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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Gabriel Godoi Principais abordagens sobre a aprendizagem Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir o conceito de aprendizagem e descrever cinco tipos de abor- dagens para estudá-lo. � Comparar diferentes abordagens comportamentais de aprendizagem. � Aplicar análises de comportamento no processo educacional. Introdução Neste capítulo, você estudará sobre o conceito de aprendizagem, suas principais teorias e abordagens, e entender como esse, embora pareça simples e cotidiano, se torna um extremamente amplo e difícil de ser entendido quando tentamos analisá-lo por meio de análises científicas. Você descobrirá que as abordagens comportamentais e cognitivas são as mais amplamente difundidas na área da educação para que se propunha um ensino adequado e promova um ótimo desenvolvimento de todos os estudantes. Para isso, você entenderá o que cada uma das linhas teóricas que abordam a questão da aprendizagem pensa, a his- tória da criação dessas escolas de pensamento e por meio de que meio entendem a aquisição de novas informações. Ao entender como esses âmbitos funcionam, você será desafiado a usá-los em seu cotidiano acadêmico — saberá como aplicar as aborda- gens de aprendizagem no seu dia a dia, identificar questões importantes a serem corrigidas e propiciar o aumento de um comportamento específico em seus alunos (SANTROCK, 2009). Essas ferramentas são essenciais para que você consiga ter o domínio sobre as turmas com as quais você está trabalhando e, também, detectar os possíveis desvios e problemas no percurso acadêmico, a serem corrigidos da forma mais breve possível. Aprendizagem e suas abordagens Entender os processos pelos quais as pessoas aprendem é essencial para se montar um conteúdo pedagógico que leve em conta os seres humanos em sua completude. Podemos entender que diversas contingências ambientais — que englobam fatores como a cultura, a classe social, a etnia e o gênero das crian- ças — podem afetar a forma como as crianças desenvolverão suas habilidades cognitivas (LOURO, 2000). Existem diversas contingências internas que também podem influenciar a forma como os alunos se desenvolvem (LIPPA, 2005), que podem ser deficiências físicas ou mentais, dificuldades compor- tamentais despertadas por ansiedade ou depressão e problemas emocionais derivados de traumas obtidos em casa ou na família. Apesar de conhecermos diversas situações que podem influenciar positiva ou negativamente o desenvolvimento das habilidades cognitivas e do potencial para a aprendizagem dos estudantes, ainda existe muita discussão acerca da forma pela qual os seres humanos adquirem o conhecimento (LUÍS; ROLDÃO, 2016). Atualmente, entendemos que a aprendizagem pode ser definida como uma influência relativamente permanente no comportamento, conhecimento e raciocínio, adquirida por meio da experiência (SANTROCK, 2009). Ou seja, aprender é o processo pelo qual os humanos mudam de comportamento ao serem expostos a determinadas formas mais adaptadas de se comportar. Essa definição é bem ampla e está atrelada a diversas habilidades que ultra- passam as fronteiras das instituições de ensino comum, envolvendo compor- tamentos acadêmicos e não acadêmicos e ocorrendo nas escolas e em todos os lugares onde as crianças vivenciam seu mundo (CHANCE, 2006). Quase tudo que fazemos na vida é aprendido de alguma forma e adaptado à nossa cultura e ao momento sócio-histórico (LUGONES, 2008). A forma como falamos, se somos mais gentis ou agressivos, ou o jeito como nos comportamos socialmente sofrem grande influência da aprendizagem (SANTROCK, 2009). Porém, nem tudo o que sabemos é aprendido. Herdamos algumas capacidades geneticamente — por exemplo, não precisamos aprender a engolir, a gritar, ou a piscar quando um objeto chega muito perto de nossos olhos. Até mesmo comportamentos mais complexos, como a forma como reagiremos a um problema, se agrediremos ou choraremos numa situação de crise, ou se seremos mais propensos à extroversão ou à introspecção são comportamentos, em grande parte, inatos (LIPPA, 2005). No entanto, a maioria dos comportamentos humanos não evolve apenas a he- reditariedade. Quando as crianças utilizam um computador de uma nova maneira, esforçam-se para resolver problemas, fazem perguntas mais bem elaboradas, explicam uma resposta de forma mais lógica ou ouvem com mais atenção — a Principais abordagens sobre a aprendizagem2 experiência de aprendizagem está em ação. Assim, o consentimento acadêmico atual é de que tanto a aprendizagem quanto a carga genética se compõem e se influenciam para moldar a personalidade e os comportamentos de cada indivíduo, e é essa mistura de ambiente e genética que torna cada pessoa completamente única. Santrock (2009) nos esclarece qual o conceito comum de aprendizagem, o qual entendemos ser muito amplo e que pode ser visto em vários escopos das nossas vidas. Mas como esse processo se dá, afinal? Como enxergamos um comportamento ou uma situação ocorrida no ambiente, processamos essa informação e depois passamos a utilizar essa nova informação ou com- portamento como ferramenta para nos ajudar na adaptação em sociedade? Todas essas mudanças são apenas situações acidentais que ocorrem quando o comportamento gera uma recompensa ou existe algum nível de processamento pelo qual escolhemos ativamente os comportamentos que utilizaremos? Existem cinco abordagens que apresentam um largo aporte teórico, expli- cando as formas pelas quais os humanos aprendem (Figura 1). Nesta seção, dissertaremos sobre todas elas, sendo as seguintes: comportamental, socio- cognitiva, processamento cognitivo da informação, cognitiva construtivista e socioconstrutivista (SANTROCK, 2009). Essas abordagens não são neces- sariamente excludentes, sendo que podemos pegar algumas delas e utilizar para situações específicas. Portanto, procure entendê-las tanto como formas globais de entendimento do ser humano como formas específicas de entender algumas situações na escola e fora dela. Figura 1. Aprendizagem. Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock.com. 3Principais abordagens sobre a aprendizagem Principais abordagens sobre aprendizagem Abordagem comportamental O comportamentalismo em si tem diversas linhas teóricas, sendo que, aqui, nos focaremos no behaviorismo radical criado por John Watson (1913), que cresceu de forma exponencial por meio dos trabalhos de Skinner (1938) e Pavlov (1927). O behaviorismo radical é uma linha teórica que entende o comportamento como passível de análise por variáveis externas, e não por processos mentais dos indivíduos. Para os behavioristas, comportamento é tudo o que fazemos, tanto de maneira verbal como não verbal, que pode ou não ser diretamente observável — uma criança fazendo um desenho, um professor explicando as matérias, um aluno provocando outro, etc. Processos mentais são tratados por psicólogos behavioristas radicais como eventos não observáveis (privados), que não são eliciados por outras situações, mas que devem ser estudados mediante comportamentos observáveis. Esses compor- tamentos privados podem ser: pensamentos, sentimentos e motivos que cada um de nós experiencia (SANTROCK, 2009). Embora não possamos ver diretamente pensamentos, sentimentos e motivos, eles não são menos reais. Os eventos privados incluem o pensar das crianças sobre a maneira de fazer o melhor desenho, a melhor forma de explicar de- terminados conteúdos para os alunos e a motivação interior das crianças para controlar seus comportamentos. Santrock (2009) diz que, para os behavioristas radicais, esses pensamentos, sentimentos e motivos não são causas apropria- das para a ciência do comportamento porque não podem ser manipulados (TERRY, 2006). Em outra seção, discutiremos outras linhas teóricas dentro da escola comportamental de pensamento, o condicionamento clássico e o condicionamento operante. Essas duas abordagenssão amplamente adotadas por educadores quando se discute os processos de aprendizagem, pois ambas descrevem o pareamento de estímulos, que consiste em tornar dois eventos conectados ou associados. Abordagem cognitiva A Teoria Cognitiva foi criada pelo psicanalista Beck (1997), em uma tenta- tiva de compreender pacientes que sofrem de depressão maior e ansiedade. Cognição significa “pensamento”. A psicologia foi amplamente influenciada pelo cognitivismo e pelo comportamentalismo no final do século XX e começou Principais abordagens sobre a aprendizagem4 a focar mais nos processos do pensamento humano. A ênfase cognitiva per- manece atualmente e é a base para numerosas abordagens da aprendizagem (STEINBERG, 2006). A escola cognitiva também é composta por diversas linhas teóricas que focam nos diferentes escopos do pensamento. Discutiremos quatro abordagens cognitivas amplamente difundidas na aprendizagem: sociocognitiva, processa- mento cognitivo da informação, cognitiva construtivista e socioconstrutivista. As abordagens sociocognitivas, que enfatizam como os fatores comportamen- tais, ambientais e pessoais (cognitivos) interagem para influenciar a aprendi- zagem, serão apresentadas mais adiante neste capítulo (BANDURA, 2005). O segundo conjunto de abordagens, processamento cognitivo da informação, foca em como as crianças processam as informações por meio de atenção, memória, pensamento e outros processos cognitivos (SIEGLER, 2006). O terceiro conjunto de abordagens, cognitivo construtivista, enfatiza a construção cognitiva do conhecimento e o entendimento da criança. O quarto conjunto de abordagens, socioconstrutivista, foca na colaboração com outros para produzir conhecimento e entendimento. Modelos de aprendizagem comportamentais Como vimos na seção anterior, a escola comportamental suporta duas linhas teóricas que são amplamente utilizadas por educadores dentro das instituições de ensino: o condicionamento clássico de Pavlov (1927) e Watson (1913) e o condicionamento operante de Skinner (1938). Nesta seção, esclareceremos um pouco melhor quais são as implicações de cada uma dessas linhas teóricas, como foram criadas e quais os preceitos que seguem. Condicionamento clássico No início do século XX, o fisiologista russo Ivan Pavlov estava interessado em encontrar uma maneira para diminuir os impactos da diabetes nos seres huma- nos. Para isso, ele rotineiramente colocava carne em pó na boca dos cachorros que utilizava como cobaias. O cheiro da carne fazia o cão salivar toda vez que via Pavlov chegando. O fisiologista começou a perceber que o cão também salivava em resposta a um número de estímulos associados ao alimento, como visualizar o prato de comida, o indivíduo que trazia a comida para a sala e ouvir o som da porta se fechando quando a comida chegava. Pavlov reconheceu que 5Principais abordagens sobre a aprendizagem a associação entre os estímulos visuais e auditivos com o alimento na boca era um tipo de aprendizagem importante, que foi denominada “condicionamento” e, posteriormente, “condicionamento clássico”, que seria a associação que um ser faz entre determinado estímulo e outro (PAVLOV, 1927). Por exemplo, se um cachorro corre para a cozinha quando escuta o som de um abridor de latas, isso é um condicionamento clássico. Explicando de maneira mais detalhada, condicionamento clássico é um tipo de aprendizagem na qual os estímulos se tornam associados ou conectados (SANTROCK, 2009). No condicionamento clássico, um estímulo neutro (como a visão de uma pessoa), ao ser pareado sistematicamente a um estímulo incondicional (como comida na boca), adquire a capacidade de propiciar uma resposta nova (para esse estímulo neutro, no caso, visão da pessoa produz salivação). Para entender plenamente a teoria de Pavlov (1927) do condicionamento clássico, precisamos compreender dois tipos de estímulo e dois tipos de resposta: estímulo incondicional, resposta-reflexo, estímulo condicionado e resposta condicionada. Estímulo incondicional É um estímulo que produz uma resposta sem nenhum aprendizado prévio, ou seja, que produz uma resposta-reflexo. Resposta-reflexo É uma resposta não aprendida, reflexa, que é eliciada automaticamente pelo estímulo incondicional. Ou seja, uma resposta que é um reflexo do corpo, como salivar quando apresentado à comida, ou fechar os olhos caso algo se aproxime muito rápido de seu rosto. Estímulo condicional É um estímulo que não produz nenhuma resposta-reflexo. Você saliva quando vê comida, mas não salivaria ao ouvir um sino. Assim, ouvir um sino é um estímulo neutro à salivar. No entanto, se a comida sempre chegar acompanhada do som de um sino, após várias vezes em que os dois estímulos ocorrerem simultaneamente, finalmente eliciará uma resposta nova condicional. Ou seja, agora, ao ouvir o sino, você salivará como se visse comida. Entre os estímulos Principais abordagens sobre a aprendizagem6 incondicionais nos experimentos de Pavlov, ocorreram várias vezes a visão e os sons antes que o cão, de fato, comesse o alimento. Resposta condicional É uma resposta aprendida eliciada pelo estímulo condicional que ocorrerá após o pareamento. Salivar ao ver comida é uma resposta-reflexo inata a todos os animais, mas salivar ao ouvir um sino não é um reflexo, mas uma resposta condicionada. Pavlov (1927) também determinou algumas leis gerais acerca do compor- tamento de mamíferos: a generalização, a discriminação e a extinção. Generalização Envolve a possibilidade de um novo estímulo semelhante produzir uma resposta condicional semelhante. Pavlov constatou que o cachorro também respondia a outros sons, como um apito. Quanto mais parecido fosse o estímulo (som) com o de uma campainha, mais intensa era a resposta do cachorro. Santrock (2009) cita um exemplo de sala de aula. Uma aluna é criticada pelo desempenho fraco na prova de biologia. Quando essa aluna começa a se preparar para a prova de química, também fica muito nervosa porque essas duas matérias têm relação direta com ciência. Discriminação Ocorre quando o organismo responde a determinados estímulos, mas não a outros (MURPHY; BAKER; FOUGUET, 2001). Para produzir a discriminação, Pavlov deu comida ao cachorro somente após tocar a campainha, mas não depois de nenhum outro som. Logo, o cachorro respondeu apenas à campainha. Análise do comportamento aplicada ao contexto educacional A análise do comportamento aplicada ao contexto educacional envolve aplicar os conceitos operantes ou clássicos para trabalhar as mudanças no comporta- 7Principais abordagens sobre a aprendizagem mento dos estudantes ou dos educadores. Ao aplicar as formas de condicio- namento, o aplicador também deverá manter diários e avaliações constantes para poder acompanhar a evolução dos alunos por meio da análise aplicada do comportamento. Para isso, o educador deverá ser capaz de avaliar não apenas as notas que os estudantes conseguem nas avaliações, mas, também, se a frequência do comportamento e de ler e estudar aumentou e se os compor- tamentos desviantes, como conversar durante a aula, se distrair, procrastinar, entre outros, estão diminuindo. A frequência do comportamento é o objetivo final da análise aplicada do comportamento. Alberto e Troutman (2006) nos informam que existem três usos da análise do comportamento aplicada, que são especialmente importantes na educação: 1. aumentar o comportamento desejável; 2. utilizar dicas; 3. usar modelagem para aprender um comportamento novo e reduzir comportamentos inapropriados. Embora a análise do comportamento aplicada seja extremamente efetiva na obtenção e manutenção de comportamentos que facilitem os estudos (SAN- TROCK, 2009), Hazel e Gedler (2005) pedem para que se tome cuidado, pois as aplicações da análise do comportamento envolvem uma série de passos que deve ser seguida à risca. 1. Normalmente, inicia-se com observações gerais. 2. Identificar o comportamento-alvoespecífico que precisa ser mudado (ou adquirido), assim como se observam as condições antecedentes e consequentes necessárias à sua emissão. 3. Definir objetivos de comportamento, selecionar reforçadores ou puni- dores em particular. 4. Implementar e conduzir um programa de controle do comportamento. 5. Avaliar o sucesso ou o fracasso do programa (KERR; NELSON, 2006). Santrock (2009) nos diz que existem seis estratégias de condicionamento operante que podem aumentar os comportamentos apropriados em uma criança: escolher reforços efetivos, tornar os reforços contingentes e imediatos, sele- cionar o melhor esquema de reforçamento, considerar o uso de um contrato, utilizar o reforço negativo efetivamente e usar dicas e modelagem. Vamos dissecar essas estratégias para que você possa utilizá-las no seu cotidiano. Principais abordagens sobre a aprendizagem8 Escolha estímulos reforçadores efetivos Como vimos anteriormente, todas as consequências são reforçadoras. Santrock (2009) e outros analistas do comportamento recomendam que os educadores identifiquem quais reforços funcionam melhor com cada criança, individu- alizem o uso de cada reforço em particular. Para um estudante, pode ser um elogio, para outro pode ser passar mais tempo participando de uma atividade favorita. Para identificar as consequências reforçadoras para uma criança, você pode examinar o que a motivou no passado (história de reforçamento), o que o estudante deseja, mas não consegue obter com facilidade ou frequência e a percepção da criança sobre o valor do reforço. Alguns analistas do compor- tamento recomendam perguntar à criança quais reforços ela prefere, sendo que os sociais, como elogio, geralmente são mais recomendados que balas, estrelas ou dinheiro (RASCHKE, 1981). Torne os estímulos reforçadores contingentes e imediatos Para que um reforço seja eficiente, o professor deve oferecê-lo logo depois que a criança apresentar determinado comportamento. A análise de compor- tamento aplicada geralmente recomenda que os professores façam afirmações do tipo “se... então” para as crianças – por exemplo, “se você terminar dez problemas de matemática, então pode sair para brincar”. Reforçadores são mais eficazes quando dados de maneira imediata, tão logo a criança apresentar o comportamento-alvo (UMBREIT et al., 2007). Isso pode ajudar as crianças a verem a relação de contingência entre o reforço e seu comportamento. Selecione o melhor esquema de reforçamento No reforçamento contínuo, as crianças aprendem muito rápido, mas, quando o reforço é interrompido (a professora para de elogiar), a extinção também ocorre rapidamente. Na sala de aula, o reforçamento contínuo é raro. Um professor com uma classe de 25 ou 30 alunos não consegue elogiar uma criança toda vez que ela responder apropriadamente. Por isso, Skinner (1938) desenvolveu o conceito de esquemas de reforçamento, que são cronogramas de reforço que determinam quando uma resposta será reforçada. 9Principais abordagens sobre a aprendizagem Considere utilizar um contrato Contratar envolve especificar as contingências de reforçamento por escrito. Caso surjam problemas, e as crianças não cumpram sua parte no combinado, o professor pode pedir a elas que consultem o contrato com o qual concordaram. O contrato de classe deve ser resultado de sugestões tanto de professores quanto de alunos e deve conter declarações “se... então”. Por exemplo, o professor concorda em _______, se os estudantes se comportarem como o combinado. Utilize estímulos reforçadores negativos eficientemente Como vimos anteriormente, no reforçamento negativo, a frequência das res- postas aumenta porque a resposta remove um estímulo aversivo (desagradável) (ALBERTO; TROUTMAN, 2006). Um professor que diz: “Você tem de ficar sentado aí na carteira até terminar sua redação e só depois pode ir fazer o cartaz com seus colegas” está usando o reforçamento negativo. A condição negativa de ser deixado na carteira enquanto as outras crianças estão fazendo algo divertido será removida se Thomas terminar a redação que já deveria estar pronta. Cuidado para não confundir reforçamento negativo com punição. Punições são notoriamente conhecidas por só estabelecerem um comporta- mento adequado na frente do agente punidor (a criança fica quieta, mas só quando o professor está olhando) (SKINNER, 1938). Utilize dicas e modelagem Os estudantes podem aprender a diferenciar estímulos ou eventos por meio do reforço diferencial. Duas estratégias de reforçamento diferencial disponíveis para os professores são dicas e modelagem (ALBERTO; TROUTMAN, 2006). Dicas Estímulo adicional que pode ser uma dica dada pelo professor imediatamente antes de uma resposta do aluno, que aumenta a probabilidade de que a resposta correta ocorra. Principais abordagens sobre a aprendizagem10 Modelagem Ensinar novos comportamentos, reforçando aproximações sucessivas ao comportamento-alvo. Se quer que o estudante adquira o hábito de ler livros de história, primeiro, deve ser reforçado o comportamento de ficar próximo de livros e ler qualquer material. Posteriormente, você poderá ir discriminando os estímulos para que o estudante leia histórias. O vídeo disponível no link a seguir, retirado de um episódio da série The Big Bang Theory, ilustra o esquema de reforçamento positivo utilizado para se obter o aumento em um determinado comportamento. https://goo.gl/CP06eL Como diminuir comportamentos inadequados ao ambiente acadêmico Ainda existe uma discussão muito sadia acerca do que seriam comporta- mentos inadequados ao ambiente acadêmico. Alguns pensadores dirão que todos os comportamentos infantis servem a algum propósito do aprendizado, seja ele social ou formal (LOURO, 2000). Outros entendem que determina- dos comportamentos são inadequados ao ambiente acadêmico, como brigar, conversar paralelamente à aula, correr ou gritar dentro da sala (CHANCE, 2006). Observa-se que, independentemente da vertente, a escola ainda se traduz em um ambiente social no qual nenhum dos indivíduos terá a liberdade total para fazer tudo que quer, sendo que todos terão direitos e deveres uns com os outros. Listaremos algumas formas de lidar com comportamentos que estejam dificultando o bom andamento das aulas ou da apreensão dos conteúdos pelos estudantes. Alberto e Troutman (2006) recomendam seguir os passos apresentados na seguinte ordem, para que os educadores possam diminuir a ocorrência de comportamentos que atrapalhem o bom andamento das aulas: 11Principais abordagens sobre a aprendizagem 1. usar reforçamento diferencial; 2. remover o reforço de respostas inapropriadas (extinção); 3. remover o estímulo reforçado positivo (punição negativa); 4. apresentar estímulos reforçadores negativos (punição positiva); Os autores ressaltam que a primeira opção do professor sempre deve ser o reforçamento diferencial. A punição só deve ser usada como último recurso e sempre proporcionando conjuntamente à criança informação sobre o com- portamento apropriado. Reforçamento diferencial — o professor reforça o comportamento que é mais apropriado ou incompatível com o que a criança está fazendo. Por exemplo, o professor pode reforçar uma criança por usar o computador para atividades de aprendizagem em vez de brincar com jogos. Retirada do reforço (extinção) — extinguir o comportamento envolve remover o reforço positivo que mantém o comportamento inapropriado de uma criança. Muitos professores acham difícil determinar se estão dando muita atenção a comportamentos inapropriados. Uma boa estratégia é pedir para alguém observar sua aula em várias ocasiões e listar os padrões de reforço que você usa com os alunos (ALBERTO; TROUTMAN, 2006). Remover o estímulo reforçados — caso as duas primeiras opções não funcio- nem, uma terceira opção é remover o estímulo reforçador ao comportamento do aluno. Duas estratégias para isso são “time-out” e “punição negativa”. Time-out— tirar o estudante de uma situação onde possa ocorrer reforço positivo inadvertidamente, como pedir para que se retire da sala por deter- minado tempo. Punição negativa — retirar um reforçador positivo, como perda do privilégio imediatamente após um comportamento inapropriado do aluno. Apresentar estímulos reforçadores negativos (punição positiva) — a maioria das pessoas associa a apresentação de estímulos aversivos (desagradáveis) com punição. Por exemplo, quando um professor grita com um aluno ou um pai bate em uma criança. É fato que os tipos mais comuns de estímulos aversivos usados pelos professores são as repreensões verbais. No entanto, de acordo com a definição de punição dada anteriormente neste capítulo, um Principais abordagens sobre a aprendizagem12 estímulo aversivo só é uma punição se diminuir comportamentos indesejáveis (MAZUR, 2002). Muitas vezes, os estímulos aversivos não podem ser ca- racterizados como punições eficazes, visto que não diminuem a ocorrência de comportamentos indesejáveis, fazendo com que, às vezes, eles sejam até aumentados com o tempo (McLOYD; SMITH, 2002). Hyman e Snook (1999) concordam ao afirmar que numerosos problemas estão associados ao uso de estímulos aversivos visando à punição, como: a punição pode produzir medo, raiva ou esquiva nos estudantes; podem ficar tão exaltados ou ansiosos que não conseguem concentrar-se no trabalho após a punição; um estudante pode aprender que se comportar mal pode fazer com que ganhe não só atenção do professor, como notoriedade com os colegas. Críticos do condicionamento operante e da análise do comportamento aplicada argumentam que a abordagem como um todo dá muita ênfase ao controle externo do comportamento dos estudantes — uma estratégia melhor é ajudá-los a aprenderem a controlar seu próprio comportamento e a se tornarem internamente motivados. Alguns críticos argumentam que não é a recompensa ou a punição que mudam o comportamento, mas a certeza ou a expectativa de que determinadas ações serão recompensadas ou punidas (SCHUNK, 2004). Os críticos também apontam para problemas éticos potenciais quando o condicionamento operante é aplicado de modo inapropriado, como quando um professor recorre imediatamente à punição em vez de considerar primeiro as estratégias de reforçamento, ou pune um estudante sem dar a ele também informações sobre o comportamento apropriado (LOURO, 2000). ALBERTO, P. A. e TROUTMAN, A. C. Applied analysis for teachers. 7. ed. Upper Saddle River, NJ: Prentice-Hall, 2006. BANDURA, A. The primacy of self-regulation in health promotion. Applied Psychology, v. 54, n. 2, p. 245-254, Apr. 2005. BECK, J. S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. CHANCE, P. Learning and behavior: active learning edition. Belmont: Wadsworth, 2006. HAZEL, C.; GREDLER, G. R. Building positive behavior support systems in schools: functional behavioral assessment. Psychology in the Schools, v. 42, n. 2, p. 217-218, 2005. HYMAN, I.; SNOOK, P. 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