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Docência para o Ensino Superior PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR: Um olhar sobre o planejar e avaliar Ana Cláudia Barreiro Nagy Edna Barberato Genghini NAGY, Ana Cláudia Barreiro GENGHINI, Edna Barberato Planejamento e Avaliação no Ensino Superior: um olhar sobre o planejar e avaliar (livro-texto) / Ana Cláudia Barreiro Nagy; Edna Barberato Genghini. – São Paulo: Pós-Graduação Lato Sensu UNIP, 2018. 108 p. : il. 1. Planejamento. 2. Avaliação. 3. Ensino Superior. I. Nagy, Ana Cláudia Barreiro. Genghini, Edna Barberato. II. Pós-Graduação Lato Sensu UNIP. III. Título. Professora conteudista ANA CLÁUDIA BARREIRO NAGY é natural do Rio de Janeiro, onde cursou Magistério e começou a estudar na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Graduou-se em Pedagogia na Universidade Presbiteriana Mackenzie (1994). Especializou-se em Psicopedagogia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001). É mestre em Educação: Currículo, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004), onde iniciou o Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (2005). Também cursou Letras (Português e Francês) na Universidade de São Paulo (2018), com intercâmbio na Université Lumière Lyon 2. Para complementar sua formação, concluiu a pós-graduação em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância na Universidade Federal Fluminense (2019). Foi professora nos cursos de Pedagogia, Engenharia, Psicologia e Educação Física na UNIP. Também atuou na mesma universidade como coordenadora do curso de Pedagogia no campus Norte. Atualmente é professora conteudista da pós-graduação em Formação em Educação a Distância da UNIP Interativa. Foi professora tutora para os cursos de graduação EaD em Pedagogia e Normal Superior da Universidade do Norte do Paraná e na pós-graduação no Centro Universitário Senac – São Paulo. Professora colaboradora EDNA BARBERATO GENGHINI, professora universitária desde 2002. Atualmente, é coordenadora para todo o Brasil dos cursos de pós-graduação lato sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância pela Universidade Paulista – UNIP EaD, onde também atua como professora adjunta, nas modalidades interativa e semipresencial. É diretora e psicopedagoga da Mentor Orientação Psicopedagógica Ltda. ME desde 1991. Possui graduação em Economia Doméstica pelas Faculdades Integradas Teresa D'Ávila de Santo André (1980), graduação em Pedagogia pela Universidade Guarulhos (1985), pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade São Judas (1987), Mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e pós-graduação lato sensu em Formação em Educação a Distância pela Universidade Paulista – UNIP (2011). É autora e coautora de livros-texto para os cursos de pós-graduação lato sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância da UNIP EaD. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................................................. 6 1. O PLANEJAMENTO NO ENSINO SUPERIOR ........................................................................ 7 1.1 Ensino e pesquisa ................................................................................................................... 7 1.2 Planejamento interdisciplinar na universidade ....................................................................... 17 1.3 Planejamento participativo ..................................................................................................... 22 2. O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL .................................................................................... 30 2.1 O que é planejamento ........................................................................................................... 30 2.2 Tipos de planejamento .......................................................................................................... 40 2.3 Etapas e elementos do planejamento .................................................................................... 44 3. AVALIAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR .................................................................................. 51 3.1 Conceitos e concepções sobre avaliação .............................................................................. 51 3.2 Instrumentos de avaliação ..................................................................................................... 66 4. ABORDAGENS E PRÁTICAS DE AVALIAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR ............................ 77 4.1 Desafios da avaliação ............................................................................................................ 77 4.2 A avaliação e as relações de poder ....................................................................................... 85 4.3 Avaliação como melhoria e avanços nos processos de ensino e aprendizagem ................... 93 APRESENTAÇÃO Olá, aluno(a)! Bem-vindo(a)! Neste material você encontrará os conteúdos pertinentes à disciplina Planejamento e Avaliação no Ensino Superior, que trata, fundamentalmente, da elaboração de um planejamento eficaz e eficiente, considerando-se as boas práticas de um professor em contexto universitário. Ainda, será muito importante compreender quais são e como funcionam as formas de se avaliar os alunos – e por que não o professor também? –, buscando perceber que a sala de aula (presencial ou virtual) é um espaço rico de construção de conhecimento. Também estudaremos as possibilidades e concepções atuais e procedimentos pedagógicos que (re)orientam a prática de planejar e avaliar no Ensino Superior na atualidade. Para finalizar, vamos discutir as relações de poder que a avaliação considera, especialmente no Brasil. Animado(a)? Então, mãos à obra! INTRODUÇÃO O objetivo desse livro-texto do curso de pós-graduação em DOCÊNCIA PARA O ENSINO SUPERIOR da UNIP EaD é ajudá-lo a compreender o que é ser professor na atualidade e perceber como o planejamento e a avaliação são extremamente importantes para a prática educativa, e não só nos cursos de graduação. O material que agora você tem em seu poder está dividido em quatro unidades didáticas distintas, porém complementares. Cada uma delas apresenta uma particularidade do tema e foi organizada tendo em vista facilitar seu percurso dentro da temática. Veja como estão organizadas: Unidade 1 – O planejamento no Ensino Superior: Ensino e pesquisa; Planejamento interdisciplinar na universidade; Planejamento participativo. Unidade 2 – O planejamento educacional: Tipos de planejamento; Etapas e elementos do planejamento. Unidade 3 – Avaliação no Ensino Superior: Concepções sobre avaliação; Instrumentos de avaliação. Unidade 4 – Abordagens e práticas de avaliação no Ensino Superior: Desafios da avaliação; A avaliação e as relações de poder; Avaliação como melhoria e avanços nos processos de ensino e aprendizagem. Para estudar todos os temas indicados, os objetivos gerais da disciplina são: • Relacionar o planejamento das atividades aos instrumentos, às propostas e aos usos da avaliação no processo educativo; • Entender a importância do planejamento para o ensino e a pesquisa; • Analisar o caráter subjetivo e as relações de poder que envolvem as práticas de avaliação no contexto universitário; • Compreender os desafios que os docentes vivenciam nos processos avaliativos. Saiba, também, quais são os objetivos específicos: • Identificar o conceito de planejamento e avaliação; • Compreender os processos de planejar e avaliar e como interferem na construção do conhecimento para o ensinosuperior; • Conhecer tipos e etapas de planejamento e instrumentos de avaliação; • Identificar desafios ao processo de avaliação; • Perceber que a avaliação não é neutra, mas deve ser fidedigna. Aproveite a leitura e as imagens do seu livro e não deixe de buscar as indicações da sessão “Saiba mais” para aprimorar seus conhecimentos. Boa jornada! 7 UNIDADE 1 1. O PLANEJAMENTO NO ENSINO SUPERIOR Nesta unidade, a intenção principal é buscar compreender o que é o ato de planejar e sua importância para a ação docente no ensino superior. Também vamos verificar como planejar de forma interdisciplinar, aproveitando os “talentos” das diversas áreas de conhecimento com foco em ensino e pesquisa. Ainda, discutiremos o planejamento estratégico para os cursos de graduação. Para começar, vamos falar sobre o ensino e a pesquisa, já que toda a atividade de um professor precisa ter esses dois eixos: ensinar e, ao mesmo tempo, pesquisar. 1.1 Ensino e pesquisa Pesquisa é o processo que deve aparecer em todo o trajeto educativo. (DEMO, 2006, p. 18). A universidade é um espaço de muitas construções. Buscamos um curso superior para aprender uma profissão, para nos integrar ao mundo, para construir conhecimento específico sobre determinada área de ensino. Entretanto… não é só isso. Enquanto frequentamos uma universidade, somos solicitados a realizar diversos trabalhos acadêmicos – dissertações, resumos, artigos científicos, ensaios etc. e, para conseguir produzir esses trabalhos devemos buscar fontes seguras de informação, como os livros publicados sobre o tema, sites de universidades, o Scielo, artigos produzidos para congressos. Enfim, há uma riqueza muito grande de possíveis fontes. Essa é uma face do ato de pesquisar, mas ainda há mais. Pesquisar precisa ser encarado como uma postura, uma ação necessária para todo aquele que deseja formar-se professor. Conteúdos trabalhados na unidade: O planejamento no Ensino Superior: Ensino e pesquisa; Planejamento interdisciplinar na universidade; Planejamento participativo na educação. 8 Figura 1: Pesquisa Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/s/semiphoto/05/p/9075accaf5b517d33613a6 d66edf60a0.jpg>. Acesso em: 02 nov. 2018. Certamente não é só isso, ou seja, encontrar o que já foi produzido por outros pesquisadores. Um professor precisa ser, também, um pesquisador! Pensar a formação para a docência universitária implica, no horizonte, a perspectiva dos compromissos éticos e sociais que temos para com as novas gerações. Assim, para ser docente no ensino superior é necessário desenvolver consciência clara sobre o papel da formação e do formador em relação aos jovens. Esses são o foco central desse trabalho. É essencial saber criar condições de aprendizagem: Por que criá-las? Para quem? Com o quê? Como?. Ter uma perspectiva filosófico-política sobre o trabalho docente em relação àqueles com os quais desenvolverá ações pedagógicas. Destas considerações pode- se derivar uma dinâmica curricular formativa. Formações precisam ter um sentido (GATTI, 2016, p. 79). O trecho acima mostra a importância de ser docente no ensino superior. Gatti (2016) coloca como imprescindível saber criar condições para promover as aprendizagens. Ser um pesquisador vai dizer muito do docente que você é/será. • Vale a pena conhecer, caso você ainda não conheça, o Scielo (<http://www.scielo.br/?lng=pt>). É uma biblioteca científica online onde é possível encontrar artigos sobre os mais variados temas. • O melhor de tudo é que todos esses artigos passam por um crivo muito cuidadoso antes de serem publicados. • O Scielo é muito respeitado. Pode confiar! 9 Um professor não pode achar que ao receber seu diploma está com todo o conteúdo aprendido e o que aprendeu é suficiente para seguir sua carreira. É o começo, claro, você concorda comigo, não é? Mas todos os dias há produção de conhecimento científico mundo afora e é aí que o professor precisa embrenhar-se e entrar em contato com esses conhecimentos para estar preparado para atuar numa sala de aula. Figura 2: Formação contínua sempre Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/diannehope/03/l/1426078817xowfe.jpg>. Acesso em: 29 out. 2018. Quando falamos em ensino superior essa responsabilidade aumenta, já que os alunos, adultos, já passaram por inúmeras e diferentes experiências e seus questionamentos serão cada vez mais complexos. Os Princípios gerais e objetivos da Educação Superior estão definidos na Lei n.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Consulte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Existe um Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, o SINAES, descrito na Lei n.º 10.861 de 14 de abril de 2004, que o instituiu. Consulte: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.861.htm>. 10 Como lidar com isso, então? É preciso ter respostas e, quando não as tivermos, precisaremos ter curiosidade (e essa é uma obrigação profissional!) e interesse em encontrá-las. Devemos ter em mente, ainda, que serão os alunos do ensino superior os futuros profissionais, aqueles que, com suas descobertas, trarão progresso para nossa sociedade. Na Universidade, a aprendizagem, a docência, a ensinagem só serão significativas se forem sustentadas por uma permanente atividade de construção do conhecimento. Tanto quanto o aluno, o professor precisa da pesquisa para bem conduzir um ensino eficaz (SEVERINO, 2008, p. 83). Desse modo, a prática da pesquisa na graduação vai produzir conhecimento para responder aos questionamentos sociais, assim como para inovar e solucionar problemas. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira trata do ensino superior entre os artigos 43 e 57, no capítulo IV. Veja o que diz o Art. 44: A educação superior abrangerá os seguintes cursos e programas: I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde que tenham concluído o ensino médio ou equivalente II - de graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido classificados em processo seletivo; III - de pós-graduação, compreendendo programas de mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das instituições de ensino; IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de ensino. Leia na íntegra esse capítulo, disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 30 out. 2018. 11 Tendo isso que discutimos em mente, dá para entender que pesquisar vai funcionar como uma importante ferramenta para ampliação de conceitos, de objetos e de busca de racionalidade e verdades, certo? Figura 3: Racionalização Disponível em: <https://openphoto.net/gallery/image/view/24563>. Acesso em: 10 out. 2018. Podemos, então, dizer que a pesquisa é: […] o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema (GIL, 2017, p. 32). Como um universitário pode obter sucesso em seu curso se não desenvolver a postura de pesquisador, especialmente se depois vier a tornar-se professor? Ah, não é possível pensar diferente, não é mesmo? É por isso que pesquisa e ensino devem andar de mãos dadas, um nãovive sem o outro. 12 Veja o que Chalita (2005, p. 61), que já foi secretário da Educação em São Paulo, diz a esse respeito: O conhecimento é um norte que ajuda a encontrar e percorrer a estrada da vida. O conhecimento é um caminho para se chegar à sabedoria. O conhecimento é um motor que move os sentimentos e controla as tempestades. É conhecimento o que obtemos com o ato de pesquisar. Na universidade temos mesmo que realizar os trabalhos, concorda? Então, porque não pensar que não serão apenas trabalhos, mas que poderão ser respostas para nossas próprias necessidades como sociedade? Por que não pesquisamos com o intuito de crescer cognitivamente, academicamente, como indivíduos e que podemos contribuir com o entorno em que vivemos para melhorar a vida do próximo? “Planejamento e educação no Brasil” é um livro que analisa as estratégias, os caminhos e descaminhos do planejamento a partir da visão de que o planejamento é um ato de intervenção técnica e política. Leitura essencial que o planejador esteja preparado para ter em mente a necessidade de desenvolver uma articulação permanente a fim de estabelecer coordenação entre a esferas técnica, política e burocrática, indispensável para ter uma postura autônoma na estrutura e no sistema de relações das instituições e da sociedade. Não deixe de ler! KUENZER, A. Z. et al. Planejamento e educação no Brasil. São Paulo: Cortez, 2013. 13 Figura 4: Estudar para conhecer Disponível em: <https://openphoto.net/thumbs2/volumes/mike/openphoto_dot_net/2002_3_8_170_11_OPL.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018. Aposto que depois de ler tudo isso você já está começando a pensar em como vai se desenvolver como pesquisador. Acertei? Para começar… que tal incentivar o hábito da leitura em seus alunos? Você sabe quantos livros um universitário lê? Sugiro o seguinte artigo: “O hábito da leitura dos universitários” que afirma que “o conhecimento que pode ser encontrado através da leitura é o meio mais importante para o processo de ensino-aprendizagem”. É um estudo que analisou os hábitos de leituras de universitários do curso de administração da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Caruaru, identificando os principais meios de pesquisa utilizados por esses estudantes. Consulte: <http://www.seer.ufal.br/index.php/revistaleitura/article/view/2336/2039>. 14 Figura 5: Ler é indispensável Disponível em: <https://www.pics4learning.com/details.php?img=abigailgant.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018. Nosso sistema de ensino reproduz, muitas vezes, um modelo de ensino ultrapassado, que “derrama” conteúdos, datas, nomes, locais, acontecimentos e pequenos “truques” para tornar a vida do estudante mais fácil, para que ele “passe” na prova, ou, pior ainda, nos faz decorar essas coisas todas. Isso não provoca interesse no que aprendemos, mas pode ser diferente, te dou minha palavra! Quando vivenciamos um ensino mais assertivo, mais alegre, mais motivante, ah!, o resultado é sempre muito mais satisfatório – para quem aprende e para quem ensina. 15 Figura 6: O educador pernambucano Paulo Freire Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/23/gallery_as sist692997/prev/AgenciaBrasil160412_JFC2488.JPG>. Acesso em: 02 nov. 2018. Vamos ler um trecho do educador pernambucano Paulo Freire para nos ajudar a refletir sobre tudo o que estamos conversando aqui? Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino (…). No meu entender, o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo buscando, (re)procurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 2004, p. 14). Ah… Paulo Freire… Seu texto é tão simples e positivamente incisivo, não é? http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/23/gallery_assist692997/prev/AgenciaBrasil160412_JFC2488.JPG http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/23/gallery_assist692997/prev/AgenciaBrasil160412_JFC2488.JPG http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/23/gallery_assist692997/prev/AgenciaBrasil160412_JFC2488.JPG 16 Figura 7: Processo educativo Disponível em: <https://thumbs.dreamstime.com/t/school-books-desk-education-concept- 43664095.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018. As dimensões do planejamento educacional: o que os educadores precisam saber trata dos fundamentos teóricos e dos elementos de planejamento baseados na prática educacional cotidiana. Leitura para todos que se dedicam ao ato de planejar. Esse livro ajuda o educador a entender os mecanismos necessários para realizar o planejamento do ensino e suas dimensões. SANTOS, P. S. M. B. dos. As Dimensões do Planejamento Educacional: O Que os Educadores Precisam Saber. São Paulo: Cengage Learning, 2017. Para conhecer mais sobre Paulo Freire, recomendo visitar o Instituto Paulo Freire em <http://www.paulofreire.org/> e buscar suas obras, como a mais famosa delas, a “Pedagogia do Oprimido”. https://thumbs.dreamstime.com/t/school-books-desk-education-concept-43664095.jpg https://thumbs.dreamstime.com/t/school-books-desk-education-concept-43664095.jpg 17 Agora, vamos falar sobre a interdisciplinaridade? Figura 8: Interdisciplinaridade Disponível em: <http://www.pics4learning.com/details.php?img=img_4789.jpg>. Acesso em: 02 nov. 2018. 1.2 Planejamento interdisciplinar na universidade Diante do que já conversamos, sobre a importância de ensino e pesquisa no contexto educacional e universitário, nos cabe falar um pouquinho sobre o currículo e o planejamento. Vejamos: o currículo é a identidade da instituição de ensino, correto? É a partir dele que o trabalho educativo se realiza. O que está nele, entretanto, não vem pronto. Muito pelo contrário, ele vai sendo construído de acordo com o grupo de docentes, auxiliares de ensino, administrativos e alunos também. Aliás, ele precisa representar esses grupos, que são aqueles que convivem na escola ou na universidade. Como concretizá-lo? É por meio da ação de planejar, de formalizar o planejamento, que sua concretização ocorrerá. Através dela e de sua execução responsável, da prática e da filosofia de ensino que o currículo será efetivado. Assim… é bem importante fazer um planejamento, não é mesmo? 18 Como sabemos, a educação formal prescinde de uma ação intencional, ou seja, uma ação que precisa ser, necessariamente, planejada. Se o docente trabalhar em conjunto com outros docentes? Se ele fizer parcerias com os colegas? Hum… seria interessante! Aqui cabe falar um pouco sobre a interdisciplinaridade. Você sabe o que é isso? A interdisciplinaridade está ligada a superar as barreiras entre as diferentes áreas de conhecimento. Claro que, diante do nosso sistema de ensino, não é uma atividade fácil, não! Porém… com conhecimento, boa vontade e disposição para aprender e pesquisar, nada nesse mundo é impossível! Então, vamos continuar. Para a professora Ivani Fazenda (2006, p. 61), uma das maiores estudiosas brasileiras sobre o tema: A superação das barreiras entre as disciplinas consegue-se no momento em que instituições abandonam seus hábitos cristalizados e partem em busca de novos objetivos e no momento em que as ciências compreendam a limitação das barreiras de seus aportes. Mais difícil que esta, é a eliminaçãodas barreiras entre as pessoas, produto de preconceitos, falta de formação adequada e comodismo. Essa tarefa demandará a superação de obstáculos psicossociológicos, culturais e materiais. Ah, viu como pode acontecer? Nós não lidamos com os conhecimentos de maneira linear, ou seja, nós aprendemos fazendo links com o que já conhecemos, caso contrário, aprender seria bem difícil, concorda? Isso é interdisciplinaridade! A interdisciplinaridade é uma metodologia que respeita a especificidade de cada área de conhecimento, procurando estabelecer e compreender as relações entre os conhecimentos sistematizados, ampliando o espaço de diálogo na direção da negociação de ideias e da aceitação de outras visões (PONTUSCHKA, 2010). 19 Figura 9 - Interdisciplinaridade Disponível em: <https://openphoto.net/gallery/image/view/20602>. Acesso em: 10 out. 2018. Em nossa realidade educativa, ainda trabalhamos com a linearidade. Vamos acabar com isso. Uma prática interdisciplinar dá significado aos conteúdos, pois rompe com a famosa divisão hermética das disciplinas. A interdisciplinaridade vem, portanto, olhar os aprendentes como eles realmente aprendem: de forma integral e não-linear. Imagine se desde o planejamento a visão for assim? PONTUSCHKA, N. N. (Org.). Ousadia no diálogo. Interdisciplinaridade na escola pública. São Paulo: Loyola, 2010. O livro, que defende a interdisciplinaridade desde seu subtítulo, traz uma visão ampla da diferença de um planejamento pautado a partir de temas geradores e do conhecimento que esse trabalho produz no aluno e no educador. Todos os professores deveriam fazer um estudo aprofundado na questão dos temas geradores para conhecer seus benefícios para a aquisição do conhecimento. 20 Vou dar um exemplo de como esse trabalho pode funcionar bem. A fonte é uma revista direcionada aos professores da educação básica, a Nova Escola. Veja só: Um grupo de mãos dadas para ensinar Quando o apagão de 2001 forçou milhões de brasileiros a reduzir o consumo de energia elétrica, a professora de Ciências Maria Lúcia Sanches Callegari, do Colégio Santa Maria, em São Paulo, fez uma proposta às 5ªs séries: construir um aquecedor solar (veja modelo didático). Logo a ideia despertou o interesse de outras cinco professoras. Todas se envolveram e, utilizando o horário reservado para o trabalho coletivo, montaram um projeto conjunto, que vem se repetindo anualmente. Para conciliar tantas disciplinas, o planejamento é feito logo no início das aulas. Dessa forma, os professores abordam conteúdos de seu currículo de acordo com as etapas da construção e da instalação do aquecedor. A professora de Geografia trabalhou o clima brasileiro e conceitos de orientação utilizando a bússola, para que todos localizassem o norte, direção para onde a placa do aquecedor deveria estar voltada ao ser instalada sobre as casas. A de Matemática pediu uma pesquisa sobre o consumo de energia dos eletrodomésticos e explorou conceitos de proporção ao calcular com a garotada o tamanho das placas solares de acordo com o volume das caixas d'água. Em História, foram resgatados os motivos econômicos que causaram a degradação do meio ambiente brasileiro. Nas aulas de Ciências, os estudantes pesquisaram as fontes de energia no país e quais alternativas apresentam menos impacto ambiental. Com a professora de Língua Portuguesa, eles bolaram questionários para entrevistar as famílias que receberiam o equipamento. O objetivo das aulas de Ensino Religioso foi orientar os estudantes no contato com a comunidade, para que eles compreendessem as razões das diferenças entre a realidade deles e a dos moradores de bairros carentes. "A ideia de doar os aparelhos para a população foi das próprias crianças", lembra a orientadora da 5ª série Ivani Anauate Ghattas. As avaliações também são formuladas de maneira interdisciplinar. Em História, por exemplo, os estudantes são desafiados a discorrer sobre o extrativismo predatório ocorrido no Brasil Colônia. Além disso, o objetivo é levá-los a associar os prejuízos ao meio ambiente que hoje ameaçam a qualidade de vida, conteúdos que, na teoria, fariam parte do programa de Ciências. Além de confirmarem que a fórmula tem sido vitoriosa no que se refere à aprendizagem da turma, as seis professoras contabilizam ganhos pessoais. "Temos aprendido sempre para colocar nosso conhecimento a serviço dos estudantes", afirma Maria Lúcia. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/249/interdisciplinaridade-um- avanco-na-educacao>. Acesso em: 10 out. 2018. 21 Bom, acredito que essa discussão foi interessante e te deu pistas de como refletir acerca desse tema. Vamos continuar a reflexão! Você sabia que a interdisciplinaridade cresce na pós-graduação brasileira? Consulte o portal do Ministério da Educação para se informar sobre esse tema: <http://portal.mec.gov.br/midias-na-educacao/180-estudantes- 108009469/pos-graduacao-500454045/6713-sp-1646083365>. Acesso em: 03 nov. 2018. “Na interdisciplinaridade escolar a perspectiva é educativa. Assim, os saberes escolares procedem de uma estruturação diferente dos pertencentes aos saberes constitutivos das ciências (CHERVEL, 1988; SACHOT, 2001). Na interdisciplinaridade escolar, as noções, finalidades habilidades e técnicas visam favorecer sobretudo o processo de aprendizagem, respeitando os saberes dos alunos e sua integração”. Fonte: FAZENDA, I. (Org.). O que é interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2008 (p. 21). Disponível em: <<https://filosoficabiblioteca.files.wordpress.com/2013/11/fazenda-org-o-que-c3a9- interdisciplinaridade.pdf>. Acesso em: 05 out. 2018. 22 1.3 Planejamento participativo Figura 10: Planejamento participativo Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/l/lauramusikanski/05/p/9238ff400eb4e9cec2 e328cced34b57f.jpg>. Acesso em: 01 nov. 2018. Para pensar em um projeto participativo, a primeira coisa que nos cabe é definir participação: A participação, em seu sentido pleno caracteriza-se por uma força de atuação consciente, pelo qual os membros de uma unidade social Conheça o trabalho intitulado A interdisciplinaridade e o trabalho coletivo: análise de um planejamento interdisciplinar, que vai aprofundar seu conhecimento sobre o tema. É uma leitura que explicita detalhadamente o trabalho dos autores no projeto “Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo”, no qual a experiência foi realizada. O artigo está disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ciedu/v11n1/12.pdf. Acesso em: 02 nov. 2018. 23 reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa unidade social, de sua cultura e de seus resultados, poder esse resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir e agir em torno de questões afetivas (LÜCK, 2005, p. 19). Assim, quando estamos em um contexto educativo no qual se planeja de modo participativo, fica claro que os envolvidos têm a oportunidade de discutir, refletir, questionar e decidir colaborativamente, ou seja, estarão participando e isso tem um caráter transformador, não acha? Figura 11: Colaboração Disponível em: <https://thumbs.dreamstime.com/m/many-hands-together-group-people-joining- hands-19391482.jpg>. Acesso em: 25 out. 2018. Na educação, não queremos construir uma realidade mais justa para todos? Então, o caminho é desenvolver uma postura participativa que auxilie nas mudanças, com o intuito de criar uma sociedade em que os diferentes olhares sejam respeitados a fim de, se necessário, transformar a realidade em que vivemos para que ela seja cada vez melhor para os que a integram. As fases desse tipo de planejamento são as seguintes: a preparação do plano (realização do planejamentocom a colaboração de todos); o acompanhamento atento da execução do que foi pensado, planejado e a revisão contínua de todo o processo de modo que situações “engessadas” não se propaguem. https://thumbs.dreamstime.com/m/many-hands-together-group-people-joining-hands-19391482.jpg https://thumbs.dreamstime.com/m/many-hands-together-group-people-joining-hands-19391482.jpg 24 Cabe ressaltar que essa visão de planejamento promove um “empoderamento” dos participantes, os quais se sentirão parte das decisões e se enxergarão como responsáveis pelas conquistas no processo educativo! Fases do planejamento participativo: 1) Preparação do plano; 2) Acompanhamento atento da execução; 3) Revisão contínua de todo o processo. Trabalhar um processo participativo de planejamento permite: > maior consciência sobre a missão da organização, > um melhor entendimento da estrutura da organização e da relação do ambiente interno com o contexto social, económico e político. > a criação de novos instrumentos de análise e previsão; > estabelecimento de critérios para a definição de prioridades e alocação de recursos; > formas de aprendizado reciproco; > uma melhor compreensão das dificuldades enfrentadas nas diferentes instâncias da organização e maior cooperação entre elas; > uma maior cooperação entre as diferentes instâncias no sentido de obter maior eficiência e eficácia, abrindo caminhos para novas formas de gestão, aumentando a capacidade de resposta às demandas tanto internas como externas; > uma otimização dos recursos disponíveis, possibilitando uma relação mais positiva entre custos e benefícios, diminuindo o peso dos gastos administrativos; > a definição clara de funções e a articulação funcional e operativa entre as diferentes instâncias > uma consciência da globalidade e interdependência entre as diversas atividades. > Uma consciência da responsabilidade de cada um na obtenção dos resultados. (ANDRADE, s.d. Disponível em: <http://www.novasociedade.com.br/conjuntura/artigos/hilda1.htm>. Acesso em: 21 out. 2018). 25 Figura 12: Sempre Paulo Freire Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/23/gallery_as sist692997/prev/AgenciaBrasil160412_JFC2461.JPG>. Acesso em: 02 nov. 2018. Para Freire (2004), as instituições que promovem educação escolar – e, claro, as universidades fazem parte desse contexto – precisam estar centradas em experiências que estimulem a tomada colaborativa de decisão e responsabilidade. Ele acrescenta que é decidindo que se aprende a decidir e o universitário vai precisar saber tomar decisões em sua atividade profissional, portanto, é fundamental “treinar” e desenvolver essa característica para a vida pessoal e o mundo do trabalho. 26 Convido-o (a) a realizar uma atividade sobre as temáticas que discutimos nessa unidade. Leia os excertos I e II: I) Uma das soluções encontradas para se trabalhar a diversidade cultural no contexto escolar é a interdisciplinaridade, esta pode ser compreendida como uma fundamental ferramenta para uma mudança significativa na educação, especialmente ao que se refere às diferenças existentes no âmbito educacional (PINTO e MACEDO, 2014, p. 3). Fonte: PINTO, A. H. P. e MACEDO, A. B. O planejamento interdisciplinar e a prática da diversidade cultural no contexto da sala de aula. Fórum Internacional de Pedagogia (FIPED), Santa Maria/RS, 2014. Disponível em: editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Modalidade_2datahora_16_06_20 14_21_02_44_idinscrito_1831_b79b0b4cf81c0b2f1bfef4bcb018f4e9.pdf>. Acesso em: 30 out. 2018. II) (…) a interdisciplinaridade pode auxiliar na dissociação do conhecimento produzido e orientar a produção de uma nova ordem de conhecimento, constituindo condição necessária para melhoria da qualidade do Ensino Superior, mediante a superação da fragmentação, uma vez que orienta a formação global do homem” (FAVARÃO e ARAÚJO, 2004, p. 103). Para saber mais sobre o planejamento participativo recomendo a leitura de “Subsídios ao Planejamento Participativo: textos selecionados”, organizado por Elizeu F. Calsing. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002572.pdf>. Acesso em: 20 out. 2018. 27 Fonte: FAVARÃO, N. R. L.; ARAÚJO, C. de S. A. Importância da interdisciplinaridade no ensino superior. Educere, Umuarama, p. 103-115, vol. 4, n.2, jul./dez., 2004. Disponível em: <http://revistas.unipar.br/index.php/educere/article/view/173/>. Acesso em: 30 out. 2018. Agora, faça uma reflexão sobre a importância de desenvolver um processo de ensino e aprendizagem interdisciplinar. Elabore um pequeno texto sobre esse tema, relacionando os dois excertos acima. Justifique e exemplifique como trabalhar a partir do conceito de interdisciplinaridade que foi trabalhado nessa unidade. Bom trabalho! _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 28 Chegamos ao final dessa primeira unidade. Aqui você estudou sobre o conhecimento e sua importância para o ensino. Esse conhecimento é construído através de pesquisas responsáveis em livros, artigos e, claro, em sites confiáveis. O professor precisa entender que faz parte de seu métier (trabalho, profissão, ofício) desenvolver em seus alunos uma postura pesquisadora e desenvolver-se como pesquisador também. Especialmente o aluno universitário, que está na graduação para aprender uma profissão, ser um pesquisador é de grande importância, até porque ele deverá enxergar-se como alguém que aprende para criar, para atuar em prol da melhoria da sociedade em que vive. Não deixe de ler Prática do planejamento participativo, de Danilo Gandin, obrigatório para quem quer refletir acerca desse tipo de planejamento. O livro tem como objetivo fundamentar a necessidade de planejamento, especialmente no campo educacional. O autor traz uma análise sobrea relação escola- sociedade. Ainda, ele vê o processo educativo atual como imprescindível de ser discutido por todos aqueles que estão envolvidos em contextos educativos para não viverem essa função sem questioná-la, posicionando-se de maneira firme, clara e eficaz num trabalho de cunho transformador. Para Gandin, é através do planejamento participativo que, por mais que as relações sejam tensas, a dialética entre a realidade existente e a realidade desejada não poderá ser uma barreira para a efetivação de ações educacionais de boa qualidade. A chave é o planejamento participativo. GANDIN, D. Prática do Planejamento Participativo. Petrópolis: Vozes, 2013. 29 Vimos também que ensino e pesquisa estão intrinsecamente associados, que um não vive sem o outro, não é mesmo? Para isso, ou seja, para melhorar sua atuação docente, uma alternativa é planejar com seus pares, interdisciplinarmente, mudando a visão tradicional de ensino que ainda é desenvolvida em nosso sistema educacional. Também discutimos sobre o planejamento participativo e sua importância não só para nossas vidas, como para nossa ação docente. Espero que você tenha aprendido bastante e esteja motivado(a) a ir adiante. 30 UNIDADE 2 2. O PLANEJAMENTO EDUCACIONAL Nesta unidade a intenção principal é conceituar planejamento educacional e conhecer seus tipos, etapas e elementos. Preparado(a)? Então, mãos à obra! 2.1 O que é planejamento Qualquer atividade, para ter sucesso, necessita ser planejada. O planejamento é uma espécie de garantia dos resultados. E sendo a educação, especialmente a educação escolar, uma atividade sistemática, uma organização da situação de aprendizagem, ela necessita evidentemente de planejamento muito sério. Não se pode improvisar a educação, seja ela qual for seu nível (SCHMITZ, 2000, p. 101). Figura 13: Planejando Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/b/BUSHKO/09/p/3ffcc97fbfbddf0fe6c7e640c 01d3ac6.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018. Conteúdos trabalhados na unidade: o que é planejamento; tipos de planejamento; etapas e elementos do planejamento. 31 Antes de falar sobre o planejamento em contextos educacionais, convido você a ler dois exemplos sobre o ato de planejar em nossa vida. Gandin (2011, s.pag.) vai nos ajudar. Diz ele que: Vale a pena, (…), verificar alguns tipos de situação humana e analisar a especificidade do planejamento por ela exigido. Claro que cada exemplo abaixo é uma possibilidade entre muitíssimas parecidas ou iguais. A – O Conserto de um Automóvel Para consertar máquinas, certamente há necessidade de planejamento. Ele consistirá de três passos: • compreensão do padrão da máquina, isto é, da estrutura que lhe permite o funcionamento, ou seja, do seu estado ideal; deste passo em geral não se fala e as pessoas não se dão conta de que ele existe porque naturalmente ele é preexistente na mente de quem vai fazer o conserto e não precisa ser enunciado; • um diagnóstico – é o que mais aparece – buscando descobrir as diferenças existentes na máquina real em relação ao padrão ideal desta mesma máquina; o conceito central deste diagnóstico é o de problema e o seu resultado mais forte é a relação de problemas detectados; faz parte deste diagnóstico, também, a avaliação de possibilidades e de recursos; • decisão do que se vai fazer, incluindo aqui as ações diretas de solução do(s) problema(s) e/ou as orientações (propostas como estratégias) de uso da máquina. Com mais complexidade por causa do “humano” nele existente, o trabalho do médico usa um esquema igual a este. B – A Administração de um Aeroporto (este tipo inclui, também, quase todas as situações de planejamento de empresas comerciais e similares, como as de serviços mais simples). Muito parecido com o caso anterior é a administração de alguns serviços públicos, não necessariamente governamentais, cujo padrão esteja quase totalmente dado. Há ideias de segurança, bem-estar, bom atendimento, rapidez, etc. que devem ser realizadas. Estas ideias dão os critérios – pode-se falar aqui de indicadores – para a prática. As três etapas do planejamento descritas acima permanecem. O que é diferente são os conteúdos que se acrescentam em relação ao que se realiza no caso anterior. Além da compreensão do padrão básico do serviço que é dado pela cultura dos usuários e pelo costume que se cria, é necessária aqui a complementação deste padrão, no sentido de buscar mais contentamento para os que usam o serviço, incluindo ou não maneiras próprias de servir. O levantamento de sugestões junto ao público é a forma primeira de participação dos usuários na fixação deste padrão. 32 O diagnóstico, além de verificar a existência e a extensão de problemas, incluirá o grau de satisfação das pessoas que trabalham no serviço e dos que usufruem seus benefícios. A decisão sobre o que se vai fazer é mais abrangente em virtude dos acréscimos anteriores. Além disto, estas decisões insistirão mais em estratégias, visando aos modos de ser e de se comportar que aumentem a qualidade do serviço, dentro do padrão estabelecido. Pode contar com mais mudanças, algumas estruturais, que são geradas pela modificação do padrão referencial estabelecido. Interessantes esses exemplos, concorda? Podemos perceber o quão importante foi realizar um planejamento para cada um dos casos descritos pelo autor. Para enriquecer nossa reflexão, vou te contar uma experiência pessoal e os passos que desenvolvi quando planejei para fazer um intercâmbio na França em 2018. Figura 14: Estudar na França Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/diannehope/03/l/142603491524xz9.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018. https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/diannehope/03/l/142603491524xz9.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/diannehope/03/l/142603491524xz9.jpg 33 Como eu estava estudando Letras (Português e Francês) na Universidade de São Paulo, vi uma oportunidade de aperfeiçoar meus conhecimentos na língua francesa e, nada melhor do que viver por um tempo onde se fala essa língua. Havia outras opções de lugar, já que se fala francês em diversos países, mas escolhi a França, mais especificamente a cidade de Lyon, que é grande, mas não tanto quanto Paris, por exemplo. Figura 15: Université Lumière Lyon 2 Arquivo pessoal da autora. 02 jan. 2018. O primeiro passo foi me inscrever num edital do convênio entre minha universidade e a universidade estrangeira. Concorri a uma vaga para a Université Lumière Lyon 2. Separei os documentos e os encaminhei para participar da seleção. Após ter sido aprovada e conquistado a vaga, inscrevi-me em outro edital, dessa vez para tentar uma bolsa de estudos. Após ter sido classificada, recebi o aviso de que a bolsa seria minha! Quase não coube em mim de tanta alegria! A partir desse momento, comecei a verificar como estaria o clima na cidade para poder escolher que roupas levar. Também pesquisei nos sites das empresas aéreas quando seria mais barato comprar minhas passagens e enviei um pedido de moradia ao Crous de Lyon (Les Œuvres Universitaires et 34 Scolaires), que é um serviço do Estado, tutelado pelo Ministère de l’Enseignement Supérieur, de la Recherche et de l’Innovation, que tem a missão de ajudar estudantes estrangeiros a viver na cidade oferecendo moradia. Figura 16: 2018 Disponível em: <https://www.istockphoto.com/br/foto/2018-escritos-com-carimbos-de- passaporte-em-fundo-branco-gm871195612-145241219>. Acesso em: 25 out. 2018. Fiquei muito ansiosa até que a resposta viesse, pois, minha bolsa era em reais e lá a moeda é o euro, que tem um valor muito maior que o do dinheiro brasileiro… Também precisei esperar pela carta de aceite da universidade francesa paradar entrada no visto francês. Passaporte válido, malas prontas, um lugar para morar pelos setes meses em que vivi em Lyon, a vaga na universidade e a bolsa para custear minha estadia. Metade do caminho já estava vencida! https://www.istockphoto.com/br/foto/2018-escritos-com-carimbos-de-passaporte-em-fundo-branco-gm871195612-145241219 https://www.istockphoto.com/br/foto/2018-escritos-com-carimbos-de-passaporte-em-fundo-branco-gm871195612-145241219 35 Figura 17: Vista da cidade de Lyon, França Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/k/karpati/preview/fldr_2010_01_25/file81512 64442525.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018. Deixei uma procuração dando plenos poderes a uma pessoa de minha confiança aqui no Brasil, pois pensei que, se acontecesse qualquer coisa, ela poderia resolver para mim, já que seria impossível viajar da França para assinar um documento aqui no Brasil antes do fim dos sete meses, por exemplo. Figura 18: Procuração Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/j/jppi/preview/fldr_2008_11_17/file00018494 87704.jpg>. Acesso em: 01 nov. 2018. https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/k/karpati/preview/fldr_2010_01_25/file8151264442525.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/k/karpati/preview/fldr_2010_01_25/file8151264442525.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/k/karpati/preview/fldr_2010_01_25/file8151264442525.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/j/jppi/preview/fldr_2008_11_17/file0001849487704.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/j/jppi/preview/fldr_2008_11_17/file0001849487704.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/j/jppi/preview/fldr_2008_11_17/file0001849487704.jpg 36 Esses foram alguns dos meus passos até chegar lá. Veja que pensei no que seria necessário para realizar esse sonho de estudar fora. Assim, pude viajar com tranquilidade! Você percebeu como planejar, ou seja, me preparar com antecedência foi fundamental para conseguir chegar até lá? Claro que você tem vários exemplos para contar de como conquistou um objetivo. Você projetou o futuro, você se organizou de forma a obter sucesso em seu plano. Como professor, não é diferente. Após conhecer os exemplos acima sobre planejamento, escreva um objetivo que você tem, mas ainda não conquistou. Pense no que você precisa fazer para atingir esse objetivo. Formule estratégias para conseguir realizá-lo. Feito isso, você terá construído um planejamento. Agora, é começar a correr atrás do que você planejou e obter sucesso! Boa sorte! _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 37 O trabalho docente envolve grande complexidade e deve ser consciente e sistematicamente objeto de reflexão. Precisa ser originário de um planejamento bem feito, que considere para quem ele será destinado. O que quero dizer com isso? Planejar é fundamental na ação educativa. Não podemos, como disse SCHMITZ (2000) na epígrafe, improvisar a educação, caso contrário não obteremos sucesso, será tempo perdido (nosso e de nossos alunos) e isto pode ter consequências desastrosas, inclusive o abandono da escola ou universidade. Para ir adiante, a partir dessa reflexão que estamos fazendo, vamos definir o planejamento. Figura 19: Reflexão para planejar Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/l/lauramusikanski/07/p/6018e4e081406715a 33da4b96a07496f.jpg>. Acesso em: 01 nov. 2018. Vou apresentar definições de cinco conceituados estudiosos da educação: 1) Haydt (2006, p. 45): Planejar é analisar uma dada realidade, refletindo sobre as condições existentes, e prever as formas alternativas de ação para superar as dificuldades ou alcançar os objetivos desejados (grifos nossos). 2) Menegolla e Sant’anna (2001, p. 40): Planejamento é um instrumento direcional de todo o processo educacional, pois estabelece e determina as grandes urgências, indica as prioridades básicas, ordena e determina todos os recursos e meios https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/l/lauramusikanski/07/p/6018e4e081406715a33da4b96a07496f.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/l/lauramusikanski/07/p/6018e4e081406715a33da4b96a07496f.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/l/lauramusikanski/07/p/6018e4e081406715a33da4b96a07496f.jpg 38 necessários para a consecução de grandes finalidades, metas e objetivos da educação (grifos nossos). 3) Turra et al. (1995, pp. 15-16): O planejamento é um processo de tomada de decisões com objetivo de racionalização das atividades do professor e do aluno, na situação de ensino e de aprendizagem. (…) “todo planejamento deve se voltar na sua consecução física ou seja, através de um plano projetado para existir e ser avaliado e reavaliado sempre que necessário buscando compartilhar os ideais com a comunidade, registrando momentos e épocas, repensando os fatos registrados em determinada sociedade; o qual deve refletir a política educacional de um povo, inserido no contexto histórico, que é desenvolvida a longo, médio ou curto prazo” (grifos nossos). 4) Libâneo (2013, p. 36): O planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. (…) é uma atividade de reflexão acerca das nossas opções e ações; se não pensarmos didaticamente sobre o rumo que devemos dar ao nosso trabalho, ficaremos entregues aos rumos estabelecidos pelos interesses dominantes da sociedade. (grifos nossos) 5) Masetto (1996, p. 59): Planejar é um ato intencional onde cada orientador ou facilitador organiza-se para o período que vai se juntar a vários participantes que também buscam atividades intencionais particulares. É organizar ações para a realização de tarefas agradáveis e muitas vezes em comum, com alvos traçados e retraçados até que se chegue ao resultado esperado (grifos nossos). O que essas definições têm em comum? Vamos listar as partes importantes: 1) Analisar uma dada realidade e alcançar os objetivos; 2) Instrumento direcional que determina as grandes urgências e todos os recursos e meios; 3) Processo de tomada de decisões através de um plano projetado para existir e ser avaliado e reavaliado para refletir a política educacional; 4) Processo de racionalização; 5) Ato intencional para organizar ações com alvos traçados e retraçados. Percebeu que essas definições se complementam? Todas falam sobre a intencionalidade e consciência necessárias ao ato de planejar para a consecução de objetivos e para isso consideram recursos para quem está se planejando dentro de sua realidade. 39 Ainda, há a menção de avaliar e reavaliar sempre que houver necessidade de mudanças para atingir aqueles objetivos pensados inicialmente. Figura 20: Avaliação Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/node/1123167?id=118834>. Acesso em: 02 nov. 2018. Então… planejamento é isso: pensar sobre a realidade que vivenciamos, buscar as melhores formas de atingir objetivos que oplanejador julgar pertinentes para que o aluno aprenda sempre. PLANEJAMENTO ELABORAR EXECUTAR AVALIAR Vale ressaltar que um planejamento não está acabado, ou seja, ele é passível de alterações a todo tempo, de acordo com o grupo para o qual foi realizado e as condições que se apresentarem. Das práticas pedagógicas, portanto, deve fazer parte o ato de planejar. Mais ainda, toda prática deve iniciar com o planejamento! Concorda? 40 A ação docente não é só o que se faz em sala de aula. Essa ação só poderá ocorrer após a reflexão sobre todos os seus elementos e componentes e, claro, não podemos deixar de mencionar que ela não é apenas uma ação burocrática, mas vem sim, carregada de intencionalidade e ideologia para que se obtenha sucesso no espaço universitário. O que vai pautar sua execução precisa ser pensado - e repensado a todo tempo. Planejar é uma estratégia educacional que visa à promoção e ao desenvolvimento da aprendizagem. Dito isso, te convido a conhecer os tipos de planejamento. 2.2 Tipos de planejamento Já entendemos que o planejamento é uma atividade intencional, ideológica, reflexiva e articulada, certo? Também já entendemos que, se for realizada após muita reflexão, permitirá um ensino crítico e significativo, no qual os alunos em parceria com o docente vão construir conhecimento enquanto interagem. Você não pode deixar de ler “Por que planejar? Como planejar? Currículo - Área – Aula”. É um livro simples e que vai direto ao ponto. Segundo os autores, a educação, o ensino e toda a ação pedagógica devem ser pensados e planejados de modo que possam propiciar melhores condições de vida à pessoa. Concordamos que o planejamento é um procedimento fundamental tanto para o professor como para o aluno, certo? Então, é esse o tema que perpassa toda a discussão dos autores, ou seja, de que a educação, o ensino e toda a ação pedagógica devem ser pensados e planejados de modo que possam propiciar melhores condições de vida às pessoas, cabendo à escola e aos professores, portanto, o dever (e a obrigação!) de planejar a sua ação educativa. MENEGOLLA M. e SANT’ANNA, I. M. Por que planejar? Como planejar? Currículo - Área – Aula. Petrópolis: Vozes, 2014. 41 Figura 21: Planejando Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/Dia2018/11/p/4dda95682513fcb030312a6 c7a201ed2.jpg>. Acesso em: 15 out. 2018. É importante lembrar que o planejamento pressupõe definir objetivos – direcionados aos conteúdos que serão ensinados – assim como terá o intuito de promover o desenvolvimento e o aprimoramento das habilidades e competências necessárias para o uso crítico no contexto social em que ambos estiverem inseridos. Ah… após ler esse trecho você percebeu que é preciso construir práticas de planejamento efetivas para que possamos obter sucesso, não é mesmo? Vivemos numa sociedade em constante mudança, na qual os desafios e exigências são como barreiras a serem vencidas constantemente, então, cabe ao professor atuante nas universidades usar esse espaço acadêmico como lócus de práticas capazes de sustentar a realidade do mundo moderno, mundo esse que vem exigindo, cada vez mais, uma formação ética, crítica e reflexiva. Como fazemos isso? Lançando mão de planejamento que se divide em tipos. Vamos conhecê-los a seguir: a) Planejamento educacional – também denominado planejamento do Sistema de educação, “é o de maior abrangência, correspondendo ao planejamento que é feito em nível nacional, estadual ou municipal. Incorpora e reflete as grandes políticas educacionais” (VASCONCELLOS, 2012, p. 95). b) Planejamento escolar – atividade que envolve o processo de reflexão, de decisões sobre a organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da instituição. “É um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social” (LIBÂNEO, 2013, p. 21). https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/Dia2018/11/p/4dda95682513fcb030312a6c7a201ed2.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/Dia2018/11/p/4dda95682513fcb030312a6c7a201ed2.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/Dia2018/11/p/4dda95682513fcb030312a6c7a201ed2.jpg 42 c) Planejamento curricular – é o “processo de tomada de decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É previsão sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno. Portanto, essa modalidade de planejar constitui um instrumento que orienta a ação educativa na escola, pois a preocupação é com a proposta geral das experiências de aprendizagem que a escola deve oferecer ao estudante, através dos diversos componentes curriculares” (VASCONCELLOS, 2012, p. 56). d) Planejamento de ensino – é o “processo de decisão sobre a atuação concreta dos professores no cotidiano de seu trabalho pedagógico, envolvendo as ações e situações em constantes interações entre professor e alunos e entre os próprios alunos” (PADILHA, 2017, p. 38). DIVISÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO PRINCIPAIS MODALIDADES 1) Educação Básica: caráter obrigatório, é dever dos pais ou responsáveis que as crianças e adolescentes concluam a educação básica, assim como é dever do Estado oferecer essa educação. Ela é constituída pelas seguintes modalidades: a) Educação Infantil: duração de 4 anos, com alunos de 0 a 3 anos; b) Pré-escola: duração de 3 anos, com alunos de 4 a 6 anos; c) Ensino Fundamental: duração de 9 anos, com alunos de 6 a 14 anos; d) Ensino Médio: duração de 3 anos, com alunos de 15 a 17 anos; e) Ensino Médio Técnico: escolas podem oferecer cursos técnicos em períodos contraturnos – que são os períodos extraclasse – para seus alunos. A duração é variável, podendo ser de 1 a 3 anos. f) Educação de Jovens e Adultos (EJA): atende a indivíduos que não tiveram a oportunidade de cursar o Ensino Fundamental ou Médio na idade prevista. Os módulos são de 6 meses cada e equivalem aos anos do ensino regular. Todos os estados têm autonomia para elaborar seus métodos de ensino e gerir as escolas. g) Educação no Campo: existem escolas adaptadas às peculiaridades da vida rural e de cada região, contendo seus próprios currículos, métodos didáticos e calendário escolar. h) Educação Especial: modalidade “para educandos portadores de necessidades especiais”, são escolas que possuem adaptações físicas e de materiais escolares que facilitem o ensino a indivíduos com algum tipo de deficiência, seja ela física ou mental. 2) Educação Superior: graduação, pós-graduação (mestrado, doutorado e pós-doutorado) e ensino a distância (EaD) nas universidades. Nessa modalidade se encaixam alunos e alunas que concluíram o Ensino Médio. Os cursos de nível superior são opcionais. Isso significa que o Estado não é obrigado a garantir que todos os cidadãos cursem essa modalidade, porém ele precisa garantir – segundo a Constituição – o acesso público e gratuito a ela. Fonte: <https://www.politize.com.br/sistema-educacional-brasileiro-divisao/>. Acesso em: 03 nov. 2018. 43 Para elaborar um bom plano de ensino, Larchert (s.d., pp. 61-62) nos dá alguns conselhos: • Conhecer em profundidade os conceitos centrais e leis gerais da disciplina, conteúdos básicos, bem como dos seus procedimentos investigativos (e como surgiram historicamente na atividade científica). • Saber avançar das leis gerais para a realidade concreta, entender a complexidade do conhecimento para poder orientar a aprendizagem. • Escolher exemplos concretos e atividades práticas que demonstrem os conceitos e leis gerais, os conteúdos e os assuntos de maneira que todos os entendam. • Iniciar o ensino do assunto pela realidade concreta (objetos, fenômenos, visitas, filmes), para que os alunos formulem relações entre conceitos, ideias- chave, das leis particularesàs leis gerais, para chegar aos conceitos científicos mais complexos. • Saber criar problemas e saber orientá-los (situações de aprendizagem mais complexas, com maior grau de incerteza que propiciam em maior medida a iniciativa e a criatividade do aluno). É importante que o professor conheça todos esses tipos e participe de sua execução. De acordo com Padilha (2001, p. 24), o plano será a “apresentação sistematizada e justificada das decisões tomadas relativas à ação a realizar”. Além de ser o produto do planejamento, também será um guia para orientar a prática pedagógica. Todo planejamento resultará em um plano. Plano é o documento a ser construído após todas as reflexões, será um registro das decisões – o que se pensa fazer (objetivos), como fazer (estratégias), quando fazer (cronograma), com que fazer (recursos), com quem fazer (grupo para o qual se planeja). 44 PARA QUE? OBJETIVO O QUE? CONTEÚDO COMO? METODOLOGIA COM O QUE? RECURSOS RESULTADO AVALIAÇÃO Atenção! Um planejamento que envolva contextos educativos não pode ser autoritário, construído simplesmente para cumprir com a burocracia. Ele precisa ser colaborativo, participativo, no qual todos os envolvidos, especialmente seus pares, contribuam com suas ideias e experiências para ser realizado. Vamos passar para as etapas e elementos do planejamento. Figura 22: Etapas para chegar ao planejamento Disponível em: <https://thumbs.dreamstime.com/m/tie-knot-gay-marriage-coarse-rope-colors- homosexual-flag-tied-middle-isolated-background-35540805.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018. 2.3 Etapas e elementos do planejamento Todo educador, ao planejar o ensino, faz uma antecipação organizada e sistemática das etapas de seu trabalho. Cuidadosamente, identifica os objetivos que tem intenção de atingir, indica quais serão os conteúdos com os quais vai trabalhar, seleciona os melhores procedimentos e estratégias para sua ação e prevê os instrumentos para avaliar o progresso de seus alunos. Para isso precisa seguir alguns passos, o que facilita sua vida. Você sabe que passos são esses? https://thumbs.dreamstime.com/m/tie-knot-gay-marriage-coarse-rope-colors-homosexual-flag-tied-middle-isolated-background-35540805.jpg https://thumbs.dreamstime.com/m/tie-knot-gay-marriage-coarse-rope-colors-homosexual-flag-tied-middle-isolated-background-35540805.jpg 45 Figura 23: Elaboração do plano Disponível em: <https://www.istockphoto.com/br/foto/papel-de-fazer-a-l%C3%A2mpada-para-o- conceito-de-energia-de-poder-de-ideia-sobre-fundo-gm1018306404-273760442>. Acesso em: 30 out. 2018. Vou me basear em Piletti (2004) para explicar. De acordo com ele, são quatro as etapas do planejamento de ensino: 1) Conhecimento da realidade: momento em que procuramos saber quais são as aspirações, frustrações, necessidades e possibilidades dos alunos. É a sondagem, ou seja, busca de dados sobre a realidade; 2) Elaboração do plano: momento para determinar os objetivos, selecionar e organizar os conteúdos, procedimentos de ensino, recursos, procedimentos de avaliação e estruturar o plano de ensino; 3) Execução do plano: é o desenvolvimento das atividades previstas; 4) Avaliação e aperfeiçoamento do plano: além de avaliar os resultados obtidos com a ação docente, avaliamos a qualidade do plano elaborado e nossa eficiência como professores. É importante não esquecer que no momento da execução há a possibilidade de lidar com o elemento “surpresa”, algo que não estava previsto. Por essa razão, a principal característica de todo planejamento precisa ser a “flexibilidade”. https://www.istockphoto.com/br/foto/papel-de-fazer-a-l%C3%A2mpada-para-o-conceito-de-energia-de-poder-de-ideia-sobre-fundo-gm1018306404-273760442 https://www.istockphoto.com/br/foto/papel-de-fazer-a-l%C3%A2mpada-para-o-conceito-de-energia-de-poder-de-ideia-sobre-fundo-gm1018306404-273760442 46 Cumprindo essas etapas, a chance de sucesso é enorme. Ressalto que todo planejamento de ensino tem seus componentes. Peço novamente auxílio ao professor Piletti (2004) para explicá-los. Vejamos: Figura 24: Objetivos Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/b/bobby/preview/fldr_2004_02_13/file00079 1465857.jpg>. Acesso em: 30 out. 2018. 1) Objetivos: é a descrição clara do que se pretende alcançar como resultado da atividade. Dividem-se em: – Objetivos gerais: são as metas e os valores que procuramos atingir; – Objetivos específicos: são proposições mais específicas, referentes às mudanças comportamentais esperadas para um determinado grupo. 2) Conteúdo: é a organização do conhecimento em si. 3) Procedimentos: são ações, processos ou comportamentos planejados pelo professor para colocar o aluno em contato direto com o conhecimento. 4) Técnicas: modos particulares de provocar a atividade dos alunos no processo de aprendizagem. https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/b/bobby/preview/fldr_2004_02_13/file000791465857.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/b/bobby/preview/fldr_2004_02_13/file000791465857.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/b/bobby/preview/fldr_2004_02_13/file000791465857.jpg 47 5) Recursos: são os componentes do ambiente de aprendizagem que dão origem à estimulação para o aluno; podem ser humanos ou materiais. 6) Avaliação: é o processo pelo qual se determinam o grau e a quantidade de resultados alcançados em relação aos objetivos. Figura 25: Procedimentos Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/h/hilarycl/08/l/1408198590f2ws1.jpg>. Acesso em: 01 nov. 2018. Leia o texto abaixo e procure identificar o problema de Pedro e Antonio e as etapas e elementos do planejamento que eles realizaram para resolvê-lo: Tinha chovido muito toda noite. Havia enormes poças de água nas partes mais baixas do terreno. Em certos lugares, a terra, de tão molhada, tinha virado lama. Às vezes os pés apenas escorregavam nela, às vezes, mais do que escorregar, os pés se atolavam na lama até acima dos tornozelos. Era difícil andar. Pedro e Antonio estavam a transportar, numa camioneta, cestos cheios de cacau para o sítio onde deveriam secar. Em certa altura perceberam que a camioneta não atravessaria o atoleiro que tinham pela frente. Pararam, desceram da camioneta, olharam o atoleiro, que era um problema para eles. Atravessaram a pé uns dois metros de lama, defendidos pelas suas botas de cano longo. Sentiram a espessura do lamaçal. Pensaram, discutiram como resolver o problema. Depois, com a ajuda de algumas pedras e de galhos secos https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/h/hilarycl/08/l/1408198590f2ws1.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/h/hilarycl/08/l/1408198590f2ws1.jpg 48 de árvores, deram ao terreno a consistência mínima para que as rodas da camioneta passassem sem atolar. Pedro e Antonio estudaram. Procuraram compreender o problema que tinham de resolver e, em seguida, encontraram uma resposta precisa. Não se estuda apenas nas escolas, Pedro e Antonio estudaram enquanto trabalhavam. Fonte: LEITE, L. C. L. Encontro com Paulo Freire. Revista Educação e Sociedade. São Paulo, maio 1979, pp. 68-69. Relacione o texto às etapas do planejamento, segundo Piletti (2004) e veja se Pedro e Antonio realizaram corretamente o planejamento. Se você encontrar alguma falha, aponte-a e dê sua sugestão. _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Sei que você realizou a atividade corretamente. Você percebeu que “estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema” (LEITE, 1979, p. 69) e aplicou o que acabamos de estudar, não é? Parabéns! Para finalizar, veja este esquema: 49 Fonte: TURRA et al., 1995, p. 26. Faça uma simulação. A seguir, você vai encontrar o mesmo esquema. Sua tarefa é preencher os quadros com as ações que você pensou em desenvolver para cada uma das etapas, tal como no esquema que já está preenchido, só que agora você vai colocar os passos a partir de um determinado conteúdo que pretende trabalhar. Bom trabalho! Bom, acredito que essa discussão foi interessante e te deu pistas de como refletir acerca desse tema. Vamos continuar a reflexão nas próximas unidades! 50 Chegamos ao final dessa segunda unidade. Aqui você estudou sobre o planejamento educacional. Nós definimos o que é planejamento, seus tipos, etapas e elementos. Espero que você tenha aprendido bastante e esteja motivado(a) a ir adiante. É importante ressaltar que todo planejamento é intencional e, como os processos de ensino e aprendizagem, precisa ser sistemático, há etapas a seguir para que a ação docente resulte em sucesso. Afinal, desejamos o melhor para nossos alunos, não é mesmo? Partimos agora para a próxima unidade para continuar aprendendo. Bom estudo! 51 UNIDADE 3 3. AVALIAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR Nesta unidade, a intenção principal é estudar sobre avaliação, tema que sempre provoca polêmica, e discuti-lo é de extrema importância para todo professor. Vamos, também, analisar instrumentos de avaliação e pensar em como podemos realizar uma avaliação que efetivamente busque a melhoria dos processos de ensinar e aprender. Preparado(a)? Então, mãos à obra! 3.1 Conceitos e concepções sobre avaliação A avaliação escolar é o termômetro que permite confirmar o estado em que se encontram os elementos envolvidos no contexto. Ela tem um papel altamente significativo na educação, tanto que nos arriscamos a dizer que a avaliação é a alma do processo educacional (SANT'ANNA, 1995, p. 7). Nas unidades anteriores, estudamos a importância do planejamento para a prática pedagógica. Agora, vamos discutir o outro eixo dessa prática, que é a avaliação. Os dois são fundamentais ao trabalho docente de boa qualidade. Ambos são, na verdade, as peças-chave para a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem e definidores da qualidade do ensino de uma maneira geral e que vão culminar na aula ministrada pelo professor. Assim, uma aula bem planejada também precisa ser avaliada. Salienta Hoffmann (2008, p. 17) que a avaliação é: […] uma ação ampla que abrange o cotidiano do fazer pedagógico e cuja energia faz pulsar o planejamento, a proposta pedagógica e a relação entre todos os elementos da ação educativa. Basta pensar que avaliar é agir com base na compreensão do outro, para se entender que ela nutre de forma vigorosa todo o trabalho educativo. Conteúdos trabalhados na unidade: Conceitos e concepções sobre avaliação; Instrumentos de avaliação. 52 Diante disso, como já vimos, o trabalho docente é uma atividade complexa que deve ser consciente e sistemática, pois em seu centro está a aprendizagem do aluno. Em nosso sistema de ensino ainda encontramos instituições que consideram a avaliação como medida do que o aluno aprendeu, ou seja, a quantidade de informações absorvidas pelo estudante é o que conta, suas notas o definem como bom, regular ou mau aluno, como alguém que apreendeu os conteúdos ou não. Está tudo errado! Figura 26: Somos números Disponível em: <https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/DodgertonSkillhause/03/l/1426869530b31 6l.jpg>. Acesso em: 27 out. 2018. Já somos números em tudo – registro de identidade, de motorista, de matrícula etc. Na escola e universidade recebemos essa mesma quantidade de pontos a partir da visão de quem nos avalia, considerando não quem somos e nossas capacidades e histórias, mas a expectativa que tem sobre os instrumentos aplicados. Diante desse contexto, o que importa, então, é a nota. Isso não é avaliar. É medir, concorda? https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/DodgertonSkillhause/03/l/1426869530b316l.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/DodgertonSkillhause/03/l/1426869530b316l.jpg https://cdn.morguefile.com/imageData/public/files/d/DodgertonSkillhause/03/l/1426869530b316l.jpg 53 Você conhece a fábula “A escola dos bichos”, de R. H. Reeves? Vamos ler? Figura 27: Fábula “A escola dos bichos” Fonte: Foto da autora. 02 nov. 2018. Medida não é a mesma coisa que avaliação. Medida (mensuração): o professor atribui um número (de 0 a 10, normalmente) a cada aluno; é a nota que o aluno obtém num teste, por exemplo; são considerados apenas erros e acertos para as questões, ou seja, o desempenho do aluno a partir de uma escala de valor. Avaliação: o professor faz um juízo de valor, de qualidade sobre dados relevantes para uma tomada de decisão; o processo é mais importante que o resultado final. 54 Era uma vez um grupo de animais que quis fazer alguma coisa para resolver os problemas do mundo. Para isto, eles organizaram uma escola. A escola dos bichos estabeleceu um currículo de matérias que incluía correr, subir em árvores, em montanhas, nadar e voar. Para facilitar as coisas, ficou decidido que todos os animais fariam todas as matérias. O pato se deu muito bem em natação; até melhor que o professor! Mas quase não passou de ano na aula de voo, e estava indo muito mal na corrida. Por causa de suas deficiências, ele precisou deixar um pouco de lado a natação e ter aulas extras de corrida. Isto fez com que seus pés de pato ficassem muito doloridos e o pato já não era mais tão bom nadador como antes. Mas estava passando de ano, e este aspecto de sua formação não estava preocupando a ninguém – exceto, claro, ao pato. O coelho era de longe o melhor corredor no princípio, mas começou a ter tremores nas pernas de tanto tentar aprender natação. O esquilo era excelente em subida de árvore, mas enfrentava problemas constantes na aula de voo, porque o professor insistia que ele precisava decolar do solo, e não de cima de um galho alto. Com tanto esforço, ele tinha câimbras constantes, e foi apenas “regular” em alpinismo e fraco em corrida. A águia insistia em causar problemas, por mais que a punissem por desrespeito à autoridade. Nas provas de subida de árvore era invencível, mas insistia sempre em chegar lá da sua maneira… Na natação deixou muito a desejar… Cada criatura tem capacidades e habilidades próprias, coisas que faz
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