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Fernanda Rocha Epidemiologia e Vigilância Sanitária E-Book 2 NESTE E-BOOK: Introdução ������������������������3 Contexto hIstórICo ����������������6 sIstema naCIonal de vIgIlânCIa sanItárIa �������������������������� 11 ConCeItos e abrangênCIa da vIgIlânCIa sanItárIa ���������������� 12 agênCIa naCIonal de vIgIlânCIa sanItárIa �������������������������� 17 espeCIfICIdades da vIgIlânCIa sanItárIa no brasIl ���������������� 19 vIgIlânCIa sanItárIa em alImentos, medICamentos e servIços ���������� 21 a vIgIlânCIa Como Instrumento de saúde públICa �������������������� 29 ConsIderações fInaIs �������������� 31 síntese �������������������������� 33 Introdução Figura 1: Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Fonte: https://www.anvisa.gov.br A Vigilância Sanitária tem se constituído como um campo de práticas e saberes que converge áreas do conhecimento como epidemiologia, direito, biossegurança, farmacologia, políticas públicas, bioética, sociologia, entre outras. Funda- mentalmente relacionada à promoção e proteção da saúde da população, a Vigilância Sanitária possui um amplo campo de atuação, sendo responsável por eliminar, diminuir, ou prevenir riscos à saúde individual e coletiva, além de 3 https://www.anvisa.gov.br interceder nos problemas sanitários do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse à saúde (BRASIL, 1990). Com uma gama de responsabilidades tão vasta, imagine como são complexas as ações realizadas em Vigilância Sanitária para cumprir todas as suas finalidades. A fim de atuar nesse universo complexo, dinâmico e amplo, as práticas sanitárias devem integrar-se e articular-se com diferentes instrumentos, participação e controle social. A importância das ações relacionadas à vigi- lância em Saúde Pública fica evidente ao nos darmos conta que, antes mesmo do nascimento da medicina científica e do desenvolvimento da epidemiologia, normas de proteção à saúde coletiva já haviam sido estabelecidas (ROZEN- FELD, 2000). Nas sociedades modernas, observa-se o consumo crescente de bens e serviços, de mercadorias e produtos de interesse sanitário, de tecnologias médicas e de serviços de saúde, característica que representa um desafio cada vez maior para a prática sanitária pelas agências regulatórias. As ações de vigilância sanitária frente aos riscos à saúde são necessárias em diversos setores. Existem riscos no uso de medicamentos, va- cinas, saneantes, cosméticos, alimentos, sem mencionar aqueles relacionados à circulação de 4 mercadorias em fronteiras, portos e aeroportos, cuja Vigilância Sanitária também é responsável. Outro exemplo está na prestação de serviços, em que há riscos diretos e indiretos à saúde, como no uso de tecnologias radiológicas e o manejo inadequado de resíduos. Os riscos trazi- dos à saúde humana e animal pelo consumo de recursos naturais e intervenções sobre o meio ambiente também são de encargo do serviço de vigilância. Podemos citar ainda os riscos relacionados ao ambiente de trabalho, como a exposição a substâncias químicas, ruídos e altas temperaturas. Enfim, é possível perceber as inumeráveis normas necessárias, além da complexidade de mecanismos de vigilância, que devem existir para que a Vigilância Sanitária seja capaz de tamanha incumbência, não é mesmo? Não é a intenção deste segundo módulo de lei- tura apresentar todo o conjunto de leis e normas que regulamentam cada uma das atividades de vigilância, mas sim conhecer o contexto histórico em que a Vigilância Sanitária desenvolveu-se no Brasil, compreender sua organização e suas responsabilidades, e perceber sua importância como instrumento em Saúde Pública. Bons estudos! 5 Contexto hIstórICo O conhecimento sobre a história e a evolução da Vigilância Sanitária no Brasil nos possibilita refletir a respeito das mudanças que ainda ocorrerão e, embora seja um campo de grande destaque na atualidade, suas práticas são reconhecidas como a área mais antiga da Saúde Pública. Você já parou para observar a quantidade de práticas sanitárias que eram realizadas antes mesmo da formalização dos serviços de vigilância? O controle de impurezas nas águas, regras de circulação de mercadorias, a prática de boticários e barbeiros, são exemplos de ações que visavam a reduzir os riscos à saúde das populações. Atualmente, a área de atuação da Vigilância Sa- nitária é bastante abrangente, com seu campo de interesse relacionado à sociedade de massa e sua prática voltada para a noção de qualidade de vida (ROZENFELD, 2000). Entretanto, como veremos a seguir, a evolução nos conceitos e responsabilidades no campo da vigilância sa- nitária foi se modificando juntamente com as transformações sociais ocorridas no país. REFLITA 6 1808 - Chegada da Família Real - Estruturação da Saúde Pública, com foco na contenção de epidemias e inserção do país nas rotas de comércio internacional. - Intensi�cação do �uxo de embarcações, de circulação de passageiros e de mercadorias, tornando o controle sanitário necessário para evitar epidemias e promover a aceitação dos produtos brasileiros no mercado interna- cional - A intervenção sanitária vai sendo institucionalizada no país, fundamentada na reorganização da estrutura do Estado, promulgação de leis, estruturação e refor- mas de serviços sanitários. - Entre os anos que permearam as reformas resultaram em sua criação, observa-se uma intensa produção de leis, principalmente, nas áreas de medicamentos e ali- mentos. Marcos importantes da vigilância sanitária no Brasil 1842 - Origem do poder de polícia 1953 - Criação do Ministério da Saúde 1920 - Criação do Departamento Nacional de Saúde Pública 7 - Instituição da silga ANVISA a partir da MP 2.134-29. 1999 - Criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária 1988 - Constituição federal - Estabelece o Sistema Único de Saúde - Organiza o Sistema Único de Saúde - Introduz na de�nição da Vigilância Sanitária o conceito de risco e confere um caráter mais completo ao conjun- to das ações, situando-a na esfera da produção. - Regulamentação que atribui ao Ministério da Saúde a atuação na regulação de alimentos, estabelecimentos industriais e comerciais e marcou a separação entre a vigilância sanitária e a vigilância epidemiológica. 1961 - Criação do Código Nacional de Saúde - Regulamentação que atribui ao Ministério da Saúde a atuação na regulação de alimentos, estabelecimentos industriais e comerciais e marcou a separação entre a vigilância sanitária e a vigilância epidemiológica. 1976 - Criação da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária 1990 - Lei Orgânica da Saúde (Lei nª 8080) Figura 2: Marcos importantes da vigilância sanitária do Brasil. 8 No Brasil, até a promulgação da Constituição Federal, em 1988, a Vigilância Sanitária era de- finida, segundo o Ministério da Saúde, como um conjunto de medidas que visa a ela- borar, controlar a aplicação e fiscalizar o cumprimento de normas e padrões de interesse sanitário relativo a portos, aeroportos e fronteiras, medicamentos, cosméticos, alimentos, saneantes e bens, respeitada a legislação pertinente, bem como o exercício profissional relacionado com a saúde. (ROZENFELD, 2000). Após 1990, com a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080), a definição da Vigilância Sanitária passa a ser entendida como: um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir, ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decor- rentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde. (BRASIL, 1990). Nota-se, com essa nova definição, uma alteração no caráter de ações da vigilância, passando de um cunho mais normativo e burocrático para outro mais completo no conjunto das ações, fundamentado no conceito de risco. 9 Na década de 1990, diversos acontecimentos evidenciaram a fragilidadeda Vigilância Sanitária no Brasil, gerando importantes preocupações relacionadas ao Sistema Único de Saúde. A me- lhoria na estrutura e funcionamento da vigilância no país, nesse contexto, foi proporcionada, em grande parte, pela criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o apoio aos órgãos estaduais e municipais. Para saber mais sobre a trajetória da Vigilância Sanitária e os eventos que preocuparam o setor de saúde, ouça o Podcast – Eventos preocupantes para vigilância nos anos 1990. PODCAST 1 Os movimentos da Reforma Sanitária e a institui- ção do Sistema Único de Saúde, em consonância com o direito à saúde garantido pela Constituição de 1988, foram determinantes para a definição da Vigilância Sanitária e para a formulação e implementação de políticas focalizadas na prote- ção e redução dos riscos à saúde. Dessa forma, podemos entender que a Vigilância Sanitária está vinculada ao Ministério da Saúde, sendo parte integrante do SUS e, por conseguinte, ligada a suas diretrizes. 10 https://famonline.instructure.com/files/43095/download?download_frd=1 sIstema naCIonal de vIgIlânCIa sanItárIa A partir da publicação da Lei 8.080/90 e da orga- nização do Sistema Único de Saúde, importantes marcos normativos se seguiram, resultando na instituição do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária como o conhecemos hoje. As diretrizes e regulamentos para a vigilância de alimentos, estabelecidas pela Portaria nº 1.428/93, e a descentralização de ações e serviços designa- dos pela Portaria 1.565/94 são algumas dessas medidas (ROZENFELD, 2000). Ao longo desse período, um amplo conjunto de regulamentações relacionado a diversos objetos de relevância sanitária, como medicamentos fi- toterápicos, hemoderivados, produtos de higiene e licenciamento de estabelecimentos de saúde, foi produzido ou atualizado. No mesmo ínterim, por meio da Portaria 1.565, de 26 de agosto de 1994, o Ministério da Saúde “define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e sua abrangência, esclarece a distribuição da competência material e legislativa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e estabelece procedi- mentos para articulação política e administrativa das três esferas de governo do Sistema Único de Saúde” (BRASIL, 1994). 11 ConCeItos e abrangênCIa da vIgIlânCIa sanItárIa As ações de responsabilidade da Vigilância Sa- nitária perpassam por diversas áreas do conhe- cimento, visto a abrangência dos seus objetos de cuidado. Nesse sentido, os conceitos que permeiam suas normas, muitas vezes, podem não ser familiares a todos os profissionais que têm sua atividade relacionada à pratica sanitária. Você já parou para pensar na multidisciplinari- dade da área das ações da Vigilância Sanitária e a quantidade de termos técnico-científicos que podem ser utilizados em seus processos? Se você adicionar a isso, a natureza da lingua- gem jurídica, utilizada na formulação de suas normas, é possível imaginar as dificuldades que podem ser encontradas no desenvolvi- mento das atividades tanto dos profissionais das agências reguladoras como daqueles que necessitam adequar seu produto ou serviço para cumprimento das regulamentações. Você já teve alguma dessas experiências? Nota-se, dessa forma, que alguns conceitos são de fundamental importância para o entendimento REFLITA 12 da Vigilância Sanitária, com destaque para os seguintes: a) Risco: conceito central e fundamental nos saberes e práticas da vigilância. Assim como na Epidemiologia, o risco é lido como possibilidade de ocorrência de eventos relacionados à saúde. A legislação mais recente procura utilizá-lo na forma de expressões mais precisas, por exemplo, fatores de risco, potencial de risco, grupos de risco, gerenciamento de risco e risco potencial. b) Controle e fiscalização: para que pessoas, produtos, atividades, órgãos e serviços não se desviem de normas pré-estabelecidas, utiliza-se o termo controle. Também sendo empregado para designar ações sobre eventos de saúde, a fim de que suas frequências não se desviem da normalidade. O termo fiscalização está vin- culado à ação verificadora do cumprimento da norma, como nas situações de inspeção de atividades e estabelecimentos, por exemplo. Na Vigilância Sanitária, esses termos se con- fundem. Entretanto, o conceito de controle é mais amplo, incluindo a própria fiscalização e se estendendo da regulamentação às ações educativas (ROZENFELD, 2000). c) Regulação: conceito relacionado a funções, como: estabelecer regras, sujeitar a regra, enca- minhar conforme a lei e estabelecer ordem. Em vigilância, a regulação atua na intermediação entre os interesses de saúde e os econômicos, 13 sendo da competência da Vigilância Sanitária, além de avaliar e interceder juntos aos riscos, estabelecer e fazer cumprir regulamentos téc- nico-sanitários que delimitam as regras para os comportamentos relacionados aos objetos de relevância sanitária. Tomando como exemplo a regulação de me- dicamentos, note que substâncias que têm seu uso permitido e regulamentado em alguns países, têm acesso restrito ou impedido em outros. Isso se dá devido ao desenvolvimento científico e tecnológico e à organização dos interesses e poderes, que estão vinculados aos modelos organizacionais e operativos da vigilância sanitária nos diferentes países. Para saber mais sobre a diferença na regulação e autorização de uso de substâncias entre os países, ouça o Podcast – substâncias usadas e permitidas pela ANVISA em cosméticos e proibidas na Europa e nos EUA. PODCAST 2 d) Poder de polícia: como o próprio nome su- gere, esse conceito está relacionado à ação de limitar o exercício dos direitos individuais, em benefício do interesse público. Nesse sentido, FIQUE ATENTO 14 https://famonline.instructure.com/files/43096/download?download_frd=1 à Vigilância Sanitária é conferida essa autorida- de, uma vez que sua atividade de regulação é, essencialmente, um exercício de poder, sendo esperado de sua ação, como braço do Estado, acionar mecanismos de intervenção na busca da segurança sanitária. e) Segurança sanitária: conceito ainda incipiente no contexto internacional, cuja concepção vem sendo debatida, especialmente nos países de maior desenvolvimento tecnológico. O termo “segurança sanitária” está relacionado a uma estimativa de risco-benefício aceitável, podendo também ser entendido como um conjunto de políticas públicas de proteção à saúde. Abordados os termos e conceitos, podemos compreender melhor a área de abrangência da Vigilância Sanitária, que abarca em seu campo de atuação a normatização e controle de: • Bens de consumo relacionados direta ou indire- tamente à saúde, considerando todos processos e etapas envolvendo sua produção, armazena- mento, transporte, circulação, comercialização e consumo, incluindo equipamentos, matérias- -primas e coadjuvantes de tecnologias; • Tecnologias médicas, equipamentos, proce- dimentos e aspectos da pesquisa em saúde; 15 • Serviços relacionados direta ou indiretamen- te à saúde, prestados pelo Estado e pelo setor privado; • Portos, aeroportos e fronteiras, contemplando veículos, cargas e pessoas; • Aspectos do ambiente, processos de trabalho e saúde do trabalhador. 16 agênCIa naCIonal de vIgIlânCIa sanItárIa Após a definição do Sistema Nacional de Vi- gilância Sanitária e a ampliação do escopo de suas ações, uma sucessão de eventos negativos marcaram a saúde pública e o setor de vigilância. Na mesma época, o país vinha implementando uma reforma do aparelho de Estado, alterando seu papel como provedor e prestador de serviço para um modelo regulador, cuja proposta era a evolução do modelo burocrático vigente, para um modelo gerencial, com foco no controle dos resultados e atendimento com qualidade ao cidadão (BRASIL, 1995). Foi nesse contexto em que se criou a ANVISA. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, criada em 1999, pela Lei nº 9.782,substitui a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, tendo como função institucional promover a proteção da saúde da popu- lação, por intermédio do controle sani- tário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à Vigilância Sanitária, inclusive dos am- bientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e fronteiras (BRASIL, 1999). 17 Regulamentada como uma agência reguladora, sob a forma de autarquia de regime especial, a ANVISA exerce o controle sanitário de todos os serviços e produtos de interesse da vigilân- cia sanitária, como alimentos, medicamentos, saneantes, cosméticos, produtos médicos e hemoderivados. Assim, as ações realizadas pela ANVISA apresentam impacto na regulação das indústrias do setor da saúde, no desenvolvimento dos setores de produção, na prevenção de riscos à saúde individual e coletiva e, de maneira geral, na organização do mercado da saúde (ALVES, 2011). Nos anos que se seguiram, além da expansão de sua atividade regulatória, a ANVISA aperfeiçoou os processos de trabalho de diversas áreas de sua abrangência, como aqueles relacionados ao planejamento orçamentário e financeiro, gestão de convênios, controle de desempenho de indústrias de alimentos, medicamentos e empresas de serviços de saúde. Seguindo a lógica de organização do serviço de saúde do SUS, observou-se o processo de des- centralização e ampliação das responsabilidades em Vigilância Sanitária dos estados e, principal- mente, municípios, marcados pela publicação da Norma Operacional de Assistência à Saúde (BRASIL, 2001). Tais modificações permitiram que as práticas em vigilância se aproximassem da realidade sanitária dos municípios. 18 espeCIfICIdades da vIgIlânCIa sanItárIa no brasIl As práticas em Vigilância Sanitária no Brasil apresentam algumas especificidades como seu escopo de ações de saúde, que abrange desde o controle de riscos, como atividade es- sencialmente preventiva, até a intervenção em problemas de interesse sanitário. Dessa forma, as práticas sanitárias se relacionam com todas as atividades relacionadas à saúde, não só no âmbito médico, mas também relativo a outras áreas, como o meio ambiente e agrícola. A intersetorialidade de suas ações é outra ca- racterística específica da vigilância no país. A grande abrangência de seu campo de atuação faz com que as ações da Vigilância Sanitária se tornem complexas, necessitando, muitas vezes, que suas competências sejam compar- tilhadas entre setores institucionais. O controle de alimentos e agrotóxicos são exemplos dessa intersetorialidade. Além da regulação da Vigilân- cia Sanitária, relacionada ao setor de saúde, os alimentos também são de competência da agri- cultura, assim como a regulação de agrotóxicos, que é compartilhada entre os setores de saúde, agricultura e meio ambiente (COSTA, 2009). 19 O modelo organizacional, bem como a abran- gência da vigilância, são diferentes entre os países. A própria intitulação “Vigilância Sanitá- ria” não se trata de um termo universalmente utilizado para designar essa área da saúde. Você pode se aprofundar nesse e em outros debates relacionados à prática sanitária no Brasil, no livro “Vigilância sanitária: temas para debate”, de COSTA (2009), disponível no link: https://bit.ly/2EnAeRV. Consultado em 18/04/2019. SAIBA MAIS 20 https://bit.ly/2EnAeRV vIgIlânCIa sanItárIa em alImentos, medICamentos e servIços Como verificamos, a área de abrangência da Vigilância Sanitária é ampla, sendo de respon- sabilidade da ANVISA regulamentar, controlar e fiscalizar os produtos e os serviços relacionados a riscos em saúde, incluindo, entre outros, ali- mentos medicamentos e serviços. Especifica- mente sobre esses, conheceremos as principais atribuições da Vigilância Sanitária. Alimentos As atribuições da Vigilância Sanitária em ali- mentos compreendem a fiscalização de esta- belecimentos que comercializam, transportam e produzem alimentos, com exceção da produção daqueles de origem exclusivamente animal. As ações em vigilância, nesse sentido, pretendem promover a boa prática na produção de alimen- tos, possibilitando o controle dos riscos à saúde relacionados ao consumo e manipulação desse produto. O controle da qualidade dos alimentos abrange também a avaliação das técnicas e métodos utilizados do início do processo de produção ao consumo final, incluindo a rotulagem, embalagem e armazenamento. Além disso, são responsa- bilidade da vigilância de alimentos o controle 21 das águas de consumo humano, o registro de produtos alimentícios industrializados e a inves- tigação de surtos de toxinfecção alimentar, este último, geralmente, realizado em conjunto com laboratórios de saúde pública e com a Vigilância Epidemiológica. Principais atividades da Vigilância Sanitária de Alimentos: • Fiscalização para liberação de licença sanitária; • Atendimento a denúncias; • Investigação de surtos alimentares; • Coleta de alimentos; • Análise de projetos arquitetônicos; • Análise de rotulagem de alimentos produzidos no município; • Atividades educativas. Um exemplo das ações da ANVISA, como agência fiscalizadora na área de alimentos, foi a proibição da fabricação e comercialização de uma mistura de chá que alegava propriedades terapêuticas. Para saber mais sobre esse caso, ouça o Pod- cast – Chá sem registro e com alegações não autorizadas. PODCAST 3 22 https://famonline.instructure.com/files/43097/download?download_frd=1 Medicamentos, drogas, insumos farmacêuticos e correlatos Nessa área de abrangência, a Vigilância Sanitária atua no controle e fiscalização de substâncias ati- vas, materiais e processos. Segundo a descrição das atribuições da vigilância, estão submetidos à fiscalização medicamentos, drogas, insumos farma- cêuticos, soros, vacinas, sangue e hemo- derivados, correlatos – equipamentos e artigos médico-odontológicos e hospi- talares destinados à atenção à saúde. Também fazem parte desse universo os cosméticos, os produtos de higiene e perfumes e os saneantes domissanitários, as embalagens e a rotulagem. Todos os estabelecimentos produtores e de comer- cialização e armazenamento, os meios de transporte e a propaganda estão sujeitos à vigilância sanitária. Enfim, todo o ciclo de vida destes produtos, desde antes da sua produção até o seu consumo e efeitos” (BRASIL, 2007). O controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e corre- latos, baseado no conceito de boas práticas de fabricação, é previsto na Lei Federal nº 5.991/73, que, além de definir as atribuições da Vigilância Sanitária no setor, adota os seguintes conceitos 23 de medicamento, droga, insumo farmacêutico e correlato: a) Medicamento: produto farmacêutico, tecni- camente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico; b) Droga: substância ou matéria-prima que tenha a finalidade medicamentosa ou sanitária; c) Insumo Farmacêutico: droga ou matéria-prima aditiva ou complementar de qualquer natureza, destinada a emprego em medicamentos, quando for o caso, e seus recipientes; d) Correlato: a substância, produto, aparelho ou acessório não enquadrado nos conceitos anteriores, cujo uso ou aplicação esteja ligado à defesa e proteção da saúde individual ou co- letiva, à higiene pessoal ou de ambientes, ou a fins diagnósticos e analíticos, os cosméticos e perfumes, e, ainda, os produtos dietéticos, óticos, de acústica médica, odontológicos e veterinários (BRASIL, 1973). Relacionado à fiscalização de estabelecimentos que fabricam, manipulam ou vendem medica- mentos ou insumos farmacêuticos, a Vigilân- cia Sanitária atua na avaliação dos critérios adotados para garantia da qualidade técnica, controles microbiológicos, ensaios clínicos para eficácia, adequação das condições sanitárias e educação permanente da equipe profissional. Já24 em estabelecimentos que fabricam ou vendem equipamentos e dispositivos médico-hospitalares, as ações em vigilância voltam-se, em especial, para as tecnologias médicas utilizadas. A regulação sobre perfumes, cosméticos, pro- dutos de higiene e saneantes também é de responsabilidade da Vigilância Sanitária. Sua atuação nessa área, visando às boas práticas de fabricação, abrange desde a fiscalização das indústrias que produzem esses produtos, avaliando seus procedimentos e critérios, até a avaliação dos riscos de contaminação e da qualidade dos produtos. Outra área de atuação da Vigilância Sanitária está relacionada à fiscalização de produtos químicos e agrícolas que englobam agrotóxicos, solven- tes, entre outras substâncias, incluindo drogas veterinárias, que possam representar riscos aos profissionais que manipulam ou trabalham como esses produtos. Nesse sentido, o objetivo das práticas de vigilância, nessa área, é a proteção dos trabalhadores que estão expostos a essas substâncias, direta ou indiretamente, prevenindo acidentes de trabalho, danos aos profissionais, além de proteger o meio ambiente. Este é um dos campos de atuação em que se observa a intersetorialidade, uma vez que o controle da fabricação e comercialização desses produtos é realizado pelo Ministério da Agricultura, cabendo à Vigilância Sanitária fiscalizar a sua utilização, 25 principalmente, em adubos, agrotóxicos, produ- ção de alimentos e de entorpecentes, a partir de produtos químicos (BRASIL, 2007). A ANVISA, assim como outras agências regula- doras, possui uma lista de substâncias de uso controlado que orienta a prática sanitária relacio- nada aos insumos farmacêuticos, medicamentos e correlatos. A incorporação de substâncias nessa lista apresenta diversas similaridades entre os países, mas a velocidade com que a assimilação ocorre depende dos mecanismos de cada agência reguladora. Para saber mais sobre a regulação de substâncias ativas e a incorporação dos itens à essa lista, ouça o Podcast - Substâncias que tiveram a comercialização e uso suspensos pela ação de fiscalização da ANVISA. PODCAST 4 Serviços de saúde e de interesse à saúde Os estabelecimentos prestadores de serviços de saúde, tanto públicos como privados, são de interesse da Vigilância Sanitária, estando sob sua responsabilidade o controle de riscos e fiscalização. Nesse campo de atuação, diversos serviços fazem parte do escopo das práticas sanitárias, como unidades básicas de saúde, ambulatórios, hospitais, laboratórios de análise e pesquisa clínica, centros de exames que utili- zam radiação, clínicas de estética, entre outros 26 https://famonline.instructure.com/files/43098/download?download_frd=1 estabelecimentos relacionados a atividades que apresentem riscos diretos ou indiretos à saúde (BRASIL, 2007). A atividade de vigilância relacionada ao controle e fiscalização dos serviços de saúde é complexa, visto os diferentes graus de complexidade dos estabelecimentos que compõem o sistema de saúde. Em hospitais, por exemplo, os riscos relacionados a casos de infecção podem estar relacionados a diferentes níveis de organização, como condições precárias de funcionamento, desconhecimento ou falta de treinamento em relação aos procedimentos de higiene e esteri- lização de materiais, presença de vetores, entre outros fatores, que podem contribuir para des- fechos graves de saúde. Dessa forma, a prática sanitária nessa área exige um amplo conheci- mento científico, permanentemente atualizado, além de profissionais de diferentes áreas do conhecimento, visto a diversidade de objetos e práticas sob a responsabilidade regulatória da Vigilância Sanitária. Imagine a complexidade das práticas regula- tórias e fiscalizadoras da Vigilância Sanitária relacionadas aos diferentes equipamentos de saúde, meios diagnósticos, licenças de estabelecimentos, normas de proteção ao REFLITA 27 paciente e ao profissional, entre os outros serviços e produtos que pertencem à rede de saúde do país. Sem dúvida, trata-se de uma atividade que requer conhecimentos de diferentes áreas e, para tal, a Vigilância Sa- nitária requer multiprofissionalidade em sua equipe, possibilitando que atue no controle dos variados riscos existentes nos serviços de interesse à saúde. As ações da Vigilância Sanitária relacionadas aos serviços de saúde abrangem, também, a criação de normas e protocolos que organizem e auxiliem no controle dos riscos à saúde em estabelecimentos de saúde, como hospitais. Para saber mais sobre a atuação da ANVISA na regulação dos riscos em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e dados sobre infecção hospitalar no Brasil, ouça o Podcast – Papel da ANVISA na fiscalização de hospitais e controle das infecções hospitalares. PODCAST 5 28 https://famonline.instructure.com/files/43099/download?download_frd=1 a vIgIlânCIa Como Instrumento de saúde públICa As ações em vigilância, principalmente devido à sua visão preventiva, nos faz perceber a Vi- gilância Sanitária como uma importante parte da Saúde Pública, uma vez que suas atividades estão interligadas com a proteção, promoção e recuperação da saúde. Assim, as responsabili- dades da prática sanitária estão intimamente ligadas à saúde da população, desde as ações voltadas para a proteção e prevenção dos riscos, reais e potenciais, à saúde, até a regulamentação de produtos, serviços e espaços de interesse sanitário. Utilizando a instrumentação legal para sua atua- ção, a Vigilância Sanitária tem como responsa- bilidade avaliar, fiscalizar e controlar produtos e serviços que possam apresentar riscos à saúde individual e coletiva, apresentando-se como órgão vigilante dos interesses em Saúde Públi- ca. Dessa forma, o diverso conjunto de normas técnicas que regulamenta e instrumentaliza a prática sanitária representam os interesses da saúde individual e coletiva, baseado nos conhe- cimentos científicos e tecnológicos. 29 O amplo escopo de ação da Vigilância Sanitária, incluindo a fiscalização, o monitoramento, a vigilância, a educação sanitária, a pesquisa em saúde, entre outras ações, possibilita interpretar- mos as práticas sanitárias como um dos mais importantes instrumentos em Saúde Pública, apresentando, ao longo do tempo, importante contribuição para o avanço das condições de vida da população e para a estruturação do sistema de saúde do país. Os benefícios propiciados pelas ações em vigi- lância são inúmeros. A redução da mortalidade por doenças transmissíveis, a diminuição das infecções e transmissão de doenças, preven- ção de acidentes e iatrogenias médicas, con- trole da qualidade de alimentos, ambientes e serviços, são só alguns dos exemplos em que observamos melhorias na saúde relacionadas à regulamentação e às práticas sanitárias. Se considerarmos, ainda, as possibilidades futuras de sua contribuição para a Saúde Pública, é possível compreender o importante papel que desempenha a Vigilância Sanitária. 30 ConsIderações fInaIs Neste módulo, você conheceu o contexto histó- rico e os conceitos norteadores que basearam a estruturação do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária no país, entendendo a relação entre as diretrizes e fundamentos do Sistema Único de Saúde e a abrangência das práticas sanitárias. Relacionado às mudanças na estruturação do Estado e às repercussões negativas de even- tos que deflagraram a fragilidade da regulação do setor da saúde, foi possível compreender a importância da criação da ANVISA e as trans- formações pelas quais a agência passou até desempenhar as atividades nas diversas áreas de sua responsabilidade observadas nos dias de hoje. Foi possível destacar, ainda, a área de abrangência da Vigilância Sanitária no Brasil, conhecendo de maneira mais especifica a regulação nos seto- res relacionados a alimentos, medicamentos e serviços de interesse de saúde. Por fim, você pode visualizar o importante papel da Vigilância Sanitáriacomo instrumento de Saú- de Pública, conhecendo, além das contribuições já realizadas para a saúde, as possiblidades de atuação para a prevenção dos riscos à saúde da população. 31 Encerramos aqui o material de leitura de nossa disciplina. Espero que você tenha compreendido a importância dos conteúdos que abordamos e desejo que os conhecimentos originados em nossa jornada proporcionem uma excelente prática profissional! Até a próxima! 32 Vigilância Sanitária: organi- zação, competências e atuação E-book 2 Síntese do conteúdo: A ideia é que o infográfico represente as responsabilidades da Agência Nacio- nal de Vigilância Sanitária (ANVISA) e sua atuação como agência reguladora do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Vigilância Sanitária no Brasil – responsável por eliminar, diminuir, ou prevenir riscos à saúde indi- vidual e coletiva, além de interceder nos problemas sanitários do meio ambiente, da produção e circu- lação de bens e da prestação de serviços de interes- se à saúde. Entendida como parte integrante do Sistema Único de Saúde, a Vigilância Sanitária en- contra-se vinculada ao Ministério da Saúde. Autarquia sob regime especial, vinculada ao Ministério da Saúde, caracteriza- da pela inde- pendência adminis- trativa e autonomia financeira. Ministério da Saúde ANVISA Coordenação Sistema Nacional de Vigilância Sanitária Regulação Controle Composto por órgão das três es- feras de governo que devem atuar de forma comple- mentar, sendo co- ordenados, pela ANVISA, no plano federal. Sistema Nacional de Vigilância Sanitária Composto por órgão das três es- feras de governo que devem atuar de forma comple- mentar, sendo co- ordenados, pela ANVISA, no plano federal. Plano Federal ANVISA (coordenadora) INCQS Plano Estadual Secretarias Estaduais de Saúde LACENs Plano Municipal Secretarias Municipais de Saúde 1 2 1 – INCQS - Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde. 2 – LACENs - Laboratórios Centrais de Saúde Pública síntese referênCIas ALVES, Flávia Neves Rocha; PECI, Alketa. Análise de Impacto Regulatório: uma nova ferramenta para a melhoria da regulação na Anvisa. Revista de Saúde Pública, 2011. BRASIL, CONASS. Conselho Nacional de Secre- tários de Saúde. Vigilância em Saúde / Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília-DF, 2007. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Brasília-DF, 1988. BRASIL. Lei Federal nº 5.991, de 17 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, e dá outras provi- dências. Brasília – DF, 1973. BRASIL. Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999: Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e dá outras providências. Diário Oficial da União, 1999. BRASIL. Lei Orgânica da Saúde. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condi- ções para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providên- cias. Brasília-DF, 1990. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1565, de 26 de agosto de 1994. Definição do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e sua abrangên- cia. Diário Oficial da União, 1994. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de As- sistência à Saúde. Norma Operacional Básica de Assistência à Saúde. Brasília-DF, 2001. BRASIL. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasília: Presidência da República, Câmera da Reforma do Estado, Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado; 1995. COSTA, Ediná Alves. Vigilância Sanitária: temas para debate. EDUFBA, 2009. REIS, Lenice Gnocchi da Costa. Vigilância sanitá- ria aplicada: serviços de saúde em perspectiva. Curitiba: InterSaberes, 2016. ROZENFELD, Suely. Fundamentos da vigilância sanitária. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2000. SOLHA, Raphaela Karla de Toledo. Vigilância em saúde ambiental e sanitária. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. _GoBack Introdução Contexto histórico Sistema nacional de vigilância sanitária Conceitos e abrangência da vigilância sanitária Agência Nacional de Vigilância Sanitária Especificidades da vigilância sanitária no Brasil Vigilância sanitária em alimentos, medicamentos e serviços A vigilância como instrumento de saúde pública Considerações finais Síntese bt_fwd: Page 1: bt_fwd 4: bt_fwd 3: Page 34: Page 35:
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