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Psicologia e criminologia 6

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Modelo biológico 
explicativo do crime
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Definir o modelo biológico.
 � Descrever a antropometria, a antropologia e a biotipologia como 
áreas de investigação criminal.
 � Identificar a neurofisiologia, a hipótese de Ensinck, a endocrinologia, 
a bioquímica e a genética criminal como áreas de investigação do 
modelo biológico.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar o modelo biológico explicativo do crime. 
O modelo biológico do crime utiliza os conceitos da biologia para analisar 
e mostrar como se dá o comportamento delitivo.
Você vai estudar a antropometria, a antropologia e a biotipologia 
como áreas de investigação criminal. Além disso, vai ver os conceitos de 
neurofisiologia, a hipótese de Ensinck, a endocrinologia, a bioquímica e 
a genética criminal como meios de investigação do modelo biológico 
do crime.
O modelo biológico
A criminologia é uma ciência empírica que utiliza métodos fundamentados 
em experiências reais. Além disso, ela é multidisciplinar, pois exige conheci-
mentos de inúmeras ciências, tais como biologia, antropometria, antropologia 
e biotipologia. Seu objetivo é estudar o crime, o delinquente, a vítima e o 
controle social.
O comportamento do ser humano é instintivo e visa a atender às necessi-
dades biológicas. Esse padrão é repetido por diversos indivíduos, em vários 
lugares, mesmo não havendo vínculos de convívio entre eles (MOLINA; 
GOMES, 1997). Ao longo dos tempos, o comportamento do ser humano foi 
objeto de estudos, fascinando e interessando tanto leigos quanto estudiosos. 
A conduta criminosa do ser humano é relativa à sociedade, e um compor-
tamento que é considerado crime num determinado grupo social pode ser 
completamente aceitável em outro. 
Um dos expoentes do estudo biológico do crime e do criminoso foi Cesare 
Lombroso, médico que viveu no século XIX e traçou inúmeros estudos 
sobre indivíduos condenados por crimes. Ele identificou uma série de vín-
culos morfológicos (tamanho de crânio, altura, etc.) entre esses indivíduos, 
abordando em detalhes o homem criminoso em vários estudos (MOLINA; 
GOMES, 1997). 
Cesare Lombroso, utilizando seus conhecimentos sobre biologia, bem como suas 
incursões no campo do Direito Penal, afirmou que havia uma correlação entre a 
morfologia corporal humana e determinado comportamento social.
Como você sabe, a biologia é o estudo das leis da vida e dos seres vivos 
em geral. O modelo biológico do crime utiliza os conceitos da biologia para 
estudar o comportamento delitivo. A criminologia é uma ciência empírica, 
que utiliza métodos fundamentados em experiências reais, e multidisciplinar, 
pois exige conhecimentos de inúmeras ciências.
No estudo biológico do crime, há um grande destaque ao empirismo, pois 
a vocação que se encontra é clínica e terapêutica, se sobrepondo a outras 
projeções do saber científico (MOLINA; GOMES, 1997). O modelo biológico 
se assemelha muito às ideias do positivismo criminológico de Lombroso, pois 
as duas teorias partem da premissa de que o homem delinquente é diferente 
do não delinquente e de que é nessa diferença que está a explicação do com-
portamento delitivo.
Assim, busca-se no transtorno, na patologia, na disfunção e na anor-
malidade a justificativa para a conduta delitiva. O modelo biológico possui 
Modelo biológico explicativo do crime2
grande importância dentro do estudo da criminologia, mesmo tendo limi-
tações, pois o código genético de cada ser humano é material vasto para os 
processos de interação em que a conduta do homem está inserida (MOLINA; 
GOMES, 1997).
Entretanto, uma das críticas ao modelo biológico paira no ponto de vista 
político, devido ao caráter radical das concepções biológicas. Nesse sentido, 
há uma visão distorcida e arrogante da ordem social, já que se atribui ao 
delito as patologias do indivíduo, esquecendo e não questionando o sistema 
social e político. 
Assim, os modelos biológicos devem ponderar a pluralidade de fatores que 
atuam em conjunto e culminam no ato delitivo, em vez de somente se preocupar 
em analisar a figura do homem e a sua hereditariedade, a sua carga biológica, 
a sua genética e os fatores que o formam (MOLINA; GOMES, 1997).
O modelo biológico busca localizar em alguma parte do corpo do delinquente, 
ou em seu funcionamento, o fator diferencial que explica a conduta delitiva. 
Entende-se que essa conduta é proveniente de alguma patologia, disfunção ou 
transtorno orgânico. 
Antropometria, antropologia e biotipologia
A seguir, você pode conhecer as áreas de investigação biológica e seus métodos.
Antropometria
A antropometria, que significa o estudo das medidas e proporções do orga-
nismo humano para fins de estatística e comparação, surgiu com a teoria de 
Lombroso e a Escola Positivista (MOLINA; GOMES, 1997). 
Nos primórdios, a criminologia possuía grande identificação com a an-
tropometria, já que todos os estudos da época, e principalmente as ideias de 
Lombroso, traziam a suposta correlação entre determinadas características 
ou medidas corporais e a delinquência, como você pode ver na Figura 1 
(MOLINA; GOMES, 1997). 
3Modelo biológico explicativo do crime
Figura 1. A escola de Lombroso utilizava técnicas de antropometria aplicada para combater 
a insegurança. 
Fonte: Bezerra (2017).
Para desenvolver sua teoria, Lombroso examinava o crânio do criminoso e 
encontrava, conforme ensinado por Molina e Gomes (2002, p. 193): “[…] uma 
grande série de anomalias atávicas, sobretudo uma enorme fosseta occipital 
média e uma hipertrofia do lóbulo cerebeloso mediano (vermis), análoga à 
que se encontra nos vertebrados inferiores”.
Ele baseou o “atavismo” ou caráter regressivo do tipo criminoso no exame 
do comportamento de certos animais e plantas, de tribos primitivas e selvagens 
de civilizações indígenas e, inclusive, em certas atitudes da psicologia infantil 
profunda. De acordo com o seu ponto de vista, o delinquente padece de uma 
série de estigmas degenerativos comportamentais, psicológicos e sociais (fronte 
esquiva e baixa, grande desenvolvimento dos arcos superciliais, assimetrias 
cranianas, fusão dos ossos atlas e occipital, grande desenvolvimento das maçãs 
do rosto, orelhas em forma de asas, tubérculos de Darwin, uso frequente de 
tatuagens, notável insensibilidade à dor, instabilidade afetiva, uso frequente 
de determinado jargão, altos índices de reincidência, etc.).
Foi Alphonse Bertillion (1879) o grande responsável pelos progressos 
no campo da antropometria. Ele trouxe um complexo sistema de medidas 
corporais que, junto à fotografia dos criminosos, tornou-se a base para suas 
identificações (MOLINA; GOMES, 1997).
O sistema elaborado por Bertillion utilizava a medida de estatura, com-
primento da cabeça, dedo médio e braços. Esse sistema ficou conhecido 
como “bertilonagem” e, apesar das críticas, foi adotado pela polícia e pelos 
presídios do mundo todo.
Esse sistema só pode ser compreendido como método de identificação 
do delinquente unido a outras técnicas mais modernas, como a verificação 
Modelo biológico explicativo do crime4
de impressões digitais, e sempre seguindo a criminalística. Contudo, ele não 
refletirá uma teoria explicativa do fato criminoso (MOLINA; GOMES, 1997).
Alphonse Bertillon inventou o assinalamento antropométrico e a fotografia judiciária. 
Ele se tornou mundialmente famoso por ter sido um dos primeiros peritos do mundo 
policial, em 1879.
Antropologia
A antropologia já possuiu forte vinculação com a teoria de Lombroso. Ela 
partia da ideia da existência de um tipo humano inferior, degenerado, dotado 
de características singulares, distinto dos demais indivíduos não delinquentes 
e com forte carga hereditária. 
Na antropologia criminal foram expoentes o inglês Goring e o antropólogo 
de Harvard E. A. Hooton. Para Goring, que sedimentou a ideia da inferioridade 
e da hereditariedade do delinquente, não existe um tipo físico de criminoso. 
Já Hooton,aproximando-se muito da doutrina de Lombroso, entende que há 
estigmas na população criminal e também a possibilidade de características 
degenerativas, o que dá o tom diferencial para os criminosos.
Goring, em seus estudos, refutou o método e as teses de Lombroso. Em 
seu estudo biométrico, com sólido respaldo estatístico, Goring lançou um 
célebre desafio às teses de Lombroso. Para Goring, Lombroso utilizou um 
método anatomopatológico, baseado na observação direta, e não utilizou 
instrumentos de medição objetivos, calculando assim a suposta normalidade 
ou anormalidade do indivíduo (MOLINA; GOMES, 1997).
Goring se mostrou partidário de um método que poderia precisar a 
delinquên cia de forma confiável, sem possíveis prejuízos do investigador. 
Obteve duas conclusões. Em primeiro lugar, que a tese lombrosiana carecia 
de fundamento científico em sentido antropológico, não encontrando estigmas 
degenerativos nem diferenças sensíveis entre o grupo de criminosos e os não 
criminosos. Em segundo lugar, que não havia base empírica para sustentar a 
inferioridade do agente nem o caráter hereditário da delinquência (MOLINA; 
GOMES, 1997).
5Modelo biológico explicativo do crime
Assim, a inferioridade e o déficit psíquico de inteligência da pessoa não 
podem ser o viés de uma interpretação da existência de um problema patológico, 
determinando a anormalidade do criminoso. 
Para Hooton, em suas obras, todo criminoso é organicamente um ser 
inferior. O crime, por sua vez, é o resultado da ação do meio sobre um ser 
humano inferior. Hooton destaca a existência de diferenças significativas entre 
os criminosos e os não criminosos. A inferioridade física seria relevante por 
aparecer associada à inferioridade mental, sendo causa daquela hereditariedade 
e não estando relacionada a fatores circunstanciais ou situacionais (MOLINA; 
GOMES, 1997).
De acordo com os estudos de Hooton, os criminosos seriam inferiores aos 
não criminosos em quase todas as medidas corporais, provando assim que 
os traços físicos refletiriam a inferioridade da pessoa. Ele ainda traçou uma 
relação entre o tipo de físico e o tipo de delito. Os indivíduos altos e delgados 
teriam inclinação para o cometimento de homicídios e roubos; os altos e 
corpulentos, para falsificações e enganos; já os baixos, para furtos; os baixos 
e gordos, para violações e abusos sexuais.
Biotipologia
A biotipologia é uma ciência que estuda o “tipo humano” e tem foco em um 
órgão ou uma função. A premissa das investigações biotipológicas é a exis-
tência de uma correlação entre as características físicas do indivíduo e suas 
características psicológicas, entre tipo somático ou corporal e tipo mental, 
caráter e temperamento (RIFF, 2003).
Para a biotipologia, há uma relação entre determinadas características 
morfológicas e constitucionais específicas e a constituição física e o tem-
peramento. Existem diversas escolas e classificações para a biotipologia 
(RIFF, 2003).
Escola francesa
Diferencia a tipologia em quatro tipos humanos, segundo o sistema predo-
minante (RIFF, 2003): 
 � respiratório;
 � digestivo;
 � muscular;
 � cerebral.
Modelo biológico explicativo do crime6
Escola italiana
Existem três correntes na escola italiana, como você pode ver a seguir.
1. A que considera a existência de dois tipos fundamentais: o brevilíneo, 
que tem o corpo desenvolvido na horizontal com o predomínio do sistema 
vegetativo, produzindo pessoas enérgicas; e o longilíneo, que retrata as 
pessoas de maior estatura e com tendências à introversão e à fantasia.
2. A que sustenta que o tronco é que expressa a vida vegetativa e as 
extremidades a de relação, motivo pelo qual se distinguem dois tipos 
extremos e um terceiro intermediário.
3. A que considera fatores endocrinológicos e distingue o tipo longilíneo-
-estênico (pessoas fortes, com hiperfunção de tireoide e suprarrenais), o 
longilíneo-astênico (débeis, com escasso desenvolvimento da estrutura 
muscular e hipofunção das suprarenais), o brevilíneo-estênico (pessoas 
fortes, musculosas, com reações lentas, com hipotireoidismo e com 
hiperfunção das suprarrenais) e por fim o brevilíneo-astênico (gordos, 
débeis, lentos em suas reações e com hipofunção de tireoide) (RIFF, 2003).
Escola alemã
Elaborou uma tipologia dupla, sendo ela constitucional e caracterológica. 
Kretschmer diferenciou quatro tipos de constituição corporal, como você 
pode ver a seguir.
 � Leptossômicos: alta estatura, tórax largo, peito fundo, cabeça pequena, 
pés e mãos curtos, cabelos crespos (propensão ao furto e ao estelionato);
 � Atléticos: estatura média, tórax largo, musculoso, forte estrutura óssea, 
rosto uniforme, pés e mãos grandes, cabelos fortes (crimes violentos); 
 � Pícnicos: tórax pequeno, fundo, curvado, formas arredondadas e fe-
mininas, pescoço curto, cabeça grande e redonda, rosto largo e pés, 
mãos e cabelos curtos (menor propensão ao crime);
 � Displásicos: tipo acrescentado por último na teoria de Kretschmer. 
São pessoas com corpo desproporcional, com crescimento anormal 
(crimes sexuais). 
Constatou-se ainda, por meio do fator endocrinológico, que existe uma 
conexão biológica profunda entre os tipos de estrutura corporal e o tempera-
mento do indivíduo (PENTEADO FILHO, 2012).
7Modelo biológico explicativo do crime
Para Hooton, alguns dados sobre o traço físico que refletiam a inferioridade seriam: 
fronte estreita e inclinada, pescoço comprido e delgado, ombros caídos, lábios finos, 
breves ângulos mandibulares, maxilares pouco ajustados, orelhas pequenas com as 
bordas ligeiramente torcidas, rostos tensos, secreção nasal abundante, predomínio de 
olhos azuis acinzentados e sobrancelhas escassas. A tatuagem seria mais frequente 
entre os delinquentes.
As maiores críticas à escola alemã da biotipologia foram no sentido de que tinha 
forte tendência discriminatória. Essa escola foi adotada pelo nazifascismo para justificar 
a eliminação de “raças inferiores”.
Áreas de investigação do modelo biológico
No início do século XX, diversos estudos foram realizados a fim de associar 
o comportamento humano (em especial o criminal) com os processos hor-
monais. Assim, foram realizados estudos dos efeitos do sistema nervoso, dos 
processos endócrinos patológicos e de certas disfunções glandulares internas 
(PENTEADO FILHO, 2012). 
Neurofisiologia
Com o advento do eletroencefalograma, exame que permite o registro gráfico 
das atividades elétricas do cérebro, abriu-se um campo vasto para o estudo 
científico desse órgão. Isso permitiu a análise de irregularidades e disfunções 
cerebrais e a sua relação com a conduta criminosa do ser humano.
Foram realizados diversos estudos, como o desenvolvido por Lombroso, 
que traçaram uma relação entre a conduta delitiva e as patologias cerebrais. 
Alguns desses estudos utilizaram como método de análise o exame eletroence-
falograma, interpretando o exame realizado com os delinquentes e com os não 
delinquentes e corroborando os achados com testes psicológicos (RIFF, 2003).
Assim, o que esses estudos pretendiam mostrar é que a maior parte dos 
crimes violentos realizados sem motivo está vinculada a anomalias cerebrais 
graves que só podem ser detectadas por meio de exames de análise do cérebro, 
como o eletroencefalograma. Após essa análise, verificou-se a existência 
de uma conexão entre fatos delitivos cometidos por jovens: são produtos de 
personalidade imatura e de disfunções cerebrais singulares (RIFF, 2003).
Modelo biológico explicativo do crime8
Por fim, a existência de doenças cerebrais explicaria certos comportamentos 
delituosos, o que permitiu traçar uma relação concreta com patologias como 
tumores, choques traumáticos, doenças do sistema nervoso central, epilepsia, 
demência, etc. Estudos clínicos mostram que pessoas tidas como pacíficas, após 
passarem por processos tumorais no cérebro, se tornam violentas. Isso ocorre 
devido à mudança de personalidade e de problemas psicológicos provocados 
pelo processo (RIFF, 2003).
Hipótese de EnsenckSegundo Ensenck, o sistema nervoso autônomo pode predispor a pessoa a um 
comportamento antissocial ou delitivo pela importância que tem no processo 
de socialização. As psicopatias e as sociopatias são o âmbito preferido dos 
estudos realizados para verificar essa possibilidade. O sistema nervoso au-
tônomo ou vegetativo tem papel primordial, pois é por meio dele que certas 
reações do corpo humano ocorrerão (MOLINA; GOMES, 1997). Assim, 
a resposta do sistema nervoso autônomo de psicopatas para determinados 
estímulos alcança algumas medidas diferentes das encontradas em pessoas 
que não são psicopatas. 
Ensenck destacou a grande importância do sistema nervoso autônomo, 
relacionando-o com os conceitos de introversão e extroversão. Para ele, a 
ameaça intimidatória do castigo é muito mais eficaz potencialmente no intro-
vertido, que mostra elevados níveis de ansiedade. A pessoa extrovertida, pelo 
contrário, experimenta menor ansiedade, tanto porque é menos sensível à dor 
como porque, na busca da estimulação que necessita, praticará comportamentos 
ou atividades proibidas (MOLINA; GOMES, 1997).
Endocrinologia
Várias investigações traçam um paralelo entre as condutas humanas em geral, 
a conduta delitiva e os processos hormonais e endócrinos patológicos. Certas 
disfunções, sendo hiperfunções ou hipofunções das glândulas de secreção 
interna (hormônios), se conectam ao sistema neurovegetativo, que, por sua 
vez, se relaciona com a vida instinto-afetivo (VEIGA, 2011).
Assim, criou-se a definição de homem como ser químico. Os desajustes ou 
desequilíbrios que são significativos na balança química ou hormonal do ser 
humano podem explicar transtornos em sua conduta e em sua personalidade 
(VEIGA, 2011). 
9Modelo biológico explicativo do crime
As teses que trazem a endocrinologia como base se distinguem do pensa-
mento de Lombroso. Elas não validam o caráter hereditário de tais transtornos 
glandulares, pois consideram plausível a cura dessas disfunções por meio do 
tratamento hormonal competente. 
Segundo Molina e Gomes (1997), a década de 1920 marca o início da en-
docrinologia criminal. Nesse momento, Schlapp e Berman iniciam suas obras. 
Schlapp destacou que o crime é consequência de uma perturbação emocional 
já derivada de um desajuste hormonal. Já Berman juntou dados valiosos 
sobre a inter-relação que existe entre a atividade glandular, a personalidade 
e os problemas de comportamento. Além disso, deu ênfase aos primorosos 
resultados clínicos obtidos por meio de tratamentos hormonais. 
Nos últimos anos, devido à delinquência agressiva e sexual, ampliaram-se 
as investigações para demonstrar algumas relações entre os níveis de testos-
terona e a conduta criminal masculina. Além disso, foi debatido o êxito dos 
tratamentos hormonais realizados em delinquentes sexuais (VEIGA, 2011). 
Bioquímica
As orientações biológicas seguem, até hoje, tentando identificar o homem de-
linquente. Elas buscam evidenciar um fator diferencial que explique a conduta 
delituosa. Tal fator pode ser alguma parte do corpo, algum funcionamento 
fisiológico pontual ou evidências nos sistemas e subsistemas do organismo 
(BANDEIRA, PORTUGAL, 2017). 
Jeffery (apud MOLINA; GOMES, 1997, p. 190) afirma que: 
Código genético e código cerebral são de natureza bioquímica e compreendem 
a estrutura bioquímica dos genes de transmissão nervosa ao cérebro. O tipo 
de comportamento (resposta) que exibe um organismo depende da natureza 
do meio (estímulo) e da forma pela qual o referido estímulo se concretiza, se 
transmite e se percebe pelo cérebro e pelo sistema nervoso... não herdamos 
o comportamento como se herda a estatura ou a inteligência. Herdamos uma 
capacidade de interação com o meio social.
Algumas substâncias influenciam a conduta humana e assim é cabível 
traçar uma referência bioquímica a esses componentes (VEIGA, 2011), como 
você pode ver a seguir.
 � Déficit de minerais e vitaminas — esses elementos são necessários 
para o desenvolvimento cerebral, e a sua falta pode gerar graves pro-
blemas físicos e psíquicos que se traduzem em transtornos na conduta.
Modelo biológico explicativo do crime10
 � Insuficiência da vitamina B — pode gerar hiperatividade nos jovens, 
porque seu déficit produz intranquilidade e desassossego.
 � Hipoglicemia — o cérebro tem sua energia gerada pela combustão de 
hidratos de carbono. Se há um déficit significativo de glicose no sangue, 
isso pode deteriorar o funcionamento do corpo, afetando o metabolismo. 
Irritabilidade, ansiedade, depressão, aturdimento e confusão costumam 
ser sintomas da queda de açúcar, com grande relevância potencial 
criminológica.
 � Alergias — as alergias nervosas e as cerebrais podem influir no com-
portamento humano, pois são uma reposta desmedida e não usual do 
organismo a certas substâncias que lhe são estranhas. Mesmo assim, a 
hiperemotividade, a hiperemocionabilidade ou a hostilidade que alguns 
casos de alergia desencadeiam não têm uma relação causal comprovada 
com o comportamento criminal.
 � Contaminantes ambientais — investigações relacionam determinados 
contaminadores ambientais com a conduta criminosa. Alguns exemplos 
de contaminadores ambientais: o chumbo, o cádmio, o mercúrio, a 
clorina e o dióxido de nitrogênio, etc.
 � Outras investigações ambientalistas — dão relevância a fatores tér-
micos, acústicos, luminosos, espaciais, urbanísticos, etc.
De acordo com Jeffery (apud MOLINA; GOMES, 1997), a conduta hu-
mana deriva tanto de variantes ambientais como de variantes genéticas. A 
aprendizagem é um processo psicobiológico que inclui mudanças na estrutura 
bioquímica e celular do cérebro dos indvíduos. Trata-se de um sistema de 
informação conforme a fórmula: código genético + ambiente = código cerebral 
+ ambiente = conduta. 
Segundo Molina e Gomes (1997), o prevencionismo político-criminal 
do modelo biossocial de Jeffery entrará em conflito com as ideias conserva-
doras da atualidade. Esse modelo criticará a efetividade do teor do castigo: 
haverá um efeito dissuasório da pena operando não no delinquente potencial, 
desmotivando-o, mas no magistrado, na opinião pública. Assim, haverá um 
efeito de cunho reforçador em vez de preventivo (VEIGA, 2011).
Genética criminal
Com os avanços no estudo da genética, vários aspectos relacionados à heredi-
tariedade criminal foram traçados, trazendo à baila novamente as definições 
de atavismo, famosas pelos estudos de Lombroso. 
11Modelo biológico explicativo do crime
Como sustentam Molina e Gomes (2002), há certo percentual de indivíduos 
unidos por consanguinidade entre doentes mentais. Há ainda a presença de 
um fator hereditário degenerativo ou doentio muito superior em indivíduos 
delinquentes do que em indivíduos não criminosos (hereditariedade pejorativa). 
Esses foram dados estatísticos comprovados. 
Apesar disso, não são todos os fatores biológicos que podem ser atribuídos à 
hereditariedade. Existem ainda os fenômenos resultantes de mutações genéticas 
e de rebeliões contra a identidade. Conforme é sabido, o DNA é formado pela 
reunião de bases nitrogenadas na seguinte conformidade: adenina/timina; 
citosina/guanina.
A partir de 2000, inúmeros estudiosos começaram a decifrar o genoma 
humano, desenhando o esboço do mapa genético de três cromossomos (cerca 
de 11% do todo). Sustenta-se que a herança genética se manifesta ao mesmo 
tempo por meio de semelhanças e diferenças. As semelhanças irão derivar dos 
caracteres transmitidos de pai para filho, ao passo que as diferenças aparecerão 
em consequência da herança de outros ancestrais (atavismo) (PENTEADO 
FILHO, 2012).
Dessa forma, na bagagem genética estariam inseridos os caracteres: 
 � morfológicos (estatura, sexo, raça, etc.); 
 � fisiológicos (força muscular e sexualidade, etc.); 
 � psicológicos (inteligência e sensibilidade, etc.).
Por fim, segundo Hassemer e Conde (2008), somente poderá ser estudada 
a desviação criminal por meio de investigações sobre a pessoa específica e 
sobre sua interação como ambiente e a sociedade.
Estudos realizados na área da genética também são referências impor-
tantes para embasar explicações teóricas de orientação biológica do delito. 
Assim, muitas são as tentativas de explicar condutas antissociais, delitivas 
ou desviadas, oriundas de patologias cerebrais, em especial após a criação 
do eletroencefalógrafo (EEG), aparelho utilizado pela medicina que permite 
registrar a atividade elétrica do cérebro. 
A contribuição da neurofisiologia moderna também é relevante e está 
completamente inserida nessa realidade. Exemplo disso é o fato de que no 
Reino Unido operam-se estudos eletroencefalográficos que objetivam verificar 
a existência de hipóteses concretas nos casos denominados “crimes sem motivo 
aparente”. Nesses eventos é possível, com a ajuda do eletroencefalógrafo, 
identificar anomalias cerebrais graves ocorridas nos criminosos testados 
(BANDEIRA; PORTUGAL, 2017).
Modelo biológico explicativo do crime12
As patologias do sistema nervoso central costumam vir associadas à perda de me-
mória, sentido e orientação, aos transtornos emocionais, à irritabilidade e aos acessos 
de ira. Choques traumáticos também podem, além disso, alterar a personalidade, 
trazendo consigo graves transtornos de conduta, perda de memória e desorientação 
(VEIGA, 2011).
BANDEIRA, T.; PORTUGAL, D. Criminologia. Salvador: UFBA, 2017. Disponível em: 
<https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/174993/4/eBook_Criminologia -
Tecnologia_em_Seguranca_Publica_UFBA.pdf>. Acesso em: 31 maio 2018.
BEZERRA, E. Lombroso e a teoria do criminoso nato. 2017. Disponível em: <https://
incrivelhistoria.com.br/direitos-humanos/lombroso-criminoso-nato/>. Acesso em: 
31 maio 2018.
HASSEMER, W.; CONDE, F. M. Introdução à criminologia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 
2008.
MOLINA, A. G. P. de; GOMES, L. F. Criminologia. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,1997.
MOLINA, A. G. P. de; GOMES, L. F. Criminologia. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2002.
PENTEADO FILHO, N. S. Manual esquemático de criminologia. São Paulo: Saraiva, 2012.
RIFF, R. C G. V. Aspectos de correlação entre os fatores biotipológicos e psicopatológicos 
nagênese do comportamento criminal. 2003. 102 f. Monografia (Graduação em Direito) - 
UniFMU, São Paulo. 2003. Disponível em: <http://arquivo.fmu.br/prodisc/direito/rcgvr.
pdf>. Acesso em: 31 maio 2018.
VEIGA, M. M. Fatores do crime. 2011. 66 f. Monografia (Graduação em Direito) - Univer-
sidade São Francisco, Bragança Paulista, 2011. Disponível em: <http://static.recanto-
dasletras.com.br/arquivos/3152670.pdf>. Acesso em: 31 maio 2018.
Leituras recomendadas
BECCARIA, C. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Claret, 2000. 
BITTAR, E. C. B.; ALMEIDA, G. A. de. Curso de filosofia do direito. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
13Modelo biológico explicativo do crime
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da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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