Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO TRIÂNGULO MINEIRO – CAMPUS UBERABA MESTRADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS ELAINE ALVES DOS SANTOS IMPLANTAÇÃO DE FERRAMENTAS DE GESTÃO DA QUALIDADE DOS ALIMENTOS EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO INSTITUCIONAL: UM ESTUDO DE CASO. UBERABA - MG 2014 ELAINE ALVES DOS SANTOS Implantação de Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos em uma Unidade de Alimentação e Nutrição Institucional: um estudo de caso. Dissertação apresentada Programa de Pós Graduação Strictu Sensu Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia de Alimentos do Instituto Federal do Triangulo Mineiro – Campus Uberaba, como requisito para a conclusão e obtenção do título de Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Orientador (a) Profª. Dsc. Deborah Santesso Bonnas UBERABA - MG 2014 Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Referência do IFTM – Campus Uberaba-MG Santos, Elaine Alves dos S59i Implantação de ferramentas de gestão da qualidade dos alimentos em uma unidade de alimentação e nutrição institucional: um estudo de caso / Elaine Alves dos Santos – 2014. 161 f.: il Orientadora: Prof. Dra. Deborah Santesso Bonnas Dissertação (Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia de Alimentos) Instituto Federal do Triângulo Mineiro- Campus Uberaba-MG, 2014. 1. Boas práticas de fabricação. 2. Manipuladores. 3. Capacitação. I. Santos, Elaine Alves dos. II. Bonnas,Deborah Santesso. III. Título. CDD 664 Dedico a minha família, pai, mãe, esposo e irmão, meus maiores incentivadores, nunca mediram esforços para me auxiliar e hoje se sentem felizes e orgulhosos por esta conquista. AGRADECIMENTO ESPECIAL Agradeço a meu pai e minha mãe pela educação que me proporcionaram, pela humildade com que me criaram, por acreditarem em meu potencial e pelo apoio incondicional em todos os momentos da minha vida. No cumprimento desta etapa vocês foram mais uma vez incentivadores, com sábias palavras e uma admirável paciência me apoiaram nos momentos que por vezes quis fraquejar. Muito obrigado por serem meus pais. Essa vitória é nossa. Ao meu esposo por ser ouvinte das inquietações, angústias, medos e por me encorajar todas as vezes que me senti desanimada. Agradeço ainda pelo incentivo que me deste durante a realização do mestrado. Ao meu irmão pelo apoio e incentivo a mim reportados. AGRADECIMENTOS A Deus, por me dar força para lutar pelos meus objetivos sempre e iluminar minha caminhada. Ao Instituto Federal do Triangulo Mineiro – Campus Uberaba pela oportunidade de realização do curso. Ao minha orientadora, Profª Dsc. Deborah Santesso Bonnas pela orientação, incentivo, paciência e contribuições acerca desta Dissertação. Ao coordenador do Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Prof. Dsc. Paulo Cezar Bastianello Campagnol, pela disponibilidade e presteza. Aos membros da banca pelas considerações, correções e comentários. Ao Instituto Federal do Triangulo Mineiro - Campus Uberlândia, por ter cedido seus laboratórios para a realização das análises microbiológicas deste estudo. Aos meus familiares em especial ao meu sogro José Antonio Rissato pelo apoio e pelas palavras de incentivo. Ao Profº. Dsc. Rogério de Melo Costa Pinto, pelo auxílio na condução das análises estatísticas. As alunas Vitória Regina Bessa e Loyane Xavier pelo auxílio na realização das coletas das amostras e das análises microbiológicas. Enfim, a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a realização desta Dissertação. Muito Obrigado, Que Deus esteja sempre presente amparando e iluminando vossos caminhos. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Perfil higiênico- sanitário geral da UAN antes e após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos.................................................................39 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Fatores que contribuem para a ocorrência de surtos de doenças de origem alimentar....................................................................................................................................22 Tabela 2. Perfil higiênico- sanitário geral da UAN antes e após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos...............................................................161 Tabela 3. Percentual de conformidade e não conformidade da Panificação para cada critério avaliado antes e após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos...................................................................................................................................41 Tabela 4. Percentual de conformidade e não conformidade do Açougue para cada critério avaliado antes e após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos...................................................................................................................................42 Tabela 5. Percentual de conformidade e não conformidade do Refeitório para cada critério avaliado antes e após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos ...................................................................................................................................................42 Tabela 6. Avaliação dos conhecimentos dos manipuladores antes e após o oferecimento do Curso de Capacitação................................................................................................................48 Tabela 7. Notas da avaliação de conhecimento dos manipuladores antes e após o oferecimento do Curso de Capacitação.....................................................................................48 Tabela 8. Avaliação da opinião dos consumidores em relação à qualidade do alimento ofertado antes e após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos...................................................................................................................................50 Tabela 9. Perfil microbiológico dos alimentos segundo cada agente bacteriológico pesquisado.................................................................................................................................52 Tabela 10. Coliformes termotolerantes e Staphylococcus coagulase positiva em equipamentos e utensílios da UAN do IFTM – Campus Uberlândia após implantação das Ferramentas de Gestão da qualidade dos alimentos, 2013.................................................................................55 Tabela 11. Perfil microbiológico das mãos dos manipuladores segundo cada agente bacteriológico pesquisado.........................................................................................................56 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS OMS Organização Mundial de Saúde DTA’s Doenças Transmitidas por alimentos BPF’s Boas Práticas de Fabricação BPA’s Boas Práticas Agrícolas APPCC Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle POPS Procedimentos Operacionais Padronizados UAN Unidade de Alimentação e Nutrição IFTMInstituto Federal do Triangulo Mineiro FAO Organização de Alimentação e Agricultura CAC Comissão do Codex Alimentarius ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento SIF Serviço de Inspeção Federal MS Ministério da Saúde CENEP/FNS Centro Nacional de Epidemiologia da Fundação Nacional de Saúde LOSAN Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional SAN Segurança Alimentar e Nutricional MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome SESAN Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional SVS/MS Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde RDC Resolução da Diretoria Colegiada PCC’s Pontos Críticos de Controle NEPAS Núcleo de Estudos para a Produção de Alimentos Seguros SPSS Statistical Package for Social Sciences GO Goiás BA Bahia DF Distrito Federal RESUMO O presente estudo objetivou elaborar um perfil higiênico-sanitário da Unidade de Alimentação e Nutrição do IFTM - Campus Uberlândia através da avaliação do emprego de Boas Práticas de Fabricação e do grau de satisfação dos consumidores antes e após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos. Foi realizado um estudo descritivo através de inspeção visual, por meio da aplicação de uma lista de verificação das Boas Praticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos estabelecida pela Resolução RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002. O questionário aplicado permitiu expressar o grau de satisfação dos usuários do restaurante em relação à qualidade do alimento, segurança e higiene alimentar antes e após a realização deste estudo na referida UAN. Elaborou-se e propôs-se a implantação de Procedimentos Operacionais Padronizados bem como do Manual de Boas Práticas de Fabricação. Os manipuladores que compõem a equipe de trabalho da UAN foram capacitados através de um curso de 40 horas, oferecido pela equipe do Núcleo de Estudos para a Produção de Alimentos Seguros em parceria com a Secretaria de Vigilância Sanitária do Município de Uberlândia. Para verificar o grau de assimilação dos conteúdos ministrados durante o curso, foi aplicado aos manipuladores, um questionário com dez questões de múltipla escolha no início e ao término do mesmo. A fim de verificar a eficiência da proposta apresentada neste estudo, bem como a qualidade microbiológica dos equipamentos, utensílios, mãos dos manipuladores e dos pratos quentes (arroz, feijão e carne) e frios (saladas cruas de alface, beterraba, cenoura e repolho) foram realizadas avaliações microbiológicas após a implantação das ferramentas de gestão da qualidade. A diferença significativa entre os percentuais de conformidade e não conformidade para os três setores antes e após a aplicação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos foi determinada pelo Teste Binomial (p< 0,05). Antes da implantação das ferramentas a UAN foi classificada no Grupo III “Deficiente” (0 a 50% dos itens atendidos) para os três setores estudados, e após a implantação das ferramentas a UAN foi classificada no Grupo II (51 a 75% dos itens atendidos). Porém esta classificação é considerada regular, evidenciando a necessidade de adequação em relação aos critérios avaliados por meio da lista de verificação. Os conhecimentos dos manipuladores após o oferecimento do Curso de Capacitação pelo Teste de Wilcoxon (p <0,05) foram superiores aos observados antes da capacitação. A opinião dos consumidores apresentou diferença significativa apenas para a qualidade da comida pelo Teste de Mann-Whitney (p <0,05). Para todos os gêneros alimentícios estudados não foi detectada contaminação por Staphylococcus coagulase positiva, Salmonella spp e Clostridium sulfito redutor a 46°C. O grupo Coliformes Termotolerantes foi evidenciado nas saladas cruas de alface, cenoura, beterraba e repolho. Para as amostras de arroz, feijão e carne, a qualidade microbiológica foi satisfatória em relação a todos os micro-organismos pesquisados. Coliformes Termotolerantes e Staphylococcus coagulase positiva não foram detectados nos equipamentos e utensílios estudados. As mãos dos manipuladores apresentaram ausência de Coliformes Termotolerantes e apenas dois manipuladores apresentaram contaminação por Staphylococcus coagulase positiva. A adoção de Ferramentas de Gestão da Qualidade dos Alimentos, especificamente as Boas Práticas de Fabricação constituem os requisitos básicos para a produção de alimentos inócuos à saúde do consumidor. Palavras-chave: Boas Práticas de Fabricação; Capacitação; Manipuladores; Unidade de Alimentação de Nutrição. ABSTRACT The aim of this study was to develop a hygienic-sanitary profile of Food and Nutrition Unit (FNU) of IFTM - Campus Uberlândia by evaluating the use of Good Manufacturing Practices and the degree of consumer satisfaction before and after implementation of the Food Safety Management Tools. A descriptive study was carried by visual inspection, using a checklist of Good Manufacturing Practices at Establishments Food Producers/Industrializers established by Resolution RDC nº 275, of October, 21 th , 2002. The questionnaire allowed to measure the degree of user satisfaction with the restaurant in relation to food quality, food safety and hygiene before and after this study in this FNU. It was elaborated and proposed the implementation of the Standard Operating Procedures and Good Manufacturing Practices Manual. Handlers that compose the team working of FNU were qualified through a course with a workload of 40 hours offered by the Center of Studies for Production of Safe Food in partnership with the Secretariat of Sanitary Surveillance from Uberlândia city. To check the degree of assimilation of the content taught during the course it was applied to handlers, a questionnaire with ten multiple choice questions at the beginning and at the end of it. In order to verify the efficiency of the proposal presented in this study as well as the microbiological quality of the equipment, utensils, and hands of handlers and of the hot dishes (rice, beans and meat) and cold dishes (raw salads of lettuce, beets, carrots and cabbage) microbiological evaluations were carried out after the implementation of Food Safety Management Tools. The significant difference between the percentages of compliance and non-compliance for the three sectors before and after implementation of the Food Safety Management Tools was determined by the Binomial Test (p <0.05). Before the implementation of the tools in FNU, this was classified in Group III "Deficient" (0 to 50% of attended items) for the three sectors studied, and after the implantation was classified in the Group II (51% to 75% of the attended items. However, this classification is considered regular, showing the need to adequacy regarding criteria evaluated by the checklist. The knowledge from handlers after the offering Training Course by the Wilcoxon test (p <0.05) were higher than those observed before the training. The consumer opinion showed a significant difference only for the quality of food by the Mann-Whitney test (p <0.05). For all foodstuffs studied were not detected contamination by coagulase positive Staphylococcus, Salmonella and sulphite reducing Clostridium to 46 ° C. The Thermotolerant Coliform group was evidenced in raw salads of lettuce, carrots, beets and cabbage. For samples of rice, beans and meat, the microbiological quality was satisfactory for all themicroorganisms analyzed. Thermotolerant Coliforms and coagulase positive Staphylococcus were not detected in equipment and utensils analized. The handler´s hands presented absence of Thermotolerant Coliforms and only two handlers (25%) were contaminated by coagulase positive Staphylococcus. The adoption of the Food Safety Management Tools, specifically the Good Manufacturing Practices are the basic requirements for the production of safe food to consumers health. Keywords: Good Manufacturing Practices; Handlers; Capacitation; Food and Nutrition Units. SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO...................................................................................................................15 2 – REVISÃO DE LITERATURA........................................................................................17 2.1 – Segurança Alimentar e qualidade do alimento................................................................17 2.2 - Ocorrência de doenças de origem alimentar.....................................................................21 2.3 - Higiene na manipulação de alimentos..............................................................................23 2.4 - Boas Práticas de Fabricação.............................................................................................25 2.5 - Importância do Treinamento para manipuladores de alimentos.......................................28 2.6 - Qualidade sob a ótica do consumidor...............................................................................30 3 - METODOLOGIA..............................................................................................................32 3.1- Diagnóstico inicial das condições higiênico-sanitárias da UAN.......................................32 3.1.1 - Avaliação da percepção dos consumidores em relação ao estabelecimento antes da implantação das ferramentas de gestão da qualidade dos alimentos........................................33 3.2 – Elaboração e proposta de implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos...................................................................................................................................33 3.2.1 - Capacitação da equipe de colaboradores da UAN em Boas Práticas de Fabricação ...................................................................................................................................................34 3.3 – Diagnóstico das condições higiênico-sanitárias da UAN após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade........................................................................................36 3.3.1 – Avaliações microbiológicas – Amostras e Amostragem..............................................36 3.3.1.1 – Higiene das mãos dos manipuladores........................................................................36 3.3.1.2 – Higiene dos utensílios de cozinha e equipamentos....................................................37 3.3.1.3 – Qualidade microbiológica dos pratos frios prontos para o consumo.........................37 3.3.1.4 – Qualidade microbiológica dos pratos quentes prontos para o consumo....................37 3.4 - Delineamento Estatístico e Análise dos Resultados.........................................................38 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................39 4.1 - Avaliação das condições higiênico-sanitárias da UAN antes e após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade........................................................................................39 4.2 - Avaliação da aquisição de conhecimento dos manipuladores da UAN...........................47 4.3 – Avaliação da opinião dos consumidores acerca da qualidade do alimento ofertado pela UAN..........................................................................................................................................50 4.4 – Avaliação microbiológica após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos Alimentos...........................................................................................................................51 4.4.1 – Qualidade microbiológica dos alimentos......................................................................51 4.4.1.1 - Medidas Corretivas.....................................................................................................53 4.4.2 – Qualidade microbiológica dos equipamentos e utensílios............................................54 4.4.3 – Qualidade microbiológica das mãos dos manipuladores..............................................56 5 – CONCLUSÃO...................................................................................................................58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................59 ANEXO A – LISTA DE VERIFICAÇÃO DE BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO PARA ESTABELECIMENTOS PRODUTORES E INDUSTRIALIZADORES DE ALIMENTOS, RDC N° 275 (BRASIL, 2002).......................................................................70 ANEXO B – CARTILHA SOBRE BOAS PRÁTICAS PARA SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO. RDC n° 216/2004 (BRASIL, 2004 a).....................................................92 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO - AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES EM RELAÇÃO ESTABELECIMENTO..........................................................................................................93 APÊNDICE B – MANUAL DE BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO - UAN IFTM – CAMPUS UBERLÂNDIA......................................................................................................94 APÊNDICE C - APOSTILA EDUCATIVA – TREINAMENTO PARA MANIPULADORES DE ALIMENTOS.............................................................................147 APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO PARA AVALIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS DOS MANIPULADORES....................................................................................................158 APÊNDICE E – ANÁLISES ESTATÍSTICAS..................................................................161 15 1 – INTRODUÇÃO As Doenças Transmitidas por alimentos (DTA’s) encontram-se entre os riscos mais importantes em relação à saúde pública. A contaminação por agentes patogênicos pode ocorrer em qualquer das fases de destinação dos produtos ao consumo ou fazer parte da matéria-prima obtida de maneira insatisfatória do ponto de vista higiênico. De acordo com registros da Organização Mundial de Saúde (OMS), são detectadas anualmente nos países em desenvolvimento mais de um bilhão de casos de diarreia aguda ocasionados pela ingestão de alimentos contaminados em crianças menores de cinco anos, das quais 5 milhões chegam a óbito (GERMANO; GERMANO, 2011). A higiene dos manipuladores de alimentos, do ambiente de trabalho e as etapas de pré- preparo e preparo dos alimentos e o armazenamento destes, são itens imprescindíveis para uma alimentação de boa qualidade uma vez que a maioria das doenças transmitidas por alimentos é de origem microbiológica (BOTELHO e RIVIELLO 2007). Em unidades de alimentação, as enfermidades provocadas por alimentos contaminados tem como causa principal o manipulador de alimentos, que na maioria das vezes, apresenta deficiência de formação. Esse despreparo compromete diretamente a qualidade da refeição a ser preparada (GÓES et al., 2001). É importante conscientizar os responsáveis destas unidades de alimentação e nutrição sobre a necessidade de um controle rigoroso no processamento de alimentos, como a utilização de matérias-primas de boa qualidade, acondicionamento e armazenamento adequado, oferecimento de capacitação aos manipuladores e principalmente o acompanhamento e monitorização da qualidade em todos os elos da cadeia produtiva, para que o alimento ali produzido não prejudique a saúde doscomensais. Entende-se como qualidade em unidades de alimentação e nutrição o fornecimento de alimentos íntegros, livres de contaminantes de origem física, química e biológica, que sejam de boa aceitação sensorial e estejam de acordo com as necessidades nutricionais e expectativas do cliente (SOUSA, 2009). Dentro desse contexto, um dos fatores primordiais para a garantia da qualidade é a inocuidade do alimento. Sistemas de gestão de segurança de alimentos também constituem importantes métodos preventivos empregados na linha de produção, tendo sido aplicados com sucesso em várias indústrias em todo o mundo. Dirigem o planejamento de produtos e processos, projeto 16 e implementação das BPF’s (Boas Práticas de Fabricação), BPA’s (Boas Práticas Agrícolas), APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) e sistemas de garantia de qualidade com o objetivo de atender aos requerimentos de segurança alimentar (FORSYTHE, 2013). Grande parte das doenças de origem alimentar pode ser evitada através da aplicação de Ferramentas de Gestão da Qualidade durante todas as etapas do processo produtivo alimentício. Inclui-se a elaboração e implantação de Manual de Boas Práticas de Fabricação, Procedimentos Operacionais Padronizados (POPS), planilhas de controle de temperatura, de higiene ambiental e de adoção de hábitos higiênicos corretos, podendo incluir ainda instruções de trabalho que padronizem as atividades. As BPF’s são ferramentas que consistem em estabelecer diretrizes que normalizem e definam procedimentos e métodos que direcionem a fabricação de um produto ou a execução de um serviço com vistas a garantir a sanidade deste. A qualidade da matéria-prima, a disposição dos equipamentos e a arquitetura das instalações, as condições higiênicas do ambiente de trabalho, as técnicas de manipulação dos alimentos e a saúde dos colaboradores são fatores importantes na produção de alimentos seguros e de qualidade, devendo, portanto, serem considerados na gestão da qualidade dos alimentos. É imprescindível que os manipuladores de alimentos sejam detentores de conhecimento acerca dos requisitos preconizados pelas Boas Práticas Fabricação com vistas a assegurar à produção de alimentos inócuos a saúde do consumidor. Assim, se faz necessária a participação desse pessoal em programas educativos que esclareçam os riscos que a manipulação incorreta bem como a qualidade higiênico-sanitária deficiente dos utensílios e equipamentos utilizados pode acarretar aos alimentos. Inclui-se neste contexto, a necessidade de os manipuladores adotarem padrões de higiene pessoal adequados para não serem agentes veiculadores de contaminação. De acordo com a problemática exposta o presente estudo teve por objetivo a implantação de Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos na Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) do IFTM - Campus Uberlândia, através da implementação de Boas Práticas de Fabricação (BPF’s), contribuindo assim para a construção de propostas e políticas institucionais de melhoria da qualidade desses alimentos. Foram também objetos dessa proposta a elaboração de um perfil higiênico-sanitário da referida UAN através da avaliação do emprego de Boas Práticas de Fabricação (BPF’s) e do grau de satisfação dos consumidores antes e após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos. 17 2 - REVISÃO DE LITERATURA A fim de possibilitar a coordenação de esforços no âmbito mundial para garantir a inocuidade dos alimentos e, consequentemente, a proteção à saúde dos consumidores, foi criada pela Organização de Alimentação e Agricultura (FAO) e Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1963 a Comissão do Codex Alimentarius (CAC), que tem como objetivo desenvolver a padronização de produtos alimentícios, visando proteger a saúde dos consumidores e assegurar práticas justas no comércio de alimentos. A Comissão do Codex Alimentarius (CAC) é um organismo intergovernamental, da qual participam 185 países membros. Desde 1963 está encarregada de implementar o Programa de Padrões para Alimentos do Comitê Conjunto FAO/OMS (GERMANO; GERMANO, 2011). O Codex Alimentarius, termo latino que significa "Código Alimentar" ou "Legislação Alimentar", é uma coletânea de padrões para alimentos, códigos de práticas e de outras recomendações, apresentadas em formato padronizado. Os padrões, manuais e outras recomendações do Codex têm por objetivo que os produtos alimentícios não representem riscos à saúde do consumidor e possam ser comercializados com segurança entre os países (FAO/WHO, 2014). O Codex Alimentarius tornou-se uma referência mundial para as empresas do setor alimentar que produzem, transformam, armazenam e/ou distribuem gêneros alimentícios, bem como para os organismos de controle e comércio de alimentos (FAO/WHO, 2009). O Brasil é signatário do Codex e tem participação ativa em suas reuniões. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é a representante do Ministério da Saúde junto ao CAC (GERMANO; GERMANO, 2011). Visando melhorar as condições higiênico-sanitárias na preparação de alimentos e adequar as ações da Vigilância Sanitária, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 326 (BRASIL, 1997), definindo as condições técnicas para elaboração do Manual de Boas Práticas. Conjuntamente com as boas práticas, a ANVISA, através da Resolução RDC nº 275 (BRASIL, 2002), define o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados (POPS), aplicados aos estabelecimentos produtores de alimentos nas seguintes situações: higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios; controle da potabilidade da água; higiene e saúde dos manipuladores; manejo dos resíduos; manutenção 18 preventiva e calibração de equipamentos; controle integrado de vetores e pragas urbanas e programa de recolhimento de alimentos. O controle sanitário dos alimentos é exercido no âmbito federal pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), através do Serviço de Inspeção Federal (SIF) e o Ministério da Saúde (MS), através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e do Centro Nacional de Epidemiologia da Fundação Nacional de Saúde (CENEP/FNS). Nos Estados e Municípios, as 27 Secretarias de Agricultura e da Saúde estão encarregadas destas inspeções (BRASIL, 1993, 1997, 1998, 2002). 2.1 – SEGURANÇA ALIMENTAR E QUALIDADE DO ALIMENTO Segurança Alimentar é um conceito construído ao longo das últimas décadas do século XX à medida que o confronto do problema da fome demonstrava a necessidade de ações mais amplas para o enfrentamento desse flagelo da humanidade (ORTEGA; BORGES, 2012). A expressão “segurança alimentar” ganhou proeminência no Pós-Segunda Guerra, particularmente na Europa, ligada à ideia de que, para fazer face ao desabastecimento alimentar que se verificava naquele momento no continente, era preciso aumentar a oferta de alimentos. Essa ampliação da oferta, além de atender às necessidades de sua população, contribuiria para com a balança comercial dos países europeus. Difundiu-se, assim, a chamada Revolução Verde e criou-se um forte aparato de apoio aos agricultores (crédito e assistência técnica) para elevação da produção. A questão da segurança alimentar, naquele momento, estava ligada exclusivamente à capacidade de produção de alimentos dos diversos países (ORTEGA; BORGES, 2012). A persistência da fome levou a discussão sobre a segurança alimentar a novos rumos, pois, ainda que fossem mantidos enormes estoques de alimentos, particularmente nos países desenvolvidos, o problema estava longe de ser resolvido. Assim, o tema da Segurança Alimentar deixou de ser discutido pelaótica estritamente produtiva e agregou a questão da distribuição (ORTEGA; BORGES, 2012). Em 1996, foi realizada a Conferência Mundial da Alimentação. Desse debate originaram- se a Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar Mundial e o Plano de ação da Cúpula Mundial da Alimentação. A partir desta declaração predominou o entendimento que as políticas públicas para segurança alimentar deveriam ser dirigidas a “erradicar a pobreza e a desigualdade, melhorar o acesso físico e econômico de todos e, a todo o momento, a 19 alimentos nutricionalmente adequados e suficientemente seguros, assim como à sua utilização eficiente” (CUMBRE MUNDIAL SOBRE LA ALIMENTACIÓN, 1996). Neste contexto a Organização de Alimentação e Agricultura (FAO) define segurança alimentar (food security) como “a situação na qual toda população tem pleno acesso físico e econômico a alimentos seguros e nutritivos que satisfaçam as suas necessidades e preferências nutricionais, para levar uma vida ativa e saudável” (FAO, 2005). Segundo a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN (Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006) por Segurança Alimentar e Nutricional – SAN, entende-se a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2006). No âmbito de atuação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, compete à Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SESAN planejar, implementar, coordenar, supervisionar e acompanhar programas, projetos e ações de SAN, de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, estabelecidas pelo Decreto nº 7.272/2010 (BRASIL, 2010). As ações da SESAN estão estruturadas em três eixos: 1) Produção; 2) Comercialização e 3) Consumo de alimentos (BRASIL, 2010). As refeições produzidas nas Unidades de Alimentação e Nutrição escolares devem atender às necessidades nutricionais dos alunos, oferecendo-lhes produtos adequados sob os aspectos sensorial e nutricional, mas, sobretudo, produtos seguros quanto à condição higiênico- sanitária para a proteção e promoção da saúde dos beneficiários (CARDOSO et al.,2010). Cabe aqui esclarecer a diferença entre alimento seguro e segurança alimentar. É considerado seguro o alimento que não oferece perigos à saúde do consumidor. Portanto, perigos de origem biológica, química, física ou que interfiram na qualidade do alimento devem ser controlados. Já segurança alimentar é definida como acesso de todas as pessoas a uma alimentação nutricionalmente adequada, suficiente e segura (ASSIS, 2012). Neste sentido, segurança alimentar está mais relacionada com direito social, reconhecido nacional e internacionalmente. Perigo é uma contaminação em nível inaceitável de natureza química, física ou biológica, que varia quanto à severidade e riscos de manifestação nos consumidores (ABNT, 2006). 20 Os perigos químicos (resíduos de defensivos agrícolas e de medicamentos veterinários, etc.) já foram os mais temidos pelos consumidores e os físicos os mais comumente identificados (pêlos, fragmentos de metais, lascas de madeira, etc.). Os perigos biológicos são os mais sérios do ponto de vista de saúde pública, devido a maior dificuldade no seu controle e representam a maioria das ocorrências (FURTINI; ABREU, 2006). Sob a ótica da qualidade, a segurança alimentar significa garantir ao consumidor a aquisição de alimentos com atributos nutricionais e sanitários adequados às suas necessidades. Nessa direção, a expressão implica alimentos de boa qualidade, livres de contaminação de natureza química, biológica ou física, ou de qualquer outra substância que possa acarretar problemas à saúde do consumidor (PESSANHA, 1998). Bobeng e David (1977) definem que a qualidade é uma característica multidimensional do alimento, sendo uma combinação de atributos microbiológicos, nutricionais e sensoriais. O seu controle em todas as etapas do processamento de alimentos tem como objetivo assegurar produção de alimentos seguros, promovendo a saúde do consumidor. Na indústria alimentícia a gestão da qualidade enfoca a aplicação de métodos que visem avaliar a qualidade percebida pelo consumidor e identificar a qualidade que ele espera de um produto, uma vez que propriedades sensoriais, forma de apresentação do produto e ausência de perigos são aspectos priorizados na escolha do alimento (SANTOS; ANTONELLI, 2011). Especificamente na indústria de alimentos, a garantia da qualidade está fortemente associada com a segurança do consumidor e com os riscos de comprometimento da sanidade dos produtos. Representa uma exigência de órgãos reguladores e de fiscalizadores já citados anteriormente no presente estudo. A garantia da segurança alimentar por meio das Boas Práticas de Fabricação (BPF) e do sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) ou norma ISO 22000:2005 são pré-requisitos para se ter um gerenciamento efetivo da qualidade (GRIGG; McALINDEN, 2001). Assim, em Unidades de Alimentação e Nutrição torna-se indispensável à adoção de práticas adequadas para o correto manuseio dos alimentos bem como a existência de manipuladores suficientemente capacitados em higiene alimentar e sistemas que garantam o oferecimento de uma alimentação saudável, que possua qualidade e seja segura do ponto de vista higiênico-sanitário. 21 2.2 - OCORRÊNCIA DE DOENÇAS DE ORIGEM ALIMENTAR A qualidade higiênico-sanitária como fator de segurança alimentar tem sido muito estudada e discutida, uma vez que a incidência de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA’s) vem aumentando em nível mundial (AKTSU et al., 2005). As DTA’s podem ser identificadas quando uma ou mais pessoas apresentam sintomas similares, após a ingestão de alimentos contaminados com micro-organismos patogênicos, suas toxinas, substâncias químicas tóxicas ou objetos lesivos, configurando uma fonte comum. Os sintomas mais comuns incluem dor de estômago, náusea, vômitos, diarreia e, por vezes, febre (SILVA Jr., 2007). As notificações no Brasil mostram claramente a prevalência de agentes bacterianos como principais responsáveis por surtos de DTA’s. De acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) entre 1999 a Agosto de 2008, foram notificados 6.062 surtos de DTA’s, envolvendo 117.330 pessoas acometidas e 64 óbitos. As bactérias foram responsáveis por 84% dos surtos, seguidas pelos vírus (13,16%), substâncias químicas (1,2%) e parasitas (1%), além de um percentual cujos agentes causadores não foram identificados (0,2%) (ASSIS, 2012). Foram notificados 792 surtos no Brasil no ano de 2012. A região Sudeste foi notificada com maior percentual de surtos, 39,8% (BRASIL, 2013). Os agentes etiológicos de toxinfecções alimentares de maior ocorrência no Brasil de 2000 a 2013 segundo a SVS/MS foram a Salmonella spp (39,39%), o Staphylococcus aureus (19,71%), o Bacillus cereus (7,62%) e a E. coli (12,40%). A maior parte das ocorrências (3.409 surtos) foi registrada nas residências das próprias vítimas, enquanto 1.319 surtos foram confirmados em restaurantes, 725 surtos em escolas e 208 em hospitais. Em relação ao alimento causador do surto, 16,49% dos infectados relacionaram-se com ovos crus e mal cozidos; alimentos mistos (31,29%); carne bovina in natura, processados e miúdos (7,06%); doces e sobremesas (9,0%); leite e derivados (6,90%) e água (10,07%) (BRASIL, 2013). No período de 1999 a 2008 no Brasil, constatou-se que os manipuladores infectados ou contaminados tiveram participação muito importante como fatores associados a surtos de DTA’s,estando envolvidos em 55% dos episódios provocados por agentes bacterianos. Em seguida foram apontados os equipamentos contaminados e a contaminação cruzada, ambos responsáveis por 34,6% dos surtos (GERMANO; GERMANO, 2011). 22 Os micro-organismos presentes em alimentos crus podem disseminar-se para outros produtos durante a fase de preparação, propiciando a ocorrência de contaminação cruzada. Esta contaminação ocorre preferencialmente pelas mãos dos manipuladores e dos utensílios de cozinha. Assim, tábuas de corte, facas, cortadores, moedores e recipientes constituem veículos comuns para a transmissão de agentes de DTA’s (GERMANO; GERMANO, 2011). Depreende-se, portanto, que 80% em média dos surtos estão relacionados ao controle de tempo e temperatura envolvendo fatores como: manutenção de alimentos prontos por mais que quatro horas abaixo da temperatura de segurança; refrigeração inadequada devido a grandes porções de alimentos; a deficiência de funcionamento de equipamento de refrigeração e o preparo dos alimentos várias horas antes do consumo (GERMANO; GERMANO, 2011). Os elementos acima apontados por Germano e Germano (2011) estão de acordo com Forsythe (2013), que cita as causas para que os alimentos não sejam seguros e causem DTA’s. Estes fatores estão expressos na Tabela 1: Tabela 1. Fatores que contribuem para a ocorrência de surtos de doenças de origem alimentar. FATORES DE CONTRIBUIÇÃO Percentagem a Fatores relacionados à multiplicação microbiana Estocagem em temperatura ambiente 43 Resfriamento inadequado 32 Preparação do alimento muito distante do local onde será servido 41 Espera em ambiente e temperatura inadequados 12 Utilização de sobras 5 Descongelamento inadequado e estocagem imprópria 4 Produção de alimento em excesso 22 Fatores relacionados à sobrevivência microbiana Aquecimento impróprio 17 Cozimento inadequado 13 Fatores relacionados à contaminação Manipuladores de alimentos 12 Alimentos processados contaminados 19 Alimentos crus contaminados 7 Contaminação cruzada 11 Limpeza inadequada de equipamentos Alimentos enlatados contaminados 7 2 a A percentagem excede o total de 100, uma vez que os fatores que normalmente contribuem para a ocorrência de enfermidades de origem alimentar podem ser múltiplos. Adaptado de World Health Organization, 1999 (FORSYTHE, 2013). 23 Estes fatores podem ser reduzidos de forma considerável através da capacitação da equipe responsável pelo processamento dos alimentos, aliado a implantação de procedimentos adequados e monitorização dos mesmos. Em estudos realizados por Nadvorny, et al. (2004), dos 99 surtos de DTA’s ocorridos no Rio Grande do Sul, 74,7% foram ocasionados por Salmonella spp. Observou-se ainda que a utilização de matéria-prima sem inspeção sanitária e a manipulação incorreta dos alimentos constituíram-se em fatores predisponentes à contaminação dos alimentos em Salmonella spp, em 73% dos surtos investigados. A utilização de águas sem tratamento adequado (1,4%) e presença de manipulador infectado (4,0%) foram fatores que também contribuíram para a ocorrência dos surtos. De acordo com Marques et al. (2007), os manipuladores, seja na indústria ou no comércio de alimentos, são importantes fontes veiculadoras de Staphylococcus aureus pelo fato da grande maioria ser portador assintomático desta bactéria. Seja no preparo, transporte, distribuição ou na comercialização de alimentos, a presença deste micro-organismo é um indicativo de condições higiênico-sanitárias insatisfatórias. Osaili et. al (2013) mediante os conhecimentos de segurança alimentar de manipuladores de alimentos em restaurantes na Jordânia, revelaram que os mesmos possuíam conhecimento geral, relacionado à higiene e sintomas das doenças transmitidas por alimentos. Porém, apresentaram conhecimento deficiente em alguns conceitos importantes, tais como agentes patogênicos com origem nos alimentos, armazenamento, aquecimento e cozimento adequado. Este fato retrata a preocupante realidade acerca do nível de instrução dos colaboradores à segurança alimentar na Jordânia. 2.3 - HIGIENE NA MANIPULAÇÃO DOS ALIMENTOS A palavra higiene é derivada do grego, do nome da deusa grega da saúde, Hygeia. Atualmente, higiene é o termo usado para se referir às práticas que tendem a preservar e a melhorar a saúde (JUMAA, 2005). Na área de alimentos, higiene se traduz como o conjunto de medidas a serem adotadas com objetivo de garantir a segurança dos alimentos, de forma a que não possam causar danos à saúde do consumidor (MONTES et al., 2009). 24 A higiene dos alimentos compreende todas as medidas necessárias para garantir segurança, salubridade e sanidade do alimento em todos os estágios de seu desenvolvimento, produção até seu consumo final (PARDI et al., 2001). De acordo com Silva Jr. (2007), higienização pode ser definida como qualquer procedimento aplicado ao controle, que elimine ou reduza os perigos microbiológicos até níveis suportáveis, minimizando os riscos de transmissão de agentes patogênicos, causadores de doenças. O controle da higiene de processos e produtos é a principal preocupação do ponto de vista comercial e de saúde pública. Contudo, a intervenção na higiene do processo e dos produtos isoladamente, não resulta em produtos seguros, devido ao fluxo constante de micro- organismos na planta e contaminação cruzada (RODRIGUES, 2005). O controle da contaminação nos equipamentos deve ser realizado não somente após a limpeza, mas sempre que se fizer necessário, a fim de garantir a qualidade do processo de sanitização. Para o monitoramento desse processo é necessário que o profissional seja capaz não somente de detectar contaminações em superfícies consideradas limpas, como também conhecer a importância da desinfecção sobre a sanidade e qualidade do alimento que se processa. As falhas nos procedimentos de higienização de equipamentos e utensílios permitem que os resíduos aderidos aos equipamentos e superfícies se transformem em potencial fonte de contaminação cruzada (FAHEINA Jr et al., 2008). A contaminação do ar, de superfícies e de mãos de manipuladores de alimentos por micro- organismos aeróbios mesófilos pode indicar condições de higiene carentes de melhorias. (SALUSTIANO et al., 2003). Em estudo realizado por Coelho et al. (2010), os resultados observados sugerem que medidas de controle devem ser implementadas nos restaurantes estudados com vistas a melhorar as condições de higiene adotadas na limpeza das superfícies dos equipamentos em questão, diminuindo-se por consequência as contaminações microbiológicas ocasionadas por micro-organismos aeróbios mesófilos. Gomes et al. (2012), avaliaram os aspectos higiênico-sanitários no processo produtivo dos alimentos em escolas públicas do Estado de Goiás, Brasil, e concluíram que o item higiene pessoal foi o que apresentou menor nível de conformidade, sugerindo que as capacitações em BPF realizadas não foram suficientes para sedimentar um conhecimento capaz de influenciar a prática correta do manipulador. 25 Em estudo realizado por Park et al. (2010), o treinamento oferecido, contribuiu para a evolução do nível de conhecimento dos manipuladores em relação à higiene dos alimentos, mas não foi efetivo em relação à adoção de práticas de higiene adequadas. No entanto, considerando o fato de que houve aumento significativo no conhecimento, conclui-se que a prática de treinamento de higiene frequente poderia ser eficaz na melhoria das condições de limpeza, bem como na adoção práticas de higiene adequadas. Para isto, devem ser elaborados programas de treinamentos, potencializando a frequência de oferecimento, proporcionando assim a formação educacional efetiva dos colaboradores em segurança alimentar. A higiene precária é considerada fator preponderante para o desencadeamentode DTA’s. Assim, esta operação merece particular atenção por parte de todos que participam do processo de fabricação de alimentos. 2.4 - BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO DE ALIMENTOS As Boas Práticas de Fabricação (BPF), conhecidas internacionalmente como Good Manufactures Pratices (GMP), são um conjunto de princípios, regras e procedimentos que regem o correto manuseio dos alimentos, abrangendo desde a matéria-prima até o produto final. São normas de procedimentos para atingir um determinado padrão de identidade e qualidade de um produto e/ou serviço na área de alimentos, cuja eficácia e efetividade devem ser avaliadas por meio de inspeção e/ou investigação (SILVA Jr., 2007). As BPF’s integram-se á filosofia do sistema de gestão da qualidade como uma ferramenta que consiste em estabelecer diretrizes que definam procedimentos e métodos que direcionem a fabricação de um produto ou a execução de um serviço. São obrigatórias pela legislação brasileira para todas as indústrias e estabelecimentos produtores de alimentos. Estão pautadas nas Portarias nº. 1428/93, nº. 326/97, e nas Resoluções da Diretoria Colegiada RDC nº. 275/2002 e nº. 216/2004 (BRASIL, 1993; BRASIL, 1997; BRASIL 2002; BRASIL, 2004b). O controle higiênico-sanitário dos alimentos constitui fator primordial para a prevenção das doenças de origem alimentar permitindo prevenir as enfermidades que possam atingir o homem. Assim, a implantação de Boas Práticas de Fabricação se faz necessária para garantir o oferecimento de alimentos seguros à saúde dos consumidores. Uma das ferramentas utilizadas para avaliar a adoção das Boas Práticas é a lista de verificação ou “check list” aplicada aos estabelecimentos produtores e industrializadores de alimentos. Esta lista nos permite fazer uma avaliação preliminar das condições higiênico- 26 sanitárias destes estabelecimentos. O diagnóstico nos permite levantar itens conformes e não conformes e, a partir dos dados coletados, traçar ações corretivas para adequação dos requisitos buscando eliminar ou reduzir riscos físicos, químicos e biológicos, que possam comprometer a qualidade dos alimentos e consequentemente a saúde do consumidor (GENTA et al., 2005). De acordo com os resultados obtidos com a aplicação da lista de verificação, os estabelecimentos são classificados em 03 grupos: GRUPO I - 76 A 100%; GRUPO II - 51 A 75%; GRUPO III - 0 A 50%. Esta classificação está relacionada ao percentual de itens conformes, demonstrando que as instalações em questão atendem ou não à Resolução RDC nº 275, que dispõe sobre o regulamento técnico de procedimentos operacionais padronizados aplicados aos estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos e a lista de verificação das boas praticas de fabricação em estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos (BRASIL, 2002). De acordo com esta legislação a classificação do estabelecimento no Grupo I é considerada “boa”, no Grupo II “regular” e no Grupo III “ruim”. A adoção de Boas Práticas de fabricação nos estabelecimentos produtores de alimentos é ferramenta primordial para a obtenção de produtos inócuos. O programa de qualidade de Boas Práticas de Fabricação prevê a avaliação da estrutura física e do pessoal envolvido no processo produtivo, analisa os procedimentos de higiene do estabelecimento e os cuidados sanitários e determinantes para a qualidade alimentícia. Mais detalhadamente, busca a higienização das edificações, das instalações, equipamentos e utensílios; controla a água utilizada; os vetores transmissíveis de doenças e pragas; higiene e saúde dos manipuladores; manejo de resíduos; e controle e garantia dos alimentos preparados. O Manual de Boas Práticas de Fabricação descreve todas as operações realizadas pelo estabelecimento de maneira minuciosa, com vistas a assegurar a produção de alimentos seguros (BRASIL, 2004b). Os POPS são documentos de registro que devem conter as instruções sequenciais das operações e a frequência de execução, especificando o nome, cargo e função dos responsáveis pelas atividades. Devem ser aprovados, datados e assinados pelo responsável do estabelecimento. Os serviços de alimentação devem implementar POP para os seguintes itens: Higienização de instalações, equipamentos e móveis; Controle integrado de vetores e pragas urbanas; Higienização do reservatório de água e Higiene e saúde dos manipuladores (BRASIL, 2004b). 27 Para garantir a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos são utilizados normalmente recursos como: a elaboração do manual de boas práticas, manipulação e processamento bem como a realização de programas de educação continuada para manipuladores de alimentos (SILVA Jr., 2007). As condutas e critérios descritos no Manual de Boas Práticas e nos POPS configuram os procedimentos básicos que devem ser seguidos para o cumprimento do controle higiênico- sanitário (BRASIL, 2002; SILVA Jr, 2007). A produção de alimentos seguros é prática necessária, em especial nas escolas públicas, espaço que atende uma clientela vulnerável quanto aos aspectos nutricional e socioeconômico, e para a qual, por vezes, esse alimento constitui a única refeição do dia. Portanto, a ocorrência de um surto de DTA nesse ambiente tende a configurar-se como um problema de saúde pública (CHAVES, 2006). Rodrigues e Salay (2012) em estudo sobre desenvolvimento e implementação de práticas de controle de segurança alimentar para fornecedores de vegetais frescos da cidade de Campinas e seus quatro distritos, afirmaram que o volume de refeições produzidas por serviços de alimentação tem vindo a aumentar. No entanto, existem casos de intoxicação alimentar associados a esses estabelecimentos, e eles são por vezes causados pelo consumo de vegetais. Estes autores verificaram que as Boas Práticas de Fabricação são adotadas por 53,8% dos estabelecimentos estudados e, destes, 15,4% também possuem programa de Análise de Perigos Pontos Críticos de Controle. Das empresas que adotam a segurança alimentar, apenas oito (26,7%) promovem a utilização de práticas de controle relacionadas a segurança alimentar para fornecedores de vegetais frescos. Santana et al. (2009), avaliaram a segurança alimentar empregada na elaboração da merenda escolar gratuita em Salvador, Brasil, bem como a adoção de boas práticas de fabricação (BPF’s), a fim de garantir fornecimento de alimentos seguros para os alunos. Os resultados obtidos por estes autores demonstraram que 80% das cantinas estudadas foram classificadas como deficientes em relação às condições higiênico-sanitárias por uma lista de verificação antes da adoção de BPF’s. Amostras de refeições mostraram altas contagens de micro-organismos aeróbios mesófilos, coliformes termotolerantes e Staphylococcus coagulase positiva. Após a adoção das BPF’s, as escolas alcançaram maior pontuação em relação a aplicação da lista de verificação. Em relação as contagens microbiológicas, houve redução da presença de aeróbios mesófilos e coliformes termotolerantes nas refeições. Staphylococcus 28 coagulase positiva não foram isolados. É, portanto, necessário introduzir as BPF’s nas instalações produtoras de alimentos, a fim de garantir refeições seguras para os consumidores. 2.5 - IMPORTÂNCIA DO TREINAMENTO PARA MANIPULADORES DE ALIMENTOS Para Bastos (1999), a diferenciação entre treinamento e outras ações, como educação e desenvolvimento, passaria pela intencionalidade de cada uma. A função de um treinamento seria a de desenvolver um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes para a melhoria de desempenho atual. No mesmo contexto, Pilati e Abbad (2005) definem treinamento como a aquisição sistemática de conhecimentos, habilidades, atitudes, regras e conceitos que resultam em um aumento do desempenho no trabalho. O treinamento caracteriza-se como um conjunto de ações educativas organizadas comuma finalidade especifica: ensinar como fazer e também o porquê do como fazer. A RDC n° 216, de 15 de setembro de 2004 (BRASIL, 2004b) preconiza em seu artigo 4.12.2: “O responsável pelas atividades de manipulação dos alimentos deve ser comprovadamente submetido a curso de capacitação”. A responsabilidade primária pela segurança alimentar encontra-se com aqueles que produzem, processam e comercializam alimentos. É o seu dever garantir que estes sejam seguros. No entanto, muitas empresas negligenciam este aspecto vital, o que pode resultar em danos para a saúde dos consumidores (SLORACH, 2002). Considerando que o problema maior reside naqueles que têm um contato permanente com os alimentos e que estes raramente possuem um conhecimento aprofundado sobre o tema alimentos seguros, torna-se recomendável o oferecimento de treinamento para manipuladores enfocando as Boas Práticas de Fabricação na produção de alimentos. Uma das grandes preocupações com o alimento diz respeito à sua qualidade. Dentre os fatores que podem afetar este aspecto, encontra-se o manipulador de alimentos. Diversos estudos salientam a importância do seu treinamento na prevenção de enfermidades transmitidas por alimentos (EHIRI; MORRIS, 1996; VERGARA; REVUELTA; MAJEM, 2000). Dentre as estratégias estabelecidas pela Food and Agricultural Organization (FAO) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a segurança alimentar, destaca- se a capacitação 29 dos recursos humanos, em especial dos manipuladores de alimentos. Os manipuladores possuem fundamental importância na higiene e sanidade da alimentação servida, visto que a eles cabe o manuseio, tornando-se fonte potencial de contaminação, caso ocorram falhas no processo de preparo (FLENDER; DOLAN; WILLIAMS, 1998; LAGAGGIO; FLORES; SAGABINAZI, 2002). Oliveira et al. (2003) afirmaram que a educação e o treinamento dos manipuladores são as melhores ferramentas para assegurar a qualidade da alimentação. As ferramentas de qualidade contemplam recursos para treinamento como cartilhas, vídeos, entre outros. A apostila é um instrumento útil não apenas para acompanhamento do conteúdo que está sendo ministrado, mas também como referência do assunto tratado para posterior consulta, e ainda como complemento. A apostila pode trazer detalhamento do que foi abordado, permitindo que o treinando complemente as informações. Os autores Muñoz e Camargo (2012), estudaram ações relacionadas à gestão da qualidade sanitária e inocuidade dos alimentos em um restaurante com serviço de bufê e constataram através de um diagnóstico inicial, que os manipuladores de alimentos do restaurante não possuíam conhecimento a respeito do tema Boas Práticas de Fabricação. Este déficit foi corrigido parcialmente através de um plano de formação oferecido aos colaboradores. Porém, os mesmos autores evidenciaram a necessidade de oferta de outros programas de capacitação, com objetivo de suprir as deficiências que por ventura ainda restaram. Para que a unidade de alimentação possa sempre oferecer aos consumidores, alimentos de qualidade higiênico-sanitária sugere-se a intensificação dos treinamentos, a partir de cursos e palestras, para que todos os manipuladores de alimentos possam ter conhecimento dos sistemas de qualidade. Além disso, devem-se fazer periodicamente supervisões, a fim de verificar se o mesmo está sendo rigorosamente seguido (FARIAS et. al, 2011). O desenvolvimento e disponibilização de cursos de formação são cruciais para a aquisição de mudanças de comportamento e melhoraria das habilidades e conhecimentos dos manipuladores de alimentos. No entanto, existem poucos estudos explorando as metodologias utilizadas. Isso destaca a necessidade de realizar uma análise detalhada da metodologia e estratégias adotadas, auxiliando assim a compreensão dos métodos de treinamento utilizados em serviços de alimentação bem como seu impacto sobre o aprendizado relacionado à segurança alimentar (MEDEIROS et al., 2011). É indiscutível que os programas de treinamentos específicos para manipuladores de alimentos sejam o meio mais eficaz para transmitir conhecimento e promover mudança de 30 atitude. Neste contexto, os programas de treinamentos se tornam ferramentas indispensáveis e devem ser oferecidos com periodicidade com objetivo de reciclar os conhecimentos dos manipuladores, promovendo a adoção de práticas seguras visando à elaboração de alimentos que não ofereçam risco à saúde dos consumidores. 2.6 – QUALIDADE SOB A ÓTICA DO CONSUMIDOR Uma das mudanças percebidas no perfil do consumidor é o aumento da procura pelos serviços de alimentação. Essa crescente demanda junto ao maior grau de exigência dos consumidores em busca de qualidade faz com que empresários se aprimorem e busquem diferentes formas de apresentação de seus empreendimentos (CARVALHO, et al., 2012). A qualidade define-se como um conjunto de características inerentes ao produto alimentício, que cria uma expectativa com base em alguns requisitos (ISO 9000, 2000). É importante considerar dois momentos na avaliação da qualidade: no ato da compra e no momento de consumo do produto. Nesta última situação, a qualidade (denominada qualidade experimentada) resulta da avaliação sensorial do produto pelo consumidor (por exemplo, em termos de sabor ou de suculência). Por sua vez, a qualidade esperada define-se como o resultado da impressão visual do produto obtida quando do ato da compra (ACEBRÓN; DOPICO, 2000). Demandas por mais e melhores serviços aumentam o interesse pelos atributos relacionados com a qualidade e a segurança dos alimentos. Novas demandas são ditadas pelos consumidores. Decisões de compra que antes eram baseadas nos aspectos de variedade, conveniência e estabilidade de preço agora envolvem a avaliação da qualidade dos produtos, a nutrição, a segurança do alimento sob o ponto de vista da inocuidade, bem como os aspectos ambientais referentes à produção destes (SPERS, 2003). Este conjunto de atributos de um alimento torna-o preferido na escolha dos consumidores. Contudo, um alimento seguro ou inócuo, se não possuir sabor agradável e não corresponder às expectativas dos consumidores, dificilmente será preferido a outro (FIPA, 2002). Avaliar a demanda do consumidor por atributos relacionados à segurança do alimento é um passo primordial para que sejam formuladas ações que visem à manutenção da satisfação dos consumidores e, sob o enfoque governamental, programas que contribuam para a diminuição dos índices de mortes ocasionadas pela ingestão de alimentos contaminados (ZYLBERSZTAJN; SCARE, 2003). 31 Para que a inocuidade do alimento seja mantida é de primordial importância que os consumidores sejam detentores de práticas de higiene corretas no preparo e manuseio de suas refeições. O consumidor final, quando adquire um gênero alimentício, deve ter a consciência que é o último passo de uma cadeia e como tal, ele deve também estar preparado para cumprir determinados procedimentos (hábitos higiênicos corretos no manuseio dos alimentos) que lhe garantam o consumo de um produto seguro (VEIGA et al., 2009). Uma informação insuficiente do consumidor, e/ou um conhecimento não adequado da higiene alimentar geral, pode levar a uma manipulação errada dos produtos em estados posteriores da cadeia alimentar, aumentando a probabilidade de originar doenças e de tornar os produtos impróprios para consumo, mesmo quando tomadas as medidas de controle de higiene adequadas durante o processo de obtenção dos alimentos (VEIGA et al., 2009). 32 3 – METODOLOGIA O estudo foi realizado na Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - Campus Uberlândia (IFTM), no período de Janeiro de 2013 a Janeiro de 2014, que é composta por três setores (açougue,panificação e refeitório). Alimentam-se nesta Unidade diariamente cerca de 500 pessoas (colaboradores e alunos). Existe nesta instituição alunos em regime de internato que por sua vez alimentam-se quatro vezes por dia na referida UAN. A equipe responsável por produzir as refeições está divida entre colaboradores do quadro efetivo do IFTM – Campus Uberlândia e pertencentes à uma empresa terceirizada prestadora dos serviços. Esta equipe é composta por 18 colaboradores (16 manipuladores, uma nutricionista e um responsável representante da empresa terceirizada). As hortifrutícolas consumidas na referida UAN são provenientes da horta do Instituto, com exceção da batata inglesa, cebola e tomate. Já os alimentos não perecíveis são adquiridos por licitação. 3.1 - DIAGNÓSTICO INICIAL DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DA UAN Com objetivo de diagnosticar as condições higiênico-sanitárias da UAN inicialmente foi aplicada a lista de verificação “Check list” contida na RDC n° 275 de 21 de Outubro de 2002 (BRASIL, 2002) (ANEXO A). A referida lista permitiu avaliar o refeitório de acordo com os seguintes critérios: Edificação e instalações; Equipamentos, utensílios e móveis; Manipuladores; Produção e transporte do alimento; Documentação; Segundo cada critério dos aspectos higiênico-sanitários, o estabelecimento foi classificado em relação ao percentual de conformidades detectadas, baseado na RDC n° 275 (BRASIL, 2002). A referida classificação permitiu classificar a UAN da seguinte maneira: GRUPO I - BOM - 76 A 100% dos itens atendidos; 33 GRUPO II - REGULAR - 51 A 75% dos itens atendidos; GRUPO III - DEFICIENTE - 0 A 50% dos itens atendidos. 3.1.1 - AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DOS CONSUMIDORES EM RELAÇÃO AO ESTABELECIMENTO ANTES E APÓS A IMPLANTAÇÃO DAS FERRAMENTAS DE GESTÃO DA QUALIDADE DOS ALIMENTOS Avaliou-se a opinião dos consumidores da referida unidade de alimentação com base na metodologia descrita por Carvalho et al. (2012), por meio de questionário que permitiu expressar o grau de satisfação dos comensais em relação à qualidade do alimento, segurança e higiene alimentar. As sete questões levantadas foram: qualidade da comida; variedade do cardápio; disposição dos alimentos; limpeza de talheres e bandejas; higiene dos funcionários; limpeza do ambiente (mesas, piso e balcão) e atendimentos dos funcionários. Cada quesito foi julgado como: ótimo; bom; regular ou ruim. Para cada conceito foi atribuída uma nota, sendo ótimo equivalente a quatro, bom equivalente a três, regular equivalente a dois e ruim equivalente a um. Uma amostra de 293 consumidores contribuiu com sua percepção quanto a esses aspectos. O referido questionário (APÊNDICE A) foi aplicado antes da implantação das ferramentas de Gestão da Qualidade e realização do curso de capacitação, objetivando-se o diagnóstico inicial relacionado à qualidade das refeições oferecidas por esta UAN. Após a implantação das ferramentas de Gestão da Qualidade e realização do curso de capacitação o questionário foi novamente aplicado (objetivando-se o diagnóstico final), verificando-se o efeito da proposta apresentada na percepção dos consumidores. 3.2 – ELABORAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DAS FERRAMENTAS DE GESTÃO DA QUALIDADE DOS ALIMENTOS Foram elaborados e implantados Procedimentos Operacionais Padronizados e Manual de Boas Práticas de Fabricação na UAN (APÊNDICE B), baseados na realidade do estabelecimento. Estes documentos estão pautados na RDC n° 275 e RDC n° 216 (BRASIL, 2002 e 2004b). Os POPS elaborados foram os seguintes: 34 Controle Integrado de Pragas; Higienização do reservatório de água; Higiene e saúde dos manipuladores; Higienização das instalações, equipamentos e utensílios. Os respectivos POPS estão incluídos no Manual de Boas Práticas de Fabricação (APÊNDICE I do Manual de BPF’s). Foram elaboradas e implantados formulários para registro de temperatura de alimentos refrigerados e quentes prontos para o consumo, controle de hábitos higiênicos dos manipuladores, controle da higiene ambiental (compreendendo estrutura física, equipamentos e utensílios), controle de sanitização de hortifrutícolas, controle da ocorrência de pragas e facilidades para o cumprimento das BPF’s (APÊNDICE II do Manual de BPF’s). Estes formulários de registro e controle objetivaram a otimização dos procedimentos preconizados pelos POPS e pelo Manual de Boas Práticas de Fabricação. Para facilitar o entendimento e enfatizar a importância da adoção de hábitos higiênicos corretos pelos manipuladores, foram elaboradas instruções de trabalho com o procedimento de lavagem das mãos, lavagem e sanitização das hortifrutícolas e lavagem e sanitização de equipamentos e utensílios (APÊNDICE III do Manual de BPF’s). Foram ainda confeccionados cartazes para sensibilizar os comensais da importância da lavagem das mãos antes das refeições bem como da adoção de hábitos higiênicos corretos (APÊNDICE IV do Manual de BPF’s). 3.2.1 - CAPACITAÇÃO DA EQUIPE DE COLABORADORES DA UAN EM BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO Foi elaborado e oferecido aos manipuladores que compõem a equipe de trabalho da UAN do IFTM - Campus Uberlândia em parceria com a equipe do Núcleo de Estudos para a Produção de Alimentos Seguros – NEPAS e a Secretaria de Vigilância Sanitária do Município de Uberlândia, um curso de Capacitação para Manipuladores de Alimentos com carga horária de 40 horas, totalizando 30 horas teóricas e 10 horas práticas. Este curso é exigido pela RDC n° 216/2004 da ANVISA (BRASIL, 2004b). Foram utilizadas aulas expositivas dialogadas, ilustradas com recursos audiovisuais com auxílio de data show. 35 Foi realizada uma avaliação microbiológica com objetivo de sensibilizar os participantes do curso em relação à ocorrência de contaminação microbiológica. A referida avaliação procedeu-se através do contato direto das mãos dos manipuladores, moedas, cabelo e celular com placas de petri contendo Ágar PCA (Ágar Padrão para contagem). Depois de procedido o contato direto das superfícies em questão com as placas de petri, as mesmas foram incubadas a 37°C por 48 h (SILVA, et. al, 2010). As placas que apresentaram contaminação aparente após o período de incubação foram mostradas aos manipuladores objetivando-se salientar a importância do emprego de hábitos higiênicos corretos na produção de alimentos. Foi elaborada e oferecida uma apostila educativa com os conteúdos essenciais abordados na capacitação (APÊNDICE C). Adotou-se como material de apoio a Cartilha sobre Boas Práticas para serviços de alimentação da RDC n° 216/2004 (BRASIL, 2004a) (ANEXO B). O curso de capacitação bem como os materiais didáticos oferecidos abordaram os seguintes conteúdos formativos: Microbiologia Básica e Micro-organismos patogênicos, benéficos e deteriorantes: Responsável – Fernanda Raghiante; Principais doenças transmitidas por alimentos: Responsável – Fernanda Raghiante; Perigos físicos, Químicos e Biológicos: Responsável – Thiago Taham; Noções de conservação: Responsável – Letícia Vieira Castejon; Manipulação Higiênica dos Alimentos: Responsável – Elaine Alves dos Santos; Introdução as Boas práticas: Responsável – Deborah Santesso Bonnas; Interpretação da RDC 216/04: Responsável – Pedro Alves Martins. Ao final dos conteúdos ministrados durante o curso, os participantes foram divididos em quatro grupos e cada grupo elaborou um Procedimento Operacional Padronizado, como parte das exigências para recebimento dos certificados da capacitação. Nesta etapa todos os professores atuaram em conjunto. Os POPS elaborados foram os seguintes: Controle Integrado de Pragas; Higienização do reservatório de água; Higiene e saúde dos manipuladores; Higienização das instalações, equipamentos e utensílios. 36 Paraverificar o grau de assimilação dos conteúdos ministrados durante o curso, foi aplicado aos manipuladores, antes e após o oferecimento do mesmo, um questionário com dez questões de múltipla escolha (APÊNDICE D) que abordou os principais conceitos enfocados. 3.3 – DIAGNÓSTICO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DA UAN APÓS A IMPLANTAÇÃO DAS FERRAMENTAS DE GESTÃO DA QUALIDADE Foi aplicada novamente a lista de verificação “Check list” contida na RDC n° 275 de 21 de Outubro de 2002 (BRASIL, 2002). Os critérios utilizados para a avaliação foram descritos no item 3.1. Adicionalmente, análises microbiológicas foram realizadas nas refeições, superfícies de equipamentos e utensílios e mãos dos manipuladores, com objetivo de verificar a eficiência da proposta apresentada. 3.3.1 – AVALIAÇÕES MICROBIOLÓGICAS - AMOSTRAS E AMOSTRAGEM As avaliações microbiológicas foram executadas de acordo com metodologia descrita por Silva et al. (2010), no Laboratório de Microbiologia II do IFTM – Campus Uberlândia Foram colhidas assepticamente de maneira aleatória três amostras de 100 gramas de cada um dos gêneros alimentícios, uma por semana, totalizando três semanas de coleta. Cada amostra foi dividida em três porções de 25 gramas, perfazendo três repetições por semana. As análises foram realizadas em triplicata. Dos utensílios foram amostrados 10% dos garfos (n=8), 10% das facas (n=8) e 10% das bandejas (n=10). Correspondendo aos equipamentos foram amostrados o moedor de carnes, o processador de legumes, a masseira da padaria e as mesas do açougue e da padaria. Foram selecionados ainda oito manipuladores para averiguação da higiene das mãos. 3.3.1.1 – HIGIENE DAS MÃOS DOS MANIPULADORES Realizou-se pesquisa de Coliformes Termotolerantes e Staphylococcus coagulase positiva conforme preconizado pela Organização Mundial de Saúde citada por Andrade e Macêdo (1996) e Silva Jr. (2001). As amostras foram colhidas assepticamente através da técnica do esfregaço de superfície utilizando-se “swabs” estéreis mergulhados em solução salina 0,1% (SILVA et al., 2010). 37 3.3.1.2 – HIGIENE DOS UTENSÍLIOS DE COZINHA E EQUIPAMENTOS Realizou-se pesquisa de Coliformes Termotolerantes e Staphylococcus coagulase positiva nas superfícies da mesa da padaria e do açougue, processador de legumes, moedor de carne e masseira da padaria, e bandejas, utilizando-se delimitadores 5x5cm. Os mesmos micro- organismos foram pesquisados nos garfos e facas, conforme preconizado pela APHA (2001) e Organização Mundial de Saúde (OMS), citadas por Silva Jr. (2001). As amostras foram colhidas assepticamente através da técnica do esfregaço de superfície utilizando-se “swabs” estéreis mergulhados em solução salina 0,1% (SILVA et al., 2010). 3.3.1.3 – QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DOS PRATOS FRIOS PRONTOS PARA O CONSUMO Realizou-se pesquisa de Coliformes Termotolerantes e Salmonella sp, conforme preconizado pela RDC nº 12, de 2 de janeiro de 2001, nas saladas de beterraba, cenoura, alface e repolho (BRASIL, 2001). A coleta foi realizada após 30 minutos de exposição destes alimentos na pista fria (Temperatura 7°C). Para isto, as amostras foram colhidas assepticamente utilizando-se sacos estéreis e encaminhadas em caixas isotérmicas ao laboratório (SILVA et al., 2010). 3.3.1.4 – QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DOS PRATOS QUENTES PRONTOS PARA O CONSUMO Realizou-se pesquisa de Coliformes Termotolerantes, Salmonella sp e Staphylococcus coagulase positiva no arroz e no feijão. Na carne de frango realizou-se pesquisa de Coliformes Termotolerantes, Salmonella sp, Staphylococcus coagulase positiva e Clostridium sulfito redutor a 46°C, conforme preconizado pela RDC nº 12, de 2 de janeiro de 2001(BRASIL, 2001). A coleta foi realizada após 30 minutos de exposição dos respectivos alimentos na pista quente (Temperatura 65°C). Para isto, as amostras foram colhidas assepticamente utilizando- se sacos estéreis e encaminhadas ao laboratório em caixas isotérmicas (SILVA et al., 2010). 38 3.4 - DELINEAMENTO ESTATÍSTICO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Os resultados obtidos no presente estudo foram tabulados e comparados por meio de estatística não paramétrica, utilizando os valores obtidos antes e após a implantação das Ferramentas de gestão da qualidade e do oferecimento do curso de capacitação, exceto para as avaliações microbiológicas. Para as respectivas avaliações os dados foram tabulados submetendo-os a estatística descritiva, com cálculo das médias das contagens. Os dados referentes às condições higiênico-sanitárias foram analisados através do Teste Binomial para diferença de proporções (p<0,05) (Tabela 02/Apêndice E). Para a avaliação do conhecimento dos manipuladores de alimentos foi aplicado Teste de Wilcoxon (p<0,05). Para avaliação da opinião dos consumidores acerca da qualidade do alimento ofertado foi aplicado teste de Mann-Whitney (p<0,05). Foi utilizado o programa computacional Statistical Package for Social Sciences (SPSS) para Windows versão 17.0 (SPSS, 2008). 39 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 – AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DA UAN ANTES E APÓS A IMPLANTAÇÃO DAS FERRAMENTAS DE GESTÃO DA QUALIDADE Foram vistoriados e classificados os três setores (açougue, panificação e refeitório) que compõem a UAN em estudo, com base na lista de verificação. O perfil higiênico-sanitário geral da UAN está expresso na Figura 1. *Significativo pelo Teste Binomial para diferença de proporções (p<0,05) A: antes D: depois Figura 1. Perfil higiênico- sanitário geral da UAN antes e após a implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos. Detectou-se com a aplicação do Teste Binomial (p< 0,05) diferença significativa entre os percentuais de conformidade e não conformidade para os três setores antes e após a aplicação das Ferramentas de Gestão da Qualidade, verificando-se aumento no nível de adequação e diminuição no nível de inadequação após a implantação das ferramentas. Este resultado 0 10 20 30 40 50 60 Conforme A (%) Conforme D (%) Não Conforme A (%) Não Conforme D (%) 25,14* 55,26* 57,9* 28,48* 35,08* 58,14* 49,7* 25,58* 28,07* 58,14* 54,97* 28,48* Padaria Açougue Refeitório 40 salienta a importância da aplicação de Boas Práticas de Fabricação na melhoria das condições higiênico-sanitárias dos estabelecimentos produtores de alimentos. As BPF’s são procedimentos necessários para garantir a qualidade sanitária dos alimentos e representam uma importante ferramenta para garantir a qualidade do produto final (MARTINS et al., 2011). Antes da implantação das Ferramentas de Gestão da Qualidade dos alimentos, a UAN foi classificada no Grupo III “Deficiente” (0 a 50% dos itens atendidos) para os três setores estudados de acordo com a classificação preconizada pela RDC n°275/2002 (BRASIL, 2002), caracterizando assim condições inadequadas sob o ponto de vista higiênico-sanitário. Neste panorama a UAN foi reprovada de acordo com a legislação vigente e, portanto considerada insatisfatória para a produção de alimentos seguros. Os percentuais de não conformidade detectados no presente estudo estão de acordo com os encontrados por Sampaio et al. (2007) que avaliaram as BPF em dez restaurantes da cidade de Rio Vermelho, BA. O estudo demonstrou que as BPF não foram implantadas nos estabelecimentos comerciais avaliados, e estes obtiveram no máximo 45,8% de atendimento aos critérios da legislação. Segundo Seixas et al. (2008), de acordo com o check list aplicado para verificação das BPF’s em estabelecimentos produtores de alimentos da cidade de São José do Rio Preto (SP), 70% dos estabelecimentos apresentaram não conformidades superiores a 25%, sendo classificados como reprovados e, portanto insatisfatórios
Compartilhar