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Geografia política, econômica e industrial 129 10 A atividade industrial no Brasil e no mundo Introdução O Brasil agroexportador iniciou o século XXI com a maior transformação econô- mica da sua história, modificando os enlaces de comércio internacional como nunca visto desde a Proclamação da República, em 1989. De 2002 a 2014, o PIB do país foi praticamente quadriplicado, quando não havia ainda sintomas da crise política instaurada anos mais tarde. No entanto, deixamos de crescer em 2014 o montante equivalente ao PIB de toda a Argentina. Isso demonstra o caminho de potência econômica que estávamos seguindo, junta- mente com a China, a Rússia, entre outros, exatamente pela valorização da economia interna em detrimento das políticas externas, mesmo sendo o país um dos maiores exportadores de commodities, com supremacia do setor primário. A atividade industrial no Brasil e no mundo10 Geografia política, econômica e industrial130 As políticas econômicas estabelecidas nas últimas décadas e até 2014, com fortaleci- mento econômico dos países do BRICS, elevaram o Brasil à sexta economia do mundo. Isso ocorreu com a modernização dos parques industriais, principalmente de petroquímica e metal-mecânica, pois o crescimento da exploração do petróleo nacional deu a possibilidade de surgimento de novas demandas no setor, com parcerias importantes na construção e no desenvolvimento de plataformas petrolíferas e em mais duas novas refinarias. O Brasil segue o rumo das economias emergentes, com a formação de parcerias coesas nessa nova planta industrial, modernizada e forte. Abrem-se possibilidades de novas indús- trias em território nacional, principalmente sino-brasileiras, como as montadoras chinesas estabelecidas no país, que estão agora concorrendo com as alemãs e estadunidenses. Isso dá ao brasileiro novas oportunidades de escolha, já que até 2002 tínhamos em nosso país apenas as montadoras das grandes economias capitalistas. E essa é uma realidade que hoje vislumbramos em diversos setores da indústria nacional. 10.1 Distribuição espacial e evolução da indústria Atualmente, as informações presentes nos rótulos dos produtos e em manuais de opera- ção estão normalmente redigidas em três ou quatro idiomas. Isso nos remete ao fato de que os produtos podem ser vendidos em tantos territórios quanto o manual apresentar ou que seu processo de fabricação passou por diversos países. Nesse sentido, as indústrias estão distribuídas em todas as regiões do globo e os pro- dutos abrangem outros mercados em sua fabricação, pois questões econômicas e comerciais podem ser sanadas por intermédio de acordos entre as nações. Isso viabiliza tanto a comer- cialização dos produtos em diferentes locais do mundo quanto a inserção de novas técnicas no processo produtivo. Assim, “não é apenas a velocidade das técnicas que sustenta estas transformações atuais. Existe, de forma crescente, um compartilhamento dos objetos, que são produtos mundializados e marcas facilmente identificáveis” (PADILHA, 2000, p. 120). Podemos, por exemplo, encontrar um produto nos Estados Unidos que foi idealizado pela Alemanha e projetado por um inglês, cuja montagem pode ter sido realizada no México ou no Brasil. Isso é possível no período atual da globalização, mas em outras épocas já tive- mos patentes muitíssimo protegidas e resguardadas a sete chaves. No processo de transformação e espacialização da indústria mundial, muitos elementos vêm tomando novas configurações, mas tiveram o mesmo contexto histórico de evolução. A utilização da tecnologia teve de evoluir de acordo com a evolução das ciências, aten- dendo aos contextos históricos, pois não houve a invenção de uma técnica antes que houves- se a melhoria de outras. Por exemplo: primeiro o ser humano começou a usar o carvão como energia, para, somente depois de uma evolução intensa, utilizar o petróleo. Assim a história da industrialização tem se apresentado, pois a ciência e o seu contexto histórico, com suas diversas rupturas, sempre resultam em novos acontecimentos. A atividade industrial no Brasil e no mundo Geografia política, econômica e industrial 10 131 Vamos aqui traçar um breve histórico do processo industrial pelo mundo, bem como o tipo de tecnologia apresentada em cada época e os fatos que culminaram em cada uma delas (Quadro 1): Quadro 1 – Evolução da industrialização no mundo. Origem Tecnologia Energias 1ª Revolução Industrial Inglaterra. Século XVIII Artesanato - Tear mecânico; - Máquina a vapor. Carvão mineral 2ª Revolução Industrial Inglaterra, EUA, Alemanha e Japão. Século XIX. Linha de produção; organização da produção. - Eletricidade; - Motor de combustão interna; - Ferro e aço. Carvão e petróleo 3ª Revolução Industrial Inglaterra, EUA, Alemanha e Japão, França, Rússia. Século XX. Robotização dos processos; sistemas Ford e Toyota de produção. - Eletricidade; - Motor de combustão interna; - Ferro e aço; - Engenharia de produção; - Genética; - Biotecnologia; - Telefone; - Microcomputador. Petróleo, eletricida- de, energia nuclear 4ª Revolução Industrial Globalizada; clássica divisão internacional do trabalho; era moderna. Robotização do processo produtivo. Velocidade Multifacetado e interconectado Renováveis Teses de 4° revolução - Inteligência Artificial; - evolução na saúde com uso da impressão 3D; - uso da im- pressão 3D em outras áreas do conhecimento; - computado- res de bolso; - armazena- mento de dados compartilhados; - neurotecnologia. Amplitude Revolução digital, combi- nando várias tecnologias. Impacto sistêmico - países; - empresas; - sociedade. Fonte: SCHWAB, 2016, p. 13. Adaptado. Como podemos observar, cada fase do processo de alavancagem da industrialização foi motivada por questões próprias à transformação espacial de cada época. A necessidade de se fazer um processo produtivo melhor e mais eficiente é evidente em cada fase, como fruto da influência do capitalismo no modelo de produção. A atividade industrial no Brasil e no mundo10 Geografia política, econômica e industrial132 No mundo, essa espacialização ocorreu em função das demandas produtivas. Oferta de energias e matérias-primas, mercado consumidor e excedente de mão de obra nunca ocorre- ram em função da melhoria na qualidade de vida das sociedades impactadas. As transformações no mundo industrial têm contribuído, desde o século XVIII, com a melhoria de vida das pessoas – isso é inquestionável. Mas os sistemas de produção que compõem esse cenário precarizam o processo produtivo, sobretudo na exploração da mão de obra. Vejamos o seguinte: São indubitáveis as rápidas e significativas transformações que vêm ocorren- do no mundo todo nas últimas décadas. O mundo do trabalho, especialmente, vem sofrendo inovações tecnológicas e organizacionais que estão diminuindo o número de trabalhadores, principalmente das indústrias, além de estarem mo- dificando o perfil do trabalhador que resta no mercado de trabalho. Este vem sendo terceirizado, precarizado, parcializado, subcontratado, informalizado. O tempo de trabalho e o tempo de não-trabalho também estão sendo alterados. (PADILHA, 2000, p. 120) Nesse sentido, garantir que haja uma evolução faz-se necessário, mesmo sabendo das transformações nas relações de trabalho e como elas se desenvolvem nas regiões do mundo com maior crescimento populacional, como na Índia, onde a organização social ainda reme- te a uma hierarquização em regime de castas. No mundo globalizado, onde opera o encurtamento das distâncias relativas, com avan- ços nos meios de transporte, na tecnologia em saúde, na telecomunicação e em plena as- censão da robótica e da nanotecnologia, a velocidade da informação é surpreendente. Esse contexto nos coloca na atual Quarta Revolução Industrial. O computador de mão hoje é operado até por crianças de um ano de idade; acessamos mídias sociais e de entretenimento, mecanismos de busca sãooperados por voz e somos orientados no trânsito por uma voz mecânica na navegação urbana, o que facilita nossas vidas e dá maior mobilidade às cidades, uma vez que identifica pontos de maior fluidez nas ruas. Agora podemos inclusive armazenar dados em nuvens de informação, que funcionam como HDs externos de computação. Nesse sentido, há uma maior abrangência da tecnologia, rapidez na informação e mais capacidade de processamento da informação. Isso tem se apresentado com diversas facetas, pois impacta diretamente as pessoas na sua forma de ver e agir no mundo, agora em tempo real. Essa revolução deve dar condição de diminuir os contrates sociais, possibilitando o acesso não apenas às tecnologias, mas ao conhecimento que está agregado a elas, como no caso da formação pelo ensino distância, com as mesmas garantias que o ensino presencial. Outro exemplo são os avanços na medicina, em que a tecnologia de resposta rápida dos modernos equipamentos não necessita da presença física do médico. Isso possibilita a as- sistência médica em regiões isoladas do globo, diminuindo as diferenças de atendimento e trazendo rapidez à cura de doenças cotidianas. A atividade industrial no Brasil e no mundo Geografia política, econômica e industrial 10 133 Ressaltamos que a evolução da tecnologia pode trazer grandes benefícios, desde que operada com prudência, uma vez que essa gama de informações está disponível a um nú- mero cada vez maior de pessoas. Um exemplo são os serviços de cartões de crédito, que possuem banco de dados com o perfil de todos os usuários, bem como o poder de compra destes. Esse tipo de informação serve de poder de barganha inclusive para redes sociais como o Facebook, que as utilizam como meio de negócios e comércio, tendo como base os dados dos usuários de sua plataforma. 10.2 Indústrias periféricas e sua atuação na economia regional O termo periferia é comumente utilizado para denominar os elementos que estão em torno de grandes centros ou que demonstram atuar como satélites próximos de algo maior. Nesse sentido, as indústrias periféricas são aquelas que dão suporte às grandes empre- sas, estando inseridas no contexto industrial do capitalismo global. Elas ocupam áreas de disseminação da produção e fecundam o desenvolvimento regional, pois sem os componen- tes que produzem não há condição de finalizar os produtos. Esse tipo de indústria contribui para a formação de centros econômicos, levando a uma melhor capacidade produtiva, pois têm uma especificidade dentro do processo de industrialização, qual seja, a de indústria germinativa. Esta tem como papel fornecer ma- térias-primas a outras indústrias, que farão o processo de transformação desses materiais em outro produto. Então, segundo sua função, as indústrias periféricas são também indústrias germi- nativas, pois buscam, exploram e fornecem os materiais necessários a diversos segmen- tos industriais. Atualmente, novas regiões industriais vêm surgindo no Brasil, graças à abertura de mercado das últimas décadas, como já evidenciamos, e a uma proposta de integração regio- nal, principalmente na região Nordeste. Essa condição facilita a introdução, nos mercados local e mundial, dos estados que pas- saram pela substituição do modelo de importação por uma planta industrial nacional, inse- ridos na chamada industrialização tardia. Assim, o país tem buscado moldar sua competitividade em uma transformação indus- trial pautada nas exportações e no fortalecimento do mercado interno, condicionada a um ajuste ao sistema socioeconômico. Essas mudanças devem ocorrer, e vem ocorrendo, com ajustes econômicos dos esta- dos e municípios, estimulando o investimento, a inovação, a qualificação da mão de obra e garantindo o aprimoramento e a qualidade dos bens e serviços. A estratégia de desenvolvi- mento nacional ocorre A atividade industrial no Brasil e no mundo10 Geografia política, econômica e industrial134 basicamente de duas maneiras: a) por meio da ampliação das trocas inter-regio- nais, suprindo a região mais desenvolvida de matérias-primas e de produtos in- dustrializados regionais; b) mediante contribuições à receita cambial líquida do País, por meio da geração de dívidas (decorrentes de exportações), da economia de dívidas (pela sua contribuição no processo de substituição de importações de insumos básicos) e da liberação de produção exportável (que estava comprome- tida pela demanda interna). (LIRA; SILVA; PINTO, 2009, p. 156) Nesse sentido, podemos compreender que o modelo de aproximação regional deve ocorrer com base em mudanças nas políticas públicas de desenvolvimento, agregando as indústrias que já estão consolidadas e dando novas oportunidades às que querem se fixar nas regiões geográficas em processo de transformação industrial, como a Amazônia brasi- leira e o já citado Nordeste. No caso da disseminação das indústrias germinativas ou periféricas na Amazônia, a le- gislação ambiental brasileira apresenta entraves legais, haja vista essa região ser de interesse internacional, como patrimônio da humanidade, do ponto de vista do bioma e do equilí- brio de ecossistemas. Essa grande área geográfica preserva a maior diversidade do mundo em termos absolutos de espécies, tanto de fauna quanto de flora, o que se apresenta como um obstáculo ao processo de industrialização. Entretanto, devemos entender que, mesmo pautada em um modelo de sustentabilidade, existe a possibilidade clara de exploração de algumas áreas, conforme o modelo de desenvolvimento, desde que garantidos os estudos prévios de impacto ambiental. Muitas são as áreas de potencial produtivo nessa região geográfica, o que possibilita uma maior integração da indústria periférica e germinativa, pois ainda existem oportunida- des reais de uso econômico dos recursos desse grande território a ser explorado. Vejamos: Em termos setoriais, como a prioridade teria de se voltar para aqueles produ- tos que apresentavam vantagens comparativas, deixando em plano secundário os demais, foi definido como de responsabilidade da Amazônia a geração dos seguintes produtos: madeira (serradas, laminados e compensados), minérios (ferro, bauxita, manganês, salgema, calcário e cassiterita), lavouras selecionadas (dendê, cacau, juta, arroz, pimenta-do-reino e cana-de-açúcar), pecuária (gado de corte) e pesca empresarial (piramutaba e camarão). (LIRA; SILVA; PINTO, 2009, p. 157) Como podemos observar, o Brasil continua dando grande aporte mundial ao primeiro setor da economia, de acordo com a clássica divisão internacional do trabalho, fornecendo matérias-primas de origem in situ, sem passar por processos de industrialização. Ou seja, no Brasil vendemos produtos de baixo valor agregado, quando deveríamos estar fazendo com que regiões como a Amazônica pudessem industrializar os produtos e vendê-los como matérias-primas próprias das indústrias germinativas. Nessa grande região geográfica, podemos citar o caso da exploração mineral na Serra de Carajás, no Pará, como indústria periférica que dá base à grande indústria do aço mun- dial, contribuindo com as riquezas de muitos países. Isso fica claro no relatório do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO): A atividade industrial no Brasil e no mundo Geografia política, econômica e industrial 10 135 A crescente demanda mundial de aço, impulsionada pelo vertiginoso cresci- mento de países emergentes e liderados pela China, reflete diretamente sobre a demanda e produção de minérios de ferro. Desde o início da última década as minas em operação têm trabalhado a pleno vapor em todo o mundo. Neste cená- rio, os minérios brasileiros de alto teor e baixos contaminantes, em especial o de Carajás, têm pronunciado destaque, uma vez que se apresentam como minérios corretivos às operações siderúrgicas e fundamentais na produção mundial de aço. Existe uma preocupação global em torno da manutenção do fornecimento de minério com qualidade e em cadeia a continuidade da produçãode aços de qualidade superior. (BRASIL, 2016, p. 18) Assim, podemos entender que muitas regiões brasileiras necessitam de novos estudos e formas de exploração industrial. Basicamente, as indústrias germinativas ou periféricas são de extrema importância no desenvolvimento dessas localidades, tanto para a melho- ria das condições socioeconômicas regionais como para garantir que os produtos de bai- xo valor agregado sejam processados e vendidos como matérias-primas da indústria de transformação. Esse cenário possibilita geração de empregos, com a valorização das áreas de jazidas minerais nacionais e a venda dos minérios no comércio mundial com baixos preços, se- guindo o ritmo das grandes empresas internacionais, que buscam nos países emergentes as fontes de matérias-primas necessárias para garantir ainda mais os lucros dos investidores. 10.3 As transnacionais na industrialização do mundo contemporâneo Vivemos em um mundo onde o modelo econômico predominante é o neoliberal, pau- tado nas economias capitalistas. Nesse contexto, o Brasil hoje é uma economia emergente. O país detém grandes rique- zas minerais, é um dos maiores em produção de petróleo do mundo, além de ser a maior economia latino-americana, promovendo o desenvolvimento regional por intermédio de parcerias com outras nações emergentes do globo. Quando buscamos conceituar a mundialização do capital, é inevitável compreender- mos o papel das grandes multinacionais, que são detentoras dos meios de produção e in- fluenciam os países pobres e em desenvolvimento. A transnacional é a representação do grande capital, obedecendo à lógica de mercado, pois recorre à exploração econômica de nações que buscam se inserir na economia global ou que estão tentando diminuir as diferen- ças socioeconômicas históricas. Desse modo, Os grandes capitais, representados essencialmente pelas companhias e empresas multinacionais, obedecem a uma lógica que é ao mesmo tempo internacional, por sua dispersão geográfica, e interna aos grupos financeiros que estão numa situa- ção de concorrência. A localização no interior do país obedece à regra do lucro, porém, na escolha dos países, as preocupações com a segurança do investimento A atividade industrial no Brasil e no mundo10 Geografia política, econômica e industrial136 não estão ausentes. Os países considerados politicamente estáveis atraem mais os grandes capitais. (SANTOS, 2007, p. 151) Portanto, o que dá suporte às tomadas de decisões do grande capital é a busca inces- sante pelo lucro, com a exploração dos mercados. As empresas internacionais buscam os países em desenvolvimento que oferecem melhores oportunidades e taxas de lucro do que as economias mais desenvolvidas, que, por sua vez, deixaram de ser atrativas. As empresas transnacionais são integradas ao comércio mundial através das de- mais filiais da corporação ao redor do mundo, o que lhes dá acesso facilitado a um número de mercados muito maior do que os acessíveis às empresas domés- ticas. Além disso, estas empresas podem desfrutar de economias de escala pro- venientes da maior especialização de suas filiais, podem aproveitar as dotações de fatores diferenciados dos países em que atuam, têm acesso facilitado a novas tecnologias e, ainda, dispõem de capital a custos mais baixos do que suas congê- neres uninacionais. (MATEUS; OLIVEIRA, 2004, p. 890) Nesse sentido, podemos entender que as empresas multinacionais estão integradas ao comércio mundial por diversos motivos, incluindo a busca por novas regionalizações do capital, mão de obra excedente e o incremento de novas tecnologias produtivas e de bara- teamento dos custos, com investimentos em médio e longo prazos que estejam abaixo das médias mundiais. No Brasil, assim como em outros países emergentes, as empresas multinacionais têm influenciado não apenas o processo produtivo, mas também a cultura, o modo de vida e a mentalidade da população em geral. Elas alteram as formas de trabalho de acordo com a sua origem, ou seja, uma empresa americana instalada na China, por exemplo, busca influenciar o processo produtivo chinês nos mesmos moldes estabelecidos nas fábricas nos EUA. Isso é reflexo do predomínio da cultura organizacional dessas empresas, uma vez que carregam consigo os padrões estruturais de suas respectivas sociedades. Fica claro, destarte, que [...] o desenvolvimento das sociedades organizacionais influencia de tal modo o dia a dia das pessoas, que gera uma desintegração dos padrões tradicionais de ideias, crenças e valores sociais, que são substituídos por outros mais fragmen- tados e diferenciados, baseados na estrutura ocupacional da nova sociedade. (MORGAN, 1996 apud FREITAS, 2002, p. 28) Dessa maneira, as empresas estão arraigadas em princípios normativos no sistema organi- zacional que modificam a forma de pensar e agir dos seus integrantes, pois o processo produ- tivo passa a seguir os interesses e padrões preestabelecidos de acordo com a planta produtiva. A integração, em território nacional, das empresas multinacionais ocorre de forma len- ta e gradual. Em um primeiro momento, ela se insere no mercado regional importando e exportando produtos. Na fase seguinte, buscam capitais em mercados atrativos e a integra- ção regional, fortalecendo parcerias com organizações locais. Procuram então se estabelecer com o licenciamento de novas mercadorias e um modelo estratégico de parceria comercial, que tem como objetivo a idealização das formas de comércio, firmando acordos de forne- cimento e disseminação de tecnologias e abrindo campo as novas oportunidades de fusão. A atividade industrial no Brasil e no mundo Geografia política, econômica e industrial 10 137 Como já evidenciamos, o atual período da globalização – a Quarta Revolução Industrial – deve atrair cada vez mais investimentos nas áreas tecnológicas, com substituição mas- siva de mão de obra. Assim, a instrumentação dos processos produtivos evidenciados na Terceira Revolução Industrial, com a mundialização do capital e o crescimento das empresas transnacionais, deve dar lugar a uma nova forma de gestão, como no caso do Uber, já des- tacado nesta obra. Sabemos que os processos produtivos, nesse contexto, devem se manter em sinergia, prin- cipalmente nos países em desenvolvimento, pois ainda são áreas de reserva de mercado para as economias capitalistas, com espaços de exploração que ainda permanecem inalterados. O modelo de industrialização por parte das transnacionais ainda está garantido, princi- palmente nesses países que apresentam intensos contrastes sociais e econômicos, com apro- fundamento das desigualdades sociais. Cabe a essas empresas buscar novas áreas de inves- timentos, promovendo empregos e melhoria de vida à população local, de modo a aumentar o potencial de compra da sociedade e, assim, garantir o comércio. Nas economias emergentes, “os relacionamentos entre as empresas e as instituições nor- malmente envolvem assimetrias consideráveis de informação e altos custos de transação, e a di- versificação dos produtos é estimulada para minimizar os riscos” (MONTICELLI et al., 2017, p. 359). Assim, os países com economias fragilizadas continuam com grandes oportunidades de lu- cro para as empresas transnacionais, pois estas lhes garantem um amplo campo de exploração. Conclusão A transformação do espaço geográfico se emoldura na fragmentação das atividades industriais, valorizando os aspectos transnacionais da indústria em detrimento dos centros consumidores regionais, haja vista a intensa comercialização mundial, garantida principal- mente pela divisão internacional do trabalho. As indústrias hoje são globalizadas, de acordo com os interesses do capital internacio- nal, explorando recursos e objetivando o lucro nos cenários em que atuam. Isso viabiliza um processo produtivo no qual há busca de territórios fornecedores de matérias-primas mais baratas, legislação flexível e excedente de mão de obra. Essa mutação do espaço geográfico é inerente à transformaçãodas cidades, que dei- xaram de ser centros político-administrativos para se transformarem em grandes áreas industriais. As áreas agrícolas de subsistência deram lugar às agroindústrias de capital in- ternacional, moldando o processo produtivo em função dos aspectos estruturais da nova cadeia produtiva. Os sistemas organizacionais são agora culturais, de acordo com o modelo de produção capitalista, que coloca em primeiro lugar as demandas de organização da produção, em detrimento das necessidades do trabalhador. A internacionalização do capital nessa transformação do espaço é fruto da dissemina- ção das empresas multinacionais pelo mundo, as quais, seguindo uma perspectiva histórica, continuam nas mãos de pequenos grupos oligárquicos. A atividade industrial no Brasil e no mundo10 Geografia política, econômica e industrial138 As grandes tendências da economia mundial no século XX (ALMEIDA, 2001, p. 113-114) [...] O século XX econômico termina, não numa suposta era “pós-industrial” (pois a indústria, e não os serviços, continua a ser o traço dominante e característico de nossa civilização), mas numa fase de combinação cres- cente dos sistemas produtivos e administrativos com as novas caracterís- ticas da sociedade da informação, na qual os elementos brutos da produção — terra, capital, trabalho — são necessariamente permeados e dominados pela nova economia da inteligência. Os componentes de matéria-prima e o valor extrínseco de um bem durável passaram a valer bem menos, no final do século XX, do que o valor intrínseco e a inteligência humana embutida nesses produtos, sob a forma de concepção e design, propriedade intelec- tual sobre os processos produtivos e sobre os materiais compostos utiliza- dos em sua fabricação, royalties pela cessão e uso de patentes, trade-secrets e transferência de know-how, marcas registradas, marketing, distribuição e publicidade. O setor de serviços certamente cresceu no decorrer do século — e seu valor agregado superou, na metade do século, o da agricultura e o da indústria combinados — mas trata-se de uma enorme variedade de serviços, alguns velhos, muitos novos, vários deles combinados à ativi- dade primária (no chamado agribusiness), outros inextricavelmente liga- dos à produção manufatureira (como o controle informatizado das linhas de montagem e a automação crescente dos processos produtivos). Uma rápida verificação dos números brutos pode dar uma ideia da pro- fundidade e da dimensão das imensas transformações ocorridas na eco- nomia mundial ao longo do século. Três elementos decisivos devem ser levados em conta nesta avaliação preliminar: a mão de obra, a estrutura Ampliando seus conhecimentos No atual período econômico, faz-se necessária uma indústria forte, tendo em vista a acirrada concorrência mundial. Desde o fim do século XX, os países industrializados e os em desenvolvimento vêm passando por novas e intensas transformações no setor industrial, principalmente tendo em vista o desenvol- vimento acelerado das tecnologias. No caso do Brasil, por exemplo, cada vez mais são importantes as parcerias com outras nações concorrentes, a fim de que a indústria nacional siga no caminho do tão almejado crescimento superior a 4% ao ano. A atividade industrial no Brasil e no mundo Geografia política, econômica e industrial 10 139 da produção (e o produto per capita) e os sistemas financeiros nacionais e internacionais. A população do planeta foi quadruplicada, [...] com dife- renças notáveis entre as taxas de fecundidade dos países desenvolvidos — que realizaram sua transição demográfica ainda nas primeiras décadas do século — e dos países em desenvolvimento, cujas taxas de natalidade ainda se situam em níveis relativamente elevados. [...] A estrutura da produção foi radicalmente transformada pelas mudanças introduzidas nos padrões de trabalho (especialização) e pelos avanços tec- nológicos, que aumentaram dramaticamente o produto per capita, muito mais do que o crescimento da população. [...] Atividades 1. Do ponto de vista do capital, como ocorre a distribuição da indústria e sua espacia- lização? 2. Como se estabelece uma transformação da indústria na hipótese de uma Quarta Re- volução Industrial, como apontado neste capítulo? 3. No Brasil, existem grandes reservas minerais estratégias. Do ponto de vista das in- dústrias periféricas, como isso poderia influenciar o crescimento industrial nas re- giões Norte e Nordeste do país? 4. As empresas multinacionais influenciam a rotina, o modo de vida e os produtos que as pessoas consomem. Evidencie isso tendo por base os conteúdos deste capítulo. Referências ALMEIDA, P. R. A economia internacional no século XX: um ensaio de síntese. Revista Brasileira de Política Internacional, v. 44, n. 1, p. 112-136, 2001. BELLANDI, D.; AUGUSTIN, S. Obsolescência programada, consumo e sociedade de consumo: uma crítica ao pensamento econômico. In: ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI – UFS, 24., 3-6 jun. 2015. Anais... Florianópolis, 2015. p. 512-529. BENACHENHOU, A. Países emergentes. Brasília: Funag, 2013. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Plano de manejo da floresta nacional de Carajás. Brasília: MMA/ICMBIO, 2016. DRUCKER, P. Sociedade pós-capitalista. São Paulo: Pioneira, 1993. FREITAS, S. J. A transformação cultural em uma empresa multinacional. 2002. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002. IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. Indústria e desenvolvimento: refle- xões e propostas do IEDI para a economia brasileira. São Paulo: IEDI, 2014.
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