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Aula 3 Curva de Phillips

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Macroeconomia Aplicada
Curva de Phillips
Prof. Thiago Marques dos Santos
thiago.santos2@docente.unip.br
Para tanto, o papel da curva de Phillips na versão aceleracionista proposta por Friedman (1985) toma o centro desta análise
Numa breve recordação, a tradicional curva de Phillips resultou de um trabalho empírico realizado por Phillips e aperfeiçoado por Lipsey, a partir dos anos de 1950. 
Isso originou um instrumento que mostrava a existência de um trade‑off entre inflação e desemprego, bem como a existência, a curto prazo, de uma taxa de desemprego natural. 
Na realidade, os trabalhos de Phillips e Lipsey apenas observaram uma relação inversa entre a:
taxa de desemprego (u) e a 
taxa de variação dos salários nominais (W).
Curva de Phillips 
(curto e longo prazos)
Curva de Phillips Keynesiana
A partir disso, em situações de recessão, em que temos altas taxas de desemprego, as variações salariais serão baixas, enquanto em períodos de crescimento as taxas de desemprego são baixas e os salários nominais crescem mais, em conformidade com a oferta e a demanda de mão de obra no mercado de trabalho. 
Nesta primeira versão da curva de Phillips, ilustrada na figura a seguir, é a demanda efetiva que determina o nível de emprego e que afeta a taxa de variação do salário nominal, o que lhe dá um caráter keynesiano.
Esse mecanismo foi contestado e modificado por Friedman (1985) e Phelps (1970) de forma a gerar‑se uma curva de Phillips monetarista. Aqui, o comportamento dos preços e do desemprego seria afetado pela vigência da teoria quantitativa da moeda revisitada alterando a dinâmica do ajustamento a curto e longo prazo. 
Logo, qualquer política econômica que visasse ao pleno emprego, através de uma maior oferta de moeda, somente a curto prazo, poderia aumentar a renda nominal da economia.
No entanto, se essa política exceder as necessidades monetárias da taxa de crescimento da renda real de equilíbrio de longo prazo, a inflação eliminará qualquer estimulo adicional à produção. Entretanto, a curto prazo, os estímulos à produção com menores taxas de juros e maiores preços elevariam a demanda por mão de obra, o que permitiria um aumento de salários nominais.
Com base nas expectativas adaptativas, o modelo pressupõe a existência de uma ilusão monetária por parte dos trabalhadores, de forma que estes perceberiam o aumento nominal como um aumento dos salários reais, resultando numa elevação da oferta no mercado de trabalho. 
Curva de Phillips 
(curto e longo prazos)
Ao mesmo tempo, os empresários só aumentariam o emprego com salários reais menores, os quais os trabalhadores não percebem, visto que a oferta de trabalho depende não do salário real efetivo, mas do salário real esperado, como conceituado por Friedman (1985). 
Como resultado do aumento da oferta e da demanda de mão de obra, a curva de Phillips de curto prazo se deslocaria para a esquerda, de CP1 para CP2:
Curva de Phillips 
(revisada)
Mas essa situação só ocorre a curto prazo, pois quando os trabalhadores se desfazem de sua ilusão monetária, ao perceberem que os preços também se elevaram, ocasionando uma situação em que os salários reais não cresceram, apesar dos aumentos nominais, voltam, neste momento, a diminuir sua oferta de mão de obra, fazendo a curva de Phillips deslocar‑se de volta para a direita. 
Como resultado disso, os impactos reais sobre a produção e o emprego se revelam nulos com o passar do tempo. Assim, qualquer aumento do estoque de moeda levaria somente a maiores salários nominais e a um aumento do nível de preços, mas com salários reais constantes. Dessa forma, a longo prazo, em razão das expectativas adaptativas, não temos frustrações das expectativas, logo não ocorre o trade‑off inflação‑desemprego e a taxa de desemprego não pode diminuir além de certo patamar, resultando no aparecimento de uma curva de Phillips de posição vertical.
Será neste processo de ajustamento, num dado nível de equilíbrio de longo prazo, que se revelará a existência da já citada taxa natural de desemprego (un) compatível com o equilíbrio de pleno emprego, dadas as características estruturais e as imperfeições dos mercados de trabalho e de bens.
Curva de Phillips 
(revisada)
Dessa maneira, no modelo monetarista, estímulos ao aumento da renda nominal a curto prazo gerariam, de forma transitória, mais empregos, produzindo também inflação, que faz a curva de Phillips de curto prazo ainda apresentar o trade‑off entre inflação e desemprego.
No entanto, a versão apresentada na figura anterior é apenas uma primeira aproximação da curva de Phillips monetarista. Ela poderia levar à ilusão de que para se obter uma menor taxa de desemprego se poderia admitir alguma taxa de inflação maior, porém estável. Os teóricos monetaristas afirmam que esta opção é impossível, visto que a inflação tenderia a crescer continuamente. A versão completa da curva de Phillips monetarista incorpora as expectativas adaptativas.
Com isso, a equação da curva de Phillips passa a expressar uma tendência de aceleração da inflação em toda a tentativa de manter o desemprego abaixo da sua taxa natural. Dessa forma, a taxa de desemprego só pode ficar abaixo da taxa natural com políticas expansionistas que aumentem continuamente não somente o nível de preços, mas também a sua taxa de variação.
Curva de Phillips 
(revisada)
Partindo‑se de uma situação com taxa de desemprego natural e inflação nula, uma política expansionista poderia produzir um aumento no emprego a curto prazo, considerando‑se a ilusão monetária dos trabalhadores, mas ao custo de um aumento de preços.
Quando os trabalhadores se dão conta de que os salários reais não aumentaram, eles diminuem a oferta de mão de obra, e a taxa de desemprego volta a subir para a natural. No entanto, como foi gerada uma taxa inflacionária, as expectativas extrapolam essa inflação para o período seguinte (trabalhadores e empresas embutem esta expectativa na negociação salarial e em seus aumentos de preços, por exemplo), de forma que a curva de Phillips vai se deslocar, gerando uma situação de equilíbrio com taxa de desemprego natural e taxa de inflação positiva (a curva de curto prazo CP2 não vai voltar para CP1, mas deslocar‑se para CP3).
Curva de Phillips aceleracionista
A constatação da tendência aceleracionista do nível de preços expressa pela curva de Phillips monetarista gerou outro nome para a taxa natural de desemprego, a chamada Nairu – sigla em inglês para Non‑Accelerating Inflation Rate of Unemployment –, ou seja, a taxa de desemprego que não acelera os níveis de inflação. É a taxa que corresponde a um equilíbrio macroeconômico, quando a inflação efetiva é igual à esperada.
A Nairu pode ser entendida como uma taxa de desemprego estrutural, uma vez que é causada por fatores de médio e longo prazo que são decorrentes da estrutura imperfeita dos mercados de trabalho e de bens. 
Em contraposição aos fatores conjunturais, de curto prazo, que são provocados por erros expectacionais sobre preços ou salários ou devido a processos de substituição intertemporal, entendidos como as variações da taxa de desemprego acima ou abaixo da Nairu, de forma que esse seria um desemprego cíclico.
Non‑Accelerating Inflation Rate of Unemployment
O custo de políticas expansionistas que tentem reduzir a taxa de desemprego abaixo de seu nível natural, obviamente, seria alto, portanto, não só por gerar uma espiral inflacionária, mas também porque, mesmo se o governo voltar atrás e eliminar a política expansionista, o desemprego voltará ao seu nível natural, mas a taxa de inflação não recuará do patamar alcançado, deixando somente de aumentar ainda mais. A taxa de desemprego natural é compatível com uma taxa estável de inflação, e não somente com inflação nula.
Por isso, a curva de Phillips de longo prazo é vertical, e não somente um ponto sobre a abscissa, demonstrando que qualquer taxa de inflação é compatível com a taxa de desemprego natural. Não existe um trade‑off estável entre inflação e desemprego. Dessaforma, para que a taxa de inflação fosse reduzida, o desemprego teria de ser elevado acima da taxa natural, sendo este o custo ou a taxa de sacrifício para uma desinflação.
Em princípio, enquanto as variações da Nairu são pouco frequentes, o desemprego cíclico tem movimentos muito frequentes. A Nairu depende de variáveis estruturais, de longo prazo, como o valor e a duração dos benefícios aos desempregados, as formas de barganha salarial e a cobertura sindical, por exemplo. No entanto, mudanças temporárias, como as da órbita da oferta agregada (por exemplo, variações nos preços do petróleo), também afetam a Nairu. Dessa forma, admite‑se que choques de oferta também alterem o nível da Nairu por um breve período de tempo.
Non‑Accelerating Inflation Rate of Unemployment
Recomendações de Política
Desse modo, no modelo monetarista, o papel da política fiscal seria ineficiente, ao passo que a política monetária deveria seguir uma regra, principalmente, por seus impactos a curto prazo no nível de produto e emprego.
Sobre a política fiscal, o modelo monetarista prega que o estado do orçamento não tem nenhum efeito significativo sobre o curso da renda nominal ou das flutuações cíclicas. Portanto, não aceita a proposição keynesiana sobre a eficácia da política fiscal, sendo adotado por Friedman (1985) o discurso de total rejeição dessa proposição, já que, neste caso, a política fiscal seria totalmente ineficaz e o importante seria a quantidade de moeda.
Se a política fiscal tivesse algum efeito, este seria certamente temporário e por isso não mereceria nenhuma atenção. Na explicação dessa situação, quando o modelo monetarista discute os efeitos de uma política fiscal, o caminho centra‑se nos efeitos de variações no orçamento governamental, em situações de onde a quantidade de moeda continua constante.
Supondo um aumento nos gastos públicos, num caso em que a arrecadação tributária não seja alterada, tais gastos devem ser financiados pela emissão de moeda ou por meio da venda de títulos. De modo similar, em uma redução na arrecadação com os gastos se mantendo inalterados, as receitas de impostos que foram perdidas devem ser substituídas pela venda de títulos ou por emissão de moeda (FROYEN, 2013, p. 243).
Recomendações de Política
Quando os casos de corte de impostos ou de aumento de gastos forem financiados pela emissão de moeda, caracterizaria uma ação de política monetária, pelo aumento de M, conjuntamente, com uma ação de política fiscal com aumento de G ou diminuição de T. 
Reproduzindo essa situação no diagrama da IS‑LM, teríamos um deslocamento simultâneo das curvas IS e LM. Até esse ponto, os monetaristas não afirmariam que há uma ineficácia da mudança de política, mas que o efeito da política é motivado pela alteração que promoveu no estoque de moeda.
A divergência com a teoria keynesiana, quanto à política fiscal, seria relacionada ao efeito de uma mudança totalmente de origem orçamentária; logo, que fosse realizada sem alteração na quantidade de moeda.
Efeitos de um aumento nos gastos do governo: o caso monetarista
Nessa figura, temos os efeitos de um aumento nos gastos do governo quando aceitamos as proposições monetaristas que determinam as inclinações das curvas IS e LM. Com um aumento nos gastos do governo, de G0 para G1, temos o deslocamento da curva IS para a direita, de IS0 para IS1. Temos neste movimento que o efeito, pela ótica monetarista, será produzir uma elevação da taxa de juros, neste caso, de r0 para r1.
Quando ao nível de renda, sua mudança será muito pequena, do ponto Y0 para Y1.
Mas quais as razões que motivam o pequeno crescimento do produto? A explicação oferecida reside nas inclinações das curvas IS e LM; portanto, leva‑se em consideração a elasticidade‑juros da demanda por moeda e da demanda por investimentos.
Efeitos de um aumento nos gastos do governo: o caso monetarista
No modelo monetarista, a elasticidade‑juros da demanda por moeda é considerada pequena, resultando numa curva LM bastante inclinada. Nessa situação, inicialmente temos um aumento da demanda agregada em razão do aumento dos gastos do governo.
Sendo a curva IS quase plana, a demanda por investimento apresenta uma alta sensibilidade em relação à taxa de juros; assim, num segundo momento, a elevação das taxas de juros irá forçar uma diminuição da demanda agregada do setor privado, via diminuição dos investimentos, quando os gastos do governo começavam a estimular o crescimento da renda. 
Essa redução na demanda agregada do setor privado é o conhecido efeito crowding out ou efeito deslocamento. Em outras palavras, os gastos públicos expulsariam os gastos privados anulando os efeitos da política fiscal sobre o nível de produto.
A posição monetarista diverge da posição keynesiana; além disso, ressalta seus efeitos sobre as flutuações econômicas. A diferença atual entre keynesianos e monetaristas com relação às políticas monetárias não questiona se a política monetária pode afetar a renda, mas se refere ao modo pelo qual a política monetária deve ser usada para estabilizar a renda.
Recomendações de Política
As autoridades monetárias poderiam anunciar e cumprir uma meta para a taxa de crescimento de M1 (moeda corrente mais depósitos a vista) de 5% ao ano. Friedman acredita que o crescimento da renda nominal seria, então, de aproximadamente 5% ao ano. 
Se a tendência de crescimento da renda real fosse de 3% ao ano, o nível de preços subiria cerca de 2% ao ano. 
O nível de 5% não é essencial, mas, qualquer que seja o nível escolhido, Friedman quer uma taxa de crescimento constante do estoque de moeda.
Os monetaristas também advertem sobre os abusos de utilizar‑se das políticas monetárias. Esses autores acreditam que mudanças no estoque de moeda tenham forte efeito sobre a renda, mas acreditam que a moeda afete a renda com alguma defasagem. O efeito mais significativo de uma ação monetária adotada hoje será sentido, acreditam eles, somente após um período de seis a dezoito meses
Recomendações de Política
Críticas e evidência Empírica
De modo geral, a influência monetarista sobre as políticas econômicas centrou‑se na regra de controle da oferta de moeda. Esse expediente foi adotado, no ano de 1979, pelo Banco Central Americano (Federal Reserve), assumindo‑se um controle da oferta de moeda para conter uma aceleração da taxa de inflação em sua economia. Medida que também foi seguida pela economia do Reino Unido no mesmo ano. 
Assim, entendia‑se que a relação moeda‑renda apresentava um comportamento estável e que o controle surtiria efeito.
Mas no período pós‑1980, a influência dos monetaristas diminui, já que em testes empíricos a relação moeda‑renda mostrava‑se crescentemente instável. Portanto, a realidade contestava uma das principais bases da teoria monetarista, ou seja, a estabilidade da velocidade da moeda ao longo do tempo. No modelo monetarista, se a oferta de moeda e o produto movem‑se praticamente juntos, a velocidade de circulação da moeda, dada pela razão (PY/M), deveria apresentar‑se estável.
Devido à constatação dessa instabilidade da relação entre a moeda e a renda, muitas instituições e o próprio meio acadêmico decretavam de certa forma o desaparecimento do monetarismo. Tal situação forçou os monetaristas a reconsiderarem suas posições em alguns pontos, o que não levou a mudança no que tange a suas concepções fundamentais.
Críticas e evidência empírica
M0 = Base Monetária Restrita = moeda emitida (papel-moeda e moeda metálica) + reservas bancárias (moeda em poder das entidades financeiras e seus depósitos no Banco Central);
M1 = moeda em poder do público (papel-moeda e moeda metálica) + depósitos à vista nos bancos comerciais. M1 é o total de moeda que não rende juros e é de liquidez imediata.
Moeda em poder do público é a quantidade de moeda emitida pela autoridade monetária menos as reservas bancárias
M2 = M1 + depósitos a prazo (depósitos para investimentos, depósitos de poupança, fundos de aplicação financeira e de renda fixa de curto prazo) + títulosdo governo em poder do público.
M3 = M2 + depósitos de poupança
M4 = M3 + títulos privados (depósitos a prazo e letras de câmbio)
M5 = M4 + capacidade aquisitiva dos cartões de crédito.
Críticas e evidência empírica
Evolução da base monetária (FED)
Evolução dos empréstimos bancários (FED)
Evolução das Reservas em Excesso
De forma conclusiva, podemos constatar, mesmo com as críticas que foram movidas ao monetarismo, sua grande influência no debate macroeconômico e, especificamente, o modelo de Milton Friedman tornando‑se parte do senso comum sobre as políticas monetárias, ainda que suas recomendações tenham perdido influência. Como destaca Froyen (2013, p. 249):
Políticas monetárias baseadas em regras ganharam popularidade entre os economistas acadêmicos e autoridades de bancos centrais. O papel dominante da política monetária na determinação da inflação foi amplamente aceito. As concepções de Friedman sobre as limitações de políticas de estabilização também permanecem fortemente influentes.
Críticas e evidência empírica

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