Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Livro do Professor Volume 8 História ©Editora Positivo Ltda., 2015 Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil) C794 Cordeiro, Lysvania Villela. História : ensino médio / Lysvania Villela Cordeiro ; reformulação dos originais de: Andréa Maria Carneiro Lobo; ilustrações Jack Art, Quadrinhofilia Produções Artísticas – Curitiba : Positivo, 2016. v. 8 : il. Sistema Positivo de Ensino ISBN 978-85-467-0410-1 (Livro do aluno) ISBN 978-85-467-0411-8 (Livro do professor) 1. História. 2. Ensino médio – Currículos. I. Lobo, Andréa Maria. II. Art, Jack. III. Quadrinhofilia Produções Artísticas. IV. Título. CDD 373.33 Presidente: Ruben Formighieri Diretor-Geral: Emerson Walter dos Santos Diretor Editorial: Joseph Razouk Junior Gerente Editorial: Júlio Röcker Neto Gerente de Arte e Iconografia: Cláudio Espósito Godoy Autoria: Lysvania Villela Cordeiro; reformulação de originais de Andréa Maria Carneiro Lobo Supervisão Editorial: Jeferson Freitas Edição de Conteúdo: Lysvania Villela Cordeiro (Coord.) Edição de Texto: Shirlei França dos Santos Revisão: Fabrízia Carvalho Ribeiro, Fernanda Marques Rodrigues e Mariana Bordignon Supervisão de Arte: Elvira Fogaça Cilka Edição de Arte: Tatiane Esmanhotto Kaminski Projeto Gráfico: YAN Comunicação Ícones: ©Shutterstock/Goritza, ©Shutterstock/Kamira, ©Shutterstock/ericlefrancais, ©Shutterstock/Chalermpol, ©Shutterstock/Maxx-Studio, ©Shutterstock/Leremy, ©Shutterstock/David Arts e ©Shutterstock/Lightspring Imagens de abertura: Latinstock/akg-images e ©Shutterstock/Ivonne Wiernik Editoração: Rafaelle Moraes Ilustrações: Jack Art e Quadrinhofilia Produções Artísticas Pesquisa Iconográfica: Janine Perucci (Supervisão) e Juliana de Cássia Câmara Cartografia: Talita Kathy Bora e Luciano Daniel Tulio Engenharia de Produto: Solange Szabelski Druszcz Produção Editora Positivo Ltda. Rua Major Heitor Guimarães, 174 – Seminário 80440-120 – Curitiba – PR Tel.: (0xx41) 3312-3500 Site: www.editorapositivo.com.br Impressão e acabamento Gráfica e Editora Posigraf Ltda. Rua Senador Accioly Filho, 431/500 – CIC 81310-000 – Curitiba – PR Tel.: (0xx41) 3212-5451 E-mail: posigraf@positivo.com.br 2018 Contato editora.spe@positivo.com.br Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda. 34 35 36 37 Sumário Brasil: Primeira República ............................ 4 República dos Marechais ................................................................................ 5 República do Café com Leite ........................................................................... 8 Movimentos sociais na Primeira República ..................................................... 12 Grande Guerra ............................................ 19 Origens ........................................................................................................... 21 O conflito ........................................................................................................ 26 Fim do conflito e a nova ordem mundial ........................................................ 30 Revolução Russa ......................................... 36 Rússia czarista ................................................................................................ 38 Industrialização e urbanização russas ............................................................. 39 Crise do czarismo ............................................................................................ 42 Revolução Russa ............................................................................................. 42 Mundo Entreguerras .................................. 48 Economia capitalista ...................................................................................... 50 Crise de 1929 .................................................................................................. 52 Ascensão do Nazifascimo ................................................................................ 54 Arte no Entreguerras ...................................................................................... 59 Acesse o livro digital e conheça os objetos digitais e slides deste volume. Brasil: Primeira Rep ública Ponto de partida 34 1 2 Em frase que se tornou famosa, Aristides Lobo, o propagandista da República, manifestou seu desapontamento com a maneira pela qual foi proclamado o novo regime. Segundo ele, o povo, que pelo ideário republicano deveria ter sido o protagonista dos acontecimentos, assistira a tudo bestializado, sem compreender o que se passava, jul- gando ver talvez uma parada militar. CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p. 9. Após a análise dos documentos, faça, em seu caderno, o que se pede a seguir. 1. Pesquise no dicionário o significado da expressão “bestializado”. 2. Em sua opinião, o que representa a constatação de Aristides Lobo citada pelo historiador José Murilo de Carvalho? 3. Na representação do artista Benedito Calixto, de 1893, a República foi fruto de um movimento público? Justifique sua resposta. 1 CALIXTO, Benedito. A Proclamação da República. 1893. 1 óleo sobre tela, color., 123,5 cm × 198,5 cm. Pinacoteca Municipal de São Paulo, São Paulo.Pinacoteca Municipal de São Paulo/Fotógrafo desconhecido 4 Objetivos da unidade: resgatar os elementos que compuseram a crise do Segundo Reinado, relacionando-os ao movimento republicano; conhecer as principais características políticas, econômicas e sociais da República dos Marechais (1889-1894); compreender as Revoltas da Armada e a Revolução Federalista; conhecer as principais características políticas, econômicas e sociais da República do Café com Leite (1894-1930); analisar os principais movimentos sociais urbanos e rurais da Primeira República. rise do Segundo Reinado relacionando os ao movimento Entre os elementos que diferenciam uma república de uma monarquia do tipo tradicional, ou de um governo des- pótico, está a extensão da participação política para a maioria da população, garantida, em tese, por uma Constituição elaborada pelos representantes da população reunidos em assembleia. SILVA, Oscar Pereira da. Marechal Deodoro da Fonseca. 1923. 1 óleo sobre tela, color., 84 cm × 72 cm. Museu Republicano, Itu. SILVA, Oscar Pereira da. Marechal Floriano Peixoto. [s.d.]. 1 óleo sobre tela, color., 57 cm × 46,5 cm. Museu Republicano, Itu. M u se u R ep u b lic an o/ Fo tó g ra fo d es co n h ec id o Nesta unidade, estudaremos a Primeira República, ou República Velha, que corresponde ao período inicial do regime republicano no Brasil e se estende desde sua Proclamação (1889) até a Revolução de 1930. Os primeiros anos do governo republicano no Brasil foram marcados por uma grande disputa pelo poder entre os militares e a oligarquia cafeeira. República dos Marechais Após o período de transição denominado Governo Provisório – sob o comando de Deodoro da Fonseca (1889-1891) –, a República brasileira viveu seu processo de consolidação com a elaboração da Constituição em 1891 e com o governo de outro militar, Floriano Peixoto (1891-1894). Muitos historiadores se referem a esse con- texto como a República da Espada em razão do predomínio das forças armadas no controle do poder político. M u se u R ep u b lic an o/ Fo tó g ra fo d es co n h ec id o 5 Interpretando documentos Art. 70 – São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos que se alistarem na forma da lei. § 1º – Não podem alistar-se eleitores para as eleições federais ou para as dos Estados: 1º os mendigos; 2º os analfabetos; 3º as praças de pré, excetuados os alunos das escolas militares de ensino superior; 4º os religiosos de ordens monásticas, companhias, congregações ou comunidades de qualquer denomina- ção, sujeitas a voto de obediência, regra ou estatuto que importe arenúncia da liberdade individual. § 2º – São inelegíveis os cidadãos não alistáveis. [...]. Leia um fragmento da nossa primeira Constituição. CONSTITUIÇÃO da República dos Estados Unidos do Brasil (de 24 de fevereiro de 1891). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ CCIVIL_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao91.htm>. Acesso em: 28 maio 2015. Em que sentido as disposições constitucionais mencionadas contrariavam a ideia de um governo como “coisa pública”? As disposições constitucionais estabeleciam que somente os cidadãos maiores de 21 anos que não fossem mendigos, analfabetos, militares ou religiosos poderiam alistar-se como eleitores. Some-se a isso o fato de que mulheres também não votavam. Isso significa que uma pequena parcela da população brasileira tinha direito à cidadania. Ainda nos primeiros tempos da recém-instalada República, as relações entre o Congresso Nacional (Legislativo) e a Presidência (Executivo) se tornaram tensas, conforme relata o texto a seguir. No Brasil, logo após a deflagração do movimento re- publicano, uma Assembleia Constituinte foi formada, e a primeira Constituição foi promulgada no ano de 1891. No entanto, isso não garantiu participação política para a maioria: os segmentos que não poderiam votar nem ser eleitos compunham uma parcela considerável da população brasileira e estavam excluídos da República. Logo, a “coisa pública” não se mostrou tão pública quan- to se podia esperar. Uma Constituição pode ser outorgada ou promulg ada. A Constituição outorgada é aquela elaborada sem a participação dos cidadãos ou de seus representantes e imposta à população. A Constituição de 1824, elaborada durante o Prim eiro Reinado, foi imposta ao povo brasileiro pelo Imperador D. Pedro I. A Constituição promulgada é aquela elaborada com a participação da população por meio de seus representantes. 6 Volume 8 Estado de sítio é um estado de exceção decretado em casos extremos (guerras e re- voluções), quando o governo considera que a segurança nacional está ameaçada. Nesse caso, os direitos dos cidadãos são tempora- riamente suspensos e os poderes do Legis- lativo e do Judiciário ficam submetidos ao Executivo, que governa com plenos poderes. A Bolsa de Valores é uma instituição finan- ceira em que se pode comprar e/ou vender ações de empresas de capital aberto (S.A.). Os interessados em operar em bolsas de valores só podem fazê-lo por meio de uma corretora, que deve, por sua vez, possuir um título da referida bolsa. Deodoro havia convocado eleições, reunindo a Assembleia que o elegera presidente da República, mas que não se lhe submete. E a 3 de novembro o voluntarioso comandante dissolve o Congresso, institui estado de sítio, provocando um manifesto de protesto, redigido por Campos Sales e tendo como primeiro signatário Prudente de Morais. Sua publicação no Correio Paulistano é impedida pela Polícia, sendo então divulgado em boletins clandestinos. SILVA, Hélio. Governo Deodoro e Floriano. In: ______. O primeiro século da República. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987. p. 24. Crise do Encilhamento A posição autoritária e intransigente de Deodoro da Fonseca provocou a oposição de parlamentares vinculados aos grandes produtores de café e ao alto comando da Marinha (este último se rebelou contra o governo). Ainda durante o mandato de Fonseca, teve origem uma grave crise econômica, conhecida como Crise do Encilhamento. Na tentativa de estimular o crescimento industrial, o então Ministro da Fazenda, o intelectual Rui Barbosa, tomou uma medida extrema. Para acalmar os ânimos dos cafeicultores – que precisavam de dinheiro para pagar seus traba- lhadores, visto que a escravidão havia acabado –, autorizou o aumento da emissão de papel-moeda em 75%. O resultado foi uma enxurrada de dinheiro sem lastro na economia, o que acabou motivando especulações na Bolsa de Valores. Empresários – reais e “fantasmas” –, cafeicultores e profissionais liberais emprestavam di- nheiro dos bancos e investiam na Bolsa, pois consideravam essa uma forma mais rápida e fácil de enriquecer. De toda essa situação, surgiu a designação Crise do Encilhamento – o barulho e a agitação que caracterizavam a euforia dos especuladores na Bolsa de Valores se assemelhavam à agitação gerada pelos preparativos para o encilhamento de cavalos de corrida. PEREIRA NETO. Febre do encilhamento. 1 charge. Revista Illustrada, n. 595, jul. 1890. Charge do fim do século XIX satiriza a corrida dos investidores à Bolsa de Valores durante a Crise do Encilhamento Empresas faliram e muitos trabalhadores ficaram sem emprego. Profissionais liberais e fazendeiros se endividaram e um aumento generalizado de preços tomou conta da capital, Rio de Janeiro, e de outros centros urbanos do país. Segundo o historiador José Murilo de Carvalho, em sua obra Os bestializados (1987), nos primeiros cinco anos da República, enquanto os salários subiram, em média, 100%, os preços subiram 300%. Os problemas políticos e a crise econômica tornaram o governo de Deodoro indesejável para aqueles que o ti- nham apoiado. Assim, em 1891, ele renunciou em nome de seu vice, o marechal Floriano Peixoto. Este terminou o mandato de Deodoro e governou até 1894.F u n d aç ão B ib lio te ca N ac io n al /F ot óg ra fo d es co n h ec id o História 7 Revolução Federalista Durante o governo de Floriano Peixoto, em 1893, no Rio Grande do Sul, lideranças regionais adeptas do parlamentarismo e do federalismo – forma de governo em que os estados teriam mais autonomia em relação ao governo central – rebelaram-se contra o governador Júlio de Castilhos – que apoiava a centralização de poder político do presidente Floriano – originando a Revolução Federalista. República do Café com Leite Esse novo período da Primeira República, que iniciou com a presidência de Prudente de Morais, foi denominado República do Café com Leite, ou República Oligárquica, em decorrência dos grupos que dominavam o cenário político nacional. Tais grupos eram frutos das alianças entre São Paulo e Minas Gerais – São Paulo era um grande produtor de café e Minas Gerais se destacava na produção de leite. © W ik im ed ia C om m on s Grupo de federalistas (também conhecidos como maragatos), 1893 A b ril S .A . C u lt u ra l/ N os so S éc u lo Rio de Janeiro. 1 fotografia, p&b. In: NOSSO SÉCULO: 1900/1910 – a era dos bacharéis. São Paulo: Abril Cultural, 1980. v. 1, p. 27. A foto mostra o estado de parte da cidade do Rio de Janeiro após um bombardeio durante a Revolta da Armada Após dois anos de intensos combates e mais de 12 mil mortos, foi firmado um acordo com a promessa de que Prudente de Morais (primeiro presidente civil da Re- pública) daria anistia aos participantes do movimento. A partir de 1894, encerrava-se essa fase (também conhecida como República dos Marechais) da Primeira República e iniciava-se um período marcado pela domi- nação das oligarquias regionais na política brasileira. O primeiro presidente civil, o paulista Prudente de Morais, foi eleito em um contexto de grave crise políti- ca, caracterizado pela oposição entre representantes das oligarquias cafeeiras paulistas e partidários de Floriano Peixoto, os chamados florianistas. Com o apoio dos grandes cafeicultores paulistas, após sofrer uma tentativa de atentado, Prudente de Morais instituiu estado de sítio, centralizou as decisões no Poder Executivo e eliminou a oposição representada pelos flo- rianistas. Sob seu mandato, o país atravessou uma grave crise econômica, mas os interesses das oligarquias que o apoiaram, sobretudo das vinculadas ao setor cafeeiro pau- lista, foram mantidos. Iniciava-se a República Oligárquica. Em 1893, a Marinha, sob a liderança do almirante Cus- tódio de Melo e de Saldanha da Gama, rebelou-se contra o governo em um episódio que ficou conhecido como a Revolta da Armada. Durante o episódio,os revoltosos chegaram a bombardear a cidade do Rio de Janeiro, que mantiveram sob a mira de canhões por vários dias. Os líderes da revolta não conseguiram angariar apoio de outros setores da política e das forças armadas da capital. Após sofrerem dura repressão do Exército (que continuou fiel a Floriano), buscaram em vão alianças em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Floriano chegou a adquirir navios estrangeiros para fazer frente aos rebeldes, que foram finalmente subordinados em 1894. 8 Volume 8 Interpretando documentos A palavra oligarquia é de origem grega e signific a governo de poucos. Nesse contexto, aplica-se à dinâmica pol ítica da Repú- blica do Café com Leite, em que apenas represent antes políticos aliados ao Partido Republicano Paulista e ao Partid o Republicano Mineiro chegavam à Presidência da República. Responda às questões a seguir. 1. Quais são os dois estados representados ao lado da cadeira da Presidência da República? Por que estão ali posicionados? São Paulo e Minas Gerais estão ao lado da cadeira da Presidência da República. Eles estão representados no alto e ao lado do símbolo da Presidência porque eram os estados que se intercalavam no maior cargo do Executivo de nosso país. 3 Aprofundamento de conteúdo para o professor. Fu n d aç ão B ib lio te ca N ac io n al /F ot óg ra fo d es co n h ec id o Observe esta charge. STORNI, Alfredo. [Presidência da República]. 1 charge. Careta, Rio de Janeiro, 1925. Charge das primeiras décadas do século XX satirizando a alternância entre políticos paulistas e mineiros na Presidência da República do Brasil 4 Sugestão de análise da charge. 2. O que os demais indivíduos representados na charge pretendem? Identifique as unidades da Federação que eles representam. Eles estão representados com os braços esticados e em posição de esforço para atingir o alto, ou seja, um lugar próximo à Presidência da República. Os estados que aparecem na ilustração são Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Bahia, Alagoas, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Pernambuco, Ceará, Pará e Amazonas. Entre os anos de 1894 e 1930, esses dois estados con- trolaram o país, alternando-se na Presidência da República. Nesse período, as oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais elegeram a maioria dos presidentes da República. História 9 Pesquisa Observe a linha do tempo que apresenta todos os presidentes da Primeira República brasileira. Nela estão representa- dos os presidentes marechais da República da Espada e os presidentes da República do Café com Leite. Em equipe, escolham um dos presidentes que governaram durante a República do Café com Leite e pesquisem a biografia e as principais realizações desse governante. 5 Sugestão de abordagem da atividade. Marechal Manuel Deodoro da Fonseca 1889-1891 Marechal Floriano Vieira Peixoto 1891-1894 Prudente José de Morais e Barros 1894-1898 Manuel Ferraz de Campos Sales 1898-1902 Francisco de Paula Rodrigues Alves 1902-1906 Affonso Augusto Moreira Penna 1906-1909 Nilo Procópio Peçanha 1909-1910 Marechal Hermes da Fonseca 1910-1914 Wenceslau Braz Pereira Gomes 1914-1918 Delfim Moreira da Costa Ribeiro 1918-1919 Epitácio da Silva Pessoa 1919-1922 Arthur da Silva Bernardes 1922-1926 Washington Luís Pereira de Sousa 1926-1930 Primeira República (1889-1930) – presidentes Bi b lio te ca d a Pr es id ên ci a d a Re p ú b lic a/ Fo tó g ra fo d es co n h ec id o 10 Volume 8 Bi b lio te ca D ig ita l d o Se n ad o Fe d er al /F ot óg ra fo d es co n h ec id o Fu n d aç ão B ib lio te ca N ac io n al /F ot óg ra fo d es co n h ec id o Outras versões Política dos Governadores e Coronelismo A política implantada por Prudente de Morais, primeiro presidente civil, que governou de 1894 a 1898, vigorou durante toda a República do Café com Leite e foi denominada Política dos Governadores. De acordo com essa política, o governo federal concedia apoio às oligarquias e às bancadas estaduais em troca do apoio das unidades da Federação ao governo federal. Esse apoio aos presidentes se dava com base no mandonismo local exercido sobre a população pelos coronéis. Para garantir os interesses das lideranças regionais e nacionais, o voto era aberto (e não secreto) e as eleições eram fraudadas: nas listas de eleitores, constavam, por exemplo, nomes de pessoas falecidas ou que nunca existiram. Espe- cialmente nas regiões rurais, os eleitores se sentiam obrigados a votar em quem os coronéis determinavam, ou porque dependiam deles para sobreviver, ou porque eram obrigados pelos jagunços. Era o chamado voto do cabresto. Após o processo eleitoral, os candidatos eleitos precisavam ter o mandato reconhecido não pelo Judiciário, como é atualmente, mas pelo Legislativo. Dessa forma, os candidatos da oposição que, porventura, conseguiam se eleger eram impedidos pelo Congresso Nacional (de maioria governista) de tomar posse. Essa prática política de impedir que os candidatos opositores chegassem ao poder ficou conhecida como degola. Analise com atenção as charges produzidas durante a República do Café com Leite. YANTOK. As próximas eleições. 1 charge. D. Quixote, 20 fev. 1918. Charge da época da República Velha satirizando um aspecto das fraudes nas eleições: o fato de constar o nome de pessoas falecidas na lista de eleitores STORNI, Alfredo. 1 charge. Careta, ano 20, n. 974, 19 fev. 1927. Na charge de 1927, do sul-rio-grandense Alfredo Storni, há uma crítica ao voto do cabresto ELLE – NÃO, É O ZÉ BURRO!ELLA – É O ZÉ BESTA? 6 Gabarito. De acordo com os documentos, faça, em seu caderno, o que se pede a seguir. a) Descreva as situações apresentadas nas charges. b) Como o conteúdo desses documentos se relaciona ao contexto político e eleitoral da República do Café com Leite ou República Oligárquica? c) Aponte mudanças e permanências no processo eleitoral brasileiro, comparando o formato atual com o que existia na época da República Oligárquica. História 11 Você faz História Em dupla, produzam uma charge retratando um aspecto do nosso processo eleitoral atual que, de alguma forma, represente uma permanência do processo eleitoral da República do Café com Leite. Após a produção das charges, apontem as práticas ou medidas que poderiam ser tomadas com o objetivo de tornar o processo eleitoral mais transparente e democrático. Anotem as conclusões no caderno. 7 Orientação para a realização da atividade. Movimentos sociais na Primeira República Enquanto o destino da política brasileira era decidido pelas oligarquias estaduais aliadas ao governo central, a maioria da população passava por sérias dificuldades – não tinha nenhuma assistência do governo com relação à saúde, à educação e nem acesso a programas sociais que pudessem auxiliá-la em momentos de crise econômica. Entretanto, os brasileiros não permaneceram “bestializados” diante de tal situação. Várias foram as movimentações po- pulares que agitaram o cenário nacional nos primeiros 30 anos de República, tanto nas regiões rurais quanto nas urbanas. Movimentos sociais rurais Entre os movimentos rurais, alguns tinham caráter messiânico, como as movimentações religiosas de Canudos, no Nordeste, e do Contestado, no Sul. Outros foram marcados pelo banditismo social e pela violência, como o Cangaço, também no Nordeste. Ainda, há que se citar a extrema influência que líderes religiosos locais, excluídos pelo catoli- cismo oficial, exerciam sobre inúmeros fiéis pobres e abandonados pelo poder público. Entre eles, recebe destaque o padre Cícero Romão Batista, no Ceará. Referente a messias, o termo mes- siânico é empregado para designar movimentos religiosos que pregam o retorno ou a vinda de um messias, um enviado de Deus, cuja missão é libertar um povo (que se considera escolhido) de determinada situação de opressão. 8 Aprofundamento de conteúdo parao professor. MOVIMENTOS SOCIAIS RURAIS Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1978. p. 45. Adaptação. Lu ci an o D an ie l T u lio 12 Volume 8 A seguir, leia a respeito de alguns dos principais movimentos rurais ocorridos no período. Canudos (1893-1897), Bahia Liderados pelo beato Antônio Conselheiro, milhares de sertanejos fun- daram no interior da Bahia (Arraial de Canudos) a comunidade religiosa Império do Belo Monte. Os habitantes de Canudos compunham uma congregação religiosa que aboliu a propriedade privada e se recusava a pagar os impostos. Condenavam a República e se preparavam para o Juízo Final, que culminaria com a volta gloriosa do rei português D. Sebastião – o qual desapareceu na Batalha de Alcácer-Quibir, travada em 1580 contra os mouros na África, e cujo retorno costumava ser profetizado em tempos de grandes calamidades. As tropas do governo, nas duas investidas em 1896, uma com 600 homens e outra com 1500 homens, foram vencidas pelos sertanejos, armados, principalmente, com paus e pedras. Somente em 1897, en- frentando um contingente de 6000 homens fortemente armados, a comunidade de Canudos foi derrotada: centenas de sertanejos foram mortos, entre eles, Antônio Conselheiro. Mulheres e crianças foram aprisionadas. Era o fim de Belo Monte. BARROS, Flávio. Quatrocentos jagunços. 1897. 1 fotografia, p&b. © W ik im ed ia C om m on s g , p A imagem apresenta 400 membros da comunidade de Canudos feitos prisioneiros após o confronto final. Em sua maioria, mulheres e crianças doentes e desnutridas Sugestão de atividade.9 Contestado (1911-1915), Paraná/Santa Catarina Movimento messiânico ocorrido no Sul do Brasil, na região conheci- da como Contestado, em torno das pregações do monge José Maria. O movimento recebeu essa denominação por causa das disputas de terras entre Paraná e Santa Catarina. Na região, estabeleceram-se tra- balhadores rurais expulsos de suas terras em virtude da instalação de uma madeireira e de uma ferrovia. Esses trabalhadores se recusaram a deixar o local e passaram a ser alvo de ataques de milícias estaduais e de jagunços a serviço de coronéis locais. A comunidade passou então a organizar uma resistência, tendo como líder a figura de um beato que se identificava como José Maria. Após vários confrontos, foram finalmente derrotados pelas tropas do governo em 1915. 10 Aprofundamento de conteúdo para o professor. Sob o olhar do fotógrafo sueco Claro Jansson, caboclos guerrilheiros do Contestado JANSSON, Claro. Guerra com música, em Ouro Verde. 1917. 1 fotografia, p&b. Coleção particular da família Jansson. C ol eç ão p ar tic u la r d a fa m íli a Ja n ss on Padre Cícero: o Beato de Juazeiro (1889-1934), Ceará Cícero Romão Batista, conhecido como Padre Cícero, atraiu multidões de todas as partes do Ceará para sua igreja, em Juazeiro, após os fiéis afirmarem que, durante suas missas, ocorriam milagres: hóstias consagradas se tornavam sangue na boca de seus fiéis durante a comunhão. Sua popularidade e suas práticas nada ortodoxas incomodaram as autoridades religiosas, que o expulsaram da ordem e o proibiram de realizar cerimônias religiosas. A popularidade de Padre Cícero, entretanto, só aumentou e ele chegou a assumir os cargos de prefei- to de Juazeiro e de vice-presidente (equivalente a vice-governador na atualidade) do estado do Ceará. Aprofundamento de conteúdo para o professor. 11 © W ik im ed ia C om m on s g ) Padre Cícero Romão Batista retratado aos 80 anos de idade, em foto de, provavelmente, 1924 História 13 Cangaço, Sergipe/Região Nordeste O termo cangaceiro era usado para designar grupos de bandoleiros que atuavam nos sertões de regiões como Sergipe, Ceará e Bahia. Esses grupos sobreviviam dos crimes que praticavam, eram temidos pela po- pulação e procurados pelas autoridades policiais. Algumas vezes, che- gavam a distribuir parte do que saqueavam para colaboradores de suas ações, o que deu ao movimento um caráter de “banditismo social”. O bando de cangaceiros mais famoso foi o liderado por Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião”, e se tornou o mais procurado do Nordeste. O governo baiano ofereceu altas recompensas pela sua captura. Em 28 de julho de 1938, na fazenda Angico, Sergipe, Lampião foi vítima de uma emboscada e, posteriormente, decapitado. BOTTO, Benjamin Abrahão. Lampião e Maria Bonita. [entre 1936 e 1937]. 1 fotografia, p&b. Lo ca l d e cu st ód ia n ão id en tif ic ad o Movimentos sociais urbanos Enquanto nos sertões multidões carentes de recursos e de atenção de seus representantes políticos se deixavam levar pelas pregações de místicos locais ou sofriam com as atrocidades de cangaceiros e jagunços, nos grandes centros urbanos, a industrialização se desenvolvia e, com ela, a proletarização da população urbana. As péssimas condições de trabalho e de moradia estão entre os fatores que ocasionaram duas das mais significati- vas movimentações urbanas ocorridas durante a Primeira República: a Revolta da Vacina e as greves promovidas pelos operários de São Paulo. Aprofundamento de conteúdo para o professor.12 MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1978. p. 45. Adaptação. Lu ci an o D an ie l T u lio 14 Volume 8 Aspecto do interior de um cortiço no Rio de Janeiro em 1906. “Habitações” desse tipo se multiplicaram no centro de grandes cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, entre o fim do século XIX e o início do XX. As precárias condições de higiene preocupavam as autoridades, pois poderiam dar origem a focos de doenças endêmicas como a febre amarela. A seguir, leia a respeito desses importantes movimentos urbanos ocorridos no período. A rq u iv o G er al d a C id ad e d o Ri o d e Ja n ei ro MALTA, A. Cortiço no Rio de Janeiro. 1906. 1 fotografia, p&b. Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Aprofundamento de conteúdo para o professor. 13 Movimento operário – greve geral (1917), São Paulo No decorrer da Primeira República, circulavam jornais em prol da causa operária, os quais incitavam greves e parali- sações. A maior delas aconteceu em São Paulo, em julho de 1917. A chamada greve geral de 1917 caracterizou-se pela paralisação por completo do comércio e da indústria na cidade de São Paulo e em outras regiões do estado e do Brasil. Contou com a participação de cerca de 40 mil pessoas. Os grevistas reivindicavam a proibição do trabalho de meno- res de 14 anos, o direito de associação, o aumento de salários e a jornada de 8 horas. Os empresários se comprometeram a analisar essas exigências e concederam aumento imediato de salário para que os grevistas voltassem ao trabalho. A ce rv o Ic on og ra p h ia Operários em greve no centro de São Paulo em 1917. A greve geral, convocada por lideranças ligadas ao anarcossindicalismo, iniciou em uma indústria têxtil em julho de 1917. O movimento se expandiu, congregando trabalhadores de diferentes categorias. O número de adeptos chegou a 40 mil. Aprofundamento de conteúdo para o professor. 14 Movimento tenentista (1922-1926) No dia 5 de julho de 1922, jovens oficiais do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, deram início a uma rebelião. Isolados, sofreram ata- ques de tropas do governo por mar e por terra. Dezoito deles saíram do forte com o intuito de enfrentar as tropas, mas só dois voltaram com vida: Eduardo Gomes e Siqueira Campos. O episódio, que ficou conhecido como “Os dezoito do Forte”, deu início a um movimento maior, que entraria para a história com o nome de Tenentismo. M u se u A er oe sp ac ia l d a A er on áu tic a/ Fo tó g ra fo d es co n h ec id o maior, que entraria para a história com Os dezoito do Forte – denominação pela qual ficaram conhecidos os que enfrentaram as tropasfederais Aprofundamento de con- teúdo para o professor. 15 Revolta da Vacina (1904), Rio de Janeiro A urbanização desordenada do fim do século XIX no Rio de Janeiro gerou a multiplicação dos cortiços. Em virtude das péssimas con- dições de moradia, higiene e trabalho, doenças como varíola, cóle- ra, diarreia e gripe alastravam-se rapidamente e preocupavam as autoridades. A Diretoria Geral de Saúde Pública, sob a administração do jovem mé- dico Oswaldo Cruz, colocou em prática a lei da vacinação obrigatória. A vacinação forçada, associada à demolição de cortiços (imposta pelo pro- cesso de modernização da cidade), provocou a ira da população pobre do centro da cidade do Rio de Janeiro, o que ocasionou um episódio conhecido como Revolta da Vacina (10 a 18 de novembro de 1904). Apesar das amotinações e depredações, as reformas urbanas foram feitas, a população foi vacinada e duas das grandes endemias da capi- tal – a febre amarela e a varíola – foram, temporariamente, controladas. História 15 Semana de Arte Moderna (1922), São Paulo Entre 13 e 17 de setembro de 1922, literatos, pin- tores, arquitetos, escultores e intelectuais expuse- ram ao público, no Teatro Municipal de São Paulo, uma concepção de arte renovada. Era a Semana de Arte Moderna. Os envolvidos no movimento artístico criticavam a mera absorção de valores europeus e defendiam a necessidade de criar uma arte genuinamente brasileira. Entre os participantes, destacou-se a presença de artistas visuais, como Anita Malfatti e Di Cavalcanti, e de escritores, como Oswald de Andrade e Mário de Andrade. Hora de estudo 1. (UERJ) (J. Carlos. In: LEMOS, Renato (org). Uma história do Brasil através da caricatura. Rio de Janeiro: Bom Texto, Letras e Expressões, 2001.) EXÉRCITO AUMENTA APOIO À CAMPANHA DE COMBATE AO DENGUE Brasília. (...) atendendo a solicitação do Mi- nistério da Saúde, o Comando Militar do Leste foi autorizado a aumentar o apoio dado aos agentes da Fundação Nacional de Saúde (Fu- nasa) que combatem a epidemia de dengue no Rio de Janeiro. O Exército apoia os agentes em transporte, alimentação e alojamento. Segun- do a nota, é significativo o número de milita- res que participam agora diretamente de ações que objetivam conter a epidemia de dengue. (Radiobrás, 19/02/02) Orientação para a distribuição das atividades como tarefa de casa e gabaritos/comentários sobre as questões. 16 Tanto a legenda da charge quanto a notícia atual evidenciam aspectos da atuação do poder público numa situação de combate a epidemias. Comparando os dois contextos, essa atuação e essa intervenção no combate à epidemia podem ser caracterizadas, respectivamente, pelos seguintes traços: M u se u d e A rt e d e Sã o Pa u lo A ss is C h at ea u b ria n d /F ot óg ra fo d es co n h ec id o MALFATTI, Anita. Uma estudante. [ca. 1915-1916]. 1 óleo sobre tela, color., 76,5 cm × 60,5 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo. 16 Volume 8 a) maior eficácia nas áreas rurais e menos habitadas – permanência e predomínio da iniciativa privada b) ação ampla em bairros periféricos e menos atingidos – responsabilidade das instituições beneficentes c) maior competência em áreas privilegiadas e me- nos afetadas – descentralização por instituições municipais X d) autoritarismo sobre a população carente e menos esclarecida – integração e aparato técnico de insti- tuições federais 2. (UFC – CE) habitantes válidos dispostos ao combate. E as linhas do telégrafo transmitiram ao país inteiro o prelúdio da guerra sertaneja.” O trecho acima é parte do livro de Euclides da Cunha que teve sua primeira edição em 1902 e relata o co- tidiano de um conflito ocorrido nos primeiros anos da República. O livro de Euclides e o conflito ao qual se refere são respectivamente: a) Inferno Verde, Caldeirão. b) Inferno Verde, Cabanagem. X c) Os Sertões, Canudos. d) Os Sertões, Caldeirão. e) A guerra do fim do Mundo, Contestado. 4. (UFSC) Na década de 1920, política, economia e cul- tura andaram muito próximas no Brasil e cada uma, a seu modo, propunha mudanças para o país. Sobre este período, é CORRETO afirmar que: X (01) A Semana de Arte Moderna, em 1922, procurou evidenciar uma arte com raízes brasileiras e de compromisso com a nacionalidade, tendo ex- poentes intelectuais como Mário de Andrade e Di Cavalcanti, entre outros. (02) Na política destacou-se o movimento tenentista, que procurava manter a ordem oligárquica atra- vés de várias revoltas, apoiando militarmente a República Velha. (04) O Cap. Luís Carlos Prestes organizou uma coluna de combatentes, que percorreu o interior do Bra- sil em uma longa marcha, pregando a destituição do governo golpista de Getúlio Vargas. X (08) A economia dependia basicamente da exporta- ção do café. No entanto, o mercado internacional não absorvia a superprodução brasileira, quadro agravado com a quebra da Bolsa de Nova York, que paralisou o comércio, afetando profunda- mente a cafeicultura nacional. X (16) Foi notório o processo de industrialização e ur- banização do Brasil, o que facilitou a formação de novos grupos sociais, tais como a burguesia industrial, a classe média urbana e o operariado. Os capitais acumulados com a atividade cafeeira foram investidos no setor industrial, cujo marco significativo foi a criação do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo. “Morte à gordura! morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal! ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi! Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano! ‘– Ai, filha, que te darei pelos teus anos? – Um colar... – Conto e quinhentos!!!’ (...) Fora! Fu! Fora o bom burguês!...” O trecho acima, transcrito do poema Pauliceia Desvai- rada, de Mário de Andrade, foi recitado na Semana de Arte Moderna, realizada de 11 a 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Sobre esse movimento, é correto afirmar que: a) teve como princípio uma arte baseada na estética romântica e realista. X b) tentou traduzir a cultura e os problemas nacionais através da arte. c) gerou uma valorização da arte europeia em detri- mento da arte brasileira. d) foi uma tentativa de renovar as manifestações artís- ticas no Brasil Império. e) foi um grupo de poetas e escultores que reafirma- ram o parnasianismo no Brasil. 3. (UFC – CE) “A travessia para o Juazeiro fez-se a mar- chas forçadas, em quatro dias. E quando lá chegou o bando dos expedicionários, fardas em trapos, feridos, estropiados, combalidos, davam a imagem da derro- ta. Parecia que lhes vinham em cima, nos rastros, os jagunços. A população alarmou-se, reatando o êxodo. Ficaram de fogos acesos na estação da via-férrea todas as locomotivas. Arregimentaram-se todos os História 17 MACHADO, P. P. Lideranças do Contestado. Campinas: Unicamp, 2004. (Adaptado). No início do século XX, uma série de empreendimentos capitalistas chegou à região do meio-oeste de Santa Catarina − ferrovias, serrarias e projetos de coloniza- ção. Os impactos sociais gerados por esse processo estão na origem da chamada Guerra do Contestado. Entre tais impactos, encontrava-se: a) a absorção dos trabalhadores rurais como trabalha- dores da serraria, resultando em um processo de êxodo rural. b) o desemprego gerado pela introdução das novas máquinas, que diminuíam a necessidade de mão de obra. X c) a desorganização da economia tradicional, que sus- tentava os posseiros e os trabalhadores rurais da região. d) a diminuição do poder dos grandes coronéis da re- gião, que passavam a disputar o poder político com os novos agentes. e) o crescimento dos conflitos entre os operários em- pregados nesses empreendimentos e os seus pro- prietários, ligados ao capital internacional. 6. (ENEM) PRADO, P. Retrato do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972. A crítica presente no texto remete ao acordo que fun-damentou o regime republicano brasileiro durante as três primeiras décadas do século XX e fortaleceu o(a) a) poder militar, enquanto fiador da ordem econômica. b) presidencialismo, com o objetivo de limitar o poder dos coronéis. X c) domínio de grupos regionais sobre a ordem federativa. d) intervenção nos estados, autorizada pelas normas constitucionais. e) isonomia do governo federal no tratamento das disputas locais. 7. (FGV – RJ) 5. (ENEM) A serraria construía ramais ferroviários que adentravam as grandes matas, onde grandes locomotivas com guindastes e correntes gigan- tescas de mais de 100 metros arrastavam, para as composições de trem, as toras que jaziam abatidas por equipes de trabalhadores que an- teriormente passavam pelo local. Quando o guindaste arrastava as grandes toras em dire- ção à composição de trem, os ervais nativos que existiam em meio às matas eram destruí- dos por este deslocamento. Nos estados, entretanto, se instalavam as oligarquias, de cujo perigo já nos advertia Saint-Hilaire, e sob o disfarce do que se cha- mou “a política dos governadores”. Em círculos concêntricos esse sistema vem cumular no próprio poder central que é o sol do nosso sistema. “O florianismo foi no Brasil o primeiro mo- vimento político espontâneo centrado na figura de uma liderança política. Congregou parcelas significativas da população urbana em geral deslocadas dos canais de decisão política. Flo- riano Peixoto encarnou, na avaliação desse con- tingente social pequeno-burguês, as aspirações mais substantivas do corolário da República.” (PENNA, Lincoln de Abreu. República brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.) Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro, no poder entre 1891 e 1894, foi acusado pela oposição de ser o “Ro- bespierre brasileiro” e o “Marechal Vermelho”. Assinale a alternativa em que estão indicadas correta- mente as duas ideias básicas que sustentam o chama- do florianismo: a) catolicismo social e jacobinismo nacionalista e social; b) socialismo reformista e nacionalismo econômico; c) corporativismo social e federalismo; X d) ideal positivista da “coisa pública” e jacobinismo na- cionalista e social; e) liberalismo político e nacionalismo econômico. 18 Volume 8 Ponto de partida 19 Grande Guerra 35 Analise as fotografias e responda às questões a seguir. 1. Qual é o tema retratado em cada uma das fotografias? 2. Explique os fatores presentes na Bela Época (Belle Époque) que podem ter ocasionado a Grande Guerra. 1 2 1 Museu Canadense de Guerra/Fotógrafo desconhecido Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos/Fotógrafo d esconhecido A VIDA no front. 1918. Museu Canadense de Guerra (coleção George-Metcalf), Ontário. 1 fotografia, p&b. Objetivos da unidade: relacionar as transformações ocorridas na Europa durante o fim do século XIX e o início do século XX à Revolução Industrial e ao Imperialismo; compreender as relações entre o Imperialismo, o nacionalismo e as rivalidades das potências industrializadas; analisar os fatores que ocasionaram a eclosão do conflito mundial; conhecer as principais fases do conflito da Grande Guerra; estabelecer relação entre os desenvolvimentos tecnológicos e as armas utilizadas no conflito, com destaque para as novas estratégias de guerra aplicadas; compreender o desfecho do conflito e identificar os países vitoriosos, os derrotados e as de- cisões estabelecidas pelos principais acordos de paz firmados ao fim da guerra; compreender as modificações que ocorreram na sociedade e nas produções artísticas como fruto das mudanças geradas pela Grande Guerra. a Europa durante o fim do século XIX e o início do Para compreender a Grande Guerra, é importante recordar o avanço imperialista das potências europeias sobre territórios da Ásia, da África e da Oceania. As disputas por territórios situados nesses continentes estiveram relacionadas à expansão do capitalismo industrial e ao objetivo de explorar novos mercados, fontes de matéria-prima e de energia e de expandir os domínios dos Estados europeus sobre o mundo. Organize as ideias Vamos relembrar um dos aspectos do Imperialismo, também denominado Neocolonialismo, o qual marcou o fim do século XIX. Sobre a missão civilizatória europeia, verifique as questões a seguir. 1. (UERJ) Gabarito.3 A palavra “imperialismo”, no sentido moderno, desenvolveu-se primordialmente na língua inglesa, sobretudo depois de 1870. Seu significado sempre foi objeto de discussão, à medida que se propunham diferentes justificativas para formas de comércio e de governo organizados. Havia, por exemplo, uma campanha política sistemática para equiparar imperialismo e “missão” civilizatória. Adaptado de WILLIAMS, Raymond. Um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo, 2007. No final do século XIX, os europeus defendiam seus interesses imperialistas nas regiões africanas e asiáticas, justifi- cando-os como missão civilizatória. Uma das ações empreendidas pelos europeus como missão civilizatória nessas regiões foi: a) aplicação do livre comércio b) qualificação da mão de obra c) padronização da estrutura produtiva X d) modernização dos sistemas de circulação 20 Volume 8 Considerando a missão civilizató- ria uma das principais justificati- vas do Imperialismo europeu na África, produza, em seu caderno, um texto interpretativo sobre a charge. Origens No início do século XX, o sentimento ultranacionalista, incentivado pelos Estados europeus em ascensão, como o Império Alemão, ajudou a disseminar a ideia de que a guerra afirmaria o patriotismo e a soberania. Desde o fim do século XIX, potências europeias vinham desenvolvendo a estratégia de mobilizar milhares, e depois milhões, de homens por centenas de quilômetros de frentes de guerra. Isso só foi possível graças à aceitação da sociedade de que grande parte de seus recursos materiais – e humanos – fosse sacrificada em nome da segurança do território e da sobrevivência da população. Associado à inferiorização do “outro” justificada por preceitos raciais, à intolerância e ao ódio a inimigos em potencial, um nacionalismo exaltado passou a ser difundido nos meios escolares e pela imprensa, mobilizando a população para a necessidade da guerra. © Fl ic kr /A lfr ed o G ra d os R iv er o Aprofundamento de conteúdo para o professor.4 Desde o fim do século XIX, a Alemanha vinha des- pontando como um estado em ascensão, que ameaça- va a hegemonia de grandes potências como a Rússia e a França. Teorias sobre uma suposta superioridade da “raça” germânica circulavam entre alguns meios acadê- micos da época. Julgando-se superiores, muitos jovens alemães pensavam na guerra contra outras nações como uma forma de subjugar os que consideravam inferiores e, assim, aumentar o próprio poder. Uma nascente e poderosa indústria colocava o impe- rialismo alemão em igualdade de condições na partilha das regiões da Ásia e da África. Com abundantes reser- vas de minério de ferro e carvão, o Império investiu na indústria pesada, ultrapassando, em 1914, a Grã-Bretanha em reservas de ferro e aço. A indústria bélica, que havia ajudado a garantir a vitória sobre a França no conflito franco-prussiano (1870-1871), era outro fator a fazer da Alemanha um poderoso rival na corrida imperialista. Economicamente, a expansão do comércio ultra- marino e a exploração de colônias possibilitavam o fornecimento de matérias-primas e a expansão do mer- cado consumidor. No âmbito social, a legislação alemã era, ao menos em tese, exemplar para a época. Desprezando as diferenças e desigualdades internas, no fim do século XIX e início do século XX, predominava na produção cultural alemã a alusão a um sentimento nacionalista. Este estava pautado em uma hereditarieda- de comum, ligada à ascendência germânica que enalte- cia a guerra como demonstração da força de um povo. Nesse período, via-se florescer todauma geração de jovens, nascidos entre 1880 e 1890, criada em um am- biente político impregnado de conceitos influenciados pelo darwinismo social e que enalteciam a raça ariana e o mito de sua superioridade racial. Ao mesmo tempo, eram dados os primeiros passos em direção à ideia de expurgo de outros povos do território alemão, uma vez que o im- pério estabelecido em 1871 defendia uma língua, uma nação, uma raça. Q u ad rin h of ili a Pr od u çõ es A rt ís tic as . 2 01 2. D ig ita l. 2. Observe a charge. ESTUDANTES de Berlim saúdam a entrada da Alemanha na guerra. 1914. 1 fotografia, p&b. História 21 Interpretando documentos Pesquisa O ideário nacionalista exacerbado, com conotações racistas, acabou sendo apropriado por movimentos como o pangermanismo na Alemanha e o pan-eslavismo na Rússia. Pesquise esses dois movimentos e explique as prin- cipais características de cada um. Pangermanismo: liderado pela Alemanha, esse movimento político apregoava a necessidade de unir todos os povos que tinham ascendência germânica, expulsando dos territórios por eles ocupados pessoas de outros grupos étnicos. Pan-eslavismo: movimento político que defendia a necessidade de unir todos os povos que tinham ascendência eslava sob a proteção da Rússia. A respeito das transformações pelas quais o continente europeu passou nas últimas décadas do século XIX e início do século XX, leia o documento a seguir. WILLMOTT, H. P. Primeira Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 16-17. Após a leitura e a análise do texto, responda às seguintes questões em seu caderno. a) De que maneira a industrialização pode ter cooperado para o aumento da produção de alimentos? b) De que modo o aumento da população contribui para o desenvolvimento de um país? c) Por quais mudanças a Alemanha passou após a unificação ocorrida em 1871? Orientação para a realização da atividade e gabarito.5 A Europa de 1914 era muito diferente daquela de meados do século XIX, quando somente a Grã-Bretanha e a Bélgica poderiam ser consideradas Estados industrializados, no sentido de que os estabelecimentos fabris e o comércio eram o sustentáculo principal da economia. Por volta de 1914, isso ocorreria com quase todo o norte da Europa. Juntamente com a industrialização ocorreu um forte aumento populacional na região como um todo. Isso começara no século XVIII, e fora causado por um determinado número de fatores, inclusive uma melhora no suprimento de comida. Desenvolvimentos tecnológicos na agricultura haviam levado a um aumento na pro- dução de alimentos, assim como melhorias nos sistemas de transporte permitiram que os alimentos fossem transportados facilmente. Pessoas melhor nutridas viviam mais e tinham mais filhos que sobreviviam até a idade adulta. Na segunda metade do século XIX, as populações dos Estados europeus continuaram a crescer rapida- mente acompanhando a rápida disseminação da industrialização. A exceção foi a França, que, em 1871, era o Estado mais populoso da Europa, fora a Rússia. A Alemanha recém-unificada assumiu aquela posição, e sua população aumentou 50% nos quarenta anos subsequentes, enquanto a da França continuou estagnada. Em 1914, com exceção da Itália, a França era a menos populosa das potências. A Grã-Bretanha foi também superada pela Alemanha, e não apenas em termos de população. Por mais de cem anos, a Grã-Bretanha fora a nação industrial líder. No entanto, quarenta anos depois da unificação em 1871, a Alemanha tomara a liderança. (Nenhum desses países, contudo, podia competir com os Estados Uni- dos, que por volta de 1900 emergira como a nação mais industrializada do mundo.) 22 Volume 8 O Imperialismo foi produto da expansão do capitalismo industrial e parecia não ter limites. Em decorrência disso, acirraram-se as tensões entre os Estados europeus, o que envolveu a disputa por territórios situados na África, na Ásia e no Leste Europeu. Entre o fim do século XIX e o início do século XX, os antagonismos se agravaram, sobretudo em virtude do desen- volvimento e da expansão do Estado alemão e da disputa entre os impérios Austro-Húngaro e Russo por territórios na região dos Balcãs. Os Estados europeus passaram a investir mais na indústria bélica e na formação de contingentes militares. Políticas de alianças foram desenvolvidas e opunham, basicamente, um bloco franco-russo à aliança formada pela Alemanha e pela Áustria-Hungria. Em 1882, a Itália se uniu ao bloco da Alemanha e da Áustria originando a Tríplice Aliança. Em 1907, foi a vez da Grã-Bretanha de se juntar ao bloco franco-russo formando a Tríplice Entente. Estopim: a crise nos Balcãs A região dos Balcãs esteve durante séculos sob a dominação do Império Turco-Otomano, que, desde 1878, passou a apresentar sinais de crise e decadência, o que favoreceu sublevações internas e investidas externas. Os reinos da Romênia, Sérvia, Bulgária e Grécia viam na derrota dos turcos-otomanos a possibilidade de alargar os próprios territórios. No início do século, as tensões se acirraram e se transformaram em conflitos armados. Em 1912, ocorreu a Primeira Guerra dos Balcãs, na qual a Grécia e a Sérvia e Montenegro se aliaram contra os turcos. Em 1913, foi a vez da Grécia e da Sérvia de se aliarem aos turcos em movimentações militares contra territórios búlgaros, dando origem à Segunda Guerra dos Balcãs. Os conflitos nos Balcãs esti- mularam as tensões entre o Im- pério Austro-Húngaro, o Império Turco-Otomano e o Império Russo, visto que disputavam territórios na região. Observe o mapa. Sugestão de abordagem do conteúdo.6 Ta lit a Ka th y Bo ra PENÍNSULA BALCÂNICA: início do século XX Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: FAE, 1988. p. 145. Adaptação. História 23 Interpretando documentos As sublevações eslavas, lideradas pela Sérvia, tinham o apoio do Império Russo, que estava interessado em estender seu domínio na região e enfraquecer, assim, o poder dos impérios Turco e Austro-Húngaro. A Áustria se aliou à Alemanha para enfrentar as constantes rebeliões. A Rússia se aproximou da Sérvia. Para tentar minimizar as tensões, o herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro – o arquiduque Francisco Ferdi- nando – planejou uma visita à Sérvia em junho de 1914. No dia 28 do mesmo mês, quando passava pela capital Sarajevo, o Arquiduque foi assassina- do por Gavrilo Princip, jovem militante do grupo nacionalista radical sérvio denominado Mão Negra. Esse fato, aparentemente local, acabou se transformando no estopim para uma guerra de dimensões extracontinentais: a Grande Guerra, que se arrastou até 1918. O Império Austro-Húngaro, um dos mais poderosos do século XIX, havia sido intimado à guerra depois que o herdeiro do trono foi assassi- nado pelo jovem sérvio. A Sérvia, nação localizada na região dos Balcãs, era dominada pelo Império Austro-Húngaro e foi apoiada pela Rússia, ao passo que a Áustria-Hungria recebeu apoio da Alemanha. © W ik im ed ia C om m on s Analise o texto a seguir. HOLLWEG, Bethmann. In: SCHMITT, B. E. Comment vient la guerre. Tradução de Française de Cp. Appuhn. Paris: Costes, 1932. p. 231-232 apud MATTOSO, Kátia Maria de Queirós. Textos e documentos para o estudo da história contemporânea: (1789-1963). São Paulo: Hucitec-Edusp, 1977. p. 156-157. De acordo com a análise do documento e nossos estudos, responda às seguintes questões em seu caderno. a) Identifique o documento transcrito, bem como sua data, seu local e os personagens envolvidos. b) Qual é o conteúdo central do documento? c) Que relação existe entre as tensões na região dos Balcãs e as alianças firmadas por Estados europeus no fim do século XIX e início do século XX? Gabarito.7 Telegrama do Chanceler do Império Alemão ao Embaixador em Petersburgo Berlim, 31 de julho de 1914 Apesar das negociações de mediação ainda em curso e apesar de não termos até o momento tomadonenhuma medida de mobilização, a Rússia mobilizou todo o seu exército e sua frota, então também con- tra nós. Essas medidas russas nos obrigaram, para garantir a segurança do Império, a declarar o estado de ameaça de guerra, que não significa ainda a mobilização. Mas a mobilização deverá seguir-se, no prazo de doze horas, se a Rússia não suspender toda medida de guerra contra nós e a Áustria-Hungria, e não nos fizer uma declaração precisa neste sentido. Peço-lhe comunicar isto imediatamente ao Sr. Sazanoff e telegrafar a hora em que foi feita a comunicação [...]. CORTEJO fúnebre do Arquiduque Francisco Fernando da Áustria, em Sarajevo. 5 jul. 1914.1 fotografia, p&b. 24 Volume 8 Entre junho e julho de 1914, as antigas alianças se firmaram e as mobilizações militares iniciaram: as Potências Centrais (Alemanha e Áustria-Hungria) declararam guerra à Sérvia, cuja aliada era a Rússia. A Alemanha passou a atacar a Rússia e a França ao mesmo tempo e, para evitar a estruturação da defesa francesa, atacou também a neutra Bélgica objetivando invadir o território francês pelo norte e chegar mais facilmente a Paris. A invasão da Bélgica provocou a entrada da Grã-Bretanha na guerra, comprometida em defender a neutralidade do território belga no conflito. Organize as ideias Analise o mapa com o objetivo de compreender a dinâmica do conflito. Fonte: WILLMOTT, H. P. Primeira Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 15. Adaptação. De acordo com a análise do mapa, responda às seguintes questões. a) Quais países formaram a Tríplice Entente? França, Inglaterra e Rússia. Portugal, Romênia, Sérvia e Grécia ingressaram no grupo durante o conflito. b) Quais países formaram a Tríplice Aliança? Alemanha, Áustria-Hungria e Itália. Bulgária e Império Turco-Otomano ingressaram no grupo durante o conflito. c) O que aconteceu com a Itália em 1915? A Itália, que no início do conflito estava ao lado da Tríplice Aliança, passou a apoiar a Tríplice Entente. EUROPA: divisão política em 1914 e Grande Guerra Lu ci an o D an ie l T u lio História 25 O conflito Constituindo-se como a maior potência da Frente Ocidental, a Alemanha iniciou uma guerra em dois pontos: que- ria liquidar a França no Ocidente (Frente Ocidental) e a Rússia no Oriente (Frente Oriental). Entre 1914 e 1917, forças alemãs avançaram sobre a França e atravessaram a Bélgica. Os britânicos se juntaram às tropas francesas. Os dois lados se organizaram, então, em linhas paralelas e avançaram lentamente por meio de trin- cheiras cavadas no solo. Leia, a seguir, as principais etapas do confronto armado nas Frentes Ocidental e Oriental. • 1914 – A Alemanha declarou guerra à Rússia e à França e invadiu a Bélgica. A Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha. A Áustria declarou guerra à Rússia. Grã-Bretanha, França e Rússia declararam guerra à Turquia. Alemães avançaram sobre a França e sobre a Rússia. Tropas britânicas chegaram à França. Teve início a guerra de trincheiras na Frente Ocidental. • 1915 – Anúncio do Bloqueio Naval da Grã-Bretanha contra a Alemanha, que respondeu com um bloqueio sub- marino à Inglaterra. Os alemães utilizaram, pela primeira vez, gás venenoso em Yprès. A Itália se juntou à Tríplice Entente, e a Bulgária passou a apoiar as Potências Centrais. • 1916 – Na Frente Oriental, ocorreu a ofensiva alemã na Batalha de Verdun, causando muitas baixas de ambos os lados. França e Grã-Bretanha fizeram um acordo secreto para a partilha do Império Turco. Ocorreu a Batalha de Jutlândia entre britânicos e alemães. Em julho, na Batalha de Somme, ingleses usaram pela primeira vez blin- dados; foi registrado mais de um milhão de baixas. Romênia e Portugal entraram no conflito contra a Alemanha. • 1917 – Teve início a Revolução de Fevereiro na Rússia. Ingleses tomaram Bagdá, anteriormente ocupada pela Turquia, e passaram a apoiar a criação de um Estado judaico na Palestina. Em virtude dos torpedeamentos ale- mães a navios mercantes, os Estados Unidos entraram na guerra ao lado dos aliados (Tríplice Entente). Italianos sofreram pesada derrota na Batalha de Caporetto. • 1918 – Pelo tratado de Brest-Litovsk, firmado entre Rússia e Alemanha, a Rússia se retirou da guer- ra. Em julho, na Segunda Batalha do Marne, a ofensiva alemã falhou e as tropas germânicas se retiraram da Frente Ocidental. Na Batalha de Vittorio Veneto, as tropas italianas obtiveram a rendição austro- -húngara. Foi instituída a República na Alemanha, sediada na cidade de Weimar. O imperador alemão Guilher- me II foi obrigado a abdicar. Em novembro, a Alemanha assinou a rendição e colocou fim à Grande Guerra. O conflito foi dividido em duas fases distintas: a Guerra de Movimento e a Guerra de Trincheiras. A Guerra de Movimento durou cerca de um ano e caracterizou-se pelo deslocamento das tropas que estavam tomando posição nas fronteiras de seus países. A Guerra de Trincheiras foi marcada pela guerra estática, em que os soldados cavavam trincheiras nas frentes de batalha. O avanço tecnológico possibilitou a fabricação de armamentos mais potentes que impediam a luta em campo aberto como era tradição nos conflitos anteriores. Dessa forma, as trincheiras passaram a servir de proteção contra os ataques inimigos e, ao mesmo tempo, de base para os ataques que procuravam tomar a trincheira adversária. Nesse tipo de guerra, os avanços e recuos são lentos e imprevisíveis. Na Frente Ocidental, a guerra de trincheiras se arrastou por três anos e é considerada, por alguns historiadores, a fase mais trágica da Grande Guerra. 26 Volume 8 Troca de ideias Com um colega, analisem os documentos a seguir que descrevem as condições de luta nas trincheiras da Grande Guerra. Estamos no outono. Dos veteranos, já não há muitos. Sou o último dos sete colegas de turma que vieram para cá. Todos falam de paz e armistício. Todos esperam. Se for outra decepção, eles vão se desmoronar, as es- peranças são muito fortes; é impossível destruí-las sem uma reação brutal. Se não houver paz, então haverá revolução. Tenho catorze dias de licença, porque engoli um pouco de gás. [...] Se tivéssemos voltado em 1916, do nosso sofrimento e da força de nossa experiência, poderíamos ter desencadeado uma tempestade. Mas, se voltarmos agora, estaremos cansados, quebrados, deprimidos, va- zios, sem raízes e sem esperança. Não conseguiremos mais achar o caminho. E as pessoas não nos compreenderão, pois, antes da nossa, cresceu uma geração que, sem dúvida, passou esses anos aqui junto a nós, mas que já tinha um lar e uma profissão, e que agora voltará para suas antigas colocações e esquecerá a guerra... e, depois de nós, crescerá uma geração, semelhante à que fomos em outros tempos, que nos será estranha e nos deixará de lado. Seremos inúteis até para nós mesmos. En- velheceremos, alguns se adaptarão, outros simplesmente resignar-se-ão e a maioria ficará desorientada; os anos passarão e, por fim, pereceremos todos. Levanto-me. Estou muito tranquilo. Que venham os meses e os anos, não conseguirão tirar mais nada de mim, não podem me tirar mais nada. Estou tão só que posso enfrentá-los sem medo. [...] Tombou morto em outubro de 1918, num dia tão tranquilo em toda a linha de frente, que o comunicado se limitou a uma frase: ‘Nada de novo no front’. Caiu de bruços e ficou estendido, como se estivesse dormindo. Quando alguém o virou, viu-se que ele não devia ter sofrido muito. Tinha no rosto uma expressão tão serena que quase parecia estar satisfeito de ter terminado assim. Sugestão de abordagem do conteúdo.8 Certa noite, na segunda semana de novembro, houve uma forte tempestade, com relâmpagos cortando o céu em meio aos clarões das explosões. A chuva cobriu a terra de ninguém com uma camada de água de uns 25 centímetros, mas não parou de cair. Tamanho volume de chuva acabou interrompendo a primeira batalha de Yprés, que avançava devastadoramente para o norte. Nosso setor ao norte de Armentières foi arrasado.Pode-se imaginar as condições das latrinas. O terreno à nossa frente estava cheio de soldados mortos. Com a chuva ainda caindo, chafurdávamos em uma argila amarelenta. Nossas trincheiras, com um pouco mais de 2 metros de profundidade, esta- vam cobertas com um lençol de água com cerca de 1,20 metro. Movimentávamo-nos ou nos arrastáva- mos lentamente através da marga lamacenta ou de um lamaçal amarelento, o que era muito diferente. REMARQUE, Erich Maria. Nada de novo no front. Porto Alegre: L&PM, 2008. p. 221-222. marga: calcário argiloso, ou argila com maior ou menor teor em calcário. La tin st oc k/ C or b is /D PA /u n ite d a rc h iv es /9 10 40 SOLDADOS britânicos saem da trincheira para atacar o inimigo durante a Batalha do Somme. Somme. 1916. 1 fotografia, p&b. História 27 ARTHUR, Max. Vozes esquecidas da Primeira Guerra Mundial: uma história contada por homens e mulheres que vivenciaram o primeiro grande conflito do século XX. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. p. 68. Após analisar os documentos e debater com seu colega, respondam às questões a seguir. a) A guerra correspondeu às expectativas dos jovens soldados de lutar pela honra? Justifiquem a resposta. Os jovens soldados se alistaram com o ideal de defender a família e a pátria. Entretanto, a dureza da guerra acabou por desencantá-los e mostrar que a guerra era uma estupidez promovida pelas autoridades que não experimentavam as péssimas condições vivenciadas nas frentes de batalha. b) A guerra trouxe novas oportunidades para os jovens que sobreviveram ao conflito? Justifiquem a resposta trans- crevendo, nas linhas a seguir, um fragmento de um dos textos. Não. “E as pessoas não nos compreenderão, pois, antes da nossa, cresceu uma geração que, sem dúvida, passou esses anos aqui junto a nós, mas que já tinha um lar e uma profissão, e que agora voltará para suas antigas colocações e esquecerá a guerra... e, depois de nós, crescerá uma geração, semelhante à que fomos em outros tempos, que nos será estranha e nos deixará de lado. Seremos inúteis até para nós mesmos. Envelheceremos, alguns se adaptarão, outros simplesmente resignar-se-ão e a maioria ficará desorientada; os anos passarão e, por fim, pereceremos todos.” c) Com base nas informações dos documentos, descreva as condições de sobrevivência nas trincheiras. Espera-se que os alunos expliquem que as trincheiras eram lugares insalubres e que causavam a morte dos soldados em pouco tempo em decorrência da fome, dos ferimentos e das doenças contagiosas ou provocadas pela umidade. O segundo texto descreve as condições de sobrevivência nas trincheiras quando as estações das chuvas inundavam toda a frente de batalha. Além disso, durante o inverno, ocorria o congelamento do corpo, o que implicava a morte do indivíduo ou a amputação de pés, pernas e mãos. A d d G d l h d h lh d Quando a noite chegou e pudermos sair dali, levamos quase uma hora para escalar as paredes. Alguns dos nossos companheiros voltaram a escorregar para dentro das trincheiras e se afogaram. Não conseguimos nem sequer vê-los, mas alguns de nós chegaram a pisar os corpos depois. Retaguarda Segunda Trincheira Primeira Trincheira Primeira Trincheira Segunda Trincheira Zona minada Túnel de comunicação Arame farpado Terra de Ninguém Arame farpado Zona da Tríplice AliançaZona da Tríplice Entente 10 Km Guerra de Trincheiras Observe na ilustração a posição dos exércitos francês e alemão, a disposição das trincheiras e a denominada "terra de ninguém". Jack Art. 2015. Digital. 28 Volume 8 Além das batalhas na Frente Ocidental, as Potências Centrais, en- cabeçadas pela Alemanha, avançaram também sobre a Rússia e os Balcãs na chamada Frente Oriental. Nessa região, os combates não foram menos sangrentos. Milhões de soldados, de ambos os lados, morriam nos combates, de frio ou de fome. Submarinos alemães, com o objetivo de matar os inimigos por inanição, interceptavam e impediam navios de levar alimentos à Grã-Bretanha. O avião, inventado há poucos anos, esta- va sendo usado como uma poderosa “arma de matar”. Gases letais eram lançados nos campos de batalha pelos militares alemães. Os primeiros a utilizar gases letais (venenosos) foram os alemães na Batalha de Yprés, no dia 22 de abril d e 1915. O gás cloro foi lançado em direção às trinche i- ras francesas. Após essa primeira utilização, amb os os lados da guerra passaram a fazer uso de diferent es tipos de substâncias químicas. O gás cloro e o fosgê - nio matavam os soldados por asfixia no período d e 24 horas após a inalação. O gás mostarda foi o ma is utilizado e era o que gerava mais sofrimento, po is causava o apodrecimento interno e externo do corp o e produzia bolhas em toda a pele. Muitos soldado s agonizavam por até cinco semanas antes de morrer. BROOKE, John Warwick. Soldados ingleses operando metralhadora durante a Batalha do Somme. Somme. 1916. 1 fotografia, p&b. Tão logo surgiram os gases tóxicos como armas de guerra, foram criados equipamentos de proteção contra essas substâncias. Máscaras, óculos e luvas passaram a fazer parte dos uniformes dos soldados. Bi b lio te ca d o C on g re ss o d os E st ad os U n id os /F ot óg ra fo d es co n h ec id o O cartaz utilizado para convocar jovens estadunidenses em 1917 apresenta a caricatura do presidente Abraham Lincoln apontando para o observador com a frase: Eu necessito de você nas forças armadas. Rendição da Alemanha O ano de 1917 trouxe mudanças decisivas para o conflito. Nesse ano, dois acontecimentos ajudaram a definir os contornos que a história do con- flito – e do mundo – passaria a ter a partir de então. Na Rússia, o governo czarista renunciou e duas revoluções ocorreram. Os bolcheviques chegaram ao poder em outubro desse ano e uma das pri- meiras decisões foi a retirada do país do conflito mundial. Foi assinado o Tratado de Brest-Litovsk entre Alemanha e Rússia, segundo o qual a Rússia perdia 32% das terras aráveis e 69% de sua indústria, além de pagar uma alta indenização à Alemanha. FLAGG, James Montgomery. Convocação dos Estados Unidos para a Grande Guerra. 1917. 1 cartaz, color. Aprofundamento de conteúdo para o professor.9 Im p er ia l W ar M u se u m s História 29 Interpretando documentos Leia, neste fragmento de texto, algumas cláusulas do Tratado de Versalhes. VOILLIARD, O. et al. Documentos de História: 1851-1971. [197-] apud FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de História. Lisboa: Plátano, 1976. v. 3, p. 273-274. De acordo com o texto, em seu caderno, faça o que se pede a seguir. a) Cite as principais sanções impostas à Alemanha pelas potências aliadas. b) A Alemanha foi considerada a grande culpada por todos os prejuízos causados e, por esse motivo, foi obrigada a aceitar um tratado com cláusulas tão duras. Em sua opinião, as cláusulas aplicadas à Alemanha foram justas? Justifique sua resposta. 10 Gabarito e aprofundamento de conteúdo para o professor. Ainda no ano de 1917, os Estados Unidos declararam guerra às Potências Centrais após o torpedeamento de navios mer- cantes estadunidenses por submarinos alemães. Para muitos historiadores, essa foi a desculpa dos Estados Unidos para entrar no conflito e auxiliar os aliados (Tríplice Entente), que corriam o risco de serem derrotados. A partir de então, ao longo de um ano, pesadas derrotas foram infringidas às Potências Centrais, culminando com a derrota da Áustria e da Alemanha. Os alemães assinaram a rendição em 11 de novembro de 1918. Era o fim da Grande Guerra. Fim do conflito e a nova ordem mundial Entre as consequências do conflito, contabilizam-se 9 milhões de mortos, a devastação do continente europeu, a ascensão dos Estados Unidos, a criação da Liga das Nações (organização internacional voltada a evitar novos conflitos), a entrada das mulheres no mercado de trabalho e a liberalização dos costumes. Quanto à Alemanha,às baixas sofridas pelo seu exército, somaram-se a derrota e a humilhação imposta pelo Tra- tado de Versalhes assinado em 1919. O documento determinou inúmeras punições, entre elas, a perda dos territórios invadidos na Europa e das possessões imperiais alemãs em outros continentes. (...) Art. 119 – A Alemanha renuncia, a favor das Principais Potências aliadas e associadas (Estados Unidos, Império Britânico, França, Itália e Japão), a todos os seus direitos e títulos de além-mar (...) Art. 160 – o exército alemão não deverá compreender mais de 7 divisões de infantaria e 3 divisões de cavalaria (...) Art. 168. – O fabrico de armas, munições e material de guerra (...) não poderá ser efec- tuado senão em fábricas (...) sob a aprovação dos governos das Principais Potências aliadas e associadas (...) Art. 171 – São igualmente proibidos o fabrico e a importação pela Alemanha de carros blindados, tanques ou outros engenhos similares (...) Art. 198 – As forças militares da Alemanha não deverão compreender nenhuma aviação militar nem naval (...) Art. 231 – Os Governos aliados e associados de- claram e a Alemanha reconhece que a Alemanha e seus aliados são responsáveis, por tê-los causado, por todas as perdas e danos, sofridos pelos Governos aliados e associados e seus naturais, em consequência da Guerra (...) Art. 233 – O montante dos ditos prejuízos (...) será fixado por (a Comissão de Repara- ções) (...) Art. 434 – A Alemanha obriga-se a reconhecer pleno valor dos Tratados de Paz e Convenções adicionais que serão concluídos (...) com as Potências que combateram ao lado da Alemanha (...) e a reconhecer os novos Estados com as fronteiras que lhes forem fixadas. 30 Volume 8 Organize as ideias A saída da Rússia do conflito, a rendição da Alemanha e a destituição do Império Austro-Húngaro foram fatores que redefiniram a organização geopolítica da Europa. Novos países surgiram, conforme é possível observar por meio do mapa a seguir. Fonte: WILLMOTT, H. P. Primeira Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. p. 299. Adaptação. Que novos países surgiram em 1921 após o término da Grande Guerra? Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Iugoslávia, Islândia e Irlanda. A Alemanha após o conflito As disputas imperialistas levaram o poderoso exército alemão à guerra, mas ele saiu perdedor. O esforço de guerra, as destruições causadas ao território alemão e as cláusulas do Tratado de Versalhes foram elementos que tornaram ainda mais sofrida a situação das massas alemãs. Durante a Grande Guerra, diferentes grupos se mostraram insatisfeitos com o governo imperial alemão centralizado na figura do kaiser. Essa insatisfação só veio a piorar com as baixas sofridas no conflito realizado em duas frentes. EUROPA: divisão política após a Grande Guerra (1921) Lu ci an o D an ie l T u lio História 31 Enquanto o exército alemão acumulava derrotas externas, em 1918, uma revolução social explodiu na Alemanha. Segmentos oriundos de diferentes categorias sociais se uniram para derrubar o kaiser e organizar uma forma mais democrática de governo. A República de Weimar constitui-se em um governo de conselhos populares, formado por socialistas, comunistas, ligas camponesas e liberais social-democratas de origem burguesa. Entre 1918 e 1919, o governo dos Conselhos perdeu o apoio dos camponeses e as suas lideranças comunistas passaram a ser perseguidas e assassinadas. Entre elas, destaca-se Rosa Luxemburgo (1871-1919), uma das mais importantes militantes do comunismo na Alemanha da época. A república burguesa que se seguiu não conseguiu reverter a grave crise econômica e social que abalou a Alemanha no pós-guerra nem o sentimento de revanche que se acentuou entre o povo alemão diante das humilhantes cláusulas do Tratado de Versalhes. Esses fatores, aliados à grande crise do capitalismo mundial iniciada nos Estados Unidos em 1929 e que atingiu todo o Ocidente nos anos 1930, de certa forma, rela- cionavam-se ao crescimento de grupos políticos de extrema direita, que defendiam e exaltavam o nacionalismo alemão e a possibilidade de uma revanche armada contra as nações que humilharam a Alemanha em 1919. A guerra contribuiu para uma série de mudanças sociais, com destaque para as que ocorreram na vida das mulheres. Durante o conflito, as mulheres assumiram os postos de trabalho deixados pelos homens que partiram para as frentes de batalha. Era necessário manter a produção do país. Mesmo após o conflito, o grande número de mortos e feridos exigiu que muitas mulheres continuassem trabalhando. O recebimento do próprio salário estimulou certa autonomia das mulheres, que, agora, podiam se sustentar sem necessariamente depender de um marido. Nesse período, o movimento feminista se fortaleceu e passou a reivindicar direitos para as mulheres. Arte e guerra Durante as primeiras décadas do século XX, movimentos artísticos e literários floresceram em vários países europeus. Apesar de suas diferentes orientações, esses movimentos tinham em comum a busca pela ruptura com os padrões estéticos estabelecidos no século XIX. O conjunto dessas movimentações foi denominado Modernismo pelos teóricos. Entre as movimentações artísticas modernistas, destacam-se a arte e a literatura expressionistas. Estas se caracteri- zaram pela tentativa de ultrapassar as percepções dos sentidos, evocando, por meio da abstração, a expressão eterna e absoluta dos objetos e dos fatos, a essência para além da aparência. Em virtude disso, as obras expressionistas são carregadas de tensão – cores vibrantes, linhas distorcidas e personagens inquietantes. M useu H istórico A lem ão /Fo tó g rafo d esco n h ecid o ROSA de Luxemburgo. 1905. 1 fotografia, p&b. 17,3 cm x 11,4 cm. A filósofa polonesa de origem judia foi uma das principais responsáveis pela disseminação do ideário socialista na Alemanha. Participou do Partido Social- -Democrata da Alemanha e ajudou a fundar o que mais tarde seria o Partido Comunista da Alemanha. Sua presença se tornou indesejável na república instalada pelo Partido Social-Democrata, que ordenou seu sequestro e sua morte em 1919. 32 Volume 8 “Confrontada com o espetáculo de uma luta científica na qual o Progresso é usado para o retorno à Barbárie, e com o espetáculo de uma civilização que se volta contra si mesma para se destruir, a razão fraqueja”, escreveu Louis Mairet. Para o artista Paul Nash, os instrumentos normais de sua arte eram insuficientes: “Nenhuma pena ou desenho pode expressar esta região”, escreveu ele à sua mulher sobre a paisagem de Flandres. A Rejeição da forma tradicional na arte parecia ser a única reação honesta. Nash e muitos dos outros artistas oficiais britânicos da guerra, que em sua maioria tinham tido uma formação tradicional e provinham de um meio convencional e de um ambiente cultural que antes da guerra era em geral hostil a inovações artísticas, voltaram-se cada vez mais para modos experimentais de compo- sição. Enfrentavam alguma oposição, mas recebiam sobretudo aplausos. Até nos círculos oficiais havia em 1917 um reconhecimento relutante de que a guerra tinha introdu- zido uma nova era, uma era que exigia uma nova sensibilidade. M u se u d e A rt e M od er n a d e N ov a Io rq u e/ Fo tó g ra fo d es co n h ec id o DIX, Otto. Ofensiva de soldados com máscaras de gás. 1924. 1 água-forte, água-tinta, ponta-seca, 19,3 cm × 28,8 cm. Museu de Arte Moderna de Nova York, Nova York. Essa obra representa o estilo expressionista do pintor alemão, que lutou na Grande Guerra Sugestão de abordagem do conteúdo.11 Sugestão de abordagem do conteúdo.12 EKSTEINS, Modris. A sagração da primavera. Rio de Janeiro: Rocco, 1992. p. 276. Alguns artistas tiveram obras censuradas por retratar uma realidade cujos temas eram considerados, pelas auto- ridades militares, humilhantes para as tropas, além de atingirem negativamente o moral dos
Compartilhar