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A trilha do círculo vicioso

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• Resumo - A trilha do círculo vicioso: 
 As impurezas são várias, além de antigas. A contribuição que imaginamos poder dar é essa: 
sangrar as várias impurezas acumuladas nessas feridas seculares com a intenção exclusiva de sanar 
as inúmeras dores com as quais muitos já se habituavam. 
- A dor: 
 A dor da cor no Brasil é de um tipo variado. Há negros e negro-mestiços que não 
aprenderam a trabalhar com a hipocrisia brasileira. Os negros e negro-mestiços não podem negar 
sua existência e muitos preferem não combatê-lo de forma consciente. 
 Muitas dessas pessoas que evitam enxergar a problemática racial, têm pouca melanina. São 
negros de "pouca tinta", como se costuma dizer. Algumas chegam a ter pele clara como a de uma 
pessoa "branca” brasileira. Entretanto, "ser negro”não se define apenas pelo tom de pele, mas por 
diversas características, como os olhos, nariz, boca, cabelo. Fugir traz incômodo. Fugir de si mesmo 
traz uma dor adicional. 
 Além das marcas fisiológicas, há ainda os aspectos culturais/étnicos que estão colados à 
alma da pessoa. Tais marcas culturais são fundamentais para a pessoa se colocar na vida de forma 
integral, sendo peças que "montam” a etnia de uma pessoa. Quem nega isso está desconectado de si 
mesmo, mesmo que esse desligamento seja ilusório, o que costuma causar melancolia profunda. 
Melancolia aqui é uma dor sentida em virtude de algo grandioso que um indivíduo poderia ser e, no 
entanto, opta por outro caminho. Para alterar esse estado, a pessoa precisa deixar de ser uma 
caricatura de algo que não é. 
 Assim, conhecer e exercer plenamente essa identidade são pré-requisitos para conquistar e 
reforçar a auto-estima. 
 Temos que não é possível ao negro se passar por branco. Os negros com mais melanina não 
tem como alegar brancura. Todavia, os mais claros, mestiços, adquirem o direito ao meio-termo. O 
fato é que os negro-mestiços estão próximos do negro. Sua posição na sociedade brasileira em 
termos econômicos e educacionais está distante da dos brancos. 
- Racismo - a legitimação da escravidão: 
 O brasil foi o país que mais importou escravos, com cerca de 4 milhões de africanos, mais 
ainda se contarmos as crianças nascidas escravas em terras brasileiras. O termo "crioulo" era dado 
aos negros nascidos nas Américas Coloniais. A travessia atlântica se inicia por volta de 1534 e vai 
até 1850, durando mais de três séculos. 
 A longa escravidão brasileira não se confunde com a escravidão colonial dos demais países. 
O combustível para legitimar a escravidão colonial foi o racismo. Ao contrário da escravidão na 
antiguidade, onde os derrotados nas guerras se tornavam escravos, na escravidão colonial temos a 
crença dos europeus de que os africanos eram inferiores, o que legitimou o rapto destes na África. 
Essa crença fez nascer um dos comércios mais sórdidos que a história já conheceu. O próprio 
nazismo se torna uma barbaridade pequena quando comparado ao tráfico negreiro, que existiu por 
cerca de 320 anos, totalizando 64% do tempo de vida do nosso país. 
 Estudos atestam que cerca de 10% da carga humana não chegava ao seu destino, ou seja, 
cerca de 400 mil africanos não chegaram no Brasil. Apesar da lei que determinava um limite de 
negros a serem transportados, a superlotação era praticada a fim de compensar as perdas durante a 
travessia. A falta absoluta de higiene, a pouca alimentação e o suicídio eram os principais 
responsáveis pelas baixas. 
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 Para os escravagistas, os negros eram desprovidos de inteligência e não possuíam alma, 
baseando-se na superioridade de um grupo racial sobre outro, e também na crença de que 
determinado grupo possui defeitos de ordem moral e intelectual próprios. Assim, o racismo é uma 
construção dos homens, ou seja, uma ideologia. 
- O cotidiano do escravo: 
 No Brasil prevaleceu a idéia de que o índio não era escravizável; o negro sim. Isso não quer 
dizer que alguns índios não tenham sido escravizados também. Porém, o português acreditava que 
os negros se adaptavam melhor ao trabalho escravo, além do fato de que escravizar negros ao invés 
de índios dava mais lucro. Financeiramente, o tráfico de negros chegava a render 4.000%. 
 Apesar da opção feita pelo colonizador em escravizar negros, não se pode esquecer da 
escravidão indígena. As grandes bandeiras eram expedições que operavam como instrumento para 
"recrutar” índios escravizados. Estes chegaram a ser chamados de "negros da terra”. Os 
bandeirantes paulistas eram grandes caçadores de índios. 
 O tráfico humano foi uma atividade fundamental para o capitalismo mercantilista, 
acumulando o capital que alavancaria o comércio e a riqueza de Portugal, Espanha, França, 
Inglaterra e Holanda. 
 Em 1872, faltando 16 anos para o final da escravidão, a expectativa de vida de um escravo 
era de 18 a 23 anos, o que gerava alta rotatividade de escravos, garantindo a existência permanente 
de uma equipe jovem e forte. 
 Como a escravidão era formada por populações encarceradas, era difícil para estes terem 
uma família estruturada. Ocorria que as mulheres eram segregadas para fins sexuais ou familiares 
dos proprietários de escravos. Para os serviços domésticos eram selecionados os considerados mais 
bonitos, as vezes estes sendo os mais claros. 
 Também é importante salientar que outra dificuldade para se construir a família do escravo 
era que os grupos negros que vieram para o Brasil vinham dos mais diferentes lugares da África, o 
que significava que falavam línguas diferentes, eram membros de diferentes grupos étnicos e até 
poderiam pertencer a facções inimigas. Esta última característica era uma tática dos senhores, para 
manter os escravos isolados ao invés de solidários entre si. O nome dessa divisão é tribalismo. 
 Também havia a dificuldade sempre presente de o escravo ser vendido para outro senhor ou 
ir para algum herdeiro em uma partilha de inventário. Assim, essa situação era uma inesgotável 
fonte de dor. 
 O que caracterizava a escravidão era o direito de posse do senhor sobre o escravo. Esse 
direito era uma violência legalizada contra os negros. Outra violência era a tortura. A tortura foi o 
recurso usado para fazer valer o direito do senhor de exigir trabalho sem trégua por parte dos 
negros. 
 Além da tortura, consta um inventário de crimes cometidos por senhores e sinhás, por 
ciúme, crueldade ou prazer, como a sodomização de crianças ao pelourinho, com muitos sendo 
chibatados até a morte. A maioria dos crimes eram cometidos por sinhás, desprezadas pelos 
senhores-maridos, que buscavam prazer com suas escravas. Era comum arrancar dentes e seios de 
escravas, assim como sacrificar bebês ilegítimos. Essas situações aconteciam com naturalidade, pois 
não eram consideradas violência. As sessões de chicotadas, por exemplo, era em frente à todos os 
escravos, a fim que todos pudessem ver o sofrimento do castigado. O objetivo era manter a ordem 
na senzala; a dor física era do escravo castigado, mas a dor moral da humilhação era para todos. 
 Há a questão do mulato, filho de negras com os senhores. Alguns eram escravos, outros 
eram senhores de escravos, que socialmente se colocavam como brancos, havendo a dúvida entre 
abraçar seus irmãos e libertá-los, vendê-los ou simplesmente explorá-los. Já nessa época o meio-
negro/meio-branco encontra dificuldades de como se comportar. 
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 A história e a vida da África foram definitivamente alteradas em virtude do tráfico de 
escravos. É importante saber que também houve escravidão na África, a escravidão patriarcal, 
originária de guerras, onde o negro escravizou outros negros. 
 É sabido também que os negros africanos auxiliaram o europeu a raptar negros que viriam a 
ser escravizados na América. Às vezes o europeu auxiliava um grupo africano a atacar adversários e 
cobrava como recompensa pela ajuda o rapto dos sobreviventes, que eram trazidos para o 
continente americano. O negro africano não tinha opção; era caçar ou ser caçado. 
 Também houveram os "negros de ganho", ondena cidade um artífice adquiria um negro e o 
ensinava o ofício. Após atuar como ajudante, este negro era explorado ou alugado para quem 
necessitasse de seus serviços. Via-se que o mito racista que considerava os negros como incapazes e 
pouco inteligentes não se sustentava, ficando evidenciado que desde que capacitado e instruído, não 
havia atividade profissional que o negro não pudesse desenvolver. 
• A forma como se deu a abolição (1º passo): 
 Para Rui Barbosa, a abolição viera do “entusiasmo nacional” em conflito com três forças: a 
riqueza territorial dos senhores de escravos, a política dos conservadores e a monarquia. A 
campanha pelo fim da escravidão, que criou diversos clubes abolicionistas, foi uma batalha 
entusiástica e popular. 
 O historiador Duque Estrada entende que a escravidão no Brasil não se caracterizou por uma 
guerra de raças, como nos Estados Unidos. 
 Durante a maior parte do tempo que durou o período escravista, a insurreição foi o que 
caracterizou as populações cativas, onde alguns negros fugidos e organizados foram o suficiente 
para formar um quilombo. O principal deles foi Palmares, tendo como líder Zumbi. 
 Apesar da revolução da campanha abolicionista, o resultado não levou os escravos a uma 
cidadania plena. O que se fez na abolição foi a simples libertação física deles. Sem ter para onde ir 
ou conhecimento do que era liberdade, muitos continuavam trabalhando para o seu senhor ou para 
novos, sem outras opções. A transição da escravidão para a liberdade ocorreu sem ter havido ações 
efetivas comprometidas com a extinção dos efeitos danosos do escravismo. 
 Joaquim Nabuco dizia que o simples fim do escravismo não era uma solução efetiva, pois 
em uma política que revertesse os danos acumulados pelos negros ao longo dos séculos, não 
ocorreria uma mudança na sociedade brasileira, àquela altura enraizada no escravismo. Estes e seus 
descendentes nunca mais teriam condições de competir com os imigrantes europeus, sem 
perspectivas de oportunidades de trabalho e capacitação, moradia, assistência à saude e respeito. 
- De escravo-trabalhador a trabalhador-escravo: 
 A Lei 3.353 de 13 de maio de 1888 não aboliu a escravidão, apenas declarou a escravidão 
extinta. O que ocorreu foi o reconhecimento de uma situação já insustentável. A escravidão colonial 
já acabara em todos os países e a sociedade civil repudiava o escravismo brasileiro. Enquanto nos 
Estados Unidos o fim da escravidão se dera em 1863, no Brasil só veio a ocorrer 25 anos depois. Os 
primeiros escravos desembarcaram na Virgínia em 1619, enquanto que no Brasil desembarcaram 85 
anos antes, tendo ao todo 110 anos de diferença na escravidão. 
 Após a abolição, a população negra partiu da senzala para as margens, para as periferias da 
cidade e com uma posição de subalternidade. Mais de 700 mil pessoas foram colocadas no mercado 
de trabalho e o ex-escravo tinha três opções: optar por permanecer junto àqueles negros que já 
estavam libertos e trabalhar em situações análogas às anteriores, com produtividade baixa e muito 
mal remunerada; tentar atuar onde havia produtividade, criando condições para a sua efetivação em 
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um verdadeiro mercado de trabalho, concorrendo com os "trabalhadores nacionais"; ou concorrer 
com a mão-de-obra européia. 
 É também a partir da liberação de escravos que as unidades da federação passam a 
desenvolver seu aparato policial-militar. A polícia passa a reprimir aqueles que de escravos-
trabalhadores adquirem o status de trabalhadores-escravos. A primeira categoria era obrigada a 
trabalhar, a segunda passa a trabalhar em situações desfavoráveis. Também, os 350 anos de 
escravidão acabaram por estigmar o negro como escravo. 
- O estigma do negro: 
 Estigma é uma marca que assinala algo prejudicial ou infamante. A presença do negro é 
denunciada pela cor. De bom escravo, o negro salta para a posição de mau cidadão, agora não mais 
apto para bem cumprir suas obrigações. Assim, a vadiagem era o destino de muitos negros. Para a 
mulher negra haveria maior flexibilidade em virtude dos trabalhos domésticos. 
 É compreensível então, que em diversas situações, a população negra tenha encontrado na 
prostituição e na criminalidade uma saída. Daí a figura do meliante e da mulata gostosa. A 
estigmatização do negro o conecta diretamente com aquilo que não é bom. 
 O Brasil, nas primeiras décadas do século XX, para Miguel Pereira, era um “imenso 
hospital”, tendo diversas doenças, como a sífilis, a lepra, as endemias regionais e a tuberculose. 
Assim, o fim da escravidão agigantou o caos na cidade. 
- Rio de Janeiro, a ecologia da barbárie: 
 O Rio de Janeiro era a maior cidade escravagista do mundo, tendo aproximadamente 170 
mil pessoas escravizadas, agigantando o processo de enfavelamento urbano. O clima de guerra civil 
que temos nos dias atuais em muitas metrópoles se deve muito à urbanização predatória que se 
consumou. Essa irresponsabilidade se deu após uma abolição que não pensou em uma política 
habitacional, educacional, de saúde ou trabalho que tivesse como meta a transformação do antigo 
escravo em cidadão completo. 
- As dificuldades de todo o dia: 
 A deterioração dos negros se acelera desde sua liberdade. A marca de escravo colada ao 
negro não o habilitava para as melhores funções. Havia dificuldades para encontrar emprego, 
baixíssimo salário e condições de trabalho parecidas com a escravidão. 
 A imobilização social do negro foi o resultado obtido pelo tipo de abolição que o país 
proporcionou. Enfrentando dificuldades para obter renda com o seu trabalho, o negro não tem como 
investir em sua capacitação para conquistar melhores ocupações. Temos então as dificuldades 
educacionais trazendo as dificuldades econômicas, uma impedindo a outra: baixa renda/
escolaridade inferior. 
• O dilema - baixa renda x escolaridade inferior (2º passo): 
 A forma como que se deu a abolição condenou os negros à imobilidade social; essa 
imobilização trava as possibilidades econômicas e educacionais do negro. É um beco sem saída do 
que os economistas costumam chamar de “problemas estruturais”. Essas dificuldades estão com os 
negros desde sempre e são devido à sua história de prejuízos acumulados. 
�4
- Baixa renda, desemprego e subemprego: 
 Nós observamos três tipos básicos de discriminação que os negros sofrem no mercado de 
trabalho, com algumas variações. A primeira se diz sobre a discriminação ocupacional, que diz 
respeito às dificuldades de obter vaga para aquelas funções mais bem remuneradas e valorizadas, 
parecendo questionar a capacidade do negro para executar tarefas mais complexas. O segundo diz 
sobre a discriminação salarial, que diz respeito às diferenças salariais, quando exercidas as mesmas 
funções, utilizando a ideia de que o trabalho do negro não vale tanto quanto os demais. O terceiro 
diz sobre a discriminação pela imagem, que diz respeito à fobia da presença do negro, pois o 
empregador busca manter aquilo que ele considera a imagem ideal de sua empresa. 
 Se observarmos os três tipos de discriminação, perceberemos que todos têm só uma 
justificativa: o racismo brasileiro. 
- Discriminação racial no trabalho: 
 De acordo com uma pesquisa, no setor da economia, os brancos, além de serem a grande 
maioria, absorvem uma participação da renda acima de sua força de trabalho. Já em trabalhos 
braçais (operários), os negros possuem uma participação na força de trabalho um pouco maior, 
embora ainda percam para os brancos. No entanto, o trabalhador braçal branco ganha bem mais que 
o negro. Até no trabalho rural o negro tem menor participação e ganha menos. 
 Em pesquisa sob a inspiração do Conselho Negro de São Paulo, foi possível ver: a 
discriminação ocupacional, que indica que as piores vagas pertencem aos negros; a discriminação 
salarial, que paga menos a esses trabalhadores; e a taxa maior de desemprego, que impera entre os 
negros. 
 Em seis regiões metropolitanas foi possível ver que o homem branco ganha mais que amulher branca, que por sua vez ganha mais que o homem negro, consequentemente ganhando mais 
que a mulher negra. 
 Confirmou-se em outra pesquisa que os chefes de família negros estão em maior taxa de 
desemprego. Confirmou-se também que os negros ingressam mais cedo no mercado de trabalho, o 
que acarreta em prejuízos na formação escolar dos jovens. 
- Baixa escolaridade e baixa capacitação: 
 Há um nexo entre escolaridade e capacitação, onde até para as funções mais modestas e 
rotineiras se exige algum tipo de conhecimento. 
 Além de se sentir desmotivado para investir na própria capacitação, dois outros aspectos 
prejudicavam o ex-escravo para a obtenção de trabalho mais qualificado. Primeiro, faltava a ele 
recursos para investir e depois, faltava também o capital social que lhe franquiaria as portas em 
ambientes mais valorizados; o chamado “pedigree”. Com o fim da escravidão, o capital social do 
negro era negativo. Hoje os efeitos ainda se fazem sentir. Não deu para a população negra acumular 
capital social, salvo raras exceções. 
 Em relação ao despreparo do negro, há muito preconceito racial, pois o longo período da 
escravidão acabou por associar o negro como apto apenas para as funções físicas. 
 A verdade é que desde a primeira infância, os negros já acumulam uma desvantagem no que 
diz respeito às oportunidades no campo de ensino. As crianças de descendência negra enfrentam 
dificuldades superiores às dos demais grupos étnicos. As causas são variadas, mas um dos motivos é 
que os currículos e livros didáticos ainda possuíam um conteúdo discriminatório e equivocado, fato 
que vem sido mudado atualmente. A incapacidade dos professores do ensino fundamental em lidar 
com questões raciais em sala de aula é também uma das causas do baixo desempenho escolar. 
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 A escola, pública ou privada, ainda hoje não inclui adequadamente em seus currículos a luta 
e a história do povo negro no Brasil. Essa escola, por não saber particularizar os aspectos que 
envolvem a identidade das crianças negras, acaba por colaborar na construção de um ideal de ego 
branco por parte destas. Na medida em que a criança assume uma identidade dissociada da sua, o 
cidadão fica fora de sintonia com a sua realidade, resultando baixa autoestima e um pesado ônus de 
ordem psicológica. 
 Além disso, a escola pública, aquela para qual a maioria dos negros e pardos podem ir, está 
em ruínas. A desqualificação do magistério acompanhou a degradação do ensino secundário 
público. Isso explica, em grande parte, a incapacitação da população mais pobre do Brasil. 
 A pobreza também conta para o fracasso educacional. A necessidade de começar a trabalhar 
mais cedo contribui para a evasão escolar. 
 Esse imenso caldeirão étnico, chamado sociedade brasileira, projetou sobre os negros e 
pardos uma visão que os impede de exercer a cidadania por inteiro. A soma das dificuldades 
econômicas e educacionais herdadas por eles, em virtude de uma abolição que não cuidou de incluí-
los como cidadãos, acabou por fazer crer que os negros são realmente incapazes de trabalhar, 
vencer, estudar e aprender. Essa visão preconceituosa é generalizada, onde os próprios 
discriminados, muitas vezes, crêem nela também. O imaginário é coletivo, compartilhado por todos. 
• A visão da sociedade (3º passo): 
 A sociedade, com sua miopia, propicia todas as dificuldades ao negro. A visão 
preconceituosa que identifica os negros como capazes é uma opinião desfavorável sem nenhuma 
justificativa. O racismo e preconceito racial são ideias produzidas pela sociedade e são sua visão. 
- Preconceito racial, racismo e discriminação racial: 
 O preconceito é sempre uma atitude negativa em relação a alguém. É uma atitude antecipada 
e desfavorável contra algo. Essa atitude pode ser tomada em relação a um indivíduo, um grupo ou 
uma idéia. 
 O preconceito social se dá quando uma pessoa tem uma atitude preconceituosa em relação a 
outra, sendo que na realidade, está fazendo uma comparação a partir de um padrão de referência que 
lhe é próprio. Ex: uma pessoa tem preconceito em relação aos favelados, sentindo desconfiança por 
eles, pois para ele as boas pessoas são aquelas de sua classe social, que são seu padrão de 
referencia. Também há o preconceito contra o próprio grupo. Não é muito comum, mas se dá 
quando a pessoa toma como padrão de referência o de outras classes sociais. 
 O preconceito racial ocorre quando uma pessoa, ou mesmo um grupo, sofre uma atitude 
negativa por parte de alguém que tem como padrão de referência o próprio grupo racial. 
 É comum a idéia de racismo e preconceito racial serem usados sem que as pessoas separem 
um do outro; entretanto, racismo e preconceito racial não são equivalentes. O racismo é mais amplo 
que o preconceito racial, pois ocorre quando se atribui a um grupo determinados aspectos negativos 
em razão de suas características físicas ou culturais. O racismo enaltece as características do grupo 
racial considerado superior e rebaixa ou reduz a importância do outro a fim de se "justificar". 
 Temos três tipos básicos de racismo: o racismo individual/pessoal, onde uma pessoa se crê 
superior a outra em função de sua raça; o racismo institucional, onde instituições, Estados/governos 
entendem que um determinado grupo racial deve ter primazia em relação a outros grupos; e o 
racismo cultural, que ocorre quando um determinado grupo racial entende que a sua herança 
cultural se sobrepõe em importância à de outros grupos. 
 Tanto o preconceito racial como o racismo não se confundem com a discriminação, pois esta 
só acontece na medida em que um ou outro se manifeste. O preconceito e o racismo são atitudes, 
�6
sendo modos de ver certas pessoas ou grupos raciais. Quando ocorre uma externalidades da ação, 
ocorre a discriminação. 
 O conceito de etnocentrismo é uma idéia que coloca determinado grupo étnico como 
parâmetro para os demais. Os outros, por serem diferentes, não têm relevância. Há, nesse caso, um 
confronto com a idéia da diversidade racial. 
 O conceito de raça perde cada vez mais força no campo das ciências, visto que quando 
temos um conjunto humano que possui as mesmas características físicas, originárias de 
antepassados comuns, dizemos grupo racial. Do ponto de vista biológico, não há outra raça além da 
humana. 
 Quando se fala em grupo étnico, se pensa em um conjunto humano com sólido sentido de 
união, tendo-se a mesma cultura, história, idioma, tradição. 
- Racismo às avessas no Brasil: 
 A realidade é que o negro brasileiro é francamente aberto ao branco no que diz respeito aos 
seus espaços. Nos ambientes negros, os brancos não são bem-vindos. Entretanto, sabemos que os 
“ambientes brancos” permanecem, explícita ou veladamente, vetados ao negro. Não vemos um 
branco barrado em um lugar de negros, mas se vê negros sendo vetados pela sociedade dominante. 
 No Brasil, os negros acabaram acreditando no mito da democracia racial e a praticam 
largamente com os brancos e amarelos, estes sendo bem-vindos em locais onde o negro é maioria 
ou detém o controle da situação. O que acontece é que ao ser exposto como racista, o branco 
entende a colocação do negro como sendo racista; assim, lutar contra o racismo é uma coisa, se 
racista é outra. Desta forma, os negros que reagirem ao racismo branco, mediante a utilização do 
racismo negro, não estariam praticando “racismo às avessas”, estariam apenas se defendendo. O que 
vem ocorrendo é uma confusão a respeito da auto-afirmação do negro. 
- Os meios de comunicação: 
 É importante compreender que os meios de comunicação social têm a visão da sociedade 
dominante e está a seu serviço. Durante décadas, negras e negros tiveram que se contentar com 
modelos europeus. 
 O presidente do Conselho Negro de São Paulo tratou de sensibilizar e influenciar as 
agências de propaganda para estas deixarem de veicular imagens de negros de forma negativa e 
estereotipada, além de sugerir que a família negra pudesse ser retratada também como consumidora,mas com dignidade. 
 Além da mudança dessa visão preconceituosa e racista da sociedade, temos que tornar a 
população negro-descendente mais atenta aos seus direitos. Estivesse a população negra apta a lutar 
pela sua imagem, esse quadro desfavorável poderia mudar. 
- Violência policial e racial: 
 A sociedade vê os negros e pardos como pessoas inclinadas para o mal, fazendo com que a 
polícia reserve para eles uma maior atenção. 
 Com o fim do escravismo, se ampliam as delegacias de vadiagem que eram criadas para 
inibir os que não trabalhavam. Assim, a própria organização já foi feita tendo como direcionamento 
reprimir os negros, tendo uma história de violência contra estes. 
�7
- Segurança ou insegurança pública? 
 A polícia se tornou uma força tão grave para a população brasileira que só uma atitude mais 
drástica da sociedade civil permitirá uma mudança no tamanho que se faz necessário. Os 
assassinatos cometidos por policiais tem em sua maioria negros e pardos, grande parte inocente. 
 A forma de atuação das polícias só se mantém devido ao apoio surdo e eficaz da sociedade, 
esta sendo um conjunto dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além da população. 
- Quem confia na polícia? 
 O que as polícias não tem efetivamente feito é enfrentar o crime organizado, que muitas 
vezes operam com o auxílio da polícia. Por outro lado, estas demonstram extrema "eficácia" contra 
meninos de rua, favelados, prostitutas, desempregados pobres, adolescentes e negros em geral. A 
violência contra negros é fenômeno mundial, entretanto, no Brasil, o que escandaliza é a 
impunidade. 
- Quem nos defende da violência racial/policial? 
 O povo humilde e pobre, na maioria constituída de negros e pardos, vive espremido entre os 
marginais nos bairros pobres da periferia. Todavia, não são só os negros pobres que sofrem com a 
violência policial, mas também o negro de classe média e alguns de classe alta. Negros jovens e 
bem sucedidos costumam ser alvo da polícia, pois para eles, sempre serão suspeitos pelo fato de 
serem negros. 
 Embora se tenha a idéia de que policiais negros atuariam de maneira mais correta do que os 
brancos quando abordam negros, algumas vezes pode ocorrer o oposto. Isso se dá em virtude da 
baixa auto-estima do negro, que também acarreta o policial. 
 A ouvidoria de Polícia do Estado de São Paulo entende que esse estado é um problema 
estrutural da instituição policial, valendo dizer que faz parte da cultura daquela instituição, esta 
vinda da cultura escravista e racial o qual “orientou” o tipo de polícia que o país tem, pois a polícia 
reflete os valores da sociedade. Quando temos essa situação, apenas uma radical mudança 
estratégica e pedagógica traz a mudança. 
 Estudos mostraram que os negros-descendentes são os que menos confiam na polícia. De 
cada 100 negros, 61 temem mais do que confiam na polícia militar. Para a grande maioria, a polícia 
está ligada ao crime organizado. Os mais pobres, negros e brancos, não confiam na polícia, mas não 
tem como não fazer uso dela quando necessitam. 
- Segurança privada, uma bomba de efeito retardado: 
 O temor pela polícia levou muitos a cuidarem de sua segurança sem depender da polícia, 
como vemos em restaurantes, shoppings, mercados. Têm-se agora inúmeras empresas de segurança 
que uniformizam pessoas despreparadas para uma atividade que exige mais do que coragem. 
 Aos militantes do Movimento Social Negro, custou mais de duas décadas levar para dentro 
da polícia a sua preocupação com a violência policial e racial. Em uma sociedade racista, 
autoritária, em que uma pessoa em posição de autoridade exagera nas suas funções, é possível 
imaginar que para negros este tipo de segurança constitui mais um forte fator de insegurança. 
Vemos com frequência negros sendo perseguidos, abordados e presos em ambientes públicos por 
simples e enganosas suspeitas. O despreparo é imenso. 
 Estamos diante de um grande perigo para a população negra, que vem sofrendo violências e 
baixas em todo o país, sobretudo para a população masculina mais jovem. 
�8
• A introjeção do racismo e do preconceito (4º passo): 
 Usamos a alegoria da centopéia para poder explicar o que se dá no campo racial em nosso 
país. Nessa teoria, colocamos outra cabeça onde deveria estar seu rabo. Em um sentido, a sociedade 
destila seu racismo e constrói preconceitos contra os negros e seus valores; os valores do negro são 
a sua cultura. Em um sentido contrário, temos o negro-descendente assumindo em sua cabeça 
aquelas idéias contra si como se fosse verdade, também colaborando na construção da visão da 
sociedade ao introjetar contra si aspectos desfavoráveis. Assim, essa sociedade discriminadora é 
marcadamente negra em termos culturais, tendo internalizado valores negros. Ao mesmo tempo que 
discrimina, internaliza a cultura. Temos uma via de duas mãos se transformando em uma centopéia 
de duas cabeças, que vai contra o negro e volta contra ele mesmo. 
 A questão passa a ser: com essa representação introjetada em sua cabeça, como uma pessoa 
com ascendência negra poderá assumir sua verdadeira identidade? 
• A não-identidade étnica e racial do negro brasileiro (5º passo): 
 A não-identidade racial é o resultado da “visão da sociedade” que não tem o negro, com os 
seus valores, em boa conta e o discrimina. O instrumento usado para consolidar essa visão são os 
meios de comunicação. 
 Ao desvalorizar a si mesmo, o negro possibilita um vazio que é preenchido pela 
internalização daqueles falsos conceitos armados pelo “racismo cordial” expresso pela sociedade. A 
partir de então, passa a ter uma auto-estima rebaixada. 
 Numa situação de inferiorização voluntária deixam de existir as condições para se assumir 
uma identidade autêntica. 
- A identidade de um negro brasileiro: 
 A identidade de uma pessoa é algo que se constrói ao longo do tempo e que se transforma 
continuamente pela vida. É na minha relação com o mundo que eu vou tecendo minhas referências, 
as quais vão permitir que eu me reconheça enquanto pessoa. A identidade é ainda algo que nos 
permite diferenciarmos-nos dos demais. 
 Portanto, mediante a auto-imagem, incluídos os aspectos da identidade, os brasileiros com 
ascendência negra reconhecem a si próprios como tais. Esse reconhecimento, além de diferenciá-
los, vai possibilitar uma identificação com a comunidade negra como um todo. Sem esse 
componente, a pessoa encontra dificuldades para desenvolver auto-confiança, orgulho de si mesmo, 
segurança quanto à imagem, facilidade de expressão, entre outros. 
• A impossibilidade de alterar a situação mediante um discurso militante (6º passo): 
 A não-identidade racial leva o negro e o negro-mestiço a não se identificarem com a questão 
étnico-racial. Isso faz com que o discurso racial não seja um instrumento adequado para alterar as 
coisas. Se ele próprio não se identifica como negro, como irá debater? 
 Os negros-descendentes sem identidade racial não irão a lugar nenhum no campo político. 
Avançar no sentido político significa fazer com que o tema “cor” seja relevante para a sociedade 
brasileira. Dar relevância a essa questão significa criar oportunidades iguais no mercado de trabalho 
e educação para todas as pessoas, de qualquer etnia. Com oportunidades iguais, a prosperidade será 
coletiva. 
 Visibilidade qualificada nos meios de comunicação, efetiva mobilidade social, melhoria em 
todos os campos da vida, inclusive no que se refere ao campo psicológico. É no campo da 
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identidade nacional, e não no setor político tradicional, que estão as possibilidades de grandes 
mudanças. 
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