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Modelo biológico explicativo do crime Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir o modelo biológico. � Descrever a antropometria, a antropologia e a biotipologia como áreas de investigação criminal. � Identificar a neurofisiologia, a hipótese de Ensinck, a endocrinologia, a bioquímica e a genética criminal como áreas de investigação do modelo biológico. Introdução Neste capítulo, você vai estudar o modelo biológico explicativo do crime. O modelo biológico do crime utiliza os conceitos da biologia para analisar e mostrar como se dá o comportamento delitivo. Você vai estudar a antropometria, a antropologia e a biotipologia como áreas de investigação criminal. Além disso, vai ver os conceitos de neurofisiologia, a hipótese de Ensinck, a endocrinologia, a bioquímica e a genética criminal como meios de investigação do modelo biológico do crime. O modelo biológico A criminologia é uma ciência empírica que utiliza métodos fundamentados em experiências reais. Além disso, ela é multidisciplinar, pois exige conheci- mentos de inúmeras ciências, tais como biologia, antropometria, antropologia e biotipologia. Seu objetivo é estudar o crime, o delinquente, a vítima e o controle social. O comportamento do ser humano é instintivo e visa a atender às necessi- dades biológicas. Esse padrão é repetido por diversos indivíduos, em vários lugares, mesmo não havendo vínculos de convívio entre eles (MOLINA; GOMES, 1997). Ao longo dos tempos, o comportamento do ser humano foi objeto de estudos, fascinando e interessando tanto leigos quanto estudiosos. A conduta criminosa do ser humano é relativa à sociedade, e um compor- tamento que é considerado crime num determinado grupo social pode ser completamente aceitável em outro. Um dos expoentes do estudo biológico do crime e do criminoso foi Cesare Lombroso, médico que viveu no século XIX e traçou inúmeros estudos sobre indivíduos condenados por crimes. Ele identificou uma série de vín- culos morfológicos (tamanho de crânio, altura, etc.) entre esses indivíduos, abordando em detalhes o homem criminoso em vários estudos (MOLINA; GOMES, 1997). Cesare Lombroso, utilizando seus conhecimentos sobre biologia, bem como suas incursões no campo do Direito Penal, afirmou que havia uma correlação entre a morfologia corporal humana e determinado comportamento social. Como você sabe, a biologia é o estudo das leis da vida e dos seres vivos em geral. O modelo biológico do crime utiliza os conceitos da biologia para estudar o comportamento delitivo. A criminologia é uma ciência empírica, que utiliza métodos fundamentados em experiências reais, e multidisciplinar, pois exige conhecimentos de inúmeras ciências. No estudo biológico do crime, há um grande destaque ao empirismo, pois a vocação que se encontra é clínica e terapêutica, se sobrepondo a outras projeções do saber científico (MOLINA; GOMES, 1997). O modelo biológico se assemelha muito às ideias do positivismo criminológico de Lombroso, pois as duas teorias partem da premissa de que o homem delinquente é diferente do não delinquente e de que é nessa diferença que está a explicação do com- portamento delitivo. Assim, busca-se no transtorno, na patologia, na disfunção e na anor- malidade a justificativa para a conduta delitiva. O modelo biológico possui Modelo biológico explicativo do crime2 grande importância dentro do estudo da criminologia, mesmo tendo limi- tações, pois o código genético de cada ser humano é material vasto para os processos de interação em que a conduta do homem está inserida (MOLINA; GOMES, 1997). Entretanto, uma das críticas ao modelo biológico paira no ponto de vista político, devido ao caráter radical das concepções biológicas. Nesse sentido, há uma visão distorcida e arrogante da ordem social, já que se atribui ao delito as patologias do indivíduo, esquecendo e não questionando o sistema social e político. Assim, os modelos biológicos devem ponderar a pluralidade de fatores que atuam em conjunto e culminam no ato delitivo, em vez de somente se preocupar em analisar a figura do homem e a sua hereditariedade, a sua carga biológica, a sua genética e os fatores que o formam (MOLINA; GOMES, 1997). O modelo biológico busca localizar em alguma parte do corpo do delinquente, ou em seu funcionamento, o fator diferencial que explica a conduta delitiva. Entende-se que essa conduta é proveniente de alguma patologia, disfunção ou transtorno orgânico. Antropometria, antropologia e biotipologia A seguir, você pode conhecer as áreas de investigação biológica e seus métodos. Antropometria A antropometria, que significa o estudo das medidas e proporções do orga- nismo humano para fins de estatística e comparação, surgiu com a teoria de Lombroso e a Escola Positivista (MOLINA; GOMES, 1997). Nos primórdios, a criminologia possuía grande identificação com a an- tropometria, já que todos os estudos da época, e principalmente as ideias de Lombroso, traziam a suposta correlação entre determinadas características ou medidas corporais e a delinquência, como você pode ver na Figura 1 (MOLINA; GOMES, 1997). 3Modelo biológico explicativo do crime Figura 1. A escola de Lombroso utilizava técnicas de antropometria aplicada para combater a insegurança. Fonte: Bezerra (2017). Para desenvolver sua teoria, Lombroso examinava o crânio do criminoso e encontrava, conforme ensinado por Molina e Gomes (2002, p. 193): “[…] uma grande série de anomalias atávicas, sobretudo uma enorme fosseta occipital média e uma hipertrofia do lóbulo cerebeloso mediano (vermis), análoga à que se encontra nos vertebrados inferiores”. Ele baseou o “atavismo” ou caráter regressivo do tipo criminoso no exame do comportamento de certos animais e plantas, de tribos primitivas e selvagens de civilizações indígenas e, inclusive, em certas atitudes da psicologia infantil profunda. De acordo com o seu ponto de vista, o delinquente padece de uma série de estigmas degenerativos comportamentais, psicológicos e sociais (fronte esquiva e baixa, grande desenvolvimento dos arcos superciliais, assimetrias cranianas, fusão dos ossos atlas e occipital, grande desenvolvimento das maçãs do rosto, orelhas em forma de asas, tubérculos de Darwin, uso frequente de tatuagens, notável insensibilidade à dor, instabilidade afetiva, uso frequente de determinado jargão, altos índices de reincidência, etc.). Foi Alphonse Bertillion (1879) o grande responsável pelos progressos no campo da antropometria. Ele trouxe um complexo sistema de medidas corporais que, junto à fotografia dos criminosos, tornou-se a base para suas identificações (MOLINA; GOMES, 1997). O sistema elaborado por Bertillion utilizava a medida de estatura, com- primento da cabeça, dedo médio e braços. Esse sistema ficou conhecido como “bertilonagem” e, apesar das críticas, foi adotado pela polícia e pelos presídios do mundo todo. Esse sistema só pode ser compreendido como método de identificação do delinquente unido a outras técnicas mais modernas, como a verificação Modelo biológico explicativo do crime4 de impressões digitais, e sempre seguindo a criminalística. Contudo, ele não refletirá uma teoria explicativa do fato criminoso (MOLINA; GOMES, 1997). Alphonse Bertillon inventou o assinalamento antropométrico e a fotografia judiciária. Ele se tornou mundialmente famoso por ter sido um dos primeiros peritos do mundo policial, em 1879. Antropologia A antropologia já possuiu forte vinculação com a teoria de Lombroso. Ela partia da ideia da existência de um tipo humano inferior, degenerado, dotado de características singulares, distinto dos demais indivíduos não delinquentes e com forte carga hereditária. Na antropologia criminal foram expoentes o inglês Goring e o antropólogo de Harvard E. A. Hooton. Para Goring, que sedimentou a ideia da inferioridade e da hereditariedade do delinquente, não existe um tipo físico de criminoso. Já Hooton,aproximando-se muito da doutrina de Lombroso, entende que há estigmas na população criminal e também a possibilidade de características degenerativas, o que dá o tom diferencial para os criminosos. Goring, em seus estudos, refutou o método e as teses de Lombroso. Em seu estudo biométrico, com sólido respaldo estatístico, Goring lançou um célebre desafio às teses de Lombroso. Para Goring, Lombroso utilizou um método anatomopatológico, baseado na observação direta, e não utilizou instrumentos de medição objetivos, calculando assim a suposta normalidade ou anormalidade do indivíduo (MOLINA; GOMES, 1997). Goring se mostrou partidário de um método que poderia precisar a delinquên cia de forma confiável, sem possíveis prejuízos do investigador. Obteve duas conclusões. Em primeiro lugar, que a tese lombrosiana carecia de fundamento científico em sentido antropológico, não encontrando estigmas degenerativos nem diferenças sensíveis entre o grupo de criminosos e os não criminosos. Em segundo lugar, que não havia base empírica para sustentar a inferioridade do agente nem o caráter hereditário da delinquência (MOLINA; GOMES, 1997). 5Modelo biológico explicativo do crime Assim, a inferioridade e o déficit psíquico de inteligência da pessoa não podem ser o viés de uma interpretação da existência de um problema patológico, determinando a anormalidade do criminoso. Para Hooton, em suas obras, todo criminoso é organicamente um ser inferior. O crime, por sua vez, é o resultado da ação do meio sobre um ser humano inferior. Hooton destaca a existência de diferenças significativas entre os criminosos e os não criminosos. A inferioridade física seria relevante por aparecer associada à inferioridade mental, sendo causa daquela hereditariedade e não estando relacionada a fatores circunstanciais ou situacionais (MOLINA; GOMES, 1997). De acordo com os estudos de Hooton, os criminosos seriam inferiores aos não criminosos em quase todas as medidas corporais, provando assim que os traços físicos refletiriam a inferioridade da pessoa. Ele ainda traçou uma relação entre o tipo de físico e o tipo de delito. Os indivíduos altos e delgados teriam inclinação para o cometimento de homicídios e roubos; os altos e corpulentos, para falsificações e enganos; já os baixos, para furtos; os baixos e gordos, para violações e abusos sexuais. Biotipologia A biotipologia é uma ciência que estuda o “tipo humano” e tem foco em um órgão ou uma função. A premissa das investigações biotipológicas é a exis- tência de uma correlação entre as características físicas do indivíduo e suas características psicológicas, entre tipo somático ou corporal e tipo mental, caráter e temperamento (RIFF, 2003). Para a biotipologia, há uma relação entre determinadas características morfológicas e constitucionais específicas e a constituição física e o tem- peramento. Existem diversas escolas e classificações para a biotipologia (RIFF, 2003). Escola francesa Diferencia a tipologia em quatro tipos humanos, segundo o sistema predo- minante (RIFF, 2003): � respiratório; � digestivo; � muscular; � cerebral. Modelo biológico explicativo do crime6 Escola italiana Existem três correntes na escola italiana, como você pode ver a seguir. 1. A que considera a existência de dois tipos fundamentais: o brevilíneo, que tem o corpo desenvolvido na horizontal com o predomínio do sistema vegetativo, produzindo pessoas enérgicas; e o longilíneo, que retrata as pessoas de maior estatura e com tendências à introversão e à fantasia. 2. A que sustenta que o tronco é que expressa a vida vegetativa e as extremidades a de relação, motivo pelo qual se distinguem dois tipos extremos e um terceiro intermediário. 3. A que considera fatores endocrinológicos e distingue o tipo longilíneo- -estênico (pessoas fortes, com hiperfunção de tireoide e suprarrenais), o longilíneo-astênico (débeis, com escasso desenvolvimento da estrutura muscular e hipofunção das suprarenais), o brevilíneo-estênico (pessoas fortes, musculosas, com reações lentas, com hipotireoidismo e com hiperfunção das suprarrenais) e por fim o brevilíneo-astênico (gordos, débeis, lentos em suas reações e com hipofunção de tireoide) (RIFF, 2003). Escola alemã Elaborou uma tipologia dupla, sendo ela constitucional e caracterológica. Kretschmer diferenciou quatro tipos de constituição corporal, como você pode ver a seguir. � Leptossômicos: alta estatura, tórax largo, peito fundo, cabeça pequena, pés e mãos curtos, cabelos crespos (propensão ao furto e ao estelionato); � Atléticos: estatura média, tórax largo, musculoso, forte estrutura óssea, rosto uniforme, pés e mãos grandes, cabelos fortes (crimes violentos); � Pícnicos: tórax pequeno, fundo, curvado, formas arredondadas e fe- mininas, pescoço curto, cabeça grande e redonda, rosto largo e pés, mãos e cabelos curtos (menor propensão ao crime); � Displásicos: tipo acrescentado por último na teoria de Kretschmer. São pessoas com corpo desproporcional, com crescimento anormal (crimes sexuais). Constatou-se ainda, por meio do fator endocrinológico, que existe uma conexão biológica profunda entre os tipos de estrutura corporal e o tempera- mento do indivíduo (PENTEADO FILHO, 2012). 7Modelo biológico explicativo do crime Para Hooton, alguns dados sobre o traço físico que refletiam a inferioridade seriam: fronte estreita e inclinada, pescoço comprido e delgado, ombros caídos, lábios finos, breves ângulos mandibulares, maxilares pouco ajustados, orelhas pequenas com as bordas ligeiramente torcidas, rostos tensos, secreção nasal abundante, predomínio de olhos azuis acinzentados e sobrancelhas escassas. A tatuagem seria mais frequente entre os delinquentes. As maiores críticas à escola alemã da biotipologia foram no sentido de que tinha forte tendência discriminatória. Essa escola foi adotada pelo nazifascismo para justificar a eliminação de “raças inferiores”. Áreas de investigação do modelo biológico No início do século XX, diversos estudos foram realizados a fim de associar o comportamento humano (em especial o criminal) com os processos hor- monais. Assim, foram realizados estudos dos efeitos do sistema nervoso, dos processos endócrinos patológicos e de certas disfunções glandulares internas (PENTEADO FILHO, 2012). Neurofisiologia Com o advento do eletroencefalograma, exame que permite o registro gráfico das atividades elétricas do cérebro, abriu-se um campo vasto para o estudo científico desse órgão. Isso permitiu a análise de irregularidades e disfunções cerebrais e a sua relação com a conduta criminosa do ser humano. Foram realizados diversos estudos, como o desenvolvido por Lombroso, que traçaram uma relação entre a conduta delitiva e as patologias cerebrais. Alguns desses estudos utilizaram como método de análise o exame eletroence- falograma, interpretando o exame realizado com os delinquentes e com os não delinquentes e corroborando os achados com testes psicológicos (RIFF, 2003). Assim, o que esses estudos pretendiam mostrar é que a maior parte dos crimes violentos realizados sem motivo está vinculada a anomalias cerebrais graves que só podem ser detectadas por meio de exames de análise do cérebro, como o eletroencefalograma. Após essa análise, verificou-se a existência de uma conexão entre fatos delitivos cometidos por jovens: são produtos de personalidade imatura e de disfunções cerebrais singulares (RIFF, 2003). Modelo biológico explicativo do crime8 Por fim, a existência de doenças cerebrais explicaria certos comportamentos delituosos, o que permitiu traçar uma relação concreta com patologias como tumores, choques traumáticos, doenças do sistema nervoso central, epilepsia, demência, etc. Estudos clínicos mostram que pessoas tidas como pacíficas, após passarem por processos tumorais no cérebro, se tornam violentas. Isso ocorre devido à mudança de personalidade e de problemas psicológicos provocados pelo processo (RIFF, 2003). Hipótese de EnsenckSegundo Ensenck, o sistema nervoso autônomo pode predispor a pessoa a um comportamento antissocial ou delitivo pela importância que tem no processo de socialização. As psicopatias e as sociopatias são o âmbito preferido dos estudos realizados para verificar essa possibilidade. O sistema nervoso au- tônomo ou vegetativo tem papel primordial, pois é por meio dele que certas reações do corpo humano ocorrerão (MOLINA; GOMES, 1997). Assim, a resposta do sistema nervoso autônomo de psicopatas para determinados estímulos alcança algumas medidas diferentes das encontradas em pessoas que não são psicopatas. Ensenck destacou a grande importância do sistema nervoso autônomo, relacionando-o com os conceitos de introversão e extroversão. Para ele, a ameaça intimidatória do castigo é muito mais eficaz potencialmente no intro- vertido, que mostra elevados níveis de ansiedade. A pessoa extrovertida, pelo contrário, experimenta menor ansiedade, tanto porque é menos sensível à dor como porque, na busca da estimulação que necessita, praticará comportamentos ou atividades proibidas (MOLINA; GOMES, 1997). Endocrinologia Várias investigações traçam um paralelo entre as condutas humanas em geral, a conduta delitiva e os processos hormonais e endócrinos patológicos. Certas disfunções, sendo hiperfunções ou hipofunções das glândulas de secreção interna (hormônios), se conectam ao sistema neurovegetativo, que, por sua vez, se relaciona com a vida instinto-afetivo (VEIGA, 2011). Assim, criou-se a definição de homem como ser químico. Os desajustes ou desequilíbrios que são significativos na balança química ou hormonal do ser humano podem explicar transtornos em sua conduta e em sua personalidade (VEIGA, 2011). 9Modelo biológico explicativo do crime As teses que trazem a endocrinologia como base se distinguem do pensa- mento de Lombroso. Elas não validam o caráter hereditário de tais transtornos glandulares, pois consideram plausível a cura dessas disfunções por meio do tratamento hormonal competente. Segundo Molina e Gomes (1997), a década de 1920 marca o início da en- docrinologia criminal. Nesse momento, Schlapp e Berman iniciam suas obras. Schlapp destacou que o crime é consequência de uma perturbação emocional já derivada de um desajuste hormonal. Já Berman juntou dados valiosos sobre a inter-relação que existe entre a atividade glandular, a personalidade e os problemas de comportamento. Além disso, deu ênfase aos primorosos resultados clínicos obtidos por meio de tratamentos hormonais. Nos últimos anos, devido à delinquência agressiva e sexual, ampliaram-se as investigações para demonstrar algumas relações entre os níveis de testos- terona e a conduta criminal masculina. Além disso, foi debatido o êxito dos tratamentos hormonais realizados em delinquentes sexuais (VEIGA, 2011). Bioquímica As orientações biológicas seguem, até hoje, tentando identificar o homem de- linquente. Elas buscam evidenciar um fator diferencial que explique a conduta delituosa. Tal fator pode ser alguma parte do corpo, algum funcionamento fisiológico pontual ou evidências nos sistemas e subsistemas do organismo (BANDEIRA, PORTUGAL, 2017). Jeffery (apud MOLINA; GOMES, 1997, p. 190) afirma que: Código genético e código cerebral são de natureza bioquímica e compreendem a estrutura bioquímica dos genes de transmissão nervosa ao cérebro. O tipo de comportamento (resposta) que exibe um organismo depende da natureza do meio (estímulo) e da forma pela qual o referido estímulo se concretiza, se transmite e se percebe pelo cérebro e pelo sistema nervoso... não herdamos o comportamento como se herda a estatura ou a inteligência. Herdamos uma capacidade de interação com o meio social. Algumas substâncias influenciam a conduta humana e assim é cabível traçar uma referência bioquímica a esses componentes (VEIGA, 2011), como você pode ver a seguir. � Déficit de minerais e vitaminas — esses elementos são necessários para o desenvolvimento cerebral, e a sua falta pode gerar graves pro- blemas físicos e psíquicos que se traduzem em transtornos na conduta. Modelo biológico explicativo do crime10 � Insuficiência da vitamina B — pode gerar hiperatividade nos jovens, porque seu déficit produz intranquilidade e desassossego. � Hipoglicemia — o cérebro tem sua energia gerada pela combustão de hidratos de carbono. Se há um déficit significativo de glicose no sangue, isso pode deteriorar o funcionamento do corpo, afetando o metabolismo. Irritabilidade, ansiedade, depressão, aturdimento e confusão costumam ser sintomas da queda de açúcar, com grande relevância potencial criminológica. � Alergias — as alergias nervosas e as cerebrais podem influir no com- portamento humano, pois são uma reposta desmedida e não usual do organismo a certas substâncias que lhe são estranhas. Mesmo assim, a hiperemotividade, a hiperemocionabilidade ou a hostilidade que alguns casos de alergia desencadeiam não têm uma relação causal comprovada com o comportamento criminal. � Contaminantes ambientais — investigações relacionam determinados contaminadores ambientais com a conduta criminosa. Alguns exemplos de contaminadores ambientais: o chumbo, o cádmio, o mercúrio, a clorina e o dióxido de nitrogênio, etc. � Outras investigações ambientalistas — dão relevância a fatores tér- micos, acústicos, luminosos, espaciais, urbanísticos, etc. De acordo com Jeffery (apud MOLINA; GOMES, 1997), a conduta hu- mana deriva tanto de variantes ambientais como de variantes genéticas. A aprendizagem é um processo psicobiológico que inclui mudanças na estrutura bioquímica e celular do cérebro dos indvíduos. Trata-se de um sistema de informação conforme a fórmula: código genético + ambiente = código cerebral + ambiente = conduta. Segundo Molina e Gomes (1997), o prevencionismo político-criminal do modelo biossocial de Jeffery entrará em conflito com as ideias conserva- doras da atualidade. Esse modelo criticará a efetividade do teor do castigo: haverá um efeito dissuasório da pena operando não no delinquente potencial, desmotivando-o, mas no magistrado, na opinião pública. Assim, haverá um efeito de cunho reforçador em vez de preventivo (VEIGA, 2011). Genética criminal Com os avanços no estudo da genética, vários aspectos relacionados à heredi- tariedade criminal foram traçados, trazendo à baila novamente as definições de atavismo, famosas pelos estudos de Lombroso. 11Modelo biológico explicativo do crime Como sustentam Molina e Gomes (2002), há certo percentual de indivíduos unidos por consanguinidade entre doentes mentais. Há ainda a presença de um fator hereditário degenerativo ou doentio muito superior em indivíduos delinquentes do que em indivíduos não criminosos (hereditariedade pejorativa). Esses foram dados estatísticos comprovados. Apesar disso, não são todos os fatores biológicos que podem ser atribuídos à hereditariedade. Existem ainda os fenômenos resultantes de mutações genéticas e de rebeliões contra a identidade. Conforme é sabido, o DNA é formado pela reunião de bases nitrogenadas na seguinte conformidade: adenina/timina; citosina/guanina. A partir de 2000, inúmeros estudiosos começaram a decifrar o genoma humano, desenhando o esboço do mapa genético de três cromossomos (cerca de 11% do todo). Sustenta-se que a herança genética se manifesta ao mesmo tempo por meio de semelhanças e diferenças. As semelhanças irão derivar dos caracteres transmitidos de pai para filho, ao passo que as diferenças aparecerão em consequência da herança de outros ancestrais (atavismo) (PENTEADO FILHO, 2012). Dessa forma, na bagagem genética estariam inseridos os caracteres: � morfológicos (estatura, sexo, raça, etc.); � fisiológicos (força muscular e sexualidade, etc.); � psicológicos (inteligência e sensibilidade, etc.). Por fim, segundo Hassemer e Conde (2008), somente poderá ser estudada a desviação criminal por meio de investigações sobre a pessoa específica e sobre sua interação como ambiente e a sociedade. Estudos realizados na área da genética também são referências impor- tantes para embasar explicações teóricas de orientação biológica do delito. Assim, muitas são as tentativas de explicar condutas antissociais, delitivas ou desviadas, oriundas de patologias cerebrais, em especial após a criação do eletroencefalógrafo (EEG), aparelho utilizado pela medicina que permite registrar a atividade elétrica do cérebro. A contribuição da neurofisiologia moderna também é relevante e está completamente inserida nessa realidade. Exemplo disso é o fato de que no Reino Unido operam-se estudos eletroencefalográficos que objetivam verificar a existência de hipóteses concretas nos casos denominados “crimes sem motivo aparente”. Nesses eventos é possível, com a ajuda do eletroencefalógrafo, identificar anomalias cerebrais graves ocorridas nos criminosos testados (BANDEIRA; PORTUGAL, 2017). Modelo biológico explicativo do crime12 As patologias do sistema nervoso central costumam vir associadas à perda de me- mória, sentido e orientação, aos transtornos emocionais, à irritabilidade e aos acessos de ira. Choques traumáticos também podem, além disso, alterar a personalidade, trazendo consigo graves transtornos de conduta, perda de memória e desorientação (VEIGA, 2011). BANDEIRA, T.; PORTUGAL, D. Criminologia. Salvador: UFBA, 2017. Disponível em: <https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/174993/4/eBook_Criminologia - Tecnologia_em_Seguranca_Publica_UFBA.pdf>. Acesso em: 31 maio 2018. BEZERRA, E. Lombroso e a teoria do criminoso nato. 2017. Disponível em: <https:// incrivelhistoria.com.br/direitos-humanos/lombroso-criminoso-nato/>. Acesso em: 31 maio 2018. HASSEMER, W.; CONDE, F. M. Introdução à criminologia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. MOLINA, A. G. P. de; GOMES, L. F. Criminologia. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,1997. MOLINA, A. G. P. de; GOMES, L. F. Criminologia. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. PENTEADO FILHO, N. S. Manual esquemático de criminologia. São Paulo: Saraiva, 2012. RIFF, R. C G. V. Aspectos de correlação entre os fatores biotipológicos e psicopatológicos nagênese do comportamento criminal. 2003. 102 f. Monografia (Graduação em Direito) - UniFMU, São Paulo. 2003. Disponível em: <http://arquivo.fmu.br/prodisc/direito/rcgvr. pdf>. Acesso em: 31 maio 2018. VEIGA, M. M. Fatores do crime. 2011. 66 f. Monografia (Graduação em Direito) - Univer- sidade São Francisco, Bragança Paulista, 2011. Disponível em: <http://static.recanto- dasletras.com.br/arquivos/3152670.pdf>. Acesso em: 31 maio 2018. Leituras recomendadas BECCARIA, C. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Claret, 2000. BITTAR, E. C. B.; ALMEIDA, G. A. de. Curso de filosofia do direito. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2001. 13Modelo biológico explicativo do crime Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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