Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Zoonose e Saúde Pública Material teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof Dr Flávio Viane Revisão Textual: Profª. Esp. Vera Lidia de Sá Cicaroni Zoonoses Transmitidas por Alimentos Zoonoses Transmitidas por Alimentos Vamos começar a nossa segunda unidade da disciplina Zoonoses e Saúde Pública. Nesta unidade vamos estudar algumas zoonoses cuja principal forma de transmissão é a ingestão de alimentos. Vamos entender as toxinfecções de origem alimentar, a toxoplasmose e o complexo teníase- cisticercose. Aguardo a participação de vocês nos fóruns e não se esqueçam dos exercícios de sistematização. Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Para iniciarmos o estudo das zoonoses, peço que assistam à reportagem exibida no programa Bom Dia Brasil, com o tema “Merenda causa intoxicação alimentar em crianças em Campo Grande (MS)”, e reflitam sobre a informação apresentada. Esta reportagem reflete bem o tema da unidade e da disciplina em geral e sua importância em saúde pública. Clique aqui para acessar o link! Contextualização http://goo.gl/NhfOY http://goo.gl/NhfOY� Zoonoses que são Transmitidas por Alimentos A preocupação com a produção de alimentos de qualidade é tão antiga como a história do homem na Terra. A urbanização, o crescimento expressivo da população mundial e a necessidade de produzir alimentos em grande quantidade e armazená-los tornaram o consumo de alimento muito sensível à presença de organismos causadores de doenças, entre elas zoonoses. Nesta unidade vamos estudar algumas doenças cuja principal via de transmissão é o alimento, embora saibamos que algumas delas podem ser transmitidas por outras vias. Toxinfecções de Origem Alimentar As toxinfecções alimentares zoonóticas fazem parte de um grande grupo de doenças classificadas como DTAs (Doenças Transmitidas por Alimentos). As toxinfecções alimentares ocorrem por dois mecanismos distintos: 1) pelo crescimento microbiano no trato intestinal, pós-ingestão de alimento contaminado com o agente infeccioso (infecção). Um bom exemplo é a Salmonelose. 2) pela ingestão de exotoxinas pré-formadas após o crescimento bacteriano no alimento (Intoxicação). São exemplos a ingestão de Toxinas estafilocócicas e de Toxina botulínica. Intoxicação pela toxina de Staphylococcus spp A intoxicação por enterotoxina estafilocócica é a toxinfecção mais comum e ocorre pela ingestão de alimentos com crescimento de Staphylococcus spp. O Staphylococcus tem como habitat a pele e mucosas do homem e dos animais e é agente comum de infecções purulentas como abscessos, furúnculos etc. Normalmente o alimento é contaminado durante a manipulação por pessoas portadoras de Staphylococcus (feridas, abscessos, falta de higiene) ou pelo uso de ingredientes contaminados com a bactéria (exemplo: Leite de vacas com mastite). A produção das enterotoxinars inicia-se dentro de 8 a 10 horas no alimento preparado, quando submetido a condições ideais para o crescimento do Staphylococcus. Material Teórico Etiologia O gênero Staphylococcus é caracterizado como cocos gram-positivos, anaeróbio facultativo, com arranjo predominantemente em cachos e positivo na prova da catalase. Staphylococcus aureus é a espécie mais patogênica do gênero e a principal incriminada nos casos de toxinfecção alimentar. Caracteriza-se por ser positivo nas provas da coagulase , Dnase e Manitol. A faixa de temperatura ideal para o crescimento está entre 10ºC e 45°C; o pH ideal deve ser maior 4,4; o crescimento é estimulado na presença de 10% de NaCl. A enterotoxina estafilocócica produzida durante o crescimento no alimento é termorresistente a 100°C por 30 minutos, o que propicia sua manutenção mesmo após processos de cocção. Patogenia Para o início da infecção, é necessária uma carga bacteriana entre 105 e 106 bactérias por grama de alimento, gerando 0,02 a 1 µm/g de toxinas no alimento. Após a Ingestão, entre 1 a 6 horas (média de 3 horas), a sintomatologia apresenta-se com náuseas, vômito, dores abdominais e diarreia profusa. Epidemiologia De 30% a 35% da população é portadora de Staphylococcus na região de nasofaringe. Além disso, o Staphylococcus faz parte da microbiota cutânea e está relacionado com dermatites purulentas, portanto o manipulador de alimento é a principal fonte de infecção. O bovino de leite (vaca com mastite) é o principal reservatório para o homem. Os alimentos que apresentam, em sua constituição leite, ovos ou aqueles intensamente manipulados, como maionese, massa de pastel, creme de padaria e derivados lácteos, como leite em pó, são as principais vias de transmissão. Diagnóstico Para o diagnóstico definitivo, deve-se fazer o isolamento bacteriano dos possíveis alimentos incriminados e demonstração da presença da toxina. Medidas preventivas Para a prevenção das intoxicações por toxinas estafilocócicas são necessários tanto o controle dos alimentos de origem animal, principalmente o do leite em nível de fazenda e laticínio, como a implantação de medidas higiênicas na manipulação de alimentos. Botulismo O botulismo é a toxinfecção de origem alimentar mais grave. Quase sempre de caráter fatal, está relacionada aos alimentos enlatados em más condições de higiene e mantidos em condição de anaerobiose. Etiologia O micro-organismo responsável pela produção de toxina botulínica é o Clostridium botulinum. Seu habitat é o trato gastrointestinal dos herbívoros e aves. Ele é caracterizado como um bacilo gram-positivo, imóvel, sem cápsula, esporulado, anaeróbio estrito. Seus esporos resistem à temperatura de 100°C, por 6 horas, e à de 120°C, por 3 a 4 horas, sendo, então, extremamente resistente às condições térmicas, favorecendo sua permanência após o processamento térmico. A Toxina A toxina botulínica é termolábil, classificada em 6 Sorotipos: A,B,C,D,E e F. Para o homem, os sorotipos mais importantes são: A,B e E; e para os animais, os sorotipos C e D. A toxina botulínica é extremamente potente, sendo que a dose letal mínima para comundongos está entre 0,4 a 2,4 ng por animal. Patogenia Após a ingestão da toxina pré-formada, ela é distribuída por todo o organismo e exerce sua ação farmacológica nas terminações nervosas dos nervos periféricos, cujo neurotransmissor é a acetilcolina. Ocorre uma paralisia flácida progressiva, pela inibição da liberação da acetilcolina nas junções neuromusculares. O óbito ocorre por parada respiratória. Os sintomas são observados após 3 a 36 horas da ingestão. Também é possível a intoxicação por produção da toxina após contaminação de feridas e pela colonização do trato intestinal de crianças com produção endógena de toxina botulínica e posterior absorção. Epidemiologia No ambiente, esporos de Clostridium botulinum são encontrados no solo, rios, sedimentos oceânicos e no trato intestinal de mamíferos e aves. A via de transmissão é por alimento, sendo susceptíveis, além do homem, também os animais domésticos. Diagnóstico O diagnóstico é feito demonstrando a toxina no alimento e no paciente através de técnicas, como a soroneutralização da toxina testada em camundongos com anatoxinas (anticorpos) específicas. Ações profiláticas São ações de prevenção a destruição dos esporos nos alimentos pelo aquecimento ou por radiação; a inibição do crescimento da forma vegetativa nos alimentos através da redução do pH, pela limitação da quantidade de água, pela redução da temperatura durante o armazenamento; a inativação da toxina pré-formada, pela cocção ou utilizando inibidoresquímicos. Também é fundamental a educação sanitária da população, visando inibir o consumo de alimentos de procedência desconhecida. Salmonelose Etiologia O gênero Salmonella pertence à família Enterobacteriaceae. É um bacilo gram- negativo, não produtor de lactose, produtor de gás a partir da fermentação de açúcares, produtor de H2S e móvel com flagelos peritríquios. Sua classificação é confusa e vem sendo mudada constantemente. Admite-se, hoje, a existência de duas espécies: S. entérica, dividida em sete subespécies (enterica, salamae, arionae, diarizonae, houtenae e indica), e S. bongori . Este esquema tem sido pouco útil e o que se utiliza, na rotina, é a classificação de Kauffmann & White que subdivide o gênero em sorotipos, tendo por base a composição antigênica com relação aos antígenos O, K e H. A correta grafia dos sorotipos da Salmonella consiste em escrever o gênero em itálico e o sorotipo em tipo comum, porém com a primeira letra em maiúsculo, por exemplo, Salmonella Typhimurium. Na tabela 1, temos os principais sorotipos, as espécies envolvidas e as síndromes presentes nos animais. Tabela 1- Principais sorotipos de Salmonella que infectam os animais de produção e o homem e as principais síndromes a que induzem. Espécie Sorotipo Síndrome Homem S. Typhi S. Paratyphi Febre tifoide Bovinos S. Dublin S. Typhimurium Septicemia, enterite aguda pou crônica e aborto Ovinos S. Typhimurium Septicemia , tiflite e aborto Suínos S. Choleraesuis, S. Typhimurium S. Typhisuis Septicemia e enterocolite Equinos S.Typhimurium Septicemia, colite aguda e aborto Aves S. Enteritidis Assintomáticos Fonte: TRABULSI, L.R.; ALTERTUM, F.; COMPERTZ, O.F.; CANDEIAS, J.A. Microbiologia. 3 ed., São Paulo: Atheneu, 2000, 586 p. A S. Tiphy e S. Paratiphy são os agentes etiológicos da febre tifoide, dos quais o homem é o único hospedeiro, não tendo importância zoonótica. As demais salmonelas são transmitidas via alimento (leite e ovos principalmente), causando, no adulto normal, uma enterocolite que evolui sem complicações e desaparece em menos de uma semana. Entretanto, se o hospedeiro é uma criança no primeiro ano de vida, a infecção causada por estas salmonelas pode evoluir de maneira diferente, levando a uma septicemia bastante grave. Patogenia A dose infectante é variável, dependendo do sorotipo. O período de incubação está entre 14 a 48 horas, com média de 18 horas; a ação é exercida na mucosa do trato gastrointestinal. Sintomas No homem, os sintomas são náuseas, vômitos, dor de cabeça, diarreia e febre. A fase mais aguda ocorre por volta de dois dias. A excreção da salmonela nas fezes ocorre por 8 semanas e pode permanecer na vesícula biliar por até 6 meses. Diagnóstico Para o diagnóstico, é importante realizar inquérito epidemiológico para descobrir o alimento responsável e levantar os fatores que propiciaram o surto. Para o diagnóstico específico no paciente, deve-se realizar Coprocultura. Epidemiologia As principais fontes de infecção para o homem são suínos e aves, podendo qualquer animal servir como fonte de infecção. O estresse do transporte e do abate favorece a infecção nos animais. Enquanto, na granja de suínos, 7% dos animais possuem salmonela, após 48 horas no abatedouro, 25% apresentam-na e, após o abate, mais de 50% das carcaças estão contaminadas (FIGURA 1). Para as aves, o processamento pós-abate favorece a contaminação das carcaças devido aos equipamentos que retiram as penas e fazem a eviceração, ao tanque de resfriamento e à manipulação. Figura 1: Cadeia Epidemiológica da Salmonelose Zoonótica Medidas Preventivas Para prevenção da salmonelose, deve-se autoclavar os subprodutos de origem animal utilizados para alimentação animal. Deve-se fazer o armazenamento correto dos alimentos antes da manipulação, garantir a correta higiene do manipulador de alimentos bem como controlar animais invertebrados. Toxoplasmose A Toxoplasmose é uma zoonose causada pelo protozoário Toxoplasma Gondii; que é um parasita intracelular obrigatório, cuja transmissão está relacionada ao consumo de carne e ao contado com ambiente contaminado com fezes de felinos. É uma infecção bastante comum, com desenvolvimento da doença bem raro; é a doença parasitária cosmopolita mais comum que acomete o homem e vários animai., Acomete carnívoros, herbívoros, insetívoros, roedores, suínos, primatas e outros mamíferos e aves. Aproximadamente 200 espécies de mamíferos e aves infectam-se por este parasita. É menos infectivo e patogênico para o hospedeiro definitivo quando comparado com o hospedeiro intermediário. Etiologia O Toxoplasma gondii (toxon = arc; plasma = forma, Grego) é parasita intra-celular obrigatório. O ciclo de vida do parasita é heteroxeno facultativo (hetero = outros, xenos = estrangeiro) e eurixeno (eurys = largo, amplo xenos = estrangeiro). O ciclo de vida inclui: • Reprodução assexuada, que ocorre no Hospedeiro Intermediário (HI) e no Hospedeiro Definitivo (HD). • Reprodução sexuada por gametogonia, fazendo ciclo enteroepitelial no gato doméstico e em outros felinos (HD). São hospedeiros definitivos para o Toxoplasma gondii os felídeos (gato doméstico é o mais importante), nos quais ocorrem a reprodução assexuada e a sexuada, e são hospedeiros intermediários as aves e demais mamíferos (incluindo-se os felídeos), ocorrendo reprodução assexuada. Ciclo do Toxoplasma gondii O ciclo do Toxoplasma gondii está ilustrado na figura 2. Resumidamente temos o seguinte: os gatos infectam-se através da ingestão de carne com cistos com bradizoítos ou pela ingestão de oocistos esporulados. Esses dão origem aos Taquizoítos ( Figura 3), que se multiplicam rapidamente e são levados a todos os órgãos, causando infecção generalizada, podendo ocorrer, então, várias gerações de reprodução assexuada. No epitélio intestinal, os Bradizoítos dão origem a merozoítos, que formam os gametócitos e, por reprodução sexuada, originam os zigotos, eliminando, nas fezes, então, os oocistos não esporulados. Os Oocistos formam-se exclusivamente no intestino de gatos domésticos e de felinos selvagens, sendo excretados pelo período de uma a duas semanas através das fezes para o meio ambiente, onde, após um a cinco dias, se tornam esporulados e infectantes. Os oocistos são capazes de sobreviver por vários meses no meio ambiente. Nos hospedeiros intermediários, o ciclo é semelhante, não ocorrendo a fase sexuada. Após ingestão de Oocistos esporulados presentes no ambiente, estes transformam-se em Taquizoítos, que se multiplicam rapidamente e são levados a todos os órgãos, causando infecção generalizada aguda, que, muitas vezes, passa despercebida. Taquizoítos transformam-se em Bradizoítos, que infectarão novas células formando cistos, os quais são capazes de se manter no organismo por longos períodos de tempo; são os responsáveis pela fase crônica ou pelo estado latente da doença. Figura 2: Ciclo do Toxoplasma gondii. Figura 3: Taquizoítos de Toxoplasma gondii. Fonte: http://goo.gl/iDc5I. Patogenia O parasita invade o epitélio intestinal e vários tipos celulares, particularmente células mononucleares, multiplicam-se por reprodução assexuada e disseminam-se por via sanguínea ou linfática. Os taquizoítas invadem os tecidos muscular e nervoso (cérebro) e as vísceras. Uma vez dentro da célula, multiplicam-se por fissão binária. Os Taquizoítos livres podem atravessar a placenta e infectar o feto (transmissão vertical). Isso só ocorre nas fases iniciais da infecção primária, quando não há resposta imune, e em fêmeas que adquirem o parasita durante a gestação. Uma vez nos tecidos e coincidindo com o início da resposta do sistema imune, os bradizoítos fazem reprodução por endodiogenia de forma lenta, ocorrendo a formação dos cistos em vários tecidos,principalmente no muscular e no nervoso, particularmente no cérebro, levando à fase crônica da doença. Os cistos podem permanecer viáveis por muitos anos, protegidos da resposta imunológica que não é capaz de eliminá-los. Em imunodeprimidos, o cisto pode se romper, os bradizoítos readquirem as características invasivas dos taquizoítos, podendo ocorrer disseminação fatal do parasita. A severidade da doença clínica é dependente do grau e da localização do tecido acometido. A necrose tecidual é proporcional à multiplicação do parasita e o quadro clínico está relacionado com o órgão acometido. Com exceção das infecções disseminadas agudas, que podem ser fatais, o hospedeiro geralmente se recupera na terceira semana após a infecção, quando os taquizoítos começam a desaparecer dos tecidos. A presença de doenças concomitantes ou de imunossupressão pode agravar o quadro. http://goo.gl/iDc5I Doença no Homem A Toxoplasmose humana é rara, geralmente assintomática. A Infecção congênita e a infecção adquirida por imunodeprimidos são de grande importância em saúde pública. Na Toxoplasmose congênita, observa-se abortamento, principalmente, no primeiro trimestre de gestação. O neonato apresenta alterações sérias logo após o nascimento ou nos primeiros meses de vida; por vezes, mais tardiamente, resultando em alterações neurológicas, anemia hemolítica e alterações visuais. Na Toxoplasmose adquirida, os sintomas são febre, linfoadenopatias e alterações visuais, sendo que, em indivíduos imunodeprimidos, as manifestações clínicas costumam ser graves, podendo levar o paciente à morte. Em humanos, 1% apresenta sintomas clínicos que podem persistir por semanas ou meses e, em alguns casos, por anos. Pode ocorrer cefaleia, febre, hemiparesia, dor muscular e nas articulações, convulsões, coma, morte. As lesões mais graves, como retardo mental, problemas de visão, estrabismo e problemas de audição, ocorrem no feto humano. Doença nos animais De forma geral, a Toxoplasmose animal é assintomática, sendo os sinais mais significativos (quando ocorrem) o aborto e a pneumonia. No gato, os sintomas são variáveis; são observados anorexia, febre, letargia, diarreia, vômito, perda de peso, aborto, alterações respiratórias, alterações nervosas, disfunções oculares, alterações cardíacas e, eventualmente, morte súbita. Os filhotes, infectados ainda no útero materno, podem nascer mortos ou morrer logo após o nascimento. Nos cães, a doença é rara. Quando ocorre, é semelhante ao quadro felino, podendo ocorrer na forma de moléstia multissistêmica grave (geralmente fatal) ou como moléstia localizada nos sistemas nervosos central e periférico. Diagnóstico Em felinos, o diagnóstico depende da fase da doença. Exames coproparasitológicos demonstram a presença de oocistos nas fezes pela técnica de concentração de oocistos por flutuação Willis e centrífugo-flutuação em sacarose, porém animais com infecção latente não são positivos nessa prova. A sorologia pode ser de grande valia, porém carece de apurada análise dos resultados. Infecções recentes podem ser demonstradas pela presença de IgM ou pela soroconversão da IgG. De maneira complementar ou alternativa à imunologia, é possível demonstrar a presença do agente no líquido cefalorraquidiano pela técnica da reação de polimerase em cadeia (PCR). Em humanos, o diagnostico é clínico e confirmado pela sorologia ou PCR. Epidemiologia A toxoplasmose é uma doença cosmopolita; um terço da população humana teve contato com o agente e possui anticorpos anti-T. gondii. O hospedeiro definitivo é o gato, que elimina, pelas fezes, oocistos que, entre um e cinco dias, tornam-se esporulados e infectantes. Os Oocistos esporulados podem sobreviver por longos períodos de tempo em condições moderadas de temperatura e umidade. No solo, podem ser mecanicamente transmitidos por moscas, besouros, etc. e também podem sobreviver por longos períodos de tempo sobre frutas e vegetais. Mamíferos e aves domésticos e selvagens são hospedeiros intermediários que possuem, em seus tecidos, cistos. A via de transmissão para o homem é a ingestão de oocistos esporulados presentes no ambiente ou a ingestão de cistos nos tecidos de animais. Portanto a ingestão de verduras mal lavadas e carnes mal cozidas são importantes vias de transmissão. Devemos levar em conta, também, a manipulação do solo contaminado com fezes de gatos, como a limpeza dos excrementos desses animais. A porta de entrada é a via oral, sendo susceptível o homem em qualquer fase da vida. Os gatos adquirem a infecção após a ingestão de animais infectados cujos tecidos contêm taquizoítos ou bradizoítos ou pela ingestão de oocistos eliminados por outros gatos. O período pré-patente varia de acordo com o estágio do parasita ingerido: para oocisto, é maior que 20 dias; taquizoítos, mais de 19 dias; bradizoítos, entre 3 e10 dias e continua por até 14 dias, quando há o aparecimento da imunidade. Menos de 50% dos gatos eliminam oocistos após a ingestão de taquizoítos e quase 100% dos gatos que ingerem bradizoítos eliminam oocistos. A transmissão vertical (transplacentária) é possível e é responsável pela forma mais grave da doença na espécie humana. A infecção e a doença no homem estão relacionadas a práticas incorretas de higiene e hábitos alimentares e a deficiências no manejo de animais. Prevenção e Controle As medidas preventivas estão relacionadas ao hospedeiro definitivo, visando impedir sua infecção, ao ambiente, onde se deve impedir a presença de oocistos, e ao homem, que não deve entrar em contato com oocistos do ambiente e nem ingerir cistos presentes em carnes. Deve-se evitar a ingestão de carnes cruas ou mal cozidas, devendo ser submetidas a temperaturas superiores a 65ºC, e higienizar adequadamente legumes, frutas e verduras. Devem-se utilizar luvas na manipulação de terra, areia ou substrato com fezes de gatos. Um problema sério são os tanques de areia de escolas e parques, que devem ser protegidos da presença de animais e ter a areia substituída frequentemente. Mulheres gestantes devem evitar o contato com gatos, solo ou carne crua e realizar sorologia para toxoplasmose no exame pré-natal. Os gatos devem ser alimentados somente com ração e nunca com carnes cruas. Os animais devem ser impedidos de sair de casa. Suas fezes devem ser retiradas diariamente para evitar a esporulação dos oocistos. Complexo Teníase-Cisticercose A teníase é uma parasitose causada pela fase adulta dos helmintos Taenia solium e Taenia saginata, já a cisticercose é causada pela fase larvar desses helmintos, causando sérios problemas, principalmente quando instalados no sistema nervoso central. É uma zoonose transmitida por alimento típica de locais com déficit de higiene pessoal e saneamento básico. A teníase já era relatada no papiro de EBERS (1500 a.C.) e a associação da forma larvar com a adulta foi feita por Levckart (1861). Etiologia Nesta zoonose temos duas espécies envolvidas, Taenia solium e Taenia saginata. A Taenia solium vive cerca de 3 anos, pode alcançar até 20 a 25 anos, e a T. saginata vive cerca de 10 anos, podendo chegar até a 30 anos. Os ovos, em temperatura entre 20ºC e 30ºC, a uma umidade entre 50% e 80% e na sombra, sobrevivem em torno de 4 a 6 meses. O Homem é o único hospedeiro da forma adulta dessas espécies. A fase larvar da T. solium é conhecida como Cysticercus cellulasae, cujo hospedeiro é o suíno, e a da T. saginata, cujo hospedeiro é o bovino, é conhecida como Cysticercus bovis. Ciclo da Taenia O clico da Taenia está ilustrado na figura 4. A fase adulta está sempre no homem, que elimina, pelas fezes, proglotes grávidas ( Figura 5) e ovos (Figura 6) . Estes vão ficar no ambiente, contaminando solo e vegetais. Suínos e bovinos, em contato com o solo, durante o pastejo, ingerem os ovos, que vão migrar pela corrente circulatória, transformando-seem larvas (cisticerco), ficando quiescentes na musculatura. O homem, ao ingerir carne suína ou bovina mal cozida, vai digerir o cisticerco que, no intestino, entra na fase adulta. Um ciclo errático pode ocorrer quando o homem ingere ovos de Taenia e, como o hospedeiro intermediário, alberga a fase larvar na musculatura ou no sistema nervoso central. Figura 4: Ciclo da Taenia solium e saginata Figura 5: Proglote de Taenia saginata. Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/64/Taenia_solium-detailed_morphology.jpg. Autor CDC/ Dr. Mae Melvin. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/64/Taenia_solium-detailed_morphology.jpg Figura 6: Ovo de Taenia sp. Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/Taenia_egg.jpg, autor DPD. Patogenia A teníase ocorre após a ingestão da fase larvar; ocorre a desenvaginação do escólex no intestino delgado pela ação da bile e do suco digestivo; ocorre a fixação do escólex na mucosa intestinal, que se transforma em adulto entre 60 e 70 dias. Os sintomas são derivados da ação irritativa e traumática com inflamação. Os sintomas observados são a descarga de proglotes, dores abdominais, náuseas, debilidade, perda de peso, aumento de apetite, dores de cabeça, constipação, tontura, diarreia e prurido anal. A cisticercose pode ocorrer heteroinfecção por ingestão de alimentos com ovos, por autoinfecção, quando o indivíduo com teníase leva à boca ovos, ou por autoinfecção endógena, quando ocorre o refluxo intestinal, levando os ovos para o estômago e, posteriormente, ao intestino. Após ingestão dos ovos, ocorre a digestão do embrióforo, posterior ativação do embrião hexacanto. O embrião atravessa a mucosa intestinal e ganha a circulação, instala-se em regiões com intensa vascularização, como músculo esquelético do miocárdio, língua, masseter diafragma e músculos intercostais. Além de na musculatura, pode se instalar também no sistema nervoso e no globo ocular. Na fase de invasão, observa-se enterite catarral com pontos hemorrágicos na mucosa. No sítio onde o embrião desenvolve a vesícula, observa-se lise tecidual com reação inflamatória local e ação antigênica, podendo ficar vivo por anos. Nos animais, a cisticercose é assintomática, ao passo que, em humanos, o prognóstico é reservado, ocorrendo transtornos nervosos e opacidade do globo ocular. http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/22/Taenia_egg.jpg Diagnóstico O diagnóstico clínico depende de confirmação laboratorial. Em tecidos, o cisticerco pode ser evidenciado por técnicas de imunodignóstico, como a imunofluorescência. Em humanos, a cisticercose pode ser evidenciada por exames por imagem. Para o diagnóstico da teníase, deve-se proceder à pesquisa de proglotes e ovos nas fezes. Epidemiologia A fonte de infecção é o Homem, o hospedeiro definitivo, sendo uma fonte duradoura, e a via de eliminação são as fezes. As vias de transmissão são o solo, a água, os alimentos contaminados com ovos. São hospedeiros intermediários os suínos para T. solium e bovino para T. saginata, sendo a via de transmissão o consumo de carne mal cozida. Prevenção e Controle A prevenção está baseada na eliminação do estado de portador da fase adulta, por tratamento com anti-helmínticos, e em medidas higiênico-sanitárias, como higiene pessoal, inspeção sanitária das carcaças para consumo humano e saneamento básico. A população deve ser advertida de que deve consumir exclusivamente carne inspecionada e bem cozida. Em locais não urbanizados, a construção de fossa séptica deve ser instituída, o destino adequado das fezes humanas deve ser estimulado e nunca devem ser utilizadas como adubo orgânico. Material Complementar Para entender a questão da Salmonella enteritidis na avicultura, recomendo a leitura dos artigos disponíveis nos seguintes sites: • http://www.cnpsa.embrapa.br/sgc/sgc_publicacoes/anais0204_bsa_soncini.pdf • http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-635X2002000200001 Para informações sobre a toxoplasmose congênita, recomendo a leitura do artigo disponível no site indicado abaixo: • http://www.scielo.br/pdf/ramb/v57n5/v57n5a21.pdf http://www.cnpsa.embrapa.br/sgc/sgc_publicacoes/anais0204_bsa_soncini.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-635X2002000200001 http://www.scielo.br/pdf/ramb/v57n5/v57n5a21.pdf CIRILO, MB; SALVARANI, RS; NEVES, M F. Toxoplasmose em cães e gatos. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. N. 11, 2008. CASTRO et al. Toxoplasmose congênita RBGO - v. 23, nº 5, 2001. ACHA, P. N.; SZYFRES, B. Zoonoses and communicable diseases common to man and animals. 3 ed. Washington, Pan American Health Organization, 2001 REY, L. Parasitologia. Ed. Guanabara Koogan, 3º. Ed., 2001. GODOI, M. T. J.; HINDRICHSEN, S.L; MACHADO, R.L et al. “Rickettsioses”. In: HINDRICHSEN, S.L. Doenças Infecciosas e Parasitárias. Ed. MEDSI, 1º. Ed.2005. TRABULSI, L.R.; ALTERTUM, F.; COMPERTZ, O.F.; CANDEIAS, J.A. Microbiologia. 3 ed., São Paulo: Atheneu, 2000, 586 p. Referências _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Anotações
Compartilhar