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PEDAGOGIA ANTROPOLOGIA PROFESSOR: NELSON DE SENA INTRODUÇÃO SUMÁRIO: UNIDADE 1: O QUE É ANTROPOLOGIA? 1.1 Etnocentrismo 1.2 Alteridade 1.3 Relativismo Cultural 1.4 Diversidade Cultural UNIDADE 2: A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 2.1 Da natureza à Cultura 2.2 Símbolos e Sinais 2.3 O determinismo biológico e o determinismo geográfico 2.4 Racismo 2.5 Formação do conceito: Kultur e Civilization 2.6 Cultura um elemento dinâmico 2.7 Antropologia do gênero 2.8 Cultura e sincretismo religioso UNIDADE 3: AS POSSIBILIDADES DE INTERFACE ENTRE O DIREITO E A ANTROPOLOGIA 3.1 Formas de controle 3.2 Sistema judiciário 3.3 Direitos sociais e as lutas sociais por direitos 3.4 Direito das Minorias 3.5 Diversidade Cultural, família e violência 3.6 Cultura e criminalidade 13 19 24 29 35 44 51 58 65 74 79 84 86 91 94 98 104 105 CRÉDITO DE ATRIBUIÇÃO EDITORIAL: Sergey Uryadnikov / Shutterstock.com 5 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. INTRODUÇÃO AMIGO ACADÊMICO, Antes de entrarmos propriamente no conteúdo desta aula é necessário considerarmos algumas questões preliminares. A primeira pergunta que se faz é: POR QUE ESTUDAR ANTROPOLOGIA? POR QUE ESTUDAR ANTROPOLOGIA E NÃO ALGUMA MATÉRIA ESPECÍFICA DO CURSO? Bem existem algumas disciplinas que são essenciais para o desenvolvimento de qualquer aca- dêmico, seja das exatas, das humanas ou sociais aplicadas. Essas disciplinas são obrigatórias e se constituem numa clara tentativa de criar um conceito de cidadania, tão carente em nossa sociedade. Assim, além de excelentes profissionais, precisamos também de cidadãos dispostos a mudar a história de nosso país. E a antropologia é exatamente isso: um olhar sobre o outro. Por que existem tantas diferenças culturais? Por que as pessoas possuem religiões e leis tão diferentes umas das outras? Qual so- ciedade afinal está correta? Mas afinal, por que é necessário entender o outro? Por que isso é essencial nos tempos que vive- mos? Eu serei um profissional melhor se eu estudar essa disciplina? Exatamente esse é o objetivo dessa disciplina: entender o outro não como adversário ou inimigo, mas como um ser humano com características, que, por sua história lhe são próprias. Um bom exemplo disso foi o famoso 11 de setembro de 2001. Todos se lembram dos aviões se cho- cando sobre as torres, sendo que um dos choques transmitidos ao vivo para o mundo todo. Logo descobrimos que os atentados foram realizados por pessoas com uma religião, leis e vivencias completamente diferentes das nossas. Ficamos assustados com o tamanho da tragédia. Apren- demos a ver os islâmicos, os “outros”, como terroristas fanáticos que queriam destruir o mundo. Criamos então um inimigo que justificou bombardeios, invasões etc. A antropologia propõe que um olhar crítico sobre as praticas do outro, os seus motivos e, a partir daí tentar entender por que se deu tal fato. 6 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO Por exemplo: 01_Todos os islâmicos são terroristas? 02_O islã realmente prega a destruição de quem não é de sua religião? 03_Quando os Estados Unidos bombardeiam algum outro país, são cristãos que estão bombar- deando? Pois bem, observe a charge abaixo: Os dois estão falando a verdade ou os dois mentem? Ou só o islâmico mente? FONTE: http://objetivoatualidades.blogspot.com.br/2015/09/aula-262015-estado-islamico-causa-fato.html. Dito isso, vamos ver agora, o que se entende por antropologia. INTRODUÇÃO UNIDADE O que é Antropologia? 1.1 Etnocentrismo 1.2 Alteridade 1.3 Relativismo Cultural 1.4 Diversidade Cultural 1 13 19 24 29 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 8 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. ANTROPOLOGIA é a junção de duas palavras gregas, que significam Estudo do homem. Mas em que sentido? Afinal a medicina, por exemplo, estuda o homem também. O mesmo acontece com a biologia, a história etc. Pois bem, a antropologia se interessa pelo homem em alguns aspectos bem específicos: a cultura e a sociedade. Ela estuda, principalmente, que toda sociedade age e pensa e formula suas leis, enfim, por existem sociedades tão diferentes da minha? Entender o outro é talvez o grande objetivo dessa disciplina. Afinal, se isso fosse levado a serio, talvez o mundo não tivesse visto duas guerras mundiais, não existiria o racismo, a homofobia o preconceito. Embora a Antropologia compreenda três dimensões básicas (biológica, sociocultural e filosófica), vamos nos deter em seu aspecto cultural pela importância para todas as áreas do saber. Observe a charge abaixo: qual cultura está correta? FONTE: http://aulasdoaugusto.blogspot.com.br/2010/02/charge-o-olhar-antropologico.html. Para a antropologia, não existem culturas certas ou erradas, existem apenas culturas diferentes. Nós pensamos e agimos, por causa de padrões que apendemos durantes séculos. 9 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? A pergunta que se faz então é a seguinte: QUAL A CAUSA DO PRECONCEITO, QUAL A CAUSA DE TANTAS MORTES DE QUEM NÃO PEN- SA IGUAL? POR QUE EXISTE TANTO RACISMO NO MUNDO? Observe a charge abaixo. FONTE: http://sanchezgallegos.blogspot.com.br/2014/11/etnocentrismo-y-relativismo-cultural.html. Você concorda com a postura de ridicularizar o outro? Você acha que uma das religiões abaixo é mais importante que a outra? A ANTROPOLOGIA E SUAS ORIGENS Muitos veem a origem da antropologia, por exemplo, nos relatos de Heródoto na Grécia antiga. Mas comumente sua origem “cientifica” data do século XIX. Observe o texto abaixo que elucida bem estas origens: Para DaMatta, todo antropólogo terá que conviver sempre com gene- ralizações sobre o específico de uma certa sociedade ou grupo e com a necessidade de escolher alternativas (Ibid., p. 87-89). Jamais será possível num determinado momento ter-se uma visão completa e definitiva de " " UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 10 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. uma determinada cultura. Isso explica porque até o século XVIII a Antro- pologia não era vista como ciência. Muitas pessoas como cronistas, viajan- tes, soldados, missionários, comerciantes relataram fatos e deixam dados sobre povos e culturas, mas somente nos meados do século XVIII é que a Antropologia começa a aparecer como ciência. Normalmente se conside- ra como primeiros antropólogos os seguintes cientistas: Linneu (que foi o primeiro a descrever as raças humanas), Boucher de Perthes (o primeiro a relatar achados pré-históricos) e John Lubock que fez os primeiros estu- dos sobre a Idade da Pedra, estabelecendo as diferenças culturais entre o Paleolítico e o Neolítico. Porém, a consagração definitiva da Antropo- logia como ciência vai se dar somente depois dos estudos de Darwin, o qual propôs a teoria da evolução. No séculoXX a Antropologia conhece um grande progresso, fruto das descobertas sobre o ser humano e as constan- tes pesquisas de campo realizadas com bastante rigor científico. (Disponível em: <https://www.ucb.br/sites/000/14/PDF/Aantropologiaco- mociencia.pdf>. Acesso em 13 dez. 2016). Observe agora o vídeo abaixo, que vai ajudar no entendimento de nosso conteúdo: Muito bem, agora iremos realizar nossa atividade final dessa unidade. Leia atentamente o texto abaixo e faça uma dissertação sobre o mesmo, tentando utilizar o que vimos acima. SITE: "ANTROPOLOGIA CULTURAL (VÍDEO 1)" " " 11 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? “Menino teve fígado dilacerado pelo pai, que não admitia que criança gos- tasse de lavar louça, Alex, de 8 anos, era espancado repetidas vezes para aprender a ‘andar como homem’” Esse texto está disponível no fórum, onde você deverá postar sua percepção a luz do que foi apre- sentado nesta aula. E você ainda poderá ler esta notícia na íntegra acessando o link: E leia mais sobre esse assunto em nosso texto de apoio e aprofundamento de estudos “A antro- pologia como ciência”, por José Lisboa Moreira Oliveira. SEJA BEM-VINDO E ATÉ A PRÓXIMA SEMANA! SITE: "MENINO TEVE FIGADO DILACERADO PELO PAI(...)" " " UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 12 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Observe a figura: FONTE: http://nucleopedagogicodesociologia.blogspot.com.br/2014/07/etnocentrismo-questao-de-inicio-o- -que.html. Temos duas posições na charge que chamam a atenção: ambos acham a prática religiosa do ou- tro motivo de riso. VOCÊ ACHA CERTA ESTA POSTURA? Na aula de hoje vamos estudar um conceito que trata exatamente disso: entender que sua práti- ca cultural, nos mais variados aspectos, é melhor que a do outro. Minha religião é a certa. Minha família é a correta. Minha opção sexual é a correta... A esta prática chamamos de Etnocentrismo. 13 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 1.1 ETNOCENTRISMO O etnocentrismo trata-se de uma visão que toma a cultura do outro, como algo menor, sem valor, errado, primitivo. Ou seja, a visão etnocêntrica desconsidera a lógica de funcionamento de outra cultura, entendendo que somente a sua referencia cultural está correta. Observe esta definição: Além da fome, da miséria, das doenças, da desigualdade, um dos graves problemas que o mundo contemporâneo enfrenta é a intolerância entre os povos. A dificuldade em encarar a diversidade humana conduz à nega- ção dos valores culturais alheios e supervalorização do ‘grupo do eu’, visão e atitude que chamamos de etnocentrismo, ou seja, uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os ou- tros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensar a diferença; no plano afetivo, como senti- mentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. (ROCHA, 1994, p.7). Podemos dizer que a dificuldade de convivência entre os povos remonta aos primórdios do homem. A história nos revela em todos os seus períodos exemplos da percepção negativa de um povo diante de outro. Indepen- dente de sua origem, africanos, americanos, asiáticos ou europeus, esta sempre foi uma atitude comum. Os gregos, por exemplo, chamavam de bárbaros aos povos que não partilhavam da cultura helênica; os europeus denominavam os nativos africanos e americanos de selvagens e posterior- mente de primitivos; as comunidades do tronco Tupi que habitavam o lito- ral brasileiro referiam-se aos grupos que viviam no interior como Tapuias; o povo judeu, a maior vítima da intolerância entre os povos na modernidade, também designava de gentios outros povos numa referência depreciativa a quem não fazia parte do grupo dos ‘eleitos’ (ASSIS; NEPOMUCENO. Aces- so em: dez. 2016). " " " " UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 14 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Portanto, o etnocentrismo é uma avaliação que fazemos pautada em juízos de valor daquela prá- tica cultural que é considerada diferente. Vamos ver alguns exemplos. Observe a figura abaixo: FONTE: http://sociologia-agroindustria.blogspot.com.br/2010/08/etnocentrismo.html Certamente você sabe do que se trata: do Nazismo. Pautado por uma ideia extremamente etno- cêntrica, este regime arrastou o mundo para uma guerra mundial e nos deixou perplexos com os campos de concentração espalhados pela Europa, onde milhares de pessoas morreram. 15 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? Vamos ver outro exemplo: O verdadeiro genocídio que sofreram os nativos das Américas. Milhões deles foram mortos e escravizados. Tiveram sua cultura totalmente destruída e foi lhes imposto novo modo de ver o mundo. FONTE: http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2011/02/catequizacao-dos-povos-indigenas.html. Vamos assistir ao vídeo “Etnocentrismo”, para entender melhor o seu conceito. Mas, e hoje em dia? Em pleno século XXI existem práticas etnocêntricas? Vamos ver alguns casos e trocar algumas ideias. VIDEO: "ETNOCENTRISMO" UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 16 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Após todos os casos apresentados, caso você ainda tenha dúvida ou deseja aprofundar mais no assunto, leia nosso texto de apoio disponibilizado no AVA. Trata-se de um texto-aula das profes- soras Cássia Lobão Assis e Cristiane Maria Nepomuceno, sob o título “(Des)encontro de culturas: etnocentrismo e relativismo”. Vale a pena conferir. Muito bem, agora iremos realizar nossa atividade final dessa unidade. FONTE: https://botadentro.wordpress.com/2016/05/05/porque-o-amor-e-essencial-o-armandinho-ja-sabe- -disso-e-voce/. VÍDEO: "O MATERIAL JORNALÍSTICO (...)" VÍDEO: "JAIR BOLSONARO REFORÇA HOMOFOBIA (...)" VÍDEO: "É 'ABSURDO' ACHAR QUE NÃO EXISTE RACISMO (...)" 17 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? FONTE: http://www.juniao.com.br/chargecartum/. Veremos o conceito de alteridade, um dos mais importantes de nossa disciplina e das ciências de um modo geral. O mundo atual, denominado as vezes, de “pós-moderno”, as vezes de “globalizado”, ao mesmo tempo que cria uma “aldeia global”, com variações culturais universalizadas, comopor exemplo, os filmes de Hollywood, o show business norte-americano, também universalizou o preconceito e a xenofobia dentre outros problemas atuais. Por isso, no conturbado cenário do século XXI, a al- teridade é, talvez, a palavra chave para a superação dos preconceitos e para a convivência pacifica entre os grupos humanos. MAS AFINAL O QUE SIGNIFICA ALTERIDADE? UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 18 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. 1.2 ALTERIDADE Observe a charge abaixo: FONTE: http://sarauxyz.blogspot.com.br/2016/03/alteridade.html Pois bem! Observe agora esse poema: Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido O português. (ANDRADE, Oswald. Obras completas. v. 6-7. Rio de Janei- ro: Civilização Brasileira, 1972). " " 19 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? Tanto o poema quanto a charge falam do mesmo tema: COMO EU VEJO AQUILO QUE É COMPLETAMENTE DIFERENTE DO QUE EU PENSO, QUE É DI- FERENTE DO MEU MODO DE AGIR, DAS MINHAS LEIS, DA MINHA RELIGIÃO ETC.? Existem duas maneiras de reagir a isso: agir etnocentricamente, como vimos na outra aula, ou agir de outra forma como veremos abaixo: No nosso texto base, você perceberá que dentre os vários conceitos possíveis de alteridade, um deles fala, que ela se refere “ao conceito que o indivíduo tem segundo o qual os outros seres são distintos dele. Contrário a ego”. Pode-se dizer também que vem do latim alteritas. Ser outro, colo- car-se ou constituir-se como outro”. Pois bem, a outra forma, sem ser a de julgar o outro, é tentar entender por que ele pensa assim. Cada um pensa e age de determinada formas porque ele culturalmente aprendeu a agir assim. Portanto não existem culturas melhores ou piores, apenas diferentes. Se você quiser melhor se apropriar do conceito de Alteridade, sugerimos como leitura nosso tex- to para aprofundamento de estudo sob o título “Conceito de Alteridade” de autoria do sociólogo Lucas de Oliveira Rodrigues. No desenho abaixo, temos uma visão do que acontece quando vemos “um diferente” e olhamos de forma etnocêntrica para aquilo que é diferente. Nós vemos o outro e o julgamos de acordo com nossos padrões de comportamento. O Olhar Etnoc»ntrico do “Outro” O Outro Como Ele ßReflexo do Outro UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 20 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. LEMBRANDO: Temos que nos colocar no lugar do outro para poder compreendê-lo. Para que você se aprofunde mais sobre a questão do olhar a si e olhar o outro, ouça a entrevista com o Prof. Mario Sergio Cortella “Visão de Alteridade Visão do Outro”. Você também pode verificar em nosso texto base, que Frei Beto termina com esta colocação precisa: Só existe generosidade na medida em que percebo o outro como outro e a diferença do outro em relação a mim. Então sou capaz de entrar em relação com ele pela única via possível – porque, se tirar essa via, caio no colonialismo, vou querer ser como ele ou que ele seja como sou - a via do amor, se quisermos usar uma expressão evangélica; a via do respeito, se quisermos usar uma expressão ética; a via do reconhecimento dos seus direitos, se quisermos usar uma expressão jurídica; a via do resgate do real- ce da sua dignidade como ser humano, se quisermos usar uma expressão moral. Ou seja, isso supõe a via mais curta da comunicação humana, que é o diálogo e a capacidade de entender o outro a partir da sua experiência de vida e da sua interioridade. " " 21 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? Agora! Observe a charge abaixo: FONTE:https://noticias.bol.uol.com.br/fotos/bol-listas/2015/12/12/22-memes-virais-e-outras-coisas-le- gais-que-bombaram-na-web-e-no-whatsapp-em-2015.htm?cmpid=tw-bol#fotoNav=18 VOCÊ SABE QUEM É ESSA E O QUE ELA TEM A VER COM NOSSA HISTÓRIA? Pois bem trata-se de uma das maiores escritoras de todos os tempos, Simone de Beauvoir. Há muito tempo atrás, ela afirmou que, “Não se nasce mulher, torna-se mulher”. Ela fazia um exercício de alteridade, para tornar as mulheres o que elas realmente são por dentro e não o que a cultura as tornava. Tentava mostrar que em uma sociedade machista como a que ela vivia e que vivemos até hoje, onde o homem é colocado em uma posição social superior e a mulher é considerada o UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 22 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. “segundo sexo”, tem de seguir uma conduta já determinada para ser considerada mulher, como: ser frágil, delicada, submissa, mãe, esposa, bela, recatada e do lar. Simone de Beauvoir veio, com seu pensamento de que “era necessário que as mulheres se “tornassem mulheres”” para enfren- tarem o preconceito e conquistarem a igualdade de direitos com os homens, sendo livres para agir como quiserem, livres dos padrões da sociedade. Olhar as mulheres com alteridade é deixar que elas sejam o que são em sua essência e não o que a sociedade espera delas. Apesar disso, inúmeras pessoas, numa atitude clara de etnocentrismo, posicionaram-se contra a questão do Enem. Diziam ser um absurdo alguém tonar-se mulher. Em um desconhecimento claro do que a filósofa disse, diziam ser um absurdo “torna-se mulher”. Que, afinal elas já nasciam mulher. Esse pensamento arraigado na sociedade mostra como ainda hoje, o machismo é um dos maiores entraves a alteridade. Observe as charges abaixo: FONTE: https://bloguniversidadelivrepampedia.com/2016/01/18/so-os-homens-podem-por-um-fim-no-machismo/ SITE: "ENEM 2015: QUESTÃO SOBRE FEMINISMO(...)" 23 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? FONTE: https://peramblogando2.wordpress.com/category/mafalda/ FONTE: http://filonamidia.blogspot.com.br/2012/05/desafio-1-ano-2-bimestre.html Todas elas mostram, de maneira divertida um problema sério: o Brasil ainda é um país com um elevadíssimo número de assédios morais e sexuais, ainda é grande a violência contra a mulher, ainda recebem salários menores para a mesma função etc. Ainda estamos longe do dia que o exercício da alteridade será uma regra e não uma exceção. Faça uma pesquisa sobre a violência contra a mulher no Brasil e após, redija um texto posicionan- do-se sobre este grave problema. ATÉ BREVE! UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 24 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to dig it al , s ob a s p en as d a le i. 1.3 RELATIVISMO CULTURAL Vamos começar com alguns exemplos: FONTE: http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2010/09/charge-370/. A charge acima nos mostra como reagimos quando não se pensa sob uma posição relativista: achamos que nossa cultura: 01_Leis; 02_Sistema Econômico; 03_Religião; 04_Crenças, etc. são melhores que a do outro. Muitas vezes nem percebemos o quanto nós mesmos utilizando praticas que são daquela cultura que desprezamos. Você já deve ter percebido que que a posição contrária do relativismo cultural, é o etnocentrismo. 25 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? Em nosso texto de apoio, temos a seguinte definição de relativismo cultural: “O relativismo cultural é uma teoria que implica a ideia de que é preciso compreender a diversidade cultural e respeitá-la, reconhecendo que todo sistema cultural tem uma coerência interna própria” (ASSIS; NEPOMUCENO, 2008). Isto significa que a proposta do relativismo cultural é: 01_Compreender que a diferença deve ser tomada como sinônimo de diversidade e nunca de desigualdade; 02_Não devemos usar os padrões da nossa própria cultura para julgar os padrões culturais de outro grupo; 03_Perceber que o que caracteriza o homem : “(...) é sua aptidão praticamente infinita para inventar modos de vida e for- mas de organização social extremamente diversas” (Texto de apoio). Deve-se ressaltar que a ideia relativista surge quando se busca uma superação do etnocentrismo. A ideia de que o mundo é plural e que vivemos em uma grande diversidade cultural levaram aos questionamentos dos pressupostos absolutistas, ou seja, daqueles que entendem existir apenas uma cultura “certa”. No mundo ocidental, por exemplo, ainda temos várias formas etnocêntricas de ver o mundo: 01_O sistema capitalista é o correto, sendo os outros menosprezados; 02_Na prática sexual, a heterossexualidade é o “padrão”, sendo o diferente digno de repúdio; 03_O cristianismo é a religiosidade “correta”, em detrimento de qualquer outra, e assim vai. Portanto, devemos ter em mente o seguinte: As diferenças entre as sociedades são oriundas das formas encontradas pelo homem para se relacionar com a natureza. " " " " UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 26 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Ou seja, as formas de agir, pensar, criar, são oriundas de um determinado padrão cultural a que fomos submetidos, não existindo uma visão única e certa, mas visões plurais e muitas vezes com- plementares. Vamos assistir ao vídeo “Colonizado”, do grupo de humor Porta dos Fundos. Pois bem, este vídeo, de forma bem-humorada, mostra a relação entre o colonizador e os nossos nativos. Como diz uma música bem conhecida: [...] nos deram espelhos e vimos um mundo doente. De fato, o que ocorreu em nosso país foi um “genocídio”. Este termo é utilizado para designar o “extermínio parcial ou total de algum grupo étnico, racial ou religioso”. Nas Américas o genocídio destruiu culturas inteiras. Todo um modo de vida foi destruído dando lugar a outro, “correto” dos europeus: 01_Religião; 02_Linguagem; 03_Alimentação; 04_Crenças; 05_Vestimentas... tudo foi trocado pelos colonizadores. VIDEO: "COLONIZADO" " " 27 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? Observe a charge abaixo: FONTE: http://www.taquiprati.com.br/cronica/959-dois-presos-e-uma-medida Foi realmente isto que aconteceu. Os nativos das três Américas tiveram suas terras tomadas, sua cultura usurpada e, quando fugiam, diziam que ele era preguiçoso. COMO SE EXPLICA HOJE? 01_O índio não era "preguiçoso", ele na verdade, não conhecia a i´deia de trabalho tal qual o europeu. 02_Os africanos eram tão fortes quanto os índios, porém a escravidão gerava muito dinheiro para Portugal por causa do tráfico negreiro. Na verdade, se os europeus tivessem praticado o relativismo cultural, o mundo hoje seria ainda mais plural e diverso, como na foto abaixo: cada cultura tem sua maneira de se vestir, alimentar UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 28 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. etc., sem que isso signifique que uma é a certa ou a errada, pois elas são apenas diferentes. Observe o perigo que é, ter uma visão fundamentalista da cultura. Em nome dela, mortes, perver- sões, assassinatos são tidos como “normais”, por serem feito em nome de uma divindade. Certamente você se lembra do ataque a Boate gay nos EUA. Dezenas de mortos. Qual a causa disso? Observe o link: SITE: "O DRAMA DAS ESCRAVAS SEXUAIS DO ESTADO ISLÂMICO" SITE: "ATAQUE EM BOATE GAY DEIXA 50 MORTOS" 29 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? Pois bem, essas práticas revelam como o mundo é muito mais etnocêntrico que relativista e como, ainda estamos longe de ver o outro como um diferente e não como um herege. Caso queira saber mais sobre o Relativismo Cultural, leia nosso texto de apoio sob o título “Infan- ticídio indígena, relativismo cultural e direitos humanos: elementos para reflexão”, de autoria de Ana Keila Mosca Pinezi. Nele a autora coloca em debate questões relativas a práticas tradicionais, dinâmica cultural, relativismo cultural, contato interétnico e direitos universais do homem. Outra forma para que você se aproprie bem do conceito da temática tratada nesta aula é assistin- do ao vídeo complementar: “Relativismo Cultural”, postado também em seu AVA. A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), aprovou em 2001 a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, um dos mais importantes documentos já elaborado por este organismo, no qual, além de assegurada a diversidade pessoal ou coletiva, a cultura é compreendida como [...] conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afe- tivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças. 1.4 DIVERSIDADE CULTURAL A diversidade cultural é mais que uma concepção teórica, é a constatação de que somente assim poderemos ter uma sociedade com menos preconceito, maior tolerância e, principalmente, me- nos violência. Desde os gregos foram feitas várias tentativas de se explicar por que os homens possuem cos- tumes tão variados. Além disso, era comum chamar de bárbaros (como os romanos) ou gentios (como os Judeus) quem não praticava a sua cultura, falava sua religião ou seguia seu deus. Na modernidade, começamos a perceber que a diversidade cultural era enorme, o que levou " " UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 30 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n osd a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. muitos pensadores a formular novas teorias que vissem a diversidade pela ótica do pluralismo e do relativismo e não do etnocentrismo. Essa nova concepção do mundo fazia uma árdua defesa da diversidade cultural como única prá- tica para que as identidades culturais fossem preservadas e não aniquiladas, principalmente por causa da globalização atual. Observe o desenho abaixo e veja como somos múltiplos: FONTE: http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/a-diversidade-cultural-brasileira-sala-au- la.htm. Apesar de diversos somos parte do mesmo país, da mesma nação. Por isso, a aceitação do outro é a única garantia possível de que eu mesmo tenha o meu direito preservado. Por exemplo: no inicio de nossa história, os católicos obrigavam os nativos a seguirem sua religião. Tempos depois foi a vez dos protestantes sofrerem perseguição religiosa em nosso país. E agora? 31 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? Como está a intolerância religiosa em nosso país? Quem a pratica? Os grupos afro-descentes pos- suem os mesmos direitos que as outras religiosidades? Observe atentamente a charge abaixo. O QUE VOCÊ ACHA DELA? Fonte: http://ciencia.folhadaregiao.com.br/2012/04/cruzes-da-discordia.html. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? 32 UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Observe agora a belíssima canção da música abaixo, “SER DIFERENTE É NORMAL” Todo mundo tem seu jeito singular De ser feliz de, de viver e de enxergar Se os olhos são maiores ou são orientais E daí? Que diferença faz? Todo mundo tem que ser especial Em oportunidades, em direitos, coisa e tal Seja branco, preto, verde, azul ou lilás E daí? Que diferença faz? Já pensou, tudo sempre igual? Ser mais do mesmo o tempo todo não é tão legal Já pensou, sempre tão igual? Tá na hora de ir em frente Ser diferente é normal Ser diferente é normal Ser diferente é normal Todo mundo tem seu jeito singular De crescer, aparecer e se manifestar Se o peso na balança é de uns quilinhos a mais E daí, que diferença faz? Todo mundo tem que ser especial Em seu sorriso, sua fé e no seu visual Se curte tatuagens ou pinturas naturais E daí, que diferença faz? Já pensou, tudo sempre igual? Ser mais do mesmo o tempo todo não é tão legal Já pensou, sempre tão igual? Tá na hora de ir em frente: Ser diferente é normal! (Criação: Adilson Xavier e Vinícius Castro, 2013) " " 33 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 1 : O QUE É ANTROPOLOGIA? Esta música é o verdadeiro hino da diversidade cultural. Quem nos dera a humanidade se conven- cesse disso. O mundo teria bem menos homofobia, machismo, fascismo, violências, preconceito... SITE: "SER DIFERENTE É NORMAL (ADILSON XAVIER / VINICIUS CASTRO)" UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA UNIDADE A Construção do Conceito e Cultura 2 2.1 Da natureza à Cultura 2.2 Símbolos e Sinais 2.3 O determinismo biológico e o determinismo geográfico 2.4 Racismo 2.5 Formação do conceito: Kultur e Civilization 2.6 Cultura um elemento dinâmico 2.7 Antropologia do gênero 2.8 Cultura e sincretismo religioso 35 44 51 58 65 74 79 84 35 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 2.1 DA NATUREZA À CULTURA Hoje iremos estudar o conceito mais importante de nossa disciplina: o conceito de cultura. De início, iremos colocar uma definição que, talvez seja a mais antiga. Foi feita por Edward Bur- nett Tylor [...] cultura é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. Esta é sem dúvida uma bela definição de cultura: todos nós já a usamos em algum momento. Os conhecimentos dizem respeito àquilo que tradicionalmente aprendemos com as gerações anteriores, com a academia etc.; as crenças são claramente ligadas às culturas, pois uma criança que nasce na Arábia certamente será Islâmica e uma criança brasileira certamente será cristã; as leis dependem completamente do local onde são produzidas, como por exemplo podemos citar, o casamento monogâmico do mundo ocidental e o poligâmico do mundo oriental; os costumes são tão diversos quanto são os países do mundo: a alimentação brasileira inclui a carne de vaca, enquanto na Índia ela é sagrada. Antes de continuar, assista ao vídeo “O que é cultura?” " " VÍDEO: "O QUE É CULTURA?" UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 36 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Enfim, entendemos por cultura, tudo aquilo produzido pelo homem, que não é biológico. Isto significa que a cultura varia no tempo e no espaço. Ou seja, somente não é cultura aquilo permanece desde as civilizações primitivas até hoje, e que são realizadas tanto no oriente como no ocidente: necessidades biológicas, tais como nascer, respirar, comer etc. Essas são comuns a todos os agrupamentos humanos em qualquer época e lugar de nossa história. O desenho a seguir mostra isso. FONTE: http://www.detectivesdelahistoria.es/el-hombre-llego-a-america-mucho-antes-de-lo-pensado/, 2015. Vamos identificar algumas formas de cultura bem diferentes das nossas: 01_A CORÉIA E A CHINA: onde a população consome carne de cachorro, o que parece irracional para a cultura do ocidente; FONTE: http://petsonline.com.br/petsonline/curiosidades/. 37 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 02_NA TAILÂNDIA: As mulheres girafas, que espicham os próprios pescoços com aros de ferro deixando-os com mais de 30 cm; FONTE: http://www.tjfer.com/detail/g6322581244270313730/ 03_ÍNDIA: Onde as vacas são veneradas e protegidas como animais sagrados; FONTE: https://br.pinterest.com/pin/113997434295603428/ UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 38 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. 04_CHINA: Os insetos fazem parte da lista de iguarias caras e apreciadas na gastronomia; Fonte: http://istoe.com.br/98419_A+ONU+RECOMENDA+COMA+INSETOS/ 05_FRANÇA: Comer Scargot, uma espécie de lesma, é normal. Sendo este um prato requintado do país; FONTE: https://www.tastingpage.com/cooking/escargot-stuffed-mushrooms39 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 06_Existem culturas em que os homens não podem fazer a barba, principalmente nas religiões mulçumana e judaica; FONTE: https://noticias.terra.com.br/mundo/contra-radicalizacao-islamica-pais-forca-13-mil-homens-a-cor- tar-barba,beac8ae0dc612d6792e6c71685ccb9d1xlndzvnf.html Pois bem, vimos como as práticas culturais são as mais variáveis possíveis. São tantas religiões, crenças, leis, que mostram como o mundo é verdadeiramente plural e diverso. Isto nos leva a outro aspecto da cultura: não existem culturas certas ou erradas, elas são apenas diferentes. Cada um que a pratica entende como certa. O grande problema é quando não respeitamos a cultura do outro. Na história isso sempre deu errado. Como foi o caso do nazismo, do fascismo, das ditaduras miliares etc. MAS POR QUE AS PESSOAS POSSUEM CULTURAS TÃO DIFERENTES? Durante muitos anos, supunha-se que fatores genéticos ou geográficos, como veremos adiante, eram os responsáveis por tal povo possuir uma determinada cultura. Essas teorias eram extrema- mente preconceituosas, chegando ao cúmulo de dizer que [...] os povos dos trópicos eram fadados ao desaparecimento, por causa da miscigenação. " " UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 40 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Em um dos textos de apoio, “A construção da Imagem de Dom Pedro II”, de minha autoria, vemos como eram preconceituosos os europeus que vinham por aqui, nos oitocentos. Sem entender nossa cultura, diziam coisas absurdas sobre o Brasil. Leia algumas dessas frases, sempre se refe- rindo ao brasileiro: A mistura com o sangue dos negros e mulatos não poderia contribuir para o melhoramento da raça portuguesa. A catinga de milhares de negros Esquálidos habitantes que na imundície se criam Vagarosos e amolenados pelo calor do clima Consideram o Rio como o mais imundo dos ajuntamentos de seres hu- manos debaixo do céu Revoltante, não é? O pior é constatar que depois de tantos anos e de tantas lutas, nós mesmo, às vezes tratamos dessa maneira que éramos tratados. Afinal, são comuns em nosso meio, o racismo, a homofobia o preconceito. Pois bem, devemos respeitar e não julgar quem tem uma cultura diferente da nossa. Afinal são inúmeras as manifestações artísticas, as expressões coletivas que não entendemos. " " " " " " " " " " 41 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA Uma observação deve ser feita: Cultura não é sinônimo de conhecimento. Por exemplo: Nordestinos não têm cultura. Indígenas não têm cultura. TODAS AS PESSOAS E POVOS POSSUEM CULTURA Afinal todas elas possuem crenças, linguagens etc. Agora vamos a letra de uma música sobre o tema e caso prefira ouvi-la, segue o link: "COMIDA" Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? A gente não quer só comida A gente quer comida, diversão e arte VÍDEO: "MÚSICA E TRABALHO: COMIDA (TITÃS)" UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 42 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. A gente não quer só comida A gente quer saída para qualquer parte A gente não quer só comida A gente quer bebida, diversão, balé A gente não quer só comida A gente quer a vida como a vida quer Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? A gente não quer só comer A gente quer comer e quer fazer amor A gente não quer só comer A gente quer prazer pra aliviar a dor A gente não quer só dinheiro A gente quer dinheiro e felicidade A gente não quer só dinheiro A gente quer inteiro e não pela metade Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de quê? Você tem fome de quê? A gente não quer só comida A gente quer comida, diversão e arte A gente não quer só comida A gente quer saída para qualquer parte A gente não quer só comida A gente quer bebida, diversão, balé A gente não quer só comida A gente quer a vida como a vida quer A gente não quer só comer A gente quer comer e quer fazer amor A gente não quer só comer A gente quer prazer pra aliviar a dor 43 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA A gente não quer só dinheiro A gente quer dinheiro e felicidade A gente não quer só dinheiro A gente quer inteiro e não pela metade Diversão e arte Para qualquer parte Diversão, balé Como a vida quer Desejo, necessidade, vontade Necessidade, desejo, eh! Necessidade, vontade, eh! Necessidade A cultura é que dá significado a nossa existência. Por isso, ela é tão importante quanto a comida e a bebida. Como forma de melhor relacionar nossa discussão aos processos de contexto, sugiro que assis- tam ao vídeo “Pais jogam bebês de torre em ritual para a sorte na Índia”, e a partir do sentimento que você sentirá ao assisti-lo, relacione-o com nossa aula. ATÉ NOSSA PRÓXIMA AULA! VÍDEO: "PAIS JOGAM BEBÊS DE TORRE EM RITUAL PARA A SORTE NA ÍNDIA" UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 44 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. 2.2 SÍMBOLOS E SINAIS Hoje veremos dois conceitos que, podem à primeira vista parecer estranhos, mas que fazem par- te de nosso dia a dia, mesmo que não percebamos: Símbolos e Sinais. Para muitos antropólogos, a grande diferença entre os homens e os animais, é que os seres hu- manos são capazes de usar símbolos para sua existência. A possibilidade de criar símbolos é es- pecífica dos seres humanos. Evidentemente, esta capacidade está ligada a ouras características que nos diferem dos animais: o pensamento, a compreensão, o raciocínio etc. MAS POR QUE É IMPORTANTE PARA O SER HUMANO A CRIAÇÃO DESSA SIMBOLOGIA? Um grande antropólogo, o americano Clifford Geertz argumentou que a cultura não é algo está- tico e preso dentro das cabeças das pessoas, mas ela e demonstrada através dos símbolos públi- cos. São por meio deles que os membros de uma sociedade se comunicam, que passam sua visão de mundo, seus valores e tudo mais, tanto uns com os outros, como é esse o legado que deixam para as futuras gerações. Portanto, o símbolo é uma coisa cujo valor ou significado é atribuído pelos seus usuários. Vamos ver uma definição de símbolo: Símbolos são realidades fisicas ou sensoriais às quais os individuos que os utilizam lhes atribuem valores ou significados especiifcos. Comumente representam ou implicam coisas concretas ou abstratas. Pessoas, gestos, palavras, ordens, fórmulas mágicas, crenças, cerimonias, hinos, bandeiras, textossagrados, etc, que tenham adiquirido significado específico, repre- sentando, em um conexto cultural, por meio de atos, atitudes e sentimen- tos, constituem-se simbolos. A simbolização permite ao homem transmitir seus conhecimentos aprendidos e acumulados du- rante as diferentes gerações. A criação deles consiste, basicamente, na associação de significados àquilo que se pode perceber pelos sentidos, ou seja, ver, ouvir, tocar, cheirar. " " 45 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 01_Para nós da civilização judaico-cristã ocidental, o preto é a cor do luto, representando tristeza, saudade de quem se foi, enquanto que para alguns países orientais, é o amarelo, pois a morte é um momento de alegria em razão da libertação do corpo e da alma. 02_A cruz, que representa o sofrimento de Cristo, é totalmente estranha para um canibal africa- no. Por outro lado, a palma, como aplauso, é conhecida de quase todas as sociedades. 03_Um simples pedaço de pano, por exemplo, ao ser erguido até o topo de um mastro, refere-se à ideia de pátria. Pelo que vimos até agora, pode-se perceber que estamos rodeados de símbolos, que vão desde o aceno de mãos em uma despedida, até as letras do alfabeto que usamos para falar, escrever e perpetuar o conhecimento. Em nosso texto base, temos uma definição interessante que nos ajudará a compreender melhor este tema: Há indícios antigos, como o empoar dos cadáveres com ocre vermelho, de que o pensar simbolista teve seu princípio nos fins do paleolítico ou até mesmo antes. Naquela época, as constelações, os animais, as pedras e os elementos da paisagem natural foram os mestres da humanidade. A inserção do homem no mundo dos fatos espirituais e morais, por exemplo, deu-se por meio do contato com o visível. " " UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 46 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. As representações começaram desde muito cedo na história da humanidade. Para alguns estu- diosos essas pinturas rupestres, como a anterior, existente em solo brasileiro, já mostravam a pre- ocupação do homem primitivo com os símbolos e, por consequência, com sua própria existência. Uma pergunta importante vai nos ajudar na compreensão desse conteúdo: O QUE ENTENDEMOS POR SÍMBOLOS? A palavra “símbolo” (do grego symbolon) foi inicialmente utilizada entre os gregos para se referir às metades de uma tabuinha que hospedeiro e hóspede guardavam, cada um a sua metade, transmitidas depois aos seus descendentes. As duas partes juntas (sumballô) funcionavam para reconhecer os portadores e para provar as relações de hospitalidade ou de aliança adquiridas no passado. Quando dois amigos se separavam por um período longo, ou para sempre, partiam uma moeda, uma plaquinha de barro ou um anel; se após anos alguém das famílias amigas retornas- se, as partes unidas (symbáleim = juntar, reunir) podiam confirmar que o portador de uma delas realmente fazia jus à hospitalidade. Era comum nas guerras antigas, que se partissem as mensagens enviadas aos campos de ba- talhas em duas pares, cada uma com um mensageiro diferente. Assim se um fosse capturado, eles não conseguiriam ler as mensagens. Por ouro lado, quando os dois chegavam ao campo de batalha, o comandante podia ler a mensagem completa. Era isso que denominavam de símbolos. Daí o sentido de juntar, reunir, que vimos acima. Leia com atenção a definição abaixo: Dessa forma, ao representar as duas partes reunidas, o símbolo é, inicial- mente, “símbolo feito de algo." Ao ser utilizado, ele passa a ser “símbolo de algo”. O símbolo, em sua origem, é um sinal visível de algo que não se encontra ali presente de forma concreta, algo que pode ser nele percebido: no exemplo dado, a Amizade dos possuidores das partes. O símbolo separa e une, comporta as duas ideias de separação e de reunião; evoca uma comunidade que foi dividida e que se pode reagru- par. Todo signo comporta uma parcela de signo partido; o sentido do símbolo revela-se naquilo que é simultaneamente rompimento e união de suas partes separadas. " " 47 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA Observe a charge apresentada a seguir e reflita: PELO QUE VIMOS ATÉ AGORA, VOCÊ CONSEGUE SEPARAR A IDEIA DE SÍMBOLO DO SENSO COMUM, POR EXEMPLO? Vamos nos aprofundar um pouco mais no sentido de símbolo, lendo mais um trecho do nosso texto base: Por analogia, tal significado foi ampliado até compreender os cupons, senhas ou fichas, que dão direito a receber soldos, indenizações ou víveres. O sentido da palavra “símbolo” desenvolveu- -se bastante, chegando a envolver, por exemplo, oráculos, presságios, fenômenos extraordinários considerados provindos dos deuses, emblemas de corporações, crachás e vários tipos de sinais de compromisso, como o anel de casamento ou o anel depositado pelos participantes de um banquete, garantindo que pagarão corretamente por ele. De fato, poucas palavras adquiriram tão vasta significação como a palavra “símbolo”. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 48 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Observe a próxima figura e procure desvendar ou imaginar quantos símbolos ela possui: Veja: as alianças, o vestido branco, as bênçãos, a cerimonia etc., são repletos de simbologia, que nós reconhecemos bem. O simples fato de uma pessoa usar uma aliança em uma das mãos sig- nifica seu estado civil. Vamos ler outra parte de nosso texto base, para vermos como os símbolos podem ser apropriados: O simbolismo hindu, chinês e japonês, por exemplo, penetrou entre nós por meio de artigos co- merciais, entre eles, vasos, tecidos e peças curiosas do Extremo Oriente. Do mesmo modo, era hábito, entre os soldados, marinheiros e viajantes antigos, ao deixar seus lares, levar consigo seus símbolos, objetos pelos quais tinham um estimável apreço, que disseminavam seu significado e adquiriam outros novos. o circularem, as moedas também difundem as representações simbóli- cas traduzidas por seu povo ao cunhá-las. Observe a imagem a seguir e veja os “símbolos cartográficos” que ela possui. 49 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA Nossas leis, tribunais, o martelo do juiz, a balança, são símbolos do nosso ordenamento jurídico, que carregam princípios e valores culturais para dentro do Direito. Vamos aprender sobre eles nesse vídeo: “As deusas da Justiça (Têmis e Iustitia)” pelo Prof.º Ronal- do Bastos. VÍDEO: "AS DEUSAS DA JUSTIÇA (TÊMIS E IUSTITIA)" UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 50 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tum . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. A Constituição, em seu artigo 13, aponta os símbolos do nosso país: ART. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. § 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios (BRASIL, 1988). Analisando de maneira mais ampla, a Constituição da República é também um símbolo do nosso ordenamento jurídico, uma vez que ela é a lei fundamental e suprema de um país, que contém nossos princípios e objetivos fundamentais. Agora vamos realizar nossa atividade da semana? Leia os dois textos disponibilizados e reflita sobre a relação de cada um destes com o conteúdo discutido nesta aula. Lembrando que esta atividade não será valorativa. " " VÍDEO: "POR QUE MORO E LAVA JATO NÃO SÃO UNANIMIDADE ENTRE JURISTAS" SITE: "LAVA-JATO CRIA PROCESSO STALINISTA DIZ ADVOGADO" 51 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 2.3 DETERMINISMO BIOLÓGICO E DETERMINISMO GEOGRÁFICO Hoje iremos estudar dois conceitos da antropologia bastante antigos. Eles não são mais adequa- dos para construirmos uma ideia sobre as relações entre os homens, porém, como toda tradição, eles possuem força suficiente para formar nossos pensamentos até hoje, são eles o determinismo biológico e o determinismo geográfico. O determinismo biológico acredita que a genética de um ser humano ou a sua “raça”, são capa- zes de determinar a sua cultura. São velhas e persistentes as teorias que atribuem capacidades específicas inatas a ‘raças’ ou a outros grupos humanos. Muita gente ainda acredita que os nórdicos são mais inteligentes do que os negros; que os alemães têm mais habilidade para a mecânica; que os judeus são avarentos e ne- gociantes; que os norte-americanos são empreendedores e interesseiros; que os portugueses são muito trabalhadores e pouco inteligentes; que os japoneses são trabalhadores, traiçoeiros e cruéis; que os ciganos são nô- mades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a luxúria dos portugueses” (LA- RAIA, 2001, p. 17). Considerar o determinismo biológico como verdade cria uma série de estereótipos de tipos físi- cos, como se todas as pessoas de um mesmo tipo genético, agissem de uma determinada forma. Esse tipo de pensamento pode levar a doutrinas perigosas, como o nazismo de Hitler, que pensa- va existir uma “supremacia branca”, grupos racistas, que consideram negros como inferiores, etc. " " UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 52 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. Assim, como muita gente acredita que homens são determinados a realizarem ocupações espe- cíficas por serem homens, e mulheres devem realizar determinadas tarefas por serem mulheres, utilizando como base para o seu pensamento, o fator biológico, a genética de cada um. Ou seja, acreditam que o tipo físico de cada um, vai determinar sua forma de agir, sua cultura: esse é o determinismo biológico, um conceito que já foi superado pelos antropólogos atuais. 53 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA A verificação de qualquer sistema de divisão sexual do trabalho mostra que ele é determinado culturalmente e não em função de uma racionalidade biológica. O transporte de água para a aldeia é uma atividade feminina no Xingu (como nas favelas cariocas). Carregar cerca de vinte litros de água sobre a cabeça implica, na verdade, um esforço físico considerável, muito maior do que o necessário para o manejo de um arco, arma de uso exclu- sivo dos homens. Até muito pouco tempo, a carreira diplomática, o quadro de funcionários do Banco do Brasil, entre outros exemplos, eram ativida- des exclusivamente masculinas. O exército de Israel demonstrou que a sua eficiência bélica continua intacta, mesmo depois da maciça admissão de mulheres soldados (LARAIA, 2001, p. 19). Houve um tempo em que mulheres não tinham direito a votar, a exercer determinadas profis- sões, a mulher era considerada digna apenas se se casasse, apenas pelo fato de serem mulheres e aos homens cabia “sustentar o lar”, ser durão, grosseiro, hoje em dia, as mulheres exercem todo tipo de trabalho, mesmo aqueles considerados “trabalho de homem”, além de poderem assumir diferentes estilos de vida, que antes eram atribuídos ao homem, prova de que o fator biológico não determina nosso modo de agir. Vamos ler o artigo “O papel da mulher na sociedade. O outro conceito que vamos aprender nesta aula é o determinismo geo- gráfico. Essa teoria é parecida com o determinismo biológico, porém aqui, não é o fator biológico que vai determinar a cultura do homem e sim o fator geográfico. O determinismo geográfico considera que a cultura é determinada pelo ambiente físico das pessoas. As condições geográficas, como a temperatura, solo, vegetação, etc., determinam a cultura das pes- soas que vivem no local. Acredita-se que essas forças naturais possam de- terminar a forma de agir dos homens. A ideia do determinismo geográ- fico também foi superada ao observarmos que os homens nem sempre agiam da mesma forma, por exemplo, “no interior de nosso país, dentro dos limites do Parque Nacional do Xingu. Os xinguanos propriamente di- tos (Kamayurá, Kalapalo, Trumai, Waurá etc.) desprezam toda a reserva de " " " UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 54 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. proteínas existentes nos grandes mamíferos, cuja caça lhes é interditada por motivos culturais, e se dedicam mais intensamente à pesca e caça de aves. Os Kayabi, que habitam o Norte do Parque, são excelentes caçadores e preferem justamente os mamíferos de grande porte, como a anta, o ve- ado, o caititu etc. (LARAIA, 2001, p.23). DOUTRINA DO DETERMINISMO GEOGRÁFICO 01_O homem é um elemento passivo da paisagem; 02_O homem é produto do meio; 03_A Geografia estudaria as características naturais da superfície terrestre e consideraria o efeito dessas características sobre o homem e suas atividades. O Direito também acompanha essa mudança de pensamentos, deixando os resquícios de deter- minismo biológico presentes na lei para trás. Há pouco tempo atrás, no ano de 2016, uma lei que amplia a licença paternidade foi aprovada, aumentando o tempo de 5 para 20 dias. Enquanto a licença maternidade é de 120 dias, a licença paternidade era de apenas 5 dias, dire- cionando os pais à atividade produtiva, e as mães, à atividade reprodutiva, de forma que somente estas precisam conciliar vida familiar e profissional. Além disso, a licença concedida aos pais pro- voca a imposição de papéis estereotipados no âmbito das famílias, dificultando e desestimulan- do a participação ativa dos homens na criação dos seus filhos.Os homens deviam ter o mesmo tempo de licença, para participarem da criação dos filhos da mesma forma que as mulheres, " SITE: "DILMA SANCIONA AUMENTO" 55 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA entretanto, podemos observar um avanço do direito ao aumentar a licença-paternidade mesmo que seja para 20 dias. Uma vez que o determinismo biológico não é mais considerado, podemos deixar para trás a ideia de que cabe à mulher cuidar dos filhos e ao homem trabalhar fora, cada pessoa pode agir de acordo com sua individualidade. Com a conscientização dos operadores do direito acerca de assuntos antropológicos e de diversidade familiar e cultural, poderemos cons- truir leis mais justas e inclusivas. As diferenças existentes entre os homens, portanto, não podem ser expli- cadas em termos das limitações que lhes são impostas pelo seu apara- to biológico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas próprias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, dominou toda a natureza e se trans- formou no mais temível dos predadores. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser o único que possui cultura. Mas que é cultura? (LARAIA, 2001, p. 25). Pois bem, não é preciso nem dizer que esses dois conceitos estão carregados de etnocentrismo e procuravam, na verdade, justificar a riqueza do norte e a pobreza do sul. Ao mesmo tempo jus- tificavam a colonização e a exploração de nossas riquezas, pois eles estavam apenas “trazendo a civilização até esses povos bárbaros. Dois grandes nomes desse pensamento foram o Conde de Gobineau e o cientista Louis Rodolphe Agassiz, célebres por seus posicionamentos sobre a desigualdade das raças. Ambos estiveram no Brasil e deixaram escrito esta experiência. E o que leremos é extremamente preconceituoso: AGASSIZ: Aqueles que põem em dúvida os efeitos perniciosos da mistura de raças e são levados por falsa filantropia a romper as barreiras colocadas entre elas, deveriam vir ao Brasil. Não lhes seria possível negar a decadência resul- tante dos cruzamentos que, neste país, se dão mais largamente que em qualquer outro. Veriam que esta mistura apaga as melhores qualidades, quer do branco quer do negro, quer do índio e produz um tipo mestiço, indescritível, cuja energia física e mental se enfraqueceu. " " " " UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 56 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. O CONDE DE GOBINEAU, célebre teórico do “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas”, quan- do avista o Rio de Janeiro e sua natureza, diz achar “tudo isso encantador, chocante e milagroso ao extremo... (como) uma bonita donzela inculta e selvagem que não sabe nem ler nem escrever”. Apesar de ter se encanta- do com a beleza geográfica do lugar, achando, “tudo isso encantador, cho- cante e milagroso ao extremo”, não foge a regra de seus contemporâneos e quando descreve os brasileiros, diz que são, “uma população toda mu- lata, com sangue viciado, espírito viciado e feia de meter medo... nenhum brasileiro é de sangue puro... isto produziu nas classes baixas e altas, uma degenerescência do mais triste aspecto”. Segundo Heitor Lyra, Gobineau não gostou nada do Brasil, e “nada chocou tanto a sua sensibilidade e as teorias racistas que defendia como o calde- amento desordenado e ininterrupto que se processava entre as muitas ra- ças povoadoras de nosso solo. A mestiçagem brasileira lhe causava verda- deira repugnância – dizia ser uma população marrom, fraca, amarelada”. Ainda, segundo Gobineau, os brasileiros eram, “todos mulatos, a escória do gênero humano. Eles foram pervertidos pela escravidão negra”. O interessante é, mesmo depois de tanto racismo contra nossa população, nós mesmos as vezes fazemos o mesmo. Afinal quem nunca ouviu: Índio é preguiçoso. Preto não toma banho. Nordestino não sabe votar. Mulher não sabe dirigir. Brasileiro é corrupto. Pois bem, assim agindo estamos fazendo igual a esses preconceituosos que achavam que o Brasil não era viável como nação. O determinismo biológico deu origem à teoria da Eugenia, que busca selecionar as pessoas com " " " " " " 57 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA base em sua genética, essa teoria foi base para o nazismo e outras formas de discriminação. Va- mos aprender sobre ela no vídeo a seguir: “A Ciência Nazista” promovido por Nerdologia 163. Vamos ler um texto publicado pela “Revista de História da Biblioteca Nacional” de 01 jan. 2012. E a seguir, como nossa atividade avaliativa, proceder a análise deste texto. VÍDEO: "A CIÊNCIA NAZISTA | NERDOLOGIA" UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 58 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. 2.4 RACISMO Vamos iniciar ouvindo uma música sobre o tema. Dois grandes nomes de nossa música popular fizeram uma canção que ilustra bem o problema do racismo. "A MÃO DA LIMPEZA" (Gilberto Gil e Caetano Veloso). O branco inventou que o negro Quando não suja na entrada Vai sujar na saída, ê Imagina só Vai sujar na saída, ê Imagina só Que mentira danada, ê Na verdade a mão escrava Passava a vida limpando O que o branco sujava, ê Imagina só O que o branco sujava, ê Imagina só O que o negro pensava, ê Mesmo depois de abolida a escravidão Negra é a mão De quem faz a limpeza Lavando a roupa encardida, esfregando o chão Negra é a mão É a mão da pureza Negra é a vida consumida ao pé do fogão Negra é a mão Nos preparando a mesa Limpando as manchas do mundo com água e sabão 59 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA Negra é a mão De imaculada nobreza Na verdade a mão escrava Passava a vida limpando O que o branco sujava, ê Imagina só O que o branco sujava, ê Imagina só Eta branco sujão A letra da música nos mostra uma triste realidade: a presença de preconceito contra os negros, comum em nossa história. Um pensador disse que os negros eram os pés e as mãos dos senhores de engenho Essa realidade mostra como era o trabalho escravo: 01_Cuidavam do trabalho pesado; 02_Do trabalho domestico; 03_Amamentavam os filhos dos brancos; 04_Cozinhavam etc.. Mas mesmo assim, eram tratados como animais, sofrendo castigos, sendo vendidos, desterritoria- lizados... e mesmo assim, eram tratados como “sem alma”, degenerados etc. Vamos iniciar nosso estudo definindo o tema: O racismo pode ser definido como uma doutrina segundo a qual todas as manifestações cultu- rais, históricas e sociais do homem e os seus valores dependem da raça; também segundo essa doutrina existe uma raça superior (arianaou nórdica) que se destina a dirigir o gênero humano. As concepções racistas constituem um fenômeno antigo (recusa do estranho), porém a sua arqui- tetura teórica tem início no final do século XIX com o francês Gobineau, considerado o fundador da teoria racista. Para ele, ‘as grandes raças primitivas que formavam a humanidade nos seus primórdios – branca, amarela, negra – não eram só desiguais em valor absoluto, mas também di- versas em suas aptidões particulares. A tara da degenerescência estava, segundo ele, ligada mais " " UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 60 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. ao fenômeno de mestiçagem do que à posição de cada uma das raças numa escala de valores comum a todas; destinava-se, pois, a atingir toda a humanidade, condenada sem distinção de raça a uma mestiçagem cada vez mais desenvolvida. Já vimos em outras aulas que o Conde de Gobineau esteve no Brasil e como era o seu pensamen- to sobre os Brasileiros. No nosso texto de apoio, “A construção da imagem de Dom Pedro II: entre abolicionistas, viajantes e republicanos”, contamos a história da vinda dele ao país e alguns de seus comentários sobre nosso povo: O Conde de Gobineau, célebre teórico das “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas”, quando avista o Rio de Janeiro e sua natureza, diz achar tudo isso encantador, chocante e milagroso ao extremo... (como) uma bo- nita donzela inculta e selvagem que não sabe nem ler nem escrever. Apesar de ter se encantado com a beleza geográfica do lugar, achando, “tudo isso encantador, chocante e milagroso ao extremo”, não foge à regra de seus contemporâneos e quando descreve os brasileiros, diz que são, Uma população toda mulata, com sangue viciado, espírito viciado e feia de meter medo... nenhum brasileiro é de sangue puro... isto produziu nas classes baixas e altas, uma degenerescência do mais triste aspecto. Segundo Heitor Lyra, Gobineau não gostou nada do Brasil, e Nada chocou tanto a sua sensibilidade e as teorias racistas que defendia como o caldeamento desordenado e ininterrupto que se processava en- tre as muitas raças povoadoras de nosso solo. A mestiçagem brasileira lhe causava verdadeira repugnância – uma população amarelada, gentia, marrom, amargas, segundo ele, os brasileiros eram, todos mulatos, a es- cória do gênero humano. Eles foram pervertidos pela escravidão negra’1. 1 SENA, Nelson de. A construção da imagem de Dom Pedro II: entre viajantes, abolicionistas e republica- nos. " " " " " " 61 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA Como podemos ver, a população brasileira, desde cedo em sua história foi alvo de racismo. Estas teorias nefastas pretendiam provar: 01_Que existem raças; 02_Que as raças são biológicas e geneticamente diferentes; 03_Que há raças atrasadas e adiantadas, inferiores e superiores; 04_Que as raças atrasadas e inferiores não são capazes de desenvolvimento intelectual e estão naturalmente destinadas ao trabalho manual, pois sua razão é muito pequena e não conseguem compreender as ideias mais complexas e avançadas; 05_Que as raças adiantadas e superiores estão naturalmente destinadas a dominar o planeta e que, se isso for necessário para seu bem, têm o direito de exterminar as raças atrasadas e inferiores; 06_Que, para o bem das raças inferiores e das superiores, deve haver segregação racial A) Separação dos locais de moradia; B) De trabalho; C) De educação; D) De lazer etc.; pois a não segregação pode fazer as inferiores arrastarem as superiores para o seu baixo nível, assim como fazer as superiores tentarem inutilmente melhorar o nível das inferiores. Parece um absurdo ler isso, não é? Mas, o mais absurdo ainda, é saber que existem pessoas que ainda pensam dessa maneira. Observe o comercial a seguir “Racismo no avião” (legendado): VÍDEO: "RACISMO NO AVIÃO (LEGENDAS)" UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 62 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. REVOLTANTE NÃO É MESMO? Infelizmente, o mundo ainda convive com esse pesadelo o tempo todo. Na mídia, a toda hora ve- mos notícias de pessoas acusadas da prática desse crime horrível. Estas teorias, como bem disse uma filósofa, está sempre a serviço da violência, da opressão, da ignorância e da destruição. Observe com atenção o que Assis e Kumpel, nossos referenciais teóricos desta unidade, dizem a esse respeito: A biologia e a genética afirmam que as diferenças na formação anatômi- co-fisiológica dos seres humanos não produzem raças. Raça, portanto, é uma palavra inventada para avaliar, julgar e manipular diferenças bioló- gicas e genéticas. As teorias racistas não são científicas; são falsas e irra- cionais, implicam práticas culturais, econômicas, sociais e políticas para justificar a violência contra seres humanos. Pois bem, mesmo apesar de tudo isso, ainda estamos longe de vencer o racismo. Veja só algumas das notícias sobre o tema e caso queira conferir na íntegra, lendo-as, segue o link de cada uma. " " VÍDEO: "FOTÓGRAFO DIZ TER SIDO VÍTIMA DE RACISMO POR MOTORISTA DO UBER" SITE: "BRUNO GAGLIASSO AGRADECE A POLÍCIA POR IDENTIFICAR (...)" 63 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA Como vimos, trata-se de algo extremamente atual e que deve ser mesmo combatido a todo cus- to. Agora vejamos as charges e reportagem a seguir: VÍDEO: "ALUNOS ACUSAM PROFESSOR DE RACISMO E TENTAM OCUPAR (...)" SITE: "GRUPO PROTESTA EM SHOPPING DE BH CONTRA RACISMO (...)" UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 64 UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. MP denuncia crimes de racismo e preconceito religioso no PR Ainda bem que o racismo agora é crime. Leia o próximo texto e verifique: SITE: "MP DENUNCIA CRIMES DE RACISMO E PRECONCEITO RELIGIOSO NO PR" SITE: "CRIME DE RACISMO X INJÚRIA RACIAL" 65 M at er ia l p ar a u so e xc lu si vo d os a lu n os d a R ed e d e E n si n o D oc tu m . P ro ib id a a re p ro d u çã o e o co m p ar ti lh am en to d ig it al , s ob a s p en as d a le i. UNIDADE 2 : A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO E CULTURA 2.5 FORMAÇÃO DO CONCEITO: KULTUR E CIVILIZATION Depois de tanto falar em cultura, vamos entender como surgiu este conceito? Para isso, vamos aprender sua origem, que veio da união dos termos “Kultur” e “Civilization.” Estes dois termos foram estudados por Norbert Elias, em um livro de grande importância para as ciências sociais: "O processo civilizador". Nele o autor constrói uma história dos costumes a partir da formação dos estados modernos e como isso influenciou a cultura e a civilização.
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