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enfrentando do psicólogo ao covid-19

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UNIC – Campus Tangará da Serra 
Curso de Psicologia 
 Laiz Garcia Guedes
O psicólogo hospitalar no enfrentamento do covid-19
 
Tangará da Serra, MT 
2020
1. INTRODUÇÃO
O ano de 2020 foi marcado no país pela vinda do novo coronavírus, tendo como nome SARS-CoV-2, sendo classificado como COVID-19. Seu aspecto principal é a alta transmissão, o qual gera uma síndrome respiratória aguda, desde casos leves a muito graves com insuficiência respiratória, cuja taxa de fatalidade varia de acordo com a faixa etária e condições clínicas associadas.
O novo coronavírus tem sido a maior urgência de saúde pública mundial enfrentada há décadas. Além da precaução com a saúde física, também traz a atenção com o sofrimento psicológico que pode ser vivenciado pela sociedade e pelos profissionais da saúde envolvidos. A finalidade do presente estudo é descrever sobre consequências na saúde mental e intervenções psicológicas diante desta pandemia.
2. AS CONSEQUÊNCIAS NA SAÚDE MENTAL 
Segundo Ornell, Schuch, Sordi & Kessler (2020) nas pandemias, a saúde física da população e o enfrentamento ao agente patogênico é o foco primário de atenção de gestores e profissionais da saúde, de maneira que as implicações na saúde mental tendem a ser negligenciadas ou subestimadas, gerando falhas no combate ao lado negativo relacionado à doença, cujo não é desejável, especialmente porque as consequências psicológicas podem ser mais longas e dominantes que a doença em si. Porém, ações usadas para conter as complicações psicológicas da pandemia não devem ser ignoradas (Brooks et al., 2020; Xião, 2020).
Estudos têm apontado que o medo de ser contaminado por um vírus capaz de ser fatal, por grande proliferação, cujas origens, curso e natureza ainda são pouco conhecidos, afeta a saúde psicológica dos indivíduos (Asmundson & Taylor, 2020; Carvalho et al., 2020). Sintomas de ansiedade, depressão e estresse diante da pandemia têm sido frequente na sociedade, (Wang et al., 2020) com mais casos nos profissionais da saúde (Zhang et al., 2020). Além de tudo, atos de suicídio ligados às implicações psicológicas da COVID-19 também já apareceram em alguns países como Coreia do Sul (Jung & Jun, 2020) e Índia (Goyal, Chauhan, Chhikara, Gupta, & Singh, 2020).
Além das consequências psicológicas relacionadas à COVID-19, meios para combater a pandemia também podem implicar fatores de risco à saúde mental. De acordo com Brooks et al. (2020), detectaram que os efeitos negativos desses meios abrangem sintomas de raiva, estresse pós-traumático e confusão. Preocupações com a falta de alimentos e os danos financeiros também prejudicam com o bem-estar psicológico (Shojaei & Masoumi, 2020).
A Organização Pan-Americana da Saúde relatou que a exposição direta com chance de contágio, os poucos sinais de melhores atitudes a serem adotadas, a escassez de utensílios de proteção, o convívio continuo com o sofrimento, a morte e a dor podem predispor à quadros de depressão, ansiedade, transtornos psicossomáticos, síndrome de Burnout, transtorno de estresse pós-traumático, além do uso de substâncias, como álcool e outras drogas e uso psicofármacos sem indicação. 
3. INTERVENÇÕES PSICOLOGICAS DIANTE DO COVID-19 NO AMBITO HOSPITALAR 
Intervenções psicológicas para a população geral e para os profissionais da saúde são essenciais para lidar com as consequências da saúde mental por causa da pandemia do novo coronavírus. Organizações relacionadas à saúde, como o Conselho Federal de Psicologia, e cientistas de vários países têm publicado orientações para práticas ajustados às demandas do contexto atual. De maneira geral, é recomendado que as intervenções psicológicas presencialmente sejam limitadas ao mínimo possível, para diminuir o risco de contaminação do vírus. Logo, os serviços psicológicos realizados por meios de tecnologia da informação e da comunicação são os mais indicados. 
Dia 26 de março de 2020, no Brasil, foi divulgada a Resolução CFP nº 4/2020, que autoriza o trabalho psicológico através da tecnologia da informação e da comunicação após efetuar o “Cadastro e-Psi”. Então, passa a permitir prestação de serviços psicológicos por tecnologia da informação e da comunicação a indivíduos e grupos em situação de emergência, emergência e desastre, tal como de violação de direitos, diminuindo as causas psicológicas diante da COVID-19 (CFP, 2020).
Com o aumento na demanda relativa à saúde mental nesse momento, a falta de profissionais aptos para acolher, e a necessidade de feedbacks rápidos e eficientes, alguns lugares têm sugerido uma classificação das pessoas afetadas pela pandemia, a ser considerada como prioritárias. A Comissão Nacional de Saúde da China, por exemplo, propôs quatro níveis de classificação: (1) Quadros mais vulneráveis a questões de saúde mental, como seres hospitalizadas positivos para o coronavirus e profissionais da saúde que atuam ou não na linha de frente; (2) Pessoas confinadas com suspeitas de infecção, sintomas leves ou em convívio com casos confirmados; pessoas com sintomas como febre; (3) Indivíduos em contato com casos referidos nos níveis 1 e 2; (4) Pessoas acometidas pelos meios de prevenção e controle, grupos de riscos e população geral (Duan & Zhu, 2020; Jiang et al., 2020; Li et al., 2020). 
Intervenções psicoeducativas, como: cartilhas e materiais informativos; canais para escuta psicológica, que ajudam a aliviar as emoções negativas via atendimento em plataformas online ou ligação telefônica , 24 horas por dia e sete dias por semana (Jiang et al., 2020; Zhou, 2020); serviços psicológicos através de carta estruturada, a princípio o paciente se apresenta e expõe suas principais queixas e emoções, e das possíveis causas para elas (Xiao, 2020); atendimentos psicológicos online (CFP, 2020). 
Nesse âmbito, recomenda-se a princípio nos primeiros cuidados psicológicos, cujos contêm assistência humana e apoio prático em situações de crise, tentando aliviar preocupações, dar conforto, sortir necessidades básicas e ativar a rede de ajuda social (WHO, 2011). Segundo Zhang et al. (2020) as intervenções psicológicas tem que ser dinâmicas e, no início, voltadas nos estressores ligados à doença ou nas dificuldades de adaptação.
 Os temas que estão sendo discutidos pelos profissionais da saúde mental, salientam: reações prevista no contexto de pandemia, como sintomas de estresse, ansiedade, emoções negativas (tristeza, raiva, medo e solidão); esquemas para promoção de saúde psicológica, como organização da rotina diária de forma segura, atividades físicas, cuidado com o sono e técnicas de relaxamento; Além dessas, Shojaei & Masoumi (2020) fala sobre o fortalecimento dos vínculos com a rede de apoio social, por mais que o contato não ocorra presencialmente, considerando que instituições como igrejas e escolas devem estar fechadas, o que pode gerar sensações de vulnerabilidade e solidão; cautela com a exposição exagerada a dados, como notícias na televisão e em outras mídias; e importância da veracidade das informações.
Taylor (2019), relata que para indivíduos que estão ou passaram por níveis de sofrimento mais intensos relacionados à coronavirus, intervenções psicológicas mais severas devem ser necessárias. Esses quadros normalmente contêm pessoas com diagnóstico confirmado ou suspeita e próximos, pessoas hospitalizadas ou que vivenciaram a hospitalização, que estão presenciando o processo de terminalidade ou a morte de próximos, em especial aqueles que não puderam se despedir ou acompanhar o falecido por causa da pandemia. Ainda, conforme o aumento e dos fatos ligados a doença pode modificar as demandas psicológicas, o que se ajusta a intervenções psicológicas dinâmicas. Sempre que precisar, tem que fazer encaminhamentos a outros profissionais da saúde.
Dentro dos desafios para o trabalho de psicólogos na pandemia do COVID-19 no Brasil, realçam a restrição a locomoção e a necessidade de realizar o serviço psicológico através da tecnologia da informação e da comunicação. Porém, há brasileiros que não têm acessoà internet, impossibilitando o atendimento a eles. Além disso, os que tem acesso podem ter dificuldades para utilizar celulares ou computadores. Na maioria dos casos acontece com idosos, sendo a faixa etária que tem apresentado o maior número de complicações e óbitos decorrentes da COVID-19 (Ornell et al., 2020). Logo, nessas demandas, propõe realizar os serviços psicológicos via telefone. Nesse contexto, o CFP enviou um ofício circular, recomendando a interrupção do trabalho do psicólogo em todo o país, exceto os emergenciais, a empregadores de psicólogos, gestores públicos e usuários de serviços. (CFP, 2020).
Em relação às cartilhas e aos materiais informativos, é essencial que sejam feitos com uma linguagem acessível, com figuras atrativa e ajustada aos traços do público-alvo. Esse ponto é fundamental, porque há pessoas com um nível de escolaridade baixo, apresentando dificuldade para entender as informações relativas à saúde e maior propensão a acontecer sintomas psicológicos decorrentes da pandemia. (Shojaei & Masoumi, 2020). Logo, no Brasil, materiais informativos em áudio e vídeo (que não precisam ler) podem ser uma boa opção. Outra forma seria que os psicólogos podem auxiliar no combate tirando os mitos de que a doença está ligada a uma nacionalidade específica, cujo tem causado xenofobia, e, ainda, incentivar a utilização de termos como “pessoas que têm COVID-19” para termos como “doentes”, “vítimas” ou “famílias COVID-19” (WHO, 2020).
De acordo com Chen et al (2020) outros desafios para o trabalho do psicólogo e os profissionais da saúde, salienta a probabilidade de baixa aceitação às intervenções, por causa da falta de tempo e do cansaço do trabalho, principalmente aqueles que estão na linha de frente. Além do que, no Brasil, é capaz que os profissionais da saúde se afligem em relação com a falta de utensílios de proteção individual, e consideraram as intervenções psicológicas como secundárias. Então, para psicólogos que estão em hospitais e outros serviços de saúde, é recomendável que realize de visitas na hora do descanso para ouvir as queixas e os desafios vivenciados pelos profissionais e acolhê-los, sensibilizá-los ou estimulá-los a buscar ajuda psicológica, se precisar. 
Além disso, os psicólogos devem ajudar na promoção e prevenção da saúde mental a profissionais da saúde, oferecendo suporte e orientação sobre como manejar alguns acontecimentos. Pois entre os desafios, destaca-se o atendimento a pessoas que testaram positivo para a doença e que não entenderam ou recusaram as recomendações, além de lidar com a frustração de não conseguir salvar vidas (Taylor, 2019).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A Psicologia é essencial na prevenção destes quadros e deve dedicar ao cuidado das pessoas e dos profissionais da saúde, disponibilizando plantões psicológicos para orientações sobre os cuidados com a saúde mental, como também atendimentos psicológicos virtuais e ligações telefônicas. 
A psicoeducação sobre as estratégias utilizadas na promoção da saúde mental neste período é importante e deve ser priorizada. Em relação ao trabalho com usuários e familiares a psicologia tem como objetivo o suporte durante o enfrentamento da doença, especialmente diante do isolamento imposto pela COVID-19, pois sabe-se da importância do suporte familiar, especialmente presencial, neste momento de diagnóstico e tratamento. 
A Psicologia deve proporcionar, dentro das possibilidades, o contato virtual entre paciente e família, visando minimizar o desamparo vivenciado por aqueles pacientes diagnosticados. Visará também trabalhar os pensamentos e sentimentos decorrentes da experiência, especialmente os pensamentos catastróficos, comuns em situações de adoecimento, em especial às vítimas da pandemia, incluindo usuários e familiares, sempre pautando-se em evidências científicas. No que diz respeito aos casos graves (não somente) destaca-se a crucial importância da prática dos cuidados paliativos. Cabe a nós proporcionarmos qualidade de morte, apesar de aqui tratar-se de um novo cenário. A experiência de outros países tem nos mostrado intervenções como despedidas virtuais entre paciente em fim de vida e familiares, o que pode ser uma forma de se minimizar os impactos futuros causados pelo distanciamento. Sabe-se que o contato para a realização de despedidas tornou-se uma realidade, como a supressão de velórios e outros rituais, o que pode levar ao desenvolvimento do luto complicado. Cabe também à Psicologia Hospitalar e da Saúde proporcionar espaço de suporte a enlutados diante deste novo cenário. 
O desafio está lançado aos profissionais de saúde mental: prevenção do adoecimento psíquico, promoção da saúde mental em um contexto único, onde se tornou clara a importância de um plano nacional de proteção à saúde mental em contextos de pandemias que oriente nossas práticas, momento porém que poderá nos trazer importantes reflexões acerca do real papel da Psicologia na saúde.
 
5. REFERÊNCIAS
Conselho Federal de Psicologia. (2020). Resolução do exercício profissional nº4, de 26 de março de 2020. Dispõe sobre regulamentação de serviços psicológico prestados por meio de Tecnologia da Informação e da Comunicação durante a pandemia do COVID19. Recuperado de https://atosoficiais.com.br/cfp/resolucao-do-exercicio-profissional-n-4-2020-dispoe-sobre-regulamentacao-de-servicos-psicologicos-prestados-por-meio-de-tecnologia-da-informacao-e-da-comunicacao-durante-a-pandemia-do-covid19?origin=instituicao
Organização Pan-Americana da Saúde. Proteção da saúde mental em situações de epidemias. Disponível em: http://new.paho.org/hq/dmdocuments/2009/Protecao-da-Saude-Mental-em-Situaciones-de-Epidemias--Portugues.pdf
Schmidt, B., Crepaldi, M. A., Bolze, S. D. A., Neiva-Silva, L., & Demenech, L. M. (2020). Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Estudos de Psicologia (Campinas), 37, e200063. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0275202037e200063
Conselho Federal de Psicologia (BR). 2020. Disponível em: https://site.cfp.org.br
Grincenkov, F. (2020). A Psicologia Hospitalar e da Saúde no enfrentamento do coronavírus: necessidade e proposta de atuação. Disponivel em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/hurevista/article/view/30050/20360