
Já Sá Earp, chegou à conclusão de que nas duas escolas pesquisadas, municipal e estadual, os professores não se veem responsáveis pelo aprendizado e promoção de seus alunos, ou seja, tais professores têm como cultura de que sua obrigação é entrar na sala de aula, dar o conteúdo e a do aluno é aprender, tal cultura pode ser notada já dentro da sal de aula na forma de ensino, os alunos que ficam no centro da sala, são tidos como os alunos merecedores da atenção total dos professores, esses recebem ensinamento direto e por isso obtém melhor compreensão do conteúdo e melhores notas, já os alunos que ficam na periferia, ou seja, no fundo da sala, esses são classificados como alunos que não querem nada com os estudos, vão pra sala pra sentar lá atrás e fazer bagunça, por isso o professor não lhes dá tanta atenção e seu ensinamento não é dirigido com tanta qualidade a esses alunos, como pode, dentro de uma sala de aula, com o mesmo professor, existirem separação de alunos, duas formas de ensino, uma de boa qualidade e uma de má qualidade, assim como ocorre na sala de aula, ocorre na sociedade, o professor acaba reproduzindo o que a sociedade faz, os alunos que sentam na frente, são tidos como os alunos com classe social melhor, já os da periferia, são tidos como favelados, que não querem nada com os estudos, seus sucesso escolar acaba sendo sabotado pelo próprio professor.
Na leitura de cada autor, ligando-os a sociedade e entre si, pude perceber que existem três fatores que são predominantes no sucesso ou no fracasso escolar de cada aluno, e nenhum deles depende do aluno em si, dois deles estão diretamente ligados aos professores e a escola, o primeiro fator predominante que foi destacado por Lahire é a família, não importa se o aluno estuda numa boa escola, com ótimos professores, se sua família é uma família desestruturada, esse fato vai sabotar seu aprendizado, porém, a família não vai reconhecer sua participação direta nessa sabotagem que lava ao fracasso escolar, a mesma vai jogar na cara do aluno que paga a melhor escola, que ele tem os melhores professores, que não falta nada, dentre outras coisas, não se faz necessário tudo isso para o sucesso escolar de uma criança, o que faz a diferença é o equilíbrio entre família, escola e professores, o segundo fator que leva o sucesso escolar e de forma indireta transmite um racismo estrutural, é a classificação de cor e raça feita pelos professores, essa foi destacada por Carvalho e afeta diretamente os homens negros, em contra partida, o terceiro fator que leva ao fracasso escolar, esse destacado por Sá Earp, atinge diretamente as periferias e os alunos com menos condições sociais, é a discriminação por parte dos professores e o julgamento feito através da cultura de que o professor não é responsável pelo aprendizado e ascensão do aluno, então, se o aluno quer aprender, ele senta na frente, pois assim ele terá atenção direta do professor, mas se não quer aprender, senta na periferia, senta no fundo da sala, porém, não existe uma forma de todos os alunos sentarem na frente, fora fatores físicos e biológicos que exigem que algumas pessoas sentem no fundo, uma pessoa que não enxerga de longe, essa vai fazer de tudo para chegar cedo e sentar na frente, isso não quer dizer que ela quer aprender mais que o outro que não enxerga de perto e tem que sentar lá no fundo, ou uma pessoa que o pai ou a mãe tem carro, paga transporte escolar e por isso ela chega mais cedo e senta na frente, não é um aluno melhor que aquele que além de morar longe da escola, os pais não possuem carro, não podem pagar um transporte escolar e o mesmo só tem uma opção de condução que passa na escola, se perder já era, vai chegar atrasado, esse aluno ainda depende de pegar um motorista bom, pois existem muitos motoristas que mesmo a criança estando uniformizada, com cartão do estudante, ele não para, só se tiver um passageiro comum no ponto e esse fizer sinal, fora isso, se for só estudantes, esse como o povo fala, fica na pista, eu mesma já passei muito por isso e era obrigada a sentar nu fundo da sala, coisa que eu não gostava, nem sempre quem está no fundo gosta, as vezes não tem opção
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