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ALIANÇA DE SANGUE Uma história de amor eterno do jardim a cruz Aliança de sangue. - uma história de amor eterno do jardim a cruz. Copyright @ 2016 por Leonardo Capochim Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial. Todas as citações bíblicas foram marcadas com siglas identificadoras de cada versão. Sendo: ARA (Almeida Revista e Atualizada, SBB), ARC (Almeida Revista e Corrigida, SBB), ACF (Almeida Corrigida e Fiel, Sociedade Bíblica Trinitariana), NVI (Nova Versão Internacional, Editora Vida). Primeira edição: maio de 2016 Revisão: Danielle Cristina Vieira Capa e diagramação: Selma Andrade Publicado no Brasil com autorização e todos os direitos reservados. contato@leocapochim.com mailto:contato@leocapochim.com SUMÁRIO SUMÁRIO AGRADECIMENTOS PREFÁCIO INTRODUÇÃO PARTE 1 DEFINIÇÕES E PRINCÍPIOS DE UMA ALIANÇA O QUE É UMA ALIANÇA? RAZÕES PARA UMA ALIANÇA RITUAIS EM UMA ALIANÇA PILARES DE UMA ALIANÇA PARTE 2 AS PRIMEIRAS ALIANÇAS ALIANÇA DA CRIAÇÃO ALIANÇA DO COMEÇO ALIANÇA DA PRESERVAÇÃO ALIANÇA DA PROMESSA ALIANÇA DA LEI ALIANÇA DO REINO PARTE 3 A NOVA ALIANÇA SOMBRA E REALIDADE A CEIA DO SENHOR O CAMINHO DE SANGUE: DO JARDIM À CRUZ BIBLIOGRAFIA SOBRE O AUTOR AGRADECIMENTOS Ao único Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. A razão pela qual nasci e ainda há fôlego de vida em mim é por causa de Ti. Você me amou quando eu ainda era apenas um projeto em seu coração e nunca me desamparou. Obrigado por tua fidelidade. A minha amada esposa, Vanessa Capochim. Por ser a mulher virtuosa descrita em Provérbios 31. Sem seu companheirismo, amor e compreensão nada disso seria possível. Você me inspira a ir além dos meus limites, na força de Deus. Você se alegra com a minha alegria e se realiza nas minhas realizações, e isso é amor. Amo você para sempre! A meus pais, Jesuino e Sonia Capochim. Por sempre me apoiarem. Vocês me concederam a melhor herança que pais podem deixar aos seus filhos: o amor e o temor a Deus. Vocês me prepararam para a vida com excelência. Agradeço também a Luana Capochim, minha amada irmã. Crescer ao seu lado foi um privilégio e juntos vivemos momentos tão marcantes em família e em Deus. Ao amigo Drummond Lacerda. Você não apenas me incentivou a começar este projeto, mas o abraçou como se fosse seu. Sua dedicação a este livro teve um valor inestimável. Ao amigo Bráulio Brandão, por dias e dias de café e revisão. Você inseriu neste livro um toque sui generis. Usufruir desta unção que há em vocês para escrever foi especial. E claro, as respectivas esposas Raquel e Cris, muito obrigado por abrirem mão de tempo com eles para que pudessem investir neste projeto. A Daniele Vieira, por embarcar sempre comigo em cada jornada de revisões ortográficas. E, a Selma Andrade, pelo esmero na produção da capa e diagramação deste livro. Ao meu pa(i)stor Márcio Valadão. Por acreditar no chamado de Deus sobre minha vida e pela liberdade de cumpri-lo debaixo de sua liderança. Sua vida, tanto ministerial como pessoal, é uma inspiração para mim e quero ser seu imitador, como você é de Cristo. A professora Mie Kawasaki, por me apresentar este assunto pela primeira vez com tanta graça e unção do Espírito Santo. E, ao Arthur Netto, um dos meus professores no Seminário. Recordo muito bem daquela manhã de culto em Petrópolis onde você liberou uma palavra profética sobre minha vida: “Aliança de sangue é uma matéria que você precisa ensinar. Deus te deu graça para falar desse assunto.” Aos alunos do Seminário Teológico Carisma. Servir vocês é um dos maiores privilégios que tenho. Este livro só existe porque existem pessoas sedentas por conhecimento revelado como vocês. PREFÁCIO Nosso Deus é um Deus de aliança. Desde o princípio da história de nossa existência Ele nos amou e quis ter uma aliança conosco. Infelizmente o homem caiu na cilada da serpente e quebrou essa aliança no Éden. Mas, o que parecia o fim da humanidade, na verdade se tornou o início de uma linda jornada de reconciliação para restabelecer essa aliança. Da promessa de Deus na saída do homem no Éden, Noé, Abraão, Davi, Isaías, Zorobabel, João Batista e o Pai Eterno prepararam esse caminho que culminou na cruz de Cristo. Essa nova aliança trouxe a nova vida, o livre acesso ao Pai e tantas outras dádivas que estão disponíveis até hoje àqueles que buscarem estar dentro desta maravilhosa realidade. Nesse livro, de uma forma objetiva, mas sempre buscando o rigor das Sagradas Escrituras, o pastor Leonardo Capochim, que trata há muitos anos deste assunto no Seminário Teológico Carisma, explica com uma graça tão preciosa essa jornada e em suas implicações em minha e sua vida e como essa aliança irá mudar sua história. Seja grandemente abençoado através desta leitura. Pastor Márcio Valadão INTRODUÇÃO Uma música suave e romântica ao fundo, convidados com suas melhores roupas, flores belíssimas ornamentando todo o lugar, pastor posicionado no altar, noivos apaixonados. Sim, estamos em um casamento. Como pastor, já celebrei muitos casamentos. Presenciei o choro dos pais, o olhar apaixonado dos noivos, a simpatia cativante das damas de honra. Porém, há um momento que supera todos os outros: a entrada de um objeto que carregará em si todo o significado daquela cerimônia. Os casados que leem essas palavras podem contemplá-lo em sua mão esquerda. Fabricado com um metal de imenso valor, em forma de um círculo perfeito, em que não há início e nem fim. A aliança! Ao lerem o título deste livro, muitas pessoas conseguem pensar apenas nesse famoso objeto. Contudo, vale ressaltar que ele é meramente um símbolo para os princípios e compromissos que, de fato, constituem uma aliança. Deus nunca quis fundar uma religião. Seu propósito sempre foi estabelecer uma aliança com o homem, não com base em um anel ou em uma carteira de membro de uma igreja, mas embasado em um relacionamento onde ambos estarão envolvidos para sempre. Na primeira parte desta obra, vamos trabalhar o conceito de aliança, as razões para o seu estabelecimento, seus símbolos e os pilares de um pacto nos tempos antigos. Essas percepções serão fundamentais para compreendermos a essência e as implicações da aliança de Deus com o homem. Em seguida, vamos analisar as diversas alianças que Deus estabeleceu com os homens no Antigo Testamento. Perceberemos que, a cada aliança estabelecida, ficam explícitos o amor, a graça e o desejo ardente do coração de Deus de estar próximo daqueles que Ele criou. Analisaremos também as promessas de bênção, as leis e as particularidades de cada aliança. Na última parte, seu coração será surpreendido ao perceber que todos os pactos divinos registrados no Antigo Testamento foram prenúncios de uma Nova Aliança. Uma aliança tão perfeita e sublime que não poderia ser estabelecida com sangue de animais, mas que exigiu o derramamento do sangue do filho de Deus. Reafirmará que, por esse sacrifício, você pode viver à altura da glória desse pacto e se assentar à mesa para a grande refeição memorial que sela essa aliança eterna. O Pai está no altar, os anjos são as testemunhas, o Espírito Santo conduz a noiva para viver a plenitude de uma aliança com o noivo, que é Cristo Jesus. A festa está pronta. Por isso, abra o seu coração e deixe que as próximas páginas te revelem um Deus de alianças que se recusa a viver longe de você. Nunca mais você pensará que aliança é apenas um anel. “A Palavra de Deus não é propriamente entendida até que seja vista dentro de uma moldura de aliança.” J. I. Parker, teólogo anglicano ingles. “A intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança.” Rei Davi, Salmos 25.14, ARA PARTE 1 DEFINIÇÕES E PRINCÍPIOS DE UMA ALIANÇA CAPÍTULO 1 O QUE É UMA ALIANÇA? “Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade deIsrael e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo. Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo.”[1] Inseridas na cultura do Ocidente, as pessoas, normalmente, não costumam valorizar as alianças que firmam como deveriam. Vivem em um mundo onde casamentos têm prazo de validade, contratos podem ser facilmente quebrados e compromissos são tão frágeis diante de adversidades. Desde a infância, muitos pais buscam compartilhar com os seus filhos valores para a vida. Ensinam a respeito da seriedade de uma palavra empenhada, a serem pontuais em seus compromissos; porém, muitas vezes, não associam esses princípios ao conceito de aliança. Muitos povos da Antiguidade não tinham a dificuldade que temos hoje de compreendermos a singularidade e a profundidade de uma aliança. Naquele tempo, os costumes de aliança eram ensinados e praticados, e, a não observância deles era algo condenável e mal visto. Nessas culturas todos entendiam o significado de um pacto, as implicações dele em suas vidas e as consequências de seu descumprimento.[2] Diante disso, para restaurar o valor e a grandeza de uma aliança, a ponto de se tornar realidade em nossa vida, precisamos compreender o seu significado. Em um de seus livros, Malcolm Smith define aliança nos seguintes termos: Uma aliança é uma obrigação unificadora e inquebrável entre duas partes baseada em amor incondicional, selada por sangue e juramento sagrado, que criava um relacionamento no qual cada parte está presa por ações específicas realizadas em favor do outro. As partes da aliança se colocavam debaixo da pena de retribuição divina caso atentassem posteriormente evitar as ações requeridas. É um relacionamento que só pode ser quebrado pela morte [3]. Ao observar essa definição, é possível perceber que o conceito de aliança perpassa a noção de compromisso em que as partes concordam sobre algo. Sabe-se que os relacionamentos humanos são sempre passíveis de falhas e, logo, vulneráveis. Assim, é imprescindível que neles haja solidez, a fim de que sejam sustentados. A base desse relacionamento é construída por meio de um esforço entre as partes para proteger o compromisso por eles firmado. Níveis de intimidade são produzidos naturalmente em todo relacionamento. Quanto mais íntimas, essas relações expõem fraquezas, falhas, preferências e imperfeições das partes envolvidas. Soma-se a isto o fato de que, com o passar do tempo, com o costume de se relacionar, tem-se a rotina, o hábito que, em geral, conduzem à instabilidade da relação. Imagine um jovem casal que começou a se conhecer. No início, o que os atrai é o gosto em comum. Ele diz: “Ela gosta de filmes, gosta de croissant de ervas finas e de esportes radicais, igual a mim.”. Ela diz: “Ele é inteligente, gosta de conversar e sempre me faz rir, tudo o que eu sempre quis.”. Observe: o que desperta o interesse mútuo são as preferências compartilhadas e as qualidades individuais. Cada novo encontro é, para eles, como tirar de uma caixa de surpresas seu presente favorito. Porém, a partir de certo momento, a intimidade começa a revelar mais do que os pontos agradáveis do relacionamento. O casal entra em uma senda, consequentemente os defeitos e fraquezas de ambos são evidenciados. Alguns casais não chegam à separação, mas vivem em constantes conflitos e discussões por terem alcançado um nível de intimidade que o relacionamento não estava preparado para suportar. A única solução para a instabilidade produzida pela intimidade é o compromisso. Compromisso de amar acima de tudo, de respeitar as diferenças e de aprender a viver juntos, apesar das imperfeições. Em um compromisso, valoriza-se mais a relação do que as falhas uns dos outros. Ao nos depararmos com o que não desejamos, nossas emoções ficam instáveis. Caminhamos do amor ao ódio, do carinho à aversão, do afeto ao desagravo. O compromisso é a força que sustenta e transforma as reações e emoções. No compromisso, declara-se: “Eu não deixarei a instabilidade das minhas emoções afetarem o meu comportamento, mas farei com que a seriedade do meu compromisso influencie essas instabilidades.”. Um grau profundo de intimidade exige um compromisso equivalente à essa profundidade. Isto é uma aliança: um compromisso que assegura a relação acima de circunstâncias e sentimentos. Por esta razão os clássicos votos de um casamento afirmam: “Eu prometo estar ao seu lado, amar-te e respeitar-te, na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza, até que a morte nos separe.”. Veja que se firma um compromisso acima de toda adversidade e sentimentos, tendo apenas a morte como “prazo de validade”. O casal, agora, pode ser livre em intimidade porque está seguro pelo compromisso. Os votos firmados no altar, por exemplo, devem ser vividos no dia a dia. Por não compreenderem o significado de uma aliança, as pessoas estão dispostas a abrir mão da relação por qualquer situação. Alguns até mesmo caminham para o altar pensando em separar se não der certo. Sem o compromisso como força sustentadora, como foi explanado, o relacionamento corre grande risco. O alvo do compromisso no relacionamento é gerar comunhão. Comunhão é muito mais do que estar junto. Alguns relacionamentos podem ser comparados a uma salada de batatas: estão juntos, porém separados. Entretanto, o propósito é que os dois se tornem um purê de batatas. Um purê de batatas é a união de várias batatas que foram amassadas até se tornarem uma só massa. Fica impossível dizer qual batata é maior ou menor, ou o sabor específico de cada uma, pois elas se tornaram homogêneas. Isso é comunhão: estar junto, compartilhando cores e sabores da vida. Retomando os povos antigos, a ideia de mistura ou comprometimento de vida está intrínseca ao conceito de aliança de sangue presente nesses povos. De acordo com TRUMBULL, o ritual de aliança de sangue “é uma forma de aliança mútua, pela qual duas pessoas entram no mais íntimo, mais duradouro e mais sagrado dos contratos, como amigos e irmãos ou mais que irmãos na mistura do seu sangue através da bebida ou transfusão do mesmo.”[4]. O sangue está presente em toda a Bíblia Sagrada. Ele simboliza a vida. O próprio Deus apresenta essa realidade ao instruir Moisés afirmando que a vida da carne está no sangue[5]. Quando o ser humano perde sangue, a sua vida se vai. Lembro-me de que, quando pequeno, gostava de colocar um elástico na ponta do dedo por alguns instantes para vê-la perder a cor; mas logo que tirava o elástico era possível sentir o sangue voltar a correr pelo dedo. Meus pais sempre diziam que meu dedo iria cair se eu fizesse isso constantemente. Todavia, eu não entendia que, com essa brincadeira, estava interrompendo a corrente sanguínea e provocando morte no meu dedo, podendo levar até a uma amputação. Dado que, onde não há sangue, não há vida. Os povos antigos, em seus rituais de aliança, faziam um corte em seu corpo e derramavam sangue; com isso, eles afirmavam que a vida de ambos estava comprometida naquele relacionamento. Não era um acordo qualquer. A quebra desse pacto trazia escândalo, marginalizava o indivíduo e podia até resultar em morte. Executar juízo sobre aquele que quebrou a aliança era, no entendimento desses povos, a melhor coisa que poderia acontecer a esta pessoa, pois acreditavam que a quebra da aliança traria consigo diversas consequências e maldições[6]. A palavra aliança no contexto bíblico é, por vezes, traduzida como concerto, pacto ou testamento. No hebraico a palavra aliança é berith, que significa cortar[7]. Toda vez que essa palavra aparece no Antigo Testamento, o sentido que se quer dar é que está acontecendo um corte com derramamento de sangue. O texto bíblico relata: “E tomou Abraão ovelhas e vacas, e deu-as a Abimeleque; e fizeram ambos uma aliança.”[8]. Vale ressaltar que, mesmo o ritual de derramamento de sangue não estando explícito nesse texto, ele está semanticamente implícito na própria palavra traduzida como aliança.Com isso, infere-se que Abraão e Abimeleque estavam empenhando suas vidas para cumprirem os compromissos que haviam feito um para com o outro. Não há contrato, acordo, pacto ou aliança mais sagrada entre as famílias da Terra do que a aliança de sangue. Ela é permanente, indissolúvel, inalterável e não pode ser revogada. Quando a cruz de Jesus Cristo ficou encharcada de sangue, Ele estava mais do que nos perdoando, estava firmando o compromisso de nos amar por toda a nossa existência. Diante disso, abra o seu coração e perceba o poder da aliança de sangue que Jesus fez com você. Lembre-se sempre: O relacionamento produz intimidade. O relacionamento exige compromisso. O relacionamento visa à comunhão. Deus quer se relacionar com você. CAPÍTULO 2 RAZÕES PARA UMA ALIANÇA “Deu alimento aos que o temiam, pois sempre se lembra de sua aliança.”[9] Um respeitado explorador do século XIX, chamado Henry Morton Stanley[10], foi enviado pelo jornal New York Herald para fazer uma matéria sobre um missionário escocês desaparecido há seis anos no continente africano. Sem GPS, na mata fechada, andando por estradas não pavimentadas, trilhas abertas por facões e machados, enfrentando as surpresas de um lugar desconhecido, desafiando a natureza, doenças terríveis e o risco de nunca mais ser encontrado. Se, hoje, com todos os recursos e tecnologias que possuímos, já seria difícil encontrar um homem em um continente, imagine naquela época! Mas Stanley era um homem destemido, pronto a cumprir sua tarefa de encontrar o famoso missionário Dr. David Livingstone. Há registros em que o próprio Stanley narra as dificuldades enfrentadas por sua expedição. Doenças, fome, materiais saqueados e ameaças de morte são relatos constantes em seu diário de bordo. Sua equipe sofreu muito e a missão ficava comprometida devido à gravidade da situação. Entretanto, esta não seria apenas uma árdua missão, mas uma lição de vida, abalando todas as estruturas da mente ocidental daqueles homens e abrindo uma enorme janela para uma nova visão de mundo. Quando Stanley e sua equipe se depararam com uma poderosa tribo equatorial, seu intérprete, um jovem africano que estudou na Inglaterra, rapidamente deu a eles um conselho: "Vocês deveriam cortar uma aliança com o chefe desta tribo". Stanley estranhou aquela afirmação, pois não sabia o que significava. Então, o jovem africano lhe explicou que esse seria um ritual em que Stanley e o chefe da tribo se apresentariam a um sacerdote, diante de testemunhas, e, então, seria realizado um corte na mão de ambos, o sangue deles seria misturado em uma taça com vinho e cada um beberia daquela mistura, tornando-se, assim, amigos. A mente ocidental de Stanley repugnou aquele ritual. Beber sangue, mesmo que misturado com vinho, não era algo costumeiro na cultura do explorador. Porém, devido à insistência do jovem africano nos benefícios que aquele ritual traria para ele e sua jornada, o explorador decidiu propor o corte de uma aliança ao chefe da tribo. O ritual foi, então, cuidadosamente preparado. Os termos da aliança, como que cláusulas de um contrato, foram negociados antes da cerimônia, decidindo-se, por exemplo, que usariam substitutos no momento do ritual. Para garantir a disposição de cada uma das partes em guardar aquela aliança, eles deveriam entregar um presente ao outro. Daí, o jovem africano orientou Stanley a pedir como presente a lança do chefe da tribo, uma lança feita em cobre com mais ou menos dois metros de altura. O chefe, por sua vez, pediu a Stanley sua cabra, uma das únicas fontes de alimentação desse explorador, que sofria com uma terrível úlcera. Stanley imaginou estar em desvantagem nessa negociação, pois ficou com uma lança, mas perdeu sua fonte de sustento, de vida. A cerimônia se inicia. Os substitutos são apresentados ao sacerdote da tribo, que solenemente realiza uma incisão na mão de ambos. O sangue deles é misturado em uma taça com vinho e eles bebem do líquido. E, cinzas são colocadas sobre o corte realizado nas mãos dos substitutos a fim de que a cicatriz seja realçada e o pacto, jamais esquecido. Logo após, o sacerdote se põe a pronunciar uma sequência de maldições sobre Stanley, e o jovem africano faz o mesmo ao chefe da tribo. As mais terríveis situações que podem ocorrer a um ser humano são citadas ali. São estas as maldições que viriam sobre eles caso quebrassem aquela aliança. Satisfeitas todas as exigências da cerimônia, o chefe da tribo se coloca diante de todo o povo e diz: "Venham, comprem e vendam com Stanley, pois ele agora é nosso irmão." A partir daquele momento a vida e a jornada de Stanley mudaram completamente. Seu novo amigo, o chefe da tribo, fazia de tudo para agradá- lo. Não demorou muito para esse explorador perceber que não tinha perdido seu sustento, pelo contrário, agora ele tinha acesso a tudo que precisasse, bastava pedir ao seu novo amigo. E a lança, o presente que ele pensava ser uma grande desvantagem, se tornou uma das razões do sucesso de sua missão. Ela representava a autoridade do chefe daquela tribo equatorial, um homem poderosíssimo e respeitado por toda aquela região. Assim, onde Stanley chegava com a lança em mãos, ninguém o importunava, pois percebiam com quem ele estava aliançado. Após mais ou menos três anos de exploração, Stanley encontrou Livingstone em uma aldeia de Ujiji e pôde, assim, encerrar aquela missão. Esse explorador não apenas achou um homem no continente africano, mas encontrou um novo significado para a palavra aliança. Alguns historiadores chegam a dizer que Stanley cortou mais de cinquenta alianças na África. Leia um trecho relatado por Stanley em sua quinquagésima experiência: “Myombi, o chefe, foi facilmente persuadido por Yumbila a fazer uma aliança de sangue comigo; e, pela quinquagésima vez, meu pobre braço foi escarificado, [...] um ramo novo de palmeira foi cortado, torcido e um nó foi amarrado em cada ponta; os nós foram mergulhados em cinzas de madeira, e cada um de nós segurou uma das pontas, enquanto o curandeiro praticava sua arte de sangramento e nos pungia até Myombi cerrar os olhos de dor. Depois disso, o ramo foi cortado e, de uma maneira incompreensível, eu havia me unido para sempre ao meu quinquagésimo irmão; que eu teria obrigação de defender contra todos os inimigos, até a morte.”[11]. A história de Stanley ajuda a compreender o quão profunda é uma aliança e também demonstra as razões para o estabelecimento dela. A partir dessas alianças, Stanley não estava mais sozinho com sua equipe naquela jornada, ele podia contar com a proteção e livre acesso ao cotidiano das tribos. PROTEÇÃO Uma razão muito comum para as pessoas cortarem uma aliança é proteção. Antigamente, se uma pessoa ou povo se sentisse ameaçado, estivesse em meio a rumores de guerras ou quisesse simplesmente se precaver de ataques, era comum que estabelecessem alianças com povos mais fortes e guerreiros. A aliança era uma garantia de que, em dias de guerra, haveria alguém para defendê-los e protegê-los. Imagine se uma tribo se levantasse contra Stanley. Ele não precisaria se preocupar. Bastaria Stanley levantar o seu braço, revelando as cinquenta marcas de alianças estabelecidas, que seus inimigos fugiriam, pois ameaçar Stanley era declarar guerra às cinquenta tribos, que prontamente se levantariam para defendê-lo. Com uma aliança estabelecida, a proteção era certa. Não dependia do querer, nem do sentimento ou vontade de proteger, era um compromisso que deveria ser honrado em qualquer situação e a qualquer custo. Uma história que elucida muito bem essa honra ao compromisso é a de Josué com os gibeonitas[12]. Os gibeonitas eram um dos povos que deveriam ser destruídos na conquista da terra prometida. Quando eles ouviram a respeito das vitórias de Josué com seu exército, decidiram usar de astúcia para se manterem vivos. Enviaram uma caravana fingindo ser de uma terra muito distante e propuseram o estabelecimento de uma aliança. Os líderes de Israel, sem consultar a Deus, aceitaram a propostae cortaram uma aliança com esse povo astuto. Quando o povo de Israel descobriu que havia sido enganado, era tarde demais. A aliança já estava estabelecida. Sangue já havia sido derramado e eles não poderiam mais expulsar os gibeonitas daquela terra e tomar posse da plenitude da promessa de Deus para eles. Além disso, por causa da aliança, agora o povo de Israel tinha o compromisso de proteger e defender os gibeonitas. Mesmo que eles tivessem sido enganados, o pacto estava firmado. E uma aliança estabelecida não pode ser revogada. Tempos depois, cinco reis, de cinco regiões diferentes, declaram guerra aos gibeonitas. O mais interessante é que não há relato de desespero ou medo da parte deles. Sabe-se que a única atitude que eles tomaram foi enviar mensageiros a Josué dizendo: "Não abandone os seus servos. Venha depressa! Salve-nos!"[13]. Repare que Josué não tem a opção de ir ou não atender a esse chamado; por causa da aliança estabelecida, ele é obrigado a defender aqueles que, inicialmente, deveria destruir. O compromisso da aliança é mais forte e mais solene do que qualquer circunstância. Josué, então, reúne o seu exército, guerreia a favor dos gibeonitas, e o próprio Deus intervém nessa batalha. “O sol parou, e a lua se deteve, até a nação vingar-se dos seus inimigos, como está escrito no Livro de Jasar. O sol parou no meio do céu e por quase um dia inteiro não se pôs. Nunca antes nem depois houve um dia como aquele, quando o Senhor atendeu a um homem. Sem dúvida o Senhor lutava por Israel!”[14]. Veja como Deus valoriza as alianças! Ele lutou por Israel quando eles estavam honrando seu compromisso de aliança. A benção de Deus está sobre aqueles que honram alianças. Se, por uma aliança baseada em engano, os gibeonitas puderam ter a certeza de livramento e o exército de Israel pôde experimentar a intervenção divina, imagine nós que estamos em uma aliança firmada na verdade, totalmente legal, com o Deus Todo Poderoso! Se o inimigo tem se levantado contra você, tem enviado o seu exército para te destruir, não se desespere. Lembre-se da aliança que Deus estabeleceu com você por meio de Cristo Jesus. Seja como o salmista: clame a Deus por socorro, peça a Ele para vir apressadamente guerrear por você[15]. Deus está pronto para proteger, defender e guerrear por aqueles que têm uma aliança com Ele. Proteção é um compromisso de aliança que não pode ser negado. NEGÓCIOS Além da proteção, outra razão pela qual se estabelecia uma aliança era os negócios. Quando dois homens iriam fechar um acordo, eles cortavam uma aliança para garantir que as duas partes seriam beneficiadas e que não haveria prejuízos para nenhuma delas. Em toda negociação há o risco de sofrer desvantagem. Homens de negócios que visam apenas o lucro comumente querem estabelecer contratos em que a outra parte tenha todos os deveres e eles tenham apenas os direitos e benefícios. A aliança nos negócios servia exatamente como uma segurança para ambos, garantindo privilégios e responsabilidades mútuos. Na história de Stanley e o chefe da tribo, fica claro que, por mais que o estrangeiro fosse o mais fraco e necessitado, o poderoso chefe não viu na aliança uma oportunidade de usurpar tudo o que esse explorador ainda tinha. Na verdade, o presente que o chefe recebeu não faria diferença alguma para ele, mas faria toda a diferença para Stanley. A disposição dele em entregar a sua cabra, algo que lhe faria falta, garantiu a segurança em toda a sua jornada. A lança que Stanley recebeu como presente era um símbolo da autoridade daquele chefe tribal e todos na região conheciam e temiam aquela forte tribo guerreira. Em seu diário, ele diz que, por onde ia, a cada nova tribo ou região que chegava, todos o respeitavam ao ver que ele portava aquela lança de cobre. Em uma aliança, todos terão seus deveres, mas também terão seus privilégios. Na aliança divina em que você está inserido, também há direitos e deveres. Uma herança, por exemplo, é um direito dos filhos. Herança e testamento nos apontam para direitos que o Redentor nos garantiu. O autor da carta aos hebreus escreve: “No caso de um testamento, é necessário que se comprove a morte daquele que o fez; pois um testamento só é validado no caso de morte, uma vez que nunca vigora enquanto está vivo aquele que o fez.”[16]. Quando Jesus morreu na cruz do Calvário e ressuscitou ao terceiro dia, Ele nos fez herdeiros de Deus e co-herdeiros com Ele[17]. A mesma palavra traduzida como testamento no texto de Hebreus é traduzida em outros lugares do Novo Testamento como aliança. Essa palavra grega (diathēkē) significa uma ação que parte de um lado só. Uma decisão irrevogável que não pode ser cancelada por pessoa alguma. Um acordo feito por uma parte com pleno poder, em que a outra parte pode aceitar ou rejeitar, mas não pode alterar[18]. Imagine um homem muito rico que prepara, em vida, um testamento para que, após a sua morte, os seus herdeiros possam gozar dos benefícios que a sua herança concede. Essa pessoa decide, por livre e espontânea vontade, sem nenhuma pressão externa, o que dará ao seu herdeiro. Ninguém pode alterar ou mudar o testamento. Os herdeiros podem apenas aceitá-lo ou rejeitá-lo, mas nunca alterá-lo. Do mesmo modo, crentes não têm direito à herança porque trabalharam por ela, mas porque Deus decidiu dá-la aos seus filhos. Estando em aliança, não podemos ter uma atitude de pobres coitados, que não têm direito a nada. Não podemos ser como o irmão mais velho do filho pródigo que tinha direito a tudo, mas nunca usufruiu, pois se viu apenas apegado aos deveres[19]. Por outro lado, há deveres a serem cumpridos por quem entra em uma aliança. É triste ver que pessoas querem viver as bênçãos de Deus, mas não querem praticar suas responsabilidades. Você não pode entrar em aliança apenas pensando em seus benefícios, pois isso não é aliança, mas sim interesse. Para termos direito aos itens do testamento, precisamos seguir seus termos de compromisso, a fim de usufruir de seus benefícios. AMOR Quando duas pessoas se amam muito, elas firmam uma aliança para confirmar seu relacionamento. A aliança não significava o início de um relacionamento, mas a ratificação de sua seriedade. A Bíblia nos conta a respeito da amizade entre Jônatas e Davi. O primeiro era filho de Saul, o rei de Israel, e o outro, apenas um pastor de ovelhas. O príncipe, mesmo sendo maior, propôs uma aliança a seu súdito: “Jônatas e Davi fizeram aliança; porque Jônatas o amava como à sua própria alma”[20] Perceba que a motivação da aliança está bem explícita no texto: o amor. A amizade de Jônatas e Davi leva esses jovens a uma aliança em que os dois se comprometem a se protegerem e a partilharem de direitos e deveres igualmente. O relacionamento de amizade deles não começou com o ato de aliança. Davi já frequentava o palácio prestando serviços ao rei, por exemplo, quando Saul estava sendo atormentado por espíritos malignos e, para acalmar a sua alma, o jovem Davi tocava sua harpa[21]. A partir da convivência no palácio nasceu a amizade de Jônatas e Davi. Essa amizade culminou em uma aliança entre os dois, ao comprometerem suas próprias vidas. O compromisso firmado era tão forte que é possível ver Jônatas ir contra o seu próprio pai para honrar a aliança que ele tinha feito com Davi[22]. Com isso, podemos entender o porquê da Bíblia nos dizer que aquele que não aborrecer seu pai e sua mãe por amor a Cristo não é digno Dele. Nossa aliança com Deus precisa ser maior do que os nossos laços familiares. O amor não se expressa apenas em amizade, mas também na união de um homem com uma mulher. O casamento é uma aliança de sangue, ainda que não seja em nossa cultura ocidental considerado como tal. No altar, após a declaração dos votos e a troca de anéis, que representam a aliança, está se ratificando um compromisso de fidelidade que perdurará até a morte. A palavra aliança, como vimos no primeiro capítulo, significa corte com derramamento de sangue. No casamento, quando os compromissos são firmados no altar,os dois estão preparados para a intimidade sexual, selo dessa união. No ato sexual, está presente o corte e o derramamento de sangue em ambos, tanto no rompimento do hímen como em micro sangramentos no órgão sexual masculino, estabelecendo a mistura do sangue, consequentemente a mistura da vida. Por isso a expressão bíblica que os dois serão uma só carne[23]. Eles agora têm uma só vida, pois cortaram uma aliança de sangue. Na aliança de amor, vemos os propósitos de negócio e de proteção presentes. Ambos irão proteger um ao outro, custe o que custar; não haverá espaço para usurpações ou ganho individual; não se pensará mais de forma singular, pois aborrecer o outro é aborrecer a si próprio, afinal, eles são um. De todas as razões que estudamos, o amor é a única que se enquadra no perfil divino. O mais fraco busca o mais forte por proteção. O maior pode buscar o menor por interesse de negócios. Porém, Deus não necessita de proteção e nem de nada que podemos oferecer a Ele. Ele nos amou. Essa é a única explicação para um Deus eterno e todo poderoso comprometer a Sua vida conosco, derramando o Seu próprio sangue na cruz do Calvário. Deus estabelece conosco uma aliança de amor que vai muito além de uma troca de lanças e cabras. CAPÍTULO 3 RITUAIS EM UMA ALIANÇA “E entregarei os homens que transgrediram a minha aliança, que não cumpriram as palavras da aliança que fizeram diante de mim, com o bezerro, que dividiram em duas partes, e passaram pelo meio das suas porções.”[24] Casamentos, formaturas, batizados, festas de aniversário. Amamos participar desses eventos. São momentos festivos nos quais amigos e familiares se reúnem em torno de um acontecimento. O que muitos não conseguem perceber é que estão participando de um ritual. Um ritual nada mais é do que um cerimonial, ou seja, “um conjunto de formalidades que devem ser observadas em qualquer ato solene ou festa pública ou religiosa”, segundo o Dicionário de Língua Portuguesa Michaelis[25]. A água nunca pode faltar em um batizado, os noivos devem trocar alianças e fazer juramentos, um canudo deve ser entregue ao formando, assim como uma vela acesa deve ser assoprada pelo aniversariante. Se essas formalidades não forem cumpridas, tem-se a impressão de que todo o evento perdeu seu significado. Assim como essas cerimônias estão carregadas de simbologia, o ritual de aliança de sangue também as tem. É possível encontrar na história de vários povos, inclusive aqueles dos tempos bíblicos, registros desses rituais e o significado deles por detrás dos símbolos. O ritual sela a aliança, ilustrando as regras, os comportamentos e os valores que irão reger o compromisso firmado. Cada momento em um ritual é, muitas vezes, rico em princípios que expressam a verdadeira razão e essência de todo aquele acontecimento. Entender a ideia que está sendo transmitida por meio de cada símbolo embeleza e enriquece o ritual, uma vez que passamos a compreendê-lo. A seguir, algumas das simbologias presentes em uma aliança de sangue[26]. TROCA DA TÚNICA Muitas vezes julgamos as pessoas pelas suas roupas. Traçamos um perfil de quem a pessoa é apenas olhando o seu exterior. Isso é involuntário e, de certa forma, natural. Afinal, as roupas que vestimos revelam muito de quem somos. O status social, a profissão, os grupos com quem nos identificamos e até traços da personalidade são expressos nas vestimentas. Um excelente exemplo são as fardas militares. A corporação a que um indivíduo pertence, a hierarquia dentro dela, suas conquistas e até o seu nome estão estampados em sua roupa, caracterizando-o. Se em pleno século XXI as roupas ainda transmitem tanto da nossa personalidade, imagine nos tempos antigos. Cada povo tinha a sua própria forma de se vestir, cada função tinha códigos de trajes específicos. Essa dimensão pessoal/grupal era tão nítida e relevante para essas culturas que a roupa entrava no ritual de aliança como um símbolo de quem essa pessoa era, de sua identidade. “Jônatas e Davi fizeram aliança; porque Jônatas o amava como à sua própria alma. E Jônatas se despojou da capa que trazia sobre si, e a deu a Davi, como também as suas vestes, até a sua espada, e o seu arco, e o seu cinto.”[27]. Perceba no texto que eles estão fazendo uma aliança e, como parte do ritual, Jônatas dá a Davi a sua capa e as suas vestes. Entregar ao outro a sua túnica era, simbolicamente, entregar a si mesmo àquela pessoa. É como se um estivesse dizendo ao outro: “Eu te dou a minha vida, todo o meu ser, tudo o que sou eu entrego a você”. TROCA DO CINTO (OU ARMAS) O cinto, em tempos antigos, não servia apenas para “segurar” a calça ou como um simples objeto decorativo. O cinto era um suporte para as armas[28]. Os objetos que um homem carregava para se proteger, defender ou guerrear estavam em seu cinto[29]. O ato de dar o cinto a outro era uma expressão de entrega da proteção. A partir daquele momento, um compromisso de proteção é estabelecido. Um está dizendo ao outro que está disposto a guerrear por ele em toda e qualquer situação. Se um dos dois estiver debaixo de ameaças de guerra, a proteção e defesa é garantida. Esse ato expressa: “Quem luta contra você, luta contra mim.” Como a simbologia é bélica, em algumas ocasiões não se trocavam os cintos, mas sim as armas. No exemplo que vimos acima, da aliança de Jônatas com Davi, Jônatas entrega tanto o cinto quanto as armas. CORTE DO ANIMAL Um compromisso de vida e morte deve ser estabelecido ao se cortar uma aliança. Por isso, no rito, há o momento do sacrifício. Um animal é partido ao meio e suas partes são colocadas paralelamente, uma em frente a outra. As duas pessoas que estão cortando a aliança ficam entre essas partes, de costas uma para a outra e de frente para as metades do sacrifício. Elas começam, então, a caminhar ao redor das partes do animal, formando um 8 ou ∞ no chão. Cada pessoa segue por uma direção diferente, começando de costas, mas terminando frente a frente. O animal partido representa os indivíduos que estão entrando em aliança. Eles estão simbolicamente morrendo naquele momento. Enquanto caminham entre as metades, as duas pessoas pronunciam a maldição da aliança, ou seja, as consequências da quebra do compromisso, apontando para as metades. É dito algo próximo disto: “Que Deus faça o mesmo a mim, e ainda mais, se eu quebrar esta aliança. Que Ele parta-me ao meio e alimente os urubus com a minha carne, porque eu tentei quebrar o mais sagrado de todos os pactos.”. Vale destacar que elas não declaravam castigos ou prisões, pois quebrar um pacto de sangue não deveria ter outra consequência a não ser a morte. “E entregarei os homens que transgrediram a minha aliança, que não cumpriram as palavras da aliança que fizeram diante de mim, com o bezerro, que dividiram em duas partes, e passaram pelo meio das suas porções; entregá-los-ei, digo, na mão de seus inimigos, e na mão dos que procuram a sua morte, e os cadáveres deles servirão de alimento para as aves dos céus e para os animais da Terra.”[30] Para que uma aliança seja estabelecida, a morte deve estar sempre envolvida. Certos de que a aliança leva à união absoluta entre dois indivíduos, como eles poderão viver verdadeiramente unidos a alguém se não morreram para si mesmos? Ao andar pelo meio do animal partido, elas estavam desistindo dos seus direitos e da sua própria vida, a fim de começar uma nova vida com seu aliado até a morte. Toda aliança verdadeira expressa esse compromisso de vida e morte. Robertson explica que “A representação da morte é essencial ao estabelecimento de uma aliança. O animal consagrado deve ser morto para produzir uma aliança, mas não é de todo necessário que uma parte ligada à aliança realmente morra”[31]. A morte simbólica da individualidade deve acontecer para dar origem a uma nova vida de unidade. MISTURA DO SANGUE Uma incisão é realizada na palma da mão (ou no pulso) de cada uma das pessoas que estão firmando a aliança e elas unem aquele corte por meio de um aperto de mão (ou união dos pulsos) para que osangue se misture. Como já vimos, o sangue simboliza a vida. Logo, a vida delas está se unindo e se transformando em uma só. Elas passam a compreender que têm agora uma nova vida e, mais do que isso, uma nova natureza. Trumbull explica que esta mistura é: “A transferência da vida, com tudo que a vida inclui. A mistura do sangue através de sua transferência tem sido entendida como equivalente à uma mistura de naturezas. Duas naturezas deste modo misturadas, pela mistura do sangue, tem sido consideradas como constituindo, desde então, um sangue, uma vida, uma natureza, uma alma – em dois organismos.”[32] Geralmente, é nesse momento que elas declaram, um ao outro, as promessas e os juramentos da aliança. CICATRIZ Após o corte com derramamento de sangue, a cicatriz resultante se torna um selo da aliança. Cinzas ou pólvora são colocadas sobre o corte para que essa cicatriz possa ser diferenciada de todas as outras. Uma marca forte ficará no lugar da incisão, pois essa marca servirá como um testemunho permanente dessa aliança e uma constante lembrança dos direitos e deveres nela contidos. A cicatriz é um selo da aliança e deve ser honrada como tal. A circuncisão é um exemplo de corte que deixa uma cicatriz, um memorial permanente de uma aliança. TROCA DE NOMES Em alguns rituais, cada parte recebe o sobrenome, ou pelo menos uma parte do nome do outro. O nome carrega a identidade, a autoridade e o legado de uma pessoa. A partir desse momento, os direitos, bens, dívidas e responsabilidades são compartilhados. Tudo o que o nome de um tem direito o outro, agora, passa a ter também. Minha esposa, por exemplo, ao receber meu sobrenome, passou a ter também uma nova identidade. É interessante que, quando duas pessoas se casam, a certidão de nascimento de ambos é arquivada e elas recebem uma nova certidão. Elas são, agora, uma nova pessoa. Mesmo que um dia o divórcio aconteça, elas não receberão de volta a certidão de nascimento. Não há mais como voltar a ser quem éramos antes, após nos unirmos em aliança. Sobrenomes famosos, como Da Vinci, Gates, Jobs, Hitler e outros, podem mudar completamente a maneira como uma pessoa é tratada ou vista em um lugar. Pessoas podem ser beneficiadas em diversas situações simplesmente por carregarem um sobrenome (quem já viu uma pessoa ser beneficiada em uma seleção de emprego simplesmente por ser filho do fulano, sabe muito bem o que a autoridade de um nome pode fazer). A autoridade de um nome está diretamente relacionada ao legado que aquele nome carrega. DECLARAÇÃO Em toda aliança há um momento em que palavras de compromisso são pronunciadas. Diante de testemunhas, os termos da aliança são declarados, assim como as listas de bens, responsabilidades ou dívidas. REFEIÇÃO Em muitas culturas, para completar a aliança, há um momento em que se deve comer junto. Normalmente, as pessoas que cortavam a aliança comiam carne e bebiam sangue. Porém, entre os hebreus não era assim, uma vez que eram proibidos de comer carne com sangue. Nesse momento da refeição, elas substituíam a carne pelo pão e, o sangue pelo vinho. Elas partiam o pão e serviam os pedaços um ao outro, dizendo: “Isto significa o meu corpo e eu o coloco em você”. Logo após, serviam um ao outro o vinho, dizendo: “Isto é o símbolo da vida do meu sangue que agora é a vida do seu sangue.”. Simbolicamente, havia o entendimento de que agora um está dentro do outro, pois se alimentaram um do outro. Ou seja, onde um for, o outro sempre estará, e vice-versa. MEMORIAL Além da cicatriz, que era um memorial no próprio corpo dos que estavam aliançados, era comum estabelecerem outro memorial externo, que pudesse durar por gerações. A bíblia é rica de tais memoriais. Altares de pedras, fêmeas de um rebanho[33], o shabat, as festas veterotestamentárias. Selos que tinham o potencial de perdurar e trazer à memória a aliança à qual pertenciam. Um exemplo particularmente interessante era a prática de plantar uma árvore e derramar sangue sobre ela. As árvores são conhecidas por sua longevidade. Assim, todas as futuras gerações, ao virem aquela árvore manchada de sangue, se lembrariam que ali uma aliança foi firmada. Ao observar todas essas simbologias, é evidente a fusão de vida, a proteção e o compromisso integral com o outro. Todos esses elementos estão envolvidos em uma aliança de sangue. Vale lembrar que as verdades dessa aliança vão se tornando mais claras, como o raiar do dia, ao contemplarmos o pacto de Deus com o homem. CAPÍTULO 4 PILARES DE UMA ALIANÇA “Guardai, pois, as palavras desta aliança, e cumpri-as, para que prospereis em tudo quanto fizerdes.”[34] Não existe brigadeiro sem chocolate, pão sem trigo, teto sem parede. Existem realidades que dependem de outras para existirem. Como é possível ter um produto final sem ter a sua matéria-prima? Todo sólido edifício precisa de fundamentos. Por isso, por mais que as alianças sejam carregadas de simbologias e rituais, a sua essência se encontra em três pilares: palavras, sangue e selo. Muitas vezes não percebemos as alianças na Bíblia porque nem sempre os rituais que as permeiam estão explícitos. Mesmo assim, com características diferentes e com variação de elementos, esses três pilares das alianças são essenciais. E é por isso que, ao estudarmos as alianças bíblicas, em especial as alianças de Deus com o ser humano, precisamos identificar esses três pilares. PALAVRAS Quando Deus direciona suas palavras ao homem, Ele está propondo uma aliança[35]. Se o homem corresponde às palavras divinas, ele está aceitando o convite e uma aliança é estabelecida. As alianças divinas sempre começam com palavras, que podem vir em forma de promessas, termos e juramentos. As promessas de Deus são completas; logo, podem ser promessas de benção e de maldição. Mas ambas caminham juntamente com a resposta do homem aos seus deveres na aliança. Não são imposições de benção e maldição, mas são resultado das escolhas que o homem deverá fazer em resposta às cláusulas da aliança divina. Como veremos com mais detalhes adiante, ao instituir a primeira aliança, Deus faz promessas de benção a Adão, como as de que ele frutificaria, dominaria a terra e teria sustento. Entretanto, Deus colocou uma condição para que o homem pudesse desfrutar dessa aliança: não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Deus não empurra as bênçãos para as nossas vidas, e, sim, estabelece padrões e postura para que possamos usufruir delas. Logo, a maldição, por exemplo, não é algo que vem Dele, mas da desobediência do homem à sua aliança. Deus disse para Adão não comer do fruto daquela árvore, pois se o fizesse morreria. A morte não era a vontade de Deus para o homem; era apenas o resultado da quebra da aliança que Deus havia feito com Adão, logo, o cumprimento de suas promessas. Isso nos leva a perceber que as palavras carregam o significado dos termos da aliança, dos limites estabelecidos nela e por ela. Sabemos que todo relacionamento sem limites está destinado a ruir. Repare que, normalmente, não estamos dispostos a aceitar tudo que vem das pessoas; temos a tendência de “filtrar” a maneira como elas devem se dirigir a nós e se relacionar conosco. Não ser grosso, acreditar no que se fala, não agredir com palavras ou atitudes, são alguns dos limites que preservam e estabelecem a saúde e a qualidade de um relacionamento. Se alguém não respeita esses termos, quebrará a aliança que estabeleceu. Com Deus, acreditar e obedecer são premissas fundamentais para que permaneçamos firmes na aliança com Ele. Dentro das palavras da aliança pode haver também um juramento. A lei de Moisés declara: “Quando um homem fizer voto ao Senhor, ou fizer juramento, ligando a sua alma com obrigação, não violará a sua palavra: segundo tudo o que saiu da sua boca, fará.”[36]. O juramento liga o coração à obrigação. Tudo o que é proferido em juramento ganha um peso tal que a ação correspondente deverá, obrigatoriamente, ser realizada. A razão de as pessoas jurarem é porque as palavras deum homem nem sempre são dignas de fé. Assim, para tirar qualquer resquício de incerteza acerca das promessas que foram feitas, se faz um juramento. Isso porque o que foi jurado não pode estar sujeito a cancelamento. A promessa se torna, assim, irrevogável. O autor da epístola aos Hebreus afirma: “Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha outro maior por quem jurasse, jurou por si mesmo, dizendo: Certamente, abençoando te abençoarei, e multiplicando te multiplicarei. E assim, esperando com paciência, alcançou a promessa. Porque os homens certamente juram por alguém superior a eles, e o juramento para confirmação é, para eles, o fim de toda a contenda. Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento; para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta.”[37] Perceba que, nesses versículos, Deus não apenas fez a promessa, mas também jurou por si mesmo que cumpriria o que havia falado. Deus não precisava fazer juramento algum. Ele é Deus e sua palavra por si só já é suficiente. Porém, para aniquilar qualquer sombra de dúvida no coração e na mente do homem com quem Ele está em aliança, Deus pronunciou um juramento. E é por causa da debilidade do homem em crer que Deus age dessa forma. Quando Deus jura, Ele se equipara ao nível do homem para que este entenda a seriedade do compromisso estabelecido por Ele. SANGUE Como já vimos, o sangue também é um elemento que está presente nas alianças. Devido ao fato do próprio Deus estabelecer um significado tão sublime para o sangue[38], esse elemento é o protagonista de todas as alianças divinas. Na Bíblia, aonde há sangue, três elementos fundamentais podem ser observados: sacrifício, altar e mediador. Quando os sacerdotes ofereciam o sacrifício de um animal, eles o faziam em um altar. Os sacerdotes se figuravam, então, como mediadores, o animal como sacrifício e o lugar do sacrifício como altar. O mediador é aquele que se coloca entre Deus e os homens para estabelecer a paz entre os dois. Ele, como um elo, conecta as partes da aliança, que outrora estavam separadas ou em conflito. O mediador deveria derramar o sangue do sacrifício para estabelecer a aliança. E o sangue derramado no altar era a conexão que o sacerdote mediava para que o homem e Deus pudessem estar em aliança, ligados um ao outro. SELO O selo serve como constante lembrança da autenticidade das promessas da aliança e de seus termos. Ele ajuda a lembrar que as duas partes estão unidas e que irão cumprir suas obrigações. Um anel de casamento, a circuncisão, o arco-íris são apenas alguns dos exemplos de selos conectados à aliança. A validade de um selo está na medida em que ele reflete a seriedade do relacionamento. Por exemplo, se o marido trai a esposa e/ou a trata mal, o anel como selo não significa nada para ele. Um crente mostrando a carteirinha de membro de uma igreja, porém vivendo como ímpio é como um marido que trai a esposa, mas mostra o seu anel como se ele significasse alguma coisa. O problema da nossa geração é que fizemos dos selos amuletos, coisas que usamos para nos ajudar, mas com as quais não temos envolvimento de vida. Sinal da cruz, crucifixo, santa ceia, batismo, carteira de membro, por exemplo, se tornaram “pés de coelho” para nos dar sorte, e não um sinal de uma entrega de vida. Entretanto, apesar da falta de compromisso do homem com os selos que firma, Deus, ao estabelecer selos em suas alianças, tem o propósito de fazer o homem lembrar da seriedade, nobreza e beleza da aliança. Daqui em diante neste livro, você verá em cada aliança divina o compromisso de Deus com o homem revelado por meio de palavras, sangue e selo. Porque Deus amou o homem de tal maneira, Ele decidiu se revelar através de suas alianças. Revelar Seu amor, Seu caráter, Sua grandeza, Sua graça. Ele chegará ao ponto de assumir um compromisso que vale a vida do Seu filho. PARTE 2 AS PRIMEIRAS ALIANÇAS CAPÍTULO 5 ALIANÇA DA CRIAÇÃO “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente.”[39] Um clarão inunda todo o universo, a terra seca começa a aparecer em meio à imensidão das águas. Sol, Lua e estrelas preenchem o céu, iluminando a terra. Todo tipo de plantas e animais, em exuberância de cores e imensa variedade, brotam como que do nada. Isso não é um filme hollywoodiano, é Deus criando o mundo. De forma espetacular e perfeita, o Todo Poderoso demonstrou toda sua grandeza e glória em cada detalhe de sua criação. Deus não criou um lugar para admirar, como um pintor cujo propósito é expor sua tela aos olhares dos apreciadores de arte. Deus criou a Terra para um propósito muito específico: ser a habitação, a morada, dos homens. O profeta Isaías declarou: "Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há outro.”[40] Ao ler todo o relato bíblico da criação, pode-se pensar em Deus como um pai e uma mãe se preparando para o nascimento de seu filho. Costumo dizer que em Gênesis 1 Deus está "grávido" da raça humana. Tudo o que Ele estava fazendo na criação era para o benefício dos seres humanos. Cada detalhe foi pensando para dar ao homem o melhor. Toda a criação já era maravilhosa, mas Deus decidiu plantar um jardim, um lugar singular, para ser o berço da humanidade, o Jardim do Éden. A palavra Éden significa prazer[41], ou seja, de todos os lugares da Terra aquele era um espaço especial, reservado e com o melhor de toda o planeta. Todo tipo de árvore agradável à vista e boa para alimentação estava presente ali, e um rio regava todo o jardim.[42] Deus entregou ao homem um verdadeiro paraíso na inauguração do Mundo. A criação do homem é diferente de tudo mais que Deus já havia realizado. Pelo poder de Sua palavra, tudo o que não existia passou a existir. Do invisível, tudo o que é visível, hoje, foi formado. O homem, porém, não foi simplesmente chamado à existência. O texto bíblico diz que Deus cria o homem do pó da terra[43]. Literalmente, Deus colocou a “mão na massa” para criar a coroa da criação, o ser humano. Com suas mãos, Ele moldou um boneco de terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida. A origem da vida humana é divina, pois o homem carrega não apenas as digitais de Deus em seu corpo, mas também o fôlego de vida que veio do interior do seu Criador. É Deus compartilhando sua vida com um ser criado. Deus criou um ser semelhante a Ele. Alguém que é capaz de se relacionar, ter comunhão e intimidade com Ele. A base desse relacionamento é uma aliança conhecida como Aliança da Criação. Nessa aliança, é possível conhecer plenamente o propósito original e perfeito de Deus para toda a raça humana. PROMESSAS DE BENÇÃO 1. A IMAGEM DE DEUS NO HOMEM “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança […].”[44] O homem não veio do macaco nem de vermes de Júpiter. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Após formar um boneco do pó da terra, Deus soprou em suas narinas o fôlego de vida. Assim, o espírito humano foi criado a partir da essência do próprio Deus. Neste primeiro contato de aliança com o homem, é notória a primeira e mais importante ideia presente nas alianças divinas: Deus dando de si mesmo ao homem. Cada aliança posterior a essa contém a ideia de que o homem deve voltar a essa vida que Deus o deu. O homem tem, então, desde a sua criação, a vida de Deus. O homem não é Deus e nunca poderá ser, mas à semelhança de Deus foi criado e carrega a imagem Dele em si. Assim como um filho carrega características de seus pais, o homem tem em si características divinas. A mesma natureza divina foi compartilhada com o homem, pois o propósito de Deus para o homem é um relacionamento de aliança. Deus quer compartilhar com o homem tudo aquilo que Eleé e tem. 2. A FRUTIFICAÇÃO “E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra.”[45] Deus não criou ninguém para a esterilidade. Há uma ordem dada ao homem para encher a Terra e o próprio Deus o deu capacidade para cumpri- la. O homem é inserido como parceiro de Deus na criação, gerando outros semelhantes a ele e, consequentemente, semelhantes a Deus. Essa frutificação se estenderia tanto no âmbito físico como no espiritual. Em Gênesis 5.3, lemos que: “Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete.”[46]. Adão deveria se multiplicar, ou seja, reproduzir quem ele era, gerando outros homens. É o princípio da semente se estendendo também aos homens. Assim como cada árvore contém sementes e produz frutos de acordo com a sua espécie, assim também o homem tem em si sementes para gerar outros segundo a sua espécie. 3. SUJEITAR A TERRA “E sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.”[47] Sujeitar é exercer autoridade, controle e domínio. O homem deveria ser senhor da terra, tendo domínio sobre toda a criação de Deus. Ele é o representante de Deus na Terra, exercendo governo sobre tudo. Esse governo deveria estar alinhado ao reino de Deus. O propósito de Deus não é que o homem seja independente, mas que ele governe a Terra sendo governado por Deus, formando uma perfeita harmonia entre Terra e Céu. Se o homem foi colocado em posição de governo, logo a autoridade da Terra está nas mãos dos homens. O salmista reconhece isso ao declarar "Os céus são os céus do Senhor, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens.”[48]. Deus delegou a autoridade da Terra ao homem. 4. SUSTENTO FÍSICO “E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento.”[49] Deus se encarregou de tudo o que o homem precisaria. Na própria criação, todo o sustento que o homem necessitava para manter o seu corpo estava disponível. Frutas, legumes, verduras, ervas, tudo o que era saudável e bom. A provisão para toda a necessidade humana já estava disponível antes mesmo da necessidade. O homem era livre para desfrutar de toda a criação, sem reservas. Deus não criou o homem para a fome ou a falta de suprimento, ao contrário, Deus criou o homem para a abundância. Essa é a vontade perfeita de Deus. Toda miséria e fome que há no mundo não faz parte do projeto inicial divino, é consequência do distanciamento do homem de Deus. Quando Cristo estabeleceu a nova aliança, Ele despedaçou este jugo de falta e miséria que estava sobre os homens. Hoje você pode viver em ausência de necessidade, experimentando a multiplicação de Deus em todas as áreas da sua vida. 5. TRABALHO “E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.”[50] Já ouvi muitos dizendo que o trabalho é uma consequência do pecado. Porém, ao examinar as sagradas escrituras pode-se perceber que está estabelecido de forma clara que o trabalho é uma obra de Deus, ou seja, uma benção de Deus para os homens. Ainda que não esteja explícito que esta foi uma palavra declarada por Deus, subentende-se que foi Ele mesmo quem orientou o homem quanto ao trabalho e que claramente esta é uma das bênçãos dessa aliança. Deus é trabalhador e criou o homem como um ser trabalhador também[51]. O trabalho que Deus estabeleceu para o homem era lavrar e guardar a terra. O homem era o responsável legal por toda a Terra e deveria manter toda a criação em harmonia, cultivando e colhendo aquilo que já havia sido criado. Deus não exigiu do homem o impossível, dar vida, fazer brotar, florescer, germinar; pois esses eram e são trabalhos divinos. O homem deveria ser apenas cooperador, cuidando do que Deus havia feito pelo seu próprio trabalho. Como já foi dito, Deus entregou toda a autoridade da Terra ao homem, que deveria exercer essa autoridade também para guardar o Jardim. Isso, então, implicava em conquistar o inimigo, ou seja, o homem tinha autoridade para expulsar de lá todo aquele que tentasse invadir e usurpar a criação de Deus. O Criador estava alertando o homem em relação à existência de um inimigo e garantindo que ele tivesse a capacidade para derrotá-lo. TERMOS E PROMESSA DE MALDIÇÃO Diante de bênçãos tão sublimes pronunciadas por Deus nesta primeira aliança com o homem, os termos estabelecidos completam a revelação do pleno propósito de Deus. No relato da criação em Gênesis Deus ordena ao homem: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá."[52]. Esses são os limites estabelecidos por Deus para o homem. A maioria das pessoas, ao ler esse texto, se apega apenas à proibição existente de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, concluindo, assim, que os limites divinos são sempre proibições. Por essa razão, só conseguem ver Deus como o Deus do “não pode”, o proibidor, o castrador. Para estes, a vida cristã é apenas um conjunto de regras a serem seguidas, que não fazem sentido algum, mas que devem ser obedecidas para que Deus não envie a maldição. Os limites de Deus começam com a liberdade. Deus, pelo poder de Sua Palavra, fez brotar da terra todo tipo de árvore agradável à vista e boa para o alimento, e o homem tinha liberdade para usufruir de toda a criação. [53] Se pensarmos apenas nas frutas, por exemplo, há milhares delas no mundo para cada estação. Essas árvores estavam no mundo, no Jardim do Éden. Deus também não estabeleceu uma proibição geográfica. O homem poderia viver em qualquer lugar do mundo. O Éden era apenas o berço, o lugar de origem, não era uma prisão. O homem era livre para escolher morar nos lugares mais frios, ou mais quentes, se estabelecer em um clima tropical ou mudar para um dos polos. Se quisesse viver cada estação em um lugar diferente, não haveria pecado algum nisso. A liberdade é a tônica mais forte dos termos da aliança edênica. A restrição é única diante das múltiplas liberações. Ao homem, foi proibido comer apenas do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e o descumprimento desse limite tinha como consequência a morte. Há um princípio por detrás dessa ordem divina. Deus está ensinando ao homem que por mais que seu corpo seja alimentado pelos frutos da criação, a vida depende do Criador. Consumir todos os produtos que a Terra proporciona não traz vida e nem mesmo a preserva. A verdadeira vida está em obedecer a palavra de Deus, permanecendo, assim, em aliança com o Criador, que é o dono da vida. A consequência da desobediência precisava ser a morte, pois Deus esperava do homem uma obediência radical. Sabemos que não existe verdadeira aliança sem que as duas partes estejam plenamente comprometidas em seu relacionamento. Para que a aliança fosse válida, o homem deveria ter a oportunidade de comprometer a sua vida com aquele pacto. SANGUE Deus é o dono da vida e tudo que Ele faz é para trazer vida. No Éden vemos o primeiro derramamento de sangue das Escrituras, e também sua finalidade que era trazer vida.. Adão já estava usufruindo de toda a criação e das bênçãos da aliança com Deus. Como representante divino, estava a dar nomes aos animais, cooperando com o Criador, quando de repente lhe sobreveio um sono profundo e incontrolável. Ao acordar, Adão percebeu que lhe faltava uma parte do corpo. Uma de suas costelas havia sido arrancada e, como resultado dessa “cirurgia”, Deus trouxe ao seu encontro algo que ele nunca tinha visto antes, mas já havia desejado em seu coração. Diante do homem estava agora a mulher, aquela sobre a qual podia dizer: “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada.”[54]. O que lhe foi tirado produziu aquilo que o seu coração desejava, uma resposta à sua necessidade. O sanguedo homem foi derramado na terra para gerar vida, uma noiva, uma companheira, e não para a morte. O Éden foi o altar escolhido para esse momento e Deus foi o mediador desse ato grandioso. Diante Dele, o homem e a mulher se uniram em uma aliança inquebrável. O cenário é perfeito: um homem e uma mulher gerados por Deus e com Ele aliançados, se comprometem um com o outro, dando à luz a uma família. SELO Como selo perfeito para esta aliança tão sublime, Deus estabeleceu a árvore da vida bem no meio do Jardim[55]. Deus plantou essa árvore no centro do Jardim, destacando-a das demais, a fim de que o homem jamais se esquecesse do fato de que ele foi criado para a vida. O centro da vontade de Deus para a raça humana é a vida, a vida sobrenatural, a vida oferecida por Deus. É interessante perceber na Bíblia que a árvore da vida não é apenas um selo da primeira aliança, mas que será também uma testemunha da plena redenção do homem, como está escrito em Apocalipse 2:7 “Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus”[56]. Palavras liberadas, sangue derramado e selo estabelecido. A aliança da criação está em vigor. O homem pode usufruir livremente de toda a criação, de todas bênçãos divinas, da companhia de seu semelhante. Todos os dias, na viração do dia, a voz do Senhor pode ser ouvida, pois é o momento da comunhão, de caminharem juntos. Deus tem livre acesso ao homem e o homem tem livre acesso à Deus. Tudo estava perfeito em um lugar perfeito, até que o homem foi tentado pelo diabo. A serpente tentou o homem utilizando os termos da aliança como base para o seu discurso enganador. “Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?”[57]. Como estratégia, a serpente enfatizou apenas a proibição contida nos termos da aliança, para torcer a visão e a convicção que o homem tinha a respeito de Deus. Logicamente, se o homem se esquecesse da liberdade que tinha, seus olhos se fixariam na única proibição, no que o levaria à queda. O intuito do diabo era pintar diante dos olhos da mulher um Deus carrasco, proibidor e enganador. Ele colocou em dúvida as intenções de Deus ao estabelecer os termos da aliança. “Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.”[58]. O inimigo desejava abalar a fé do homem em Deus, a confiança estabelecida no coração do homem em relação à palavra de Deus e ao Seu caráter. Não se engane, essa é a mesma estratégia utilizada por ele nos dias de hoje para afastar os homens de Deus. Além disso, ele tentou iludir o homem com uma convicção enganadora de que não haveria consequências para o pecado. Quando ele afirmou: “certamente não morrereis” e “sereis como Deus”, ele estava dizendo que não haveriam maldições para essa desobediência, apenas benefícios. Muitos continuam caindo nessa mesma estratégia. Praticam o pecado apenas pensando no que ganharão com isso e não consideram o que estão perdendo. Entretanto, o fato é que, ao cometerem o pecado, o homem e sua mulher se veem sem os falsos benefícios prometidos por satanás, restando apenas a culpa de terem traído aquele que só queria o bem deles. É com a desobediência a Deus que a aliança da criação é quebrada pelo homem. Porém, Deus não desistiu do homem. Apesar do homem abandonar a aliança, Deus permaneceu fiel ao compromisso que fez. Ele tinha e tem um plano, uma aliança de redenção. CAPÍTULO 6 ALIANÇA DO COMEÇO “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”[59] Quando era pequeno, meus pais me davam vale-transporte para ir de casa para o colégio. Amante de churros, descobri que o vendedor aceitava vale-transporte como pagamento. Isso me trouxe muita alegria, até o dia em que, depois de me saciar com os churros, percebi que estava sem dinheiro para pagar o ônibus e retornar à minha casa. Quando me deparei com essa condição, sabia que tinha feito coisa errada e que sofreria as consequências, principalmente porque meus pais já haviam me dito que usasse o vale- transporte somente para pagar a passagem. Ao ficar sem o vale, sabia que o meu erro seria confrontado pelos meus pais. Vergonha, medo, mente acelerada, pensando nas desculpas: era assim que eu estava. Eu esperava o pior acontecer. E foi exatamente dessa forma que Deus encontrou o homem no Jardim do Éden. Um turbilhão de pensamentos, sensações e emoções nunca antes experimentados pelo homem surgiram como de uma só vez. Ações incoerentes e inconsistentes brotaram como fruto dessa situação. As consequências da separação de Deus, por causa do pecado, começou a apresentar seus primeiros frutos. A vergonha é o primeiro da lista. O homem e a mulher que antes viviam nus e não se envergonhavam[60], agora buscavam rapidamente uma solução para esconder sua nudez, tentando assim, amenizar a vergonha que lhes inquietava internamente. As folhas de figueira foram a solução que encontraram e, mesmo sem nunca terem aprendido sobre corte e costura, fizeram para si aventais. “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.”[61]. É interessante como até hoje o ser humano é criativo em inventar soluções para cobrir a sua nudez. Uma rotina religiosa rigorosa, doações generosas para instituições de caridade, adoção de órfãos e doação de sangue ou medula são apenas alguns dos “aventais de folhas de figueira” que costuramos nos dias atuais para cobrir a nossa vergonha, ou seja, tentar livrar a nossa consciência da culpa. Não me entenda mal, essas atitudes são válidas e devem ser praticadas por todos; porém, muitos as praticam apenas para tentar aliviar a sua consciência. Elas são como um analgésico na alma, que é capaz de aliviar a dor e trazer uma aparente solução; um esforço em vão, pois não solucionam o problema. Quando o homem e a mulher ouvem os passos do Senhor Deus, que passeava no Jardim, se escondem de Sua presença entre as árvores. “E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.”[62] É o segundo fruto do pecado brotando, o medo. Mesmo estando vestidos, eles se veem nus diante da presença de Deus. Dominados pelo medo, fogem, tentando se esconder Dele. Eles sabem que são culpados e que há uma sentença de morte sobre eles. Querem achar alguma fuga para as consequências que virão, mas não têm para onde fugir e não sabem a quem recorrer. Estão perdidos. A consciência de pecado afugenta as pessoas da presença de Deus, faz com que se afastem do único lugar onde há salvação e transformação. Ao invés de correrem para Deus, eles correm de Deus. Pensam que a busca de Deus por eles é como um caçador experiente a encurralar sua presa para matar. ONDE ESTÁS? “E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás?”[63] O homem e a mulher estavam em silêncio absoluto, pois não queriam ser encontrados. Apenas uma voz ecoava pelo Jardim, e era a voz de Deus perguntando ao homem “onde estás?”. Essa pequena frase, composta de apenas uma palavra no hebraico (‘ay - onde), fala de realidades tão profundas que vale a pena mergulhar nelas. Deus, em sua onisciência, já sabia que o homem havia quebrado a aliança, mas, apesar disso, Ele vem ao encontro dele. O que vemos aqui é o Criador buscando a sua criação, que estava perdida. Ele poderia ter abandonado o homem em seu pecado, em seu estado lamentável de morte e destruição, mas esse não é o caráter de Deus. Com essa atitude, Ele está dizendo ao homem: “Eu nãoesqueci do meu compromisso contigo”. Por mais que o homem tivesse abandonado o seu compromisso, quebrado a aliança, Deus veio ao seu encontro na mesma hora de sempre. Deus não escolheu outro momento, não se apressou. Ele veio ao Jardim no momento do dia que era dedicado à intimidade, à comunhão. A atitude de Deus demonstra que, por mais que o homem seja infiel, Ele permanece fiel. Por mais que você tenha abandonado seu compromisso com Deus, Ele está no mesmo lugar esperando por você, buscando você. O "onde estás?" de Deus é um grito de amor ao homem pecador, dizendo "Eu não Te abandonarei nem me esquecerei de você". A morte já era fato na vida do homem, a condenação já estava sobre ele. Deus não precisava ir ao Jardim para que o juízo chegasse. Vale ressaltar que a maior condenação não é as maldições pronunciadas, mas o afastamento de Deus. O inferno só é inferno porque Deus não está lá, e o céu só é céu por causa da presença de Deus. Se o Senhor não viesse ao Jardim, aquele lugar já se tornaria como um inferno para a raça humana. Uma vez que Deus se fez presente, o amor, a graça e a misericórdia estavam lá também. Essa é uma declaração de amor, não dita com palavras, e sim com uma ação. O amor verdadeiro é um amor prático, é um amor que age, busca e acredita. O criador também está buscando arrependimento ao proferir as palavras "onde estas?". Ele está dizendo ao homem: "eu quero saber o que você fez". Era necessário que o homem se colocasse diante de Deus e declarasse o que aconteceu. Um dos traços mais fortes do arrependimento é a confissão, a declaração do seu erro e culpa em busca do perdão. Deus está sempre pronto para perdoar, como afirma o apóstolo João: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.”[64]. Deus foi até o homem no Éden esperando arrependimento, mas só encontrou transferência de culpa. Os dois momentos que o homem fala com Deus são apenas declarações vazias de arrependimento e cheias de austeridade. "A culpa não foi minha!", disse o homem, "foi a mulher que o Senhor me deu!". Ao invés de se arrepender, o homem se desculpa, ele pede que a culpa seja tirada de sobre ele e seja colocada sobre sua mulher, e, até, sobre o próprio Deus. A mulher também declarou sua isenção de culpa, transferindo-a para a serpente: "foi a serpente que me enganou."[65]. A situação que já era ruim foi se tornando cada vez pior, pois não havia no homem uma só faísca de algo que pudesse salvá-lo. A SEMENTE REDENTORA É diante desse quadro caótico que Deus estabelece uma aliança com o homem, a primeira aliança de redenção, o começo de plano divino para redimir a humanidade. Em meio ao caos da história da raça humana, Deus abre os seus lábios e pronuncia palavras que trarão vida. São as palavras da aliança com Adão. Ao homem e à mulher, são direcionadas palavras aparentemente duras, mas que apenas descrevem as consequências do pecado. A Terra estava, então, amaldiçoada por causa do homem, e eles estavam fadados a viver nesse novo mundo que produziria espinhos, cardos, fadigas e dores[66]. Repare que Deus não amaldiçoa a raça humana em nenhum momento. As maldições que eles viveriam eram consequências do pecado que cometeram. Contudo, perceba que Deus amaldiçoa a serpente declarando: “Uma vez que você fez isso, maldita é você entre todos os rebanhos domésticos e entre todos os animais selvagens! Sobre o seu ventre você rastejará, e pó comerá todos os dias da sua vida. Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este ferirá a sua cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”[67]. O diabo é maldito, está destinado a rastejar para sempre, a nunca se colocar de pé e a só se alimentar de pó, carnalidade e imundície. Atente-se para o fato de que na maldição da serpente está a bênção para a raça humana. No verso 15 de Gênesis 3, o evangelho é anunciado pela primeira vez. A promessa de redenção e o julgamento de satanás estão expressos nas mesmas palavras. Deus tem um plano, apesar do pecado do homem. O inimigo achou que poderia desfazer o objetivo divino; porém, o que ele colheu com suas atitudes foi a sua própria destruição. Nesse momento é prevista a destruição do diabo e de seu domínio sobre a raça humana. Deus usará a própria mulher, que foi enganada, para que ela seja um instrumento pelo qual virá Jesus Cristo, o nosso salvador. Ele fará vir à Terra um homem legítimo, nascido de mulher. Contudo, esse homem precisará ter algo diferente. Uma vez que a semente do homem está corrompida, o Criador gerará esse homem-redentor de forma sobrenatural. A semente terá que ser divina, pois não poderá ter as marcas do pecado. Em outras palavras, Deus está dizendo que trará a semente divina à Terra e esta semente será poderosa o suficiente para esmagar a cabeça da serpente. A autoridade de satanás sobre o homem será totalmente aniquilada. Perceba que o texto não afirma que a cabeça da serpente será ferida, pois ferida tem cura. O texto diz que cabeça da serpente será esmagada, ou seja, um ato irreversível. Uma paráfrase de Gênesis 3:15 nos ajuda a entender mais ainda o sentido do texto: “Deus diz ao diabo: Tu fizeste uma aliança com o homem, diz Deus ao diabo, e pelo engano entraste na terra, mas eu te digo que usarei a mulher e colocarei dentro dela a Minha semente e não a semente do homem, porque a semente do homem foi corrompida, colocarei a Minha semente dentro da mulher e esta semente me fará vir a luz um homem, porque dei a terra aos filhos dos homens, esta semente fará uma aliança de sangue com o homem e quebrará o teu poder.”[68] Mais do que lidar apenas com a ação de satanás no homem, Deus também lidou com a consequência da quebra dos termos da aliança da criação. Os termos estavam estabelecidos de forma clara e a promessa de maldição dizia que, no dia em que eles comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal, certamente morreriam[69]. Deus é justo e fiel à Sua palavra. O homem não poderia permanecer vivo, a morte precisava chegar em todos os âmbitos. Morte significa separação e não ausência nem inexistência. Podemos perceber na Bíblia três tipos de morte: morte física: quando o corpo humano para de funcionar, ou seja, a separação do espírito humano de seu corpo. morte espiritual: separação do homem da comunhão com Deus. morte eterna: separação eterna do homem da comunhão com Deus, que é o inferno. Deus não tinha planejado nenhum tipo de morte para o ser humano. Foi sua quebra de aliança que o fez morrer. As mortes física e eterna só foram possíveis por causa da morte espiritual. Essa separação é fruto do pecado, da desobediência do homem em relação aos termos de Deus. O homem e a mulher já se encontravam mortos espiritualmente quando Deus veio ao encontro deles no Jardim, porque já haviam pecado. Porém, eles deveriam morrer não só espiritualmente, mas também física e eternamente. É por isso que a Bíblia diz que o salário do pecado é a morte, porque o pecado é a quebra do termo da aliança. Quem peca deve morrer. Segundo a aliança de sangue, quem desonra o compromisso estabelecido na aliança é digno de morte. Era o que Adão e Eva estavam esperando de Deus depois de errarem. Após pronunciar todas as terríveis consequências que viriam sobre eles, Deus se cala, e o silêncio volta a entrar em cena. Esse silêncio era o anúncio de que o Criador estava se preparando para agir. Deus começa a se equipar com ferramentas de morte, Ele está pronto para matar. Entretanto, para a surpresa de todos, o Senhor toma um animal. Não a serpente, responsável pela tentação, mas um animal inocente que não estava envolvido em nada nessa situação, e o fere com a morte. Adão e Eva, que nunca tinham visto a morte, são plateia de um sacrifício. Eles veem acontecer com aquele animal o que deveria acontecer com eles. Na aliança do começo, Deus coloca a condenação sobre um inocente. O amor de Deus pelo homem O leva a sacrificar algo que era Dele para não perder a relação que tinha com o homem. A
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