Buscar

MÍDIAS SOCIAIS E A PERDA DE IDENTIDADE DO SUJEITO PÓS-MODERNO

Prévia do material em texto

¹ Graduanda em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela Universidade Veiga de Almeida 
(UVA) 
 
M Í DIA S S OC IA I S E A PER DA D E I DEN TI DA D E DO S UJ E IT O PÓ S -
M O DERN O 
Larissa Celano Gagliano Bianco¹ 
 
O sujeito [...] está se tornando fragmentado; composto não de uma 
única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não 
resolvidas. Correspondentemente, as identidades, que compunham as 
paisagens sociais "lá fora" e que asseguravam nossa conformidade subjetiva 
com as "necessidades" objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como 
resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de 
identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, 
tornou-se mais provisório, variável e problemático. (HALL, 2006, p.12) 
 
É assim que o filósofo Stuart Hall, no livro A Identidade Cultural na Pós-Modernidade, 
define o sujeito pós-moderno: fragmentado. Num mundo em que a tecnologia tem alcançado 
níveis cada vez maiores, especialmente diante da crescente popularização das mídias sociais 
ao longo dos anos, é fácil observar de que forma essa fragmentação se dá no meio virtual. A 
exemplo do Facebook, temos a opção de entrar para grupos de diversas áreas de interesse. 
Uma mesma pessoa pode se tornar membro de grupos de culinária, moda, esportes, música, 
entre outros; muitos dois quais poderiam ser considerados quase que contraditórios por uma 
parcela da população, mas que juntos vieram a constituir um sujeito completo. 
O indivíduo pós-moderno possui uma constante necessidade de se fazer aceitável e 
parte de algo maior. Para isso, adota diferentes posturas e identidades, a fim de exercer uma 
identidade correspondente ao meio em que se encontra. Segundo Monte (2012, p.4), “a 
sociedade não é um todo unificado, seguro e bem delimitado como muitos, há tempos, 
podiam pensar. Há oscilações, mudanças de posturas, de posicionamentos, frente às novas 
realidades.” A passagem é reforçada pela noção de modernidade líquida, do filósofo polonês 
Zygmunt Bauman, que define e identidade do sujeito como algo “fluido” – inconstante, leve e 
volúvel, como os líquidos. Opiniões mudam, gostos se transformam e, por fim, nada é para 
sempre. O ser humano está em constante mutação. 
 
 
Ainda que o indivíduo tenha a falsa ideia de que ao entrar na rede ele 
está se auto representando como algo original ou diferente dos demais, na 
realidade o que ocorre é um declínio da individualidade. (NÓBREGA, 2010, p.8) 
 
 
De acordo com Nóbrega (2010), há um declínio, uma perda, da individualidade a partir 
do momento que o sujeito pós-moderno faz questão de mostrar ao mundo sua originalidade. 
Movimentado pelo desejo natural do ser humano em comunidade de se expor e, 
consequentemente, ser julgado e aprovado, o indivíduo se encontra numa situação em que 
se utiliza das mídias sociais modernas para expor suas conquistas e passar uma imagem feliz 
e bem sucedida dentro de seus próprios “nichos”. No fim, o que está fazendo de fato é o 
mesmo que milhares de outros usuários, resultando, na verdade, em originalidade alguma. 
 Podemos analisar o exato contrário em “Poema de Sete Faces”, de Drummond, onde 
o autor diz “Mundo mundo vasto mundo/Se eu me chamasse Raimundo/Seria uma rima, não 
uma solução/Mundo mundo vasto mundo/Mais vasto é meu coração”. No poema, o eu-lírico 
se sente inferiorizado e pequeno diante da vastidão do mundo. Mais vasto ainda é seu 
coração, o que pode significar que guarda demais, não se exterioriza o suficiente ou talvez 
nem o quer – um contraste aos dias atuais em que pode-se expor toda a rotina de um dia com 
um deslizar de dedos num teclado para tantos expectadores internet afora. 
 
 
Para ser aceito, o internauta passa a assumir uma identidade, e sente-
se livre para expressar a sua própria maneira de pensar ou a do personagem 
criado. O usuário passa a escolher e criar um “eu moderno”, uma identidade 
validada pelos outros. (KELLNER, 2001, p. 296, apud Farias e Monteiro, 2012, 
p. 8). 
 
Um outro exemplo seria o episódio Queda Livre, da série Black Mirror exibida pela 
Netflix. Nele, os personagens vivem suas vidas pelas aparências, se utilizando de um aplicativo 
que avalia os indivíduos com notas que vão de zero à cinco estrelas, o que pode ditar a vida 
do cidadão. Um score baixo pode conferir à pessoa rejeição social por medo de associação, 
numa realidade em que se depende da aprovação de terceiros quanto a ter (ou não) a vida 
perfeita. Os personagens se perdem em suas personalidades a partir do momento em que há 
um desejo social de ser considerado perfeito, resultando numa sociedade onde são todos 
iguais: rasos, falsos e sem conteúdo. 
Por fim, é isso que a maioria dos indivíduos usuários de redes sociais busca: validação, 
mesmo que subconsciente. Na internet, se deparam com uma vasta gama de áreas de 
interesse os quais não conseguem escolher apenas uma, dividindo-se em diversas personas 
em inúmeros graus de assimilação, todos unidos por um único “eu”. Para alguns, isso por 
configurar algo bom, visto que, teoricamente, o indivíduo deveria se usar disto para adaptar-
se a diferentes situações mais facilmente, mas o que ocorre é diferente: perde-se a 
individualidade, a originalidade, e dá-se espaço para personalidades rasas e pouco 
desenvolvidas. Uma dificuldade tamanha em se estabelecer num local que possa chamar de 
seu, uma vez que se identifica com tantos grupos, mas com nenhum o suficiente para se sentir 
cem por cento acolhido. Fragmentado. 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 ANDRADE, C. D. D. Alguma poesia. São Paulo, 1. ed.: Companhia das Letras, 2013. p. 11-12. 
Disponível em: <https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13486.pdf> Acesso em: 17 de maio de 
2020 
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro, 1 ed.: Zahar, 
2001. 
BLACK Mirror, terceira temporada: “Queda Livre”. Criação: Charlie Brooker. Direção: Joe Wright. 
Roteiro: Michael Schur, Rashida Jones. [S.l] Reino Unido, 2016. Exibido pela Netflix. Acesso em 17 de maio 
de 2020 
FARIAS, Lídia; MONTEIRO, Taís. A identidade adquirida nas redes sociais através do conceito de 
persona in XIX Prêmio Expocom 2012 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação. Intercom – 
Sociedade Brasileira de Estudos da Comunicação, 2012. Disponível em: 
<http://www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2012/resumos/R32-1497-1.pdf> Acesso em: 17 
de maio de 2020 
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomás Tadeu da Silva e Guacira 
Lopes Louro. Rio de Janeiro, 11 ed.: DP&A, 2006. 
KELLNER, Douglas. A Cultura da Mídia. Trad. Ivone Castilho Benedetti. Bauru: EDUSC, 2001. 
MONTE, S. D. S. A identidade do sujeito na pós-modernidade: algumas reflexões. Revista Fórum 
Identidades, Itabaiana, 2012. Disponível em: 
<https://seer.ufs.br/index.php/forumidentidades/article/view/1906/1663> Acesso em: 17 de maio de 
2020 
NÓBREGA, Lívia De. A construção de Identidade nas redes sociais. Revista Fragmentos de Cultura, 
Goiânia, 2010. Disponível em: 
<http://revistas.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/viewFile/1315/899> Acesso em: 17 de 
maio de 2020 
PEREIRA, H.R. A crise da identidade na cultura pós-moderna. Barbacena, 2004. Disponível em: 
<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/mental/v2n2/v2n2a07.pdf> Acesso em: 18 de maio de 2020

Continue navegando