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1 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO TRIÂNGULO MINEIRO – CAMPUS UBERABA MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS VIRGÍNIA SOUZA SANTOS IMPACTO DOS TREINAMENTOS DE BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO NA PRODUÇÃO DA MERENDA ESCOLAR EM ESCOLAS MUNICIPAIS DE RIO PARANAÍBA - MG UBERABA, MG 2013 2 VIRGÍNIA SOUZA SANTOS Impacto dos treinamentos de boas práticas de fabricação na produção da merenda escolar em escolas municipais de Rio Paranaíba - MG Dissertação apresentada ao Curso de Pós - graduação Stricto sensu de Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia de Alimentos, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, como requisito para conclusão e obtenção do Título de Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Orientadora: Prof. Dra. Estelamar Maria Borges Teixeira UBERABA, MG 2013 3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Instituto Federal do Triângulo Mineiro 612.3 Santos, Virgínia Souza S59i Impacto dos treinamentos de boas práticas de fabricação na produção da merenda escolar em escolas municipais de Rio Paranaíba –MG / Virgínia Souza Santos. –2013. Orientadora: Prof. Dra. Estelamar Maria Borges Teixeira Dissertação (Mestrado) – Instituto Federal do Triângulo Mineiro- Câmpus Uberaba, 2013. 1. Merenda escolar. 2. Treinamentos. 3. Manipuladores. 4. BPF. I. Título. 4 VIRGÍNIA SOUZA SANTOS IMPACTO DOS TREINAMENTOS DE BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO NA PRODUÇÃO DA MERENDA ESCOLAR EM ESCOLAS MUNICIPAIS DE RIO PARANAÍBA - MG Dissertação apresentada ao Curso de Pós - graduação Stricto sensu de Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia de Alimentos, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, como requisito para conclusão e obtenção do Título de Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Aprovada em 17 de Dezembro de 2013 Banca examinadora _____________________________________________________________________ Profa. Dra. Estelamar Maria Borges Teixeira (Orientadora) _____________________________________________________________________ Profa. Dra. Deborah Santesso Bonnas -IFTM, Campus Uberaba ______________________________________________________________________ Profa. Dra. Martha Elisa Ferreira de Almeida – Universidade Federal de Viçosa UBERABA, MG 2013 5 Dedico, aos meus avós, Vovó Lilia e Vovô Pedro, que hoje se sentem orgulhosos pela minha vitória, onde quer que estejam. 6 AGRADECIMENTO ESPECIAL Agradeço aos meus pais por sempre acreditarem em meus sonhos e por terem sido o apoio permanente em mais esta etapa, ensinando-me, principalmente, que o conhecimento é um dos bens mais preciosos que podemos adquirir. Serei eternamente grata pelo incentivo e pela confiança em meu potencial. 7 AGRADECIMENTOS Um sonho que hoje se torna realidade... melhor que chegar até aqui, é saber que escolhi o caminho certo! Agradeço à Deus pela saúde, sabedoria e oportunidade de vencer mais uma tão importante e sonhada etapa. À professora Dra. Estelamar Maria Borges Teixeira, por todo empenho, sabedoria, compreensão, experiência compartilhada, disponibilidade e, acima de tudo, paciência. À professora Dra. Martha Elisa Ferreira de Almeida, principal incentivadora na busca do conhecimento, por todas contribuições, ensinamentos, pela oportunidade de crescimento, aprendizado, e pela confiança em mim depositada. Ao coordenador do Mestrado Profissional em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Prof. Dr. Paulo Cezar Bastianello Campagnol, pela prestatividade e disponibilidade. Aos professores e equipe pedagógica do curso de Pós- Graduação, pela competência e disposição em compartilhar experiências. Aos meus familiares, especialmente meus irmãos, Vinícius, Ezequiel e Jeniffer que sempre me deram amor e força, para alcançar os meus objetivos. Ao meu namorado, Alexandre, ouvinte de algumas dúvidas, inquietações, desânimos e sucessos, pela confiança, carinho e dedicação. Aos meus alunos, que souberam entender a minha ansiedade e minha ausência. Obrigada pelo respeito durante o meu tempo de também aluno. Aos alunos Letícia Maria, Maria Clara, Márlon e Arthur pela colaboração em todas as etapas desta pesquisa. Também não poderia deixar de agradecer, aos amigos Nilcemar, Tatiana Coura, Laiz, Nilva, Maicon e Marayza pelo constante incentivo. À Secretaria de Educação, Prefeitura Municipal de Rio Paranaíba e às diretoras das 8 escolas, pelo apoio e financiamento concedidos. Às cantineiras que participaram desta pesquisa, pois sem elas nenhuma dessas páginas estaria completa. Aos colegas do mestrado, agradeço pela amizade sincera. Incluo, de forma especial, a amiga Francesca, que juntamente com sua família, me acolheram e ampararam. Muito obrigada! 9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Percentagem de manipuladores de alimentos eu trabalhavam em outros estabelecimentos................................................................................................................. 45 Gráfico 2 – Percentagem de manipuladores que exerciam outras funções além de manipulador de alimentos................................................................................................... 46 Gráfico 3 – Percentagem de manipuladores que participaram de outros treinamentos......................................................................................................................... 47 Gráfico 4 – Média das notas dos manipuladores de alimentos, antes e depois dos treinamentos......................................................................................................................... 60 Gráfico 5 – Evolução da percentagem de classificação do conhecimento dos manipuladores pré e pós-teste da Escola 1.......................................................................... 63 Gráfico 6 – Evolução da percentagem de classificação do conhecimento dos manipuladores pré e pós-teste da Escola 2...................................................................... 64 Gráfico 7 – Evolução da percentagem de classificação do conhecimento dos manipuladores pré e pós-teste da Escola 3...................................................................... 65 Gráfico 8 - Média das notas após as capacitações e idade dos manipuladores.............. 65 Gráfico 9– Escolaridade e média das notas após as capacitações dos manipuladores.................................................................................................................. 66 Gráfico 10 – Renda familiar e média das notas após as capacitações dos manipuladores..................................................................................................................... 67 Gráfico 11 – Tempo de trabalho como manipulador e média das notas após as capacitações........................................................................................................................ 67 Gráfico 12 – Percentagem de adequação das Edificações e Instalações antes edepois dos treinamentos................................................................................................................. 70 Gráfico 13- Percentagem de adequação dos Equipamentos, Móveis e Utensílios antes e depois dos treinamentos.................................................................................................... 71 Gráfico 14- Percentagem de adequação dos Manipuladores dos treinamentos.............. 72 Gráfico 15 - Percentagem de adequação da Produção e Transporte do Alimento antes e depois dos treinamentos .............................................................................................. 73 Gráfico 16- Percentagem de adequação da Documentação antes e depois dos treinamentos.................................................................................................................... 73 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Classificação da correlação linear de Pearson..................................... 42 Tabela 2 – Perfil dos manipuladores de alimentos de escolas municipais de Rio Paranaíba - MG...................................................................................................... 43 Tabela 3 – Percentagem de adequação dos itens avaliados antes dos treinamentos............................................................................................................ 48 Tabela 4 – Percentagem de adequação em relação aos itens avaliados................................................................................................................... 48 Tabela 5 – Média das notas pré e pós teste........................................................... 59 Tabela 6 – Média das notas dos testes de conhecimento por escola...................... 61 Tabela 7 - Percentagem de adequação das escolas antes e após os treinamentos........................................................................................................... 68 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BPF Boas Práticas de Fabricação CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional DF Distrito Federal DHAA Direito Humano à Alimentação Adequada DVAs Doenças Veiculadas por Alimentos EPI Equipamento de Proteção Individual FAO Food Administration Orgazation IDEC Instituto de Defesa do Consumidor IFTM Instituto Federal do Triângulo Mineiro MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MBP Manual de Boas Práticas MG Minas Gerais MS Ministério da Saúde OMS Organização Mundial de Saúde PE Pernambuco PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar POP Procedimentos Operacionais Padronizados PR Paraná RDC Resolução da Diretoria Colegiada TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UAN Unidade de Alimentação e Nutrição UPR Unidade Produtora de Refeição 12 LISTA DE SÍMBOLOS % Percentagem ± Mais ou menos ≤ Menor ou igual ≥ Maior ou igual < Menor que > Maior que * Asterisco 13 RESUMO Entre as prioridades do PNAE deve estar presente o oferecimento de uma merenda escolar saudável e segura do ponto de vista higiênico-sanitário, tornando essencial o constante monitoramento das condições de fabricação destes alimentos. O objetivo deste trabalho foi avaliar o impacto dos treinamentos de boas práticas de fabricação de alimentos sobre as condições higiênico-sanitárias na produção de alimentos nas escolas municipais atendidas pelo PNAE na cidade de Rio Paranaíba – MG. Foi desenvolvido um estudo observacional descritivo no qual três escolas foram avaliadas mediante a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores - Industrializadores de Alimentos estabelecida pela Resolução RDC nº 275. Após a avaliação, foram elaborados e ministrados três treinamentos para os manipuladores de alimentos, sobre as boas práticas de fabricação de alimentos, com diferentes metodologias. Durante os treinamentos, os manipuladores tiveram seus conhecimentos avaliados, mediante testes com 10 questões estruturadas, aplicados no início e no final de cada treinamento. Em um segundo momento, a Lista de Verificação foi aplicada novamente para avaliar o efeito dos treinamentos. Participaram do estudo, 20 manipuladores do sexo feminino, 55% com idade entre 40 e 49 anos, 35% com o ensino fundamental incompleto, 45% com renda familiar de até 1 salário mínimo e 50% com pelo menos 10 anos de experiência na função. Na classificação do atendimento dos requisitos higiênico sanitários antes dos treinamentos duas escolas eram classificadas no Grupo III – Insatisfatório (0-50% de adequações), e uma no Grupo II - Regular, com 51 a 75% de adequações. Após os treinamentos, observou-se que todas as escolas, passaram a ser classificadas dentro do Grupo II – Regular. Percebeu-se que todas as escolas apresentaram evolução das notas, do pré-teste para pós-teste de conhecimento, em todos os treinamentos. Observou-se diferença estatística significativa para o treinamento 2 em todas as escolas. Notou-se correlação íntima positiva (r = 0,036) entre a idade e média das notas obtidas pelos manipuladores durante as capacitações, demonstrando que a idade influenciou na obtenção dos conhecimentos e que, os treinamentos não são os únicos fatores que interferem no conhecimento dos manipuladores. Após a execução das capacitações observou-se melhorias, porém as percentagens de adequação dos itens como edificações e instalações, equipamentos, móveis e utensílios e documentação, permaneceram inalterados, tendo em vista que estes não podem ser influenciadas pelos treinamentos e estão ligados a investimentos do poder público ou ao profissional responsável técnico. Apesar desta evolução, as escolas ainda continuam classificadas abaixo da faixa de adequação recomendada pela legislação, o que demonstra a necessidade de maiores intervenções para assegurar a qualidade dos alimentos produzidos. Palavras-chave: Merenda escolar; BPF; treinamentos; manipuladores. 14 ABSTRACT Among the priorities of the PNAE must be present offering a safe and healthy school lunches the hygienic- sanitary point of view, making it essential to constantly monitor the conditions of manufacture of food . The objective of this study was to evaluate the impact of training of good manufacturing practices for food on the sanitary conditions in food production in municipal schools served by PNAE in Rio Paranaíba - MG. An observational descriptive study in which three schools was developed, were assessed by the Checklist of Good Manufacturing Practices at Establishments Producers - Food industrializers established by Resolution RDC Nº 275. After evaluation, were developed and taught three training for food handlers on good manufacturing practices for foods with different methodologies. During training, the handlers had their knowledge assessed through tests with 10 multiple-choice questions, applied at the beginning and end of each training. In a second step, the checklist was applied again to assess the effect of training. Participated in the study, 20 female handlers, 55 % aged 40-49 years, 35 % with incomplete primary education, 45 % with family income up to 1 minimum wage and 50 % with at least 10 years experience in the role. In the classification of the health care requirements before toilet training two schools were classified in Group III - Unsatisfactory (0-50% adjustments), and Group II - Regular, with 51-75 % of adaptations. After training observed sure that all schools now classified within group II - Regular. It was noticed that all schools showed progress notes from pre- test to post-testknowledge, in all trainings. There was a statistically significant difference for all schools in Training 2. It was noted positive close correlation ( r = 0.036 ) between age and average grades obtained by handlers during the training, which proves that age influences in obtaining knowledge and that training is not the only factors that affect the knowledge handlers. After performing the training , there was improvement, but the percentages of adequacy of items such as Buildings and Facilities, Equipment, furniture and fixtures and documentation , remained unchanged, given that these can not be influenced by training and are linked to investments the government or the responsible professional technician. Despite this evolution, the schools are still classified below the range recommended by the adequacy legislation which demonstrates the need for further interventions to ensure the quality of food produced. Keywords: School meal; GMP; training; handlers. 15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 18 2 OBJETIVOS.................................................................................................................. 21 2.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................................... 21 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...................................................................................... 21 3 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................... 22 3.1 SEGURANÇA ALIMENTAR.................................................................................... 22 3.2 MERENDA ESCOLAR E SEGURANÇA ALIMENTAR......................................... 24 3.3 BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO DE ALIMENTOS....................................... 27 3.4 DOENÇAS VEICULADAS PELOS ALIMENTOS................................................... 32 3.5 TREINAMENTOS DE MANIPULADORES DE ALIMENTOS.............................. 33 4 MATERIAL E MÉTODOS......................................................................................... 37 4.1 APLICAÇÃO INICIAL DO CHECK-LIST............................................................... 37 4.2 TREINAMENTOS PARA OS MANIPULADORES DE ALIMENTOS................... 38 4.3 APLICAÇÃO FINAL DO CHECK-LIST................................................................... 40 4.4 TRATAMENTO DOS DADOS.................................................................................. 41 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................. 42 5.1 PERFIL DOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS............................................. 42 5.1.1 Função de manipulador de alimentos em outro estabelecimento............................. 44 5.1.2 Exercício de outra função em conjunto com a função de manipulador de alimentos.......................................................................................................................... 44 5.1.3 Treinamentos para os manipuladores de alimentos.................................................. 45 5.2 DIAGNÓSTICO DAS CONDIÇÕES HIGIÊNICO-SANITÁRIAS DAS UANs ESCOLARES..................................................................................................................... 46 5.2.1 Edificações e instalações.......................................................................................... 48 5.2.2 Equipamentos, móveis e utensílios........................................................................... 50 5.2.3 Manipuladores.......................................................................................................... 52 16 5.2.4 Produção e transporte do alimento............................................................................ 54 5.2.5 Documentação.......................................................................................................... 55 5.3 EFEITO DOS TREINAMENTOS NO CONHECIMENTO DOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS........................................................................... 57 5.3.1 Nível de conhecimento dos manipuladores da escola 1........................................... 60 5.3.2 Nível de conhecimento dos manipuladores da escola 2........................................... 61 5.3.3 Nível de conhecimento dos manipuladores da escola 3........................................... 62 5.4 RELAÇÃO DO PERFIL DOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS COM A MÉDIA DAS NOTAS DOS TESTES DE CONHECIMENTO APÓS OS TREINAMENTOS............................................................................................................ 63 5.5 EFEITO DOS TREINAMENTOS NAS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DA MERENDA ESCOLAR.................................................................................................... 64 6 CONCLUSÕES............................................................................................................. 70 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 71 ANEXOS.......................................................................................................................... ANEXO A – CHECK-LIST RDC 275/2002...................................................................... 82 82 ANEXO B – PROTOCOLO DO CEP.............................................................................. 95 APÊNDICES.................................................................................................................... APÊNCICE A – TERMO DE ATUALIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA EM INSTITUIÇÕES.................................................................................... 96 96 APÊNCICE B – PERGUNTAS PARA REALIZAÇÃO DA DINÂMICA DA CAIXA............................................................................................................................... 97 APÊNCICE C – ROTEIRO PRÁTICO PARA REALIZAÇÃO DAS DINÂMICAS.................................................................................................................... 98 APÊNCICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA OS MANIPULADORES................................................................................................... 95 APÊNCICE E – FORMULÁRIO PARA CARACTERIZAÇÃO DE MANIPULADORES DE ALIMENTOS........................................................................... 101 17 APÊNCICE F – QUESTIONÁRIOS PARA VERIFICAR O CONHECIMENTO DOS MANIPULADORES ANTES E APÓS OS TREINAMENTOS ..................................... 102 APÊNDICE G – CARTILHAS DISTRIBUÍDAS NOS TREINAMENTOS............................................................................................................ 108 APÊNCICE H – FOTOS DOS TREINAMENTOS......................................................... 126 18 1 INTRODUÇÃO A segurança alimentar e nutricional é definida pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), como o direito de todas as pessoas ao acesso regular e permanente a uma alimentação saudável, ou seja, a alimentos de qualidade nutricional e higiênico-sanitária adequadas e em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais (CONSEA, 2007). O acesso a uma alimentação que possa assegurar a saúde, o bem-estar e qualidade de vida é um direito declarado ao homem desde 1948, garantido a partir da assinatura da Declaração dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas, da qual o Brasil é signatário (FIGUEIREDO, 2011). No âmbito internacional, a segurança alimentar é preconizada por organismos e entidades como a Organização paraAgricultura e Alimentos (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). No âmbito nacional, fica a cargo do Ministério da Saúde (MS), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) (CAVALLI, 2001). A alimentação deve ser baseada em práticas alimentares promotoras de saúde, respeitar a diversidade cultural e ter visão sustentável para que exerça papel determinante na saúde do indivíduo. Quanto a alimentação, dois aspectos são de extrema importância, a composição nutricional do alimento e sua segurança em relação ao controle higiênico sanitário, ou seja controle da qualidade sanitária durante o preparo, armazenamento e distribuição das refeições. Uma alimentação equilibrada deve obedecer aos parâmetros de qualidade, quantidade, harmonia e adequação (SILVA JUNIOR, 2008). Para que os alimentos exerçam a função de promoção e manutenção da saúde, é fundamental que eles sejam produzidos dentro dos padrões higiênicos sanitários satisfatórios, já que a inadequação neste controle, como más condições de higiene na manipulação dos alimentos e de armazenamento e conservação, falta de adequação e conservação da estrutura física pode corroborar para surtos de Doenças Veiculadas por Alimentos (DVAs). O oferecimento de alimentos seguros é atribuído a todos os participantes da cadeia produtiva, envolvendo desde a produção, até a distribuição, que podem influir direta ou indiretamente na contaminação (SILVA JUNIOR, 2008). 19 No ambiente escolar, o controle higiênico sanitário deve ser observado, considerando que o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) atende a um grande número de alunos que frequentam creches, pré-escolas e escolas do ensino fundamental das redes federal, estadual e municipal. Entre as diretrizes do PNAE está a oferta de uma alimentação adequada e saudável, portanto, para os alimentos atenderem a estes requisitos é necessário que, entre outros critérios, seja seguro (BRASIL, 2013). Oferecer uma alimentação segura, engloba aspectos como o manipulador de alimentos, a qualidade da matéria prima utilizada e a higiene ambiental. Fatores estes que resultam na prática das Boas Práticas de Fabricação (BPF) (SILVA JUNIOR, 2008). Considerando que as crianças e os jovens atendidos pelo PNAE estão em constante crescimento e desta forma se tornam vulneráveis as doenças veiculadas pelos alimentos, é essencial que a merenda escolar seja segura e fontes dos principais nutrientes necessários para o desenvolvimento adequado (PROENÇA et al. , 2005). Entre as prioridades do PNAE deve estar presente o oferecimento de uma merenda escolar saudável e segura do ponto de vista higiênico-sanitário, tornando essencial o constante monitoramento das condições de fabricação de alimentos, seja por meio dos profissionais responsáveis técnicos ou por trabalhos como estes, que possam facilitar a avaliação destas condições e sirvam de bases técnicas para o aprimoramento e consequentemente, o oferecimento da segurança alimentar em escolas (BRASIL, 2013). Tendo em vista à constante relevância da qualidade sanitária dos alimentos, torna-se indispensável que os alimentos produzidos se destaquem através da melhoria da qualidade da produção (RAMOS; SCATENA; RAMOS, 2008). Vasconcelos (2008) destaca que no Brasil, a mão-de-obra recrutada para manipulação alimentos normalmente não é qualificada e não passam por treinamentos específicos para exercer as atividades referentes à produção de alimentos. Zandonadi e colaboradores (2007), observaram que 22% da mão-de-obra dos serviços produtores de refeições era qualificada, 22% semiqualificada e 56% era desqualificada. Na parcela dos semiqualificados e qualificados, observou que 44% possuíam falta de informação quanto às normas de segurança alimentar na produção de alimentos. As boas práticas higiênico-sanitárias na fabricação da merenda escolar colaboram para uma melhor apresentação dos alimentos servidos, além de assegurar a saúde dos seus comensais. A preocupação com a produção de qualidade foi o fator que determinou a escolha do tema, uma vez que, estudos vêm demonstrando que os treinamentos são as melhores 20 ferramentas para assegurar a qualidade das refeições oferecidos e podem desta forma, servir como instrumento indispensável na melhoria das condições de segurança alimentar da produção da alimentação escolar, tornando essencial avaliar os efeitos destes na melhoria da qualidade dos alimentos oferecidos. 21 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL - Avaliar o impacto dos treinamentos de boas práticas de fabricação sobre as condições higiênico-sanitárias na produção de alimentos nas escolas municipais atendidas pelo PNAE na cidade de Rio Paranaíba – MG. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Analisar as condições de produção de merenda escolar e a higiene pessoal dos manipuladores, ambiental e dos utensílios utilizados; - Verificar a estrutura física das unidades produtoras de merenda escolar; - Classificar as escolas quanto ao atendimento dos requisitos higiênico-sanitários; - Capacitar os manipuladores da merenda escolar quanto as Boas Práticas de Fabricação de Alimentos; - Traçar o perfil dos manipuladores da merenda das escolas selecionadas; - Avaliar a eficácia dos treinamentos sobre as práticas de higiene de manipuladores de alimentos. 22 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 SEGURANÇA ALIMENTAR A segurança alimentar é um direito inalienável de todos os cidadãos, e consiste em um conjunto de princípios, políticas, medidas e instrumentos que garantem o acesso permanente aos alimentos de acordo com as exigências nutricionais, em quantidade e qualidade adequadas e que tornem a vida digna e saudável (PIRAGINE, 2005; SACCOL, 2006). O fator segurança alimentar cada vez mais se torna uma questão básica nas decisões estratégicas e também é fundamental para o desenvolvimento de sistemas que promovem a saúde do consumidor. Além de atender as exigências legais também garantem a qualidade dos alimentos (PIRAGINE, 2005). Manter a qualidade sanitária dos alimentos é uma das condições essenciais para a promoção e manutenção da saúde, que deve ser assegurada pelo controle eficiente de produção em todas as etapas da cadeia alimentar (FIGUEIREDO, 2011). O alimento seguro é aquele que não contém nenhum contaminante de origem física, química e/ou biológica, que possa prejudicar a saúde do consumidor. Mesmo o alimento sendo seguro, a manipulação, o processamento e a conservação inadequados podem torná-los fontes de risco à saúde do consumidor (SOUZA, 2006; MUNHOZ, 2007). Desta forma, é fundamental que os manipuladores conheçam estes contaminantes, já que constituem riscos que podem causar efeito adverso à saúde do comensal (DIAS et al., 2010). Oferecer alimentos de qualidade é um tema de grande preocupação no contexto do acesso aos alimentos em todo o mundo, especialmente quando se trata da inocuidade. A qualidade dos alimentos é o resultado de um conjunto de condições e cuidados, realizados durante todo o processo de produção, desde a aquisição da matéria-prima até o momento da sua utilização. Sendo que o manipulador de alimentos é o principal responsável por este controle de qualidade (LEITE et al., 2011). A segurança alimentar é viabilizada através de legislações que tem como objetivo garantir a saúde pública e prevenir perigos à saúde dos consumidores. A execução das boas práticas de fabricação, além da adequada formação profissional dos manipuladores auxilia no gerenciamento dos riscos envolvidos e traz uma maior responsabilização de todo o pessoal envolvido (CARON, 2012). 23 Apesar da existência no Brasil, de legislações estabelecidas por normas federais, estaduaise municipais, que obrigam os estabelecimentos a implantarem Boas Práticas, poucos estabelecimentos implantam estes requisitos (SERAFIM, 2010). O objetivo essencial do monitoramento da segurança alimentar é prevenir a possibilidade de produzir alimentos inseguros que causem danos à saúde. Atualmente, existem ferramentas e métodos como as Boas Práticas de Fabricação e Higiene e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle que em conjunto formam a base para o sistema de segurança alimentar (PIRAGINE, 2005). Para obter alimentos livres de contaminantes nocivos ao homem, todo o pessoal envolvido na produção deve estar consciente das boas práticas higiênicas. Desta maneira, entende-se que produzir alimentos seguros é bastante amplo e envolve os setores produtivos, os consumidores e os poderes públicos, devendo ser estes últimos representados sob forma de exigências, diretrizes, normas, limites e padrões, exercendo tarefas inalienáveis de inspeção, controle, fiscalização e vigilância (MUNHOZ, 2007). Perigos de origem biológica são aqueles relacionados aos microrganismos, cujos danos à saúde depende do tipo, do número ingerido (nível de contaminação), velocidade de sua multiplicação no organismo, quantidade de toxina produzida no alimento ou no organismo e da sensibilidade do hospedeiro (idade, estado de saúde) (BERTOLINO, 2010). Considerando que todos os alimentos já se apresentam naturalmente contaminados pelos mais diversos tipos de microrganismos, a grande preocupação é impedir que eles sobrevivam e se multipliquem comprometendo à qualidade (GENTA; MAURÍCIO; MATIOLI, 2005). Os perigos de origem química podem ter origem por contaminações acidentais, podem estar presentes na matéria prima ou serem formados durante o processamento, assim como podem ter origem em materiais e embalagens, bem como resíduos encontrados no maquinário. O perigo físico é qualquer material estranho não encontrado normalmente nos alimentos que possam causar injúria ao organismo do comensal (CARON, 2012). A garantia da segurança dos alimentos tem sido levantada em todo mundo e desta forma, tem se realizado diversos estudos sobre as condições higiênicas e as práticas de manipulação e preparo. O controle das condições higiênico-sanitárias nos locais em que os alimentos são manipulados constitui um ponto crítico, tendo em vista que as contaminações podem ser introduzidas nas diversas etapas do preparo (OLIVEIRA, 2004; DIAS; AREVABINI, 2008). 24 Sabendo da importância do fornecimento de refeições seguras à saúde do consumidor, existem legislações vigentes no país que obrigam os estabelecimentos a implantarem as Boas Práticas e garantir a segurança dos alimentos, porém essa exigência não é seguida por todos os estabelecimentos (SERAFIM, 2010). A higiene dos alimentos é um processo para garantir que estes se tornem higienicamente e sanitariamente adequados para o consumo, envolvendo técnicas para a garantia da qualidade prevenir as enfermidades que podem atingir as pessoas através do consumo de um alimento contaminado. Além disso, pode assegurar a qualidade dos gêneros alimentícios e reduzir o índice de desperdício nos ambientes escolares (LEITE; WAISSMANN, 2007; SILVA JÚNIOR, 2008). É necessário o aperfeiçoamento constante das ações de controle sanitário na área de alimentos com objetivo de controlar e minimizar os riscos originados pela ingestão de alimentos contaminados (SÃO JOSÉ; COELHO; FERREIRA, 2011). Como parte de uma campanha de educação da segurança de alimentos, em nível mundial, a World Health Organization publicou os 5 Pontos-Chave para uma Alimentação Segura e um guia sobre alimentação segura para os viajantes. Os 5 Pontos-Chave constam de explicações dos princípios fundamentais de segurança de alimentos: manter a higiene, separar alimentos crus dos cozidos, cozinhar muito bem os alimentos, manter os alimentos em temperatura segura, usar água tratada e ingredientes seguros (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE - OMS, 2007). 3.2 MERENDA ESCOLAR E SEGURANÇA ALIMENTAR A produção de alimentos seguros é uma prática necessária, em especial nas escolas, que atendem uma clientela vulnerável quanto aos aspectos nutricional e socioeconômico, e para a qual, por vezes, esse alimento constitui a única refeição do dia (BRASIL, 2012). Os estabelecimentos que produzem refeições são denominados UPR (Unidade Produtora de Refeições), como restaurantes, lanchonetes, refeitórios, cantinas e todo estabelecimento onde ocorra a manipulação e processamento de alimentos (SPINELLI; ZANARDI, 2003; SALOMÃO et al., 2013; ABREU). As refeições produzidas nas UPRs escolares devem atender às necessidades nutricionais dos alunos, apresentando alimentos seguros do aspectos sensorial e nutricional, abrangendo às condições higiênico-sanitárias para assegurar a saúde dos comensais e possibilitar o 25 crescimento e o desenvolvimento adequado (DANELON; DANELON; SILVA, 2007; CARDOSO et al., 2010a). O PNAE foi criado em 1955 e repassa recursos financeiros para garantir a oferta da alimentação escolar de todos os alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental matriculados em escolas públicas e filantrópicas cadastradas no Ministério da Educação (BRASIL, 2006a). De acordo com Chaves, Mendes e Botehlo (2009), o Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE destaca-se, entre os programas sociais do Brasil, pelo tempo de existência e pela dimensão do atendimento prestado, uma vez que no ano de 2010 foram atendidos 45,6 milhões de estudantes matriculados na educação básica. As normativas do PNAE preveem a formação dos recursos envolvidos na produção de refeições, inclusive as merendeiras, para que os alimentos servidos tenham qualidade nutricional e sanitária (BRASIL 2006a; BRASIL, 2010). Desta forma, fornecer alimentos seguros é prática indispensável, em especial nas escolas públicas, que englobam uma clientela vulnerável quanto aos aspectos nutricional e socioeconômico (BRASIL, 2012). O número de UPRs tem crescido substancialmente, inclusive daquelas que fornecem a merenda escolar (COLOMBO; OLIVEIRA; SILVA, 2009). Deste modo, torna-se maior a preocupação com a qualidade dos alimentos para garantir a saúde dos usuários. É necessário o monitoramento constante das condições de produção das refeições com objetivo de controlar e minimizar os riscos originados pela ingestão de alimentos contaminados (SÃO JOSÉ; COELHO; FERREIRA, 2011). Considerando que a alimentação escolar venha suplementar as refeições diárias dos educandos e proporcionar uma nutrição balanceada e segura, é indispensável um preparo adequado, equilibrado em nutrientes e livre de contaminação. Porém, quando se trata do preparo e da qualidade dos alimentos, muitas vezes depara-se com procedimentos não satisfatórios de higiene nos estabelecimentos escolares (ROSASSI; HOSHI; FERRETO, 2012). Segundo Germano (2003), as escolas são instituições promotoras de saúde, que se caracterizam como um centro que reforça continuamente seus recursos, transformando-os em ambiente saudável para viver, aprender, e trabalhar, agindo em conjunto com a comunidade. Para a execução das estratégias de promoção da saúde, o papel da educação é considerado fundamental, sobretudo da saúde no âmbito escolar. 26 De acordo com a Resolução nº. 32, de 10 de agosto de 2006 (BRASIL, 2006a), que estabelece as normas para a execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar: “Art. 3º. São diretrizes do Programa Nacional de Alimentação Escolar –PNAE: I – O emprego da alimentação saudável e adequada, que compreende o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cultura e as tradições alimentares, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento dos alunos em conformidade com a faixa etária, sexo e atividade física e o estado de saúde dos mesmos, inclusive os que necessitam de atençãoespecífica” As escolas são locais ideais para a implementação de programas de educação nutricional e segurança alimentar, pois abrangem uma substancial parcela de crianças e adolescentes e desde que bem planejadas, as refeições distribuídas podem oferecer ao aluno a oportunidade de consumir alimentos saudáveis. Entretanto, no ambiente escolar há maiores riscos e as Unidades de Alimentação e Nutrição Escolar podem ser consideradas importantes no processo de contaminação dos alimentos, devido ao grande número de refeições servidas (BOCCALETTO; MENDES; VILARTA, 2010). De modo geral, as UPRs recebem em grande quantidade, alimentos de alta perecibilidade, que demandam tempo de estocagem, de manipulação e exposição, muitas vezes sob temperaturas inadequadas, o que favorece a contaminação e a multiplicação bacteriana no alimento que, se consumido, pode levar a uma toxinfecção alimentar (RAVAGNANI; STURION, 2009). Desta forma, a alimentação escolar oferece riscos, sobretudo devido à exposição prolongada e à possibilidade de contaminação pelo desenvolvimento bacteriano em alimentos e também pelo grande número de refeições produzidas, que geralmente tem o preparo dos alimentos com muita antecedência e as condições inadequadas no local de preparo e distribuição (OLIVEIRA; BRASIL; TADDEI, 2008). Os responsáveis por essas unidades devem ter uma preocupação com o ambiente de trabalho e as técnicas empregadas. Para produzir alimentos seguros e prevenir as DVAs, devem ser levadas em consideração as características das instalações, as áreas de trabalho, o fluxo operacional, os equipamentos, utensílios, manipuladores, as técnicas de limpeza e desinfecção empregadas, bem como a conscientização e capacitação dos manipuladores de alimentos através de treinamentos e a formação continuada (BOCCALETTO; MENDES; VILARTA, 2010). A qualidade sanitária dos alimentos pode ser garantida por meio da adoção de medidas preventivas e de controle em toda cadeia produtiva, desde sua origem até o consumo. Para 27 isso é essencial a implantação das boas práticas de fabricação durante a preparação da merenda escolar (BRASIL, 2006b). Produzir refeições seguras é uma atividade que exige cuidados especiais, não somente daqueles que os manipulam, mas também dos próprios diretores e, sobretudo do poder público que precisa fornecer maiores recursos para o controle da segurança alimentar nas escolas (SILVA; SILVA; BESERRA, 2012). A Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004, que dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação, preconiza que os manipuladores de alimentos devem ser supervisionados e capacitados periodicamente em higiene pessoal, manipulação higiênica dos alimentos e doenças veiculadas por alimentos (BRASIL, 2004). Como mecanismo de controle, acompanhamento e avaliação das condições higiênico- sanitárias na Unidade de Alimentação e Nutrição - UAN devem-se realizar inspeções periódicas utilizando a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação estabelecida pela RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002 (BRASIL, 2002). Desta forma, já que o PNAE atende principalmente crianças, que muitas vezes não apresentam resposta imunológica totalmente desenvolvida, torna-se condição essencial o cumprimento de requisitos de higiene na produção da alimentação escolar (SILVA; GERMANO; GERMANO, 2003). Assim, a merendeira é um manipulador de alimentos no PNAE, e contribui para o bem-estar e o rendimento dos estudantes (COSTA; LIMA; RIBEIRO, 2002). 3.3 BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO DE ALIMENTOS Produzir alimentos seguros envolve diversos aspectos, como boas práticas higiênicas durante todas as etapas de produção, armazenamento, além de uma abordagem preventiva, uma vez que a efetividade dos testes microbiológicos de produtos finais é limitada (PIRAGINE, 2005). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária as boas práticas são procedimentos que devem ser adotados por serviços de alimentação a fim de garantir a qualidade higiênico- sanitária e a conformidade dos alimentos com a legislação sanitária (BRASIL, 2004). Devem ser considerados a qualidade da matéria-prima; as condições de manutenção da edificação e instalações; as condições higiênicas do ambiente de trabalho, dos equipamentos e utensílios; 28 as práticas de manipulação dos alimentos; e os hábitos higiênicos dos manipuladores (FIGUEIREDO,2011). Através deste programa controla-se processos e procedimentos a fim de produzir alimentos inócuos e assegurar a correta utilização da estrutura física, garantir o correto armazenamento dos alimentos, higiene pessoal dos colaboradores, controle de pragas, dentre outros fatores (CRUZ; CENCI; MAIA, 2006). Estabelecimentos que manipulam alimentos para consumo humano devem obrigatoriamente realizar o controle das condições higiênico-sanitárias (MAISTRO; HIRAYAMA; MARTINELLI, 2005). Colocar em prática as BPFs leva a redução dos perigos microbiológicos, reduzindo as causas de contaminação dos alimentos (VIDAL et al., 2011).Além disso, também possibilita que o processo de produção seja mais eficiente e satisfatório (NASCIMENTO NETO, 2006). Destacam-se, entre as principais formas de contaminação, a manipulação e a conservação inadequadas dos alimentos; a falta de higiene de utensílios, mãos e equipamentos; o cruzamento entre alimentos crus e cozidos; o uso de alimentos contaminados; a exposição prolongada dos alimentos a temperatura inadequada ou cozimento insuficiente (tempo e temperatura) (SESC, 2003). São constituintes do sistema de garantia da qualidade, e visam estabelecer regras para padronização de procedimentos que regulamentam todas as atividades de fabricação de um produto. Deste modo, torna-se um conceito bastante amplo, que envolve a participação dos colaboradores, as condições de uso dos equipamentos, matérias-primas, armazenamento, distribuição e todo o processo produtivo de modo geral, para garantir a qualidade do produto final (CANTO, 2013; WINCKLER, 2007). Implantar as BPFs, especialmente em relação aos manipuladores de alimentos da merenda escolar é essencial para assegurar a qualidade dos alimentos oferecidos. A execução das BPFs é uma alternativa eficaz e economicamente viável para corrigir inadequações e assegurar o processamento, armazenamento e distribuição seguros(COLOMBO; OLIVEIRA; SILVA, 2009). Dentre os benefícios das BPFs também não pode-se deixar de citar a melhoria da qualidade na produção dos alimentos, maior segurança alimentar, além de ambientes bem higienizados e manipuladores mais motivados e mais produtivos (SILVA JR., 2008). É importante ressaltar que o estado de saúde dos manipuladores de produtos alimentícios também influi diretamente na qualidade final dos produtos (SUS, 2005). 29 Devido a todos estes fatores, o programa de BPFs deve ser utilizado e implementado efetivamente em todas as UPRs, através da prática afinca de todos os procedimentos corretos recomendados pelas legislações (VEIROS et al., 2007). De acordo com Southier e Novello (2008), as condições de higiene das cozinhas podem contribuir para manutenção da qualidade dos alimentos ou atuar como fonte contaminante e deteriorante dos alimentos. Para proteção e defesa da saúde do consumidor foi publicada uma série de legislações direcionadas às boas práticas de fabricação, em caráter preventivo e a partir da prática da inspeção sanitária, inclusive a RDC nº 275/2002, que atualiza a legislação geral, introduz o controle contínuo das BPF e os Procedimentos Operacionais Padronizados (POP), além de promover ações de inspeção sanitária por meio de verificação das BPF. Além desta, foram também publicadas várias outras normas com caráter específico aos grupos de alimentos (BRASIL, 2002). Para regulamentar sobre as boas práticas para serviços de alimentação,garantindo as condições higiênico-sanitárias do alimento preparado, especificamente nas cantinas, bufês, confeitarias, cozinhas industriais, cozinhas institucionais, lanchonetes, padarias, pastelarias, restaurantes, dentre outros, em setembro de 2004, entrou em vigência a RDC nº216, que dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Esta legislação é aplicável aos serviços de alimentação que realizam algumas das seguintes atividades: manipulação, preparação, fracionamento, armazenamento, distribuição, transporte, exposição à venda e entrega de alimentos preparados ao consumo, tais como cantinas, bufês, comissárias, confeitarias, cozinhas industriais, cozinhas institucionais, delicatéssens, lanchonetes, padarias, pastelarias, restaurantes, rotisserias e congêneres. Também sobre a obrigatoriedade da manutenção de documentos como o Manual de Boas Práticas (MBP) e dos Procedimentos Operacionais Padronizados - POPs, nas unidades de serviço de alimentação (BRASIL, 2004). Tendo em vista que todas as pessoas têm o direito ao acesso regular e permanente a uma alimentação saudável, com alimentos de qualidade nutricional e condições higiênico- sanitárias adequadas, os procedimentos referentes à segurança alimentar e nutricional a serem realizados nas escolas são de elevada importância e de responsabilidade do gestor público (BOCCALETTO; MENDES; VILARTA, 2010). Na maioria dos serviços de alimentação, há muitos fatores que limitam a implementação das Boas Práticas, como a falta de conscientização e capacitação de manipuladores; ausência de 30 investimentos em instalações; indisponibilidade de recursos financeiros para a implantação; falta de comprometimento dos proprietários e deficiência de apoio e conhecimento para uma adequada implantação (SACCOL et al., 2009). Uma das formas para se atingir um alto padrão de qualidade dos alimentos é a implantação das boas práticas de fabricação. Estas são compostas por um conjunto de princípios e regras para o correto manuseio de alimentos, que abrange desde a recepção das matérias-primas até o produto final, o seu principal objetivo é garantir a integridade do alimento e a saúde do consumidor (NASCIMENTO; BARBOSA, 2007). As ações preventivas são eficazes para evitar a contaminação dos alimentos, identificando possíveis riscos no processo de produção, facilitando para atingir um controle de qualidade (OLIVEIRA; BRASIL; TADDEI, 2008). Para produção de alimentos seguros através das BPF, devem ser considerados a qualidade da matéria- prima, as condições higiênicas do ambiente, a disposição dos equipamentos e das instalações, a manipulação dos alimentos e a saúde dos colaboradores(COLOMBO; OLIVEIRA; SILVA, 2009; TOMICH et al., 2005). Segundo a RDC nº216/2004, que o manipulador de alimentos pode ser considerado qualquer pessoa do serviço de alimentação que entra em contato direto ou indireto com o alimento, devendo estar capacitada sobre temas relacionados à higiene dos alimentos. A capacitação deve ser periódica e amparada por um programa formal de manipulação de alimentos em todas as unidades (BRASIL, 2004). As medidas preventivas são indiscutivelmente, essências na promoção da segurança alimentar junto aos manipuladores de alimentos. Uma maneira eficaz e fácil de fornecer conhecimentos a eles são os treinamentos ou capacitações, que visam não somente à multiplicação de conhecimentos, mas também à mudança de comportamento, de atitudes (SOUZA, 2006). Soto et al. (2009) e Veiros et al. (2007) consideram que para um melhor controle da qualidade higiênico sanitária, é de extrema importância à utilização de um instrumento, como a Lista de Verificação, que facilite a elaboração de um diagnóstico objetivo, a identificação de problemas recorrentes e a rápida solução. A avaliação através da Lista de Verificação permite elencar os itens não conformes e, a partir dos dados coletados, traçar ações corretivas para adequação, buscando eliminar ou reduzir riscos físicos, químicos e biológicos, que possam comprometer os alimentos e a saúde do consumidor (GENTA; MAURÍCIO; MATIOLI, 2005). 31 Veiros e colaboradores (2007) reforçam que a lista de avaliação de Boas Práticas representa uma ferramenta útil para o controle de procedimentos, pois auxilia no controle de qualidade da produção de alimentos e pode melhorar a qualidade higiênico-sanitária da refeição servida. O check-list é uma ferramenta que nos permite fazer uma avaliação preliminar das condições higiênico-sanitárias de um estabelecimento de produção de alimentos (GENTA; MAURÍCIO; MATIOLI, 2005). Sabe-se que os alimentos já são naturalmente contaminados por diversos microrganismos, e desta forma, preocupa-se em impedir que eles sobrevivam e se multipliquem comprometendo à qualidade do alimento (GENTA; MAURÍCIO; MATIOLI, 2005). A execução de atividades de prevenção durante o sistema produtivo dos alimentos é eficaz para evitar a contaminação dos alimentos, pois facilita a identificação de possíveis riscos de contaminação em cada etapa, reduzindo a ocorrência destes eventos e colaborando na obtenção de um produto de qualidade (OLIVEIRA; BRASIL; TADDEI, 2008). Controlar as condições higiênico-sanitárias constitui um ponto crítico, visto que contaminações de fontes diferentes podem ocorrer em qualquer etapa do preparo dos alimentos (DIAS; AREVABINI, 2008). Um grande problema também se refere a contaminação cruzada, que acontece quando os microrganismos são transferidos de um local/ alimento para outro, através de utensílios, equipamentos, mãos, panos, etc., ou seja, os alimentos são contaminados por microrganismos trazidos de um outro local (RODRIGUES et al., 2010). A aplicação das BPFs além de atuar garantindo a qualidade do produto final é uma ferramenta indispensável para evitar as doenças veiculadas pelos alimentos (NASCIMENTO NETO, 2006). Porém, como a implantação das BPFs envolvem diversas vertentes, é normal encontrar dificuldades, especialmente aquelas relacionadas a falta de pessoal capacitado para este objetivo, além da ausência de investimentos por parte dos estabelecimentos. Como se trata, sobretudo, de um programa que exige mudanças comportamentais e disciplinares, reside aqui um fator muito importante para seu êxito (MICHALCZYSZYN et al, 2008). A qualidade das matérias-primas, a arquitetura dos equipamentos e das instalações, as condições higiênicas do ambiente de trabalho, a saúde dos colaboradores são fatores 32 importantes a serem considerados na produção de alimentos seguros e de qualidade, devendo, portanto ser considerados nas BPF (TOMICH et al., 2009). Entre as principais dificuldades relacionadas à implementação das BPF pode-se destacar a falta de pessoal capacitado para este objetivo, outro obstáculo é a ausência de investimentos. Como se trata, sobretudo, de um programa que exige mudanças comportamentais e disciplinares, reside aqui um fator muito importante para seu êxito (MICHALCZYSZYN et al, 2008). 3.4 DOENÇAS VEICULADAS PELOS ALIMENTOS As DVAS são riscos decorrentes do consumo de alimentos contaminados e são um problema bastante difundido em todo o mundo, trazendo preocupações tanto em países desenvolvidos como subdesenvolvidos. Entretanto, destaca-se que são causadas por processos de manipulação deficientes em condições higiênico sanitárias e desta forma, podem ser evitadas (BADARÓ,2007; SILVA, 2006; MELO et al., 2005). Entre os anos de 1999 a 2008, registraram-se 60062 surtos de DVAs no Brasil, acometendo 117330 pessoas e causando 64 óbitos. Em grande parte dos casos (84%), o agente causador foi a bactéria e os ovos crus (BRASIL, 2008). O aumento nos casos de DVAs deve-se especificamente à produção em larga escala e às falhas na manipulação. Dados epidemiológicos apontam os serviços de alimentação como os principais locaisonde ocorrem os surtos. Além disso, o manipulador de alimentos encaixa-se como um dos principais responsáveis, já que está em contato mais íntimo com os alimentos durante o preparo, é considerado o principal vetor de transmissão de microrganismos (COLOMBO; OLIVEIRA; SILVA, 2009; COVALLI; SALLAY, 2004). A contaminação cruzada, a precariedade de higiene pessoal dos manipuladores, em conjunto com o preparo com muita antecedência juntamente com armazenamento inadequado são os principais erros que ocorrem no preparo dos alimentos (ABREU; SPINELLI;ZANARDI, 2003). Segundo Kasnowski e outros autores (2007), as DVA’s são definidas como doenças infecciosas ou tóxicas, causadas por agentes que penetram no hospedeiro através da ingestão de alimentos.Os enfermos, crianças e idosos tem maior susceptibilidade para estas doenças (SILVA, 2006). Diversas pesquisas demonstram que o principal fator responsável pelos surtos de DVAs é a forma de preparo dos alimentos pelos manipuladores, relacionado diretamente maus 33 hábitos de higiene e práticas incorretos no processamento dos alimentos (CAVALLI; SALAY, 2007). Os alimentos podem ser contaminados durante todas as etapas, que vão desde a produção até a oferta final, por agentes biológicos constituídos por microrganismos (bactérias, vírus, fungos e parasitas), agentes químicos (desinfetantes, agrotóxicos, detergentes, esmalte e/ou base) e agentes físicos (cabelo, pedaços de madeira, plástico e palha de aço), sendo os agentes biológicos os principais envolvidos nas DVAs (SESC, 2003; SILVA JÚNIOR, 2008). Os perigos químicos podem alcançar os alimentos em qualquer etapa de produção dos alimentos, podendo ser benéficos ou maléficos. Aditivos químicos podem ser adicionados intencionalmente e são considerados seguros se estiverem dentro dos limites de segurança estabelecidos. É importante destacar que contaminações acidentais podem ocorrer através da matéria prima, podem acontecer durante o processamento, materiais e embalagens, bem como produtos químicos residuais de equipamentos (CARON, 2012). As doenças ocasionadas por perigos biológicos causam dano variável à saúde, dependendo do tipo, do número de microrganismo, além da velocidade de sua multiplicação no organismo e quantidade de toxina produzida no alimento ou no organismo. Outro fator importante é a sensibilidade do indivíduo, que varia de acordo com a idade e estado de saúde (BERTOLINO, 2010). Já os perigos físicos constituem qualquer tipo de material estranho, que não é comumente encontrado nos alimentos e que possa vir a causar qualquer tipo de injúria ao organismo, como perfurações de gengivas, mucosas, lesões aos dentes, ao tubo digestivo, dentre outros, geram desconforto e são casos constantes de reclamações (CARON, 2012). A implantação e a manutenção das BPF são as melhores formas de prevenção de Doenças Veiculadas pelos Alimentos (GERMANO; GERMANO, 2008). Deste modo, a verificação das condições de produção dos alimentos, além da educação continuada dos manipuladores são fundamentais para prevenção das DVAs (AGUIAR; KRAEMER, 2010). 3.5 TREINAMENTOS DE MANIPULADORES DE ALIMENTOS Diversos estudos realizados no Brasil e em outros países vem demonstrando que os manipuladores de alimentos são importantes fontes de contaminação dos alimentos, associando falhas no processamento dos alimentos e ocorrência das DVAs (SOARES; CANTOS, 2005). 34 Uma das formas para se obter a garantia da qualidade higiênico-sanitária dos alimentos é a realização de programas de capacitação aos manipuladores, através de treinamentos específicos sobre determinados temas, como por exemplo, nas etapas de manipulação, incluindo os cuidados necessários na produção, transporte, armazenamento e distribuição dos alimentos (STEFANELLO; LINN; MESQUITA, 2009; CASTRO, BARBOSA; TABAI, 2011). Embasado nisto, e tendo ciência da relevância destes colaboradores para a garantia da produção segura dos alimentos, os princípios de higiene devem ser continuamente reforçados e monitorados através da educação continuada (GERMANO; GERMANO, 2003). É essencial o conhecimento acerca das BPF na produção da alimentação escolar, tais informações poderão para melhorias na execução do PNAE a fim de garantir a produção de refeições adequadas e saudáveis e proteger a saúde dos alunos (GOMES; CAMPOS; MONEGO, 2012). Os treinamentos para manipuladores constituem em capacitar os funcionários quanto a contaminantes alimentares, DVA’s, manipulação higiênica dos alimentos, higiene pessoal e operacional e BPF, conforme sugere a RDC n.º 216/04. Uma capacitação ou instrução insuficiente representa uma ameaça potencial à segurança dos alimentos e a sua adequação para o consumo (CODEX ALIMENTARIUS, 2006). Assegurar a qualidade dos alimentos é uma preocupação crescente em todo o mundo e ela pode ser interpretada com o conjunto de cuidados no processamento dos alimentos, desde a obtenção da matéria-prima até o consumo, e deste modo, o manipulador de alimentos é o principal componente que pode afetá-la (LEITE et al., 2011). Devem ser ministrados para os manipuladores, regularmente, treinamentos que ensinem conhecimentos teórico-práticos necessários para o desenvolvimento de habilidades e de atividades específicas na área de alimentos. O programa de treinamento para funcionários de cozinha tem por objetivo adequar o processamento e a manipulação dos alimentos de acordo com as normas atuais em relação às condições higiênico-sanitárias necessárias para evitar os surtos de toxinfecções alimentares, eliminando riscos a saúde dos comensais, deve ser um processo contínuo e planejado (SACCOL, 2006). Segundo Silva, Silva e Beserra (2012), uma das grandes preocupações com o alimento se diz respeito à sua qualidade. Sendo então, necessário conhecer as condições higiênico- sanitárias desses alimentos durante todo o seu processamento, porém existem alguns fatores que podem afetar a qualidade dos alimentos e o principal envolvido é sem dúvidas o 35 manipulador dos alimentos. Estes profissionais são os principais veículos de contaminação e representam o fator de maior importância no sistema de controle higiênico-sanitário dos alimentos. O ser humano, uma vez que possui microrganismos distribuídos por todo o corpo, é agente de contaminação dos alimentos ao manipulá-los de forma inadequada e um potencial disseminador de bactérias como coliformes fecais e Staphylococcus aureus, principalmente devido à ausência de hábitos de higiene pessoal, como a lavagem de mãos, ou quando apresentam ferimentos e infecções na pele (BOCCALETTO; MENDES; VILARTA, 2010). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2006), manipulador de alimentos refere-se a todas as pessoas que preparam, distribuem e/ou vendem os alimentos (OMS, 2007). Sabendo da importância destes profissionais para garantir a produção de alimentos seguros, os princípios de higiene pessoal e de alimentos devem ser continuamente reforçados e monitorados, sendo essencial a realização de atividades de educação e formação inicial e continuada (GERMANO; GERMANO, 2003) No cenário atual, a capacitação profissional surge como um diferencial para alcançar a qualidade também associada à segurança alimentar (VASCONCELOS, 2008). De acordo com o PNAE, os alimentos servidos aos escolares para atender ao conteúdo normativo do Programa deve instituir a promoção de atividades de formação dos recursos humanos envolvidos na execução das refeições, incluindo as cantineiras (BRASIL, 2010). Como exigência estabelecida pela legislação vigente, os treinamentos para manipuladores de alimentos devem focar temas como a higiene pessoal, a manipulação correta dos alimentos, além das DVAs (BRASIL, 2004). A ausência ou insuficiência de treinamentos constitui uma ameaça potencial à qualidade e segurança dos alimentos produzidos (CODEX ALIMENTARIUS,2006). Segundo Heidemann e colaboradores (2009), manipuladores capacitados e conscientes de suas tarefas para assegurar a qualidade dos alimentos, proporcionam redução nos surtos alimentares, e consequentemente redução nos gastos com saúde e melhor qualidade de vida da população. Os treinamentos sobre BPF constituem requisitos básicos para implantação de programas de qualidade (TAVOLARO, 2006). Seaman e Eves (2006) destacam que os treinamentos são exigidos pela lei e fazem parte da estratégia eficaz de gestão de segurança do alimento. 36 Ansari-Lari, Sodbakhsh e Lakzadeh (2010) e Nunes e colaboradores (2010) salientam que além dos treinamentos é necessário um monitoramento periódico por um responsável técnico capacitado, para identificar as necessidades de outros treinamentos. Esse monitoramento deve ser complementado com inspeções de técnicos de órgãos públicos sanitários competentes Desta forma, as capacitações são requisitos básicos para implantação de programas de qualidade, uma vez que os manipuladores de alimentos têm importante papel na veiculação de microrganismos para o alimento manipulado (TAVOLARO, 2006). Além disso, a instrução para a produção de alimentos seguros também é uma exigência legal para os estabelecimentos produtores de alimentos e faz parte da estratégia eficaz de gestão de segurança do alimento (SEAMAN; EVES, 2006). Atividades lúdicas são fundamentais para trazer conceitos importantes de segurança dos alimentos, além de trazerem boa aceitação pelos participantes, também levam a integração do conhecimento com as atividades práticas (BALLESTERO-ALVAREZ, 2001; CHAGURI, 2006). 37 4 MATERIAL E MÉTODOS O Município de Rio Paranaíba - MG possui 3 escolas da rede Municipal, localizadas na área urbana que recebem alunos com idade entre 4 e 15 anos, atendidas pelo PNAE. Foi desenvolvido um estudo observacional descritivo no qual estas escolas, foram avaliadas mediante a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores - Industrializadores de Alimentos estabelecida pela RDC nº 275, de 21 de outubro de 2002 (Anexo A). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, protocolo número 2771/2013 (Anexo B). A coleta de dados se deu mediante consentimento do Secretário de Educação da Prefeitura Municipal de Rio Paranaíba - MG, através de assinatura de um termo de autorização para a realização da pesquisa, explicando os objetivos, metodologia e compromissos da pesquisa (Apêndice A). As diretoras foram comunicadas pela Secretaria de Educação sobre o desenvolvimento da pesquisa em suas escolas e que essa visita seria sem agendamento prévio. Foram realizadas 6 visitas pelo pesquisador, sendo 3 antes dos treinamentos e 3 após os mesmos. 4.1 APLICAÇÃO INICIAL DO CHECK-LIST A Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores / Industrializadores de Alimentos, estabelecida pela RDC nº 275 de 21 de outubro de 2002; foi aplicada em dois momentos distintos: a primeira antes das capacitações, e a segunda após os treinamentos dos manipuladores para avaliar o efeito dos treinamentos no atendimento das condições higiênico-sanitárias da produção da merenda escolar. Para o preenchimento dos check lists foram feitas observações do manipulador e do funcionamento da cozinha, por um único observador, em três momentos diferentes, para evitar falsos diagnósticos e só depois classificar como adequado ou inadequado. A estrutura física foi observada uma única vez. O preenchimento da Lista de Verificação se deu mediante observação do local e entrevista com os manipuladores e o responsável técnico. A Lista de Verificação foi dividida em duas partes: uma para identificação do serviço, endereço, responsável técnico, dentre outros e a outra parte para a avaliação das boas práticas de fabricação dos alimentos através da: higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios; controle da potabilidade da água; higiene e saúde dos manipuladores; manejo dos 38 resíduos; manutenção preventiva e calibração de equipamentos; controle integrado de vetores e pragas urbanas; seleção das matérias-primas, ingredientes e embalagens e programa de recolhimento de alimentos. As afirmativas do check-list foram analisadas usando “sim” para aqueles locais que atendiam o especificado, “não” para aqueles que não atendiam, ou “não se aplica” para os pontos inexistentes naquela unidade de alimentação. Após a aplicação dos questionários, os dados foram tabulados e as cantinas foram classificadas segundo a RDC nº 275/2002 (BRASIL, 2002): - Grupo I - Satisfatório: Atendia de 76 a 100% dos itens; - Grupo II - Regular: Atendia de 51 a 75% dos itens; - Grupo III - Insatisfatório: Atendia de 0 -50% dos itens. 4.2 TREINAMENTOS PARA OS MANIPULADORES DE ALIMENTOS Finalizado o diagnóstico das condições higiênico sanitárias, foram elaborados e ministrados três treinamentos pela pesquisadora responsável pelo projeto em parceria com o Curso de Nutrição da Universidade Federal de Viçosa – Campus de Rio Paranaíba, em local disponibilizado pela Prefeitura Municipal, sobre as boas práticas de fabricação de alimentos, conforme Figura 1. Figura 1 – Organograma dos treinamentos. Treinamento 1 Higiene pessoal e ambiental Teórico 1 hora Treinamento 2 Prevenção de intoxicação alimentar e contaminação dos alimentos Teórico + dinâmico 3 horas Treinamento 3 Armazenamento dos alimentos; Lixo; equipamentos e higienização da cozinha Teórico + prático 3 horas 39 Durante a realização dos treinamentos foram enfatizados os principais aspectos de segurança alimentar diagnosticados como inadequados pela avaliação através do check-list. Estas capacitações aconteciam à noite, fora do horário de trabalho dos manipuladores. No treinamento 2, foi realizada a Dinâmica da Caixa (Apêndice B). Já no treinamento 3, foram realizadas atividades práticas com os manipuladores sobre higienização correta das mãos, diluição de produtos para sanitização de verduras e frutas e diluição de produtos para desinfecção ambiental. Além disso, aconteceram algumas dinâmicas, como: dinâmica da tinta, dinâmica do glitter e dinâmica da dobradura de papel, descritas no Apêndice C. Nos treinamentos foram enfatizados os principais aspectos de segurança alimentar diagnosticados como inadequados na avaliação pelo check-list. Participaram do estudo 20 manipuladores de alimentos, que trabalham na produção da merenda escolar das três escolas municipais de Rio Paranaíba – MG, que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice D) e que participaram de todas as etapas. As escolas foram denominadas por algarismos arábicos e os participantes foram agrupados por local de trabalho, sendo 9 manipuladores da escola 1, 6 da escola 2, e 5 colaboradores da escola 3. Primeiramente, os manipuladores de alimentos preencheram uma ficha de identificação contendo informações sobre sexo, idade, nível de escolaridade, tempo de serviço na função e participação em outras capacitações (Apêndice E). Durante os treinamentos, os manipuladores foram avaliados quanto aos conhecimentos e aproveitamento do treinamento sobre cada assunto abordado. Para medir o conhecimento adquirido foi aplicado um questionário estruturado, contendo 10 perguntas e entregue a cada participante no início e no final de cada evento (Apêndice F). Cada pergunta foi avaliada no valor de um (01) ponto. Todos os questionários foram corrigidos para verificar a efetividade dos treinamentos, através da comparação das respostas obtidas nos dois questionários aplicados. Os questionários foram elaborados mediante os assuntos abordados na RDC Nº 216/ 2004 (Brasil, 2004) e porHazelwood e McLean (1998); Aberc (2003) e Silva Junior (2008). Em função da percentagem de respostas certas nos questionários, o nível de conhecimento dos manipuladores foi classificado conforme metodologia adaptada de Araújo et al. (2010) como: - Excelente: quando o número de respostas certas variou de 9 a 10 pontos; - Bom: quando o número de respostas certas variou de 7 a 8,9 pontos; 40 - Regular: quando o número de respostas certas variou de 5 a 6,9 pontos; - Ruim: quando o número de respostas certas variou de 3 a 4,9 pontos; - Péssimo: quando o número de respostas certas foi abaixo de 3 pontos. Os manipuladores não receberam nenhum tipo de informação no momento de aplicação do questionário, visando preservar o conhecimento de cada participante. No final de cada treinamento foi distribuída uma cartilha sobre o tema abordado (Apêndice G). 4.3 APLICAÇÃO FINAL DO CHECK-LIST Após as capacitações dos manipuladores, foi realizada uma segunda visita às cantinas das escolas e o check-list foi aplicado conforme metodologia da primeira visita (descrito acima), para avaliar o efeito dos treinamentos no atendimento das condições higiênico- sanitárias da produção da merenda escolar. 4.4 TRATAMENTO DOS DADOS Os dados dos check lists foram tabulados e feita uma análise comparativa para verificar se houve diferença no atendimento aos requisitos higiênico sanitários após os treinamentos. Para a análise estatística utilizou-se o programa estatístico Statistic Package for the Social Sciences – SPSS, versão 15.0. Tabela 1 – Classificação da correlação linear de Pearson Coeficiente de correlação Correlação r = 1 Perfeita positiva 0,8 ≤ r < 1 Forte positiva 0,5 ≤ r < 0,8 Moderada positiva 0,1 ≤ r < 0,5 Fraca positiva 0 < r < 0,1 Íntima positiva 0 Nula - 0,1 < r < 0 Íntima negativa -r 0,5 < r < - 0,1 Fraca negativa - 0,8 < r ≤ - 0,8 Moderada negativa - 1 < r ≤ 0,8 Forte negativa r = -1 Perfeita negativa Fonte: Vieira (1984) 41 Aplicou-se o teste t pareado para verificar o impacto dos treinamentos no conhecimento dos manipuladores antes e após as palestras. Para comparar a eficácia dos treinamentos utilizou-se o teste de Tukey. O nível de significância adotado foi de 5%. Para avaliar a relação entre as notas dos manipuladores nos testes de conhecimento, após as capacitações, utilizou-se a Correlação Linear de Pearson, obedecendo a classificação descrita na Tabela 1. 42 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 PERFIL DOS MANIPULADORES DE ALIMENTOS Os manipuladores de alimentos destas escolas são compostos por 100% de mulheres. Ao avaliar a idade das mulheres das três escolas estudadas, verificou-se que a maioria delas, 55% possuía idade entre 40 a 49 anos, conforme Tabela 2. Mello et al. (2010) avaliando colaboradores de restaurantes do Rio de Janeiro, perceberam que a faixa etária destes, estava entre 30 e 49 anos de idade, o que se assemelha ao resultado obtido. Tabela 2 – Perfil dos manipuladores de alimentos de escolas municipais de Rio Paranaíba – MG. Características Nº % Sexo Feminino 20 100 Idade (anos) 20-29 1 5 30-39 6 30 40-49 11 55 50-60 2 10 Escolaridade Ensino fundamental incompleto 7 35 Ensino fundamental completo 1 5 Ensino médio incompleto 5 25 Ensino médio completo 5 25 Ensino superior incompleto 2 10 Renda mensal (SM) Até 1 9 45 1,1 – 3 9 45 3,1 – 5 2 10 Tempo de trabalho como manipulador de alimento 0 -11 meses 1 5 1 – 3 anos 5 25 3 anos, 1 mês – 5 anos 2 10 5 anos, 1 mês – 10 anos 2 10 10 anos, 1 mês – 15 anos 5 25 15 anos, 1 mês – 20 anos 5 25 SM = Salário Mínimo (678,00 reais). Fonte: Dados pesquisa. 43 Ferreira et al. (2013b) observou resultado diferente, com apenas 71,1% da amostra de manipuladores do sexo feminino e com distribuição uniforme de faixa etária, 70% com idade entre 32 e 41 anos e 30% com mais de 41 anos. Entretanto, Soares et al. (2012) notou hegemonia de manipuladores do sexo feminino entre manipuladores da merenda escolar de Camaçari, Bahia. Gonzalez et al. (2009) obtiveram em seu estudo, 51% de manipuladores do sexo masculino, contra 49% do sexo feminino. Em relação à idade, estes mesmos autores notaram que 66% dos manipuladores tinham idade entre 28 e 49 anos. Lopes e Mourão (2010) detectaram que os trabalhadores de maior faixa etária são mais encorajados e motivados com os treinamentos. Conforme pode ser visto na Tabela 2, 35% dos manipuladores não concluíram o ensino fundamental. Diferindo de Ferreira et al. (2013b), que verificaram que 65,8% dos manipuladores possuíam ensino médio completo ou superior incompleto ou completo. Gonzalez et al. (2009) observaram que 2,62% possuíam ensino médio completo, 7% ensino superior incompleto e 2% eram analfabetos, já no estudo de Mello et al. (2010) 35% dos manipuladores possuíam ensino fundamental incompleto. Segundo Colombo, Oliveira e Silva (2005) e Soares et al. (2012) a escolaridade é fator relevante na absorção dos conhecimentos, pois baixos padrões são associados a níveis escassos de instrução acerca dos patógenos responsáveis pelas DVAs. Quanto a renda familiar 45% possuía renda de 1 salário mínimo e apenas 10% possui renda familiar maior que 5 salários mínimos (Tabela 2). Mello et al. (2010) ao avaliarem restaurantes públicos populares do estado do Rio de Janeiro (RJ), notaram que 60,2% dos entrevistados possuíam renda de um salário mínimo. Nolla e Cantos (2005) associaram a baixa renda familiar como fator determinante para a ocorrência de enteroparasitoses, o que pode ser considerado fator de risco, já que os manipuladores de alimentos são potenciais transmissores de enteroparasitoses. Verificou-se que 50% dos manipuladores exerce a função com tempo de serviço entre 10 a 20 anos, e 5% com 0 a 11 meses. 25% trabalham nesta função entre 1 a 3 anos e os demais variam o tempo de serviço nesta função, entre 3 a 15 anos (Tabela 2). Diferindo de Mello et al. (2010) e também Ferreira e colaboradores (2013b) que destacaram em seus estudos que os manipuladores avaliados estavam no seu primeiro emprego e possuíam pouco tempo exercendo esta função, o que difere do observados entre estes manipuladores de escolas de Rio Paranaíba – MG. 44 De acordo com Ferreira e colaboradores (2013a) a rotatividade de manipuladores faz com que os treinamentos sejam inválidos e dificultem a evolução nos sistemas de qualidade. Desta forma, o grande tempo de serviço pode ser destacado, como fator positivo. 5.1.1 Função de manipulador de alimentos em outro estabelecimento Ao questionar os manipuladores sobre a execução desta função em outros estabelecimentos, 50% deles relataram não ter trabalhado em nenhum outro local, além da escola (Gráfico 1). Gráfico1 – Percentagem de manipuladores de alimentos que trabalhavam em outros estabelecimentos. Fonte: Dados da Pesquisa 5.1.2 Exercício de outra função em conjunto com a função de manipulador de alimentos Questionados sobre o exercício de outras funções cumulativas à função de manipulador de alimentos, 70% dos manipuladores relataram trabalhar em serviços gerais, além de manipular alimentos (Gráfico 2). Assim como descrito por Colombo, Oliveira e Silva (2009), que relataram que 87% das cantineiras das creches e escolas avaliadas, também trabalhavam na limpeza de salas, lavagem de roupas, dentre outros. Campos et al. (2009) constataram que em parte dos estabelecimentos avaliados, existiam manipuladores que além das funções de preparo dos alimentos, também higienizavam sanitários, com o mesmo uniforme utilizado para a produção de alimentos. 50 5 25 15 5 Nenhum Restaurante Escolas Creches Hospital 45 Gráfico 2 – Percentagem de manipuladores que exerciam outras funções além de
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