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AULA 11 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
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Tragédia de Mariana: O que a Governança Corporativa tem a ver com isso? 
http://www.eduardobarros.com.br/vixp/2016/01/tragedia-de-mariana-o-que-a-governanca-corporativa-tem-a-ver-com-isso/ 
 
 
Adriano Salvi1 
 
Nas últimas semanas, temos convivido diariamente com cenas chocantes da devastação de toda a bacia do 
Rio Doce, ocasionada pelo rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco. Toda crise, seja 
política, financeira ou ambiental, como agora, quando causada por força da atividade empresarial, costuma ser 
um momento propício a se discutirem temas relacionados à governança corporativa. Foi assim com os 
escândalos corporativos nos EUA, 2001 ou na crise do subprime em 2008, e tem sido assim na crise política 
brasileira, tendo a Petrobras como pano de fundo. 
 Mas o que governança corporativa tem a ver com o caso da chamada Tragédia de Mariana? Para 
responder a essa pergunta, vamos colocar o tema sob a seguinte perspectiva: segundo o Instituto Brasileiro de 
Governança Corporativa – IBGC, as boas práticas convertem princípios básicos em recomendações objetivas, 
com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu 
acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da empresa, sua longevidade e o bem comum. 
 Ao contrário do que normalmente se imagina, portanto, a governança corporativa é muito mais do que 
a mera adoção de rotinas voltadas a garantir a transparência dos negócios. Ela está relacionada a uma cultura 
voltada para a perenização da empresa e, nesse sentido, não cabem apenas preocupações com resultados 
financeiros ou com regras objetivas de transparência, mas também com tudo o que possa impactar a 
viabilidade do negócio no longo prazo, incluindo o gerenciamento de risco. O risco está sempre presente nas 
atividades das organizações e, por definição, tem potencial de causar dano ao patrimônio tangível ou intangível 
da empresa. 
 Os riscos mudam conforme a empresa, o segmento em que atua e a robustez dos seus controles 
internos. A Samarco atua em um segmento com risco de impacto profundo no meio ambiente. Embora seja 
reconhecidamente uma empresa com fortes controles internos, o desastre aconteceu e, portanto, algo falhou. 
Por mais rígido que possa ser o gerenciamento de risco de uma empresa, ele não é imune a falhas, 
simplesmente porque falhas decorrem da ação ou omissão humana. 
 Sob o enfoque da governança, o que se pode dizer é que em empresas com potencial de impacto 
ambiental muito grande, além da necessária abrangência e rigidez dos seus controles internos, a gestão de 
risco deve estar permanentemente na pauta do conselho de administração. Não se pretende que os 
conselheiros sejam experts em gestão de risco ambiental, mas eles precisam ter condições e efetivamente 
praticar o hábito de fiscalizar a adequação dos controles internos e do “compliance”. 
 Os conselheiros precisam ter conhecimento dos riscos envolvidos nos negócios da empresa. Só assim, 
eles podem fiscalizar a alta administração e cobrar o seu devido gerenciamento. Em determinados segmentos, 
como o da mineração, a dimensão risco requer tanta atenção, que é necessária a existência de um comitê de 
risco e até de um comitê de crise, com o objetivo de assessorar o conselho de administração no desempenho 
de suas atribuições. 
 O episódio do rompimento da barragem de Mariana nos leva a refletir que, nas empresas em geral, os 
sistemas de controles internos têm sido subutilizados, seja por desconhecimento quanto aos riscos, por 
negligência ou mesmo por uma questão cultural. A alta administração e o Conselho de Administração precisam 
incorporar a cultura de controle e saber transmitir a todos os colaboradores o porquê dessas regras e a sua 
importância nos processos, evitando aquelas justificativas comuns do “sempre fizemos assim”. 
 É preciso entender que controles internos não são um procedimento ou uma política que a empresa 
deva executar periodicamente e para ser apresentada com destaque em seu relatório anual, como se isso, por 
si só, fosse um diferencial competitivo. Também não devem ser adotados objetivando passar, sem ressalva ou 
ênfase, pelo crivo da auditoria independente. Controles internos devem fazer parte da cultura da empresa, 
funcionar e ser fiscalizados diuturnamente e atualizados sempre que necessário. 
 Quantas empresas não escondem “Marianas” prontas a entrarem em cena? 
 
 
 
 
 
 
 
1 Adriano Salvi é conselheiro de administração certificado pelo IBGC e sócio fundador da Vix Partners Consultoria. 
AULA 11 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
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O caso Samarco e o desmoronamento da responsabilidade social corporativa 
https://www.istoedinheiro.com.br/blogs-e-colunas/post/20151109/caso-samarco-desmoronamento-responsabilidade-social-corporativa/7737 
 
Álvaro Almeida2 
 A mineradora Samarco foi reconhecida nos últimos 20 anos como uma das líderes em 
responsabilidade socioambiental no Brasil. Enfileirou prêmios, foi a primeira mineradora do mundo a ter a 
certificação ISO 14001 (de gestão ambiental) para todas as etapas de produção. Nada disso adiantou que, na 
quinta-feira 5 de novembro, fosse responsável por um dos maiores desastres ambientais e sociais recentes do 
País, cuja extensão ainda está longe de ser dimensionada. 
 O rompimento das duas barragens de rejeitos de mineração nos municípios de Mariana e Ouro Preto, 
que resultou na avalanche de milhões de toneladas de lama, tirou vidas, devastou o distrito de Bento 
Rodrigues, provocou destruição ambiental por mais de 100 quilômetros (e segue avançando), e ainda jogou 
por terra o trabalho de inúmeros profissionais sérios. 
 Sim, porque também há tragédia do lado da empresa. Especialmente, se reconhecermos que ali 
existem pessoas e não apenas um ente demoníaco e ganancioso. Resumir essa catástrofe à conclusão 
irrefutável e óbvia de que a empresa é culpada dá conforto imediato a muitas pessoas, mas não nos ajuda a 
entender toda a complexidade do problema. 
 Assim com a BP, que provocou o maior desastre ambiental dos EUA em 2010, a Samarco tinha 
inúmeros estudos e metodologias para a gestão de riscos de suas operações e forte reputação de excelência 
socioambiental. 
 Em levantamento do renomado Reputation Institute, em 2014, que incluiu 2.769 entrevistas com 
representantes de sete públicos, a Samarco alcançou o índice de 74,9 pontos numa escala de 0 a 100, o que a 
colocava no nível de benchmark para o setor de mineração. Em seu Relatório Anual, a empresa admitiu que 
permanecia como desafio estreitar os laços e fortalecer as relações de confiança com clientes e comunidades 
vizinhas. 
 O mesmo documento oficial da Samarco descreve a gestão ativa de riscos e informa que realizou pela 
primeira vez em 2014 seis simulados para testar a capacidade de resposta à crises. 
 Sobre a disposição de rejeitos, diz o relatório: “A análise e o controle de riscos são realizados por meio 
da metodologia Failure Modes and Effects Analysis (FMEA), que avalia o potencial de ocorrências e falhas nas 
barragens, bem como as consequências potenciais sobre a saúde e a segurança das pessoas e do meio 
ambiente… Sob a ótica da segurança de nossas operações, dispomos do Plano de Ações Emergenciais (PAE) 
das barragens, que aborda o funcionamento das estruturas de disposição de rejeito e possíveis anomalias ou 
situações de emergência. Com base nesse documento, que atende aos requisitos legais sobre gestão de 
barragens, aplicamos, em 2014, um total de 1.356 horas de treinamentos com os empregados envolvidos 
direta ou indiretamente nas atividades”. 
 Em outro trecho: “Mapeamos 18 riscos operacionais prioritários de segurança e seis riscos prioritários 
de saúde e definimos umprograma de gerenciamento”. Depois de descrever vários investimentos na 
mitigação de riscos, finaliza: “Outras melhorias aguardam licenças e aspectos regulatórios para serem 
implantadas, como a construção do trevo da portaria principal de Ubu e o estacionamento externo da barragem, 
em Germano.” 
Por que nada disso foi suficiente para evitar a tragédia? 
 Porque as empresas se iludem. Nosso conhecimento é majoritariamente formado por informações 
passadas ou presentes e, a cada dia, a previsão dos efeitos futuros de nossas atividades fica mais complexa e 
improvável. Assim, como todas essas ferramentas e metodologias são baseadas em melhores práticas criadas 
no passado, servem para gerar conforto a acionistas e outros stakeholders, mas não garantem segurança 
diante de operações de grande impacto. 
 A pressão por mais e mais produção, somada às incertezas ambientais e sociais, fazem com que cada 
dia sem acidente seja um dia mais próximo de um acontecimento inesperado. Esse dia chegou para a 
Samarco, depois de anos perseguindo produtividade, eficiência, e consequentemente estocando mais rejeitos. 
 Assim como a BP teve de pagar 18 bilhões de dólares em multas e indenizações nos Estados Unidos, 
a Samarco deverá arcar com um imenso custo para reparar os danos ambientais e sociais que gerou. É 
necessário, no entanto, repensar o modelo de negócios e os processos produtivos dela e de todo o setor de 
mineração. 
 Se ainda dependemos de minério para produzir bens necessários, uma empresa realmente 
 
2 Álvaro Almeida, diretor da Report Sustentabilidade e organizador da conferência internacional Sustainable Brands Rio 
 
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responsável deve investir em pesquisa para extrair cada vez menos recursos naturais, eliminar processos que 
geram rejeitos e não se acomodar na mera melhoria contínua de modelos insustentáveis. 
 A tragédia de Mariana revela que os padrões atuais da responsabilidade social corporativa não são 
suficientes para proteger a sociedade. Precisamos de negócios que tenham processos e modelos de negócios 
que gerem impacto positivo, regenerem a natureza e compartilhem o valor produzido. Do contrário, 
lamentaremos muitas outras tragédias. 
 
Para IBGC, falhas de gestão de risco expõem sociedade a catástrofes 
http://riscosegurobrasil.com/materia/para-ibgc-falhas-de-gestao-de-risco-expoem-sociedade-a-catastrofes/ 
 
Oscar Rocker Netto 
 O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) considera “urgente” que empresas envolvidas 
com questões ambientais façam uma revisão de seus processos decisórios, cobra um posicionamento mais 
consistente de diretores e conselhos de administração e avalia que a pouca atenção dada por eles à área 
tende a gerar falhas no gerenciamento de riscos — que por sua vez podem resultar em “verdadeiras 
catástrofes”. 
 “A ocorrência ainda frequente de desastres ambientais relacionados à atividade empresarial impõe aos 
conselheiros de administração, diretores e demais agentes de governança uma necessidade urgente: revisar 
seus processos de tomada de decisão, de prestação de contas, de transparência e de comunicação com as 
partes interessadas e o público como um todo”, diz o instituto por meio de uma Carta de Opinião emitida em 12 
de fevereiro. 
 Trata-se da primeira manifestação formal do IBGC sobre o tema após o desastre em Minas Gerais, em 
5 de novembro de 2015. O documento pode vir ser desdobrado em outras análises e recomendações do 
instituto na área de governança. 
 De acordo com o instituto, “investidores, conselheiros e diretores estão sujeitos a uma nova realidade, 
que concebe um papel abrangente da empresa na sociedade, muito além do mero agente do mercado 
financeiro”. 
 O documento lembra que além de “perdas irreversíveis para o meio ambiente, o patrimônio público e a 
sociedade” os danos causados por catástrofes podem ser fatais para as empresas envolvidas, com “danos na 
reputação, multas e prejuízos financeiros”. 
 Como é praxe na instituição, nenhuma empresa é citada nominalmente. A ligação óbvia, no entanto, é 
a Samarco, responsável por um dos maiores desastres ambientais do país. 
 A empresa está envolvida em ações que envolvem até R$ 20 bilhões em compensações e 
pagamentos pelos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana. 
Mais pressão 
 Para o IBGC, a maior pressão da opinião pública exige uma conduta mais responsável das empresas 
na área ambiental. “Essas cobranças podem e devem ser encaradas como fontes de oportunidades, inovação 
e vantagem competitiva – e não como entraves ou custos adicionais”, aponta o documento. “Os desastres 
ambientais são uma dolorosa oportunidade de reforçar essa visão e adotar novas e melhores condutas.” 
 De acordo com o documento, as empresas precisam ter um enfoque de longo prazo, com opção por 
buscar um “lucro ótimo” e não “lucro máximo”. “As considerações envolvendo aspectos socioambientais serão 
refletidas, mais cedo ou mais tarde, nas demonstrações contábeis, no valor econômico e de mercado da 
empresa, podendo afetar decisivamente sua longevidade.” 
 Para fazer valer essas premissas, as empresas precisam se ancorar no que a Carta de Opinião chama 
de pilar da responsabilidade corporativa: “Os agentes de governança corporativa devem zelar pela viabilidade 
econômico-financeira das organizações, reduzir externalidades negativas de seus negócios e suas operações 
e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, 
manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacional, etc.) no curto, médio e longo prazos”. 
 Para quem tem dúvidas sobre como proceder, o IBGC faz ainda recomendações concretas, retiradas 
da 5ª edição do Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa, publicado pelo instituto. 
 São ações como: mapear riscos, medir probabilidade de ocorrência, tomar medidas para preveni-los ou 
mitigá-los, cumprir código de conduta e treinar os públicos por ele afetados, ser transparente, entre outras. 
“Hoje, mais importante que obter resultados, é atentar à forma pela qual são obtidos”, orienta o instituto. 
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https://brasil.elpais.com/brasil/2016/11/04/politica/1478293515_402075.html 
H. M. 
SÃO PAULO - 07 NOV 2016 - 10:42 BRST 
 
 Passado um ano do rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana, a ONU 
divulgou nesta sexta-feira um comunicado assinado por especialistas afirmando que as medidas 
tomadas pelas autoridades e as mineradoras envolvidas na tragédia "não correspondem à dimensão 
do desastre e às consequências socioambientais, econômicas e de saúde". 
 O documento critica também a falta de providências em relação à situação das comunidades 
indígenas e ribeirinhas ao longo da Bacia do Rio Doce, atingida na tragédia de Mariana, e diz que o 
Governo ainda não providenciou provas de que a qualidade da água dos rios da região é suficiente 
para o consumo humano depois que o tsunami de rejeitos de mineração avançaram sobre o Rio 
Doce até desaguar no litoral do Espírito Santo. 
 Para os representantes da ONU, os esforços das empresas Samarco e suas as acionistas 
Vale e BH Billiton para conter os vazamentos de lama foram insuficientes. Os especialistas lançaram 
um apelo para que as autoridades brasileiras tomem medidas imediatas para solucionar os impactos 
ainda persistentes da tragédia, ocorrida no dia 5 de novembro de 2015. 
Veja o que foi e o que não foi feito para reparar os danos da tragédia: 
Rejeitos continuam espalhados e obras estão atrasadas. Segundo o Ibama, a mineradora 
cumpriu apenas 5% das recomendações feitas. 
 Os 40 milhões de m³ que vazaram após o colapso da barragem de Fundão ainda não foram 
removidose continuam espalhados em um raio de 115 km na região. Com a chegada do período de 
chuva, o perigo de que essa massa de rejeitos de minério volte a se deslocar, poluindo ainda mais a 
bacia do Rio Doce, é grande. Segundo a presidente do Ibama, Suely Araújo, as obras para conter a 
lama estão atrasadas e a turbidez - presença de partículas em suspensão – da água próximo ao 
local do rompimento da barragem está acima do normal. 
 Desde a tragédia, o Ibama emitiu 69 notificações à Samarco, sendo algumas sobre 
determinações de como proceder em algumas situações e outras comunicando algumas 
irregularidades. Segundo o órgão ambiental, a mineradora cumpriu apenas 5% das recomendações 
feitas. O descumprimento da Samarco em adotar medidas de controle para acabar com a 
degradação ambiental fez o Ibama aumentar o número de multas aplicadas à mineradora, que agora 
possui 13 autos de infração, que já ultrapassam 300 milhões de reais. A última infração aplicada no 
dia primeiro de novembro prevê uma multa diária de 500 mil reais. A mineradora está recorrendo de 
todas elas. 
 Segundo a Samarco, há aspectos técnicos e jurídicos nas decisões que precisam ser 
reavaliados e, por isso, a empresa aguarda a decisão administrativa das defesas já apresentadas. A 
empresa defende, ainda, que está exercendo seu direito legítimo e reafirma que tem cumprido com 
suas obrigações e compromissos assumidos com a sociedade. “A Samarco reforça que já investiu 
até o momento aproximadamente 1 bilhão de reais para o pagamento de ações de remediação, 
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compensação e de indenização”, disse em nota. A mineradora está construindo um novo dique, 
chamado S4, entre o distrito de Bento Rodrigues e o rio Gualaxo do Norte para tentar conter os 
rejeitos que sobraram na região. A mineradora também trabalha na recuperação da estrutura de três 
diques que foram impactados com o rompimento abrupto da barragem. 
Instalação de sirenes 
 Após a tragédia de Mariana, a Samarco, decidiu instalar sirenes onde há população perto das 
barragens. Atualmente já são contabilizados 20 aparelhos em diferentes áreas. Na época do 
rompimento não havia nenhuma sirene. O sistema de monitoramento do complexo da mineradora 
também foi aprimorado com novos equipamentos. 
Indenizações pela tragédia de Mariana ainda são discutidas 
 Em novembro do ano passado, a Promotoria de Mariana, visando assegurar recursos para o 
ressarcimento das vítimas da tragédia, entrou com uma ação na Justiça e conseguiu bloquear 300 
milhões de reais das contas da Samarco. Atualmente, os atingidos pela tragédia que perderam sua 
fonte de renda recebem um salário mínimo mensal por família, mais 20% para cada dependente e 
uma cesta básica da empresa. Os desabrigados também estão morando em casas alugadas pela 
mineradora Samarco, em Mariana. As indenizações pelas propriedades e outros danos materiais e 
morais ainda não foram definidos. Um adiantamento de 20.000 reais de indenização foi dado pela 
mineradora às pessoas que perderam sua moradia, depois que o Ministério Público entrou com uma 
ação contra a empresa. 
Ibama aplicou multas que já ultrapassam 300 milhões de reais 
 Os ex-moradores dos distritos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Gesteira e Barra 
Longa, fortemente impactados pelo rompimento da barragem, serão reassentados em novas 
comunidades até 2019. Os programas de reconstrução dos distritos serão executados 
pela Fundação Renova, uma instituição criada pela Samarco e suas acionistas Vale e BHP Billiton. A 
fundação, que de alguma forma tenta assumir o ônus da tragédia, desvinculando o nome das 
empresas ao processo, também conduzirá os 41 programas de recuperação ambiental e reparação 
socioeconômica previstos no acordo firmado da Samarco com o Governo Federal, em março. 
 No Espírito Santo, a fundação Renova começou nesta semana um programa de indenização 
em Colatina, cidade capixaba em que os moradores ficaram sem abastecimento de água por alguns 
dias após o rompimento da barragem. As famílias e empresas que tenha sofrido perdas materiais e 
em atividades econômicas poderão se cadastrar para serem ressarcidas. 
Denúncia para cobrar punição 
 O Ministério Público Federal de Minas Gerais denunciou 21 pessoas da 
mineradora Samarco e integrantes das empresas Vale e BHP Billiton por homicídio qualificado com 
dolo eventual (quando se assume o risco de matar) pelo colapso da barragem. Entre os denunciados 
estão o ex-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi. Todos são suspeitos também dos crimes de 
inundação, desabamento e lesões corporais graves. Eles ainda foram denunciados por crimes 
ambientais, os mesmos que são imputados às empresas Samarco, Vale e BHP Billiton. 
Após a tragédia, a Samarco decidiu instalar sirenes onde há população perto das barragens. 
Na época do rompimento não havia nenhuma. 
 As três mineradoras vão responder por nove tipos de crimes contra o meio ambiente, que 
envolvem crimes contra a fauna, a flora, crime de poluição, contra o ordenamento urbano e 
patrimônio cultural. A Samarco e Vale ainda são acusadas de três crimes contra a administração 
ambiental. 
 Segundo o Ministério Público Federal, as investigações mostraram que os denunciados 
sabiam dos riscos de rompimento da barragem e, em vez de paralisar seu funcionamento, 
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continuaram a operação de forma irresponsável. Um relatório que consta no inquérito policial 
também mostrou que a barragem de Fundão começou a receber rejeitos da Samarco seis meses 
antes do início oficial de sua operação. Caso as denúncias dos procuradores sejam aceitas pela 
Justiça, os acusados podem ir a júri popular e ser condenados a até 54 anos de prisão. 
Tentativa de veto a barragens como a do acidente 
 O Ministério Público de Minas Gerais entrou, na sexta-feira, com ação para barrar todos os 
licenciamentos ambientais de novas barragens construídas com a tecnologia conhecida como 
alteamento à montante. Esse é o mesmo modelo utilizado na barragem de Fundão, em Mariana. 
Neste tipo de estrutura são erguidos vários degraus contra a parede que dá sustentação à barragem 
à medida que se aumenta a quantidade de rejeitos. Esse modelo requer critérios mais rígidos tanto 
para construir como para monitorar. Um decreto do Governo mineiro já tinha suspendido o 
licenciamento de novas barragens com alteamento à montante, mas permitia que os pedidos de 
licença que já estavam em curso continuassem tramitando. Agora, os procuradores mineiros querem 
que esses licenciamentos também sejam suspensos. 
Atividades da empresa continuam embargadas 
 Desde o rompimento da Samarco, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento 
Sustentável de Minas Gerais informou que todas as atividades da Samarco Mineradora estavam 
suspensas e que a empresa não poderá operar até que repare os danos causados. Em outubro, 
Clovis Torresda, diretor-executivo da Vale, uma das empresas controladoras, disse acreditar no 
retorno das operações da Samarco até meados de 2017. O promotor de Justiça Mauro Ellovich, 
de Minas Gerais, afirma que não é contra a volta da empresa, mas afirma que a mineradora continua 
não cumprindo com as exigências para retornar a operação. “Não é possível que uma atividade seja 
ao mesmo tempo licenciada e danosa. Pelo menos ela tem conter o estrago”, disse em entrevista à 
rádio do MPMG. 
 
 
 
 
 
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/05/04/politica/1556925352_146651.html 
 
NAIARA GALARRAGA GORTÁZAR 
CONGONHAS (MG) - 05 MAY 2019 - 18:12 BRT 
 
 As legiões de aventureiros avarentos que penetraram nestas terras do Brasil no século XVIII 
não pararam para pensar que o ouro não se come. Alguns morreram de fome com pedras brutas no 
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bolso. Não havia comida, estradas nem comércio. Aquela febre do ouro estabeleceu as bases de um 
Estado que deve quase tudo às minas. 
 Seu nome, seu desenvolvimento, seu patrimônio histórico e sua economia. A paisagem verde 
de Minas Gerais é pontilhada por enormes lacunas de ocre intenso que a mineração escava na terra 
e por depósitos descomunais para colocar os resíduos que essa atividade gera. 
 O colapso de uma dessas barragens em Brumadinho matou há cem dias, completados 
neste domingo, 235 pessoas. Outras 35 − também devoradas em segundos pela avalanche de 
rejeitos − continuam desaparecidas. A Vale, empresa proprietária da mina e uma das maiores 
multinacionais brasileiras, é reincidente. A tragédia provocou uma grande onda de indignação 
popularque levou a algumas poucas mudanças, mas o medo de que se repita está muito presente. 
 Maria Lourdes Anunciação, de 64 anos, vive tomada pelo medo em uma moradia de tijolos 
descobertos muito perto de uma barragem quatro vezes maior do que a que se rompeu em 25 de 
janeiro em Brumadinho. Não é a única. Nada menos que 23 depósitos de resíduos rodeiam 
Congonhas, uma cidade turística de 50.000 habitantes. Só uma colina separa a família Anunciação 
da mais próxima. Eles contam depois do desastre as autoridades fecharam a escola, e ficou nisso. 
“Depois de Brumadinho, não fizeram nenhuma simulação. Só a sirene, que tocou uma vez. Eram 
quase nove da manhã e quase ninguém ouviu. Tocou muito baixo”, recorda Maria. As vítimas de 
Brumadinho também não a ouviram, porque não tocou. “As pessoas têm mais medo das barragens 
agora, mas do desemprego também”, aponta sua filha Tatiane. Elas, como tantos na área, têm 
parentes que trabalham no setor. 
 As minas são a grande fonte de emprego local. E um potente motor da economia nacional, 
tanto que a mineração em Minas Gerais contribui com 8% das exportações brasileiras, que mesmo 
em épocas de crise é um gigante econômico. 
 E, no setor, reina a Vale. Fundada em 1942 e privatizada em 1997, é a maior produtora de 
minério de ferro do mundo. Seu poder é enorme. A proclamação “Mariana nunca mais”, adotada por 
seu presidente, o agora substituído Fabio Schvartsman, depois de uma tragédia escandalosamente 
similar em 2015, ficou sepultada sob toneladas de ferro em Brumadinho. O rompimento da barragem 
de Mariana matou 19 pessoas, e causou o maior desastre ecológico do Brasil. 
“Se você não está a favor de Vale, é um inimigo. A Vale não dialoga, a Vale manda”, afirma o 
professor Evandro Moraes, da Universidade Federal de Minas Gerais, que estuda há décadas estas 
represas de resíduos minerais. 
 Ele insiste que os acadêmicos sabem há muito tempo que, à medida que a terra vai ficando 
menos rica em minerais, os resíduos aumentam. Moraes está convencido de que sem mudanças 
profundas, haverá novos desastres. “É necessário mudar o ciclo econômico”, diz, diante do desafio 
de administrar cada vez mais resíduos. Soluções existem, afirma. Estão em estudos feitos pela 
universidade − e são economicamente viáveis, assegura. Os resíduos poderiam ser transformados 
em cimento. Mas, segundo ele, a Vale não demonstrou nenhum interesse. “Ela não dialoga com o 
mundo acadêmico, nem com a sociedade civil... só o Ministério Público consegue se impor à Vale”, 
aponta o professor. 
 Andressa Lanchotti é a coordenadora da equipe de promotores de Minas Gerais e de agentes 
da Polícia Federal que investiga o que ocorreu em Brumadinho. “Precisamos de uma mudança de 
comportamento muito grande para recuperar a confiança, porque em menos de três anos houve dois 
desastres envolvendo a mesma empresa [a Vale] em duas minas que tinham um certificado de 
estabilidade e uma auditoria externa. 
 E as duas se romperam. Isso significa uma falta de credibilidade não só da Vale, mas de todo 
o sistema brasileiro de gestão de barragens”, explica a promotora em seu escritório em Belo 
Horizonte. Lanchotti considera que o Estado deve assumir a fiscalização, que hoje é praticamente 
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um autocontrole das empresas. Há 34 inspetores de barragens no Brasil inteiro, quando o Estado de 
Minas Gerais sozinho é maior do que toda a Espanha. 
 Um decreto do Governo de Jair Bolsonaro ordenou que sejam desmantelados em três anos 
todos os depósitos de mineração construídos com a técnica de alteamento a montante, a mais 
barata e perigosa porque não tem alicerces nem muros. Foi essa a técnica usada nas duas 
barragens que desmoronaram. 
 Nestes cem dias, o Ministério Público ordenou que a Vale paralise as atividades em oito 
barragens e pague mil reais mensais durante um ano a cada um dos 40.000 moradores de 
Brumadinho, determinou a realização de inspeções independentes, bloqueou milhões de reais em 
fundos da empresa para enfrentar a emergência, pediu o afastamento de Schvartsman da 
presidência e retirou seu passaporte. 
 Segundo a promotora, “existem tecnologias modernas que são usadas em outros Estados (do 
Brasil) e em outros países” para administrar resíduos de mineração, mas “aqui não se fazia isso 
porque não era prioridade por questões econômicas”. 
 A fiscalização é um ponto fraco no Brasil, como reconheceu o vice-presidente Hamilton 
Mourão em uma entrevista ao EL PAÍS logo após a tragédia. A Agência de Mineração inspecionou 
cerca de cem barragens nestes três meses, a maioria em Minas Gerais, mas o organismo ainda está 
elaborando suas conclusões, segundo um porta-voz. 
 Esses imensos depósitos são organismos vivos, dizem os especialistas. “São como um leão 
em uma jaula, sempre a ponto de morder”, explica o professor. Costumam se romper porque seu 
conteúdo se liquefaz. É um fenômeno misterioso. “Nem os cientistas sabem por que ocorre”, afirma 
Moraes, um engenheiro e geólogo que em sua longa carreira foi consultor da Vale e de outras 
empresas de mineração. Três dos depósitos estão em um nível de emergência tão alto que cerca de 
mil pessoas, segundo a multinacional, foram retiradas das áreas próximas. A isso se somam os 
danos colaterais para o sustento de milhares de pessoas. 
 O Ministério Público investiga 26 pessoas por crimes contra a vida e o meio ambiente (com 
Schvartsman encabeçando a lista), já deteve preventivamente 13 engenheiros e auditores, mas 
ainda não há um relatório preliminar sobre as causas do colapso. 
 Wilson Moreira, de 64 anos, não acompanha em detalhes as medidas adotadas pela 
promotoria e pela Vale, nem as denúncias da imprensa. O que ele sabe é que perdeu um filho. 
Cleiton Luiz tinha 29 anos. “Foi encontrado na terça-feira de Carnaval [um mês depois da tragédia]. 
Só me deram uma caixa com uma foto dele em cima. Suponho que fosse ele. Não era permitido abri-
la”, explica em Brumadinho este comerciante, que além disso viu como a economia local se arruinou 
e suas duas lojas perderam clientela. “Ele nunca falou que sentisse risco, gostava do trabalho. 
Morreu inocente.” 
 Wilson interrompe seu relato com risos nervosos. Está convencido de que “se o Ministério 
Público funcionasse, a Vale estaria fechada por segurança”. Mas também diz que a empresa não 
pode desaparecer porque é vital para que as pessoas ganhem a vida. Quem diria em 1978, quando 
ele dirigia um caminhão que levava resíduos para a barragem, que aquele lodaçal cresceria 
exponencialmente e mataria seu filho. A busca pelos desaparecidos prossegue. A bombeira militar 
Priscila vasculhava a lama com um guindaste esta semana em busca de qualquer resto humano ou 
objeto. “Ontem achamos uma agenda, espero que sirva para encontrar a alguém.” 
 Em Mariana não havia sirenes. E em Brumadinho não chegaram a tocar. “Os sistemas de 
alarme têm de ser automáticos”, diz o bombeiro civil Pedro Cruz, de 31 anos, enquanto visita com 
sua namorada, Germana Souza, a igreja de Congonhas que abriga famosas esculturas barrocas de 
Aleijadinho pagas com os lucros da mineração, que atraem milhares de turistas paraa cidade. 
AULA 11 - GOVERNANÇA CORPORATIVA 
Professora Sirlei Pitteri 
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 Com 55.000 empregados no Brasil e um faturamento de 36,5 bilhões de dólares (143,8 
bilhões de reais), a Vale gera muita riqueza. E seu poder e influência são enormes. Brumadinho fez 
suas ações na Bolsa despencarem, mas agora já são cotadas como antes que o tsunami de rejeitos 
engolisse seus empregados, muitos deles enquanto almoçavam no refeitório. 
 Devido ao desastre e à paralisação por ordem judicial de três minas, serão produzidas 62,8 
milhões de toneladas a menos este ano, explica a empresa. Isso representa 15% do minério de ferro 
que ela produziu no ano passado. E tem impacto no mercado mundial. A queda, segundo o professor 
Moraes, fez o preço do minério de ferro subir, o que reduz as perdas, e além disso outras empresas 
já reativaram minas que não exploravam. 
 O fantasma de que os responsáveis máximos fiquem impunes está rondando. Basta ver o 
que ocorreu em Mariana, onde o tsunami de resíduos arrasou duas cidades e percorreu mais de 600 
quilômetros até o Atlântico, alterando as vidas de centenas de milhares de pessoas e prejudicando 
gravemente o ecossistema. Três anos depois, ninguém foi condenado. Não há data para o 
julgamento e a proprietária da mina − a Samarco, controlada pela Vale e pela australiana BHP 
Billiton − pagou uma ínfima parte das multas por danos ambientais porque recorreu delas. “Depois de 
Mariana, muito pouco foi feito. Fazia três anos que estávamos anunciando que haveria mais 
desastres”, diz Fabiana Alves, do Greenpeace. 
 Um veterano do setor de mineração que também teve responsabilidades em políticas 
públicas nessa área e pede para ficar no anonimato diz que a sucessão de desastres “é totalmente 
inadmissível”, mas ressalta que, segundo as estatísticas, há dois ou três rompimentos por ano. “Até 
o Canadá, um país com um aparato legal considerado bom, ótimos consultores e uma tradição de 
excelência em atividades de mineração, teve rompimentos de barragens todos os anos entre 2011 e 
2014.” No entanto, os danos no Brasil são incomparáveis àqueles. 
 Esse especialista opina que a legislação e a fiscalização são insuficientes para evitar 
acidentes. “É fundamental ter um projeto de alta qualidade, que a construção obedeça às melhores 
práticas da engenharia e, principalmente, que seja operada com rigor técnico”, afirma. 
Sebastião José dos Santos, de 61 anos, vive na cidade rodeada por 23 depósitos de resíduos. Esse 
técnico de manutenção em uma mina acredita que elas são seguras: “Como filho de Congonhas e 
empregado da CSN [Companhia Siderúrgica Nacional], estou convencido de que aqui não teremos 
nenhuma catástrofe como as de Brumadinho e Mariana”. Depois de um tempo de conversa, surge 
uma certa dúvida quando ele diz: “Se alguma barragem se romper, e não vai se romper, todos 
vamos sofrer”. 
 
 
 
 
http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-samarco/equipe-responsavel

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