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Licenciatura em ciências · USP/ Univesp El et ro m ag ne tis m o 3.1 Introdução 3.2 O Fenômeno da Eletrização 3.2.1 Entendendo o Fenômeno 3.3 Processos de Eletrização 3.3.1 Eletrização por Atrito 3.4 Máquinas de Atrito 3.5 Eletrização por Indução 3.6 Máquinas de Indução 3.7 Eletrização por Contato 3.8 Eletroscópios 3.9 Pêndulo Elétrico Referências 3 Gil da Costa Marques FENÔMENOS ASSOCIADOS A CARGAS ELÉTRICAS 55 Eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 3.1 Introdução A eletrização é o fenômeno mais corriqueiro de manifestação do atri- buto carga elétrica, do qual são dotados tanto o próton quanto o elétron. Neste caso, no entanto, estamos falando da carga elétrica do elétron. A despeito de não ser o único, ele foi o primeiro fenômeno natural observado. E isso aconteceu na Antiguidade. Tal fenômeno desperta o interesse ainda nos dias de hoje, pois a sua manifestação muitas vezes é fascinante. Um corpo eletrizado pode ser neutro como um todo ou, mediante algum processo físico, exibir uma carga total não nula. No primeiro caso, as cargas positivas e negativas ficam separadas no interior do objeto eletrizado. Neste texto, estudaremos as propriedades elétricas de materiais condutores. Nesses materiais, o fenômeno da eletrização é mais acentuado. Em tópicos subsequentes, analisaremos as proprie- dades dos materiais dielétricos, também conhecidos como isolantes. Figura 3.1: Boneca com cabelos eriçados. É importante lembrar que os objetos com os quais lidamos no dia a dia não têm carga (os objetos tendem a ser neutros). Assim, seria de se esperar que, nessas circunstâncias, a matéria não exibisse fenômenos eletromagnéticos. No entanto, esse não é o caso. Objetos como canudos de beber refrigerante, pentes, cabelos, lãs, latas de refrigerantes, entre muitos outros, se eletrizam com muita facilidade. Um corpo se diz eletrizado quando ele é capaz de exercer forças elétricas sobre outros corpos eletrizados. Figura 3.2: Simples canudinhos exibirão, depois se atritados, fenômenos elétricos. 56 3 Fenômenos Associados a Cargas Elétricas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Exemplos • ExEmplo 01 - Por que Corpos neutros são atraídos por corpos dotados de carga? Para entendermos tal fenômeno consideremos duas esferas condutoras designadas por A e B, apoiadas em suportes isolantes, e colocadas a uma certa distância uma da outra (veja Figura 3.3). A esfera A está neutra, ou seja, não apresenta excesso nem falta de elétrons; a esfera B está eletri- zada positivamente, ou seja, está com “falta de elétrons”. Veja o exemplo 4 ao final deste tópico. Aproximando-se a esfera B da esfera A, as cargas elétricas de sinal positivo de B passam a interagir com as cargas dos elétrons e dos prótons que constituem a esfera A. Uma quantidade de elétrons (aqueles que, nos condutores, possuem liberdade de movimento), perfazendo uma carga total – Q atraída pela carga + Q de B. Como consequência a região da esfera A mais próxima da esfera B fica com carga − Q e a região oposta fica com carga + Q. Dizemos que tais cargas na esfera A são induzidas pelas cargas da esfera B. A esfera A adquire uma configuração análoga a de um “dipolo elétrico” cuja carga resultante é nula. Ela fica polarizada. Esta configuração desa- parece com o afastamento, para longe, da carga + Q da esfera B. As cargas induzidas em corpos neutros levam a forças elétricas entre um objeto neutro e um objeto dotado de carga elétrica. 3.2 O Fenômeno da Eletrização A eletrização é um fenômeno bastante comum. Uma das suas manifestações tem o nome de eletricidade estática do corpo. Ocorre com bastante frequência em dias secos do inverno. Alguém vai abrir a porta do carro e repentinamente salta uma centelha entre a maçaneta e a ponta dos dedos. É possível sentir um leve “choque elétrico”. Partes do corpo se eletrizam com facilidade. Nesse aspecto cabe um destaque para o cabelo. Figura 3.3: Esferas condutoras apoiadas em suportes isolantes. Figura 3.4: Cargas elétricas de sinais opostos são induzidas na esfera A. Figura 3.5: Os cabelos, por exemplo, se eletrizam facilmente. 57 Eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Para entender a eletrização basta recorrer a uma experiência bastante simples. Tome um pente e passe-o algumas vezes no cabelo ou, se preferir, atrite-o numa flanela ou lã, pois o efeito será o mesmo. Agora, aproxime-o de um pequeno monte de papéis picados. Você vai notar que o pente tem agora a capacidade de atrair os pequenos pedaços de papel. A capacidade de atrair os pedacinhos de papel é atribuída à eletrização. Todos os corpos são passíveis de eletrização. Ocorre que alguns são eletrizados com maior facilidade que outros. Todos os corpos são passíveis de serem eletrizados. Ocorre que alguns se eletrizam com mais facilidade do que outros. Os condu- tores se eletrizam facilmente ao passo que os isolantes são extre- mamente resistentes à sua eletrização. Assim, diremos que alguns se eletrizam e outros não. O que queremos dizer com “não” é que o processo é muito difícil. Quando os corpos se eletrizam, eles exercem forças sobre outros objetos eletrizados. O fenômeno da eletrização é bem conhecido desde a Grécia antiga. A Grécia é uma região rica em âmbar. O âmbar era - e ainda é - utilizado como uma peça ornamental. Ele é muito apreciado por duas razões: a primeira decorre do seu tom amarelado, que o torna muito bonito; a segunda é o fato de que ele é uma resina fossilizada que, ao longo do tempo, vai incorporando insetos em seu interior. Em muitos casos, a eletricidade estática resulta em riscos tanto para a segurança pessoal quanto para a segurança industrial. As empresas cujos processos industriais utilizam instrumentos com partes que se atritam devem tomar cuidados redo- brados quanto ao risco de incêndio, pois um corpo eletrizado pode se neutralizar através da produção de uma descarga elétrica. Tornar o ar úmido contribui bastante para a segurança física do espaço de trabalho. Figura 3.6: Papéis são atraídos pelo pente eletrizado. Figura 3.7: Uma bexiga pode ser eletrizada por atrito. Figura 3.8: Âmbar. 58 3 Fenômenos Associados a Cargas Elétricas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 O filósofo grego de nome Tales, da cidade de Mileto, observou, cerca de 600 anos antes de Cristo, que ao atritar o âmbar ele adquiria a proprie- dade de atrair pequenos objetos. Os gregos também notaram que, se atritassem o âmbar por muito tempo, saltaria uma pequena centelha. O âmbar em grego tem outro nome: elektron. A organização desses conhecimentos sobre esse fenômeno parece ter ocorrido apenas em 1600. William Gilbert, que durante algum tempo foi o médico da rainha da Inglaterra, ampliou a lista de corpos que, quando atritados, adquirem a propriedade de atrair corpos leves, isto é, de se comportarem como o âmbar. Ele classificou, então, os materiais em “elé- tricos” e “não elétricos” (ou seja, condutores e isolantes). No seu texto De Magnete (sobre o magneto), dedicado principalmente aos fenômenos magnéticos, Gilbert deu o nome de eletrização ao fenômeno observado primeiro no elektron (no âmbar). Com isso, ele cunhou a palavra elétron e formulou uma teoria para o fenômeno da eletrização. Sob esse aspecto, procurou dar um tratamento científico ao fenômeno. 3.2.1 Entendendo o Fenômeno Os fenômenos associados à eletrização podem ser explicados tomando como base a teoria atômica da matéria. Para cada tipo de átomo ou arranjos de átomos, teremos, em função da sua estrutura, maior ou menor dificuldade em deles arrancar elétrons. Tudo depende da energia de ligação dos elétrons aos átomos. Quanto maior for a energia de ligação de um elétron, tanto mais difícil será removê-lo. Os elétrons das últimas camadas (os mais periféricos) - os elétrons da camada de valência - são aqueles que têm menorenergia de ligação. São, portanto, os candidatos naturais para abandonar os átomos. Ao abandonar um átomo, restam ao elétron apenas duas alternativas: 1. O elétron ficar livre, passeando pelo metal se tratando de um sólido. Nesse caso, os átomos destituídos de elétrons (ou as moléculas) ficarão ionizados com carga positiva. 2. O elétron liberado ser capturado em seguida por outros átomos. O resultado, nesse caso, é o surgimento de dois íons: um íon carregado positivamente e outro, negativamente. Em qualquer dos casos, o corpo fica eletrizado. Os condutores, por terem elétrons livres, se eletrizam facilmente. Os isolantes, não. Figura 3.9: Tales de Mileto. Figura 3.10: William Gilbert. 59 Eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 3.3 Processos de Eletrização 3.3.1 Eletrização por Atrito É o processo de eletrização mais simples e por isso facilmente reprodutível. Foi, como já discutido anteriormente, o primeiro processo de eletrização a ser descoberto. Na eletrização por atrito, os dois objetos adquirem cargas. Cada um deles terá uma carga que é de sinal oposto à do outro. Se colocados de novo em contato, os objetos atritados se neutralizarão de novo. Isso pode ser veri- ficado facilmente atritando vidro com seda e, depois de alguns instantes, aproximando-os de novo (veja Figura 3.12). Se um objeto adquire, mediante o atrito com outra substância, cargas de um determinado sinal (cargas negativas, por exemplo), ele pode adquirir cargas de sinal oposto quando atritado com uma terceira substância. Tudo é uma questão de se saber que substâncias resistem mais ou menos a ceder elétrons. Atividades Experimentais • AtividAdE 1 - Eletrizando uma região de um canudinho de polipropileno. → mAtEriAl: • canudinhos de refresco (destes de maior diâmetro, com listras vermelhas longitudinais) bem secos; • dedos desengordurados e bem secos, • guardanapo de papel, papel toalha etc.; • lata vazia de refrigerante. → procEdimEntos Com a pele dos dedos bem secos e sem gordura, por atrito, é possível deixar a região atritada com falta ou com excesso de elétrons (carga negativa localizada), ou seja, elétrons da pele dos dedos serão transferidos para a região atritada do canudinho. O mesmo pode ser feito usando papel. Figura 3.11: Atritando dois materiais podemos produzir dois tipos de eletrização. Figura 3.12: Seda e vidro são materiais facilmente eletrizáveis. Figura 3.13: Atritando canudinho de polipropileno entre os dedos. 60 3 Fenômenos Associados a Cargas Elétricas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 → como vErificAr sE A rEgião AtritAdA do cAnudinho Está ElEtrizAdA. a. Aproxime a região atritada do canudinho a uma lata vazia de refrigerante que repousa sobre uma superfície plana e horizontal. Logo em seguida, afaste lentamente o canu- dinho, mas mantendo-o paralelo ao eixo central da latinha. Se a região atritada estiver eletrizada, a latinha rola atraída pelo canudo. A latinha, mesmo neutra, é atraída pelas cargas do canudinho. b. Aproxime a região atritada de pedacinhos de papel alumínio picado ou pó de giz (ou outro material bem leve). Se houver atração, é porque a região atritada ficou eletrizada. 3.4 Máquinas de Atrito Podemos fazer uso de equipamentos visando a eletrizar os objetos. A seguir, descreveremos uma máquina de atrito. Quase todas têm o mesmo princípio de funcionamento. O esquema dessa máquina de atrito está apresentado na Figura 3.16. Nela temos um cilindro feito de material isolante que gira. Ao girar, ele é colocado em atrito com outro corpo (corpo B) e se eletriza. A carga elétrica induzida pode ser “recolhida”, posteriormente, através de um outro corpo - E, o qual, com o passar do tempo, ficará eletrizado. De preferência esse corpo deve possuir pontas. A carga acumulada pode ser utilizada posteriormente. Figura 3.14: Uma vez eletrizado, um canudinho exercerá forças elétricas sobre materiais neutros. Figura 3.15: Uma máquina voltada para gerar cargas elétricas mediante o atrito. Figura 3.16: Cargas elétricas produzidas por atrito podem ser acumuladas em outro corpo. 61 Eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 3.5 Eletrização por Indução Pode-se eletrizar um corpo à distância, isto é, não há necessidade de contato físico entre os corpos para que surjam cargas num outro corpo. Para que isso aconteça basta que aproximemos um corpo carregado de um material condutor. Um corpo pode se eletrizar pela simples apro- ximação de outro corpo carregado (o indutor). Nesse caso, surgem cargas induzidas no corpo neutro (o induzido). Daí o nome de “eletrização por indução”. Quando afastamos o indutor, cessa o efeito no induzido. As cargas induzidas se distribuirão de maneira não uniforme no induzido. As cargas de sinal oposto à carga do indutor se distribuirão em regiões mais próximas dele. Cargas de sinal oposto tenderão a ficar mais afastadas do indutor (veja Figura 3.17). As re- giões nas quais ocorre a distribuição de cargas, bem como a região neutra, dependem da distância entre o induzido e o indutor e das suas posições relativas. O indutor é influenciado pela proximidade do induzido. Esse efeito se traduz numa alteração da densidade de cargas no indutor. Há um acúmulo de cargas nas regiões mais próximas do induzido (veja Figura 3.18). Isso pode ser entendido a partir de considerações sobre forças em corpos eletrizados. Pode-se fazer uso desse fenômeno para carregar o induzido com uma carga oposta à do indutor. Para isso basta escoar a carga de mesmo sinal do indutor para a terra. Isso é feito de uma maneira bem fácil. Figura 3.17: Localização, típica, das cargas elétricas no induzido. Figura 3.19: Aterrando o induzido ele ficará com cargas opostas às do indutor. Figura 3.18: O induzido produz uma alteração na distribuição de cargas do indutor. 62 3 Fenômenos Associados a Cargas Elétricas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 • ExEmplo 02 Duas bolas metálicas A e B neutras e de mesmo raio, apoiadas em suportes isolantes, estão encostadas entre si. (Figura 3.20) Uma barra de acrílico com excesso de cargas positivas é aproximada da bola metálica A, mas sem encostar nela (Figura 3.21). Com a barra mantida no local, a bola metálica B é afastada e levada para longe de A. Só depois, a barra de acrílico é levada para longe da bola metálica B. Qual a carga residual em cada bola metálica? → rEsolução: A bola metálica A fica com carga residual negativa (excesso de elétrons) e a B, com carga positiva (falta de elétrons). Explicando: I. O sistema constituído das esferas metálicas A e B em contato entre si está, no início, eletricamente neutro: número total de elétrons = número total de prótons. Com a aproximação das cargas indutoras positivas (bas- tão de acrílico com cargas positivas), muitos elétrons livres são atraídos e se concentram na região da esfera A mais próxima das cargas indutoras positivas. Cada elétron atraído deixa uma lacuna que é preenchida rapi- damente por outro elétron e assim por diante; ao final do processo, a região da esfera B mais distante das cargas indutoras positivas apresentará concentração de cargas positivas (falta de elétrons). Na configuração de equilíbrio, tem-se uma “separação de cargas” pelo processo da indução: uma quantidade de cargas −Q é induzida na esfera A e uma quantidade de cargas +Q é induzida na esfera B. É o que retrata a Figura 3.22. II. Mantendo-se fixa a posição das cargas indutoras positivas, as cargas negativas induzidas na esfera A também permanecem fixas. Distante de A, as cargas positivas induzidas se espalham pela superfície da esfera B até atingirem uma posição de equilíbrio. Assim, a esfera B fica com cargas positivas (mesmo sinal das cargas indutoras). É o que registra a Figura 3.23. Figura 3.20: Situação Inicial. Figura 3.21: Situação Final. Figura 3.22: O processo de indução. Figura 3.23:O efeito da separação das bolas. 63 Eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 III. O bastão de acrílico com cargas positivas (as cargas indu- toras) é levado para longe. Sem a influência das cargas indutoras, as cargas negativas induzidas (que se encon- travam concentradas na região próxima do bastão) se repelem e atingem uma distribuição de equilíbrio na superfície da esfera. Assim, a esfera A fica com excesso de elétrons livres, ou seja, fica eletrizada negativamente (Figura 3.24). 3.6 Máquinas de Indução O eletróforo é um bom exemplo de máquina de indução. Consta de dois discos, sendo um deles isolante (disco A) e o outro metálico (disco B). O cabo do disco B é isolante. Primeiramente, atritamos o disco A com uma flanela, por exemplo. Então, colocamos o disco metálico sobre o disco carregado. O disco B fica eletrizado por indução. Finalmente, colocamos esse disco em contato com a terra. As cargas negativas escoarão para ela. O disco metálico adquirirá, assim, uma carga de sinal oposto àquela do disco A (Figura 3.25). O induzido pode ou não envolver o indutor. No último caso, diz-se que a indução é completa (Figura 3.26). Finalmente, queremos destacar que pode haver o caso de indução mútua, isto é, dois corpos carregados se deixam influenciar mutuamente. A presença de um corpo próximo de outro provoca alterações na distribuição de cargas deste último (veja Figura 3.27). Figura 3.24: Efeito depois de deslocado o bastão. Figura 3.27: Dois corpos carregados se deixam influenciar mutuamente. Figura 3.25: Esboço do princípio de funcionamento do eletróforo. Figura 3.26: Exemplo de indução completa. O induzido envolve completamente o indutor. 64 3 Fenômenos Associados a Cargas Elétricas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 3.7 Eletrização por Contato Esse é o caso mais simples de indução. Através do contato físico, as cargas são transferidas de um corpo para o outro. • ExEmplo 03 Uma bola metálica A apoiada num pedestal isolante encontra-se eletricamente neutra (n° prótons = n° elétrons). Outra bola metálica B, de mesmo diâmetro, porém, eletrizada positivamente com carga Q, é aproximada, encostada e afastada de A. Depois de afastada, qual a carga em cada bola? → rEsolução: Este é um exemplo de eletrização por contato que é marcante quando dois condutores são colocados em contato direto (como no exemplo) ou por meio de um terceiro condutor (um fio condutor, por exemplo). As cargas se redistribuem e, no final do processo, os corpos em contato ficam com cargas de mesmo sinal. Como ocorre essa redistribuição de cargas? No contato, elétrons livres da bola A passam para a bola B, preenchendo lacunas positivas (falta de elétrons = carga positiva = lacuna positiva) e, assim, neutralizando algumas cargas positivas. Cada elétron, ao migrar para a bola B, deixa uma lacuna na bola A e anula uma lacuna na bola B. Dessa forma, a migração de elétrons de A para B corresponde à migração de cargas positivas de B para A. Isso ocorre até que as cargas redistribuídas entrem em equilíbrio eletrostático. Assim, a bola B fica com carga positiva Q'B < Q (a carga inicial) e a bola A, inicialmente neutra, fica com carga positiva Q’ A . A relação entre as cargas Q, Q'A e Q'B reside numa lei geral denominada Lei da conservação da carga elétrica: carga total inicial = carga total final → Q = Q'A + Q'B. Se as bolas tiverem raios iguais → Q'A = Q'B = Q/2. 3.8 Eletroscópios Eletroscópios são instrumentos que servem para indicar se um corpo está ou não eletrizado. Existem vários tipos de eletroscópio. Figura 3.28 Figura 3.29: Cargas em quantidades iguais serão distribuídas em esferas iguais em contato. 65 Eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 Atividades Experimentais • AtividAdE 2 - Construindo um “Versorium” caseiro. → mAtEriAl: • canudinhos de polipropileno; • papel toalha (ou sulfite); • lápis com ponta; • pedaço de massa de modelar ou prendedor de roupas; • uma tira (ou régua) de acrílico (de embalagens de acrílico). → montAgEm dE um ElEtroscópio dE um cAnudinho dE rEfrEsco Eletroscópios são dispositivos que permitem detectar se um objeto está eletrizado, mas não indicam o sinal da carga elétrica. 1. Coloque um lápis bem apontado na vertical em cima do tampo da mesa, fixando a outra extre- midade em massa de modelar ou em um pregador de roupa. 2. Dobre o canudinho pelo seu centro de gravidade; eletrize a metade B do canudinho e equilibre-o na ponta do lápis colocado na vertical (Figura 3.31). Cuidado: apenas com o toque dos dedos o canudinho pode se eletrizar. Por isso, ao dobrar e/ou atritar uma das metades, procure segurar o canudinho na região central, onde deverá ser feita a dobra. Curiosidade Num dos livros do De Magnete, Gilbert apresenta o primeiro instrumento elétrico de que se tem conhecimento. A ele Gilbert deu o nome de Verso- rium. Foi o primeiro eletroscópio a ser construído. É uma agulha metálica, parecida com uma bússola, colocada sobre uma haste que lhe dá total mobilidade. O Versorium é um aparelho que se eletriza facilmente. Com isso, ele se transforma num detector de eletri- zação. Mediante a aproximação de um corpo eletrizado, ele se coloca em movimento. É uma espécie de detector de forças elétricas. Figura 3.30: Versorium de Gilbert – O primeiro eletroscópio elétrico. / Fonte: modificado de Phy6. Figura 3.31: Versorium caseiro. http://www.phy6.org/earthmag/NSTA1B.htm 66 3 Fenômenos Associados a Cargas Elétricas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 3. Eletrize a metade de outro canudinho (sem dobrá-lo) e depois, uma régua (ou pedaço) de acrílico (não serve plástico). → usAndo o ElEtroscópio Aproxime o canudinho, que você acabou de atritar, da metade B do canudinho do eletroscópio. Faça o mesmo com a régua de acrílico. • Se houver repulsão rápida é porque as cargas são iguais. • Se houver atração rápida é porque as cargas são de sinais opostos. Observação: Tanto a régua de acrílico quanto o canudinho eletrizado “atraem” a metade A do eletroscópio. Isso se explica pelo fenômeno da polarização de cargas que ocorre como no caso da esfera A do Exemplo 1. 3.9 Pêndulo Elétrico Como o nome indica, se constituirmos um pêndulo contendo na extremidade uma esfera condutora suspensa por um fio isolante, se algum corpo que se aproxime do pêndulo estiver eletrizado, ele atrairá a esfera. Assim, o movimento do pêndulo indicará a existência (ou não) de cargas no outro corpo e permitirá também fazer uma medida da quantidade de carga nesse corpo através da comparação das intensidades das forças. Sua concepção é bastante simples. É constituído de uma esfera metálica, na qual fica suspensa uma haste metálica que se divide em duas folhas na parte inferior. O sistema deve ficar protegido dentro de um recipiente, de preferência vidro, para efeito de observação. Para constatarmos se um corpo está eletrizado, basta colocar esse corpo em contato físico com a pequena esfera. Se ele tiver carga, haverá eletrização da esfera por contato. Como consequência disso, perceberemos um movimento. Figura 3.32: Cargas iguais se repelem. Figura 3.33: Cargas opostas se atraem. Figura 3.34: O Pêndulo elétrico. Figura 3.35: Eletroscópio Figura 3.36: Esquema do eletroscópio 67 Eletromagnetismo Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 • ExEmplo 4 Uma lâmina de forro de PVC eletrizada com carga – Q é aproxi- mada da cúpula de um eletroscópio de folhas. Considere o arranjo caseiro da Figura 3.37. a. Qual o excesso de cargas nas folhas do eletroscópio? b. Com as cargas indutoras na posição, 1º toca-se ligeiramente a cúpula com um dedo (esse proce- dimento equivale a ligar a cúpula à Terra); e 2º levam-se para longe as cargas indutoras e as folhas nova- mente se abrem. Qual a carga residual nas folhas? → rEsolução: a. Qual o excesso de cargas nas folhas do eletroscópio? Como não existecontato entre a tira de PVC e a cúpula metálica, estamos diante de um processo de indução eletrostática. b. Com as cargas indutoras na posição da Figura 3.39, toca-se ligeiramente a cúpula com um dedo (esse procedimento equivale a ligar a cúpula à Terra). Em seguida levam-se para longe as cargas indutoras e as folhas novamente se abrem. Qual a carga residual nas folhas do eletroscópio nessas circunstâncias? Figura 3.37: Um eletroscópio simples. As cargas indutoras negativas repelem os elétrons livres da cúpula para a outra extremidade. A cúpula fica com falta de elétrons (carga positiva) e as folhas de alumí- nio com excesso de elétrons (cargas negativas). As folhas de alumínio se abrem pela simples razão de que ambas ficam com cargas negativas e, por terem cargas de mesmo sinal, as folhas se repelem. Portanto, enquanto as cargas indutoras forem mantidas no local, as cargas em excesso nas folhas são negativas. Figura 3.38: Eletroscópio baseado na indução: cargas induzidas no eletroscópio. 68 3 Fenômenos Associados a Cargas Elétricas Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 1º Ao tocar com o dedo. O corpo humano é um bom condutor elétrico. Quando um dedo toca a cúpula do eletroscópio, ele serve como um fio de ligação entre a cúpula e a Terra; assim, ele (o corpo humano) permite a movimentação de elétrons livres entre a cúpula e a Terra. Os elétrons livres, repelidos pelas cargas indutoras, podendo locomover-se para mais longe, rumam para a Terra via corpo humano. 2º Ao afastar o indutor. O que ocorre quando, depois de o dedo ser retirado da cúpula, a tira de PVC e suas cargas indutoras (− Q ) forem levadas para longe? Livres das forças elétricas das cargas negativas indu- toras, as cargas positivas acumuladas na cúpula se redistribuem por todo o eletroscópio. Assim, as folhas novamente se abrem, porém, agora isso ocorre por- que elas estão com cargas positivas. Referências Phy6. Diponível em: <http://www.phy6.org/earthmag/NSTA1B.htm>. Acesso em: 09/2012. Figura 3.39: Ligando o eletroscópio à Terra. Figura 3.40: Ao afastar o indutor, ficamos com cargas de apenas um sinal no eletroscópio (positivas, nesse caso). Assim, as folhas se afastam. http://www.phy6.org/earthmag/NSTA1B.htm 3.1 Introdução 3.2 O Fenômeno da Eletrização 3.2.1 Entendendo o Fenômeno 3.3 Processos de Eletrização 3.3.1 Eletrização por Atrito 3.4 Máquinas de Atrito 3.5 Eletrização por Indução 3.6 Máquinas de Indução 3.7 Eletrização por Contato 3.8 Eletroscópios 3.9 Pêndulo Elétrico Referências
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