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FOLHA DE ROSTO Uma igreja para a cidade © 2017 de Manoel Araújo 1ª Edição: Maio de 2017 Todos os direitos reservados por; EDITORA KOINONIA Rua Lindolfo de Azevedo, 1793 - Jd. América Belo Horizonte - MG - CEP 30421-428 TEL: (31) 3657-5799 www.editorakoinonia.com.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser utilizada ou reproduzida - em qualquer meio ou forma, seja mecânico, fotocópia, gravação etc. - nem apropriada ou estocada em banco de dados sem a expressa autorização do autor. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP – Brasil – Catalogação na Fonte ___________________________________________________________ Araújo, Manoel Uma igreja para a cidade / Manoel Araújo - 1. ed. - Belo Horizonte, MG: Ed. Koinonia, 2017. 148 p.; 21 cm. Inclui índice 1. Religião. 2. Evangelismo 3. Lameira, Saulo II. Título. CDD: 200 ISBN 978-85-5990-039-2 Este livro foi diagramado pela: AMS DIAGRAMAÇÃO www.amsdiagramacao.com.br Prefácio A história da Igreja sempre foi marcada por perseguições e intolerância por parte daqueles que não entendem o seu propó- sito e missão aqui na terra. Já tivemos que nos opor a impérios, reunirmo-nos em catacumbas e até fomos acusados absurda- mente de praticar incesto por declararmos o nosso amor pelos nossos “irmãos”. Aprendemos a brilhar em meio as trevas, a crescer apesar da dureza do solo no qual fomos semeados, a avançar independente das filosofias, pseudociências e vã sabe- doria desse mundo tenebroso. Há, visivelmente, nos tempos atuais um terrível e assom- broso levante contra a Noiva de Cristo. Um nítido complô por parte da mídia, dos governos, da nova ordem mundial, e até mesmo de alguns segmentos da própria Igreja, que têm unido esforços apontando os seus canhões e disparando impiedosa- mente contra a Igreja do Senhor. Movimentos como o dos “desigrejados” têm se expandi- do e ameaçado a integridade e solidez da Igreja organizada. Práticas no mínimo duvidosas e em distonia com a tradição bíblico-cristã, motivadas pela ganância de líderes interesseiros, colocam em xeque a credibilidade e testemunho da Igreja Cris- tã brasileira, que infelizmente tem perdido posições no quesito confiança por boa parte da opinião pública. Porém, apesar de todas as crises e reveses pelos quais a Igreja tem passado nesses últimos dias, tem-se percebido no campo de batalha uma bandeira arvorada vigorosamente por parte daqueles que ainda amam sinceramente o Corpo de Cristo e continuam acreditando na Igreja como um lugar de refúgio, graça e manifestação do amor de Deus para todos os homens. Esses são daqueles não desistem do trigo por conta do joio, não desprezam as ovelhas por conta dos bodes; pois preferiram a fé à descrença total. Nesse livro o autor propõe-se a, como um hábil instrutor de mergulho, nos conduzir a águas mais profundas mediante fartas reflexões sobre temas pertinentes à natureza, funcionali- dade e relevância da Igreja na presente era. Sua pena é precisa e esclarecedora. Sua visão aguçada e objetiva no foco proposto para a atual leitura. Cada página revela a inspiração e a sabe- doria de um homem apaixonado pela Igreja. Conheço pessoal- mente o Pr. Manoel Araújo e posso garantir ao amado leitor que em algumas décadas de minha vida, dedicadas exclusivamente ao serviço ministerial, encontrei bem poucos homens com um nível tão alto de envolvimento, entrega e apoio a ministérios, igrejas e líderes Brasil a fora. Há uma chama dentro dele que queima de amor pelo Reino e suas manifestações aqui na terra. A cada capítulo somos desafiados a navegar por densas águas. Às vezes em um mar revolto que revela as crises, fra- quezas e doenças que tentam ameaçar a Igreja, após mais de 2.000 anos de sua fundação. Em outros momentos velejamos por páginas tranquilas que revelam o amor e cuidado de Deus por aquela que custou o sangue de seu unigênito Filho. Quanto à natureza da leitura, está longe de ser a mensagem deste livro o regurgitar da alma de um “profeta do caos”, que acidamente aponta falhas encontradas a partir de um prisma negativista, sem nada de bom pontuar. São sim, palavras de um 5 homem maduro, revestidas de sabedoria e recheadas de inteli- gência que não tem por finalidade arrastar o leitor para dentro dos escuros porões da descrença e desimportância acerca da necessidade e significância da Igreja hodiernamente, mas que verdadeiramente tem como objetivo despertar o valente cora- ção daqueles que repousam a mão sobre o arado para que com firmeza de propósito continuem avançando para o alvo, con- fiando naquele que em nosso meio começou a boa obra e há de finalizá-la É um livro que gera indagações, reflexões e provocações em nossos corações. Lê-lo é como iniciar uma boa conversa entre amigos. É como plantar árvores na esperança de que as próximas gerações sejam alimentadas, assim como nós temos sido pelos muitos frutos daqueles que com integridade e resig- nação pastorearam o grande rebanho de Cristo Jesus em tem- pos passados. Não tenho dúvidas de que a leitura deste livro tornar-se-á para muitos uma eficiente ferramenta de auxílio para a cura e restauração de ministérios. Leia, edifique-se, reflita e aja, pois o Noivo está voltando, e a Noiva ainda carece de autênticos ornamentos. Pr. Wendell de Carvalho. 6 Agradeço a Deus por trazer luz ao meu caminho. A minha esposa Paula Renata, Bianka e Leticia que são tão especiais para mim. A minha Igreja Batista em Camela que tem sido nosso lugar de reflexão e fé e por fim aos colegas do Pastoreio de Pastores que nos ajudam a crescer como cristão e servo de Deus. Sumário Introdução .....................................................................................11 1 - Um olhar sobre a Igreja Brasileira ........................................15 Está Insuportável .....................................................................25 Estou fora do movimento evangélico ...................................29 Não quero mais ser evangélico ..............................................33 2 - O caminho saudável da igreja ...............................................37 3 - O DNA da igreja .....................................................................47 A igreja dos fariseus ................................................................59 A igreja de Jesus .......................................................................65 4 - Sinais de uma Igreja Saudável ...............................................71 A mensagem é centrada em Cristo .......................................77 Entrada na igreja pelo arrependimento ................................82 Perseverança nos relacionamentos ........................................87 Generosidade voluntária ........................................................93 Espiritualidade saudável .........................................................99 Adoração contínua ................................................................103 Crescimento ao Reino ...........................................................109 5 - Os principios que vivemos ..................................................113 6 - Uma realidade dentro da igreja ...........................................137 Referências Bibliográficas ..........................................................147 11 Introdução Uma igreja para a cidade urgente No Novo Testamento é bem isso que observamos: a tentati- va dos apóstolos de orientar a igreja primitiva a viver o evange- lho saudável, que é o evangelho de Cristo. Quantos desvios são abordados pelos discípulos de Jesus! Desvio moral de muitos, falta de compreensão da doutrina e dons espirituais, semelhan- ça com práticas pagãs sendo chamadas de “obra de Deus”, con- flitos de relacionamentos que geram divisão, orientações para a vida do líder centrada em Cristo. Estes e muito outros temassão abordados no primeiro século da Igreja. Pensar que a Igreja vive hoje um tempo difícil... Acho que sempre foi difícil se manter saudável dentro do cristianismo, porque os homens não estão saudáveis. A igreja está cheia de gente doente precisando de ajuda e os que chegam estão precisando de cuidados tam- bém. Mas um livro sobre igreja? Certamente alguns de nós po- demos perguntar se ainda é possível pensar o assunto. Outros pensam hoje de forma negativa, será que tem jeito esta igreja a que estamos assistindo hoje? Neste livro você terá uma análise da realidade da igreja evangélica brasileira e não só uma análise, mas a proposta do livro é apresentar um caminho bíblico de igre- ja saudável. Nem todos concordam com tantas vozes que hoje anunciam uma crise na igreja, mas não estamos bem. Quando olhamos a igreja crescendo de forma exponencial e grandiosa, pensamos logo: que maravilha, a Igreja de Jesus está avançan- 12 do e as pessoas estão entendo que precisam se reconciliar com Deus, só que quando observamos a prática da igreja, não conse- guimos ver de fato uma igreja arrependida dos erros humanos naturais e assistimos a uma sequência de desvios bíblicos em função de outras possibilidades que a religião oferece. Certa vez estava com um escritor amigo e minhas duvidas sobre escrever sobre o que muitos já fizeram. Ele me disse: o que você pode estar escrevendo é a partir de sua experiência e certamente nenhum deles pode estar vivendo a mesma reali- dade que a sua. Partindo deste pressuposto, apresento aqui um livro sobre igreja, com a possibilidade de ajudar no repensar a igreja evangélica brasileira com o olhar de uma nova geração que tem surgido neste novo século e que não está conseguindo dialogar com o modelo dos séculos passados, além de viver em um ambiente cultural evangélico que considero distante das escrituras. Pensando missiologicamente, em seu livro A Igreja é Maior Que Você Pensa, o Dr Patrick Johnstone chama atenção para o desafio missionário deste século, que será urbano. Nun- ca as cidades se tornaram tão populosas. Está acontecendo no mundo um deslocamento acelerado das pessoas da zona rural, e também de cidades menores para grandes cidades e capitais. Este movimento certamente tem gerado mudanças significati- vas em futuras gerações. Minhas experiências em meu campo missionário destacam esta verdade já muito clara. Somos uma comunidade dividida em um grupo que migrou da zona rural com aproximadamente seus 50 anos de idade ou um pouco me- nos, assistindo a outra forma de vida dos jovens de 20 anos e os conflitos são enormes. Penso que culturalmente será difícil 13 achar que poderemos voltar ao que era antes. Com o aumento do acesso à tecnologia, jamais será como antes. Pensando teologicamente, a diversidade eclesiológica da igreja evangélica brasileira está atingindo distorções bíblicas nunca antes pensadas. Claro que muitos sinalizaram sobre isso: o Dr Russel Shedd, em conferência, mencionou que a crise na igreja brasileira passará pelo debate hermenêutico. Nós não estamos estudando a Bíblia e deixando-a falar; estamos pro- curando na Bíblia o que nos interessa. Claro que nunca gene- ralizando: a proposta da maioria das igrejas brasileiras está em formar uma estrutura de poder e usá-la em nome de Deus. Isso é herança romana e que Jesus Cristo denunciou várias vezes. Pensando na cultura, a cada dia esta geração vai perdendo o prazer pela igreja, deixando de acreditar naquela que seria o sinal do Reino de Deus na terra. Todas as outras teorias huma- nistas tem tido mais força que o evangelho para a cultura de hoje. A pós-modernidade colocou a igreja em uma condição de opção na vida e não de uma necessidade de vivenciar. Isto é um conflito de valor enorme, pois a cultura moderna olhava a igreja como tendo importância absoluta na sua vida. Hoje os lideres tem enfrentado uma valorização cada vez menor da fi- gura de um pastor dentro da igreja e todos ganhando amplitude em suas vozes. Não é difícil imaginar um jovem de 20 anos que iniciou uma faculdade questionar um professor com 40 anos de profissão e uma formação muito acima do que ele ainda pode- ria chegar. A igreja está neste meio conturbado da humanidade. E o que acontece com ela? Absorve de todos os lados tudo que é bom, mas também o que há de ruim na humanidade e gera 14 enorme dúvida se no futuro suportaremos o caminho que a igreja Brasileira escolheu seguir. Particularmente acredito que podemos desfrutar de igrejas saudáveis e transformadoras nes- te momento, sem dúvida alguma podemos fazer escolhas que levem nossas igrejas a viver assim como os discípulos que em meio a tanta pressão para adotar o sistema proposto, disseram não, e se mantiveram sóbrios na fé em Cristo. Espero que o amigo leitor viva momentos de reflexão, seja provocado, que tudo isso gere respostas saudáveis para lutar pela igreja de Je- sus, ao invés de abandoná-la nas mãos dos enganadores da fé. Boa leitura e um abraço. Pastor Manoel Araújo Jr 15 Um olhar sobre a Igreja Brasileira Um olhar sobre a Igreja Brasileira O Brasil é um país laico, o povo brasileiro está distribuído em dezenas de religiões e costumes que devem ser respeita- dos. Por essa razão, como cristão e de linha protestante, venho aqui inicialmente dizer que vou tratar sobre a igreja evangélica brasileira. Estou falando de uma posição um pouco incômoda, pois estou dentro desta estrutura mesmo não pensando igual em muitas das práticas que muitos conhecem. Porque inicialmente esclarecer isso? Certa vez fui visitado por um irmão da igreja trazendo um amigo à escola. O jovem tinha muitas dúvidas e questionava muito os evangélicos. Foi quando eu interrompi seu discurso filosófico – muito bom por sinal – e comecei a explicar a ele algo que tinha percebido em seu discurso: ele não conhecia nossa realidade evangélica, fa- lava generalizando a todos os fiéis e todas as práticas como se não houvesse uma divisão neste universo evangélico brasileiro. E sem duvida alguma somos muito divididos em nossas práti- cas e discursos. O Brasil é um país de 45 milhões de evangélicos, segundo o IBGE de 2010. De forma representativa estão os evangélicos de missão, igrejas originadas de igrejas históricas que enviaram missionários até o Brasil e formaram suas igrejas e denomina- ções. Nesse grupo estão igrejas como: Presbiteriana, Congre- gacional, Batista, Metodista, Luterana, etc. Os históricos re- presentam 15% de todos os evangélicos do país. Sua teologia, 1 Um olhar sobre a Igreja Brasileira 16 eclesiologia, ensino têm orientação na sua maioria reformada, ou seja, orientação dada pelos reformadores da igreja. Outra re- presentação é a dos evangélicos pentecostais, igrejas originadas neste ultimo século, que dão ênfase à contemporaneidade dos dons do Espirito Santo. Nesse grupo estão igrejas, como As- sembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, Deus é Amor, e todas as igrejas que se denominem da renovação espiritual. A este grupo se somam as igrejas Neopentecostais, que têm uma orientação teológica conhecida como teologia da prosperidade e estão representadas por milhares de igrejas e líderes evangéli- cos, como Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Mundial do Poder de Deus, etc. Todo esse grupo re- presenta 85% dos evangélicos no Brasil. Trinta minutos após ter explicado tudo isso ao jovem, eu disse que podíamos conversar sobre a igreja evangélica brasi- leira, e estava representado em um grupo que é a minoria e não estava dentro do movimento que ele questionava. Como pode um pastor escrever sobre seu próprio grupo religioso? Enten- dendo os evangélicos melhor agora, você vai enxergar melhor nossas diferenças. Mas essa grande divisão dos evangélicos to- mou rumos muitos complexos e não precisa ser nenhum espe- cialista para ver que estamos perdidos. Por essa razão escrevo aqui uma das várias tentativas de grandes homens de Deus de dizer à igreja: “volte parao caminho que um dia seguiu.” “É evidente a crise gigantesca em que os evangélicos se encontram: indefinição quanto aos rumos teológicos, multipli- cidade de teologias divergentes, falta de liderança com autori- dade moral e espiritual, derrocada doutrinária e moral de líde- res que um dia foram reconhecidos como referência, ascensão 17 Um olhar sobre a Igreja Brasileira de líderes totalitários que se autodenominam pastores, bispos e apóstolos, conquista gradual das escolas de teologia pelo liberalismo teológico, ausência de padrões morais pautem ao menos a disciplina eclesiástica, depreciação da doutrina, mer- cantilização de várias editoras evangélicas que passaram a publicar livros de linha não evangélica, surgimento de igrejas chamadas emergentes. Como resultado, cada vez mais pessoas procuram igrejas para se sentir bem, para buscar solução ime- diata de seus problemas, sem sequer refletir nas questões mais profundas acerca da existência e da eternidade, migrando de uma comunidade para outra sem qualquer compromisso ou en- gajamento a vida cristã.” Augustus Nicodemos – O Que Estão Fazendo Com a Igreja A crise chegou à igreja evangélica brasileira e precisamos começar a direcionar o barco novamente para as coordenadas dadas pelo condutor do grande navio da vida. Aliás, precisamos devolver a condução do navio para o único capitão capaz de nos colocar novamente no caminho que chegará ao fim onde ele está. Um dos grandes problemas é que muitas das mazelas evangélicas entraram e enraizaram-se em todos os grupos da igreja. Certa vez, visitando uma igreja histórica para ministrar em uma conferência, me vi nessa realidade. O culto começou como manda a tradição, prelúdio feito com os hinários e depois a oração. Após isso, cada etapa era de uma igreja histórica; mas quando se davam as oportunidades, cada canção, cada sauda- ção, as roupas, a forma de se dirigir às pessoas era de um pen- tecostal. Não são as práticas avivadas de um culto pentecostal que me preocupam, conheço dezenas de amigos que entendem Um olhar sobre a Igreja Brasileira 18 a fé com sua teologia pentecostal e são muito equilibrados no entendimento bíblico. É por ai que quero caminhar, sendo re- presentantes de Jesus, avivados pelo seu Espirito, mas não tão distantes das escrituras sagradas. Nós somos influenciados a viver posicionamentos diferentes do que professamos, eles vi- vem nas suas casas, no seu trabalho, na vizinhança, e o que se parece contrário é questionável. Como a grande massa tem uma forma, mesmo que seja um erro o que elas vivem, nos não conseguimos impedir a entrada de outra ideia dentro de nossas igrejas. A grande maioria possui uma cosmovisão fundamentalista. Nesse tipo de ideia não há diálogo, tampouco a possibilidade de achar que o que o outro pensa pode estar correto. Quem está no poder é que dita as regras. O que o fundamentalista pensa é que todas as pessoas devem seguir aquilo que ele acredita, mesmo que esteja errado – por sinal é a coisa mais difícil do mundo um fundamentalista reconhecer um erro. Uma religião fundamentalista é um grande perigo para a história e a cultura de um povo, tudo o que é contrario ao que o fundamentalismo pensa é diabólico e tem que acabar. As outras religiões sofrem com o fundamentalismo, inclusive quem está dentro da mesma religião mas em algum ponto pensa diferente é denominado blasfemo. Uma religião fundamentalista em nossa geração, o islamismo, representa bem até que ponto o fundamentalismo pode levar o pensamento humano. Os fundamentalistas brasi- leiros não matam como o islã fisicamente e brutalmente, mas mata espiritualmente. Você sabia que o maior número de ho- mens e mulheres que estão nas penitenciárias e FEBEM do Brasil são evangélicos desviados de igrejas fundamentalistas. E que quando perguntamos por que saíram para fazer o crime, 19 Um olhar sobre a Igreja Brasileira entendem que Deus não quer uma pessoa como ele (a). O pa- drão estabelecido pelos fundamentalistas para seguir a Jesus é totalmente contrario ao do próprio Jesus. Mas as pessoas não leem as escrituras nesses lugares, eles seguem o que os lide- res ensinam. Em um culto, ainda quando era membro de uma igreja, o meu pastor afirmou algo que nunca tinha pensado até o momento: a maior igreja do Brasil é a igreja dos desviados do evangelho. Estou trazendo um argumento em viver em uma realidade cultural e religiosa com o índice quase que predomi- nante fundamentalista e hoje é a região com maior numero de sem igrejas do estado de Pernambuco. “Começo este texto com uns 15 anos de atraso. Eu ex- plico. Nos tempos em que outdoors eram permitidos em São Paulo, alguém pagou uma fortuna para espalhar vários de- les em avenidas da cidade com a mensagem: “São Paulo é do Senhor Jesus. Povo de Deus declare isso”. Rumino o recado desde então. Represei qualquer reação à bobagem estampada publicamente; hoje, por algum motivo, abriu-se uma fresta em uma comporta de minha alma. Preciso escrever sobre o meu pavor de ver o Brasil tornar-se evangélico. Antes explico: eu gostaria de ver o Brasil permeado com a elegância, solidarie- dade, inclusão e compaixão do Evangelho. Mas a mensagem subliminar dos outdoors, para quem conhece a cultura do mo- vimento evangélico, é outra. Os evangélicos sonham com o dia em que cidade, estado e país se convertam em massa, e a terra dos tupiniquins tenha a cara de suas denominações” Ricardo Gondim – Deus Nos Livre de Um País Evangélico O evangelho pregado nessas igrejas alimenta o narcisismo, consumismo e misticismo. Tudo o que o homem deseja está Um olhar sobre a Igreja Brasileira 20 sendo oferecido todos os domingos em nossas igrejas. No cam- po do narcisismo, gosto da definição do Ricardo Barbosa em um artigo para a Revista Ultimato: “O comportamento narcisista é definido por um sentimen- to de autoestima elevado, autoabsorvido, com fantasias de ili- mitado sucesso, poder, inteligência, beleza e amor ideal; além da crença de ser “especial” frente aos outros. O narcisista cos- tuma explorar relacionamentos interpessoais e tem uma gran- de necessidade de ser admirado. Guarda sempre fantasias de grandeza e possui dificuldades de empatia. Para um narcisista, a realidade é concebida apenas dentro de seu universo fechado e egoísta.” Nossa cultura é mais narcisista do que nunca. Essa é umas das razões de redes sociais como Facebook e Instagram da- rem tão certo. Queremos aparecer e mostrar ao mundo quem somos, ou pelo menos demostramos ser. Mas lá no interior mesmo, nosso sentimento é demostrar superioridade aos ou- tros. O mundo gira em torno da pessoa e não do sistema solar. Estamos cheios de pessoas assim em nossas igrejas; e além de tudo líderes também entraram neste universo. As igrejas agora possuem nome pessoal. Fotos dos lideres estampados, demos- trando claramente que não é mais uma comunidade e sim uma pessoa muito importante está lá. O narcisismo é uma das ra- zões pela qual tantas nomenclaturas passaram a existir no meio evangélico, ser pastor se tornou pouco, então surgiram os bis- pos, apóstolos, até patriarcas. Quando mais alta a patente, maior demonstração de poder e, consequentemente, pode desfrutar do que esse poder proporciona. Isso chega ao ponto de maior co- lisão quando esses lideres religiosos de poder começam a ser idolatrados como únicos representantes de Deus na terra. 21 Um olhar sobre a Igreja Brasileira “A igreja não se encontra à parte de toda esta pressão da sociedade de consumo. Algumas igrejas encarnam o papel de prestadora de serviços religiosos, no qual o produto principal é Jesus, seus pastores transformam-se em grandes gerentes de vendas e o grande apelo é a promessa que este produto lhe oferecerá o sucesso profissional desejado”. Ricardo Agreste – Igreja? Tô fora Em contrapartida, a igreja pede em troca do favor religioso o pagamento através de ofertas estabelecidas em valores que alguns podem arcar até chegar aos menores, mas todos temque pagar pelo que estão levando. Vendem todo tipo de objeto sa- grado que possa seguir com o fiel para ser usado em favor de sua fé. O misticismo também é muito claro na igreja brasileira, ou pelo menos na grande maioria. Augustus Nicodemos tenta explicar esse fenômeno tão criativo entre os evangélicos como sendo a alma católica dentro de nós. Além disso, muito influen- ciados por religiões afro-brasileiras chegamos a fenômenos como uso de copo d’água, rosa ungida, sal grosso, pulseiras abençoadas, peças de roupas de entes queridos, mergulhos de Naamã em piscinas, camisa com sangue depois de um atenta- do, óleos de Jerusalém, agua do rio Jordão, areia de Israel, ca- jado de Moisés, trombeta de gideão. Fui convidado para assistir um culto e lá estavam dando a algumas famílias uma réplica da arca da aliança. A grande maioria desses elementos tiveram significados importantes no Antigo Testamento, mas sinaliza- vam tudo em Jesus. A igreja brasileira atende às expectativas do povo brasi- leiro até mesmo na estrutura de poder. O nosso povo reclama Um olhar sobre a Igreja Brasileira 22 desta estrutura que propõe privilégios para aqueles que estão em posição de destaque. Os que estão no poder pensam que só tem que viver o poder, mas não responsabilidades. Questionam o catolicismo sobre a sua tradição milenar de governo, mas so- mos uma igreja tão igual. A distinção entre clérigos no catoli- cismo (padres, bispos, cardeais e o papa) onde o maior entre eles é revestido de toda autoridade e os leigos , povo comum, apenas segue sem que possa participar do serviço, a não ser que seja um deles. A igreja evangélica brasileira também tem uma estrutura eclesiástica semelhante ao catolicismo (Auxilia- res, diáconos, presbíteros, evangelistas, pastores presidentes) e assim segue também a hierarquia dos superiores terem, mas poder que o outro. Até aí tudo parece normal para uma orga- nização, e concordo com ser organizado, porém a competição nessa estrutura de poder não tem ligação com o evangelho. A maioria dos descontentes com a igreja existe por essa estrutura impedir que todos participem da vida da igreja. É necessário seguir, mesmo que esteja no caminho errado, as orientações do presidente, impedindo um dos princípios fundamentais da reforma que é o sacerdócio universal do cristão. Pensando um pouco mais sobre essa estrutura de poder da igreja evangélica Brasileira, acho que está eclesiologia atrai o ser humano. Muito desses presidentes de igreja, se fossem tentar viver em posições com tanta influencia e poder em nos- sa sociedade provavelmente não conseguiriam. Normalmente atraem um povo de baixa renda e nível de escolaridade. Em um mercado tão competitivo que exige formação elevada para assumir papeis de executivo, o que muitos seriam era funcio- nários encarregados, dificilmente presidentes, teriam pouca in- fluencia em seu meio. No entanto, muitos formam suas próprias 23 Um olhar sobre a Igreja Brasileira igrejas e se tornam presidentes das mesmas, criando estrutura semelhante de onde saíram para terem o poder que desejam. E assim temos uma igreja tão dividida, mas semelhante em sua estrutura de poder, porque é o desejo do povo. O Pastor Ario- valdo Ramos responde isso com uma leitura cultural do povo Brasileiro. “nós estamos acostumados com os coronéis, nos- sa cultura vive ainda o coronelismo, por isso que esse tipo de igreja evangélica brasileira atende ao desejo do povo”. Visto que a igreja Brasileira é nosso objeto de estudo nes- te capitulo, houve um período que grandes profetas de Deus manifestaram-se a um tempo sobre a realidade da igreja evan- gélica Brasileira de forma que concordando ou não são vozes que precisam ser ouvidas para tirarem as suas conclusões e que gostaria de compartilhar aqui: 25 Um olhar sobre a Igreja Brasileira Está Insuportável Por Caio Fábio Perdoem-me, irmãos, eu confesso a tão aguardada con- fissão de minha boca. Sim, eu confesso que não posso mais deixar de declarar a minha alma. Para mim é questão de vida ou morte. Perdoem-me, irmãos, mas eu preciso confessar. Sim, eu confesso... Está insuportável. Se eu não abrir a minha boca, minha alma explodirá em mim. É insuportável ligar a televisão e ver o culto que se faz ao Monte Sinai, que gera para escravidão. Os Gálatas são o nosso jardim da infância. Nós nos tornamos PHDs do retrocesso à Lei e aos sacrifícios. Pisa-se sobre a Cruz de Cristo em nome de Jesus. Insuportável! Seja anátema! É insuportável ver o culto à fé na fé, e também assistir descarados convites feitos em nome de Deus para que se faça novos sacrifícios, visto que o de Jesus não foi suficiente, e Deus só atende se alguém fizer voto de freqüência ao templo, e de di- nheiro aos sacerdotes do engano e da ganância. Insuportável! É insuportável assistir ao silêncio de todos os dantes pro- testantes—e que até hoje ofendem os cultos afro-ameríndios por seus sacrifícios, sendo que estes ainda têm razão para sa- crificar, visto que não confessam e não oram em nome de Je- sus—ante o estelionato feito em e do nome de Jesus, quando se convida o povo para sacrificar a Deus, tornando o sacrifício de Jesus algo menor e dispensável. Insuportável! Um olhar sobre a Igreja Brasileira 26 É insuportável ver o povo sendo levado para debaixo do jugo da Lei quando se ressuscitam as maldições todas do Velho Testamento, e que morreram na Cruz, quando Jesus se fez maldição em nosso lugar. Insuportável! É insuportável ver que para a maioria dos cristãos a Lei não morreu em Cristo, conforme a Palavra, visto que man- têm-na vigente como “mandamento de vida”, mas que apenas existe para gerar culpa e morte, também conforme a Escritura. Insuportável! É insuportável ver e ouvir pastores tratando a Graça de Deus como se fosse uma parte da Revelação, como mais uma doutrina, sem discernir que não há nada, muito menos qualquer Revelação, se não houver sempre, antes, durante, depois, transcendentemente e imanentemente, Graça e apenas Graça. Misericórdia! É insuportável ver a Bíblia sendo ensinada por cegos e que guiam outros cegos, visto que nem mesmo passaram da Bíblia como livro santo, desconhecendo a Revelação da Palavra da Graça do Evangelho de Deus. Insuportável tristeza! É insuportável ver que os cristãos “acreditam em Deus”, sem saber que nada fazem mais que os demônios quando assim professam, posto que não estamos nesta vida para reconhecer que Deus existe, mas para amá-Lo e conhecê-Lo. Insuportável desperdício! É insuportável enxergar que a mensagem do Evangelho foi transformada em guia religioso, no manual da verdade dos cristãos, mais uma doutrina da Terra. Insuportável humilhação! 27 Um olhar sobre a Igreja Brasileira É insuportável ver os que pensam que possuem a doutrina certa jamais terem a coragem de tentar vivê-la como mergulho existencial de plena confiança, mas tão somente como guia de bons costumes e de elevados padrões morais. Insuportável religiosidade! É insuportável ver gente tentando “estudar Deus”, e a ensinar aos outros a “anatomia do divino”, ou a buscar analisar Deus como parte de um processo, no qual Deus está aprendendo junto conosco, não sabendo tais mestres que são apenas fabricantes de ídolos psicológicos. Insuportável sutileza! É insuportável ver que há muitos que sabem, mas que nada dizem; vêem, mas nada demonstram; discernem, mas em nada confrontam; conhecem, mas tratam como se nada tivesse con- seqüências...Insuportável... É insuportável ver que se prega o método de crescimento de igreja, não a Palavra; que se convida para a igreja, não mais para Jesus; e que a cada cinco anos toda a moda da igre- ja muda, conforme o que chamam de “novo mover”. Insupor- tável vazio! É insuportável ouvir pastores dizendo que o que você diz é verdade, mas que eles não têm coragem de botar a cara para apanhar, mesmo que seja pela verdade e pela justiça do evangelho do reino de Deus. Insuportável dissimulação! É insuportável ver um montede homens e mulheres velhos e adultos brincando com o nome de Deus, posando de pasto- res, pastoras, bispos, bispas, apóstolos e apostolas, sendo que eles mesmos não se enxergam, e não percebem o espetáculo patético no qual se tornaram, e o ridículo de suas aspirações Um olhar sobre a Igreja Brasileira 28 messiânicas estereotipadas e vazias do Espírito. Insuportável jactância e loucura! É insuportável ver Jesus sendo tratado como “poder maior” e não como único poder verdadeiro. Insuportável idolatria! É insuportável ver o diabo ser glorificado pela freqüência com a qual se menciona o seu nome nos cultos, sendo que Pau- lo dele falou menos de uma dúzia de vezes em todas as suas cartas, e as alusões que Jesus fez a ele foram mínimas. No entanto, entre nós o diabo está entronizado como o inimigo de Cristo e o Senhor das Culpas e Medos. E, assim, pela freqü- ência com a qual ele é mencionado, ele é crido; e seu poder cresce na alma dos humanos, a maioria dos quais sabe apenas do Medo da Lei, e nada acerca da Total Libertação que temos da Lei e do diabo na Graça de Jesus, que o despojou na Cruz. Insuportável culto! É insuportável ver seres humanos sendo jogados fora do lugar de culto por causa de comida, bebida, cigarro, roupa, sexualidade, ou catástrofes de existência. Isto enquanto se alimenta o povo com maldade, inveja, mentira, politicagem, facções, e maldições. Insuportável é coar o mosquito e engolir o camelo! É chegada a hora do juízo sobre a Casa de Deus! De Deus não se zomba, pois aquilo que o homem semear, isto também ceifará. A eternidade está às portas. Então todos saberão que não minto, mas falo a verdade, conforme a Palavra do Evan- gelho de Jesus. Com tremor e temor, porém certo da verdade de Jesus, 29 Um olhar sobre a Igreja Brasileira Estou fora do movimento evangélico Por Ricardo Gondim O movimento evangélico (ou evangelical, permita-me o anglicismo) é barco que faz água. As aberrações que esse movimento, que se diz cristão, produz ficam cada dia mais horrorosas. Sua credibilidade está no chão. Não há mais re- médio que o salve, ou unguento que o cure. Suas lógicas teoló- gicas se tornaram estranhas, seus posicionamentos políticos, questionáveis e suas posturas éticas, uma vergonha. Há algum tempo, afirmei que não me considero mais parte do movimento evangélico. Causei espanto entre os meus pa- res. Não volto atrás. Cada dia que passa, quanto mais notí- cias ruins sobem dos porões denominacionais, e quanto mais o Youtube viraliza piadas sobre o besteirol de seus líderes, mais me convenço de que não sobra, em mim, nenhuma identifica- ção com ele. Pretendo manter-me evangélico por acreditar no Evangelho. Quero, entretanto, distanciar-me do movimento. Já me enxergo em outro acampamento. Minha auto-excomunhão do movimento evangélico acon- tece por não conseguir conviver com os auto-proclamados “teólogos”, que guardam doutrinas e conceitos como verda- deiras vacas sagradas. Alguns leram alguma teologia rala, e se acham aptos para sentar na cadeira de Moisés. Não aceito o clima de caça às bruxas, que apedreja e queima os que ou- Um olhar sobre a Igreja Brasileira 30 sam mexer nas “cláusulas pétreas” de doutrina produzida por gente falível. Não tolero a intolerância. Não engulo a exclusão de gente por questões de gênero ou por identidade sexual. Não me sinto bem com o discurso fundamentalista que se arvora único in- terprete dos textos sagrados. Acredito que toda interpretação é interpretação. Nada mais. Ninguém – nem Santo Agostinho, nem Calvino, nem Armínio, nem eu mesmo – tem a última pa- lavra a respeito da verdade. Minha auto-exclusão do movimento evangélico acontece porque estou cansado de tentar dialogar com quem lê a Bíblia literalmente. Sinto-me fatigado por ter que fazer ginástica na exegese de textos que discriminam a mulher em Deuteronômio, ou que mandam apedrejar meninos e meninas desobedientes aos pais. Não consigo justificar, factualmente, o trecho da Bí- blia em que um espírito de mentira sai de Deus para confundir alguns profetas. Não me imagino fazendo contas para explicar, a adolescentes, como a arca de Noé teve espaço para caber todos os insetos, todos os mamíferos, todas as aves, todos os répteis e todos os batráquios do planeta. Minha auto-exclusão do movimento evangélico acontece porque não tenho estômago para ouvir sermão do tipo “Deus é poderoso, ele vai fazer milagre hoje à noite”; e depois fechar os olhos para os migrantes do Sudão e da Síria. Como pro- pagar cultos milagrosos enquanto brasileiros, iguais a mim, esperam em filas de ambulatórios imundos por algum aten- dimento médico? Não quero viver uma fé ensimesmada. Não desejo privatizar, em meu individualismo, as ações de Deus. Na verdade, não consigo orar pedindo bênção, proteção, imu- 31 Um olhar sobre a Igreja Brasileira nidade, prosperidade ou livramento se sei que muitos terão que conviver com o silêncio de Deus. Não pretendo exercitar fé para “ver Deus abrir as janelas do céu” em meu favor sem mudar a realidade social. Minha auto-exclusão do mundo evangélico acontece por- que tenho sede de ser íntimo de Deus. Vejo, todavia, que o mo- vimento se contenta com chavões rasos. Intuitivamente perce- bo que a Bíblia possui uma riqueza imensamente maior do que é propagandeada no púlpito de muitas igrejas. Desejo viver na liberdade do Espírito e o clero não hesita em aprisionar. Um movimento que sobrevive devido ao medo e à culpa não me encanta. Minha auto-exclusão do mundo evangélico se deve ao fato de eu estar apaixonado por Deus. Minhas premissas, entre- tanto, são diferentes do movimento. O alicerce que sustenta a minha espiritualidade é estranho à maioria dos que se dizem evangélicos. Estou cada vez mais curioso com as dimensões do divino. Quero nadar nas águas profundas do Espírito. Reco- nheço, entretanto, que os pastores e crentes, colados no movi- mento evangélico, não entenderão a minha sede. Tenho ânsia de ler como nunca; de rir como nunca; de dançar como nunca; de orar como nunca. Minha espiritualidade busca leveza. Es- tou farto da paranóia dos crentes, constantemente encurrala- dos pelo diabo. Não vivo aturdido com pesadelos de que, se der brecha, serei castigado com rigor por um Deus carrancudo. Minha auto-exclusão do mundo evangélico acontece por- que considero o próximo como amado de Deus. Não me rela- ciono com as pessoas fora da minha igreja como danadas ou filhas da ira divina. Percebo a graça de Deus como amor que Um olhar sobre a Igreja Brasileira 32 se espalha sobre a terra, semelhante ao sol que, indiscrimina- damente, aquece a todos. Tento desvencilhar-me da linguagem intolerante dos cren- tes. Já não tenho medo de dizer que aprecio música secular; que considero Médicos Sem Fronteiras como uma bela expres- são do grande amor; que gosto de um bom vinho; e que sou louco por correr. O moralismo dos crentes não me alcança mais. Não me defino por qualquer outro movimento. Anelo ser um livre pensador. Considero as instituições religiosas neces- sárias, mas nenhuma, sagrada – ou eterna. Muitas tradições cristãs desapareceram ao longo da história, outras se torna- ram irrelevantes e inúmeras empobrecem os fieis. Não defen- do uma teologia específica. Não estou fechado com a teologia relacional, ortodoxa, clássica ou pentecostal. Não acredito que elaboração humana alguma seja suficiente para explicar o Eterno. Concordo com Paul Tillich: Deus está sempre para além de Deus. Para onde vou daqui pra frente? Anseio caminhar humil- demente com meu Senhor, rodeado de amigos. Tento ser justo. Desejo um coração solidário. Busco parecer, em meus atos, com o Nazareno. Isso me basta. Soli Deo Gloria 33 Um olhar sobre a Igreja Brasileira Não quero mais ser evangélico Por Ariovaldo Ramos “Irmãos, uni-vos! Pastores evangélicos criam sindicato e cobram direitos trabalhistas das Igrejas”. Esse, o título da ma- téria, chocante, publicada pela revista Veja de 9 de junho de 1999anunciando formação do “Sindicato dos Pastores Evan- gélicos no Brasil”. Foi a gota d’água! Ao ler a matéria acima finalmente me dei conta de que o termo “evangélico” perdeu, por completo, seu conteúdo original. Ser evangélico, pelo menos no Brasil, não significa mais ser praticante e pregador do Evangelho (Boas Novas) de Jesus Cristo, mas, a condição de membro de um segmento do Cristianismo, com cada vez menor relaciona- mento histórico com a Reforma Protestante - o segmento mais complicado, controverso, dividido e contraditório do Cristia- nismo. O significado de ser pastor evangélico, então, é melhor nem falar, para não incorrer no risco de ser grosseiro. Não quero mais ser evangélico! Quero voltar para Je- sus Cristo, para a boa notícia que Ele é e ensinou. Voltemos a ser adoradores do Pai porque, segundo Jesus, são estes os que o Pai procura e, não, por mão de obra especializada ou por “profissionais da fé”. Voltemos à consciência de que o Ca- minho, a Verdade e a Vida é uma Pessoa e não um corpo de doutrinas e/ou tradições, nascidas da tentativa de dissecarmos Um olhar sobre a Igreja Brasileira 34 Deus; de que, estar no caminho, conhecer a verdade e desfru- tar a vida é relacionar-se intensamente com essa Pessoa: Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho do Deus vivo. Quero os dogmas que nascem desse encontro: uma leitura bíblica que nos faça ver Jesus Cristo e não uma leitura bibliólatra. Não quero a espiritualidade que se sustenta em prodígios, no mínimo discu- tíveis, e sim, a que se manifesta no caráter. Chega dessa “diabose”! Voltemos à graça, à centralida- de da cruz, onde tudo foi consumado. Voltemos à consciên- cia de que fomos achados por Ele, que começou em cada filho Seu algo que vai completar: voltemos às orações e jejuns, não como fruto de obrigação ou moeda de troca, mas, como namo- ro apaixonado com o Ser amado da alma resgatada. Voltemos ao amor, à convicção de que ser cristão é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos: voltemos aos irmãos, não como membros de um sin- dicato, de um clube, ou de uma sociedade anônima, mas, como membros do corpo de Cristo. Quero relacionar-me com eles como as crianças relacionam-se com os que as alimentam - em profundo amor e senso de dependência: quero voltar a ser guardião de meu irmão e não seu juiz. Voltemos ao amor que agasalha no frio, assiste na dor, dessedenta na sede, alimenta na fome, que reparte, que não usa o pronome “meu”, mas, o pronome “nosso”. Para que os títulos: “pastor”, “reverendo”, “bispo”, “apóstolo”, o que eles significam, se todos são sacerdotes? Quero voltar a ser leigo! Para que o clericalismo? Voltemos, ao sermos servos uns dos outros aos dons do corpo que correm soltos e dão o tom litúrgico da reunião dos santos; ao, “onde 35 Um olhar sobre a Igreja Brasileira dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu lá estarei” de Mateus 18.20. Que o culto seja do povo e não dos dirigen- tes - chega de show! Voltemos aos presbíteros e diáconos, não como títulos, mas, como função: os que, sob unção da igreja local, cuidam da ministração da Palavra, da vida de oração da comunidade e para que ninguém tenha necessidade, seja ma- terial, espiritual ou social. Chega de ministérios megalômanos onde o povo de Deus é mão de obra ou massa de manobra! Para que os templos, o institucionalismo, o denominacio- nalismo? Voltemos às catacumbas, à igreja local. Por que o pulpitocentrismo? Voltemos ao “instruí-vos uns aos outros” (Cl 3. 16). Por que a pressão pelo crescimento? Jesus Cristo não nos ordenou a sermos uma Igreja que cresce, mas, uma Igreja que aparece: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. “(Mt 5.16). Vamos anunciar com nos- sa vida, serviço e palavras “todo o Evangelho ao homem... a todos os homens”. Deixemos o crescimento para o Espírito Santo que “acrescenta dia a dia os que haverão de ser salvos”, sem adulterar a mensagem.” Por essas e outras razões, a credibilidade da igreja está sen- do destruída. Temos visto um enorme muro que tem sido posto sobre as pessoas que vivem esse mundo de igreja evangélica e também com os que estão fora. Quando pensam em igreja, pensam no poder que ela pode proporcionar, pensam no retorno financeiro que ela pode dar, visto os exemplos dos milioná- rios que nós temos nas lideranças de algumas dessas igrejas. É inegável que quando Jesus pensou em igreja, nunca propôs Um olhar sobre a Igreja Brasileira 36 essa ideia que estamos vendo hoje. Os evangelhos na verdade denunciam este tipo de igreja brasileira. O caminho da volta é uma escolha nossa, precisamos tomar a consciência e pagar o preço para que tenham mais respeito pela igreja de Jesus. 37 O caminho de uma igreja saudável O caminho saudável da igreja Ao apresentar um diagnostico sobre a igreja, o sentimento que tenho não é de desistência por ela, tampouco de só apre- sentar as deficiências em nossas ações na igreja, mas de propor caminhos bíblicos de uma pratica de igreja que esteja mais pró- xima daquilo que o Senhor Jesus, que é o pastor da Igreja, orien- tou e deixou revelado em Sua palavra. O que sinalizo como não sendo o caminho é não enxergando nas escrituras este lado da igreja evangélica brasileira, mas com muita responsabilidade de apresentar caminhos saudáveis. O meu descontentamento não é o único e dezenas e milhares de lideres desejam ver uma igreja Brasileira mais saudável. Ouvindo uma palavra do Pr Carlos Queiroz, ele foi profundo quando disse: “ O problema não vai ser ouvir de Jesus que não fez nada, o problema será ouvir de Jesus que você fez o que Ele nunca mandou você fa- zer”. Penso que meu sentimento é por aí. Gastar nosso esforço naquilo que se parece mais com Jesus e chamar de obra do que andar distante daquilo que ele fez. Jesus estava em missão, os Fariseus se aproximam dEle e colocam a prova pedindo sinais do céu. Muitos sinais da presença de Deus ali já tinham sido feitos, o que os religiosos queriam era anular tudo que Jesus fez e prová-lo. A resposta de Jesus é direta: vocês não podem conhecer um sinal do céu, porque vocês são perversos e adúlteros, mas o sinal chegará. Em seguida Jesus está com seus discípulos e pedem para tomar cuidado com o fermento dos fariseus, e os discípulos não en- 2 O caminho de uma igreja saudável 38 tendem Jesus, perguntam sobre os pães, e Ele o faz lembrar a multiplicação dos pães para uma multidão. Isso é um sinal do céu, e afirma para os discípulos “cuidado com o ensino dos fa- riseus”. Na minha ideia, é possível que em nosso meio tenham ensinos que podem mudar a real vontade de Deus para a Igreja. O próprio Jesus advertia aos discípulos sobre esta realidade. Então acredito que devemos ter cuidado com o ensino de hoje também, que pode sem dúvida se parecer tão verdadeiro e anu- lar na igreja o que realmente é a verdade. Quando penso em analisar aquilo que é apresentado como evangelho, é por ouvir a voz do Mestre pedindo cuidado com o que ensinam, e não sendo oposição ao que se ensina. Se estiver de acordo com as escrituras, andamos juntos. Neste mesmo texto, Jesus continua e chegando à região de Cesareia de Filipe, onde tinha aos pés o monte Hermon – um templo feito pelo Rei Herodes para o imperador César Augus- to –, Jesus consultou a seus discípulos perguntando quem os homens achavam quem era Ele. Todas as comparações com os profetas para chamá-lo de profeta. João Batista, Jeremias, Elias, e outros profetas foram respostas. No segundo momento a pergunta é direcionada aos discípulos, e esses andavam há um tempo com o Mestre, tinham mais argumentos sobre a pessoa do homem que estava a frente deles. Pedro toma a iniciativa e responde a verdade sobre Jesus. “Tu és o Cristo (ungido) filho do Deus vivo”. O sinal dos céus tinha chegado para os discípu- los. Para eles foi revelada a verdade que os fariseus e saduceus gostariam de saber. “E eu lhedigo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la.” Mateus 16:18. 39 O caminho de uma igreja saudável A pedra revelada por Pedro era a anunciada pelos pro- fetas, pelos pais na fé, por tantas historias maravilhosas que conduziam o povo Judeu até aquele instante. Mas penso que aqui Jesus está apresentando um novo caminho. Acredito que edificar a sua igreja representa uma contraproposta a igreja de alguém que estava estabelecida. Outra igreja que foi reprovada por Jesus antes quando pediu o cuidado sobre o ensino dos fari- seus. O que penso é que nada que é apresentado como proposta pelos Fariseus pode ser vivenciado pelos discípulos de Jesus. Devemos reprovar junto com o Mestre essa igreja, e seguir no caminho da igreja edificada pelo Mestre. A partir daqui os dis- cípulos tinham um caminho a seguir. Jesus estava edificando uma comunidade de pessoas chamadas para algo novo. E Ele anuncia logo em seguida e diz que a missão de sua igreja é ven- cer o inferno da vida das pessoas. O texto é muito claro quanto à ação de cada elemento aqui. Jesus está edificando uma igreja. O Hades é interpretado como reino dos mortos, lugar onde os mortos estão, e é este lugar que possui uma porta. Quando pen- so em porta, entendo que este elemento tem a função de guar- dar o que está dentro dele, se é o reino dos mortos que possui uma porta então ele está se protegendo da igreja de Jesus para que não entre para resgate dos mortos que estão em seu reino. Só que Jesus afirma, essa Igreja não será vencida pelo reino dos mortos. A Igreja é que está com o poder transformador nas mãos. O pecado levou ao homem a condição de mortos. Assim Paulo diz: “o salário do pecado é a morte”. Então o reino dos mortos deve ser invadido pela Igreja de forma tal que retire os mortos de sua condição eterna para viver uma vida abundante eternamente no Reino dos vivos. O caminho de uma igreja saudável 40 Pensando nisso, Jesus não edificou uma Igreja para se tor- nar uma fortaleza no mundo, criando uma separação entre mun- do e igreja. Acredito ser a Igreja de Jesus mais parecida com a luz do mundo, que brilha no meio das trevas para sinalizar um novo mundo cheio de luz para a humanidade. A igreja fortale- za tenta de várias formas criar um mundo para colocar todos dentro com o discurso de que a igreja não pode com o mundo. Isso é uma mentira! O mundo precisa da luz que está na Igreja. Satanás colocou no coração dos lideres a ideia que o mundo é mau, e a Igreja deve se proteger dele. Agora quando Jesus pen- sa em Igreja, a preparou para ir até o inferno resgatar os mortos. Quem pensa em blindar a Igreja do mundo, tem o mundo den- tro da igreja. Porque os membros de suas igrejas estão durante a semana no mundo dentro de uma bolha evangélica achando que estão protegidos do mundo. Desta forma a igreja fortaleza não transforma o mundo, a igreja mantém um grupo de pessoas salvas enquanto o mundo continua na escuridão morrendo sem a possibilidade de serem resgatados. A igreja fortaleza está di- zendo a Jesus que não foi criada para arriscar a vida e que os mortos não são sua prioridade. Outra perspectiva de igreja é a liberal. Esta igreja olha para o mundo e sente o desejo de se tornar igual. Ela faz tudo que o mundo faz. Esta igreja liberal está mais para espelho do mundo que luz do mundo. Ao invés de negociar com o mundo aquilo que acreditam, buscam repetir os mesmos erros que fora dela estão. Desejam as mesmas coisas que todos. Uma igreja liberal em uma cidade se torna apenas um lugar conveniente para es- tar, mas não é geradora de transformação, não é capaz de tirar os homens do reino dos mortos e trazer para o reino dos vivos. Eles chegam à igreja e continuam mortos dentro dela. 41 O caminho de uma igreja saudável Ainda existem igrejas com uma ideia parasita. O grande objetivo dela existir em uma cidade é tirar do mundo o que de- seja. É quase como franquias corporativas, só estão em lugares que podem dar retorno a ela. As pessoas que chegam nessas igrejas são apenas números e que o foco é tirar o máximo que puder delas. Em uma conversa com um amigo certa vez, co- mentando sobre a postura de uma igreja pela qual passou, os lideres consideram que quando as ovelhas estão cheias de lãs precisa ser retirada toda a lã. Essa linguagem está relacionada às riquezas dos fieis que precisam ser retiradas para a institui- ção. Igrejas parasitas não doam nada a nenhum ser humano, mesmo que tenham feito muito por ela, o foco é apenas tirar sem servir. O que proponho aqui à luz desta revelação de Jesus para seus discípulos é uma igreja transformadora. Uma igreja que age na comunidade como agente de transformação. Estas pers- pectivas de igreja não aceitam as condições e realidades de sua cidade. Primeiro agem na vida dos membros da igreja tornando possível a transformação na sua vida. o resgate das pessoas do reino dos mortos é aceitá-las como pecadores , do jeito que vierem. Porém age de forma transformadora em suas vidas, gerando a vida nelas. Segundo as igrejas que transformam, en- viam pessoas transformadas para o meio do mundo, sem o te- mor delas serem influenciadas, pois todas entendem que estão no mundo para trazer a luz e sinalizar o caminho de Jesus. Em uma igreja transformadora você encontra pessoas vivendo ex- periências com o Senhor que os chamou. “Deixa eu te fazer uma pergunta. Você olha para o mun- do e deseja ser como o mundo? Agir como o mundo? Fa- lar como o mundo? Se vestir como o mundo? Ter respeito e O caminho de uma igreja saudável 42 a estima do mundo? Se você se sente desse jeito, você deve ficar aterrorizado. Porque isso pode ser uma evidência de que Deus não fez uma obra em você. Se o poder de Deus não pode ser visto em sua vida, guiando você para uma crescen- te santidade, então, talvez não haja poder de Deus em sua vida. Então, Ele não regenerou seu coração. Você não nas- ceu de novo. Você não é um cristão. Porque Ele disse: ‘Eu vou salvar pessoas.’ Por quê? ‘Para demonstrar ao mundo o quão poderoso sou para salvar suas almas e para trans- formar suas vidas.’ Deus está transformando a sua vida? Cristãos não são infalíveis. Cristãos não são perfeitos. Cris- tãos vão ter dificuldade com o pecado. E cristãos podem até cair, mas em meio àquela fraqueza ficará evidente que Deus está trabalhando, Deus está ensinando, Deus está disciplinan- do e Deus os está levando para níveis mais altos de maturidade cristã e santidade. Este é você? Desde que você professou sua fé em Cristo, os seus desejos por Cristo cresceram? Ou seu de- sejo por santidade cresceu? O poder de Deus para transformar sua vida estão cada vez mais evidentes? Você está deixando de parecer com o mundo e parecendo cada vez mais com Cristo? Ou você está parecendo cada vez mais com o mundo?” Paul Washer Em Efésios, Paulo faz a seguinte revelação: Esse poder ele exerceu em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazen- do-o assentar-se à sua direita, nas regiões celestiais, mui- to acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir. Deus colocou todas as coisas debaixo de seus pés e o designou como cabeça de todas as coisas para a igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas, em toda e qualquer circunstância. Efésios 1:20-23. 43 O caminho de uma igreja saudável Tudo sobre a vida humana está em Cristo; a ressurreição dos mortos passou pelo plano divino. Jesus está acima de todas as coisas, muito acima de todas as coisas que mensuramos aqui na terra e até as regiões celestiais. Sem dúvida alguma, tudo está ligado a Jesus. Quando Deus dá todo poder, ele comparti- lha isso com os discípulos em Mateus 28: “toda autoridade me é dada no céu e na terra.” Então não podemos pensar a Igreja na perspectiva humana. Não cabe no plano da Igreja escolher o que ela quer ser. Jesus foi quem decidiu,pela autoridade que lhe foi dada, o que deve ser uma igreja. Qualquer ideia fora de Jesus é desvio do caminho. Jesus se tornou o cabeça e com sua autoridade podia colocar os anjos para o trabalho, ou colocar a própria criação ao seu serviço. Ele com sua autoridade e poder designou a Igreja como seu corpo para movimentar aquilo que ele deseja em sua cabeça. Claro que a Igreja tem um papel im- portante no plano divino. A Igreja está sendo direcionada pelo cabeça como seu corpo. Uma igreja que não está em movimen- to com o cabeça que é Jesus está fora do corpo dEle. O diagra- ma elaborado por Carl Bosma resume toda esta argumentação de Efésios. Cristo Igreja Todas as coisas Governo, autoridade, domínio, todas as pessoas O caminho de uma igreja saudável 44 Uma igreja transformadora tem esse olhar de Paulo. Nada, nem ninguém pode impedir os planos de Deus para vida de uma pessoa, ou cidade, ou mundo. O plano de reconciliação da cria- ção com o criador: Deus quer redimir tudo. Retomar o governo, autoridade e domínio sobre todas as coisas. Até aí tudo bem. Todos aceitam Jesus como Senhor da humanidade. Só que um papel especial foi dado à Igreja. É a Igreja que testemunha ao mundo essa verdade, É a Igreja que anuncia a vontade de Deus, É a Igreja que está aqui nesse mundo representando o cabeça. A Reedemer Presbyterian Church é uma igreja referencial para muitos lideres no mundo. Seu pastor é Timothy Keller, es- critor de vários livros já em Português. Ouvi o Al Barth, que é o vice presidente deste igreja, em uma conferência para pastores sobre igrejas em campinas. O Al Barth trouxe algumas caracte- rísticas do que torna uma igreja transformadora. Primeiro é a confiança no evangelho e no poder do evan- gelho. É muito comum nós tentarmos trazer algo a mais para chamar a atenção das pessoas. Realizamos shows, trazemos psicologias, e outras teses para o discurso do evangelho. Sem dúvida muitos de nós pensamos nessas coisas sobre que tipo de mensagem vamos expor. Precisamos ter a mesma convicção que Paulo: “Eu não me envergonho do evangelho”. Pregue o evangelho, creia no que está pregando, e levará as pessoas a seguirem a Jesus. “Pregue o verdadeiro evangelho e aplique claramente o evangelho, certamente o Espirito Santo realizará o milagre da salvação”. Al Barth Segundo, em uma igreja transformadora existe uma genuí- na comunhão. Sacrifique qualquer coisa, só não sacrifique a comunhão. Relacionamentos é uma resposta ao tempo. Nossa 45 O caminho de uma igreja saudável sociedade hoje é virtual, e as próximas gerações serão muito mais. Incentivar na igreja a comunhão é se contrapor à propos- ta atual de destruir a possibilidade do homem de desenvolver os mandamentos de amar. “As pessoas substituíram a comu- nhão genuína por um ambiente virtual de relacionamento que acreditamos ser positivo, pois possibilitou comunicar-se com o mundo, mas roubou de nós os relacionamentos que constroem emoções verdadeiras”. Terceiro, a igreja precisa viver o amor e a misericórdia na cidade. Nada é tão transformador quanto o amor. Agir em amor é o caminho de uma igreja saudável. “Misericórdia é a respos- ta mais apologética para uma cidade” Al Barth. O discurso do amor de Deus está intimamente ligado à ação do seu corpo vivo que ele deixou na terra. Quarto, a igreja transformadora busca por justiça. A ver- dadeira paz é tratar as pessoas de forma justa. Atos de injusti- ça devem ser denunciados pela igreja na sociedade. E a igreja deve apresentar o caminho de Deus para a comunidade. O caminho de uma igreja saudável é cumprir com a missão que foi dada por Jesus. Não caminhar com Jesus em qualquer que seja a ação, mesmo que nome de Deus esteja na placa, mas estando longe da videira verdadeira, será lançado no fogo e queimado, que é só para isso que serve. Temos o caminho, ago- ra é escolher seguir ou continuar distante do cabeça da igreja. 47 O DNA da igreja O DNA da igreja DNA é um termo usado na biologia para explicar a estru- tura celular mais importante na existência de uma vida. É no DNA que estão todas as características de um individuo. É algo do tipo que não existe nada depois do DNA que possa ser ex- plicado. É nele que começa a se organizar um organismo vivo. A igreja tem na sua origem características indispensáveis para a sua relação com o criador. Crendo que Deus criou a igre- ja com o propósito de ser o corpo de Cristo, então a verdade do que deve ser a igreja está no próprio Deus. E Jesus trouxe essa verdade em seu momento com a humanidade aqui na terra. Olhar para Jesus para entender como devemos andar é primor- dial para a vida da igreja. Destacamos pontos relevantes para o direcionamento da igreja saudável. Esperamos ver de longe em nossas igrejas elementos tão especiais como estes. O Amor de Deus está no mundo “A causa do amor de Deus não está em você. Está Nele mesmo.” Hernandes Dias Lopes Muito de nós temos essa confusão de achar que Deus faz as coisas por nós, devido ao nosso merecimento de nossas ações bondosas aqui na terra. E essa falsa verdade sobre amor é ensi- nada na igreja atualmente. Quem não já ouviu: “Deus é amor, mas Deus é justiça”, “se estiver em pecado Deus castiga se estiver santo Deus abençoa abundantemente.” É muito confu- so tudo isso quando olhamos nas escrituras o amor de Deus. 3 O DNA da igreja 48 Em seu livro Maravilhosa Graça, Philip Yancey diz: “Não há nada que você possa fazer mais para que Deus te ame. Não há nada que você possa fazer de menos para que Deus te ame. Ele simplesmente te ama.” Para entender o conceito de amor, pre- cisamos começar tentando entender a mente de Deus e seu ato de amor e depois chegar a ver este amor dentro da igreja como sendo parte de seu DNA. “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas te- nha a vida eterna.” João 3:16 Deus amou primeiro que tudo. Deus amou o mundo antes dele existir. Então o amor é parte do DNA de Deus. E deve sem duvida ser também parte do DNA de sua igreja. Não é um amor sentimental, como nós podemos sentir pelos nossos amigos e filhos. Nem o amor que sente um casal, que resulta no prazer de uma vida a dois e como fruto em muitos casos surgem os fi- lhos. Poderíamos tentar mensurar a partir do amor de uma mãe que durante meses vai gerando uma vida dentro dela e quando nasce, sente que é uma parte dela existindo e sente um amor tamanho e verdadeiro, muito lindo mesmo. Amor materno é ca- paz de tudo por um filho. Mas não chega perto do amor de Deus que é a fonte do amor. O amor de Deus sacrifica até a essência dele estar em seu trono de glória e viver entre nós como servo. Por que chegamos a essa conclusão de um amor tão imenso e impossível de ser de origem humana? Porque estamos em um mundo caído. Um mundo sem o valor de amar, em que uma mãe não amava mesmo com tanto amor dentro dela. Um mun- do revelado por vários – gosto das relações que Paulo apresenta em Romanos e 2 Timóteo. 49 O DNA da igreja “Tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamen- tos tornaram-se fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas se- gundo a semelhança do homem mortal, bem como de pás- saros, quadrúpedes e répteis. Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a degradação dos seus corpos entre si. Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e ser- viram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. Por causa disso Deus os entre- gou a paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza. Da mesma forma, os homens também abandonaram as rela- ções naturais com as mulheres e se inflamaram de paixão uns pelos outros. Começaram a cometer atos indecentes, homenscom homens, e receberam em si mesmos o castigo mereci- do pela sua perversão. Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam. Torna- ram-se cheios de toda sorte de injustiça, maldade, ganância e depravação. Estão cheios de inveja, homicídio, rivalidades, engano e malícia. São bisbilhoteiros, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, arrogantes e presunçosos; inventam ma- neiras de praticar o mal; desobedecem a seus pais; são insen- satos, desleais, sem amor pela família, implacáveis. Embora conheçam o justo decreto de Deus, de que as pessoas que pra- ticam tais coisas merecem a morte, não somente continuam a praticá-las, mas também aprovam aqueles que as praticam. Romanos 1:21-32 O DNA da igreja 50 Este é o mundo que Deus amou. Isso mensura o tamanho do amor de Deus. Amar a nós de forma incondicional. Amor sem condicionar a forma do que vai ser amado só em Deus. Pegar homens tão imprestáveis como nós e amar, só o amor di- vino. Esse amor está no mundo. Ele doou ao mundo esse amor através de Jesus Cristo. A partir de Jesus podemos amar, a par- tir da fonte do amor podemos multiplicar esse amor no mundo. Foi a conclusão a que o apóstolo João chegou. O amor de Deus está em nós Amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Foi assim que Deus manifestou o seu amor entre nós: enviou o seu Filho Unigênito ao mundo, para que pudéssemos viver por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar-nos uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoa- do em nós. 1 João 4:7-12 O amor procede de Deus. A origem do amor é Deus. E quem é nascido de Deus ama. Porque o Espírito de Deus está em amor dentro de nós, desejando amar. Por isso que Jesus lan- ça o amor como sendo os únicos mandamentos a serem vividos pelos seus discípulos. “Amarás o Senhor teu Deus... Amarás ao próximo como a ti mesmo” Todo o DNA da igreja está centrado no amor. 51 O DNA da igreja No corre-corre de um terminal rodoviário algumas pessoas derrubaram um tabuleiro de maçãs-do-amor, esparramando-as pelo chão. Somente um homem parou para ajudar a pequena vendedora. Ao começar a recolher as frutas, ele percebeu que ela era cega. Gentilmente ajudou-a a levantar o tabuleiro e a ajuntar as maçãs. Ao verificar que várias de suas frutas se estragaram na que- da, a menina ficou visivelmente apreensiva: – Minha mãe vai ficar muito triste. – Não se preocupe, minha querida, disse-lhe o homem, eu pago as maças que se estragaram. Pagou e despediu-se dela, mas ela o chamou e perguntou: – Moço, é você que é Jesus? – Não, minha querida, mas sou um dos amigos dele. Uma igreja sem amor é uma igreja sem Deus. Deus é a fon- te de amor e gera em nós esse amor pelo próximo. Não amando, não conhecemos a Deus. Muito forte isso. E não é só João que traz o nível de importância ao amor. Quando Paulo escreve aos coríntios e no capitulo 13 fala de amor é incrível. Ele trata tudo que julgamos importante na vida que poderíamos fazer por ou- tro; mas se não tiver amor, nenhum ato de dar aos pobres toda a riqueza, ou falar todas as línguas, ou ainda lançar nosso corpo no fogo por alguém, tem valor algum. Então mesmo que nossas igrejas façam para mostrar algum serviço pelos necessitados, isso será apenas assistencialismo e nada mais. O sinal do Reino O DNA da igreja 52 de Deus é o amor em tudo que vivemos e fazemos. Porque em tudo estará o amor marcando a nossa passagem. O mundo precisa viver esse amor. O mundo precisa deste amor. A Igreja tem em seu DNA esse amor. Não podemos em hipótese alguma negligenciá-lo, a não ser que não o conheça- mos. Tudo é bonito quando há amor. Tudo é bonito do seu pró- prio jeito! Para um engenheiro, uma ponte que acabou de ser construída é bonita. Para um cientista, cada nova descoberta é bonita. Para um ecologista, o ar puro para se respirar é bonito. Para um jardineiro, flores e arbustos são bonitos. Para um as- tronauta, o espaço é fantasticamente bonito. Para um músico, a música bem tocada é bonita. Para um fã de futebol, um gol de bicicleta é bonito. Seja quem for, onde quer que esteja, a maior e mais bonita de todas as coisas é o amor! O amor volta com vida, quando você o doa. Nós achamos que nossas necessidades devem ser aprecia- das, respeitadas, mimadas mais um pouco, e satisfeitas. Fica- mos pensando como gostamos de atenção dos outros. Este é o ponto no qual a grande distorção acontece. Nós somos tão necessitados de dar quanto de receber amor. Talvez, até mais de receber. O velho e distinto psiquiatra Dr. Smiley Blanton, em seu li- vro com o sugestivo título Amar ou Perecer, mostra que quanto mais capazes somos de responder às pessoas em amor, mais saudáveis e felizes nos tornamos. Deus quer nos ampliar, nos libertar, fazer com que ame- mos ilimitadamente. Com Deus, não há limites para amar. Você sabe que não é a nossa função mudar as pessoas. Nossa função 53 O DNA da igreja é amá-las, permitindo que Deus trabalhe através de nós com o amor dEle. Deus coloca em contato os doadores de amor e aqueles que estão em necessidade. Quando você doa amor, este gesto não ajuda apenas a outros, mas também cura você. Não deixe seu amor esfriar Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfria- rá, Mateus 24:12 Uma das verdades anunciadas por Jesus é a possibilidade desse amor esfriar dentro de nós. Acredito que muitos corações iniciaram a caminhada na igreja e nos ministérios com tanto amor, e esfriaram. Na região onde sirvo a Deus no ministério pastoral, cerca de seis cidades com uma taxa de 25% das pes- soas se denominam sem religião, segundo o IBGE. O amor de muitos pode esfriar e essa não é a vontade de Deus. Em Mateus 24 os discípulos pedem a Jesus sinais da vinda de Jesus e final dos tempos. Então Jesus faz uma discrição de uma realidade difícil de ouvir. Muitos viriam em seu nome e enganariam a muitos. O engano no mundo é uma realidade, inclusive no meio das religiões que deveriam estar levando as pessoas à verdade e pior ainda, quando torna claros os enganos acontecendo no meio daqueles que têm acesso a essa palavra de Jesus. Sim, muitos falsos cristos passaram nesses mais de 2000 mil anos de cristianismo. Gostaria de citar brevemente um desta em nossa geração. O fundador da igreja Crescendo na Graça, o José Luís Miranda, se denominou como sendo Jesus Cristo homem enquanto estava em vida e conseguiu milhares de seguidores em vários países da América Latina. Se consi- derar um salvador em nosso tempo é uma realidade cruel. Mas Jesus nos preparou e disse que eram apenas sinais. O DNA da igreja 54 Outro sinal revelado por Jesus: guerras e grandes lutas en- tre nações. Estamos vivendo isso atualmente no mundo, quan- do a Síria, Iraque, Afeganistão, Palestina, Israel, e tantas outras nações brigam por tanto tempo e dizimam milhares de pessoas inocentes que morrem bombardeados pagando com a vida por algo nunca fizeram. Isto é um desencadeador de esfriamento do amor de muitos. Alguns, ao verem isso, até se perguntam onde está Deus neste momento. Nesse momento, se não aceitarmos que podemos reagir para trazer a paz e absorver para dentro essa crise dos homens, nosso amor pode esfriar. Perseguição aos cristãos é a maior causa de morte por intolerância religiosa no mundo. Religiões que acreditam no discurso de que precisam eliminar outras religiões porque são inimigas têm gerado um brutal derramamento de sangue em nossa geração. Ódio aos cristãos. A Cristofobia supera todas as formas de preconceito contra a qual a sociedade tem lutado. A Cristofobiamata mais de 100 mil pessoas no mundo. Muito ódio apenas por escolher a fé cristã. Os escândalos cada vez mais difíceis de explicar envolven- do pessoas ligadas à igreja também são um grande esfriador da fé. Jesus disse que por aumentar a maldade o amor de muitos esfriará. Com tanta informação ruim que chega até nós todos os dias, é difícil segurar esse amor. Enquanto olharmos para esse mundo como sendo um resultado da ausência de Deus, o amor pode esfriar. Enquanto absorver toda a maldade humana e esquecer o grande amor da cruz, o amor de vários pode esfriar. O grande desafio é entender que isso são sinais da queda do homem. Mas não é o plano de Deus para o homem. O plano divino para a humanidade é amar. Permaneça no amor de Deus. 55 O DNA da igreja Não permita que seu amor esfrie. É com ele que você vai che- gar até o fim e receber a coroa da vida. O pai conduz o filho pela floresta sombria no final da tarde, sobe a montanha com ele, venda-lhe os olhos e o deixa sozinho. O menino se assenta e passa a noite sozinho, na mais absoluta escuridão. Se quiser ser aprovado, ele não pode remover a ven- da até o dia amanhecer. Também não pode chorar nem gritar por socorro. Se ele aguentar a noite toda, será considerado um homem. E, como os outros que vieram antes dele, não po- derá contar a sua experiência aos próximos candidatos, por- que cada um deve tornar-se homem do seu próprio modo, enfrentando o medo do desconhecido. Ele, naturalmente, está amedrontado. O seu medo o faz ouvir toda espécie de baru- lho. Animais selvagens podem estar por perto. Talvez índios de uma tribo adversária o encontrem e o matem. Os insetos vão atormentá-lo. As cobras lhe causam terror. Ele terá frio, fome e sede. O vento sopra e até o solo parece se mexer. Tudo lhe parece ameaçador, mas ele não remove a venda. Segundo os Cherokees, este é o único modo dele se tornar um homem. É o rito de passagem Cherokee da infância à fase adulta. Final- mente, após esta noite horrível, o sol aparece e o menino pode remover a venda. E vê, então, seu pai sentado ali por perto, cuidando dele a noite toda. Assim como os Cherokees, proteja o que há de melhor dentro do seu coração e não permita que os ruídos externos e o medo mudem aquilo que há de mais precioso dentro de você, que é o amor. Mesmo que tantos sinais negativos dentro da humanidade, Deus, nosso Pai eterno está ao nosso lado nos protegendo e não permitindo que nós esfriemos o amor O DNA da igreja 56 A cultura do fazer o amor ser conhecido Um grande rabino judeu contou uma história para repre- sentar bem o que é amor. Com uma argumentação de que o amor está em extinção na nossa sociedade, um mestre chegou para um jovem que estava comendo peixe e perguntou: Mestre: Porque você está comendo esse peixe? Jovem: Porque eu amo comer peixe! Mestre: Você está me dizendo que tirou o peixe da água, matou o peixe e depois comeu o peixe e fez isso por amor? Jovem: Sim, eu amo comer peixe. Mestre: Você não ama o peixe, você ama a si próprio. E fez do peixe o resultado do seu prazer. O amor não aceita essa proposta do ego. O amor a si próprio já está estabelecido em nós. Claro que vamos nos proteger dos peri- gos, é claro que vamos fazer o possível e o impossível para man- ter nossos prazeres e alcançar a satisfação plena. O amor só existe quando eu faço ao outro o que eu tenho o prazer de fazer a mim. O amor não é amor quando recebe, e sim quando se doa. Jesus disse no sermão da montanha: “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas” Mateus 7:12 Você está fazendo para Deus o que gostaria que ele fizesse a você? Se Deus fosse retribuir a você o que tem dado a ele, como seria sua vida? 57 O DNA da igreja Você está cuidando de você como gostaria de ser cuidado? Você está fazendo à sua família o que quer que façam a você? Se você é filho, é um filho que você gostaria de ter? Você está sendo a esposa ou marido que gostaria de ter? Você está fazendo aos amigos o que gostaria que eles fi- zessem a você? Seus amigos podem agir da mesma forma com você e serão felizes? Você está fazendo no trabalho o que deseja que o trabalho faça a você? Imagine você sendo o dono da empresa; se tivesse um profissional como você, a empresa seria melhor? Você está fazendo ao mundo o que gostaria de ver no mun- do? As críticas que têm feito ao mundo, você será capaz de dar o exemplo necessário para o mundo saber o caminho? “O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos. A maneira como você encara a vida é que faz toda a diferença” Luiz Fernando Ve- ríssimo Em qual igreja nós estamos? No evangelho de João, é registrada uma história de uma mulher que foi pega em adultério: “Os mestres da lei e os fa- riseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos e disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério”. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz? “Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusá-lo. Mas Je- O DNA da igreja 58 sus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo. Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e lhes disse: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pe- dra nela”. Inclinou-se novamente e continuou escrevendo no chão. Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando com os mais velhos. Jesus ficou só, com a mulher em pé diante dele. Então Jesus pôs-se de pé e perguntou-lhe: “Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?” “Ninguém, Senhor”, disse ela. Declarou Jesus: “Eu tam- bém não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de peca- do.” João 8:3-11 59 O DNA da igreja A igreja dos fariseus Estava em um encontro na minha cidade com o Dr René Padilla, um dos grandes nomes da Teologia da Missão Integral. Ele contou uma história de um jovem que pediu ajuda para ele no desejo de deixar as drogas. Ele começou a acompanhar o jo- vem e depois de um tempo, outros vieram pedir ajuda também. Ele era pastor de uma igreja conservadora nos EUA e um grupo de irmãos o procurou para perguntar se esses tipos de pessoas agora frenquentariam o mesmo ambiente que os filhos deles. O Dr Padilla respondeu: “Vocês querem fazer parte da Igreja de Jesus ou da igreja dos fariseus?”. Penso que é muito possível termos igrejas com o nome de Deus, dizendo que seguem a Jesus, mas quando partem para a prática da vida diária eles mantém suas idéias moralistas em troca do evangelho de Jesus. A igreja dos fariseus segue o princípio do descartável. “Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar em pé diante de todos e disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendi- da em ato de adultério”. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres”. O ato de apedrejar era uma forma brutal de encerrar a his- tória de alguém que errou. É a forma mais desumana de con- O DNA da igreja 60 vidar um ser humano a sair de suas vidas por não admitirem seus erros e suas fragilidades. É o que chamamos em nossa cultura hoje de descartável, relacionamentos líquidos. Segundo Zygmunt Bauman, “As relações terminam tão rápido quanto começam, as pessoas pensam terminar com um problema cor- tando seus vínculos, mas o que fazem mesmo é criar problemas em cima de problemas. É um mundo de incertezas, cada um por si. Temos relacionamentos instáveis, pois as relações humanas estão cada vez mais flexíveis. Acostumados com o mundo vir- tual e com a facilidade de “desconectar-se”, as pessoas não conseguem manter um relacionamento de longo prazo. É um amor criado pela sociedade atual (modernidade líquida) para tirar-lhes a responsabilidade de relacionamentos sérios e dura- douros. Pessoas estão sendo tratadas como bens de consumo, ou seja, caso haja defeito descarta-se - ou até mesmo troca-se
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