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Introdução aos Estudos Históricos

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Prévia do material em texto

Indaial – 2020
Introdução aos 
Estudos HIstórIcos
Profª. Aniele Almeida Crescêncio
Prof. Jean Carlos Morell
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Profª. Aniele Almeida Crescêncio
Prof. Jean Carlos Morell
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C919i 
 Crescêncio, Aniele Almeida 
 Introdução aos estudos históricos. / Aniele Almeida Crescêncio; Jean 
Carlos Morell. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 
 181 p.; il. 
 ISBN 978-65-5663-121-9 
 ISBN Digital 978-65-5663-122-6 
 1. História - Metodologia. - Brasil. 2. História - Estudo e ensino. – 
Brasil. I. Morell, Jean Carlos. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. 
 CDD 907
III
aprEsEntação
Acadêmico, seja bem-vindo ao Livro de Introdução aos Estudos 
Históricos. O objetivo deste livro é apresentar ao leitor a origem do que 
entendemos como História, o processo de cientificização da história, bem como 
os conceitos essenciais ao trabalho do historiador. Para isso, vamos conhecer 
os principais nomes relacionados à História, assim como os principais temas e 
as principais problemáticas para o trabalho do historiador. Dentre os assuntos 
que vamos abordar em nosso livro, temos a discussão do conceito de História, 
da História enquanto ciência e dos estudos sobre o tempo.
Na Unidade 1 estudaremos sobre o surgimento da concepção 
de História na Antiguidade e os principais historiadores do período. A 
importância da historiografia eclesiástica também será um tema em questão. 
Conjuntamente, iremos expor concepções de História importantes para 
a modernidade como a Historia Magistra Vitae, a mudança da História de 
Historie para Geschichte e o surgimento do Historicismo. Por fim, discutiremos 
a importância dos conceitos Memória, Esquecimento e Anacronismo para o 
trabalho historiográfico.
 
Na Unidade 2 vamos explorar sobre os principais locais de trabalho 
do historiador. São eles os Arquivos Históricos, os museus e as bibliotecas. 
Vamos refletir sobre a função que o historiador exerce nestes locais. Também 
analisaremos a principal forma que os historiadores têm acesso ao passado, 
as fontes históricas. Abordaremos as fontes tradicionais, que dividimos em 
fontes escritas e fontes arqueológicas; bem como as fontes que surgiram com 
as novas tecnologias, as fontes orais e as fontes audiovisuais.
 
Na Unidade 3 aprenderemos sobre o tempo. Mencionaremos a noção 
de tempo para áreas como a Filosofia, a Física, a Biologia e a Geologia. As 
noções de tempo de intelectuais como Agostinho de Hipona, Nietzsche e 
Henri Bergson serão apontadas. Também estudaremos a relação entre História 
e tempo, o tempo cíclico, o tempo linear, a temporalidade, a periodização 
da História, a duração e as formas de contar a passagem do tempo. Vamos 
conhecer sobre os diferentes calendários e o ensino das noções de tempo.
 
Desejos de um trajeto repleto de curiosidade e conhecimento!
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VII
UNIDADE 1 – O QUE É HISTÓRIA ......................................................................................................1
TÓPICO 1 – AS PRIMEIRAS REFLEXÕES ACERCA DA HISTÓRIA ...........................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 AS FONTES COMO ACESSO AO PASSADO .................................................................................3
3 A NOÇÃO DE HISTÓRIA NA ANTIGUIDADE ............................................................................4
4 A HISTORIOGRAFIA ECLESIÁSTICA ............................................................................................9
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................13
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................14
TÓPICO 2 – AS MUDANÇAS DA HISTÓRIA NO TEMPO ..........................................................15
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................15
2 A HISTÓRIA COMO MESTRA DA VIDA .....................................................................................15
3 A MUDANÇA DE SIGNIFICADO NO TEMPO ............................................................................17
4 AS FILOSOFIAS DA HISTÓRIA E O POSITIVISMO .................................................................18
5 O HISTORICISMO E A CIÊNCIA DA HISTÓRIA .......................................................................20
6 A OBJETIVIDADE E A SUBJETIVIDADE PARA A HISTÓRIA ................................................22
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................26
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................27
TÓPICO 3 – A MEMÓRIA, O ESQUECIMENTO E O ANACRONISMO ...................................29
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................29
2 A MEMÓRIA .........................................................................................................................................29
3 O ANACRONISMO .............................................................................................................................33
RESUMODO TÓPICO 3........................................................................................................................38
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................39
TÓPICO 4 – A HISTÓRIA A PARTIR DA ESCOLA DOS ANNALES .........................................41
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................41
2 O SURGIMENTO DA ESCOLA DOS ANNALES .........................................................................41
3 MARC BLOCH E O OFÍCIO DO HISTORIADOR .......................................................................44
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................47
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................50
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................51
UNIDADE 2 – AS FONTES HISTÓRICAS ........................................................................................53
TÓPICO 1 – AS FERRAMENTAS DO HISTORIADOR ..................................................................55
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................55
2 UMA INTRODUÇÃO ÀS FONTES HISTÓRICAS .......................................................................55
3 OS LOCAIS DE TRABALHO DO HISTORIADOR ......................................................................57
4 OS ARQUIVOS HISTÓRICOS, OS MUSEUS E AS BIBLIOTECAS .........................................58
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................67
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................68
sumárIo
VIII
TÓPICO 2 – AS FONTES TRADICIONAIS
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................69
2 FONTES ESCRITAS .............................................................................................................................69
3 FONTES ARQUEOLÓGICAS ............................................................................................................73
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................81
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................82
TÓPICO 3 – UM NOVO OLHAR PARA AS FONTES .....................................................................83
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................83
2 FONTES ORAIS ....................................................................................................................................83
3 FONTES AUDIOVISUAIS .................................................................................................................87
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................95
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................99
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................100
UNIDADE 3 – HISTÓRIA E TEMPO ................................................................................................103
TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DO TEMPO ........................................................105
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105
2 O TEMPO PARA A FILOSOFIA ......................................................................................................105
3 O TEMPO PARA AGOSTINHO DE HIPONA .............................................................................106
4 O ETERNO RETORNO DE NIETZSCHE ......................................................................................108
5 O TEMPO PARA HENRI BERGSON .............................................................................................111
6 NOÇÕES DO TEMPO FORA DO CAMPO DA HISTÓRIA .....................................................112
7 SALVADOR DALÍ E O TEMPO.......................................................................................................112
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................116
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117
TÓPICO 2 – HISTÓRIA E TEMPO ....................................................................................................119
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119
2 RELACIONANDO HISTÓRIA E TEMPO ....................................................................................119
3 TEMPO CÍCLICO ...............................................................................................................................120
4 TEMPO LINEAR .................................................................................................................................121
5 TEMPORALIDADE ............................................................................................................................122
5.1 PASSADO ........................................................................................................................................122
5.2 PRESENTE ......................................................................................................................................123
5.3 FUTURO ..........................................................................................................................................123
6 PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA ...................................................................................................125
7 DURAÇÃO ...........................................................................................................................................126
8 FORMAS DE CONTAR A PASSAGEM DO TEMPO .................................................................128
8.1 AS ERAS ..........................................................................................................................................130
8.2 O RELÓGIO ....................................................................................................................................131
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................135
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................136
TÓPICO 3 – OS DIFERENTES CALENDÁRIOS ............................................................................137
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137
2 OS CALENDÁRIOS DA ANTIGUIDADE ....................................................................................137
3 CALENDÁRIO JUDAICO ................................................................................................................1384 CALENDÁRIO CHINÊS ...................................................................................................................139
5 CALENDÁRIO MUÇULMANO ......................................................................................................140
6 OS CALENDÁRIOS DAS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS ........................................141
IX
7 CALENDÁRIOS NA TRADIÇÃO AFRICANA ...........................................................................142
8 CALENDÁRIOS JULIANO E GREGORIANO ............................................................................143
9 O CALENDÁRIO REVOLUCIONÁRIO FRANCÊS ...................................................................145
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................148
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................149
TÓPICO 4 – O TEMPO HISTÓRICO ................................................................................................151
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................151
2 OS HISTORIADORES E O TEMPO HISTÓRICO ......................................................................151
3 O TEMPO PARA O POSITIVISMO ...............................................................................................154
4 O TEMPO PARA O MARXISMO ....................................................................................................154
5 O TEMPO HISTÓRICO PARA KOSELLECK ...............................................................................155
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................159
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................160
TÓPICO 5 – O ENSINO DAS NOÇÕES DE TEMPO ....................................................................161
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................161
2 O ENSINO DO TEMPO NAS AULAS DE HISTÓRIA ...............................................................162
3 A UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES .................................................................................................164
LINHAS DO TEMPO NO ENSINO DE HISTÓRIA ......................................................................164
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................171
RESUMO DO TÓPICO 5......................................................................................................................173
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................175
X
1
UNIDADE 1
O QUE É HISTÓRIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade você deverá ser capaz de:
• compreender o surgimento da História;
• conhecer conceitos básicos de História;
• expor as mudanças principais no ambiente historiográfico;
• identificar diferentes perspectivas sobre os estudos historiográficos.
A unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 - AS PRIMEIRAS REFLEXÕES ACERCA DA HISTÓRIA
TÓPICO 2 - AS MUDANÇAS DA HISTÓRIA NO TEMPO
TÓPICO 3 - A MEMÓRIA, O ESQUECIMENTO E O ANACRONISMO
TÓPICO 4 - A HISTÓRIA A PARTIR DA ESCOLA DOS ANNALES
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
AS PRIMEIRAS REFLEXÕES ACERCA DA HISTÓRIA
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, nesta Unidade estudaremos sobre a origem das fontes, 
o acesso do historiador ao passado, o surgimento da História na Antiguidade e a 
compreensão dos historiadores da Antiguidade acerca da História. Entenderemos 
a função das fontes para o trabalho historiográfico e a importância de fazer 
perguntas a elas. 
Estudaremos as peculiaridades dos historiadores da Antiguidade em 
relação aos estudos historiográficos. Veremos por qual motivo Heródoto é 
considerado “o pai da História”, compreenderemos a importância de Tucídides, 
escritor da História da Guerra do Peloponeso, bem como de Plutarco, escritor de 
vários volumes das Vidas Paralelas, para os estudos historiográficos. Também 
veremos, ao final, a importância da História Eclesiástica, que tem como autor 
principal Eusébio de Cesaréria, para os estudos historiográficos.
Feita essa rápida explanação acerta do tópico, convido você à leitura 
desses temas e que envolvem as primeiras reflexões acerca do conhecimento 
histórico. Espero que os saberes presentes neste tópico o ajude a aprofundar os 
seus conhecimentos acerca dos estudos históricos e lhe deem fundamento para o 
seu trabalho de historiador.
2 AS FONTES COMO ACESSO AO PASSADO
Introdução aos Estudos Históricos é o primeiro contato do acadêmico 
com o universo que envolve o campo científico da História. É a partir deste 
módulo que o estudante começa a refletir sobre os elementos básicos do trabalho 
do historiador.
Nossa primeira reflexão sobre a História será acerca das condições em que 
acessamos as nossas fontes e a intencionalidade que pode haver por trás destas. 
Quando entramos em contato com qualquer vestígio do passado, seja ele material 
ou imaterial, devemos nos perguntar sobre a origem do documento que estamos 
investigando. Uma fonte pode estar disponível apenas por ter sobrevivido ao 
tempo, como um fóssil, ou pode ter sido guardada com a intencionalidade de 
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
4
ser preservada por um longo período. Saber a origem das documentações com as 
quais estamos lidando nos ajuda a desenvolver o nosso trabalho de História. A 
forma com que a fonte foi produzida ou armazenada pode mudar o nosso olhar 
sobre ela. Ter conhecimento das complexidades que envolvem o nosso acesso ao 
passado nos ajuda a entendê-lo melhor. 
O único acesso que temos ao passado é pelo presente, por objetos, 
textos ou recordações de indivíduos vivos que existem hinc et nunc e 
que os historiadores, com seu olhar treinado, identificam como restos 
de um passado que já não existe, como sobrevivências que podem 
ser tratadas como documentos. O universo desses vestígios constitui 
um terceiro sentido para o termo História: o de passado realmente 
existente hoje (GUARINELLO, 2003, p. 43, grifos do autor).
O nosso acesso ao passado será sempre a partir das fontes de que nos 
restaram no presente. As fontes não falam por si só. Quando o historiador entra 
em contato com a fonte, é essencial que ele faça perguntas sobre o contexto em 
que esta foi escrita. Entender o recorte espacial e temporal da fonte, bem como 
quem a escreveu, nos ajuda a entender sua existência. Enquanto historiadores, é 
essencial que façamos perguntas aos nossos objetos de estudo.
O historiador é um dos produtores da narrativa histórica. Ele, enquanto 
um escritor da ciência da História, precisa de alguns meios para produzir o seu 
saber. Segundo Guarinello, o historiador é um produtor de sentido e “impõe 
ordem ao caos da documentação, assumindo coerência e continuidade no que é, 
por si mesmo, incoerente e descontínuo” (GUARINELLO, 2003, p. 45). 
Um bom exemplo de criação de sentido pelos historiadores é o de uma 
sociedade que nos influencia muito nos dias atuais, a sociedade que denominamos 
como sociedade grega. A civilização que consideramos como pertencenteà Grécia 
Antiga não é uma civilização homogênea. Havia diversas sociedades diferentes, 
com suas peculiaridades, muitas vezes opostas entre si. A visão da Grécia 
Antiga difundida atualmente foi construída em um período temporal posterior à 
Antiguidade. 
3 A NOÇÃO DE HISTÓRIA NA ANTIGUIDADE 
Quando estudamos acerca da cultura helenística, percebemos que ela está 
presente em nossa sociedade até os dias de hoje. Ela é o fundamento de vários 
âmbitos da vida contemporânea, como o nosso sistema judiciário e as nossas 
noções de filosofia. Com a História não foi diferente. As primeiras reflexões sobre 
a História surgiram na Grécia Antiga.
 
Os historiadores da Antiguidade estavam, em certa medida, preocupados em 
buscar um discurso coerente para os seus relatos. Xenofonte, por exemplo, ao narrar 
a vida do rei persa Ciro, buscava narrar os relatos dessa personagem associados a 
uma investigação própria, preocupado com a credibilidade de sua obra. 
TÓPICO 1 | AS PRIMEIRAS REFLEXÕES ACERCA DA HISTÓRIA
5
Heródoto, considerado o Pai da História, buscava se distanciar de Hecateu 
de Mileto por vê-lo apenas como um contador de relatos.
“Pai da História” (pater historiae) é o epíteto conferido a Heródoto pelo 
orador romano Cícero no século I a.C., em sua obra Das Leis, I, 1. De 
fato, a palavra história foi uma invenção de Heródoto, uma derivação do 
termo ἵστορ (hístor), que significa “aquele que sabe”, mas aquele que 
conhece os fatos por “interrogar”, por “informar-se” a respeito de algo, 
daí “investigar”, como expressa o verbo ἱστορέω (historéō) do qual deriva 
esse substantivo. Por essas denominações, Heródoto criou a palavra 
ἱστορίαι (historíai), título de sua obra, que significa “investigações”. 
Portanto, Heródoto foi o primeiro a conceber um método histórico 
capaz de reconstituir e de explicar a história dos povos do seu tempo 
(SILVA, In: HERÓDOTO, 2015a, p. 10, grifos do AUTOR).
 
Era preocupação de Heródoto promover suas investigações e não apenas, 
como era de costume no período, confiar nas musas, que eram vistas como as 
únicas detentoras de saber. Ele se preocupava em fazer suas investigações a partir 
das testemunhas dos fatos históricos que investigava. 
O historiador foi o primeiro a relatar os acontecimentos de forma escrita 
seguindo um método, porém, a forma como Heródoto escrevia História se 
difere da escrita da História nos dias atuais. Diferente da pesquisa científica 
da modernidade, há no historiador “a influência, sobretudo, de dois gêneros já 
existentes em sua época: a poesia épica e a filosofia” (SILVA, 2015b, p. 40).
FIGURA 1 – BUSTO DE HERÓDOTO
FONTE:<https://haber.kursistem.com/dorieus.html>. Acesso em: 13 mar. 2020.
Os estudos do historiador se transformaram em uma série de livros. Está 
é denominada Histórias e contém 9 volumes. O primeiro volume das séries de 
Heródoto é dedicado a Clio. Este volume trata das Guerras Persas e transforma as 
Histórias Orais do período em narrativa (SILVA, In: HERÓDOTO, 2015a, p. 23).
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
6
Os livros da série de Heródoto são dedicados as musas gregas. Silva (2015a) 
apresenta os nove livros dedicados, sequencialmente a Clio, a musa da História; Euterpe, 
musa da lírica e da música de flauta; Talia, musa da comédia; Melpomene, musa da 
tragédia; Terpsícore, musa da dança; Érato, musa dos hinos e da música para lira; Polímnia, 
musa dos cantos sacros; Urânia, musa da astronomia; Calíope, musa da poesia épica. 
(SILVA, In: HERÓDOTO, 2015a).
NOTA
Outro historiador de fundamental importância para a História da 
Antiguidade foi Tucídides. Assim como Heródoto, Tucídides também escreveu a 
História sobre uma guerra. Seu relato foi acerca da guerra entre os peloponésios 
e os atenienses, a obra é denominada História da Guerra do Peloponeso (GASTAUD, 
2001, p. 133-134). Este foi o seu único escrito. A guerra também foi tema de vários 
outros escritos historiográficos da Antiguidade, sendo que Xenofonte, Políbio, 
César, Tito Lívio e Salústio também tiveram em seus estudos os temas guerra e 
revolução (MOMIGLIANO, 1993, p.144 apud GASTAUD, 2001, p. 133).
Assim como aconteceu em relação a Heródoto, “o universo de Tucídides 
é o universo da filosofia, da sofística e da tragédia” (GASTAUD, 2001, p. 133). 
Há referências em alguns autores “a um encontro de Heródoto, historiador da 
guerra entre os persas e os gregos, já famoso na época, “[...] Tucídides ter-se-ia 
emocionado até as lágrimas, revelando a sua vocação de historiador” (KURY, 
2001, p. XLI e XLII). Porém, mesmo com um tema de estudo semelhante, os 
historiadores desenvolvem sua escrita da História de formas distintas. 
Hartog destaca a diferença que existe entre os parágrafos introdutórios 
de Heródoto e Tucídides, a “rapprocher les deux overtures, on voit que 
l’exposition hérodotéenne est remplacée par l’ecriture thucididéenne”: 
enquanto Heródoto apresenta/expõe (apodexis) o resultado de 
suas investigações, Tucídides escreve (sunégrapse) a guerra entre 
peloponésios e atenienses. O termo empregado por Heródoto pertence 
ao mundo da oralidade, o termo utilizado por Tucídides o instala, 
au debut, no mundo da escritura (GASTAUD, 2001, p. 135, grifos do 
autor).
Tucídides demostra a sua escolha por narrar os fatos mais notáveis. O 
historiador, com sua base em conhecimento militar e arqueologia, faz críticas à 
poesia de Homero e também critica o engrandecimento dos fatos nos relatos do 
poeta, que tinham a intencionalidade de imortalização. Ele faz questão, também, 
de separar a tarefa dos historiadores e dos poetas. (LIMA; CORDÂO, 2010, p. 
270-274). 
Tucídides observa que a investigação do caráter verdadeiro dos fatos 
através de evidências (tekmeríon) e de vestígios arqueológicos (semeíon) 
constitui a diferença essencial da história em relação à poesia. Parte 
TÓPICO 1 | AS PRIMEIRAS REFLEXÕES ACERCA DA HISTÓRIA
7
dessas evidências foi encontrada por Tucídides nas próprias obras dos 
poetas que, para ele, contribuíram, ao menos, para o estudo das coisas 
antigas (LIMA; CORDÂO, 2010, p. 274).
Heródoto e Tucídides foram contemporâneos, porém, apesar de Tucídides 
conhecer o termo História, cunhado por Heródoto, que significa investigações, o autor 
nunca utilizou a palavra História ou mencionou Heródoto diretamente em seus escritos 
(GASTAUD, 2001, p. 156).
NOTA
FIGURA 2 – BUSTO DE TUCÍDIDES
FONTE: <https://minionu15anoscgp421ac.files.wordpress.com/2014/09/tucidides.
gif?w=253&h=300>. Acesso em: 13 mar. 2020.
Caso você queira saber mais sobre o tema, as historiadoras Marinalva Vilar de 
Lima e Michelly Pereira de Sousa Cordão relatam em seu artigo não apenas sobre como 
Xenofonte, Heródoto e Tucídides faziam suas pesquisas. Elas também abordam, no texto 
denominado História e Historiografia Antigas: A Construção de um Gênero Discursivo, 
as formas de abordar o passado de investigadores como Tito Lívio, Tácito, Aristóteles, 
Horácio e Cícero.
NOTA
Um outro historiador clássico na Antiguidade e estudado até os dias 
atuais foi Lúcio Méstrio Plutarco. 
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
8
FIGURA 3 – PLUTARCO
FONTE: <https://vidasfamosas.com/2009/10/05/plutarco-el-gran-historiador-griego/> Acesso 
em:13 mar. 2020.
Plutarco é um grande nome da Antiguidade, conhecido por escrever Vidas 
Paralelas. Nesta obra ele sempre compara as biografi as de um grego e um romano. 
Dentre elas, comparou as vidas de Temístocles e Camilo; Alexandre Magno e Júlio 
César; Demóstenes e Cícero.
Plutarco, ao realizar seus estudos, preocupou-se com vários aspectos do 
trabalho do historiador. Dentre eles, as fontes utilizadas e a credibilidade dos 
conteúdos. O historiador realizou os seus trabalhos em consonância com os 
estudos historiográfi cos da época, sua metodologia era própria de um historiador 
(SILVA, 2006).
Recomendamos a leitura da obra Plutarco Historiador: Análise das Biografi as 
Espartanas, da historiadora Maria Aparecida de Oliveira, caso você tenha interesse em 
aprofundar as análises sobre a forma como o historiador construiusuas análises das 
biografi as.
Um bom livro para se aprofundar no assunto é As raízes clássicas da 
historiografi a moderna, de Arnaldo Momigliano. O historiador relata, em seis capítulos, 
diversas infl uências historiográfi cas da Antiguidade na modernidade. 
DICAS
DICAS
TÓPICO 1 | AS PRIMEIRAS REFLEXÕES ACERCA DA HISTÓRIA
9
4 A HISTORIOGRAFIA ECLESIÁSTICA
A influência da religião cristã na escrita da História é indispensável. 
Eusébio de Cesaréia e a sua História Eclesiástica dá início a uma nova maneira de 
pensar a escrita histórica. Ele “foi o primeiro a escrever a História da Igreja a partir 
do ponto de vista do fiel, ele abriu um novo período na história da historiografia” 
(MOMIGLIANO, 2004, p. 195). A historiografia eclesiástica tem características 
específicas.
Definimos o que nos parecem ser os elementos essenciais da 
historiografia eclesiástica: a inter-relação contínua entre dogmas e 
fato; o significado transcendental atribuído ao período das origens; a 
ênfase na documentação factual; a necessidade sempre presente em 
relacionar os acontecimentos das Igrejas locais ao corpo místico da 
Igreja Universal (MOMIGLIANO, 2004, p. 194).
 
FIGURA 4 – EUSÉBIO DE CESARÉIA
FONTE: <https://institutobiblicosapiranguense.files.wordpress.com/2009/04/eusebio-de-
cesareia.jpg>. Acesso em: 13 mar. 2020.
O historiador da Igreja não encontrou nenhum opositor a seus escritos e 
também teve, no mínimo, quatro sucessores do seu trabalho. Foram eles Sócrates, 
Sozomeno, Gelásio e Teodoreto (MOMIGLIANO, 2004). 
Os escritos de Eusébio influenciaram também historiadores na Idade 
Média. Ele foi lido por intelectuais como Gregório de Tours, Beda, Isidoro e 
Santo Agostinho. O bibliotecário Anastácio, junto com João Diácono, cogitou a 
possibilidade de “reviver o tipo de história universal eclesiástica característico 
de Eusébio” (MOMIGLIANO, 2004, p. 205), o que nunca aconteceu. Diferente 
da Antiguidade, “o padrão dominante de história medieval eclesiástica é aquele 
que enfatiza os acontecimentos locais de uma sé ou de um mosteiro particular” 
(MOMIGLIANO, 2004, p. 205). A História Eclesiástica de Eusébio também teve a 
sua influência no início da Idade Moderna, no período da Reforma Protestante, 
“o que os protestantes e cristãos queriam provar era que eles tinham a autoridade 
dos primeiros séculos da Igreja do lado deles” (MOMIGLIANO, 2004, p. 209). 
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
10
UMA MORFOLOGIA DA HISTÓRIA:
AS FORMAS DA HISTÓRIA ANTIGA
Norberto Luiz Guarinello
Comecemos com uma pergunta bastante ampla: o que é História 
Científica? Qual seu objeto de estudo? Não é uma pergunta fácil. Em minha 
perspectiva, o objeto da História não é algo real, no sentido de ser uma coisa, 
algo que possa ser definido com precisão dentro de claros limites espaciais, 
cronológicos e conceituais. A História científica, em todos seus campos de 
especialização, opera de fato com formas (ou, antes, fôrmas), mediante as 
quais os historiadores tentam dar sentido ao passado, criando uma sensação 
de realidade e de completude (ANKERSMIT, 1988). Esta afirmação tem tons 
pós-modernistas sem dúvida, mas não estou preocupado aqui com o debate 
sobre o suposto caráter retórico ou fictício da disciplina. Aceito o estatuto 
científico da História e a validez e utilidade de seus produtos1. O problema 
que desejo investigar são essas “formas” que há pouco mencionei, pelas quais 
o historiador tenta fazer o passado inteligível para o presente.
O que é uma forma no trabalho de um historiador? Para entender 
o sentido dado aqui a esta palavra tenho que fazer algumas observações 
preliminares. Primeiramente, é importante ter em mente o modo como 
os historiadores produzem e escrevem História. Normalmente, História é 
pensada como res gestae, ou como narratio rerum gestarum, ou seja, o passado 
como tal, como aconteceu realmente, ou sua reconstrução ou narrativa por um 
especialista, um cientista moderno, porém, os historiadores não narram ou 
reconstroem o passado, pela razão simples que o passado nos é inacessível, 
não existe mais e não pode ser reavivado ou recuperado como realmente foi. 
O único acesso que temos ao passado é pelo presente, por objetos, textos ou 
recordações de indivíduos vivos que existem hinc et nunc e que os historiadores, 
com seu olhar treinado, identificam como restos de um passado que já não 
existe, como sobrevivências que podem ser tratadas como documentos. O 
universo desses vestígios constitui um terceiro sentido para o termo História: 
o de passado realmente existente hoje.
Tais vestígios, contudo (e este é um ponto crucial), não importa sua 
quantidade ou qualidade, não são o próprio passado, mas algo bastante 
diferente. Não são representativos do que aconteceu de um modo uniforme ou 
regular; não são o passado como se reduzido a uma versão pequena de si mesmo. 
São mais como escassos pontos de luz na escuridão: isolados, desordenados, 
caóticos, filtrados, irregulares. Permitem-nos falar sobre o passado sem jamais 
vê-lo. Esta possibilidade tem, porém, um custo, porque estes restos caóticos 
também determinam nossas visões do passado. Realidades que não deixaram 
vestígios, fossem importantes ou não, desapareceram completamente, estão 
fora de alcance, permanecerão sempre desconhecidas, coisas esquecidas. 
Mas até mesmo o que sobreviveu só nos permite representar o passado de 
TÓPICO 1 | AS PRIMEIRAS REFLEXÕES ACERCA DA HISTÓRIA
11
um modo muito indireto, por múltiplas mediações. Estas mediações são 
precisamente o que denominamos “Ciência da História”, e as formas são uma 
parte decisiva delas. Algumas dessas mediações, como teorias ou modelos, são 
frequentemente explícitas. Outras, como as formas, são bem menos visíveis. 
Pensemos um momento sobre essas mediações, antes de olhar especificamente 
para as formas.
Sobre o que é a História dos historiadores? É uma produção específica 
das sociedades modernas, mas também uma parte da memória coletiva, ou 
antes, uma parte da produção social da memória, e muito particular. Seu 
principal pressuposto é ser uma Ciência e, portanto, diferente da ficção 
histórica e de outros produtos da memória coletiva. Isso é assim porque, entre 
outras coisas, pressupõe que haja ordem no passado ou, em outras palavras, 
que a História (acontecida) é racional, que as sociedades humanas sempre 
foram organizadas e que seu desenvolvimento segue certos princípios (até 
mesmo se o princípio for o puro acaso). Também é científica porque considera 
que os documentos são o fundamento de qualquer reconstrução do passado, a 
base com a qual se pode confirmar ou negar realidades e a prova definitiva de 
que uma ordem existiu no passado.
Essa ordem é fixada por teorias ou modelos de realidade (cuja diferença 
não discutirei aqui). As teorias e os modelos usados por historiadores são 
precisamente pressuposições da existência de uma ordem, da mesma 
maneira que as várias teorias e modelos de realidade da Física (relativística, 
quântica). Na História, contudo, os modelos diferem grandemente entre 
si, porque a realidade social é mais complexa que a natureza. E também, é 
preciso reconhecê-lo, porque há interesses sociais diferentes, e até mesmo 
contraditórios, na produção científica da memória, e estes interesses mudam 
com o passar do tempo.
Teorias e modelos são mediações. Têm um papel fundamental na prática 
da História, no modo como os historiadores a escrevem. Estes selecionam 
fatos entre os vestígios (os documentos), baseando-se em certas teorias da 
sociedade e da ação humana e em modelos mais específicos da sociedade 
que querem estudar. Teorias e modelos são cruciais; são modos de encarar 
os objetos pesquisados, de selecionar fatos pertinentes e pô-los em relação. 
Mesmo quando implícitos, teorias e modelos são modos de transformar os 
vestígios em interpretações do passado e de propor reconstruções específicas 
da história humana ou de partes dela. Eles relacionam os fatos desconexos 
que aparecem nos documentos de vários modos, por exemplo,considerando-
os concomitantes ou colocando-os em relação de causa e efeito. Se, para um 
historiador, eventos políticos ou a atitude das elites forem fatores decisivos na 
História, ele selecionará informações dos documentos para extrair eventos e 
relacioná-los, explicando ou interpretando uma realidade passada de modo a 
que faça sentido. Se conferir, porém, prioridade à economia como a dimensão 
explicativa na estruturação das sociedades humanas, selecionará fatos 
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
12
econômicos e os colocará em uma certa ordem, seja privilegiando as relações 
de propriedade e produção, como o fazem os marxistas, seja atribuindo mais 
importância às relações de troca, ao mercado, e assim por diante. 
Teoria, modelos e documentação são assim complementares e 
inseparáveis. Isto é mais ou menos consensual. Quero ressaltar outro ponto. Há 
uma outra dimensão dentro da prática da História para a qual os historiadores 
raramente voltam sua atenção. A associação entre teoria, modelos e documentos 
não basta para explicar o trabalho do historiador e a interpretação do passado 
que propõe. Aqui entram as formas. Para definir o que são formas, temos que 
ir por partes.
1. Contento-me aqui em transcrever as palavras de Cameron (1989, p. 
206): “At least some elements in most historical narratives can in principle be falsified: 
it follows then that a historian’s relation to some such concepts as ‘truth’ must of 
necessity be different from that of, say, a novelist or a literay critic. The abandonement 
of this relation not only brings History in a Derridean denial of its own value, but also 
removes all distinctions between it and other narrative forms”. 
2. The demonstration could be repeated from what one is tempeted to call 
primary evidence, but evidence conveys nothing outside a framework... It is not a bad 
idea to inspect the foundations once in a while and prod the framework” (REEVE, 
2001, p. 246) (Tradução: A demonstração pode ser repetida a partir do que se 
tenta chamar de evidência primária, mas a evidência não transmite nada fora 
de uma estrutura... Não é uma má idéia inspecionar as fundações de vez em 
quando e estimular a estrutura.). 
(GUARINELLO, 2003, p.42-45)
13
Neste tópico, você aprendeu que:
• As fontes são o acesso do historiador ao passado. É indispensável o 
questionamento das mesmas para uma investigação historiográfica de 
qualidade.
• Os historiadores da Antiguidade estavam preocupados com uma investigação 
séria em seus estudos.
• O conceito de História foi uma invenção de Heródoto, escritor das Histórias.
• Tucídides, em suas investigações sobre a História, a diferencia da poesia.
• Plutarco foi um grande biógrafo da Antiguidade que escreveu biografias 
comparadas entre gregos e romanos.
• Eusébio de Cesaréia inaugurou, com seus estudos de História Eclesiástica, uma 
importante maneira de pensar a História, que influenciou os historiadores da 
Idade Média e do início da Modernidade.
RESUMO DO TÓPICO 1
14
1 As fontes históricas são a forma como o historiador acessa o passado. A 
partir do que foi apresentado sobre elas no Tópico 1, pode-se afirmar que:
I- Quando o historiador entra em contato com as fontes, é essencial que ele 
faça perguntas sobre ela. 
II- O historiador lida com um passado que não existe mais, o seu acesso ao 
passado é pelas fontes.
III- É considerado como fonte apenas os documentos que tiveram a 
intencionalidade de serem preservados ao longo do tempo.
IV- Entender o recorte espacial e temporal da fonte nos ajuda a entendê-la com 
maior profundidade.
Estão CORRETAS:
a) ( ) As afirmativas I e II.
b) ( ) As afirmativas I e IV.
c) ( ) As afirmativas I, II e IV.
d) ( ) As afirmativas II, III e IV.
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
2 Os historiadores da Antiguidade não tinham critérios delimitados e pré-
definidos para a escrita da História, mas eles estavam preocupados com o 
seu oficio. Retome o conteúdo deste tópico atribuindo V para as sentenças 
verdadeiras e F para as sentenças falsas:
( ) Heródoto tinha como maior inspiração para a sua escrita o pensador 
Hecateu de Mileto. 
( ) Tucídides, que tinha base em conhecimento militar e arqueologia, fazia 
elogio às poesias de Homero.
( ) Xenofonte, em sua narrativa, buscava narrar os relatos dos personagens 
associados a uma investigação própria. 
( ) Plutarco foi um historiador da Antiguidade muito conhecido por escrever 
as Vidas Paralelas, relatos históricos que comparavam as biografias de um 
grego e um romano.
Agora assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
a) ( ) V – V – V – V.
b) ( ) F – F– V – V.
c) ( ) V – V – F – F.
d) ( ) V – F – F – V.
e) ( ) F – V – V – F.
AUTOATIVIDADE
15
TÓPICO 2
AS MUDANÇAS DA HISTÓRIA NO TEMPO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico estudaremos concepções de História que 
são fundamentais para a modernidade. A primeira noção abordada é a História 
como Mestra da Vida, expressão que foi criada por Cícero, mas atravessou a Idade 
Média e perdurou até o Século XVIII. Também aprenderemos sobre a mudança do 
conceito de História, de Historie para Geschichte, em língua alemã. Esta mudança 
altera a função da História nos estudos historiográficos. 
Adentraremos também no entendimento das Filosofias da História e um 
movimento influenciado por estas, o Positivismo. O próximo tema será o momento 
em que a História se torna uma disciplina científica e, com ele, o surgimento do 
Historicismo. Por último, refletiremos acerca da Objetividade e da Subjetividade 
da História. Feito este esclarecimento do tópico, esperamos que estes temas lhe 
ajudem a construir o aporte teórico necessário para o ofício do historiador.
2 A HISTÓRIA COMO MESTRA DA VIDA
O termo em latim, História Magistra Vitae, é traduzido para o português 
como História Mestra da Vida. Esta expressão de Cícero já foi fortemente aceita e 
utilizada pela historiografia. A partir dela tem-se intenção de estudar o passado 
como um exemplo, a fim de não repetir erros. A partir desta forma de pensar “a 
história seria um cadinho contendo múltiplas experiências alheias, das quais nos 
apropriamos com um objetivo pedagógico” (KOSELLECK, 2006, p. 42). Porém, 
esta noção de História já recebeu e ainda recebe críticas no meio historiográfico. 
Ela foi considerada como útil por muito tempo, pois com ela era possível 
usufruir dos exemplos do passado em benefício do presente. Porém, ela também 
foi utilizada como uma forma de manipulação para obter benefícios. Há um relato 
onde Friedrich von Raumer nos concede um exemplo, como podemos ver abaixo:
Durante uma reunião em Charlottenburg, Oelssen [chefe de 
departamento no Ministério das Finanças] defendia vivamente a impressão de 
grande quantidade de papel-moeda para pagar dívidas. Uma vez esgotados 
os argumentos contrários, eu (conhecendo meu homem) disse com demasiada 
ousadia “Mas senhor Conselheiro Privado, o senhor certamente se lembra que 
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
16
já Tucídides falava do mal que sucedeu quando, em Atenas, decidiu-se imprimir 
papel-moeda em grande quantidade”. “Essa é uma experiência de grande 
importância”, ele retrucou em tom conciliador, deixando-se assim convencer, 
para manter a erudição (von RAUMER, 1861, p. 118 apud KOSELLECK, 2006, p. 
42).
Com este relato podemos perceber que a História como Mestra da Vida 
foi utilizada, neste contexto, sem compromisso com a verdade. A intenção era 
defender interesses próprios.
FIGURA 5 – BUSTO DE CÍCERO
FONTE:< https://p2.trrsf.com/image/fget/cf/940/0/images.terra.
com/2014/05/14/140514cicerohistoriavoltaire3.jpg > Acesso em: 13 mar. 2020.
A noção de Cicero atravessou o período da Idade Média. As obras do 
historiador foram catalogadas em mosteiros. A Igreja Católica demonstrou, de 
início, certa resistência à Historia Magistra Vitae de Cícero e seu caráter pagão. 
Porém, clérigos influentes, como Isidoro de Sevilha e Beda, defenderam desta 
forma de pensar a História. Ambosos clérigos “contribuíram para que também 
o motivo das máximas profanas conservasse algum lugar, ainda que subalterno, 
ao lado da história que era legitimada por seu conteúdo religioso” (KOSELLECK, 
2006, p. 44).
 No período do Renascimento, Maquiavel também exalta essa forma de 
pensar a História, não só com a intenção de admirar o passado, mas de imitá-
lo (KOSELLECK, 2006). Segundo Koselleck a Historia Magistra Vitae teve o seu 
significado semântico modificado ao longo no tempo, mas o uso da expressão 
“perdura quase ilesa até o Século XVIII” (KOSELLECK, 2006). 
Até este período, as transformações sociais ocorriam lentamente e os 
exemplos do passado eram proveitosos ao presente. Mas havia incoerência entre 
os que a utilizavam. Montaigne e Bodin, por exemplo, utilizaram a História 
como exemplo para demonstrar coisas opostas. Um queria romper com regras 
gerais, outro encontrá-las (KOSELLECK, 2006, p. 42-43). A Historia Magistra 
Vitae demonstrou, neste caso, certa incompatibilidade. Sendo assim, esta forma 
de pensar historicamente entrou em descrédito, com isso “não se pode mais 
TÓPICO 2 | AS MUDANÇAS DA HISTÓRIA NO TEMPO
17
esperar conselho a partir do passado, mas sim apenas de um futuro que está por 
se constituir [...] não se poderia tirar mais nenhum proveito de uma História que 
instruía por meio de exemplos” (KOSELLECK, 2006, p. 58). Na modernidade, a 
noção de História que orientava à vida das pessoas é substituída por outra noção, 
como veremos a seguir.
3 A MUDANÇA DE SIGNIFICADO NO TEMPO
O conceito de História, como já apontado, surgiu na Antiguidade. Os 
historiadores do período não tinham uma formação específica e o significado que 
competia ao termo na Antiguidade não lhe compete nos dias atuais.
A palavra Historie era utilizada para relatar os acontecimentos, porém, ela 
foi substituída, no início da modernidade, por outro termo. 
Se a velha história [Historie] foi arrancada de sua cátedra, e, 
certamente, não apenas pelos iluministas, a quem tanto aprazia servir-
se de seus ensinamentos, isso aconteceu na esteira de um movimento 
que organizou de maneira nova a relação entre passado e futuro. Foi 
finalmente “a história em si” [die Geschichte selbst] que começou a abrir 
um novo espaço de experiência. A nova história [Geschichte] adquiriu 
uma qualidade temporal própria. Diferentes tempos e períodos 
de experiência, passíveis de alternância, tomaram o lugar outrora 
reservado ao passado entendido como exemplo (KOSELLECK, 2006, 
p. 44, grifos do autor)
Na língua alemã a palavra Historie aludia a narrativa de algo, enquanto 
Geschichte aludia a um acontecimento ou a uma série de ações cometidas ou 
sofridas. Ao fim, o uso do conceito Geschichte predominou. 
Por ora, o conceito Historie perdeu para Geschichte a pretensão de ser 
História como Mestra da Vida. Porém, o conceito Geschichte também abandonou, 
com o tempo, essa pretensão (KOSELLECK, 2006). A palavra Geschichte “de 
maneira imperceptível e inconsciente, e por fim com a ajuda de diferentes 
reflexões teóricas, condensou-se no coletivo singular” (KOSELLECK, 2006, p. 50). 
Com a singularização da História, “a Historie foi destituída de seu objetivo de 
atuar imediatamente sobre a realidade” (KOSELLECK, 2006, p. 57).
A noção de História como Geschichte, ou seja, um coletivo singular, 
trouxe vários benefícios a historiografia. Uma das mudanças significativas é que, 
diferente das expectativas do termo Historie, as expectativas do termo Geschichte 
eram de se aproximar de uma História verdadeira, uma História real, a realidade 
histórica. 
A ideia de coletivo singular possibilitou outro avanço. Permitiu que se 
atribuísse à história aquela força que reside no interior de cada acontecimento que 
afeta a humanidade, aquele poder que a tudo reúne e impulsiona por meio de um 
plano, oculto e manifesto, um poder frente ao qual o homem pôde acreditar-se 
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
18
responsável ou mesmo em cujo nome pôde acreditar estar agindo. (KOSELLECK, 
2006, p. 52).
Com a mudança do conceito de História, no meio historiográfico, de 
Historie para Geschichte, a História abandona a pretensão de ser uma coleção de 
exemplos. Ela se preocupa com os pequenos acontecimentos, o singular.
4 AS FILOSOFIAS DA HISTÓRIA E O POSITIVISMO
No início da profissão de historiador os caminhos a se seguir não estão 
completamente claros. Dentre as dúvidas, nos questionamos se o nosso labor 
é considerado uma ciência, pois, afinal, produzimos narrativas. Trataremos, a 
seguir, sobre as Filosofias da História e sobre um movimento subsequente a este, 
o da transformação da História em uma disciplina científica.
O termo Filosofia da História foi cunhado por François-Marie Arouet, 
conhecido pelo pseudônimo Voltaire, na França do Século XVIII. Ele é dos 
conhecidos pensadores do Iluminismo.
Esses filósofos do Século XVIII, que chamamos hoje de iluministas, 
definiam a si mesmos como homens do “século das luzes”. Para eles 
o Século XVIII foi o ápice da maturidade intelectual e racional do 
homem. Mas tais filósofos não seguiam uma única e coerente corrente 
de pensamento, pelo contrário, possuíam múltiplos discursos, não 
tinham nenhum manifesto ou programa de ideias, e muitos, inclusive, 
se contestavam mutuamente. Essas divergências dificultam a definição 
do Iluminismo como um movimento, pois não havia coerência de 
pensamento. Todavia, a maioria desses pensadores compartilhava 
algumas ideias em comum: a defesa do pensamento racional, a crítica 
à autoridade religiosa e ao autoritarismo de qualquer tipo e a oposição 
ao fanatismo (SILVA; SILVA, 2009, p. 210, grifos dos autores).
 
Sob os ideais do iluminismo francês, Voltaire também era defensor do 
despotismo esclarecido, que é a inserção de ideais iluministas em monarquias.
FIGURA 6 – VOLTAIRE. NICOLAS DE LARGILLIÈRE, 1928.
FONTE: <http://opiniaoenoticia.com.br/wp-content/uploads/2014/11/Voltaire-e1447866215942.
jpg> Acesso em: 13 mar. 2020.
TÓPICO 2 | AS MUDANÇAS DA HISTÓRIA NO TEMPO
19
Dentre os intelectuais que criaram uma Filosofia da História temos também 
o iluminista alemão Immanuel Kant (1724-1804), A Filosofia da História de Kant 
ambiciona chegar ao Esclarecimento (Aufklärung), que “é a saída do homem da 
menoridade pela qual é o próprio culpado. Menoridade é a incapacidade de 
servir-se do próprio entendimento sem direção alheia” (KANT, 2009, p. 407, 
grifos do autor). Este texto, bem como demais obras de Kant, são fundamentais 
para os intelectuais até os dias atuais. 
 
As Filosofias da História também foram criadas por intelectuais 
desvinculados ao Iluminismo. Elas também não se restringiram ao Século XIX. 
Outros pensadores conhecidos e importantes também criaram suas visões 
escatológicas do mundo. A Filosofia da História de Georg Wilhelm Friedrich 
Hegel defendia “auto reconhecimento do espírito através da Racionalidade” 
(RODRIGUES, 2017, p. 47), a de Karl Marx tinha como objetivo final o comunismo.
Escatologia é o “estudo do fim”. Como nos explica Abbagnano, este é um “termo 
moderno que indica a parte da teologia que considera as fases ‘finais’ ou extremas’ da vida 
humana ou do mundo. [...] Os filósofos usam às vezes esse termo para indicar a consideração 
dos estágios finais do mundo ou do gênero humano” (ABBAGNANO, 2007, p. 334).
NOTA
Como acabamos de apresentar, a Filosofia da História de Voltaire 
influenciou várias outras. Segundo Barros, dois ideais Iluministas foram de 
grande importância para o Positivismo do Século XIX, são eles “a perspectiva 
universalista” e “a busca por leis gerais que estariam por trás do desenvolvimento 
das sociedades humanas” (BARROS, 2011, p. 86). 
 
[...] é particularmente importante, para percebermos a essência 
do pensamento positivista da primeira hora, considerar que esta 
passagem de modelo iluminista ao modelo positivista envolveu uma 
reapropriação conservadora das ideias, que tinham desempenhado 
um papel importante no contexto revolucionário francês (BARROS, 
2011, p. 86).
 
OPositivismo estabelece certa continuidade do Iluminismo, ele “iria 
acrescentar, ao ideal iluminista de Progresso, o conceito de Ordem” (BARROS, 
2011, p. 91).
O fundador do Positivismo foi Augusto Comte. Comte formulou a Lei dos 
Três Estados da Humanidade. O primeiro, que seria a infância da humanidade, 
era a religião; em seguida, a filosofia representava a adolescência da humanidade; 
e, por último, a ciência era vista por Comte como a fase adulta da humanidade. 
Sell (2001) nos explica o estado positivo que Comte idealizou a seguir:
 
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
20
Estado positivo ou científico: o homem tenta compreender as relações 
entre as coisas e os acontecimentos através da observação científica e 
do raciocínio, formulando leis; portanto, não procura mais conhecer a 
natureza íntima das coisas e as causas absolutas. As causas primeiras 
e absolutas são substituídas pela observação da relação entre os 
fenômenos, mediante a rigorosa pesquisa científica (SELL, 2001, p. 13, 
grifos do autor).
 
Ainda há quem defenda o Positivismo em nossa contemporaneidade. Na 
Bandeira do Brasil está estampada o lema positivista “ordem e progresso” (SELL, 
2001, p. 11). Também foram criados alguns templos positivistas em nosso país. 
Um dos templos é situado no Rio de Janeiro, foi construído no Século XIX e hoje 
funciona como um museu, porém está interditado atualmente.
 
Oposto ao Positivismo, o próximo tema, o Historicismo, não segue mais 
os ideais Iluministas. 
5 O HISTORICISMO E A CIÊNCIA DA HISTÓRIA
A Alemanha é unificada apenas no ano de 1871, mas os territórios 
unificados carregavam histórias e identidades diferentes. O novo país precisava 
de uma identidade compartilhada e uma História comum. Os historiadores, com 
intenção de elaborar uma História comum a todos os estados do Império Alemão, 
começaram a pensar em uma Ciência da História. Sendo assim, a Unificação da 
Alemanha coincidiu com a constituição da Ciência da História (BENTIVOGLIO, 
2011). Este período foi, posteriormente, conhecido como o surgimento do 
Historicismo.
Entende-se por “historicismo” a época do desenvolvimento da ciência 
histórica, na qual esta se constituiu, como ciência humana compreensiva, 
sob a forma de uma especialidade acadêmica. Cronologicamente essa 
época se situa no século XIX e, embora seus principais representantes 
sejam historiadores alemães (Niebuhr, Ranke, Droysen, Mommsen), 
não se deve esquecer de que se trata de um fenômeno de história 
da ciência e da inteligência que abrangeu toda a Europa. Como os 
poucos historiadores brasileiros do século XIX (Francisco Varnhagen, 
Capistrano de Abreu) são intelectualmente “europeus”, o historicismo 
os inclui igualmente. Deve-se destacar também que o historicismo 
foi importante não apenas no desenvolvimento da ciência histórica. 
Deve-se recordar também que sua concepção própria de história, do 
método de pesquisa e do valor formativo do conhecimento histórico 
influenciou a evolução de diversas outras ciências, notadamente as 
sociais. (MARTINS, 2004, p. 2, grifos do autor).
TÓPICO 2 | AS MUDANÇAS DA HISTÓRIA NO TEMPO
21
O historicista Johann Gustav Droysen (1818-1884) elaborou um Manual de 
Teoria da História que é dividido nos capítulos A Metódica, A Sistemática e A Tópica. Este é 
um bom material para compreender a Ciência da História no Século XIX.
DICAS
FIGURA 7– UNIFICAÇÃO DA ALEMANHA (1871)
FONTE:<https://abrilguiadoestudante.files.wordpress.com/2016/07/gehistoria-10-63-ed.
jpg?quality=100&strip=info&w=700&h=458>. Acesso em: 13 mar. 2020.
A criação de um ambiente científico para a História na Alemanha do 
Século XIX definiu as diretrizes da nossa disciplina.
A História cujo renascimento se organiza e estrutura na passagem do 
Iluminismo para o Romantismo e se consolida ao longo do Século XIX 
nos cenários do positivismo, do historicismo, das escolas metódicas 
[...] é a História como ciência. História como ciência, cujos resultados 
historiográficos são expressos em narrativas que encerram argumentos 
demonstrativos articuladores da base empírica da pesquisa e da 
interpretação do historiador em seu contexto. A historiografia, assim, 
encerra em si as características de ser empiricamente pertinente, 
argumentativamente plausível e demonstrativamente convincente 
(MARTINS, 2010, p. 10).
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
22
Leopold von Ranke (1795-1886) é o principal nome do Historicismo 
alemão, considerado o pai do Historicismo. Para ele a História é simultaneamente 
ciência e arte. A História “é ciência na medida em que recolhe, descobre, analisa 
em profundidade; e arte na medida em que representa e torna a dar forma ao que 
é descoberto, ao que é apreendido” (RANKE, 2015, p. 202). Ranke também definiu 
as exigências das quais resultam a pesquisa histórica. Estas são, para ele: O amor 
à verdade, a investigação documental, o interesse universal, a fundamentação do 
nexo causal e o apartidarismo (RANKE 2015, p. 207-2010). 
O Positivismo e o Historicismo são muitas vezes considerados como o 
mesmo movimento, a partir de uma frase de Ranke. É a frase em que o historiador 
afirma que tem a intenção de expor as coisas como elas realmente aconteceram 
(wie es eigentlich gewesen). Quando analisamos a frase de perto percebemos que 
ela criticava dois movimentos: a Historia Magistra Vitae e as Filosofias da História. 
Sendo assim, as críticas são uma visão errônea sobre o historiador e sobre o 
Historicismo. Diferente do Positivismo, que tinha um caráter universalista, 
ou seja, a busca por leis gerais, o Historicismo tem duas dimensões principais 
opostas ao Positivismo, são elas “o caráter dinâmico e mutável e histórico” e “a 
sua inefável singularidade” (MATA, 2008, p. 50).
Para entender melhor como a Historia estava sendo pensada no ocidente no 
Século XIX recomendamos a leitura da obra A História Pensada e em especial o texto O 
conceito de História Universal (1831) de Leopold von Ranke.
DICAS
6 A OBJETIVIDADE E A SUBJETIVIDADE PARA A HISTÓRIA
Uma importante discussão que tange o conhecimento histórico é a sua 
relação com a objetividade e a subjetividade. Quando a História se tornou uma 
disciplina científica houve uma grande discussão acerca do seu caráter objetivo, 
bem como se ela se tornaria uma ciência com caráter comprovável, como as 
ciências naturais.
A partir de um longo debate entre a comunidade historiográfica, houve 
uma separação entre a noção de ciência das Ciências Humanas e das Ciências 
Naturais. Sobre a intenção de se alcançar uma objetividade da História, Barros 
explica através de Collingwood que “a História não poderia postular alcançar um 
tipo de objetividade análogo à das ciências naturais, e a operação historiográfica 
achar-se-ia radicalmente imersa na subjetividade do historiador” (BARROS, 2011, 
p. 169).
 
TÓPICO 2 | AS MUDANÇAS DA HISTÓRIA NO TEMPO
23
Para compreender as discussões acerca da objetividade e da subjetividade 
da História, primeiramente vamos compreender as definições de objetivo e 
subjetivo, a partir de Adam Schaff em seu clássico História e Verdade:
1) É “objetivo” o que vem do objeto, ou seja, o que existe fora e 
independentemente do espírito que conhece; portanto, é “objetivo” 
o conhecimento que reflete (numa acepção particular desta palavra) 
este objeto;
2) é “objetivo” o que é cognitivamente válido para todos os indivíduos;
3) é objetivo o que está isento de afetividade e, portanto, de 
parcialidade.
O adjetivo “subjetivo” designa respectivamente:
1) o que vem do sujeito;
2) o que não possui um valor cognitivo universal;
o que é emocionalmente colorido e, por esse motivo, parcial. (SCHAFF, 
1995, p. 280)
O historiador ainda complementa que o conhecimento histórico sempre 
está ligado a um sujeito, o sujeito que conhece. Neste caso, haverá sempre a 
subjetividade do sujeito no conhecimento (SCHAFF, 1995). Sendo assim, o 
historiador divide a subjetividade em duas categorias. A primeira categoria é 
a boa subjetividade, “ou seja, aquela que provém da essênciado conhecimento 
como relação subjetivo-objetiva e do papel ativo do sujeito no processo cognitivo” 
(SCHAFF, 1995, p. 282) enquanto a má subjetividade é “a subjetividade que 
deforma o conhecimento por causa de fatores tais como o interesse, a parcialidade, 
etc” (SCHAFF, 1995, p. 282).
Não se pode nunca exigir do historiador a imparcialidade no sentido 
estrito deste termo. Apenas o fato histórico que o historiador estuda 
pode ser imparcial. […] A posição do historiador pode e deve ser 
científica, pode ser elevada e cada vez mais elevada, mas será sempre 
uma posição, um ponto de vista. O seu sucessor, que subirá a uma 
posição ainda mais elevada, terá um horizonte mais amplo, fará 
um juízo mais imparcial e mais fundamentado, mas, por sua vez, 
encontrará alguém para o ultrapassar (BOBRZYNSK, 1963, p. 190-191 
apud SCHAFF, 1995, p. 280).
“Se a objetividade do conhecimento devesse significar a exclusão de todas 
as propriedades individuais da personalidade humana, […] a objetividade seria 
pura ficção, porque implicaria em que o homem fosse um ser sobre-humano ou 
a-humano” (SCHAFF, 1995, p. 285). 
Não há como excluir todo o grau de subjetividade do conhecimento 
histórico, mas o historiador que trabalha de forma séria sempre terá a pretensão 
de objetividade. O que culminará no que Schaff descreve como relação subjetivo-
objetiva.
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
24
OBJETIVIDADE E SUBJETIVIDADE NO
CONHECIMENTO HISTÓRICO: A OPOSIÇÃO ENTRE OS 
PARADIGMAS POSITIVISTA E HISTORICISTA
José D’Assunção Barros
A historiografia dos Séculos XIX ao XXI oferece um arco interessante e 
diversificado de posições relacionadas à questão da oposição e interação entre 
objetividade e subjetividade em História. Praticamente o Século XIX abre-
se e encerra-se com este debate, pois além de ser o século da História, será 
constituído de décadas de confronto entre duas posições fundamentais com 
relação a esta questão: o positivismo e o historicismo. [...].
A oposição fundamental entre positivismo e historicismo dá-se em 
torno de três aspectos fundamentais: a dicotomia objetividade/subjetividade 
no que se refere à possibilidade ou não de a História chegar a leis gerais 
validas para todas as sociedades humanas; o padrão metodológico mais 
adequado à história (de acordo com o modelo das Ciências Naturais, ou um 
padrão específico para as ciências humanas); e a posição do historiador face ao 
conhecimento que produz (neutro, imerso na própria subjetividade, engajado 
na transformação social). 
Com relação aos padrões positivista e historicista, é importante ressaltar 
que, enquanto o positivismo, como paradigma, já está praticamente pronto desde 
o início do Século XIX – já que herda uma série de pressupostos do Iluminismo, 
embora por vezes invertendo a sua aplicação social e vindo a constituir de 
fato uma visão de mundo tendencialmente conservadora, ao contrário dos 
setores mais revolucionários do pensamento ilustrado – já o historicismo estará 
construindo o seu paradigma no decurso do próprio Século XIX. Influências 
mais isoladas lhe chegavam de autores precursores como Herder ou Vico, que já 
estavam no Século XVIII atentos à relatividade das sociedades humanas contra a 
tendência predominante na intelectualidade da época, o Iluminismo, que tendia 
a pensar na natureza universal do homem e em uma história ‘universalizante’, 
e não ‘particularizante’. Mas foram poucas as vozes que sintonizariam, neste 
século anterior, com as preocupações dos historicistas oitocentistas.
Os positivistas contam de fato com toda uma fortuna crítica que inclui 
as já clássicas discussões iluministas em torno de questões que lhes seriam caras: 
a possibilidade de um conhecimento humano inteiramente objetivo; a construção 
de uma história universal, comum a toda a humanidade; a possibilidade de 
amparar um conhecimento científico sobre as sociedades humanas com base na 
ideia de imparcialidade do sujeito que produz o conhecimento. Estes princípios, 
no que apresentam de mais essencial, sustentam-se sobre a noção de que haveria 
uma “natureza imutável do homem”. São estes fundamentos, que já vinham 
sendo discutidos há muito pelo pensamento ilustrado, que o positivismo 
tomaria para si, emprestando-lhes uma nova coloração. Por isto, podemos dizer 
TÓPICO 2 | AS MUDANÇAS DA HISTÓRIA NO TEMPO
25
que, no essencial das questões que irá colocar a si mesmo, o positivismo já inicia 
o Século XIX com um quadro bastante claro de seus posicionamentos, enquanto 
que já o historicismo se apresentará no decurso do Século XIX como algo que 
aqui tomaremos a liberdade de chamar de “historicismo em construção”. 
Para os primeiros historicistas, nada de fato está propriamente pronto. 
O historicismo ainda precisará construir a si mesmo, estendendo contribuições 
diversas em um arco que irá de Leopold Ranke – ainda preocupado em “narrar 
os fatos tal como eles aconteceram” – até Droysen e Dilthey, historicistas 
relativistas que já se ocupam em trazer para a historiografia uma reflexão sobre 
a subjetividade do próprio sujeito que constrói a história, bem como sobre a 
singularidade do padrão metodológico a ser encaminhado pela Historiografia: 
um padrão “compreensivo” e não “explicativo” como nas ciências naturais. 
Esta mesma discussão estende-se através do Século XX, chegando a nomes 
como Gadamer, Paul Ricoeur, e outros historicistas modernos como Marrou. Já 
pontamos alguns traços iniciais do confronto entre historicismo e positivismo. 
Poderemos prosseguir fazendo notar que a distinção fundamental entre 
positivistas e Historicistas, de um lado, refere-se ao contraste de suas 
perspectivas sobre o homem – percebido como uma natureza imutável, pelos 
positivistas, e como um ser em movimento e em processo de diferenciação, 
pelos historicistas. De outro lado, os dois paradigmas também se opõem 
precisamente no que se refere ao papel da objetividade e da subjetividade 
na produção do conhecimento histórico. Aferrados a um modelo cientificista 
que procura aproximar ou mesmo fazer coincidir os modelos das Ciências 
Naturais e das Ciências Sociais e Humanas, os positivistas tendem a enxergar 
a subjetividade – do mundo humano examinado, mas também do historiador 
– como um problema para uma história que postula ocupar um lugar entre as 
ciências. Já os historicistas, que construirão seus posicionamentos em torno 
desta questão ao longo das várias décadas do Século XIX, tenderão no limite a 
enxergar a subjetividade não como um problema, mas como uma riqueza, ou 
mesmo como aquilo o que precisamente permite à História constituir-se em 
um conhecimento dotado de uma especificidade própria. 
Haverá também, no arco historicista, os que, reconhecendo-a, buscam 
controlar a subjetividade, impor-lhe limites; mas os maiores nomes das últimas 
décadas do Século XIX, que estendem sua contribuição para uma continuidade 
com os historicistas do Século XX, chegam a realizar efetivamente a virada 
relativista, e a lidar com a subjetividade (inclusive a do próprio historiador) como 
algo que não compromete a cientificidade do trabalho historiográfico. Em vista 
disto, será fundamental para estes historicistas opor o paradigma explicativo 
das Ciências Naturais (e reivindicado pelos positivistas) ao paradigma da 
compreensão, aspecto que é operacionalizado de maneiras distintas por alguns 
historicistas quando contrapostos entre si. Será oportuno recolocarmos a 
contextualização sócio-política específica dos dois paradigmas – Historicista e 
Positivista – antes de passarmos a um estudo mais específico de alguns casos 
que ilustrem as posições descritas. FONTE: BARROS (2010 p. 76-78).
26
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que: 
• A expressão Historia Magistra Vitae, História como Mestra da Vida, foi cunhada 
por Cícero, na Antiguidade, e perdurou na forma ocidental de pensar a História 
até o Século XVIII. 
• A principal ideia da Historia Magistra Vitae é orientar o presente a partir do 
passado, para não repetir os erros.
•No campo historiográfico o termo Historie foi substituída pela palavra alemã 
Geschichte.
• O termo Filosofia da História foi cunhado por Voltaire, as filosofias da História 
tinham caráter escatológico.
• O Positivismo, inspirado nos ideais Iluministas, tinha uma perspectiva 
universalista e buscava leis gerais para a humanidade.
• O Historicismo preza o caráter dinâmico e mutável da História, bem como a 
singularidade.
• A Objetividade da História não é análoga a das Ciências Naturais.
• De acordo com Schaff, há sempre um grau de subjetividade no conhecimento 
histórico.
27
1 A noção de Historia Magistra Vitae, História Mestra da Vida, orientou a forma 
com que as pessoas se orientavam pela História por muito tempo. A partir 
do que foi apresentado no sobre esta no Tópico 2, pode-se afirmar que:
I- A Historia Magistra Vitae entrou em descrédito no período da Idade Média. 
II- A expressão cunhada por Cícero tem como intenção se orientar pelo 
passado, a fim de não repetir erros no presente.
III- Esta forma de pensar a História foi utilizada, por vezes, para demonstrar 
ideias opostas. Temos como exemplo Montaigne e Bodin.
IV- Com as transformações sociais do Século XVIII a Historia Magistra Vitae 
começa a ser questionada, pois para-se de esperar orientações do passado.
Estão CORRETAS:
a) ( ) As afirmativas I e II.
b) ( ) As afirmativas I e III.
c) ( ) As afirmativas III e IV.
d) ( ) As afirmativas II, III e IV.
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
2 Para Ranke uma das exigências que resultam para a pesquisa histórica é o 
interesse universal. Sobre ele Ranke (2015, p.208) afirma que “Há aqueles 
que se interessam apenas pelo estudo das instituições burguesas ou das 
constituições, pelos avanços da ciência ou pelas realizações artísticas ou 
pelos enredos políticos. A maior parte da história tratou até agora da guerra 
e da paz. Como, porém, tais campos nunca se dão apartados um do outro, 
mas estão sempre articulados e até mesmo condicionando-se mutuamente 
- como, por exemplo, os diferentes campos científicos influenciam tanto 
a política externa quanto, e sobretudo, a interna -, é necessário dedicar 
um interesse uniforme por todos eles. De outra forma nos tornaríamos 
incapazes de entender um por meio do outro, e caminharíamos rumo a uma 
meta oposta à do conhecimento”.
FONTE: RANKE, Leopold von. O conceito de história universal. Tradução: Sérgio da Mata. In:. 
Estevão de Rezende Martins. (Org.). A história pensada: teoria e método da historiografia européia 
do Século XIX. São Paulo: Contexto, 2015.
Com base na afirmativa acima, assinale a alternativa correta:
( ) Os campos científicos influenciam apenas as políticas internas.
( ) Houve uma predominância, até o escrito de Ranke, no estudo das 
instituições burguesas.
( ) Os estudos das realizações artísticas são mais importantes do que os dos 
enredos políticos.
( ) É necessário o interesse uniforme a todos os campos. De outra forma se 
caminha em direção oposta ao conhecimento.
AUTOATIVIDADE
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29
TÓPICO 3
A MEMÓRIA, O ESQUECIMENTO E O ANACRONISMO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, como temos visto ao longo do nosso livro, os estudos 
historiográficos foram se modificando ao longo do tempo. Com o passar dos 
anos, o historiador foi se especializando. A História foi se tornando, aos poucos, 
o estudo do específico. Com isso, fomos trabalhando com temas e recortes cada 
vez mais limitados, em vez de Histórias grandes e generalizadoras. Um conceito 
que passou a ser estudado pela historiografia apenas recentemente, foi o conceito 
de memória. Refletir sobre a memória é, hoje em dia, indispensável para o 
historiador. A memória pode ser dividida em três categorias: lembrar, esquecer 
e comemorar. Dentre as várias classificações da memória, a que geralmente é 
estudada pelos historiadores é a memória coletiva.
Outro conceito importante que perpassa as discussões sobre a memória, 
é o conceito de esquecimento. Nietzsche foi um dos grandes críticos do que ele 
denomina, entre nos estudos da História, como excesso de memória, porém, 
tanto ele quando outros intelectuais, nos alertam sobre o perigo que envolve o 
esquecimento.
Um terceiro termo essencial para os historiadores é o anacronismo. 
Este é um conceito controverso entre os historiadores, há os que defendem a 
sua utilização enquanto uma prática controlada e os que o abominam. Quando 
melhor conhecemos a época que estudamos, menor é o risco de agir de forma 
inconsciente e anacrônica. Convidamos você, leitor, a apreciar este tópico e 
aprender mais sobre estes temas fundamentais para os historiadores. Boa leitura!
2 A MEMÓRIA
A memória é um conceito muito importante para os estudos historiográficos 
nos dias atuais, mas não foi sempre assim. O conceito começou a ser estudado 
pela historiografia apenas na década de 1970, com os historiadores da chamada 
Nova História. No período, os estudos em outras áreas, como a psicanálise, já 
estavam avançados (SILVA; SILVA, 2009). “Quando os historiadores começaram 
a se apossar da memória como objeto da História, o principal campo a trabalhá-
la foi a História Oral” (SILVA; SILVA, 2009, p. 276), mas hoje em dia este tema 
perpassa vários campos historiográficos.
30
UNIDADE 1 | O QUE É HISTÓRIA
Para entender a memória é importante classificá-la. Dentro de seu livro 
História e Memória o medievalista Jacques Le Goff apresenta uma definição geral 
de memória. Ele afirma que: “A memória, como propriedade de conservar certas 
informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, 
graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, 
ou que ele representa como passadas” (LE GOFF, 2003, p. 419). O historiador 
afirma, ao final, que as informações podem ser passadas ou representadas como 
passadas, pois, nem toda a memória foi vivida. Levando em consideração a 
complexidade da memória ao estudo historiográfico, explanaremos sobre ela 
mais detalhadamente a seguir.
É importante se atentar que memória não é sinônimo de lembrança. A 
lembrança é pessoal e individual, já a memória pode ser tanto individual, quanto coletiva. 
A memória também não é necessariamente vivida. Ela pode ser transmitida de geração 
em geração.
NOTA
Para Martins (2008, p. 37-39) é uma constante atividade humana 
apropriar-se do tempo pela memória. Ele ainda considera que é comum na 
contemporaneidade lidar com três categorias da memória: lembrar, esquecer e 
comemorar. O historiador categoriza a memória em três sentidos. O primeiro é 
lembrar na acepção de chamar a memória, ou seja, a memória subjetiva, que está 
conectada a lembrança. O segundo é denominado lembrança provocada, isso 
significa que os documentos e monumentos nos trazem alguma lembrança. O 
terceiro tipo é o do termo comemoração, o lembrar que é de interesse individual 
e coletivo.
Dentre os tipos de memória possíveis, existe um que é mais estudado 
pelos historiadores, a memória coletiva.
O estudo histórico da memória coletiva começou a se desenvolver com 
a investigação oral. Esse tipo de memória tem algumas características 
bem específicas: primeiro, gira em torno quase sempre de lembranças 
do cotidiano do grupo, como enchentes, boas safras ou safras 
ruins, quase nunca fazendo referências a acontecimentos históricos 
valorizados pela historiografia, e tende a idealizar o passado. Em 
segundo lugar, a memória coletiva fundamenta a própria identidade 
do grupo ou comunidade, mas normalmente tende a se apegar a um 
acontecimento considerado fundador, simplificando todo o restante 
do passado. Por outro lado, ela também simplifica a noção de tempo, 
fazendo apenas grandes diferenciações entre o presente (“nossos dias”) 
e o passado (“antigamente”, por exemplo). Além disso, mais do que em 
datas, a memória coletiva se baseia em imagens e paisagens. O próprio 
esquecimento é também um aspecto relevante para a compreensão da 
TÓPICO 3 | A MEMÓRIA, O ESQUECIMENTO E O ANACRONISMO
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memória de grupos

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